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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA - UNIPÊ

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


DIREITO PENAL IV
PROF. EDIGARDO FERREIRA
Turma C, Manhã, P6
Semestre 2019.2

Trabalho de Penal – 0,5 pontos.


2 ° Estágio

Discorra sobre os Bens Públicos:


Paz Pública, Fé Pública e Administração Pública

Carlos Henrique Almeida Estrela de Oliveira


Matrícula: 1620016816

Dezembro, 2019
João Pessoa, PB
1. PAZ PÚBLICA
Os crimes contra a paz pública atacam diretamente o bem jurídico
tutelado pela legislação penal “paz pública”. Esta é o sentimento coletivo
de paz e segurança assegurado pelo poder punitivo da ordem jurídica.
A paz pública é, portanto, o sentimento de tranquilidade e segurança que
deve emanar de um sistema normativo e político. A sociedade espera do
direito e do Estado, que lhe sejam garantidas as condições para um convívio
coletivo harmonioso e em conformidade com as normas vigentes.
Tamanha importância deste bem jurídico obriga que a ofensa contra ele
dirigida seja tutelada pelo direito penal, incriminando-se as condutas as
quais, ainda que abstratamente, ponham em risco o sentimento coletivo de
tranquilidade.
O Código Penal trata o tema no Título IX da parte especial, enumerando
como delitos ofensivos à paz pública: incitação ao crime (art.286), apologia
de crime ou criminoso (art.287), associação criminosa (art.288) e
constituição de milícia privada (art.288-A).
A paz pública faz referência não à evitar a situação de quebra pacífica da
convivência por meio de uma calamidade, coisa que é protegida pela
incolumidade pública, mas sim de garantir que a mentalidade das pessoas
estejam em tranquilidade em relação à normalidade das circunstâncias do
ambiente; torna-se dever do Estado assegurar o bem estar da consciência
das pessoas.
Beccaria sustenta a existência de crimes que perturbam a tranquilidade
pública, a exemplo dos discursos fanáticos que provocam com facilidade as
paixões de uma população curiosa e que emprestam grande força à
multidão de ouvintes e especialmente um certo entusiasmo sem sentido e
misterioso, com poder muito maior sobre o espírito do povo do que a calma
razão.
2. FÉ PÚBLICA

Os crimes contra a fé pública vêm previstos no Título X da Parte Especial


do Código Penal (arts. 289 a 311-A), englobando cinco capítulos, que tratam
da moeda falsa, da falsidade de títulos e outros papéis públicos, da falsidade
documental, de outras falsidades e das fraudes em certames de interesse
público.
A doutrina brasileira considera a fé pública como o bem jurídico protegido
pelo legislador ao criminalizar tais condutas apontadas como lesivas. A Fé
pública é caracterizada como a crença, a credibilidade que as pessoas têm
nas moedas, nos papéis e nos documentos. Em resumo, consiste na
confiança obrigatória advinda da declaração da autoridade de que
determinados atos são autênticos, autenticidade cuja verificação é
imediata, mercê de seus caracteres externos.

A violação à fé pública qualifica o crime de falso (delicta falsum), pois


atenta contra a certeza das relações jurídicas. Cleber Masson, discorrendo
sobre o dano que tais crimes podem causar, se torna célebre com o seu
fragmento:

“De fato, ao punir os crimes contra a fé pública o legislador protege os sinais


representativos de valor e os documentos não pela confiança que despertam,
mas porque, com a lesão de sua integridade, são ameaçados os interesses ou
bens jurídicos de várias naturezas:

(a) Os interesses patrimoniais dos indivíduos;


(b) O interesse público na segurança das relações jurídicas;
(c) O privilégio monetário do Estado;
(d) Os meios de prova”

Nos crimes de falsidade, cumpre ressaltar, a falsidade inábil para causar


dano, a falsidade inócua, não caracteriza crime contra a fé pública. É a
chamada falsificação grosseira, que pode, eventualmente, caracterizar
crime de estelionato, caso alguém seja induzido ou mantido em erro pelo
agente, que obtém vantagem ilícita com o uso do rústico falso.

Não caracterizando estelionato e nem crime contra a fé pública, o meio


inidôneo a ofender a fé pública (falso grosseiro) caracterizará o crime
impossível, já que nula a falsidade por ineficácia absoluta do meio. Nesse
sentido, a falsidade nula não pode produzir efeito.

3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Código Penal Brasileiro dedica, exclusivamente, o Título XI, com o tema


“Dos Crimes contra a Administração Pública”, a finalidade de proteger a
Administração Pública das condutas lesivas de alguns servidores, bem
assim, de particulares que se relacionam com a Administração Pública.
Os crimes contra a administração podem ser assim elencados:

a) Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral;


b) Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral;
c) Dos crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira;
d) Dos crimes contra a administração da justiça;
e) Dos crimes contra as finanças públicas;

A Administração Pública, é considerada pela lei penal num sentido amplo,


ou seja, como atividade funcional do Estado em todos os setores em que se
exerce o Poder Público, selecionando fatos graves que mais ofendem aos
interesses da Administração Pública.

Dessa forma, ficou fácil enxergar qual bem jurídico o legislador penal
desejou tutelar. Não é outro senão o desenvolvimento regular da atividade
do Estado, dentro de regras da dignidade, probidade e eficiência. O bem
jurídico tutelado, no seu pilar fundamental, é o interesse público
concernente ao normal funcionamento e prestígio da Administração
Pública.

Este Capítulo prevê delitos que só podem ser praticados de forma direta
por funcionário público, são crimes funcionais. Os crimes funcionais são
crimes próprios, porque a lei exige uma característica específica no sujeito
ativo, ou seja, ser funcionário público. Ser funcionário público constitui
elementar de todos os crimes funcionais e, dessa forma, comunica-se às
demais pessoas que não possuam essa qualidade, mas que tenham
cometido crime funcional juntamente com um funcionário público.

Quando se fala na tutela do bem jurídico dos crimes contra a


Administração, faz-se necessário diferenciar os ilícitos administrativos dos
penais. Segundo Cleber Masson:

“Os fatos praticados em prejuízo da Administração Pública constituem, em


regra, meros ilícitos administrativos. São violações do ordenamento jurídico
desprovidas de gravidade suficiente para a caracterização de infração penal.
De acordo com esse postulado, nem todos os ilícitos configuram infrações
penais, mas apenas os que atenta contra valores fundamentais para a
manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade.
O Direito penal é a última etapa de proteção do bem jurídico, razão pela
qual todo ilícito penal será também ilícito perante o Direito Administrativo,
mas nem todo ilícito administrativo será necessariamente um crime ou
contravenção penal. No plano abstrato, portanto, o legislador decide,
mediante um juízo seletivo, quando uma conduta deve ser considerada ilícito
penal ou ilícito administrativo. Assim sendo, o ilícito penal subsiste sem
prejuízo do ilícito administrativo.”

BIBLIOGRAFIA

 MASSON, Cleber. Direito penal: parte especial (arts. 213 a 359-H) -


vol.3 - / Cleber Masson. – 9. ed. – Rio de Janeiro : Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2019.

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