Maya Banks

Maya Banks
KGI 11
Maya Banks
Mais
Mais Brilhante Que o Sol
KGI 11
O Grupo Internacional Kelly (KGI): Um negócio super-elite e supersecreto, de administração

familiar.
Qualificações: alta inteligência, corpo duro e resistente, experiência militar.
Missão: Recuperação de vítimas de sequestro. Coleta de informações. Lidar com trabalhos
que o governo dos EUA não consegue...
Como último membro solteiro do clã Kelly, Joe está mais do que pronto a arriscar a vida e se
desmembrar em qualquer missão que for atribuído, mas quando se trata de amor, ele vai manter-
se à distância. Está contente em ver seus irmãos se tornarem completamente domesticados.
Zoe tinha nada, apenas desgosto em sua vida, e estava determinada a começar de novo com
uma nova identidade, graças a sua amiga de faculdade, Rusty Kelly. Mas é o sorriso lindo e as
palavras suaves de Joe Kelly que começam a enfraquecer sua determinação de nunca arriscar seu
coração outra vez. E Joe terá que arriscar tudo para salvar Zoe, quando os segredos do passado
dela reaparecem – e ameaçam destruí-los...
** Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. **
1
Maya Banks
KGI 11
Traduzido e Revisado do Inglês

Envio do arquivo e Formatação: Δίκη
Revisão Inicial:
Kimie – Capítulo 01 ao Capítulo 10
Val – Do capítulo 11 ao 13
Flavia Leno – Capitulo 14 e do capítulo 22 ao 24
Andrea Wigner – Do capítulo 15 ao 18 e do capítulo 25 ao 27
Flávia Alencar – Do capítulo 19 ao 21
Regina R. – Do capítulo 28 ao Epílogo
Revisão Final:
Val – Capítulo 01 ao Capítulo 10 e do capítulo 14 ao Epílogo
Kimie – Do capítulo 11 ao 13
Formatação: Desirée
Imagem: Elica
Talionis
Comentário Val: Joe é o último homem da família Kelly a se apaixonar. E o que faltava era
somente a mocinha indefesa para que ele caísse de amores. E ele caiu tão rápido e apaixonado
que deu dó. A Maya tem o costume de fazer os mocinhos se apaixonarem rapidamente, mas o Joe
bateu o recorde. Ele muda instantaneamente de um homem que não quer envolvimento para um
totalmente apaixonado, preocupado, protetor e ansioso para ficar com Zoe para sempre. Quando
se apaixonou ele percebeu que nunca se sentiu a vontade perto de seus irmãos quando
começavam a falar das esposas e filhos, por que não queria reconhecer que sentia uma leve inveja
pela família que eles construíram. Quando ele encontrou Zoe e se apaixonou, finalmente passou a
entender e foi capaz de sentir tudo o que seus irmãos falavam, compartilhavam e viviam.
A estória é mais curta que as anteriores, é bem leve e não teve tanta ação e estresse quando
os mocinhos descobrem que sua mocinha esconde algum segredo. Mas eu senti falta de algumas
explicações necessárias, acho que ficaram pontas soltas e espero que se esclareça no próximo.
Mas, o que não posso deixar de destacar é o quanto Joe é suave e delicado com seu amor, como
ele a trata como o tesouro que ele finalmente encontrou, embora não o estivesse procurando. A
Zoe é cheia de inseguranças e ele derruba cada uma com seu cuidado e afeto.
Como a estória é de Joe, Nathan, seu irmão gêmeo e a esposa Shea, aparecem muito e são
primordiais para a resolução dos problemas relacionados a Zoe. É um dos casais que mais gosto
por que o amor deles foi forjado a ferro e fogo quando Nathan estava em cativeiro. Então foi um
prazer, reler sobre eles.
E como Zoe é amiga de Rusty, ela aparece muito e já começa a desenhar sua estória com
Sean.
A família está crescendo rapidamente e quase todos os casais já têm um filho ou mais. Eles
costumam brincar que se transformaram em uma fábrica de bebês, e não estão exagerando.
Como vocês já devem ter percebido, os livros estão demorando mais para serem
distribuídos, pois infelizmente, estamos passando por uma alta escassez de revisoras, e as que se
dispõem a nos ajudar são mães de família, ou têm namorados, trabalham, estudam; como todos
2
Maya Banks
KGI 11
nós, têm uma vida além da revisão e generosamente doam seu tempo para que possamos
continuar trazendo as continuações das séries que aprendemos a amar. Por isso, e pelos
problemas que tivemos na conclusão dessa revisão, meu agradecimento hoje é especial, é para
cada uma de vocês que deixou de dormir mais cedo, que deixou de ver sua série favorita no
Netflix, ou que passou tempo a menos com o marido, namorado, filhos ou amigos para poder nos
ajudar em um capítulo e que generosamente contribuiu para a realização dessa revisão. Muito
obrigada Kimie, Flavia Leno, Flavia Alencar, Andrea Wigner e Regina Reinhardt. Nunca cansarei de
dizer essa frase: Obrigada por poder contar com vocês. E Desirée, muito obrigada pelo suporte
técnico. rsrs
E por fim, Audrey Suria, eu me lembrei de você a cada sis que revisei.
Capítulo Um
Zoe. Seu nome é Zoe Kildare agora.

Zoe se acautelou mentalmente enquanto andava de um lado para o outro, sua agitação
aumentando quando parou para verificar o relógio. Onde ela estava? Rusty já deveria estar aqui. A
mente de Zoe correu com um número de possibilidades horríveis. E se tivesse sido descoberta? E
se tivesse levado Rusty diretamente para o caminho do mal?
A porta se abriu e mal conseguiu suprimir o grito de surpresa e de susto. Relaxou pelo alívio
quando sua amiga universitária Rusty Kelly entrou apressada carregando uma pilha de pastas e
papéis soltos.
Rusty deixou cair a carga sobre a mesa de café e puxou Zoe em um abraço forte. As duas
mulheres se abraçaram por um longo momento antes de Rusty finalmente se afastar, o olhar
varrendo para cima e para baixo de Zoe como se avaliando sua condição.
— Você está bem? — Rusty perguntou ansiosamente.
Zoe engoliu em seco e acenou com a cabeça, embora as lágrimas picassem suas pálpebras.
Rusty deu-lhe outro abraço esmagador de ossos, e Zoe se agarrou a amiga tão fortemente
quanto ela a apertava. Então Rusty a guiou até o sofá e a sentou, sentando-se em diagonal a ela,
segurando suas mãos em um aperto firme.
— Será que alguém a seguiu? Você viu algo fora do comum ou percebeu que alguém a
estava observando? — Rusty perguntou com urgência.
Zoe sacudiu a cabeça.
— Não, acho que não. Fui cuidadosa. Fiz tudo o que me disse. Fiz parecer que estava indo
para o oeste, para a Califórnia.
Rusty assentiu com aprovação.
3
Maya Banks
KGI 11
— Isso é bom, mas não podemos nos dar ao luxo de perder tempo, nem podemos adotar
uma falsa sensação de segurança. Você foi para a faculdade aqui e é uma cidade com a qual está
familiarizada, então é lógico que este é um lugar ao qual você iria.
— Não posso ficar aqui, — Zoe ofegou.
— Não, você não pode, — Rusty disse calmamente. — Preciso que responda a algumas
perguntas para mim, Stel, quero dizer Zoe. Droga. Não podemos nos dar ao luxo de escorregar.
Você tem que estar atenta e alerta todas as vezes. Não pode reagir ao seu verdadeiro nome. Não
pode vacilar e chamar qualquer atenção. Você tem que agir como se assumisse que estão
chamando o nome de outra pessoa. E tem que estar absolutamente sintonizada em seu nome e
comportar-se como se fosse aquele com o qual nasceu.
Zoe assentiu, apertando as mãos de Rusty com mais ferocidade. Seu coração parecia que iria
bater para fora do peito. Não passara nem um minuto desde que ouviu a conversa de Sebastian -
ou quem quer que ele fosse - há seis dias, que o medo não fosse uma viva e constante
preocupação para ela. Sua vida inteira foi revirada no dia em que descobriu tudo e esmagada,
compreendeu que idiota ingênua e tola ela era. Sempre foi.
— Zoe é um nome com o qual estou intimamente familiarizada, — admitiu, baixando os
olhos em constrangimento. — Quando eu era criança, me sentia tão isolada... Tão sozinha que fiz
uma amiga imaginária. Zoe. Zoe Kildare. Eu não tinha outros amigos. Eu era uma estranha em
minha própria casa. Meu pai mal reconhecia minha presença.
Ela parou, lágrimas ameaçando mais uma vez. Droga. Não derramaria mais lágrimas por seu
pai ou um bastardo como Sebastian. Ela nunca tivera importância para ninguém em sua vida,
então por que deveria ter acreditado por um momento que teria importância para o homem que
se tornou seu amante? Um homem que ela ouviu rindo e dizendo que tinha a tarefa de foder uma
perdedora como ela. Só a lembrança a fez se encolher de humilhação.
— Oh querida, — Rusty disse, seus próprios olhos ficando brilhantes de lágrimas.
Zoe sacudiu a cabeça, endurecendo os lábios.
— Eles não valem suas lágrimas ou as minhas. Agora, que perguntas você tem para mim?
Rusty suspirou, mas voltou ao assunto em questão.
— Alguma vez, em algum momento, você mencionou a mim, meu nome, algo sobre mim,
para Sebastian, para o seu pai ou qualquer um? Pense bem, Zoe. Isto é importante.
Zoe franziu o cenho enquanto pensava. Mas não. Não quisera colocar Rusty em nenhum tipo
de risco. Rusty era sua primeira e única amiga verdadeira. A única pessoa em toda a sua vida que
era real e leal. Balançou a cabeça em resposta à pergunta.
— Você está cem por cento, certa? — Rusty persistiu.
— Eu não estava exatamente em condições de falar com o meu pai, — Zoe disse
amargamente. — E quando estava com Sebastian nós não falávamos sobre minha vida fora do
nosso "relacionamento". Eu estava muito preocupada que ele descobrisse sobre mim... Quem eu
era... E que ele iria me odiar, sem imaginar que ele sabia o tempo todo.
Rusty parecia aliviada e então sorriu, os olhos brilhando com triunfo.
— Eu não quero que você se preocupe. Tenho o plano perfeito.
4
Maya Banks
KGI 11
Zoe a olhou, confusa, mas Rusty se aproximou e juntou a pilha de pastas que levara consigo.
Começou a colocar itens na frente de uma Zoe atordoada.
— Em primeiro lugar, aqui está sua carteira de motorista. Você é de Chicago, a propósito.
Aqui está sua certidão de nascimento, passaporte e cartão do Seguro Social. Oh, e cartões de
crédito com uma história de crédito já bem estabelecida. Você tem uma propensão para livros e
vinho, a julgar pelas compras. E roupas. Eu te fiz uma total gastadora de roupas e calçados. Você
ainda tem contas do Facebook e do Twitter que datam de sete anos - você tem alguma ideia de
quanto tempo me levou para fazer e postar detalhes inatos de sua vida, bem como estabelecer
amigos falsos para você? Ah, e você também tem um sólido histórico de compras com a Amazon,
incluindo um Kindle e muitos e-books. Você é fã dedicada de livros de receitas, romance e ficção
científica.
Zoe olhou para ela com total perplexidade. Então se agarrou a uma das últimas coisas que
Rusty disse.
— Livros de receitas? — Ela caiu em uma gargalhada histérica. — Eu não consigo nem ferver
água!
Rusty encolheu os ombros.
— Detalhes. Não é como se você vai ter que provar seu talento culinário, e era tudo que eu
poderia conseguir com tão curto prazo.
A mandíbula de Zoe ficou boquiaberta de admiração.
— Rusty, como na terra você realizou tudo isso? Isto não é... Ilegal?
Rusty não parecia muito preocupada.
— O que posso dizer? Tenho habilidades loucas de tecnologia e habilidades de hacker. Eu
impressiono a mim mesma neste momento.
— Não tenho a menor ideia do que dizer. Isto é...
Rusty deu-lhe um sorriso atrevido.
— Brilhante? Genial? — Ela fez uma demonstração de soprar em suas unhas, um brilho
diabólico nos olhos. – Ah, e a propósito, depois que conseguiu seu Bacharelado em Artes, também
se formou com um MBA da Universidade DePaul. Eu não queria nenhuma semelhança com a sua
realidade passada.
— Acho que estou com uma espécie de medo de você agora, — Zoe disse, embora um
pouco do pânico que estivera sempre presente, desde que ouviu o destino pretendido por seu
desprezível ex-amante aliviou, e pela primeira vez começou a sentir... Esperança.
Rusty revirou os olhos.
— É assim, você não pode contar a ninguém o que eu fiz, porque não é como se meus
irmãos arrogantes iriam acreditar que eu sou mais esclarecida em tecnologia que o meu irmão
deus nerd de computador, Donovan. Sem mencionar certo xerife bundão que é a praga da minha
existência e não perde nenhuma oportunidade de humilhar e insultar-me ao longo dos anos, mas
depois inexplicavelmente decidiu dar-me o mais delicioso beijo da minha vida. Não que tenham
sido muitos.
Zoe estremeceu de simpatia. Ela era a única pessoa a quem Rusty havia confiado seu
relacionamento de amor e ódio com Sean Cameron, o xerife do condado em que vivia.
5
Maya Banks
KGI 11
— Aparentemente, ambos somos ruins quando se trata de homens, — disse sem convicção.
— Não, irmã. Nós não somos ruins. Eles são! — Rusty disse enfaticamente.
— Vou beber a isso, — ela murmurou.
Rusty se inclinou para frente e apertou as mãos dela, a compaixão desbotando em seus
olhos.
— Ele é um idiota, Zoe. E não vale seu tempo ou arrependimento. Você não fez nada de
errado. Ele te iludiu. Isso é sobre ele. Não você.
— O que não me faz menos estúpida, — Zoe murmurou.
— Bem, se junte à multidão. Eu deveria ter dado na cara do Sean quando ele me beijou e
especialmente depois que pediu desculpas e disse que nunca deveria ter acontecido. Mas nãoooo.
Eu fiquei lá como uma idiota. Deus, estou mortificada por este dia e o evito a todo custo.
— Então, você disse que tinha o plano perfeito, — Zoe disse, propositadamente desviando
do assunto que era claramente uma memória dolorosa e embaraçosa para Rusty.
Os olhos de Rusty se iluminaram quando ela sorriu.
— Eu tenho o plano perfeito. Você vai para casa comigo e fica por um tempo. Você sabe.
Uma amiga que conheci em uma conferência enquanto estava na faculdade e com a qual mantive
contato. Marlene e Frank vão te adorar e inseri-la como se fosse da família.
A expressão de Zoe ficou perturbada.
— Não é uma boa ideia, Rusty. Não quero você ou sua família expostos a qualquer perigo.
Você já arriscou demais.
Para surpresa de Zoe, Rusty riu.
— Eu percebo que mantivemos nossos segredos durante a nossa amizade, você escondeu o
fato de que seu pai está envolvido no crime organizado, e eu? Bem, vamos apenas dizer que o
lugar muito mais seguro para você ficar até descobrir um plano melhor ou dar uma lição em
Sebastian é com a minha família. Ele não tem chance contra meus irmãos, para não mencionar
todas as pessoas que trabalham para eles.
Zoe levantou as sobrancelhas.
Rusty levantou os dedos enquanto marcava seus pontos.
— Além do fato de que o xerife idiota é extremamente protetor de nossa família e é um
membro adotivo tanto quanto eu, meus irmãos chutam traseiros para viver. São todos ex-militares
e alguém seria um tolo de cruzar o caminho deles e uma vez que você chegue em casa comigo
como amiga? Bem, considere-se um membro do clã Kelly. Nosso lema é “ninguém se mete com os
Kellys”, e confie em mim, sis1, isso não é apenas uma bravata inútil.
— O que na terra eles fazem? Quer dizer, além de chutar traseiros para viver e ser ex-
militares.
— Eles mantêm uma organização que tem uma ampla gama de tarefas de proteção pessoal,
recuperação de reféns de serviços ferrados com os quais o governo não quer sujar as mãos, mas
não importam de jogar a tarefa para a KGI, a fim de atingir os seus fins. Eles recuperaram fugitivos,
saem em missões de resgate, destroem organizações terroristas, e isso é quando não estão
reunidos aos seus outros parceiros durante uma missão.
1 Abreviação de sister ( irmã) em inglês, usado para apelidar amigas e melhores amigas.
6
Maya Banks
KGI 11
Zoe a estudou por um longo momento.

— Você está brincando, não é?
Rusty sacudiu a cabeça.
— Não. Quando eu digo que eles são os últimos durões, não estou exagerando nem um
pouco. Espere até encontrá-los!
— Uh, talvez isso não seja uma boa ideia, — Zoe murmurou. — Eu me sentiria melhor me
hospedando sozinha, tanto quanto possível.
Rusty encolheu os ombros.
— Se você vier para casa comigo, é inevitável que vá encontrá-los em algum momento.
Basta ser você mesma e agir de forma casual. Se começar a agir toda estranha e nervosa, eles vão
ficar desconfiados, e isso é a última coisa que queremos.
— Então, você não vai lhes dizer sobre... Mim? Quer dizer, a verdade?
Os olhos de Rusty ficaram sérios.
— Eu nunca trairia sua confiança, Zoe. Você é minha amiga e, no que lhes diz respeito,
somos amigas que se conheceram na faculdade e você está me visitando enquanto decidimos o
que fazer com nossos diplomas e futuros. Quanto menos souberem, melhor. Na verdade,
ninguém, somente nós duas, precisa conhecer a verdade. Isso é como merdas acontecem. Vou
mantê-la viva, não importa o que for preciso. Não vou deixar esse imbecil colocar as mãos em
você.
Zoe respirou fundo.
— Então, quando é que partimos?
Capítulo Dois
— Estamos quase lá, — Rusty disse alegremente enquanto atravessavam a ponte sobre o
lago Kentucky.
— É lindo aqui, — Zoe respirou. — Parece tão calmo e tranquilo. Sem agitação de uma
grande cidade. As pessoas são agradáveis?
Rusty enrugou o nariz.
— A maior parte. Quero dizer, como qualquer cidade pequena, temos a nossa quota de
intrometidos abelhudos cuja única ambição na vida é incomodar a vida dos outros, mas os Kelly
são muito respeitados nesta área. Frank possui uma loja de ferragens em Dover, e como eu disse,
os seis filhos dele e de Marlene serviram em vários ramos do exército. Eu estava do outro lado da
cerca crescendo. Lixo branco. Encrenqueira. Fracassada. Pode escolher o adjetivo. Minha vida
mudou quando invadi a casa de Frank e Marlene porque estava morrendo de fome e meu
padrasto babaca não se importava com nada, exceto onde conseguir sua próxima dose. Ele não
era exigente. Álcool, drogas, o que quer que o faça ficar alto mais rápido. Cuidar de uma enteada
despejada sobre ele por sua esposa vagabunda não era exatamente uma prioridade. Eu não teria
ficado a primeira noite com ele, mas eu não tinha outro lugar para ir e era muito jovem para
7
Maya Banks
KGI 11
entender que agia como mais velha do que eu era, então teria acabado sendo levada para o
sistema de lares adotivos temporários. Pelo menos meu padrasto era o diabo que eu conhecia e
aprendi a lidar com ele. — Ela fez uma careta. — A maior parte do tempo.
— Deus, Rusty. Minha vida não foi exatamente maravilhosa, mas nunca fui abusada e nunca
passei necessidade. Meu pai cuidou para que eu tivesse o melhor de tudo. Provavelmente para
que eu não fosse um constrangimento para ele maior do que eu já era. Quero dizer, era óbvio que
minha própria mãe não se importava comigo. Ela partiu e não se incomodou em levar a filha com
ela.
Rusty franziu o cenho.
— Não vejo muita diferença em nossas situações. Nós duas erámos indesejadas, e isso
marca uma criança, como ambas podemos atestar.
— Isso é verdade, — Zoe admitiu.
— Eu tive muita sorte, — Rusty disse, seus traços ficando leves, os olhos iluminando com
amor e orgulho. — Marlene e Frank são os melhores tipos de pessoa. Marlene me acolheu sem
questionar, até mesmo confrontando meu padrasto babaca e permanentemente me removendo
da custódia dele. Eles até me adotaram depois que eu fiz 18 anos porque queriam que eu
soubesse que realmente me consideravam uma parte da família. A filha deles.
— Eles parecem maravilhosos, — Zoe disse melancolicamente.
— Espere até encontrá-los, — Rusty disse, sorrindo. — Dou-lhe um dia antes de Marlene
afirmá-la como família. Os meus irmãos enchem o saco dela por causa da sua propensão para
recolher os “carentes” que passam a ser todas as pessoas que ela adotou na família ao longo dos
anos. É impossível não amá-la e a Frank.
— Eles parecem bons demais para ser verdade, — Zoe admitiu.
— Eles são maravilhosos. Você verá em breve.
Zoe girou nervosamente as pontas de seus longos cabelos pelos dedos e olhou para seu
reflexo no espelho lateral.
— Eu não sei sobre todo este disfarce, Rusty. Apenas não me sinto como... Eu.
Rusty riu.
— Esse é o ponto. — Então, como se sentisse o desconforto muito real de Zoe, ela se
aproximou e colocou a mão sobre a da amiga e apertou tranquilizadora. — Você está
deslumbrante como loira. Ir de vermelho para preto era muito arriscado. As raízes seriam mais
proeminentes, embora você tenha que retocar a cor regularmente. Você não era ruiva cor de
cenoura, de modo que mesmo se suas raízes começarem a aparecer vai ser muito mais sutil.
— E os apliques de cabelo? — Zoe perguntou em dúvida.
— Pense nisso. Você tinha cabelo comprido. O que a maioria das pessoas faz quando quer
mudar a aparência? Cortam o cabelo porque não podem fazê-lo crescer rápido o suficiente para
completar um disfarce crível. Ao fazer o seu cabelo uns bons oito centímetros mais longo dá mais
credibilidade ao seu disfarce, e ninguém pode dizer que você tem apliques. Parece absolutamente
natural. Por isso demorou tanto tempo para fazer. Eu tive que torná-la absolutamente perfeita, e
isso é algo que temos que ficar atentas o tempo todo. Não pode haver enganos.
Os lábios de Zoe se curvaram em um sorriso.
8
Maya Banks
KGI 11
— Você diz “nós” como se fosse me dar cobertura o tempo todo.

A expressão de Rusty ficou feroz.
— Se eu for capaz, é exatamente o que vou fazer até descobrir uma maneira de tirá-la dessa
bagunça e livrá-la desse idiota tentando matá-la.
— Ainda assim, não tenho certeza se consigo manter toda essa imagem da garota doce e
natural da porta ao lado que você está tentando fazer de mim, — disse Zoe.
O suspiro de Rusty era audível enquanto lançava um olhar para ela que era uma mistura de
raiva e tristeza.
— Não me leve a mal, Zoe. Não é de forma alguma uma crítica a você, — disse ferozmente.
— Estou bem ciente dos padrões exigentes que seu pai forçou em você e, posteriormente aplicou
a sua vida inteira. Você era de alta classe, alta moda, vinte e quatro horas por sete dias da semana.
Você foi o epítome da riqueza e elegância. Inferno, você sequer colocava os pés fora do
apartamento sem maquiagem para esconder as sardas, porque seu pai as via como uma
imperfeição. Com o tempo ele fez você se sentir da mesma maneira sobre elas, sobre todas as
coisas; ele a rotulou até que você acreditasse que não estava bem do jeito que era. Você disse que
o idiota que você estava namorando não tinha ideia de que tinha sardas. Nunca permitiram ser
apenas você, e Zoe, escute atentamente o que estou dizendo. Você, a verdadeira você? Não há
nada de errado com ela. Você é linda, e não precisa de roupas, maquiagem ou joias para deixá-la
linda. Mas agora sua obsessão relacionada ao que você estava convencida ser uma falha funciona
em nosso favor, porque você está ostentando um rosto fresco, livre de maquiagem, e tem uma
polvilhada de sardas em seu nariz. Elas são intensamente adoráveis. Você não se parece nada com
a fashionista de primeira classe que foi a vida inteira. Com o jeans casual desbotado, tops bonitos,
mocassins e chinelos, ninguém iria olhar para você e ver a pessoa que você era. Você
simplesmente se permitiu ser quem você era todo o tempo. Real e não algum traje que foi forçada
a usar pela maior parte de sua vida. Confie em mim, este olhar, a pessoa que você representa
agora, é um disfarce infalível porque não é um engano, pelo menos. É cem por cento honesto e
representante da pessoa que você sempre foi.
Lágrimas quentes ardiam como ácido nos cantos dos olhos de Zoe e ela piscou
apressadamente para limpar a visão enquanto as palavras apaixonadas de Rusty se assentaram
sobre ela, afundando em lugares, áreas vulneráveis que nunca ousou permitir que alguém visse.
— Eu pareço fútil e ingrata, — Zoe disse, vergonha subindo por sua coluna. — Juro que não
sou, Rusty. Estou muito assustada e amedrontada, não só por mim, mas por você. Você arriscou
tudo para me ajudar e não posso evitar imaginar o que aconteceria se eles descobrirem sobre
você ou chegarem até você. Eu nunca poderia viver comigo mesma sabendo que foram feridos ou
mortos, porque você arriscou tanto por mim.
Zoe estava segurando sua mão com tanta força que Rusty a arrancou cautelosamente de seu
alcance aterrorizado e lhe deu um olhar de compreensão, amor e amizade que quase trouxe
lágrimas aos olhos dela.
— Você é minha melhor amiga, — Rusty disse sinceramente. — Não há nenhuma maneira
de eu virar as costas para você. Além disso, tenho habilidades loucas. Nem mesmo meus irmãos
seriam capazes de descobrir a verdade de seu passado, e isso é dizer muito considerando o que
9
Maya Banks
KGI 11
eles fazem. Normalmente me irrita que eles, ou continuamente me subestimam ou são tão
superprotetores ao ponto de querer me envolver em plástico bolha como fazem com suas esposas
e nunca me deixam me aventurar no mundo por conta própria. Deus, você deveria ter ouvido as
objeções quando eu queria sair do campus e pegar meu próprio apartamento depois do meu
segundo ano. Você teria pensado que o mundo tinha chegado ao fim. Então houve o momento em
que eu estava totalmente provocando um de meus irmãos dizendo que eu era perfeitamente
capaz de defender-me e fiz referência ao fato de que as aulas de autodefesa eram uma obrigação
para uma mulher ir para a universidade. Ele imediatamente exigiu saber que idiotas estavam me
dando problemas e ameaçou ir chutar alguns traseiros.
Rusty revirou os olhos, fazendo-a rir.
— Não sei, — Zoe disse melancolicamente. — Deve ser tão maravilhoso ter uma família que
a ama e se preocupa tanto com você.
Rusty imediatamente pareceu desapontada.
— Deus, eu sou uma idiota. Não queria fazer você se sentir como merda.
— Não, — disse Zoe. — Não se desculpe por ter uma família tão maravilhosa só porque, para
todos os efeitos práticos, eu não tive nenhuma. Além disso, se o que você disse é verdade, então
parece que vou começar a experimentar como é ter uma família de verdade, enquanto estiver
aqui.
— Basta lembrar, — Rusty disse no que Zoe pensou deveria ser sua melhor impressão de
professora de escola. — Nada de sua maquiagem de costume, nem roupas de grife. Você tem que
agir como você é. Uma menina saudável, inocente, tipicamente americana que pensa que um
Jimmy Choo é um restaurante e não um sapato escandalosamente caro.
Zoe começou a rir.
— Isso eu posso fazer. Vai ser bom começar a ser eu mesma, por uma vez, em vez de alguma
boneca Barbie inventada e controlada pelo meu pai, que só se lembrava que tinha uma filha,
quando estava dizendo a ela como se vestir e agir e para onde ir ou não ir.
— Você vai passar por isso, — Rusty prometeu. — Eu não tenho todas as respostas. Ainda.
Mas por agora quero que você relaxe e desfrute de passar esse tempo comigo e minha família e
tente esquecer o idiota que está tentando matá-la. Ele não pode te machucar aqui, querida. Isso
eu posso prometer.
Elas se viraram para uma estrada sinuosa paralela ao lago, e alguns minutos depois, o jipe de
Rusty chegou a um enorme portão de segurança que fez os olhos de Zoe se arregalarem. Quando
Rusty abaixou o vidro da janela e encarou o scanner de retina, o queixo de Zoe caiu.
— Eu lhe disse o que meus irmãos fazem, — Rusty disse com um encolher de ombros. —
Eles levam a segurança da nossa família muito a sério. Fizeram alguns inimigos não tão legais ao
longo dos anos, e uma das minhas cunhadas foi até mesmo sequestrada do complexo antes da
construção estar finalizada, então acredite em mim quando digo que ninguém entra e sai daqui
sem eles saberem.
Pela primeira vez desde que seu mundo inteiro se despedaçou, Zoe começou a sentir
esperança. Talvez Rusty tivesse razão. Esse só poderia ser o lugar mais seguro absoluto para ela
ficar quieta por enquanto. Ao passar por um aeródromo, um campo de tiro, dois edifícios que
10
Maya Banks
KGI 11
Rusty explicou serem a sala de guerra e a enfermaria, sua crença só foi cimentada. Nem mesmo
seu pai tinha os recursos extensos que os Kelly pareciam possuir.
Poucos segundos depois, pararam em uma grande casa de dois andares que, embora nova,
parecia um retrocesso para outra era. O epítome de uma casa de campo sulista completa com
encantadores sótãos, uma varanda envolvente com cadeira de balanço e um balanço.
— Esta é a casa de Frank e Marlene, — Rusty explicou. — Meus irmãos e esposas, todos têm
casas distribuídas dentro dos limites do complexo. Sam, meu irmão mais velho, demorou um
pouco para convencer nossos pais a se mudar, mas aqui estão eles. Eles pediram a um arquiteto
para elaborar uma réplica exata do seu antigo lar, a melhor coisa seguinte para mover a antiga
casa direto sobre este terreno. O único obstáculo restante é Joe. Ele e Nathan são gêmeos e os
mais jovens. Bem, até eu aparecer, — ela acrescentou com um sorriso. — Ele é o único solteiro
remanescente, e passa a maior parte do tempo esquivando-se dos esforços casamenteiros de
Marlene quando não está em missão.
— Eles saem em missão com frequência? — Perguntou curiosamente.
— Depende, — Rusty disse quando saiu e encontrou Zoe dando a volta para pegar as malas.
— Agora as coisas estão muito tranquilas, mas isso pode mudar a qualquer momento. Eles têm
três equipes e estão contratando atualmente novos músculos e treinamento. Costumam girar as
missões para dar a cada equipe o tempo de inatividade suficiente entre elas, mas às vezes
acontecem verdadeiras merdas e todas as três equipes estão envolvidas.
Os olhos de Zoe se desviaram. — Eu não quero nem saber.
— Você vai se acostumar com isso, — Rusty disse indiferente. — É apenas um modo de vida
por aqui. Acho que para alguém fora da família a nossa configuração parece bizarra, mas é apenas
mais um dia para nós. Na verdade, parece mais estranho quando nada está acontecendo e
realmente levamos uma vida normal.
— Algo me diz que você tem um monte de histórias com as quais poderia me entreter, —
Zoe disse, levantando uma sobrancelha em sua direção.
Rusty riu. — Garota, eu tenho mesmo. Contarei tudo sobre eles em algum momento. Por
agora, vamos levá-la para dentro.
O som de uma porta se abrindo e o súbito e alegre sorriso de Rusty fez Zoe virar na direção
da porta da frente. Uma mulher mais velha correu para fora e Rusty deixou cair as malas no chão e
correu para os braços dela. Zoe nunca tinha visto Rusty tão animada antes.
— Meu bebê está em casa! — A mulher que ela assumiu ser Marlene disse enquanto
envolvia Rusty em um abraço forte.
Um segundo depois, um cavalheiro mais velho também apareceu e Rusty se apressou em
seu enorme abraço, tal como fizera com Marlene.
— Fico feliz em tê-la em casa de novo, menina, — o homem disse rispidamente.
Zoe não conseguia controlar a onda de anseio ou as súbitas lágrimas que queimavam suas
pálpebras. Era óbvio que essas duas pessoas amavam Rusty tanto quanto ela os amava. Qual devia
ser a sensação de ter esse amor incondicional e duradouro? De repente, sentiu-se completamente
sozinha e indigna, lançando o olhar para baixo, incapaz de captar a visão de todas as coisas que
tanto desejara - e não tivera - toda a sua vida.
11
Maya Banks
KGI 11
— Mãe, Pai, eu lhes falei sobre minha amiga que veio para ficar comigo por um tempo, —
Rusty disse, voltando para Zoe para agarrar a mão dela. — Esta é Zoe Kildare.
Ela puxou-a para o casal mais velho, e Zoe ficou surpresa ao ver o sorriso sincero e acolhedor
no rosto de Marlene e a expressão afetiva instantânea em Frank.
— É maravilhoso conhecê-la, querida, — Marlene disse, chocando Zoe, puxando-a para um
abraço tão forte como o que tinha dado em Rusty.
Por um momento, Zoe ficou lá, afogando-se na sensação de como o abraço de uma mãe
deveria ser. Deus, não queria soltá-la nunca mais. Quase como se sentisse sua necessidade,
Marlene apertou os braços ao redor dela e simplesmente a segurou por um longo momento.
Então deu um passo para trás e Zoe foi imediatamente engolida pelos braços enormes de Frank
enquanto foi pressionada contra o peito largo do homem mais velho.
— Qualquer amiga de Rusty é considerada da família, — ele disse em tom ríspido que Zoe já
começava a associar com o pai adotivo de Rusty. — Fique o tempo que você quiser. Marlene ficará
feliz de ter outra pessoa para paparicar.
Rusty enviou-lhe um soberbo olhar de - “Eu te disse” - enquanto Zoe só podia ficar lá em
perplexidade absoluta, sem saber como reagir as boas-vindas sem reservas.
Marlene agarrou sua mão enquanto Frank ia buscar as malas.
— Venha para dentro, querida. Você deve estar com fome e sede depois da viagem.
— Basta ir com ela, — Rusty sussurrou enquanto ela e Marlene passavam por eles. —
Marlene alimenta todos, e confie em mim, você nunca provou nada tão bom quanto a comida
dela.
Rusty a conduziu pela escada até um quarto na extremidade e as duas mulheres entraram.
— Esta foi a única modificação da casa original, — Rusty disse com um sorriso suave. —
Originalmente, havia sete quartos, o principal e um para cada um dos meus irmãos. Quando
cheguei, só Nathan e Joe ainda viviam em casa, embora raramente estivessem ali porque se
alistaram no exército. Eles não viam motivo para comprar seu próprio lugar quando estavam em
casa apenas em licença por curtos períodos de tempo, então ficaram aqui. Quando eu comecei a
morar com eles, Marlene só me deu um dos quartos antigos dos meus irmãos, mas quando
reconstruíram a casa, ela insistiu em dar-me meu próprio quarto, embora haja agora seis quartos
desocupados na casa.
Zoe olhou para ela em confusão e Rusty riu.
— Eu sei, certo? Como eu disse, Joe é o único filho solteiro que resta, mas ele mora na casa
antiga do meu irmão mais velho no lago fora do complexo. Todo mundo tem suas próprias casas
com as esposas e filhos, mas Marlene foi inflexível que tudo permanecesse o mesmo, todos
tinham seus quartos antigos, até o modo como eles tinham sido decorados com troféus, prêmios,
objetos de estima, etc. É meio legal quando você pensa sobre isso. Ela disse que sempre quis um
lugar para todos virem para “casa” e se reunirem nas férias e lembrar os velhos tempos e
memórias felizes. Era muito importante para ela. E, bem, não posso dizer que a culpo. Todos os
seus filhos deixaram o ninho, e esta é a sua maneira de manter a família unida e essas memórias
vivas. Ela quer que os netos vejam onde seus pais cresceram, mostrar-lhes fotos e as coisas que
12
Maya Banks
KGI 11
pertenciam a seus pais quando eram mais jovens. Acho que você poderia dizer que esta casa é
uma ligação tangível para a história da família.
— Eu acho que é bonita, — Zoe disse, tentando disfarçar a dor em sua voz.
— E, — Rusty disse, — você vai dormir comigo. Não porque há uma escassez de quartos,
você sabe.
As duas explodiram em gargalhadas antes que Rusty se recuperasse e continuasse.
— Mas porque quero estar perto de você durante a noite. — Seu tom ficou sério como sua
expressão. — Você teve um susto infernal, amiga, e sequer teve tempo para lidar com isso, muito
menos processá-lo. Preciso estar perto, de modo que, se você tiver pesadelos ou acorde gritando,
Marlene e Frank não serão alertados e não vamos ter que mentir para sair de uma situação
complicada. Percebo que estou mentindo por omissão para eles, e odeio a ideia de fazer isso.
Nunca traí a confiança deles depois de tudo que me deram.
Uma dor muito verdadeira brilhou nos olhos de Rusty, misturadas com as sombras do
passado, e Zoe sentiu imediatamente uma onda de culpa pelo que estava fazendo sua amiga fazer.
Ambas estavam mentindo para os pais adotivos de Rusty e isso a fazia sentir-se como escória
completa.
— Ei, não fique assim, — disse Rusty. — Às vezes temos que fazer coisas com as quais não
concordamos, e, neste caso, estou bem com isso. Além disso, eles nunca ficariam com raiva de
mim em uma situação como esta. Não estou mentindo por maldade ou para sair de algo que fiz ou
não assumindo a responsabilidade. Estou fazendo isso para salvar a vida de minha amiga, e,
francamente, eles estariam completamente decepcionados comigo se eu virasse as costas para
você e me recusasse a ajudá-la ou apenas olhasse para o outro lado. Isso não é quem eles são.
Ninguém da minha família é assim. Frank e Marlene sempre ensinaram seus filhos e todos aqueles
que adotaram no seio de sua família a fazer a coisa certa e ser altruísta. É seguro dizer que
conseguiram incutir com sucesso esses valores em cada um de seus filhos, de relação de sangue
ou não. Posso ter demorado um pouco mais para entender o conceito que os outros, — ela
acrescentou com tristeza.
— Toc, toc, — Frank chamou de fora do corredor. — Peguei as malas. Se me disserem onde
querem que as coloque vou deixar tudo organizado.
Rusty correu para a porta e a abriu e Zoe já percebeu que a qualquer momento que Rusty
olhava para seus pais, sua expressão se suavizava imediatamente em uma expressão de amor e
calor.
— Obrigada, Pai. Pode apenas deixá-las aqui em baixo, — disse, apontando para a parede ao
lado da porta. — Vamos desfazê-las mais tarde, depois que cair na cama por uma hora para
descansar. Juro que a viagem de Knoxville fica mais e mais longa a cada vez que a faço.
Frank beijou a testa de Rusty.
— É por isso que você precisa estabelecer sua carreira mais perto de casa. Não é o mesmo
sem você aqui, e sua mãe e eu sentimos sua falta. Seria bom ser capaz de vê-la mais vezes e ainda
melhor se quando você se casar e tiver filhos, estará bem aqui com todos os nossos outros netos
para que possamos mimá-los muito.
Zoe abafou seu riso no imediato olhar paralisado de Rusty na menção de casamento e filhos.
13
Maya Banks
KGI 11
Frank virou para ir embora.

— Vou deixar as meninas desfazerem as malas. Novamente, é bom ter você, Zoe, e se
precisar de alguma coisa, apenas me avise ou a Marlene e iremos atender.
Ele tinha quase desaparecido da vista quando de repente se virou.
— Ah, eu me esqueci de mencionar. Sua mãe queria que eu lhes dissesse que o jantar estará
pronto em breve, então é melhor se apressar.
Capítulo Três
Joe recostou-se contra uma das mesas na sala de guerra e inspecionou as equipes
vagamente espalhadas, incluindo os dois novos recrutas, Ryker Sinclair e Allie Jacobs. Ryker se
juntou a equipe de Joe e Nathan, um fato que fez os irmãos gêmeos extremamente felizes. Ryker
serviu no exército com eles, e Joe e Nathan confiavam suas vidas a ele, e as de seus outros
colegas, Swanny, Edge e Skylar.
Allie tinha sido uma surpresa, para dizer o mínimo. Ela era uma bola de fogo explosiva em
um pacote muito pequeno. Só o olhar no rosto de Rio quando foi apresentado ao potencial novo
membro de sua equipe tinha valido a pena o preço do ingresso. Menos de uma hora mais tarde,
depois que ela colocou não só Rio, mas até Terrence - o braço direito de Rio, gigante como um
urso - em seus traseiros, o ceticismo de Rio virara respeito em um nano segundo. E depois da
proeza dela no campo de tiro e uma demonstração de sua capacidade de neutralizar dispositivos
explosivos rápida e eficientemente, todos na KGI estavam convencidos de que ela era uma recruta
superior e gratos que a pegaram antes que outra agência a tivesse.
Todos os elementos de um achado incrível estavam lá, mas havia alguma dúvida quanto a se
ela seria uma boa companheira de equipe. Allie era dura e parecia desconfortável em torno da
camaradagem fácil dos membros da equipe KGI, mas todo mundo estava disposto a dar-lhe o
benefício da dúvida. Podia ser que ela estivesse simplesmente nervosa e pouco à vontade no novo
ambiente.
Sam, o irmão mais velho e fundador da KGI, olhou para o relógio com clara confusão.
— Alguém tem notícias de Steele? Não é costume dele estar atrasado para uma reunião.
Os outros pareciam tão surpreendidos quanto Sam. Membros da equipe de Steele se
moveram, mas permaneceram em silêncio, mas a preocupação claramente brilhou nos olhos de
Dolphin.
— Será que alguma coisa aconteceu com ele? — Ele fez a pergunta mais prevalente em
todas as mentes.
Em resposta, Sam pegou o celular e apertou um botão assim que a porta para a sala de
guerra se abriu e todos se viraram para ver Steele ali de pé, olhos vidrados, parecendo que não
tinha uma pista de onde estava ou quem era.
— Eu estava prestes a informá-los, seus muito preocupados, que Steele passou pelo portão
de segurança sessenta e dois segundos atrás, — Donovan, o guru da tecnologia, disse secamente.
14
Maya Banks
KGI 11
Os olhos de Joe se estreitaram quando Steele continuou ali, olhos fixos, aparentemente
inconsciente da presença de qualquer outra pessoa.
— Ei, cara, você está bem? — Perguntou Joe.
PJ Coletrane adiantou-se e colocou a mão no braço de Steele.
— Ei, o que está acontecendo, Steele?
Cole foi para trás de sua esposa, PJ, também estendendo a mão em direção a Steele como se
temesse que o seu líder fosse cair de cara no chão.
— Maren está grávida de novo, — ele disse em um tom atordoado.
A sala irrompeu em gritos e parabéns, e uma rodada de tapas nas costas atingiu Steele e os
muitos membros da KGI enquanto ele, desnorteado, tentava manter o equilíbrio.
— Puta merda, — Steele suspirou quando a comoção diminuiu. — Ela está grávida. Mais
uma vez.
Todos riram, mas a expressão de Steele era de absoluta seriedade e... Medo. Ele esfregou a
mão sobre o rosto enquanto os outros trocavam olhares divertidos. Antes de Maren, o apelido de
Steele era Ice Man, Homem de Gelo. Sem emoção. Antissocial. Vivendo apenas para o trabalho e
sua equipe. Conciso e não excessivamente comunicativo, no mínimo. Ele era o cara de “as ações
falam mais alto do que palavras.” E essa não é uma qualidade desvalorizada em sua organização.
— Ei, ela é resistente, — Garrett, segundo irmão mais velho de Joe, disse em um esforço
para consolar o líder da equipe que se sentia tão confuso. — Depois de tudo a que ela sobreviveu,
detonando ao fazê-lo, dar à luz novamente será um passeio no parque.
— Acho que eu não vou sobreviver a outra gravidez, — Steele explodiu, o olhar
enlouquecido se intensificando.
Outra rodada de riso soou, mas ele recebeu olhares de simpatia e compreensão dos pais, na
sala. E Jesus, as fileiras da KGI tornaram-se uma fábrica regular de bebês. Joe enviou um olhar
nervoso a seu irmão gêmeo, Nathan, e Nathan, que normalmente lhe dava merda sobre ser o
último solteiro remanescente e a mãe deles definindo suas vistas sobre ele, retribuiu com um
olhar igualmente enjoado.
— Confie em mim, não fica melhor depois que você é casado, — Nathan murmurou. —
Pensei que iria ficar livre de Mamãe nas minhas costas e permanentemente nas suas até você
sucumbir e encontrar “a mulher da sua vida”, mas agora ela está dando dicas sobre quando Shea e
eu vamos fornecer-lhe um neto. Nossa! Ela já tem nove por laços de sangue ou adotivos. Pensei
que quando chegasse ao quinto ela já teria parado!
Joe deu a seu irmão um olhar descontente.
— Ótimo. Então você está me dizendo que, além de Mamãe perseguindo-me dia e noite
sobre encontrar alguma agradável jovem para casar, uma vez que isso aconteça, e não estou
dizendo que vai ocorrer a qualquer momento em breve, ela vai começar a perturbar para eu
encher a porra de um berçário?
Algo parecido a horror deve ter se refletido em seu rosto, porque seu irmão gêmeo riu até
que começou a respirar ofegante. — Sim, é desse jeito que a coisa funciona.
— E, obviamente, não termina depois de ter um, — Joe apontou. — Ela estava sobre Sam e
Sophie para ter outro. Ela já está insinuando sobre Sarah ter outro bebê, e Kelsey mal completou
15
Maya Banks
KGI 11
um ano! Pobres Sam e Sophie estão, provavelmente, ouvindo sobre o bebê número três, agora
que Grant tem catorze meses.
— Oh, não sinta pena de Sam, — Nathan disse ironicamente. — Sophie tem a minha
simpatia porque não há nada que Sam amaria mais do que fazê-la passar os próximos vários anos
tendo bebês. Ele e Mamãe, provavelmente, coordenaram a ofensiva e se juntaram sobre a pobre
mulher.
— Talvez a notícia da gravidez de Maren vá apaziguar Mamãe e distraí-la por alguns meses,
pelo menos, — respondeu sarcasticamente.
Nathan zombou. — Até parece!
Concentraram-se novamente nos acontecimentos na sala apenas a tempo de ver Steele cair
em uma cadeira que outro membro da equipe, Renshaw, apressadamente puxou para frente e
posicionou perto de seu líder.
— Ela passou por tanta merda durante a primeira gravidez, — Steele disse asperamente. —
Sequestrada, intimidada, manipulada, controlada, vivendo com medo pela vida do nosso filho
todos os dias de cativeiro. Ela sempre temeu que o filho da puta fosse estuprá-la. Ela não comeu
ou bebeu corretamente porque temia que ele prejudicasse nosso bebê. Então esteve perto da
morte por quase cair de um helicóptero e milagrosamente sobreviveu ao acidente que se seguiu.
Depois, há o fato de ter eu ter ficado em cima dela 24 horas, sete dias por semana depois de tudo
isso, porque eu estava morrendo de medo de ela ficar fora da minha vista por um minuto e correr
o risco de perdê-la novamente. E o parto. Jesus, o parto durou para sempre! Ela estava com tanta
dor, e agora vai passar por tudo isso de novo? E se alguma coisa acontecer com ela ou o nosso
filho? Eu não iria sobreviver. Ela é a minha vida.
Toda a sala ficou incapaz de falar alguma coisa e todos ficaram olhando o líder da equipe,
boquiabertos, por que ele muitas vezes foi considerado mais robô que homem. Ele disse mais nos
últimos minutos do que em quase a totalidade de sua liderança de uma das equipes KGI.
— E você se pergunta por que evito a boa instituição do casamento, — Joe falou baixinho. —
Olhe para ele. É um maldito caso perdido e esse homem nunca perde o controle. Nunca. Exceto
quando tem alguma coisa a ver com Maren ou Olivia. Quem diabos estaria disposto a inscrever-se
para uma vida de constante preocupação, estresse e ansiedade?
Nathan deu a seu irmão um olhar que imediatamente o fez sentir-se inadequado, ignorante
e, se fosse completamente honesto, invejoso como o inferno.
— Porque não posso imaginar minha vida de outra maneira, — seu irmão respondeu
simplesmente. — O conhecimento de que Shea é minha, que me ama e que eu a amo mais do que
a vida? Bem, isso faz toda preocupação, cada medo, cada momento paralisante de terror valer a
pena. Se eu tivesse que fazer tudo de novo, não mudaria uma única coisa. Eu voltaria para o
inferno e seria torturado por aqueles filhos da puta sádicos, porque se não fosse por isso, eu não
teria Shea agora.
Joe ficou em silêncio após a declaração tranquila e apaixonada de seu irmão. Ele viu Nathan
em seu ponto mais baixo e no mais alto. Shea o trouxera de volta. Trouxe de volta algo inestimável
para Joe. Seu irmão gêmeo, o vínculo mais forte do que nunca agora, especialmente desde que a
ligação telepática muito especial que Nathan e sua esposa compartilhavam estendia-se para Joe.
16
Maya Banks
KGI 11
Isso assustou Joe e Shea terrivelmente, mas agora não queria que fosse de nenhuma outra
maneira. Isso o fazia sentir-se ainda mais perto de seu irmão quando de outra forma, teria se
sentido deixado para trás, excluído de algo tão precioso e que mudou a vida deles. Confortava-o
saber que Shea poderia alcançá-lo se ela ou seu irmão estivessem em perigo ou precisassem de
ajuda.
— Maren vai ficar bem, — Ethan falou. — Aquela mulher é uma lutadora. Todas as nossas
mulheres são lutadoras. Você mesmo disse. Ela já sobreviveu ao pior. Aprecie o momento cara.
Ficará cada vez mais doce de agora em diante. Você não pode viver no passado ou ele vai comê-lo
vivo. Escute alguém que sabe o que está falando.
Steele olhou para o irmão de Joe, Ethan, entendendo instantaneamente, a expressão sóbria
pela lembrança do que ele e especialmente sua esposa, Rachel, sofreram e onde estavam agora.
Mais fortes do que nunca. Rachel era uma sobrevivente. Uma sobrevivente feroz pra caralho que
se recusou a desistir. Joe nunca tinha admirado ninguém em sua vida tanto quanto admirava suas
duas cunhadas, Rachel e Shea. Ambas sofreram o inimaginável por seus irmãos.
A expressão de Steele era de dor quando olhou para Ethan. Outra exibição pouco
característica de suas emoções normalmente bloqueadas.
— Deus, eu pareço um idiota.
Ethan sorriu. — Não. Todos nós precisamos ser lembrados de como somos abençoados e
não ficar loucos nos preocupando com o que pode acontecer, ou com erros ou coisas sobre as
quais não temos controle.
Sam pigarreou.
— Se o colapso da manhã já terminou, talvez possamos tratar de negócios?
Steele lançou-lhe um olhar ameaçador, mas parecia aliviado de ter a atenção desviada dele.
— Continue, oh Senhor e Mestre, — Donovan falou irreverentemente. — Tenho um
encontro com minha esposa e filhos que eu gostaria de estar, digamos, antes da próxima semana.
Sim, negócios como usual mais uma vez. Um suspiro de alívio pareceu percorrer toda a sala.
Enfrentar a merda, derrubar os maus, ser baleado, nada disso era tão desconfortável quanto
testemunhar colapsos emocionais de homens e mulheres que ganhavam a vida sendo durões ao
extremo.
— Como a maioria de vocês sabe, ou pelo menos aqueles que já se preocuparam em prestar
atenção, — Sam disse, dando uma cutucada divertida em alguns membros das equipes, —
contratamos dois novos recrutas. Todos conheceram Ryker Sinclair, irmão de Eden, e Hancock,
também.
Um gemido coletivo e entusiasmado soou ao nome do cara que uma vez foi arqui-inimigo
deles, que como Steele, tinha feito uma brusca meia-volta e saiu de uma máquina fria, sem
emoção, cujo único objetivo era realizar a missão, não importava o que tivesse que ser feito, a um
homem que perdia a cabeça se sua esposa sequer batesse o dedo do pé.
E é isso que a mãe de Joe e as cunhadas queriam para ele? Nesse caso, ele dispensava. Uma
dispensa enfática. Gostava de sua vida sã, assim como era. Sã. Muito obrigado.
— Ele vai se juntar a Skylar, Edge, Swanny, a equipe comandada por Nathan e Joe.
Ryker esboçou um sorriso.
17
Maya Banks
KGI 11
— Swanny, você deve saber que minha irmã ameaçou chutar minha bunda se eu não
cuidasse de seu amado marido e me certificasse que ele nunca volte para casa faltando qualquer
parte do corpo.
Swanny revirou os olhos.
— Sim, bem, você teve menos dificuldade. Ela disse-me em detalhes precisos o que
aconteceria a mim se o seu precioso irmão recebesse um arranhão. Menino delicado.
Allie fez uma careta, franzindo suas feições numa expressão feroz de desaprovação.
— Alguma vez vocês são sérios ou eu me juntei a um número de circo? Pensei que este
trabalho era sobre ser uma máquina bem oleada, treinando no mais alto nível e assumindo
missões que mudariam a vida dos outros para o bem.
Mais do que um olhar de surpresa foi lançado em direção a ela, mas Rio apenas sorriu, como
o resto de sua equipe.
— Eu disse que ela iria se encaixar bem, seu monte de resmungões antissociais, — Sam disse
sem calor.
A expressão de Allie ficou ainda mais indignada. Dado o fato de que ela já tinha derrubado
metade de seus traseiros no mano a mano, aqueles mais próximos a ela preventivamente
recuaram e a olharam com cautela.
— Eles estão apenas te chateando, Allie, — Skylar a acalmou, embora Joe pudesse dizer que
as observações de Allie a irritaram. — Não se pode ser sério o tempo todo ou este trabalho nos
come vivos. Acho que você vai descobrir que o nosso senso de humor, ou a falta dele em alguns
casos selecionados, em nada afeta nossa capacidade de chutar alguns traseiros quando é
necessário.
— Hooyah2! — Ethan e Cole entoaram simultaneamente.
— Sinto muito se você se ofendeu com nosso extravasar de emoções, — Donovan disse
sério. — Mas o que Sky disse é verdade. Quando enfrentamos a morte em cada missão,
aprendemos a viver o momento e não nos debruçar sobre os “e se”. Sabemos que cada vez que
deixamos nossas esposas, maridos ou entes queridos, pode ser a última vez que os vemos. Todo
mundo lida com a pressão em sua própria maneira e tentamos não julgar, a menos que seja
completamente fora de linha. A maioria de nós está junto há muito tempo e vimos uns ao outros
em situações tão difíceis que destruiria outras pessoas ou os faria virar as costas e simplesmente ir
embora. Escolhemos você porque é a melhor nova recruta já contratada, com habilidades que não
só precisamos, mas que nos farão ainda melhores como equipe. Nada nesta organização é sobre
uma pessoa. Citando uma frase que você vai ouvir muitas vezes por aqui, vivemos e morremos
pela equipe. E isso significa que nenhum de nós está sozinho. Então, espero não ter dado a
impressão errada. Certamente não queremos desrespeitá-la e espero que você opte por
permanecer ao nosso lado.
— Sim, por favor, — Garrett resmungou. — Você iria chutar nossas bundas se fosse lançada
contra nós.
Por um breve segundo, Allie realmente sorriu. Uau, quando ela não estava tão séria e
exibindo aquela expressão “cara de bunda”, era uma mulher bonita. Cabelos lisos pretos meia-
2 Grito de guerra da Marinha dos EUA.
18
Maya Banks
KGI 11
noite, pele cremosa e belos olhos, parte de sua herança asiática. Quando sorria, era como se todo
o rosto se transformasse, e Joe não foi o único afetado. Outros ficaram igualmente chocados
enquanto olhavam para a mais nova guerreira. Talvez ainda houvesse esperança para ela. Ela teria
que soltar-se rapidamente, ou este trabalho iria comê-la viva e cuspi-la de volta.
— Desculpe, — ela disse sinceramente. — Vamos apenas dizer que meus últimos
companheiros de equipe não eram exatamente um conjunto ideal de pessoas para trabalhar. Eles
conversavam muito sobre merdas que não tinha nada a falar. Se tivessem falado menos e
realmente fizessem a porra nos postos de trabalho, eu não teria caído no meu último trabalho
com eles e, em seguida, forçada a tirar uma licença prolongada de ausência que resultou em
nunca retornar.
— Isso é realmente uma merda, — Terrence rosnou.
PJ adiantou-se e colocou a mão no braço de Allie, um gesto surpreendente, pois PJ não era
exatamente conhecida por ser do tipo acolhedora e esfuziante.
— Confie em mim, Allie. Não há melhores pessoas para ter à costas. Eu deveria saber. Eles
vão falar merda, sim, mas sempre te protegerão, e você pode confiar nisso.
Allie piscou para ela com ferocidade, mas, em seguida, estudou o rosto de PJ e deu um curto
aceno de cabeça que disse a Joe que ela estava reservando julgamento.
— Vou manter isto curto e doce, já que passamos da fase curta e doce, — Sam murmurou.
— Steele, gostaria que você e sua equipe ficassem em torno da base por algumas semanas para
ajudar a treinar os novos recrutas. As equipes de Rio, Nathan e Joe realizarão todos os exercícios
de treinamento aqui, e podemos dividir por especialidade e conseguir tempo individual, além de
exercícios simulados.
— Não temos muitas vezes tanto tempo de folga entre as atribuições, — Garrett disse,
continuando de onde Sam parou. — E pretendo continuar a desfrutar o meu tempo com minha
esposa e filha, enquanto a calmaria durar. Para esse fim, treinaremos quatro horas nas manhãs de
segunda a sexta-feira, ou pelo menos até que as coisas vão à merda e sejamos chamados para sair.
— Alguém já lhe disse o quanto você é otimista? — Nathan resmungou.
— E, — Sam disse, com um sorriso formando em seus lábios, — eu tenho um tratamento
especial para todos vocês. Allie vai liderar um curso de treinamento sobre explosivos:
desmontagem e desarmamento, como saber quando você está fodido e quando você não está.
Baker, você de todas as pessoas deve compreender isso.
— Oh, fodam-se todos, — Baker resmungou. — Pelo amor de Deus. Foi uma vez e há tempos
atrás! Deixem pra lá.
As sobrancelhas de Allie levantaram em questionamento.
— Vou lhe contar tudo sobre isso mais tarde, — PJ prometeu com um sorriso maligno na
direção de Baker.
— Ei, não foi de todo ruim, — Renshaw defendeu. — Ele fez o chefe e Maren ficarem juntos
finalmente.
— Por que tenho a sensação de que isso vai ser uma história longa pra burro? — Allie
perguntou com resignação. — Vocês consegue ficar sérios sobre qualquer coisa?
A sala se encheu de riso.
19
Maya Banks
KGI 11
— Todas as estórias são longas, — Skylar disse, os olhos brilhando de alegria. — E eu sequer
estou aqui há tanto tempo como a maioria.
— Nós somos sérios, — Joe disse em uma voz ainda dirigida a Allie. — Nós somos sérios
sobre não foder a missão e morrer. Essa deve ser toda a seriedade que você precisa.
A sobrancelha dela subiu e ele podia jurar que ela fungou em sua direção com desdém.
Skylar notou a interação e sua expressão escureceu. PJ chamou a atenção de Skylar e as duas
mulheres estavam em comunicação silenciosa por um longo momento, seu descontentamento
evidente. Merda. Se Joe fosse Allie, estaria urinando-se agora mesmo. Ter uma das duas mulheres
em seu traseiro seria intimidante o suficiente. Mas ambas, Skylar e PJ? Se um homem adulto não
tremesse em suas botas sobre a dupla ameaça, então ele era um maldito idiota. Esperava pelo
bem de Allie que ela perdesse esse seu jeito marrento muito rápido ou as coisas ficariam feias.
— Rio, você trouxe Grace e Elizabeth para uma visita? — Donovan perguntou com um
sorriso.
Rio lhe deu um olhar que sugeria que ele era um idiota. E sequer se dignou a responder.
Apontou para a sua equipe sair e eles simplesmente saíram da sala de guerra.
Joe riu. — Você nunca pode acusar Rio de não ser consistente.
— Ela é boa, — Garrett pensou, seu olhar ainda na porta fechada onde Rio e sua equipe,
com a mais nova recruta, saíram apenas alguns segundos antes. — Boa pra caramba. Ela vai ser
um ajuste perfeito para a equipe de Rio. Se a química for certa. Quando contratamos um novo
recruta, é um jogo de dados, na medida do quanto eles se encaixam bem com a equipe. Suas
habilidades não estão em questionamento, caso contrário não seriam contratados. Não é tudo
sobre habilidades. Um recruta tem que se encaixar perfeitamente em sua equipe ou merda vai
desabar muito rápido. Mas juro que é como o destino ou alguma merda piegas que não entendo
porque não poderíamos ter encontrado um melhor ajuste para Rio e sua equipe do que Allie,
mesmo se tivéssemos criado uma lista de verificação inteira, perfil de personalidade, que seja. Ela
é como um maldito presente que caiu direto em nosso colo e, por mais estranho que seja, não vou
perder tempo refletindo sobre a improbabilidade estatística de encontrar um novato que se
encaixe em uma equipe que não está nem aí e faz tudo do seu jeito, mas consegue fazer o
trabalho a cada maldita vez independentemente e simplesmente desfrutamos por ter mandado
muito bem. Derrubando os fodões, completando a missão, atingindo nossos objetivos ou algo
assim.
Uma série de risadas se levantou e Joe revirou os olhos.
— Hum, cara? Você realmente perdeu uma tonelada de tempo refletindo sobre a
improbabilidade estatística de encontrar Allie.
Garrett fez uma careta.
— Foda-se. Já acabamos? Eu gostaria de passar o que resta do dia com minha esposa e filha.
Ela já está andando. Você pode acreditar nisso? Ela é um gênio. Claramente puxou a mãe. É o
bebê mais inteligente do mundo.
Gemidos substituíram as risadas anteriores e vários olhares rolaram para cima como se
implorando misericórdia. Joe também estava pronto para rolar para fora, mas não pelas razões
que os outros. Havia uma quantidade de lar, lareira e domesticidade envolvida em uma tonelada
20
Maya Banks
KGI 11
de conversa sentimental e constrangedora que um homem poderia aguentar em um dia. E ainda

assim, a perspectiva de voltar para a casa onde agora ele era o único ocupante não o atraía. Talvez
fosse tomar uma cerveja, mas, estaria voando solo, porque todos os seus irmãos, para não
mencionar a maioria dos outros membros da KGI, estavam bastante felizes fora do mercado e
preferiam conversas ridículas sobre bebês e gabando-se que seus descendentes eram os bebês
mais brilhantes que já nasceram para sair com os caras e tomar uma bebida. Ou três.
Talvez Skylar e Edge parassem para uma pausa pela exposição de um homem crescido
perdendo cabeça durante uma reunião. E se Skylar e Edge não topassem, Dolphin estava sempre
pronto para se divertir. Como Joe, Dolphin era solteiro e não mostrava sinais de se estabelecer...
Nunca. Joe não era muito de festa, preferindo passar seu tempo com a família, mesmo que o
deixassem louco sobre seu estado solteiro, mas as façanhas de Dolphin eram lendárias e ele
mantinha sua equipe, bem como o resto da KGI, regularmente divertida com suas saídas a noite.
Sequer percebeu que estava balançando a cabeça até que pegou Nathan olhando-o com
curiosidade antes de perguntar:
— Tudo bem com você, mano? Por que está balançando a cabeça parecendo que quer foder
uma organização terrorista inteira?
Derrubar um grupo terrorista tinha mais apelo do que ser submetido à exibição épica de
colapsos emocionais que ele acabara de testemunhar. Nunca antes se sentira como um intruso na
organização fundada e dirigida por seus três irmãos mais velhos. Sempre soube que depois que
sua última turnê no exército terminasse iria se juntar aos irmãos e ansiara por isso. Ele amou seu
tempo no exército. Ele o preparou bem para estar no nível dos outros membros da KGI, mas
estava pronto para passar para a próxima parte de sua vida.
Agora? Sentia-se claramente desconfortável, e mais uma vez, uma sensação persistente do
que parecia estranhamente com inveja o incomodava incansavelmente. Não estava com inveja de
seus irmãos. Estava feliz como o inferno por eles. Sequer queria se estabelecer tão cedo. Ele tinha
tempo. Quando estivesse pronto, estaria pronto. Todos os seus irmãos souberam quando
encontraram - a mulher de suas vidas. - Antes disso, eles, como ele, estavam perfeitamente
contentes em ser solteiros e exclusivamente centrados em fazer a diferença e trazer justiça para
idiotas que escaparam. Mas no momento que suas esposas entraram em suas vidas, tudo mudou.
Joe não encontrara - a mulher de sua vida. - Claro, ele namorava. Sua vida sexual não fazia
dele um homem promíscuo, mas também não lhe faltava companhia quando a necessidade o
atingia. Mas nenhuma das mulheres que namorou agitou a resposta feroz que ele testemunhou
tantas vezes, quando seus irmãos encontraram suas companheiras de alma.
Doce Jesus. Esqueça a cerveja. Precisava de algo infernalmente muito mais forte. E precisava
dar o fora daqui rápido, porque estava realmente contemplando merdas como companheiros de
alma e o fato de que ainda não tinha encontrado a dele. Isso não era o que queria no momento.
Ou era?
21
Maya Banks
KGI 11
Capítulo Quatro
— Tem certeza que é uma boa ideia? — Zoe perguntou a Rusty em pânico quando ela espiou
da janela do segundo andar para ver as dezenas de pessoas reunirem-se abaixo no quintal.
Quando Rusty dissera que toda a família Kelly, mesmo aqueles considerados fora dos laços
de sangue, compareceriam a um churrasco na casa de Frank e Marlene hoje, Zoe estivera repleta
de ansiedade e... Medo. Viera aqui para se esconder, para ser a mais despercebida possível. Para
estar em um lugar onde não teria que se preocupar sobre ser descoberta até que ela e Rusty
tivessem um plano para o próximo passo.
Agora, enfrentaria o que parecia ser, pelo menos trinta pessoas, se não mais, de pé ao redor
sorrindo, rindo, divertindo-se. Crianças brincando. Apenas o que uma verdadeira família parecia,
ou pelo menos o que Zoe imaginava seria uma família de verdade. Mas o que ela sabia? Não teve
nada disso quando estava crescendo. Rusty foi a primeira amiga de verdade que ela fez, a primeira
pessoa que parecia realmente se preocupar com ela, e Rusty certamente tinha ido a grandes
extremos, com uma grande possibilidade de pôr em perigo a própria vida.
Não só sentia-se aterrorizada por estar exposta a tantas pessoas, também foi instilada com
uma inveja feroz, algo que não pensava que poderia sentir depois de muito tempo aceitando suas
circunstâncias. Como sua vida poderia ter sido se ela tivesse tido... Isto. Uma família dedicada e
amorosa. Felicidade. Amor. Sorrisos e risadas. Um grito distante do ambiente estéril ao qual
estava acostumada.
Rusty deslizou a mão sobre o ombro de Zoe e, em seguida, virou-a, puxando-a para um
abraço forte.
— Pare de se estressar, Zoe. Você sabe que eu nunca faria nada que pudesse colocá-la em
risco. Esta é minha família. Eles são leais até os ossos. Não são fofoqueiros, nem se intrometem
nos negócios de outras pessoas. Você será recebida como hóspede, como uma parte da família.
Ninguém vai interroga-la, nem vai falar com estranhos sobre você ou qualquer coisa que aconteça
dentro da nossa família. Aprendemos bem a necessidade de discrição e manter os negócios da
família assim. Negócios de família. Até agora todos sabem que eu trouxe uma amiga para casa e
será muito mais suspeito você passar a tarde inteira escondida em nosso quarto do que se descer
e se juntar a eles e, Deus me livre, realmente relaxar e se divertir por uma vez. Você precisa disso,
Zoe. Precisa ver que a forma como foi criada não é normal, não é como as famílias funcionam. Eu
não consigo pensar em uma maneira melhor para você ver isso do que passar a tarde com a minha
família, que vai fazer nada mais do que recebê-la de braços abertos.
Zoe suspirou.
— Eu sei que você está certa. É só que não tenho certeza que consigo isso sem ter um
colapso completo ou parecer tão amedrontada que todos irão imediatamente suspeitar desta
“amiga” que você trouxe para casa.
Rusty riu.
— Todo mundo está bem familiarizado com o meu... Bem, vamos apenas dizer que eu tinha
algo de rebelde, nos primeiros anos, e sempre fiz o meu próprio caminho. A diferença é que
sempre tive uma rede de segurança se eu caísse. E é isso que quero que você tenha, — ela
22
Maya Banks
KGI 11
acrescentou em um tom mais sério. — Não há uma pessoa lá que não iria protegê-la com a própria
vida.
Zoe deu-lhe um olhar cético.
— Eu sou uma estranha, Rusty. Não sou da família, embora você continue insistindo no
contrário. Porque na terra correriam o risco de qualquer coisa por alguém que eles nem mesmo
conhecem?
A expressão sombria de Rusty desapareceu enquanto o riso escapava, seus olhos brilhando
em alegria.
— Amiga, isso é o que eles fazem. Arriscam suas vidas por pessoas que sequer conheceram
antes. Já pensei como você. A organização que formaram tem tudo a resgatar e proteger, exigindo
vingança. Eles são o verdadeiro negócio, querida. Mas você não vai saber disso a menos que saia
do esconderijo e se junte às festividades. E, bem, odeio puxar as grandes armas, mas se você não
vier comigo, então Marlene vai vir para cima e arrastá-la para fora, e confie em mim, ninguém diz
não a Marlene. Ela não vai ser má, por Deus, essa mulher é uma santa, mas de repente você vai
encontrar-se a fazendo exatamente o que ela quer e depois vai estar confusa porque não
consegue nem mesmo se lembrar como ela conseguiu isso, mas vai encontrar-se caindo, assim
como o resto da família, fazendo exatamente o que ela determina.
Os olhos de Zoe fecharam um breve momento e então ela endireitou os ombros.
— Você está certa. Estou sendo estúpida, assustada e irracional. Estou cansada de ser uma
ratinha tímida. Deus, odeio a pessoa que me tornei.
— Nunca é tarde demais para mudar, querida, — Rusty disse, sua expressão suavizando com
amor e compreensão. — Sei disso melhor do que ninguém. Você pode se tornar quem você quiser.
Apenas precisa dar o primeiro passo na tomada da sua vida de volta. Torne-se quem você quer
ser. Nunca é tarde demais para alcançar seus sonhos e viver a vida que sempre quis. Precisa
apenas se libertar do passado e parar de deixar que ele controle o presente. E o seu futuro. Você é
inteligente, engraçada e bonita. É compassiva, gentil e altruísta. Você não pode me dizer que o seu
pai ou esse imbecil que te ferrou são responsáveis por essas características. Você fez essa escolha,
apesar de lhe ser mostrada nenhuma outra maneira. Você é sua própria pessoa e nada que eles
fizeram vai mudar isso. A menos que você deixe.
— Acho que você pode marcar “inteligente” fora da lista das minhas virtudes, — Zoe disse
com uma careta. — Eu sou uma idiota. Uma completa idiota. E você está certa. Eu só gostaria de
ter tido você como amiga enquanto crescia. Ou talvez não, já que isso significaria que você estaria
exposta à vida que eu tinha. Mas estou contente que somos amigas agora. Eu não sei por que você
não lavou as mãos da minha bunda chorosa e se afastou. Você está correndo muitos riscos para
me ajudar e estou agindo como uma criança ingrata.
Os olhos de Rusty estreitaram e Zoe podia senti-la prestes a lançar um sermão sobre ser tão
dura consigo mesma. Então, levantou a mão para parar o discurso inevitável e, em seguida,
levantou a outra em sinal de rendição.
— Estou indo, estou indo. Dê-me um minuto para, pelo menos, tornar-me apresentável?
Rusty olhou-a com ar de dúvida.
23
Maya Banks
KGI 11
— Tudo bem, mas você tem cinco minutos. Se não descer nesse tempo, então enviarei
Marlene atrás de você, e Deus a ajude em seguida. Ela não vai se importar se você está com sua
roupa de baixo. Vai arrastá-la escadas abaixo gritando e esperneando e depois orgulhosamente
apresentá-la para cada membro da família decretando que você é da família agora.
O rosto de Zoe deve ter refletido seu horror, porque Rusty riu.
— Estou apenas exagerando um pouco, — Rusty disse entre risos. — Ela, pelo menos, lhe
dará tempo para se vestir. Todo o resto? Não tanto, e ela iria arrastar você para baixo da forma
mais doce possível, mas você seria incapaz de resistir, então sugiro que se arrume logo. Além
disso, com a nova você, tudo que tem a fazer é colocar um jeans, um top bonito e escovar o
cabelo. Viu o quanto eu tornei sua vida mais fácil? Não há mais maratonas de maquiagem de uma
hora, cabelo perfeitamente arranjado e aparência de esposa de corretor da Wall Street. Você deve
estar pronta em três minutos, no máximo!
— Saia daqui antes que eu te estrangule, — Zoe murmurou. — Eu disse que vou descer. —
Então a ansiedade apertou seu peito e ela mordeu o lábio inferior. — Você vai esperar por mim,
certo? Não há nenhuma maneira de eu simplesmente entrar nessa multidão sozinha como se eu
pertencesse. Eu teria um ataque cardíaco.
Os olhos de Rusty brilharam com compreensão e compaixão.
— Vou esperar por você na base das escadas, mas se uma de nós não aparecer
imediatamente, Marlene virá até aqui para ver por que diabos estamos aqui em cima quando todo
mundo está lá em baixo.
— Está bem, vá lá, acalme-a. Juro que eu vou descer nos três minutos que você diz que vai
levar para me fazer apresentável. Recuso-me, no entanto, a olhar em um espelho, porque se isso
acontecer, vou entrar em colapso quando não reconhecer a pessoa olhando para mim.
— A pessoa olhando para você é linda, Zoe, — Rusty disse suavemente. — Você tem uma
beleza natural que brilha e se destaca em uma sala lotada. A pessoa que havia antes era falsa. Um
papel que você estava atuando, nunca permitindo que a Zoe real fosse vista. Eu vi essa pessoa e
ela é linda. Além disso, ninguém aqui jamais viu você no modo de completa e chique garota de
grife. Confie em mim. Não iria deixá-la fazer papel de tola em frente da minha família. Não iria
deixá-la aparecer em uma maneira que fique constrangida ou envergonhada. Será que você
poderia simplesmente confiar em mim? Você não é a boneca perfeita e sem emoção, que seu pai
insistiu em que se transformasse.
Zoe deu a Rusty um último abraço, segurando-a com força, as lágrimas queimando suas
pálpebras.
— Você é a melhor amiga que já tive, — ela sussurrou.
— O mesmo vale pra você, — Rusty disse, se afastando, os olhos suspeitosamente
brilhantes, embora rapidamente desviasse o olhar, como se envergonhada por Zoe ver sua
emoção.
Mas, Zoe conhecia o suficiente do passado de Rusty para saber que ela sofreu uma vida
muito mais dura quando era jovem, e isso fez Zoe sentir vergonha por estar criando tanta
confusão e agindo como se tivesse sido extremamente abusada. Era raro que as verdadeiras
emoções de Rusty fossem evidentes em seus olhos ou expressão, mas Zoe sabia o quanto sua
24
Maya Banks
KGI 11
amiga sentia profundamente, o quanto seu coração era grande e o quanto ela era amorosa e
compassiva.
— Xô! — Zoe repreendeu, de repente, invertendo os papéis e empurrando Rusty para fora
de modo que pudesse terminar de se vestir. — Não queremos Marlene arrastando-nos pelas
escadas puxadas pelas orelhas.
Rusty riu, mas não contestou que Marlene iria fazer exatamente isso.
— Estarei esperando lá embaixo e não vou sair do seu lado quando formos enfrentar o
pelotão de fuzilamento, er, quero dizer família, — Rusty rapidamente alterou com um sorriso no
rosto.
Segundos depois, Zoe estava sozinha pegando freneticamente as roupas que Rusty comprara
para ela. Em seguida, voltou a pensar o que Rusty estava vestindo. Eram mais ou menos da mesma
idade, Zoe sendo dois anos mais velha, mas perto o suficiente para que esperasse vestir o que
toda jovem de vinte e poucos anos usaria. Ou pelo menos esperava.
Era triste que não tinha ideia do que vestir quando tanto seu guarda-roupa quanto a e
aparência foram ditados por tanto tempo. Finalmente vestiu um jeans decorado com enfeites e
desenhos bordados e um top modesto, que estava um passo acima do desgaste grunge, como Zoe
chamou, o que significava uma camiseta desgastada em torno da casa quando não estava
esperando companhia. Então deslizou os pés em um par brilhante de sandálias que tinha que
admitir que gostava.
As unhas dos pés estavam recém pintadas, graças a um noite de conversa entre garotas e
sessão de manicure entre ela e Rusty, e brilhavam um cor-de-rosa quente que a fez se sentir um
pouco... Ousada.
Escovou o cabelo agora, optando por deixá-lo fluir em suas costas desde que não tinha
tempo para fazer um daqueles coques desarrumados e bonitos que Rusty ensinara que estavam
na moda, e escolheu um simples par de brincos de argola baratos, rindo silenciosamente com o
pensamento da coleção de joias escandalosamente caras que tinha penhorado para preencher seu
estoque de dinheiro, já que deixar um rastro de papel, nas palavras de Rusty, era simplesmente
estúpido.
Quando Zoe teria simplesmente levado os itens para uma loja de penhores local, Rusty tinha
dado um longo e sofrido suspiro e, em seguida, explicou-lhe como facilmente sua localização
poderia ser descoberta e como identificável a joia era uma vez que foi dada a ela pelo pai. Em vez
disso, fez a longa viagem para Atlanta, onde penhoraram as joias, e, em um esforço para confundir
ainda mais alguém que estivesse rastreando Zoe, comprou uma passagem de ônibus para Nova
York, do lado oposto do país a partir do destino onde tinha comprado o bilhete de avião em seu
nome. Rusty explicou que seria uma moleza determinar que Zoe nunca esteve nesse voo, mas isso
iria atrasar seus perseguidores um pouco. No entanto, a sua presença em um ônibus,
especialmente dado o fato que Rusty a fizera apresentar o bilhete e embarcar, apenas para descer
antes que ele partisse, seria muito mais difícil de determinar, esperava que levasse qualquer um a
procurar por ela em Nova York.
Zoe teve que admitir, Rusty era organizada. Por muito tempo pensou que a outra mulher era
um maldito gênio, mas isso o cimentou. Rusty não era apenas esperta ou mesmo academicamente
25
Maya Banks
KGI 11
inteligente, ambos os quais certamente provou ser. A mulher tinha um cérebro como computador,
calculando todas as possibilidades e se preparando para o maior número possível.
Zoe se considerava uma mulher inteligente, mesmo que a evidência atual provasse que era a
mulher mais idiota de todos os tempos, mas não conseguia chegar aos pés da mente afiada de
Rusty e habilidades de tecnologia impressionantes. Talvez pudesse aprender por osmose,
absorvendo o máximo de conhecimento de Rusty quanto possível antes de chegar a hora de seguir
em frente.
O pensamento a encheu de tristeza instantânea. Não tinha sequer conhecido a família
enorme de Rusty, mas a ideia de deixar sua melhor amiga, Marlene e Frank, que foram tão
amáveis e generosos com ela, a fez se sentir sozinha e amedrontada.
Sabendo que, se não descesse as escadas agora, Rusty e Marlene provavelmente iriam
explodir em seu quarto para arrastá-la para baixo, rapidamente deu uma última olhada no
espelho, apesar de sua promessa de não olhar e ficou chocada com o resultado. Não, não se
parecia com ela mesma, seu antigo eu. Ela parecia quase... Bonita.
Limpando o olhar chocado do rosto e, em seguida, plantando um sorriso sereno que nada
mostrava seu tumulto interior, se apressou a descer as escadas, onde encontrou Rusty impaciente
batendo o pé.
— Graças a Deus, — Rusty murmurou. — Sou capaz de afastar Marlene por pouco tempo,
você sabe. Felizmente, outro de seus netos acaba de chegar, de modo que nos deu alívio de alguns
instantes antes de ela se juntar em cima dos últimos agregados.
Rusty deu-lhe um olhar avaliador.
— Você está pronta?
Zoe respirou fundo, certa que alguém pudesse ver seu coração batendo rapidamente contra
o peito, e assentiu.
Rusty pegou sua mão e apertou.
— Você está linda, Zoe. Você parece... Você.
— Bem, graças a Deus, — Zoe brincou. — Eu odiaria parecer qualquer outra pessoa.
Rusty sorriu e, em seguida, enfiou o braço por baixo do de Zoe e conduziu-a para as portas
francesas que levavam ao convés dos fundos.
— Lembre-se de tudo o que ensaiamos. Mantenha-se simples e leve. Não se desvie do
roteiro, — Rusty murmurou. — Embora não tenha nada a temer de qualquer um aqui, eles vão
perceber quaisquer discrepâncias em sua história. Isso é o que são treinados para fazer. Eles têm
um olho para o detalhe e nada escapa deles.
Rusty a sabatinou interminavelmente sobre os detalhes de sua nova identidade e passado
criados. Tanto que Zoe poderia recitá-los durante o sono. Mas agora sua confiança vacilou
enquanto ouvia Rusty falar sobre como seus irmãos foram treinados para detectar discrepâncias,
enganos e inconsistências.
— Oh Deus, não posso fazer isso, — disse, puxando Rusty acima do short.
Seu coração estava acelerado, batendo fora do peito. Podia sentir as vias aéreas apertando e
sabia que se tentasse falar, tudo o que viria seria um chiado inaudível.
26
Maya Banks
KGI 11
— E se eu estragar tudo? — Perguntou em um sussurro distorcido, em pânico, o olhar

arremessando para a esquerda e direita para garantir que não foram ouvidas.
— Relaxe, — Rusty disse suavemente. — Mantenha-se simples, lembra? O mais complicado
você inventar, mais provável você se contradizer. Concentre-se em generalidades e sem detalhes.
Eles valorizam muito a própria privacidade para se impor a qualquer outra pessoa. Agora vamos.
As pessoas já estão começando a olhar. Preciso apresentá-la a eles.
Seu pulso ainda vibrava descontroladamente, ela se permitiu acompanhar o passo de Rusty,
colando o sorriso sereno no rosto que tinha praticado inúmeras vezes no espelho, até que sabia
exatamente como era e poderia fazê-lo sem ver os resultados para saber se seria convincente.
Marlene correu em direção a elas, radiante enquanto envolvia primeiro Rusty e depois Zoe
em um enorme abraço. Zoe fechou os olhos, saboreando o abraço de Marlene e, por um
momento, fantasiando que esta era a sua vida. Sua família. Sua mãe.
Alguém poderia pensar que Marlene não as via por semanas, e não menos que uma hora
antes, mas ela parecia tratar toda a sua família do mesmo modo e, assim, com as histórias que
Rusty lhe contara de toda a sua família através dos últimos vários anos, Zoe não podia culpar
Marlene por fazer cada momento contar. Quem sabia quando seria a última vez que Marlene
abraçaria um de seus filhos, noras, netos ou adotados - perdidos, - como foram rotulados, embora
Marlene veementemente reprovasse qualquer um dos seus - passarinhos - serem chamados de
perdidos.
Os Kelly obviamente valorizavam cada minuto de suas vidas e comemoravam sua felicidade.
Antes de seu mundo inteiro ter se desintegrado em torno dela, seu falso mundo, ela tomava cada
dia seguinte como garantido. Mas não tinha muito a tomar como garantido. Não como esta família
fazia. Não podia imaginar a devastação que sentiriam se somente um não voltasse de uma missão,
muito menos vários, e dada a estrutura de sua organização, como explicado por Rusty, certamente
não estava no reino da impossibilidade que uma equipe inteira pudesse ser morta. Tudo o que
precisaria era um passo em falso, uma decisão errada. Uma emboscada ou alguém rancoroso de
seu passado.
Ela teve um tremor involuntário enquanto Marlene gentilmente a desvencilhava de seus
braços. Zoe corou e desviou o olhar, embaraçada que, embora Marlene tivesse instigado o abraço,
ela tomou mais e se agarrou por muito tempo a mulher mais velha.
Mas havia apenas compreensão suave e um sorriso gentil enquanto Marlene tomava uma de
suas mãos e apertou como se para dizer que estava tudo bem antes de voltar sua atenção para
Rusty.
— Posso confiar que você vai apresentar Zoe a todos? Preciso começar a trazer os pratos
para colocar sobre a mesa, porque Frank disse que a carne está quase pronta para sair da grade.
— Oh, vou ajudá-la, Sra. Kelly, — Zoe disse ansiosamente, antes de perceber que mais uma
vez estava tentando evitar o mar de pessoas em pé ao redor no quintal.
— Obrigada, querida, e, por favor, me chame de Marlene ou Ma. Qualquer coisa, menos Sra.
Kelly, como já lhe disse em uma dúzia de ocasiões.
Ela suavizou a repreensão com o riso, os olhos brilhando.
27
Maya Banks
KGI 11
— Mas não há necessidade. É para isso que os meus meninos estão aí. Declaramos este dia
de relaxamento da mulher e por isso todas as mulheres estão tendo um merecido descanso,
enquanto os homens da família cuidam das crianças e da tarefa de preparação dos alimentos.
Zoe fez uma careta.
— Então por que você não está fazendo uma pausa também? Você trabalhou toda a manhã
preparando os alimentos. Se alguém merece uma pausa, é você.
— Ela tem razão, — Rusty disse presunçosamente. — Eu sei que isso mata o excesso de
controle em você, mas você está violando sua própria regra. Portanto, vou indicar-lhe a cadeira
mais próxima, onde tenho certeza seus netos ficarão felizes em lhe fornecer todo o
entretenimento que puder desejar. Vou me certificar de os caras cuidarem do resto.
Marlene pareceu assustada e, em seguida, abriu a boca para discutir.
— Mas...
— Sem mas, — Rusty interrompeu, já pastoreando sua mãe adotiva na direção da cadeira de
gramado mais próxima.
O olhar no rosto de Marlene foi inestimável e aplausos irromperam. Zoe vacilou, não
percebendo que todos estavam obviamente a par de toda a conversa. Não só isso, mas todos se
reuniram mais perto de Zoe, Rusty e Marlene e agora ficaram a apenas alguns metros de distância.
— Uau, Rusty, — um grande e musculoso homem que deveria ser um dos irmãos de Rusty
disse. — Sempre foi Mamãe que infundiu medo em todos os nossos corações, mas agora estou
começando a pensar que a verdadeira tirana é você e que todos nós devemos estar tremendo em
nossas botas.
Rusty revirou os olhos. — Oh, por favor.
Então Zoe de repente se viu empurrada de modo que estava de frente para o homem
impossivelmente alto e muito musculoso.
— Garrett, esta é Zoe, uma amiga da faculdade. Zoe, este é Garrett, o segundo irmão mais
velho no culto.
Ele riu e, em seguida, estendeu a mão para ela. Tentando controlar os tremores traidores
que pareciam permear todos os músculos do seu corpo, deslizou a mão ao alcance dele. Para sua
surpresa, o aperto foi extremamente gentil e seu sorriso era genuíno.
— Fico feliz em conhecê-la, Zoe. E bem-vinda à família. Não tenho nenhuma dúvida de que
Mamãe já a doutrinou para o culto, como Rusty tão irreverentemente nos considera.
— Fico feliz em conhecê-lo também, — Zoe murmurou. — Rusty me falou tanto sobre vocês
que eu sinto como se já os conhecesse.
Ela instantaneamente deu um gemido interior. Caminho a percorrer, idiota. Fez exatamente
o que Rusty disse para não fazer. Falar mais do que lhe é perguntado. Mas, para seu alívio, os
dentes de Garrett brilharam ainda mais e ele levantou uma sobrancelha na direção de sua irmã.
— Espero que tenham sido coisas boas. Como que eu sou o irmão mais bonito e mais
inteligente.
Houve sons abafados e alguns não tão abafados feitos no grupo que agora circundava Zoe e
Rusty.
28
Maya Banks
KGI 11
— Acredito que ela mencionou que Donovan era o cérebro da operação, — Zoe disse,
incapaz de evitar, relaxando e respondendo a provocação.
— Isso eu sou, — outro homem disse dando um passo adiante.
Para sua surpresa, ele não apertou a mão dela, mas em vez disso envolveu-a em um abraço
gentil e, em seguida, virou-se e apresentou-a a sua mulher e, em seguida, aos dois filhos, embora
Rusty tivesse explicado que eram, na verdade, meios-irmãos de Eve, Travis e Cammie.
Logo se tornou uma confusão enquanto Zoe tentava guardar na memória cada nome e
rosto. Ela tinha os nomes já, mas agora precisava ter certeza de que se lembraria de qual face era
de cada membro da família. Mesmo antes de as apresentações estarem completas, estava tudo,
menos esmorecida. Nunca tinha se sentido tão bem-vinda e à vontade em meio a completos
estranhos. Bem, por qualquer pessoa, em qualquer lugar, aliás. Isso só a fez se lembrar do fato de
que era totalmente ignorante de algo tão simples como a dinâmica familiar, e isso trouxe uma dor
intensa ao seu coração.
Mas então percebeu outro homem de pé ao lado, um a quem não tinha sido apresentada
ainda. Procurou em seu cérebro sobrecarregado para descobrir quem ele era, mas todos os nomes
da família, e Deus, havia uma tonelada misturados e mal conseguia se lembrar das últimas pessoas
que foram apresentados, muito menos os que vieram primeiro.
Na sugestão, o homem deu um passo adiante, sua expressão mais intensa do que as dos
outros. Quase como se estivesse estudando-a e tivesse encontrado uma discrepância. Suas boas-
vindas não pareceu tão automática quanto a de todos os outros, e ela imediatamente se esticou
em um esforço para não ceder aos tremores esmagadores que ameaçavam fazer seus músculos
oscilarem.
— E este é o último dos meus irmãos, — Rusty disse alegremente, ignorando a turbulência
desencadeada dentro de Zoe. — Joe é gêmeo de Nathan, o mais velho por alguns minutos ou
mais.
A mão dele deslizou sobre a palma que ela não se lembrava de estender. Foi cercada com a
consciência súbita, uma sensação estranha que serpenteava através de cada músculo em seu
corpo. Embora a expressão dele fosse indecifrável, seu toque era extremamente suave, quase
como se ele pudesse sentir seu terror. E quando ele falou, foi difícil suprimir um tremor de corpo
inteiro.
— Bem-vinda à nossa casa, Zoe, — ele murmurou.
Capítulo Cinco
— O que exatamente alguém sabe sobre a amiga de Rusty? — Joe perguntou com uma
careta enquanto ele e Donovan ficavam de lado, observando Rusty e Zoe.
As duas mulheres estavam conversando tranquilamente longe dos outros, mas Zoe
frequentemente permitia que seu olhar percorresse o restante das pessoas reunidas, e era o que
29
Maya Banks
KGI 11
Joe podia ver nos olhos dela que o incomodava. O que ele não podia ver refletido em seu olhar o
chateava ainda mais.
Algo parecia errado, mas não conseguia identificar o que. Era óbvio que ela estava
analisando toda a família de Rusty, mas em vez de mera curiosidade ou mesmo interesse genuíno,
ser a razão mais provável para o escrutínio, ele poderia jurar que via preocupação e medo. Era
quase como se ela estivesse, literalmente, olhando por cima do ombro esperando algum tipo de
ataque surpresa, o que seria absurdo, uma vez que Rusty seguramente deu à amiga, pelo menos
as informações básicas sobre seus irmãos. Então, ele podia estar vendo o que esperava ver. O que,
aparentemente, ele, e só ele, projetava sobre o comportamento arisco de Zoe a julgar pelo fato de
que nenhum de seus irmãos ou a mistura confusa de membros das equipes presentes, a dele e de
Nathan, bem como de Steele, pareciam compartilhar o incômodo no estômago que estava se
tornando mais agressivo. E se qualquer um de seus irmãos ou companheiros de equipe pensassem
por um minuto que havia um perigo para a família, suas esposas, filhos e amigos, não ficariam de
braços cruzados ou aguardariam o momento oportuno. O que significava que Joe estava sozinho
com seu escrutínio e suspeita sobre a amiga de Rusty.
Donovan riu e deu uma cotovelada no irmão.
— Preocupado que este seja mais um dos planos de Mamãe contra você?
Joe fez um som de exasperação. Isso ainda não tinha passado por sua cabeça, embora agora
que Donovan mencionou, poderia ser tudo o que era? Seria uma conspiração? Quase balançou a
cabeça em negação. Não, não era isso que estava acontecendo aqui. Não era a vibração que
estava recebendo de Zoe.
— Você pode ser sério pela primeira vez? De todo modo, ninguém nunca ouviu Rusty
mencionar esta amiga, e então de repente ela chama Mamãe e diz que está trazendo-a para visitar
por um período de tempo indeterminado. Não sei cara. Alguma coisa não está certa. Ela é arisca e
parece extremamente nervosa. Mal conseguiu fazer contato visual durante as apresentações, e se
supostamente será a minha desgraça, ela não parece ter o menor interesse. Na verdade, ela não
conseguiu se afastar rápido o suficiente uma vez que conseguiu passar todos os nomes e rostos.
Donovan bufou.
— Inferno, você pode culpá-la? A nossa família me intimida muito em um bom dia. Já
considerou que ela é tímida e está esmagada por ser assediada por todo o clã Kelly de uma vez?
Não era como se ela estivesse aliviada por isso. Eu sinto pena da pobre mulher. Foi praticamente
jogada aos tubarões apenas alguns dias depois que chegou.
Joe grunhiu.
— Ainda não consegui descobrir, mas algo não está me descendo muito bem.
— Isso não teria nada a ver com o fato de que ela é uma mulher bonita, com um sorriso
deslumbrante, nas poucas vezes em que não demonstrou terror por estar cercada por uma horda
de homens realmente grandes, para não mencionar parecer estar totalmente perplexa com todas
as crianças clamando por sua atenção? Para mim, ela só parece um peixe fora d'água.
Provavelmente está assustada, irmão. Dê-lhe alguma folga.
Após a repreensão suave de seu irmão, Joe se sentiu um idiota de primeira classe. Van
provavelmente estava certo. Ela literalmente foi jogada aos lobos sem aviso prévio. E Van estava
30
Maya Banks
KGI 11
correto sobre outra coisa também. Sua família era intimidante. Barulhenta, efusiva. Irreverente, e
às vezes, francamente desagradável. Mas ele não queria que eles fossem de outra maneira. Um
estranho provavelmente não se sentiria como o resto da família e provavelmente não consideraria
que essa era uma família normal e comum.
Seus pensamentos se voltaram para as observações que ele fez - e ainda estava fazendo -
sobre ela, mesmo quando seu olhar encontrou-a mais uma vez no meio da multidão. Ela puxava-o
como um ímã, e ele já tinha uma maneira estranha de encontrá-la, de simplesmente saber para
qual direção olhar, a fim de vê-la novamente.
Ela era bonita de uma forma tranquila e discreta. Parecia natural, não produzida como
alguém que ela não era. Até mesmo as leves sardas que salpicavam a pele impecável contribuíam
para sua atração. Ela parecia saudável, até mesmo inocente, e, como Van deduziu, bem difícil de
entender. O que Rusty estava pensando ao jogá-la no fundo do poço para afundar ou nadar?
Por alguma razão, ela intrigava Joe, sua curiosidade aguçada, não que jamais admitiria isso a
quaisquer de seus irmãos e especialmente não para sua mãe. Estariam em cima dele para força-lo
a dar o primeiro passo, se acomodar, ficar noivo, casar e começar a produzir ainda mais netos para
adicionar aos números já em crescimento.
Mas foi a tristeza nos olhos de Zoe quando ela pensava que ninguém estava observando-a
que fez o peito dele apertar. O jeito que ela parecia curvar a cabeça e tentar remover-se do foco
de atenção cada vez que era dirigido a seu caminho. Não, não era algum esquema tramado por
sua mãe para casamento, porque Zoe não olhou em sua direção em nenhum momento que estava
aqui, sua linguagem corporal transmitindo desconforto.
Isso irritou seus instintos protetores, e após essa percepção, ele ficou rígido.
— Porra! — Murmurou baixinho.
Estava atraído por ela. E não apenas de uma forma sexual. Seu interesse era mais do que
simples curiosidade. Ela era um quebra-cabeça, e ele não gostava de mistérios, especialmente
aquele que existia no meio de sua família. Para não mencionar, sua atração era inútil, uma vez ela
mal lhe dirigiu um olhar e um olá tímido quando foi a vez de ele ser apresentado.
Qual era o problema dela? Sua estória? Ela tinha a aparência de alguém que tinha visto o
pior que a humanidade tinha a oferecer, e Deus sabia que ele viu aquele olhar com bastante
frequência em seus anos no exército e agora com a KGI, para entender o que via no rosto dela.
Uma coisa que aprendeu foi que não eram as mulheres que bastava um olhar para saber que
estavam machucadas que sofreram muito mais do que as outras. Não, eram aquelas que tentavam
esconder o quanto estavam machucadas que quebrava a porra do seu coração. Aquelas que se
mantinham inteiras apenas por pura força de vontade e desespero e pela promessa que fizeram a
si mesmas de nunca desistir que as impedia de se desintegrar na frente do mundo. As mulheres
que se pareciam muito com Zoe, que pelo exterior nunca poderia imaginar que ela era nada, além
de uma bela e jovem mulher inteligente, com toda a vida à sua frente. Mas aqueles poucos
vislumbres de seus olhos, que eram uma janela diretamente para sua alma, lhe diziam que esta
mulher esteve no inferno em algum momento de sua vida.
Negação aumentou acentuadamente dentro dele. Não, não estava nem um pouco
interessado nela, só queria ter certeza de que ela não era uma ameaça para sua família. Estava
31
Maya Banks
KGI 11
simplesmente curioso. Quando a oportunidade se apresentasse, puxaria Rusty de lado e

perguntaria qual era a história de Zoe. Em seguida, sua súbita fixação seria resolvida e voltaria
exatamente para o tipo de vida que tivera apenas alguns dias antes, quando seu gêmeo estava
falado merda em sua cabeça sobre ser o próximo a se apaixonar. Mal conteve o bufo sobre o
absurdo da ideia de que estava de alguma forma atraído ou mesmo emocionalmente interessado
em uma mulher sobre a qual sabia absolutamente nada.
Então, por que diabos estava cercado pelo desejo de puxá-la em seus braços e oferecer
conforto e segurança? Deixar que soubesse que estava a salvo aqui, que ninguém nunca iria
machucá-la, enquanto estivesse firmemente arraigada no seio da sua família.
É evidente que ele foi submetido à adoração nauseante dos irmãos pelas esposas e o fato de
que eles eram totalmente cativos de todos os caprichos delas e moveriam céus e terra para se
fazerem de bestas completos no processo de fazer as mulheres que amavam felizes. Ainda não
estava pronto para aderir a esse tipo de compromisso. Ainda não estava pronto para desistir de
sua liberdade por qualquer mulher, mas, ninguém poderia dizer que exibir leve interesse em uma
mulher ou mesmo contemplar que gostaria de beijá-la era semelhante a terminar seus dias de
solteiro.
Beijo? Jesus. Agora estava fantasiando sobre beijar uma mulher que conhecia há poucos
minutos? Precisava se separar desta verdadeira festa do amor acontecendo ao seu redor. Essa
merda podia ser contagiosa. Uma vez que Ethan recebeu Rachel de volta e, em seguida, Sam se
apaixonou, tinha sido um efeito dominó com cada um de seus irmãos, para não mencionar um
bom número de seus companheiros de equipe.
Simplesmente se certificaria de se manter longe de Zoe até que sua visita tivesse terminado
e problema resolvido.
Mas ainda havia aquela sensação persistente de que algo estava errado - de que as coisas
não eram exatamente como se pareciam e isso o preocupava. E se tivessem uma ameaça no meio
deles? Afastar-se era muito estúpido se suspeitava que algo estava acontecendo com a amiga de
Rusty.
Talvez devesse considerar passar mais tempo ali mais frequentemente. Inferno, talvez até
mesmo chamá-la para sair. Um encontro dificilmente constituía uma parva proposta de
casamento, e bem, nesse meio tempo poderia conseguir que Van fizesse um pouco de escavação
em Zoe Kildare. Apenas no caso de todas as bandeiras vermelhas aparecerem. Afinal, seu primeiro
dever era para com a proteção de sua família.
Olhou novamente na direção de Zoe para ver que ela agora estava sozinha, e embora não
fosse muito óbvio, estava agitada, pânico queimava em seus olhos quando virou a cabeça em
todas as direções, como se procurasse Rusty. Considerando sobre isso, Rusty não deixara o lado
dela durante todo o churrasco. Então, onde diabos ela estava agora, e por que abandonara a
amiga, que claramente não estava à vontade por estar sozinha no meio de estranhos?
Aliás, por que ele se importava? Assim que o pensamento ocorreu, foi cercado pela culpa. Se
fosse uma de suas cunhadas ou uma das esposas dos membros da equipe, não teria pensado duas
vezes antes de caminhar até ela para garantir que não ficasse sozinha. Perguntaria se ela estava
bem ou se precisava de alguma coisa e, em seguida, trabalharia para obter o que ela quisesse.
32
Maya Banks
KGI 11
Mas essas mulheres estavam comprometidas. Fora dos limites. Ele sentia amor e afeição
genuínos por cada uma delas. Assim como seus maridos, Joe faria qualquer coisa no mundo para
qualquer uma das mulheres da KGI. Ele era um idiota de tal forma que só poderia se preocupar
com um seleto grupo de mulheres e tratar todas as outras com tanta indiferença e desdém?
Antes de pensar melhor, Joe avançou, agarrando um copo de limonada como desculpa para
se aproximar dela desde que ela não estava mais segurando uma bebida. Ela nem percebeu sua
abordagem porque estava muito absorta em estudar os arredores. Estudo não era uma descrição
adequada desde que estudar implicava interesse ou, pelo menos, desejo de aprender mais sobre
os acontecimentos ao seu redor. Zoe estava constantemente voando seu olhar sobre a multidão,
movendo-se rapidamente entre os grupos, apenas para voltar segundos depois, quase como se
temesse perder alguma coisa importante.
Perguntou-se se outros podiam ver o medo que parecia estar sempre gravado em sua testa
e refletido em seus olhos tão facilmente quanto ele podia, ou se era o único que se deu ao
trabalho de olhar para além da máscara transparente que ela exibia. Seu corpo inteiro
demonstrava mal-estar, e ela estava tensa. Os dedos estavam enrolados em bolas apertadas,
pressionados contra as coxas vestidas de jeans, e parecia que ela estava lutando contra seu
instinto de luta ou fuga. Ele estava apostando nisso. Ela parecia muito frágil para lutar com
qualquer um e, a julgar pela consternação em seus olhos quando foi apresentada para todos os
desmedidos irmãos Kelly, ela percebeu que a fuga era seu único meio viável de escapar.
Oh sim. Joe teria uma conversa franca e séria com Rusty, mas primeiro faria tudo o que
podia para garantir a Zoe que ele não era um monstro à espreita para atacá-la.
Seus passos eram lentos e medidos enquanto se aproximava, e ainda assim ela ainda não
registrara sua presença. Ele franziu a testa, porque para uma mulher tão apavorada quanto ela
parecia, estava assustadoramente inconsciente do potencial de ameaça para ela. Estava muito
preocupada em tentar escapar das pessoas mais distantes que não estava prestando atenção ao
fato de que Joe estava agora a meros centímetros dela.
Limpou a garganta, não querendo assustá-la muito. Imediatamente se arrependeu de não
ser mais evidente em sua abordagem. Por não avisar quando estava a vários metros de distância.
Cor sumiu de suas bochechas, deixando-a mortalmente pálida, e ela se encolheu, recuando tão
rapidamente que quase deu um passo diretamente para fora do deque e em nada além de ar.
Joe soltou uma série de palavrões, mesmo quando se lançou para agarrar seu braço antes
que ela caísse no chão. Não era uma grande queda, mas ela era tão extremamente pequena e de
aparência frágil. Tal queda podia facilmente resultar em um ou mais ossos quebrados. Seu alívio
era palpável quando os dedos dele conseguiram se enrolar em torno do pulso dela e ele apertou,
odiando o suave grito de dor, sabendo que ele era a causa, mas nenhuma maneira no inferno a
soltaria.
Puxou-a de volta à segurança, recusando-se a soltar até ambos os pés estarem plantados no
deque mais uma vez e até mesmo se posicionou atrás dela, uma barreira a qualquer chance de
cair novamente.
33
Maya Banks
KGI 11
Ela olhou para ele, confusa, mesmo quando segurou o pulso que ele travou e esfregou como
se estivesse tentando aliviar o desconforto. Ele franziu a testa, odiando o pensamento de que foi
muito áspero, mas porra, ela poderia ter se ferido muito mais se não a tivesse pegado.
Lentamente, para não alarmá-la, pegou seu pulso e, a princípio ela resistiu, os olhos
arregalando, mas ele persistiu, gentilmente puxando-o. Ele virou-o para ver suas impressões
digitais vermelhas contra a pele pálida. Já havia uma sombra de hematoma aparecendo e ele
praguejou baixinho, mas violentamente.
— Me desculpe, eu te machuquei, — disse em voz baixa, mesmo quando esfregou o polegar
suavemente sobre as marcas. — Eu nunca a machucaria, Zoe, mas não poderia deixá-la cair.
Ela piscou surpresa e então lentamente relaxou, os ombros ligeiramente inclinando, e a
tensão deixou o pulso que ele segurava com tanto cuidado.
— Não foi nada, — disse com voz rouca. — Apenas me pegou desprevenida. Sequer percebi
o que eu tinha feito. Obrigada por não me deixar cair.
Joe sorriu. Realmente sorriu. Não conseguia se lembrar da última vez que realmente sorriu
da maneira que fez quando olhava para ela. Seus olhos se arregalaram uma fração enquanto ela
estudava a reação dele e um leve arrepio percorreu seu corpo, sacudidas fria explodindo sob os
dedos que ainda acariciavam sua pele macia.
— Não precisa agradecer. Você está segura aqui, Zoe. Ninguém, especialmente eu, vou
deixar você cair. Espero que acredite nisso. Se não, então acho que terei que provar para você.
A testa dela franziu. — Por que eu não estaria segura?
— Essa é uma pergunta muito boa, — ele murmurou. — Talvez uma pergunta que só você
pode responder.
Ela franziu a testa e retirou o pulso da mão dele. Ele mal conseguiu reprimir o protesto
contra a perda repentina de contato.
— Você viu Rusty? — Ela perguntou, ansiosa. — Ela sumiu faz tempo.
Joe olhou ao redor e, em seguida, fez uma careta quando viu Rusty e Sean ao longe. A julgar
pela carranca de Rusty, o que quer que os dois estejam discutindo não era agradável.
— Uh, acho que ela está muito ocupada no momento. Mas vou ficar com você, Zoe. Nós
sequer temos que conversar. Eu só vou ficar aqui até Rusty voltar. O que te deixar confortável.
Ela não disse não imediatamente, mas também não pareceu entusiasmada com a
perspectiva. Seu olhar varreu a área pela centésima vez e parecia aliviada quando descobriu que
ninguém estava prestando a mínima atenção nela e em Joe.
— Então, quanto tempo você pretende ficar? — Perguntou, propositadamente orientando a
conversa em território neutro.
Ou então ele pensava.
Mais uma vez, os olhos dela ficaram cautelosos, quase em pânico, e ela congelou, ficando
absolutamente imóvel. Ele não tinha certeza se ela estava até mesmo respirando. Que porra
estava acontecendo com ela? E por que qualquer pergunta, não importa o quanto fosse inócua,
parecia enviá-la ao colapso?
A conversa que pretendia ter com Rusty aconteceria imediatamente. Assim que pudesse
manobrar sua irmãzinha em algum lugar onde não seriam ouvidos, e então ela iria despejar toda a
34
Maya Banks
KGI 11
merda. Tudo. Porque algo estava muito errado com esta situação. Uma simples visita de uma
amiga da faculdade? Quase bufou em voz alta. Zoe estava com medo, não, estava apavorada - por
algo ou alguém, e não estava apenas ficando alguns dias com sua amiga de faculdade. Estava se
escondendo, com medo de ser descoberta a qualquer momento, e isso enfurecia Joe.
Não estava chateado com ela. Estava chateado com o que ou quem colocou o terror nesses
belos olhos e a fazia saltar em sua própria sombra. E iria descobrir a verdade, mesmo se fosse a
última coisa que fizesse.
— Realmente não sei, — Zoe disse suavemente. — Faz tempo desde que vi Rusty. Eu me
formei antes dela e éramos tão próximas na escola. Eu sentia falta dela.
Ela disse a última frase dolorosamente. Como se Rusty fosse sua única amiga e a única
pessoa que realmente se importava com ela.
— Então, eu estava tão feliz por vê-la novamente, e quando ela sugeriu que eu viesse para
cá e passasse algum tempo com ela para que pudéssemos recuperar o tempo perdido, é claro que
concordei, mas realmente não falamos sobre um prazo. Acho que devíamos ter falado. — Dor
vincava sua testa e seus olhos se tornaram tristes. — Não quero me impor ou eternizar minha
estadia.
— Que tal você e eu passarmos o dia juntos amanhã? — Joe disse impulsivamente.
Mesmo que as palavras escaparam, amaldiçoou sua falta de controle. Que merda estava
fazendo? Realmente tinha acabado de convidá-la para um encontro? Pelo amor de Deus! Sua
primeira prioridade tinha que ser descobrir a verdadeira história e se sua família estava em perigo
por causa da presença dela. Tudo o que poderia fazer muito bem sem sair para um maldito
encontro com ela.
Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele pareceu se contentar e sua reação inicial e rejeição
por sua ação impulsiva diminuíram enquanto a paz se espalhava por dele.
Ela levantou a cabeça para encontrar seu olhar, os olhos arredondados com o choque, a
boca formando um surpreso O.
— O quê? — Ela resmungou.
— Eu poderia mostrar-lhe alguns lugares incríveis aqui. Esta parte do estado é linda. Há
muito para ver e apreciar. Já ouviu falar de TEL?
Seu nariz amassou e ela balançou a cabeça.
— Terra Entre os Lagos, — explicou. — Trata-se de um pedaço de terra entre os Lagos
Barkley e Kentucky. É um belo local. Um refúgio protegido para a vida selvagem, como búfalos e
até mesmo alces. Poderíamos nadar da minha doca ou apenas sentar e balançar os pés na água e
ser preguiçosos. Temos alguns bons lugares pequenos e baratos para comer, onde a comida é
deliciosa. E o cenário é absolutamente lindo.
Choque ficou evidente em seus olhos, bem como o medo que ela trabalhou tão duramente
para esconder. Ele não teve coragem de dizer que ela era um completo fracasso em manter a
expressão impassível. Seria comida viva em um jogo de alto risco.
— Você está me convidando para um encontro? — Ela ofegou.
35
Maya Banks
KGI 11
Correndo o risco de ela não puxar a mão imediatamente e tendo a queda que ele mal
conseguiu evitar a última vez, estendeu a mão e fechou os dedos ao redor dos dela, segurando
levemente para que não se sentisse ameaçada.
— Eu prefiro considerar esse convite como passar o tempo mostrando-lhe os arredores da
área que chamamos de lar. Você ficou escondida na casa de Mamãe com Rusty desde que chegou,
e hoje é o primeiro dia que realmente se arriscou a aparecer. É óbvio para qualquer pessoa que
está completamente dominada pela minha barulhenta e estridente família. Pensei que seria bom
ficar longe por um tempo. Só você e eu. Prometo ser um perfeito cavalheiro.
Ele deu seu sorriso mais encantador, que provara ser muitas vezes eficaz no passado, mas,
aparentemente, não fez o menor efeito nela, porque ela continuou a considerá-lo com
desconfiança.
— Zoe, não vou te machucar, — disse gentilmente. — Ninguém aqui nunca vai te machucar.
Cada pessoa aqui iria protegê-la com a própria vida.
Ela mordiscou nervosamente o lábio inferior, em seguida, fechou os olhos rapidamente.
— Provavelmente é realmente estúpido da minha parte, mas quer saber, Joe Kelly? Acho
que acredito em você. Então, sim, adoraria fazer um tour personalizado da área. Estive um pouco
confinada e enfiada em casa desde que cheguei aqui. Um dia parece agradável.
Ele sorriu então.
— Vou buscá-la as onze. Se eu conheço Mamãe, ela vai montar uma cesta de piquenique,
por isso vamos sair mais cedo o suficiente para encontrar o lugar perfeito para comer tudo o que
ela preparar. Depois disso podemos fazer tão pouco ou muito como você preferir.
Pela primeira vez, ela realmente correspondeu ao sorriso, os olhos brilhando, as sombras
que pareciam tão permanentemente enraizadas se levantando e desaparecendo. Ele a olhou por
um longo momento, sem palavras com o quanto o sorriso dela transformava suas feições. Ela não
era apenas bonita, saudável e natural como ele observara antes. Ela era absolutamente linda.
Porra. Ele tinha um mau pressentimento sobre isso. Um sentimento muito ruim de que tinha
acabado de pousar na mesma posição exata que todos seus outros irmãos estavam, e o inferno
era que não podia mais mandá-los a merda com uma cara séria, porque agora entendia as suas
reações às mulheres que eles reivindicaram.
Capítulo Seis
Zoe pareceu aliviada quando Marlene se apressou para ver como ela estava se saindo, uma
carranca marcando seu rosto enquanto esquadrinhava a multidão, obviamente, à procura de
Rusty e, provavelmente, prestes a dar à filha uma sólida bronca por deixar sua convidada sozinha
por tanto tempo. Mas quando ela viu Rusty e Sean ao longe, uma carranca cobrindo o rosto de
Rusty e uma expressão irritada em Sean, revirou os olhos para o céu e murmurou algo baixinho e
indecifrável.
36
Maya Banks
KGI 11
— Obrigada por fazer companhia a Zoe, querido, — disse, sorrindo para Joe. — Posso levar
as coisas a partir daqui. — Ela fez um movimento com a cabeça na direção de Rusty e Sean, um
apelo silencioso destinado a Joe.
Ele mal reprimiu seu sorriso, mas acenou com a cabeça e se afastou antes que fosse um tolo
ainda maior na frente de Zoe, especialmente agora que sua mãe estaria testemunhando toda a
coisa. Além disso, Rusty e Sean brigando não era nada de novo ou tremor de terra. O dia que os
dois chegassem a um acordo sobre qualquer coisa, toda a família podia morrer de choque. Bem, e
ele tinha seu próprio motivo para querer interromper o que quer que os dois estavam atualmente
envolvidos.
Queria informações que só Rusty provavelmente poderia fornecer, e arrancaria dela ou a
atacaria com Sean em cada oportunidade. Rusty não recuava, muitas vezes, mas quando se
tratava de Sean, ela não tinha escrúpulos em recuar tão rapidamente quanto possível. Ele podia
ser a única pessoa no mundo que realmente conseguia intimidá-la, ou pelo menos a enfurecia ao
ponto de fazê-la perder a compostura, e ela aprendera em uma idade muito jovem, a nunca deixar
que seus pensamentos ou emoções a traíssem. Ela era uma lição de impassividade. Joe admirava
sua resiliência e atitude agressiva, mas odiava a razão pela qual esses atributos se tornavam
necessários à sua sobrevivência.
Mais de uma vez desejara que o padrasto pedaço de merda dela não tivesse desaparecido
no minuto que Marlene e Frank Kelly fizeram-lhe uma visita e disseram-lhe em termos
inequívocos, que Rusty era deles agora e se ele tentasse chegar a um metro perto dela ele iria se
arrepender. Joe e seus irmãos, particularmente Nathan, teriam adorado a oportunidade de fazer
uma visita ao bastardo e promulgar alguma justiça da velha escola por todo o abuso e negligência
que Rusty, que era apenas uma criança, tinha sofrido.
Sean estava de costas para Joe enquanto se aproximava, enquanto Rusty estava de frente
para ele, embora ela ainda tivesse que registrar sua chegada. Seu rosto estava vermelho, fúria
brilhando dos olhos, e tinha acabado de abrir a boca, sem dúvida prestes a transformar Sean em
uma pilha de cinzas, quando de repente olhou para cima e o viu. Ela fechou a boca, mas seu olhar
ainda estava amotinado enquanto olhava para Sean, como se dizendo que eles não terminaram.
— Ei, Rusty, — Joe gritou, anunciando sua presença para o xerife.
Sean rapidamente se virou, cor espalhando por suas faces, e Joe notou que ele não parecia
mais feliz do que Rusty. Ele deve ter interrompido um duelo infernal. Não que isso seria surpresa
para alguém presente na reunião de família dos Kelly.
— Espero não estar interrompendo, mas gostaria de saber se poderia roubar Rusty por
alguns minutos, — Joe disse em um tom suave, como se alheio à tensão óbvia que emanava das
duas pessoas que estavam a uma curta distância.
Para sua surpresa, Rusty pareceu aliviada. E grata pelo indulto. Surpreendente, uma vez que
ela não era alguém que deixasse outra pessoa ter a última palavra. Mas no momento parecia que
ela queria estar o mais longe quanto possível de Sean, enquanto Sean parecia chateado com a
interrupção.
— Claro, Joe, — ela cantarolou com demasiada alegria.
37
Maya Banks
KGI 11
Ela era afiada como um prego, extremamente inteligente, mas também era sarcástica,
agitadora de merda travessa que tinha prazer em atormentar seus irmãos muito superprotetores.
As únicas duas pessoas que escapavam de sua marca - charme e inteligência afiada - eram seus
pais. Para Rusty, o sol nascia e se punha com essas duas pessoas. Ela os adorava, quando tinha
pouca razão para amar ou mesmo gostar da maioria das pessoas. Ela era protetora e leal até os
ossos e seria capaz de bater em quem, algum dia, de alguma forma, ferisse ou desrespeitasse seus
pais adotivos.
— Nós não terminamos, — Sean falou devagar enquanto fitava Rusty, nunca vacilando
diante do olhar mordaz que ela atirou em sua direção. Um olhar que murcharia um homem menor
e o faria apertar as bolas em uma medida automática de proteção.
— Sim, Sean, nós terminamos.
— O inferno que terminamos! — Ele gritou. — Você não pode se esconder de mim para
sempre. Vou te encontrar, Rusty, e vamos terminar esta conversa de uma vez por todas. Sou um
homem paciente, mas você tenta a paciência de um santo. Confie em mim, quando você menos
esperar, vou estar lá, e desta vez não haverá ninguém para salvá-la, nem para onde fugir e se
esconder da verdade. Você pode confiar.
Os olhos de Joe se arregalaram. Uma coisa era certa: A merda nunca ficava chata por aqui.
Graças a Deus por isso. Seus irmãos, os outros membros da KGI, inferno, até mesmo as esposas
não saberiam o que fazer com eles mesmos, se merda não batesse no ventilador regularmente.
Sem lhe dar oportunidade de obter a última palavra, Sean virou-se e afastou-se, Rusty
lançando-lhe olhares que poderiam fazendo buracos nas costas dele o tempo todo. Joe teria rido
se não fosse provável resultar em ter suas bolas reorganizadas, gostava muito delas do jeito que
estavam.
Depois que Sean desapareceu de vista, ela se virou para Joe, com a cabeça inclinada para o
lado enquanto seu olhar sondava-o com curiosidade.
— O que aconteceu Joe? Está tudo bem?
E então empalideceu e olhou para o relógio. — Merda! Merda, merda, merda! Porra, mas
esse homem me deixa louca. Não posso acreditar que deixei Zoe se virar sozinha tanto tempo.
Não tinha ideia que estive aqui com o homem das cavernas por meia hora. Deus, ela deve pensar
que sou a pior amiga do mundo quando jurei que não iria sair do lado dela o tempo todo.
Ele colocou a mão em seu braço antes que ela saísse correndo de volta para onde todo
mundo estava no deque, comendo, conversando, relembrando os velhos tempos e contando
piadas.
— Zoe está bem, querida. Eu juro. Fiz companhia a ela até Mamãe aparecer para assumir.
Ninguém está chateado com você, e isso inclui Zoe.
Ela mexeu-se inquieta.
— Ainda assim, ela é minha responsabilidade e eu provavelmente deveria voltar para ela.
Uma vez que todos os irmãos Kelly eram bruscos e Rusty estava em torno deles o tempo
suficiente para adotar as mesmas características, ele não viu razão para fazer rodeios em torno do
assunto de Zoe quando ele queria informação e a queria agora.
38
Maya Banks
KGI 11
— Qual é o problema dela? — Disse, cruzando os braços sobre o peito para Rusty sabe o
quanto ele estava sério e que não estava no clima para que ela desviasse de suas perguntas ou
fingisse não entender.
Para seu crédito, ela não fez nenhuma dessas coisas. Sua expressão tornou-se perturbada e
deixou escapar um longo suspiro, os olhos cheios de tristeza. E raiva.
— Olha, Joe, eu não sei de tudo. Sequer sei muita coisa ainda. Estou esperando que a
trazendo aqui e fazendo-a se sentir confortável e em casa ela vai finalmente contar tudo para
mim. O que sei é que ela se machucou. Muito. Não estou falando de um namorado rompendo
com ela e necessidade de tempo para lamber as feridas e sentir pena de si mesma até a raiva
entrar em ação e ela querer as bolas dele servidas em uma travessa.
Ele teve de forçar a mandíbula a relaxar porque estava apertada com tanta força que temia
que pudesse quebrar os dentes.
— Do que estamos falando, então? — Perguntou com uma voz perigosamente suave.
Ela deixou escapar um suspiro.
— Olha, como eu já disse, não tenho todos os detalhes. Se tivesse já teria ido atrás do filho
da puta sozinha. Mas ele fez uma grande sacanagem com ela. Ferrou com ela, fingiu ter
sentimentos que não tinha para que pudesse chegar perto dela. Era quase como se ele tivesse
acesso a sua infância e soubesse exatamente o que fazer e dizer e como agir, como dar as coisas
que ela nunca teve, mas sempre quis desesperadamente. Ele jogou com ela, e ela se apaixonou,
porque ela não tinha nenhuma base de comparação. Não tinha experiência suficiente para ser
capaz de ver através do fingimento ou a maneira estranha que ele era com ela ou o fato de que
estava envolto em mistério. Ele tinha uma desculpa para tudo, e era convincente. E a única razão
pela qual ela descobriu que ele é um completo bastardo foi pura sorte. Estar no lugar certo na
hora certa e ouvi-lo falar ao telefone sobre que alvo fácil ela era e o quanto era estúpida, crédula e
ingênua.
Rusty parou, as lágrimas brilhando em seus olhos. Joe espalmou seus ombros e lhe deu um
aperto reconfortante, esperando que ela o olhasse novamente. Sentiu que não tinha sequer
ouvido falar o pior ainda e já estava pronto para caçar o filho da puta e espancar o idiota.
— O que mais? — Perguntou em voz baixa. — O que mais ele fez com ela, Rusty?
— Ele a humilhou, — ela disse dolorosamente. — Não que ele não tivesse feito o suficiente,
mas ele a devastou. Ele a destruiu e a despiu de sua autoconfiança, o seu senso de valor. A fez
sentir-se dispensável. Como se ela fosse suja. Inútil. Incapaz de ser amada. Indigna de ser amada.
Eu já passei por isso, Joe. Não desejo a ninguém. Você não pode imaginar o quanto isso te faz
sentir derrotada e sem esperança. E as pessoas não são capazes de ver dentro de nós, de ver a
mulher bonita, altruísta, generosa e amorosa que ela é. Ela não merecia isso. Ela, de todas as
pessoas, não merecia o que aconteceu. Ele a fez questionar tudo sobre si mesma. A fez duvidar de
si mesma como uma mulher bonita e desejável. E eu o odeio por isso, Joe. Odeio. Desejo que eu
mesma pudesse matá-lo. Deus me ajude, se eu encontra-lo cara a cara amanhã, eu o mataria a
sangue frio e nunca me arrependeria ou sentiria remorso.
— O. Que. Ele. Fez? — Joe rosnou. — Fisicamente, Rusty. Ele colocou as mãos nela? Ele a
machucou? O filho da puta a estuprou?
39
Maya Banks
KGI 11
Ela emitiu um suspiro cansado.

— Ele a estuprou emocionalmente. Fingiu estar apaixonado por ela. A tratava como uma
rainha. Mas então ela o ouviu falando com alguém no telefone, e ele estava rindo do quanto ela
era patética na cama. O quanto era incompetente e desajeitada e que enfiar o... — Ela parou de
falar, a cor subindo em suas faces. Então, desafiadoramente, continuou como se estivesse
chateada por que se permitiu ficar constrangida. — Ele disse que ter que enfiar o pau na boceta
frígida dela era como foder um iceberg e ele tinha sorte por não congelar antes que tivesse
acabado.
A testa de Joe franziu. Parte da história ele conseguia entender perfeitamente, tendo
conhecido uma grande parcela de idiotas que tratava as mulheres como cidadãos de segunda
categoria. Inferno, alguns deles sequer concediam as mulheres essa “honra”. Elas eram bens
móveis, objetos, escravas, cujo único propósito era agradar o homem de qualquer maneira que ele
julgasse necessário.
Mas a parte sobre esse idiota reclamando da boceta frígida de Zoe, o quanto ela era
desajeitada e inepta... Não fazia sentido, e havia um inferno de muitas peças perdidas do quebra
cabeça nessa história. Se ele estava tão insatisfeito com Zoe como mulher, provando ainda mais o
idiota que este maricas era, então por que se preocupar? Por que se sentir obrigado a suportar o
sexo desajeitado e inepto com ela? E a frase sobre ter sorte se o seu pinto não congelasse antes
que acabasse? Que porra isso queria dizer? Não fazia nenhum maldito sentido.
Mas quando ensaiou fazer essas mesmas perguntas para Rusty, ela encolheu os ombros e
lançou-lhe um olhar desamparado.
— Zoe é uma pessoa extremamente reservada, — disse em voz baixa. — Estou surpresa que
consegui tirar tanto dela.
Em seguida, todo seu comportamento mudou e sua expressão tornou-se feroz. Ela diminuiu
a curta distância entre eles e pegou sua mão, segurando firmemente quando olhou para ele, os
olhos brilhando com propósito e intensidade.
— Ela não é alguém para se brincar, Joe. Ela foi ferida gravemente, e vai levar um longo
tempo para se recuperar. Precisa ser tratada com cuidado, por isso não a faça se apaixonar por
você. Ela não é a típica garota que você namora, termina e, em seguida, segue em frente. Essas
meninas sabem as regras antes de você sair pela primeira vez com elas. Você se diverte. Elas se
divertem. Então você segue em frente, porque já deixou claro que não tem vontade de se
estabelecer tão cedo. Fique longe dela, Joe. Não envie sinais mistos. Ela está muito vulnerável
agora e não tenho certeza do quanto pode aguentar antes que desmorone.
Tomou cada partícula de sua autocontenção não lançar-se para ela, para lhe dizer que nunca
iria ferir Zoe. Mas também podia entender por que ela estava preocupada. Inferno, um dia atrás,
teria concordado plenamente com tudo o que ela disse, e se tivesse ouvido a história de Zoe
então, não teria sido capaz de fugir rápido o suficiente. Não queria compromisso. Ainda não. Não
por muito tempo. Tinha muito tempo para considerar se estabelecer com a mulher certa e ceder à
domesticidade que havia atormentado cada um de seus irmãos.
Mas não queria se afastar de Zoe e esquecer que ela existia. Não queria machucá-la, não
queria ser a causa de ainda mais dor em sua jovem vida. Odiava o quanto ela parecia vulnerável,
40
Maya Banks
KGI 11
amedrontada e insegura quando não estava consciente de que estava sendo observada. E o
instinto de proteção tão atípico de qualquer outro que ele já tinha experimentado veio rugindo
para a superfície. Ele era extremamente protetor de suas cunhadas. Das esposas dos outros
agentes da KGI. Daria sua vida por qualquer uma delas sem hesitação. Mas nunca havia sentido
um interesse tão pessoal na proteção de uma mulher que sequer conhecia e não tinha qualquer
conexão.
O que diabos deveria fazer com isso? Mesmo se quisesse agir sobre esta atração insana ou
curiosidade ou necessidade de manter esta mulher vulnerável em segurança, era óbvio que ela iria
correr muito e rápido, na direção oposta, se ele sequer desse a entender.
Que maldito momento para decidir que poderia realmente estar interessado em explorar
uma... Relação? Era isso o que estava pensando? Ou era simplesmente o guerreiro nele, que jurou
proteger os inocentes e vitimados, que estimulou seu repentino interesse no que causou tanta dor
a essa mulher frágil?
Não, soube que essa era uma desculpa esfarrapada no momento em que o pensamento
entrou em sua mente. A KGI se deparava com vítimas indefesas e brutalizadas em oito de dez
missões, e por mais que ele se enfurecesse que as mulheres fossem tratadas de forma insensível e
usadas como peões, coisas, posses de homens que se achavam acima da lei, nunca tinha tomado
uma participação pessoal nisso. Ele entrava, assim como todos seus companheiros, e exigia justiça
para essas vítimas e certificava-se que elas teriam um novo começo, um novo sopro de vida, onde
nunca teriam que se preocupar com os predadores que uma vez as atormentaram.
Mas não queria que Zoe fosse uma missão da KGI. Não queria que sua equipe cerrasse
fileiras e assegurasse que ela nunca olharia para cada pessoa com medo e apreensão em seus
olhos. Ele queria fazer isso por ela. Ninguém mais. E sentia-se muito impotente de como conseguir
isso quando ficou claro que ela não confiava em ninguém, especialmente em um estranho a quem
acabou de ser apresentada.
Determinação o confiscou. Ela aceitou um encontro ou algo parecido com ele, embora ele
não o chamasse como tal. Mesmo que fosse exatamente isso. Tanto faz do que ela o chamasse, se
isso a fizesse se sentir segura e protegida, estava bom pra ele, especialmente se conseguisse um
tempo sozinho com ela para cuidadosamente descascar as camadas nas quais ela se envolveu.
Uma camada de cada vez. Seria necessária mais paciência do que jamais pensou que possuía. Não
era conhecido pelo tato ou paciência. Era o gêmeo de cabeça quente. Aquele que via em branco e
preto e não tinha muita tolerância para desculpas.
Para sua vergonha, essas características quase o fizeram perder a pessoa que ele era mais
próximo no mundo. A outra metade de si mesmo. Seu irmão gêmeo, Nathan. Ele não tinha
entendido o inferno que seu irmão sofrera. Talvez lá no fundo não quisesse saber ou entender
porque então teria que enfrentar o quanto estivera perto de perdê-lo. Quisera seu irmão de volta
no minuto em que foi resgatado depois de meses de tortura horrível e condições de vida
desumanas.
Ele foi um idiota arrogante que ficou com raiva que seu melhor amigo foi retirado dele e
retornara um homem muito diferente. Joe apenas queria seguir em frente como se nada tivesse
acontecido. Nathan estava em casa, vivo, de volta com sua família. Ele nunca considerou o inferno
41
Maya Banks
KGI 11
particular que Nathan suportou todos os dias, mesmo depois de ter sido libertado. Os demônios
com os quais ele lidou em cada hora de vigília e, pior, em seu sono fraturado, onde pesadelos o
atormentavam.
Não poderia adotar essa mesma atitude com Zoe ou a perderia e nunca a recuperaria. E
como sabia quase nada sobre ela, se ela desaparecesse amanhã, nunca saberia como ou onde
começar a procurar por ela.
Pela primeira vez em sua vida, teria que ir contra todos seus instintos e forçar-se a ser
paciente, compreensivo e disposto a dar a Zoe todo o tempo do mundo. Se isso a mantivesse aqui
e ela não fugisse para Deus sabe onde, então valeria a pena reavaliar todas as coisas que fizeram
dele o homem que ele era.
— Rusty, eu sei por que você está preocupada. Sei que sou visto como o último homem
descompromissado dessa família e determinado a permanecer dessa forma. O último cara com
fobia a compromisso. Não tenho planos para ferir Zoe. Mas olhei para ela e vi alguém que está
amedrontada, assustada e tem muito medo em seus olhos. E não gosto desse olhar em nenhuma
mulher. Eu não sou tão ruim assim.
Quando Rusty tentou negar que ela implicava qualquer coisa semelhante, ele ergueu a mão
para silenciá-la.
— Não a estou acusando de nada, querida. O que estou dizendo é que só queria fazer
alguma coisa para fazê-la sentir-se mais à vontade, e ela estava lá sozinha, parecendo assustada
até a morte e como se alguém fosse saltar para fora do nada e atacá-la.
Mais uma vez ele teve que parar quando a culpa lotou os olhos de Rusty e ela baixou o olhar.
— Não estou culpando você, Rusty. Apenas deixe-me dizer o meu pedaço, ok? Eu levei uma
bebida para ela e ela não tinha ideia de que eu estava me aproximando, porque estava muito
ocupada olhando para qualquer outro lugar. Quando ela percebeu que eu estava lá, quase caiu do
deque. E isso me deixou puto. É por isso que eu vim perguntar o que você sabia. Fiz o melhor que
pude para garantir que ela estava a salvo aqui e que ninguém iria machucá-la e que era bem-vinda
e seria considerada da família. Então a convidei para passar o dia comigo amanhã para que eu
pudesse mostrar os arredores a ela. Conhecer a Terra entre os Lagos e alguns dos meus outros
lugares favoritos.
Os olhos de Rusty se arregalaram de surpresa.
— Não foi uma proposta de casamento, — disse secamente.
— Podia muito bem ter sido, — ela murmurou.
Ele revirou os olhos.
— Olhe. Não tenho a intenção de brincar com ela ou ter um caso e seguir em frente. Eu não
estava planejando isso antes de falar com você, mas se estivesse, certamente não estaria agora
falando o que falei com você. Minha posição sobre me estabelecer com uma garota legal, casar e
fornecer mais netos a Mamãe não mudou. Mas nada diz que não posso ser amigo dela. Pelo que
ela deixou implícito e você confirmou, você é a única amiga dela. Ninguém perde por ter muitos
amigos. Isso é o que eu estou oferecendo Zoe. Amizade. E talvez ela veja que nem todos os
homens são idiotas egoístas como seu ex bundão. Então, eu agradeceria se eu levá-la para passear
amanhã não se torne um negócio grande, e especialmente não faça Mamãe e as esposas
42
Maya Banks
KGI 11
começarem a tramar para eu e Zoe ficarmos juntos. E não só porque eu não quero. Zoe iria correr
como o inferno se toda a família começasse a bancar a casamenteira. Então converse com
Mamãe. Diga-lhe o que quiser, e se certifique que as mulheres não façam disso mais do que é.
Você pode fazer isso por mim, por favor? Se não vai fazer isso por mim, então, faça-o por Zoe.
A expressão dela se suavizou.
— Você é um grande cara, Joe, e embora eu saiba o quanto é inflexível sobre não se
acomodar em breve, quando essa hora chegar, quem quer que seja a mulher, será uma senhora
de muita sorte.
— Ah, pelo amor de Deus, — ele rosnou. — Podemos parar por aí?
Ela riu, os olhos brilhando maliciosamente.
— Não vou mentir querido irmão. Mal posso esperar pelo dia que uma mulher o derrube e
você se torne tão patético quanto todos os nossos outros irmãos.
— Isso não vai acontecer, — disse, enviando-lhe um olhar assassino.
— Você sabe o que dizem, — ela disse alegremente. — Nunca diga nunca. É como lançar um
desafio agressivo direto, e só um tolo faria isso.
Capítulo Sete
Rusty terminou de secar os cabelos com a toalha e deslizou em seu pijama desbotado,
fazendo uma pausa antes de voltar para o quarto, onde Zoe já estava na cama. A culpa a inundou
e ela fechou os olhos. Ela fez as pazes com trair a confiança de Zoe, porque, bem, não contara a
Joe muito de todo o esquema das coisas. E teria parecido suspeito se ela lhe dissesse nada, ou
alegasse ignorância de pelo menos parte da história de Zoe, mas detestava mentir para sua
família. Era algo que jurara nunca mais fazer.
E não era só para Joe que ela estava mentindo. Estava mentindo para Frank, Marlene e a
todos. Por omissão. Suspirou. Dividida entre a lealdade para com sua família adotada e Zoe não
era um lugar agradável para se estar. Mas também sabia que se Zoe pensasse que não podia
confiar nela, ela partiria. Sem lenço e sem documento, e provavelmente acabaria morta. Ela ia
acabar morta, e isso foi o que reforçou a fraca determinação de Rusty para continuar o
fingimento.
Sua família iria entender. Eles entendiam melhor do que ninguém, mas de alguma forma isso
não dava muito consolo a Rusty. Com outro suspiro, endireitou os ombros e abriu a porta do
banheiro se dirigindo para a cama.
Zoe estava instalada em um monte de travesseiros em seu lado da cama, mas estava muito
acordada. E pensativa. Estava tão perdida em seus pensamentos que não registrou a aparição de
Rusty até que ela se sentou na cama ao lado dela. Zoe lançou um olhar assustado em sua direção.
— Devem ser algumas reflexões muito profundas para você não perceber até mesmo que eu
saí do banheiro, — Rusty brincou.
43
Maya Banks
KGI 11
Propositadamente injetou leveza em seu tom, em um esforço para aliviar a tensão óbvia em
torno de Zoe, porque sabia muito bem o tipo de merda em que ela estava pensando. Mas quando
Zoe abriu a boca e deixou escapar sua resposta, disse a última coisa que Rusty teria imaginado.
— Eu sou tão estúpida. — Ela tinha um olhar de pânico em seus olhos. — Deus, Rusty. Sou
tão idiota! Seu irmão me chamou para sair e eu disse... Eu disse sim! Em que diabos eu estava
pensando?
Rusty sorriu e deslizou por baixo das cobertas, reclinada contra os travesseiros enquanto Zoe
se deitava ao lado dela.
— Não é um crime ser mulher, sabe. Todas nós temos aquelas pequenas coisas irritantes
chamadas hormônios.
— Isto não é uma piada, Rusty! Ele me assustou muito. Ele ficava... Olhando para mim.
Rusty arqueou uma sobrancelha.
— Eu estaria mais preocupada se ele não olhasse, ou pelo menos estaria questionando a
orientação sexual dele. Você é quente, sis. Que homem solteiro não iria olhar para você?
— Você não entende, — ela disse agitada. — Ele não estava olhando para mim assim. Não
estava olhando como se estivesse atraído por mim. Ele parecia... Desconfiado. Como se soubesse
de cada coisa dentro da minha cabeça. Acho que ele não está acreditando na nossa história, e não
parecia emocionado sobre a minha presença numa reunião de família.
Rusty abafou sua careta, porque Zoe estava parcialmente certa. Joe não estava exatamente
acreditando na história delas, mas não da maneira que Zoe estava assumindo. Isso só torceu a faca
em seu coração um pouco mais sobre enganar a família. Lembrou-se de que qualquer um deles
faria o mesmo. Seus irmãos, os membros da KGI, mesmo Frank e Marlene, eram protetores de
nascença. Mas mesmo saber disso não diminuía a culpa que pesava tão fortemente sobre ela.
— Então, por que você concordou? — Rusty perguntou com genuína curiosidade.
— Eu estava perturbada. Não sabia o que dizer, pensar ou fazer. Se eu dissesse que não,
seria mais suspeito? Especialmente desde que ele estava sendo legal e apenas se oferecendo para
me mostrar os arredores. Quer dizer, não é como se fosse um encontro, encontroo, sabe? Ele
estava apenas sendo simpático. Eu não sabia mais o que dizer. Se eu dissesse que não, isso me
faria parecer uma megera, mas dizendo sim, estou morrendo de medo que eu esteja enviando um
sinal errado.
Os lábios de Rusty se pressionaram firmemente para suprimir o sorriso. Legal, minha bunda.
Joe era o membro com mais fobia de compromisso do clã Kelly, e embora ele colocasse sua vida
em risco para proteger uma pessoa inocente, certamente não convidaria uma mulher para sair,
mesmo sob o pretexto de ser acolhedor, se não estivesse interessado.
Mas, havia o fato de que ele obviamente tinha suas suspeitas, como evidenciado pelo
interrogatório de Rusty. Só que não questionara o personagem de Zoe. Estava muito mais
interessado em quem a machucara. Seus lábios tremeram com a vontade de sorrir. Talvez Joe
estivesse um pouco mais interessado em Zoe do que ele levou Rusty a acreditar. Ou talvez
estivesse em negação de si mesmo. Tê-lo pairando sobre Zoe definitivamente não era uma coisa
ruim, porque não havia nenhuma maneira no inferno de ele permitir que qualquer pessoa
chegasse até ela.
44
Maya Banks
KGI 11
— Você mesmo disse que ele estava sendo gentil, — Rusty disse calmamente. — Talvez ele
só queira fazê-la se sentir bem-vinda e colocá-la mais à vontade. Nossa família pode ser
esmagadora, e aceite isso sis. Você parecia que estava em frente de um pelotão de fuzilamento na
maior parte do dia. Não posso dizer que a culpo. Mas acho que você está se preocupando mais do
que precisa. Não há crime em ter uma vida, Zoe. Amigos. Pessoas que se preocupam com você.
Entendo que você está pirando porque nunca teve isso antes, mas você tem agora.
Zoe caiu para trás contra os travesseiros e deixou escapar um longo suspiro.
— Você está certa. Estou exagerando. Além disso, por que alguém tão quente como ele
olharia duas vezes para alguém como eu?
— Agora você está me irritando, — Rusty rosnou. — Você é linda e precisa parar de deixar o
idiota que a controlava moldar a forma como você se vê. Já olhou para si mesma no espelho, Zoe?
Realmente olhou?
Zoe corou e desviou o olhar. Partia o coração de Rusty, que tanto dano tivesse sido feito
para a autoestima de sua amiga. Inferno, não fora feito nenhum dano, porque ela nunca teve
autoestima. Nunca demonstraram que linda pessoa ela era, por dentro e por fora.
Para temperar a raiva que fervia em suas veias, aproveitou a oportunidade para provocar
Zoe. Enviou para a amiga um olhar manhoso, cutucando o braço dela com o cotovelo.
— Então você acha que ele é quente, hein?
Zoe parecia mortificada, o rosto ficando completamente rosa.
— Sim. Não. Bem, dã! Quero dizer, você já olhou para seus irmãos, Rusty? Todos eles? São
os homens mais geneticamente abençoados porque são todos lindos de dar água na boca.
Rusty estremeceu e, em seguida, tapou os ouvidos.
— Pare. Simplesmente pare. Argh. Não vou ser capaz de dormir esta noite, graças a você.
Zoe enviou-lhe um olhar fulminante.
— Você não pode me dizer que não achou que eles são quentes quando não eram
considerados seus irmãos.
— O que eu pensei foi que eles me odiavam e zombavam muito de mim, — Rusty disse
honestamente. — Nathan foi o único que foi bom para mim no início. Todos me queriam fora do
quadro.
Zoe fez uma careta.
— Deve ter sido duro.
Ela encolheu os ombros.
— Eu superei. Quer dizer, não podia culpá-los. Eu não era exatamente a criança da
propaganda de margarina, uma adolescente agradável desde a primeira vez que encontrei
Marlene e Frank e me trouxeram gentilmente para a casa deles. Além disso, foram anos atrás, e eu
fui doutrinada por muito tempo para o clã.
— Você continua dizendo isso, — Zoe disse com um estremecimento. — Como se você fosse
de algum culto religioso que fazia loucuras. Eu deveria estar preocupada que nunca mais serei
vista ou ouvida de novo?
Rusty riu.
— Teria que ser uma coisa ruim?
45
Maya Banks
KGI 11
— Touché. Agora, uh, podemos chegar a assuntos mais importantes antes de dormir?
— Tais como? — Rusty perguntou.
— Como o que vou me vestir amanhã, para que não pareça uma pateta, mas não quero
parecer como uma qualquer.
— É simples, — Rusty disse gentilmente. — Apenas seja você mesma, Zoe.
*****
— Preciso que você me faça um favor, — Joe disse baixinho ao telefone.

A voz de Donovan tinha uma ponta de preocupação quando respondeu.
— Fale.
— Você pode fazer uma discreta verificação sobre Zoe? Basta ver se algo se destaca, não
corresponde ou não parece certo?
Quase podia ver a carranca de Donovan através do telefone.
— Qualquer razão especial?
— Sim. Cerca de mil sombras e segredos nos olhos e o fato de que alguém fez algo real para
ela. Ela foi ferida. Muito.
Previsivelmente, Donovan lançou-se sobre isso.
— Que tipo de dor estamos falando aqui, Joe?
— Rusty disse que o ex-namorado dela a maltratou e eu gostaria de saber mais do pouco
que ela pôde me dizer. Zoe não falou muito, de acordo com Rusty, mas ela não estava ferida de
uma maneira que faz com que uma mulher fique louca como o inferno e conspire para cortar as
bolas de um homem. Ela está morrendo de medo, e isso me deixa desconfortável. Especialmente
quando ela está ficando com Mamãe e Papai por um tempo. Eu só gostaria de saber sua história,
ou o que você puder cavar sobre ela.
— Já pensou em apenas perguntar a ela? — Donovan disse secamente.
— Se ela não falou com Rusty, certamente não vai falar comigo. Inferno, tive a sorte de ter
mais do que duas palavras dela hoje. Ela parecia paralisada de medo quando me aproximei e falei
com ela.
Houve um longo silêncio.
— Qual exatamente é o seu interesse aqui, Joe?
— A segurança da minha família, — ele retrucou. — Que é exatamente o que seu interesse
deveria ser também, ou preciso lembrá-lo que você tem uma esposa e filhos que dependem de
você para se certificar que nada nunca os machuque.
Foi um golpe baixo e ele sabia disso. Mesmo antes que Donovan pudesse responder, Joe
rapidamente se desculpou.
— Essa foi exagerada. Sinto muito, cara. Veja. Algo parece errado. Meus instintos me
incomodam e eu me sentiria muito melhor se soubéssemos exatamente quem e o que Zoe é.
Nunca ofende ser muito cuidadoso.
— Posso concordar com isso, — Donovan admitiu. — Vou ver o que posso fazer. Vou gritar
quando tiver qualquer informação.
46
Maya Banks
KGI 11
— Obrigado, — Joe disse baixinho antes de desligar a chamada.
Capítulo Oito
Na manhã seguinte, Joe parou na casa dos pais e hesitou antes de sair da caminhonete.
Jesus, estava nervoso? Balançando a cabeça, abriu a porta do carro e caminhou até a porta da
frente só para tê-la aberta antes de chegar à maçaneta. Sua mãe estava na porta, um sorriso no
rosto.
Ele gemeu por dentro, em seguida, deu um passo para trás.
— Uma palavra, Mamãe?
Ela franziu a testa e, em seguida, fez o que ele pediu e saiu, fechando a porta atrás de si.
— Olha, isso não é o que você pensa, então não chame toda a família e conte a eles que
encontrei minha ruína. Zoe foi muito ferida, pelo que Rusty diz, e está morrendo de medo. A
última coisa que precisa é de toda a família caindo e começando a pressioná-la. Vou levá-la para
sair hoje para mostrar os arredores, espero fazê-la se sentir mais vontade com a gente. Nada mais.
Marlene estreitou os olhos para ele.
— Qualquer pessoa com dois olhos pode ver que aquela criança teve muita dor em sua vida,
e não acredito que você está de pé na minha varanda insinuando que eu gostaria de acrescentar
qualquer coisa que a machucaria mais.
Ele se sentiu imediatamente contrito e seus ombros caíram.
— Olha, Mamãe. Não estava tentando dar a entender que você iria machucar alguém. Você
é incapaz disso. Só não quero que você ou qualquer outra pessoa tenha a ideia errada e, como
resultado, faça Zoe se sentir pressionada ou envergonhada. Ela, obviamente, precisa de amigos,
apoio, e eu estou oferecendo-lhe ambos.
Marlene sorriu, em seguida, suas feições suavizaram. Colocou a mão em uma das bochechas
dele e, em seguida, inclinou-se para beijar a outra.
— Nunca duvidei por um minuto que você fechasse os olhos para quem precisa. Agora, Zoe
está pronta e tenho uma cesta de piquenique embalada para os dois. Vá e divirta-se. Faça essa
menina sorrir, e pelo amor de Deus leve-a a relaxar para que não ache que somos todos ogros
arrogantes.
Joe a pegou em um abraço, apertando-a contra si.
— Amo você, Mamãe.
— Eu também te amo querido. Agora venha aqui para que você e Zoe possam pegar a
estrada.
Ele a seguiu até a cozinha, onde Zoe e Rusty estavam sentadas em bancos de bar,
terminando os copos de suco. Rusty abriu um grande sorriso quando ele apareceu. Zoe, no
entanto, congelou, pânico e medo queimando em seus olhos. Ela estava vestindo uma camiseta
simples e um jeans de cintura baixa com recortes estrategicamente colocados e buracos que Rusty
insistia que era estiloso, embora o confundisse que as pessoas pagassem tanto dinheiro por um
47
Maya Banks
KGI 11
jeans rasgados. Inferno, ele poderia fazer o mesmo com um par de jeans do Wal-Mart e um
canivete. Mas aprendeu, a partir da observação de suas cunhadas, que as tendências de moda
feminina não só eram misteriosas mas, aparentemente, consideradas sagradas, e duas mulheres
raramente preferiam o mesmo. Ele não queria nem ver qual o valor das faturas do cartão de
crédito de seus irmãos a cada mês.
O cabelo dela foi puxado para cima em um desses coques desarrumados que Rusty sempre
fazia, e ele teve que admitir, em Zoe parecia muito fofo. Algumas mechas escapavam aqui e ali,
dando-lhe o olhar despenteado de quem acabou de sair da cama. Ele quase gemeu e puxou seu
foco de volta para o assunto em questão. Convidar Zoe para sair durante o dia. Oh, e dizer olá e
elogiá-la seria um bom começo, embora propositadamente mantivesse distância, não querendo
assustá-la ainda mais do que aparentava estar.
— Senhoras, — disse, mergulhando a cabeça em reconhecimento. — Vocês estão lindas
hoje.
O rosto de Zoe corou, as bochechas indo a um rosa delicado e feminino que parecia fazer
suas feições brilharem ainda mais, enquanto Rusty bufou e revirou os olhos, olhando para sua
calça de agasalho e camiseta.
— O quê? — Ele perguntou inocentemente. — É um crime um irmão falar a sua irmã que ela
está bonita?
Os olhos de Rusty suavizaram e ela olhou significativamente para ele, murmurando obrigada
de um ângulo que Zoe não veria. Ele sabia que ela estava agradecendo o tratamento cuidadoso
dele com Zoe e não o elogio, mas só estimulou a sua determinação em descobrir o que machucou
tanto Zoe. Uma mulher tão bonita nunca deveria duvidar de sua autoestima. Nenhuma mulher
deveria, porque no final do dia, nenhuma quantidade de beleza superficial poderia compensar a
falta de uma bela alma. E abaixo dos olhos com alma de Zoe havia uma mulher, embora envolta
em tristeza e medo, que era absolutamente linda.
Deveria se preocupar que estava gastando tanto tempo refletindo sobre uma mulher que
era uma completa estranha. Era atípico dele. Mas sentiu uma atração que não conseguia explicar e
que, francamente o aterrorizava. Ao mesmo tempo, simplesmente parecia... Certo. Foi isso o que
aconteceu com seus irmãos? Ele quase balançou a cabeça. Precisava parar e lembrar qual era o
objetivo aqui. E não era encontrar sua alma gêmea e se apaixonar como cada um de seus irmãos.
— Zoe? — Perguntou em voz baixa. — Está pronta para ir?
Ela enviou um olhar nervoso na direção de Rusty, mas depois pareceu se recompor e sorriu
para Joe.
— Estou pronta.
Toda a respiração deixou seus pulmões em uma expiração forçada. Deus todo poderoso. Se
ela era linda antes, era de tirar o fôlego quando sorria. Sorria de verdade. E foi a primeira vez que
ela pareceu perder a reserva que usava como uma segunda pele. Parecia um soco no estômago e
por um momento ele ficou ali como um idiota de boca aberta, desejando que seu sorriso não
tivesse fim.
Sua mãe lhe entregou uma grande cesta de piquenique, sacudindo-o de seu transe. Então
ele estendeu a mão livre para Zoe, esperando que ela não rejeitasse sua insinuação.
48
Maya Banks
KGI 11
Ela hesitou por um breve momento e então deslizou a palma da mão sobre a dele e ele
entrelaçou seus dedos, puxando-a para mais perto de seu corpo.
— Eu a trarei de volta para o jantar, Mamãe, então não se preocupe. Passearemos de
improviso hoje e deixarei Zoe no comando.
Marlene sorriu, os olhos brilhando em aprovação.
— Divirtam-se. E isso vale especialmente para você, mocinha, — ela dirigiu a Zoe. — Relaxe e
divirta-se.
Ele levou Zoe para a caminhonete e abriu a porta do lado do passageiro para ela antes de
colocar a cesta de piquenique na cabine extra. Quando deu a volta e se acomodou no assento do
motorista, olhou para ela e seu coração amoleceu com o quanto estava nervosa e pouco à
vontade.
— Zoe.
Esperou ela espiá-lo por debaixo dos cílios antes de dizer mais.
— Não vou te morder. Prometo. Quero muito ser seu amigo, e você nunca teve muitos
amigos, certo?
Se pensou que o sorriso que ela tinha concedido a ele na cozinha havia tirado seu fôlego,
este foi um soco no intestino que quase o deixou incapaz de respirar. Todo o rosto se iluminou e
ela o olhou timidamente, o rosto de um rosa suave que apenas pedia para ser tocado e acariciado.
Deus, ela era linda! Não conseguia se lembrar de ter conhecido uma mulher mais bonita, e todas
suas cunhadas eram mulheres lindas. Mas ele nunca olhou para elas da forma como estava
olhando para Zoe.
Mentalmente se chutou por ainda pensar nisso depois que já havia ministrado a si mesmo,
convenceu-se e tentou convencer sua mãe de que isto não era nada mais do que um gesto
amigável. O único problema era que ele não estava tão convencido, e isso era um problema.
— Pensei em visitar a Terra entre os Lagos primeiro e, em seguida, iríamos para onde o
vento nos levasse, — ele disse, sorrindo para ela.
— Isso soa muito bom, — ela disse melancolicamente. — Não posso dizer que já fui onde o
vento me levou. Parece poético.
Como se percebendo que estava divulgando informações que preferia não dizer, ela apertou
os lábios firmemente e desviou o olhar enquanto se dirigiam para fora do complexo.
A raiva fervia em suas veias, porque ele sentia que havia mais acontecendo do que apenas
um mau relacionamento. O que acontecera na vida dela antes de ter se ligado a esse idiota? Rusty
lhe deu nada sobre o passado dela. Nada além de um relacionamento do inferno. Onde estava a
família dela e por que não estavam em torno dela sufocando-a com amor e apoio como a família
dele fazia?
Estava na ponta da língua para perguntar, estava morrendo de vontade de saber tudo sobre
ela, mas sabia que ela provavelmente ficaria chateada e ele perderia a descontraída, doce e tímida
Zoe que o recebera esta manhã. E se fosse ruim como suspeitava, não queria trazer de volta
memórias dolorosas e arruinar seu dia, antes mesmo de começar.
Então, ao invés de questioná-la, agiu como se não tivesse notado e deu-lhe um sorriso lento
e caloroso.
49
Maya Banks
KGI 11
— Bem, então, querida, eu diria que é você que faz o tempo.

Mentalmente ele se congratulou quando ela relaxou e mais uma vez girou aqueles olhos
azuis de bebê em sua direção e sorriu com mais entusiasmo.
— Parece divertido. — Então ela fez uma pausa e seu rosto foi novamente essa sombra
deliciosa de rosa que quase o matou. — Obrigada, Joe.
Assustado, ele olhou totalmente para ela, tirando os olhos da estrada por um breve
segundo. — Por que é que você está me agradecendo?
— Por ser meu vento de hoje, — ela disse suavemente.
Era uma coisa muito boa que estavam dirigindo pela estrada. Era uma maldita boa coisa que
tivesse feito um sermão para sua mãe a respeito do status de Zoe com ele. Caso contrário, iria
passar a próxima hora beijando-a. Que homem poderia resistir a uma mulher olhando para ele
com tanta vulnerabilidade, mas, ao mesmo tempo como se ele fosse o herói do seu universo?
Estou tão fodido.
Fodido.
Fodido.
Fodido!
Quando desacelerou para pegar a entrada para a estrada principal, pegou seu celular e
rapidamente mandou uma mensagem para Sam.
Não disponível hoje.
Então fez o impensável e fechou o telefone, jogando-o no console. Nunca antes se colocara
fora de contato com a KGI. Não tinha nada para amarrá-lo. Sem compromisso com nada nem
ninguém além de si mesmo e sua família, é claro. Mas se a KGI chamasse hoje, teriam que
trabalhar sem ele. Sam teria todos os tipos de perguntas. Perguntas que Joe não tinha intenção de
responder. Ele tinha um dia para estar fora de chamada visto que nunca fizera isso antes, e isso
devia ser explicação suficiente para qualquer um de seus intrometidos, curiosos e xeretas irmãos.
Só esperava que eles não contassem a suas esposas ou elas cairiam em cima de Zoe como
fizeram com Eve, todas querendo um exame mais detalhado do que conseguiram no churrasco de
família para se certificar de que ela era boa o suficiente para ele. Ele quase bufou. Elas precisavam
se preocupar com ele sendo bom o suficiente para ela. Ele não era exatamente conhecido por sua
sagacidade, charme ou sutileza quando se tratava de mulheres, mas iria precisar de tudo o que
conseguisse reunir para quebrar esta castanha em particular.
Oh Deus. Estava ficando louco. Ainda não estava em um verdadeiro encontro com esta
mulher e já estava dando desculpas à sua família e traçando um plano de jogo. Era hora de
retardar antes de enlouquecer. Nunca deveria ter se oferecido para mostrar os arredores a Zoe.
Deveria ter mantido distância e deixado como estava. Mas não fizera isso e agora teria que lidar
com as consequências.
Capítulo Nove
50
Maya Banks
KGI 11
Gradualmente Zoe relaxou sob o jeito calmo e descontraído de Joe. E pensar que estivera
preocupada que ele estivesse dando em cima dela quando a estava tratando da mesma maneira
que tratava Rusty, que era sua irmã adotiva. Obrigou-se a não sentir humilhação por ter entrado
em pânico e interpretado mal a situação. Graças a Deus, não deixou óbvio o que assumiu. Bem,
exceto que deixou escapar a questão se ele estava convidando-a para sair ontem. Com sorte, ele
esquecera tudo sobre isso, ou simplesmente deixou como um simples mal-entendido. Ela recebeu
todo o constrangimento com rejeição que poderia lidar nesta vida.
Ainda assim, uma pequena voz no fundo de sua mente exigia saber o que estava errado com
ela que ninguém a queria, ninguém preocupava-se com ela. O pai dela. Sebastian. Até mesmo sua
mãe. Ninguém a queria. Stella Huntington. Como poderia sua mãe tê-la deixado com um homem
que obviamente não tinha amor ou interesse na filha e nunca olhou para trás? Foi porque ele
queria um filho?
Sabendo agora o que não sabia antes, esse provavelmente era o caso. A filha não poderia
assumir o império criminoso de Garth Huntington. Sua mãe sempre soube disso? Foi por isso que
ela partiu? Mas se fosse esse o caso, por que não levou Stella com ela? Uma mãe não queria
proteger sua única filha de um ambiente tão perigoso?
Lágrimas quentes picaram suas pálpebras e ela respirou fundo, piscando rapidamente para
não trair a súbita onda de emoção. Droga. Agora não era o momento de sentir pena de si mesma e
refletir sobre o passado. Era apenas isso: o passado. E não havia nada que pudesse fazer para
mudar nada disso. Se tivesse qualquer desejo de viver, de ser livre da vida que levou
inadvertidamente, precisava seguir em frente e reinventar-se. Ela era Zoe Kildare agora, e Stella
Huntington estava morta. Assim como Sebastian, e provavelmente seu pai, queriam. Mas por que
Sebastian não a matou desde o início? Por que passar pela farsa de fazê-la se apaixonar por ele?
Ele gostava de humilhá-la? Teria planejado insultá-la com o quanto ela era estúpida e ingênua
antes de matá-la? Aliás, seu pai contratou-o para se livrar dela?
Todas essas perguntas encheram sua cabeça maldosamente e não queria nada mais do que
rastejar na cama de Rusty e chorar por um ano.
— Ei, você está bem? — Joe perguntou gentilmente.
Mortificação queimou por sua mente. Ela educou seus traços e, em seguida, virou-se,
exibindo seu sorriso mais convincente na direção dele.
— Estou bem. Apenas animada para ver o búfalo e alces. Você acha que eles estarão à vista?
Joe a estudou um momento, a carranca leve dizendo que não acreditou nem um pouco na
explicação, mas felizmente não a pressionou sobre o assunto.
— Búfalo, quase uma garantia. Os alces são um pouco escassos. O melhor momento para vê-
los é logo antes do pôr do sol e ao anoitecer. Se não tivermos uma visão dos alces hoje, então te
trarei novamente uma noite e verei o que posso fazer para chamar um para você.
Ele sorriu quando disse a última frase e ela não podia deixar de sorrir também, a mágoa
anterior esquecida diante de sua simpatia.
— Pensei em ir ao Old Homestead já que estamos nesta direção. É uma representação da
área nos anos de 1800, com cabines e estruturas que existiam naquela época. Eles têm dias casas
51
Maya Banks
KGI 11
lá e as pessoas se vestem com roupas de época. Apresentações de cantores de Folk, e têm

refeições rápidas, incluindo melancias geladas no riacho que atravessa o assentamento.
— Parece incrível, — disse emocionada. — Pena que não está acontecendo agora. Isso seria
divertido de ver.
Não conseguia manter a nota melancólica fora de sua voz e prontamente calou a boca antes
que voltasse para a tristeza sombria que atormentara seus momentos mais cedo.
— Talvez você possa. Você é da família agora, — disse ele em uma maneira provocante. —
Você poderia vir ficar com Rusty na próxima vez que eles organizarem um evento e eu a levaria.
Ela corou, mas sabiamente manteve a boca fechada antes que aceitasse um convite que
sabia que seria incapaz de desfrutar.
— É lindo aqui, — disse enquanto se dirigiam para Terra Entre Lagos. — Toda a área é
bonita, quero dizer. Todos vocês vivem tão próximos ao lago, e nunca vi tantas árvores em minha
vida.
— Menina da cidade, né? — Ele brincou.
Ela corou novamente.
— Ei, não era um insulto, — ele disse suavemente.
— Eu nunca quis ser uma garota da cidade, — disse com sinceridade.
Ele inclinou a cabeça, olhando para ela enquanto lentamente viajavam pela estrada em
direção a área preservada.
— O que você quer ser, então?
Ela fez uma careta.
— Parece estúpido.
— Teste-me.
Ela suspirou e depois deu de ombros, preparando-se para ele rir dela.
— Sempre achei que viver no campo seria divertido. Talvez até uma fazenda. E pesca! Sabe
que eu nunca pesquei na minha vida? E parece tão divertido.
— Não! — Ele disse em falso horror.
Seus olhos brilhavam de alegria e ela relaxou.
— Este tipo de lugar é exatamente onde sempre pensei que seria maravilhoso viver. Onde as
pessoas são simpáticas. É tranquilo. Pessoas ajudam umas as outras. A vida se move em ritmo
mais lento. É tão... Pacífico.
— Algo me diz que você não teve muita paz em sua vida, — ele disse em um tom calmo e
sério. Deus, ela tinha que calar a boca. O que a fez ficar gaguejando quando sabia que tinha que
ter cuidado com toda a palavra que saísse de sua boca? Rusty a recordou cerca de cem vezes que
ela precisava estar em guarda, vigilante a cada momento e ainda assim não conseguia fazer isso
dois dias sem estragar.
Esperando que ele acreditasse em seu ato, calmamente levantou um ombro.
— Oh, você sabe como é em uma cidade grande. Chicago é tão louca. É como assistir a um
filme em câmera acelerada. Todo mundo correndo, sempre em movimento, sem tirar o tempo
para parar e... Perdoe o clichê... Cheirar as rosas.
52
Maya Banks
KGI 11
— Então, mude-se de lá, — disse ele, como se fosse a solução mais simples do mundo. —
Você se formou na faculdade e tem um diploma. Pode se mudar para qualquer lugar que desejar.
Por que ficar onde está infeliz?
Por quê?
— Não pretendo ficar, — ela disse com absoluta honestidade. — Só não descobri para onde
quero me mudar. Tenho um MBA, e, bem, não é tão grande a demanda por MBAs em áreas rurais
como nas cidades mais populosas.
— Comece o seu próprio negócio. Papai fez isso quando saiu do serviço. Dover não é
exatamente uma metrópole, mas ele começou uma loja de ferragens e conseguiu não só
permanecer na empresa por mais de trinta anos, mas transformá-la em uma empresa próspera.
— Foi o que você e seus irmãos fizeram também, certo? — Perguntou, curiosa para mais
informações sobre a KGI. — Rusty me disse que todos serviram em vários ramos militares, mas
formaram a KGI quando saíram.
As sobrancelhas de Joe se franziram enquanto ele desacelerava para parar, mas não falou
imediatamente. Em vez disso, apontou. — Olhe. Um búfalo e o filhote.
Zoe girou no assento e fez um som de emoção quando viu o animal gigante de pé a cerca de
cem metros de distância, cuidando do filhote que estava ao lado dela.
— Oh meu Deus! Isso é incrível!
Apertou as mãos contra o vidro como, se de alguma forma, isso a levaria para mais perto e
olhou com fascinação enquanto o búfalo mamãe afastava-se com o filhote, levando-o para a
cobertura das árvores. Seus lábios se viraram para baixo e um som de consternação soou quando
ambos caminharam e desapareceram de vista.
— Não se preocupe, — ele assegurou. — Na verdade, é raro ver tão poucos de cada vez. Eles
tendem a se mover em bandos e a Terra Entre Lagos é bastante grande. Provavelmente
cruzaremos com eles antes de terminar.
Ela animou-se quando se virou para ele. Até que ele não retomou a condução e, em vez
disso olhou-a seriamente, os olhos sérios e a expressão muito menos quente do que antes.
— O que Rusty lhe disse sobre a KGI?
A boca de Zoe caiu. Porcaria. Provavelmente acabara de pôr Rusty em apuros. Sabia que ela
não deveria falar sobre o que seus irmãos faziam, mas ela não tinha dito muito! Ao mesmo tempo,
ele não parecia muito feliz em saber que sua irmã esteve discutindo sobre ele e seus irmãos com
ela.
— Ela não me disse muito, — Zoe disse defensivamente. — Não fique zangado com ela. Ela
me disse que não poderia falar muito sobre isso, que nenhum de vocês falava. Tudo o que disse foi
que todos os seus irmãos serviram no exército e que Sam, Garrett e Donovan formaram a KGI
quando deram baixa, e que você, Nathan e Ethan se juntaram mais tarde. Disse que vocês
protegem as pessoas e vão atrás de pessoas más. Era isso.
Joe rapidamente pegou a mão dela, dando-lhe um aperto reconfortante.
— Querida, está tudo bem. Não estou bravo com Rusty. Estava mais preocupado com o que
ela não lhe disse do que com o que ela disse.
Ela olhou para ele em confusão. — Não entendi.
53
Maya Banks
KGI 11
Ele suspirou.
— Para um estranho, as coisas que fazemos... Bem, vamos apenas dizer que você pode não
pensar muito bem de mim se soubesse algumas das coisas que nós - que eu já - fiz.
A testa dela enrugou. Não entendeu o que ele estava tentando dizer.
— Mas Rusty disse que vocês ajudam as pessoas.
— Nós ajudamos. Essa é a nossa prioridade. Há um monte de merda ruim no mundo, como
tenho certeza que você sabe. Mas tomamos medidas que a maioria consideraria extrema. Eu
matei pessoas, Zoe. Mas também as ajudei. Protegemos os inocentes e eliminamos o mal.
Acabamos com impérios criminosos. Eliminamos terroristas. Traficantes de drogas. Traficantes de
armas. Sequestradores. Mafiosos. Traficantes de adultos e crianças. Praticamente tudo vil e mal.
Tenho tanto sangue em minhas mãos - eu e todos os meus irmãos e membros da KGI temos tanto
sangue em nossas mãos que existimos nas áreas cinzentas. E não é sempre pela lei. Eliminamos
qualquer fonte de mal possível. Todos nós temos manchas em nossas almas, consciências com as
quais lidar, mas vivemos com ela e a aceitamos, porque no final do dia, é a única maneira que
podemos viver com nós mesmos. Se alguma vez começarmos a virar as costas para as muitas
vítimas que encontramos, tudo estaria acabado para nós.
Ele respirou fundo e desviou o olhar.
— É uma grande responsabilidade e presunção de nossa parte bancar o juiz e jurado e fazer
justiça com nossas próprias mãos. Não são muitos que toleram nossas ações ou nossa missão.
Inferno, nós nem sempre concordamos com o que sabemos que tem que ser feito.
Ela podia sentir o sangue fugir de seu rosto e apertou as mãos contra o assento de modo a
não trair o tremor. Bile subiu em sua garganta. Oh Deus. O que ele faria - pensaria - se soubesse
quem e o que ela era? Suas origens? O que seu pai era e que ele e ela eram a mesma coisa que ele
lutava tão corajosamente para livrar o mundo?
Ele iria desprezá-la. Olharia para ela com desgosto. Ela queria chorar, porque estava
condenada desde o nascimento com nenhuma maneira de mudar quem e o que ela era. O sangue
de seu pai corria por suas veias. Mal. Corrupto. Pecados do pai para que nunca tivesse nenhuma
chance de encontrar a absolvição.
— Eu sabia que você iria se sentir desta forma, — Joe disse severamente, as mãos enroladas
tão firmemente em torno do volante que os nós dos dedos estavam totalmente brancos. — Eu
causo nojo em você, o que eu faço te enoja. Minha família te enoja. Eu não a culpo...
— Não! — Ela explodiu, cortando-o no meio da frase. — Você está errado! Eu admiro o que
você faz, quem você é. Eu só estava... Chocada. Como alguém pode ser tão altruísta? Fazer o
trabalho de sua vida arriscando-se por completos estranhos? Pelas vítimas e pessoas que não têm
ninguém para defendê-las. Como todos vocês conseguem fazer isso? Vocês têm família. Crianças.
Deus, deve ser terrível para seus entes queridos cada vez que vocês vão para a missão, sem saber
se um ou todos voltarão. E que se não voltarem, é porque estavam protegendo alguém que vocês
nem conhecem.
Ele lhe deu um olhar peculiar, calor entrando em seu olhar. Nunca sentira-se mais miserável
sobre seu engano do que agora. Ela era a epítome do que ele arriscou a vida para combater. Sua
espécie. Seu modo de vida.
54
Maya Banks
KGI 11
Modo de vida anterior.

Deu a si mesma um lembrete severo que ela não era o que seu pai era. Não fazia as mesmas
escolhas. E não iria mais viver sob o polegar dele, obedecendo suas regras. Mas ainda não
conseguiu conter o fato de que se sentia suja. Imunda. Não era boa o suficiente para este
guerreiro que representava tudo o que era bom.
Em seguida, quase riu histericamente. Que bela maneira de passar o carro na frente dos
bois, Zoe. Este homem não poderia estar menos interessado em você. Ele está sendo legal. Não
importa se você é boa o suficiente ou não. Ele está fora dos limites. Ele não quer você, e mesmo se
quisesse, não iria mais querer se soubesse a verdade.
Para escapar do calor que emanava de seu rosto, envolvendo-a em seu abraço
reconfortante, lutou para mudar de assunto. — Então o que você faz quando não está salvando o
mundo? — Perguntou brilhantemente.
Ele riu, mas o calor não deixou seu olhar. Longe disso. Ele parecia queimar sobre sua pele
nua, e seu sorriso... Ele tinha o maior sorriso de derreter os ossos. Estava olhando-a
estranhamente e ela não sabia o que fazer.
Ele começou a avançar novamente, seguindo a estrada pavimentada através do parque, mas
manteve o olhar periférico sobre ela.
— Acho que você pode dizer que quando não estou fora salvando o mundo, estou
mostrando a uma mulher bonita os arredores da minha própria casa.
Prazer impregnou suas veias mesmo quando ela argumentou que estavam pisando em
território proibido.
— Tenho certeza de que é um trabalho em tempo integral, — ela disse secamente. — Não
posso imaginar que te falte companhia feminina.
Deus, estava realmente tentando descobrir o que ele sentia? Perguntando-lhe com quantas
mulheres ele saia regularmente? E essa súbita queimadura no peito era ciúme? Precisava manter a
boca fechada, para impedir que escapasse coisas embaraçosas, e definitivamente tinha de obter
uma rédea sobre suas emoções ou hormônios ou o que diabos estava fazendo-a pensar e agir
como uma amante ciumenta.
Os olhos dele brilhavam agora e uma pitada de riso surgiu quando os cantos de sua boca se
enrugaram.
— Apenas uma, — disse vagamente. Então, piscou para ela antes de voltar sua atenção para
a estrada.
O que diabos ela deveria fazer com isso? Rusty havia deixado claro que Joe era um solteirão
muito feliz e não tinha planos de mudar seu status de solteiro. Era uma piada na família, e Rusty
dissera que Marlene e as outras esposas tentaram por anos, sem sucesso, levá-lo a se estabelecer,
casar e ter uma família.
Ela não acreditava que ele a estivesse provocando ou que queria uma aventura antes de ela
ir embora. Ok, então talvez estivesse sendo incrivelmente ingênua. Seu gosto por homens era
horrível, mas simplesmente não conseguia ver Joe Kelly se comportando como Sebastian.
55
Maya Banks
KGI 11
E talvez isso fosse o que a assustou mais. Porque ela tinha zero experiência com bons
rapazes, e Joe parecia ser o bom rapaz. Exatamente o tipo de cara que ela queria e exatamente o
tipo de homem que nunca poderia ter.
Capítulo Dez
— Isso é divertido! — Zoe exclamou enquanto andava com os pés descalços no riacho de
águas rasas que atravessava a terra que costumava ser de propriedade da mesma empresa de
papel de quem a KGI comprou o terreno para o complexo.
Apesar de ser propriedade privada agora, Joe conhecia o proprietário e tinha acesso a
qualquer hora que queria, e esse era um dos seus lugares favoritos para ir quando precisava de
paz e tranquilidade.
Sentiu um sorriso se formar em seu rosto enquanto a olhava enrolar a calça jeans um pouco
mais alto para não se molhar e espirrar água para cima alegremente para que deslizasse sobre a
superfície. Em seguida, ela inclinou-se e colocou a mão para baixo, recuperando uma das pedras
lisas do leito do riacho.
— Isto é perfeito para atirar, — anunciou ela, o rosto corando de emoção. — Aposto que ela
poderia pular para sempre através do lago.
— Bem, por que não vamos descobrir?
Ela inclinou a cabeça em questionamento.
— Que tal pular o Old Homestead e em vez disso, eu levá-la para a minha casa. É à direita no
lago e você pode jogar sua pedra da minha doca. A água hoje está calma. Não há um sopro de
vento e a superfície parece um espelho. Condições de tiro perfeitas.
Ela mordeu o lábio inferior em súbita concentração enquanto estudava a água murmurando.
— É melhor eu encontrar mais, nesse caso. E se eu errar a primeira vez? Preciso de mais do
que uma pedra para praticar se eu estragar tudo.
— Você nunca atirou pedras antes? — Perguntou ele com um sorriso indulgente.
Arrependeu-se de perguntar quando o sorriso dela desapareceu e tristeza entrou em seus
belos olhos.
— Não, mas sempre pensei que parecia muito divertido, — murmurou.
— Bem, então, precisamos armazenar.
Ela o olhou com surpresa quando ele tirou os sapatos e rolou a barra da calça jeans até o
meio da canela e entrou na água com ela.
— Você vai me obrigar a fazer todo o trabalho? — Brincou ele. — Vamos precisar nos
apressar para voltar para o lago antes que fique escuro demais para ver o seu talento em fazer as
pedras saltitarem.
Ela sorriu novamente e o estômago dele deu a guinada que parecia fazer cada vez que o
rosto dela se iluminava.
56
Maya Banks
KGI 11
Pela próxima meia hora, selecionaram com cuidado várias dezenas de pedras perfeitamente
lisas, com Joe transportando-as para a caminhonete. Depois da última viagem, ele agarrou a cesta
de piquenique que a mãe embalara e levou-a para o banco do córrego.
— Está pronta para comer? — Gritou para ela.
Ela se virou de onde andou mais para baixo no riacho, ansiedade brilhando em seu rosto.
— Estou morrendo de fome! Fiquei tão entretida na atividade do dia que esqueci tudo sobre
comida.
Ele agarrou o peito e cambaleou para trás em falso horror.
— Isso é um crime por estas bandas. Particularmente quando a minha mãe providenciou a
comida. Você vai descobrir que a comida é semelhante à religião em nossa família.
Ela riu e ele absorveu o som despreocupado.
— Já estou começando a ver isso. No começo pensei que sua mãe tinha feito muita comida
para o encontro ontem, mas isso foi antes de eu ver o quanto todos comiam.
— Uma coisa que ninguém faz é recusar a comida de Mamãe. Tenho certeza que é um dos
dez mandamentos.
Ela riu novamente e isso o fez querer continuar a fazer e dizer coisas para fazê-la rir. Não só
parecia bonita, mas cada vez que ela sorria, seu rosto se iluminava e seus olhos brilhavam. Ela
brilhava, e era uma visão encantadora.
Rapidamente abriu o cobertor e o espalhou sobre o local onde a terra era mais suave e, em
seguida, fez sinal para que ela se sentasse enquanto tirava as coisas do cesto.
— Espero que você coma sanduíches de salada de frango, — disse enquanto os
desembrulhava. — A salada de frango de Mamãe é lendária e perde apenas para o frango frito,
que Donovan pede praticamente em qualquer momento que ela está cozinhando.
— Eu nunca comi, — ela admitiu.
Ele fingiu horror mais uma vez e colocou a mão no peito sobre o coração.
— Você vai comer uma verdadeira gostosura então. Mas Mamãe, sendo Mamãe, arrumou
opções também, porque Deus não permite que alguém passe fome sob os cuidados dela. Temos
também sanduíches de carne assada, bife que ela fez tarde da noite com molho para mergulhar,
servidos com rolos de sanduiche caseiro (sanduiche feito em pão roliço, recheado com carnes,
queijo, tomates, alface e temperos). O meu conselho é comer metade de cada, porque você não
viveu até que experimentou os dois. Mas guarde um espaço para a sobremesa, porque ela
também embalou torta de nozes, brownies triplos e biscoitos caseiros de manteiga de amendoim.
Inferno, por que estou sequer preocupado em qualificar os biscoitos de manteiga de amendoim
como caseiros? Tudo é caseiro. Mamãe acha que armazenar qualquer coisa comprada, pronta
para comer, é o mais grave dos pecados.
— Oh meu Deus, — Zoe disse, os olhos enormes no rosto. — Eu nunca vou comer tudo isso,
Joe! E não quero ofendê-la. — Embora olhasse para as gostosuras espalhadas sobre a toalha como
se quisesse muito tentar comer tanto quanto possível.
Ele riu, pegando a mão dela, porque simplesmente não podia evitar. Se segurasse um pouco
mais antes de soltá-la, bem, ele não estava reclamando. Seu polegar desenhou padrões
57
Maya Banks
KGI 11
preguiçosos sobre os nós dos dedos e ele se deu conta de que não estivera tão contente em tirar
um dia de folga e ir onde o vento o levasse mais do que podia se lembrar.
— A chave é experimentar de tudo. Então levarei todas as sobras para casa comigo. Ela
nunca vai saber que não devoramos tudo, e eu comerei como um rei amanhã também.
— Oh, entendi, — ela disse com severidade simulada. — Você vai levar a marmitinha para
casa. Isso é justo?
— Justo? — Ele gaguejou. — Você vai ficar na casa dela e ela vai cozinhar todos os dias. Eu?
Só posso comer a comida dela quando venho ou peço-lhe para ter pena de seu filho sem esposa
que não consegue cozinhar nem que seja para salvar sua vida.
Zoe revirou os olhos, mas ele secretamente estava contente com o fato de que ela tinha
relaxado e perdeu a reserva anterior e o mal-estar.
— O que é isso? — Perguntou quando ele tirou um grande recipiente de bebida.
— Ah, isso? Apenas o néctar dos deuses e a bebida oficial do sul. Chá doce gelado.
Os lábios dela se franziram e ele propositadamente a olhou espantado. — Não me diga que
você nunca tomou chá doce. Meu coração não aguenta tantos choques em um dia.
Ela caiu na risada e ele olhou descaradamente no brilho em seus olhos e a forma sedutora
de sua boca enquanto ela abria-se em um sorriso enorme.
— Chá instantâneo conta?
Ele arqueou uma sobrancelha. — Instantâneo?
Ela riu e levantou uma mão. — Não me diga. Já sei a resposta. Chá instantâneo é um pecado.
Estou certa?
— Correta, — ele brincou.
— Aparentemente, tenho muito a aprender sobre a vida no sul, — disse, divertida.
Ele adotou um olhar triste.
— Vamos transformá-la em uma menina do sul, Zoe Kildare. Antes que perceba, você vai
caçar e pescar e ao invés de calças de brim estará usando shorts jeans cortados e chinelos como
roupas padrão.
Ele se perguntou se ela sabia como parecia melancólica naquele momento quando ele
estava apenas brincando com ela. Mas inferno, ela já tinha manifestado o desejo de pescar.
Talvez...
Fechou seu processo de pensamento imediatamente. Não, não ia levá-la para pescar. Iriam
sair somente essa vez. Estava sendo amigável. Mostrando a ela que nem todos os homens eram
idiotas que tiravam proveito das mulheres.
Mas... Poderiam ser amigos, certo? Não há nenhuma lei contra isso. E Zoe definitivamente
precisava de amigos, já que Rusty parecia ser sua única amiga e aliada. Sim. Ele definitivamente
poderia oferecer sua amizade. Seu pulso acelerou com a ideia e se viu sorrindo. Era a solução
perfeita.
— Por que você está com esse sorriso tão grande? — Ela perguntou curiosa.
Ela me pegou. Ele correu em busca de uma resposta e, em seguida, decidiu que a verdade
sempre era a melhor ideia.
58
Maya Banks
KGI 11
— Por que não tenho motivos para sorrir? — Perguntou, enviando-lhe um sorriso ainda
maior. — Vou passar o dia com uma mulher que adora se divertir, bonita, que tem um grande
senso de humor e gosta das mesmas coisas que eu. Como não amar?
Ela pareceu abalada com sua resposta, mas ele fingiu não perceber. Ao contrário, mudou de
assunto. Mas não antes de testemunhar que apesar de sua perplexidade inicial, ela parecia...
Satisfeita com sua resposta.
— Você está satisfeita? Ainda temos pedras para atirar, e então tenho que levá-la de volta
para casa antes de Mamãe enviar alguém procurando por nós. Ela é muito protetora daqueles que
tem sob sua asa, e há o fato de que aos olhos dela, faltar ao jantar é um pecado capital punível
com a morte.
Ele não deixou de perceber seu rubor de prazer com a ideia de ter pessoas que se
importavam com ela, e isso o irritou. Ela nunca teve qualquer um que deu a mínima para ela? Era
óbvio que não teve, porque ela se embebia em cada bocado de atenção que recebia, saboreando-
a como se fosse o presente mais estimado que já tinha recebido. Inferno, provavelmente era. Será
que ela não teve nenhum maldito indício do quanto era preciosa?
Ela emitiu um gemido.
— Estou muito além de estufada. Posso não ser capaz de atirar pedras. Não tenho certeza se
conseguirei andar neste ponto.
Calor espalhou-se por suas veias mais uma vez. Porra, ele gostava de estar em sua
companhia.
— Sorte sua que você não precisa se preocupar com isso. Vou levá-la em qualquer lugar que
precisar.
Seu rosto corou um rosa delicioso e ela abaixou a cabeça timidamente de uma forma
cativante. Como diabos ele iria manter esta relação de amizade apenas platônica? Mas, não tinha
escolha. Nenhum dos dois queria, ou estavam prontos para um relacionamento romântico.
Ele ficou de pé e gemeu.
— Retiro o que disse. Posso precisar que você me leve.
Ela riu, os olhos brilhando como um par de pedras preciosas.
— Talvez devêssemos tentar segurar um ao outro no caminho de volta para a caminhonete.
Você me achataria se eu tentasse levá-lo.
— Tem razão, — ele disse, sorrindo de volta.
Estendeu o braço, e depois de um momento de hesitação, ela veio a ele, encaixando
perfeitamente sob seu ombro. Ele cambaleou de forma exagerada enquanto tropeçavam em
direção à caminhonete, rindo como dois lunáticos. Foi atingido pelo fato, enquanto abria a porta
do passageiro para ela e levantou-a para o assento, que estava realmente se divertindo apenas...
Estando ao lado dela. Relaxando e esquecendo o resto do mundo e os idiotas que o habitavam.
Balançou a cabeça tristemente enquanto se dirigia para o lado do motorista. Foi uma coisa
boa que estabeleceu regras básicas e que ele e Zoe seriam apenas amigos. Caso contrário, estaria
fodido.
— Pronta para tentar atirar pedras? — Perguntou girando a chave na ignição.
Ela assentiu ansiosamente.
59
Maya Banks
KGI 11
Ele não pôde evitar. Precisava tocá-la. Estendeu a mão e despenteou seus cabelos
carinhosamente. Como se fosse uma irmã ou uma de suas cunhadas.
— Tente não chutar muito a minha bunda. Você pode danificar o meu orgulho masculino se
me fizer parecer um amador.
Ela revirou os olhos.
— Até parece. Você está esquecendo que sou uma novata completa nisto?
— Você sabe o que dizem sobre sorte de principiante, — ele respondeu.
Mesmo quando disse isso, fez uma promessa de que não importa o quanto ela fosse ruim,
iria garantir que ele fosse pior. Não havia nenhuma maneira que ele tirar este momento dela. E
para ser honesto, queria muito ver sua excitação quando ela chutasse a bunda dele atirando
pedras. Algo que nenhum de seus irmãos nunca tinha sido capaz de fazer melhor do que ele.
*****
— Você está pronta? — Joe perguntou a Zoe enquanto estavam na doca com vista para o
Lago Kentucky.
Ela agarrou a pedra lisa e plana, esfregando-a com o polegar enquanto rezava para não fazer
um enorme papel de tola.
— Sim, — disse, com mais confiança do que sentia.
Mas, então, quem se importava se ela errasse? Ela errou em tantas coisas, e pelo menos
desta vez se divertiria. Mal podia conter a excitação enquanto considerava a melhor técnica.
Inclinou a cabeça, estudando qual o ângulo que lhe daria uma melhor chance de sucesso,
flexionando o pulso enquanto se preparava para fazer a primeira tentativa.
Como se pudesse ler sua mente, Joe falou. — Está tudo no pulso. Você quer girar sua mão
para o lado e lançar, não jogar, a pedra em um ângulo onde ela atingirá a superfície no lado liso.
Ele se moveu para trás dela, deslizando a mão pelo seu braço para segurar a dela, girando-a
e, em seguida, flexionando o pulso em um movimento para frente.
— Assim, — disse ele. — Não muito suavemente, mas não muito forte.
Ela estremeceu, súbita consciência de seu toque pegando-a desprevenida, mas sem alarmá-
la. Com ele, ela se sentiu... Segura. O que só provou que ingênua idiota ela era, já que tinha
pensado a mesma coisa sobre Sebastian.
Bateu a porta sobre as memórias antigas antes que assumissem e arruinassem o que tinha
sido um dia espetacularmente incrível. Joe não era Sebastian, e pensar assim não era ser uma
idiota sem noção. Sebastian nunca arriscaria a vida dele por um completo estranho. Não faria o
trabalho de sua vida ajudar outros em necessidade. Ele era um idiota egoísta, egocêntrico, e ela
tinha apenas a si mesma para culpar por não reconhecer tudo muito mais cedo. Certamente antes
de lhe dar sua virgindade.
Estremecendo, mais uma vez desligou a linha de raciocínio e focou no aqui e agora. Não era
mais aquela pessoa. Stella Huntington já não existia. Talvez nunca existiu. Ela foi moldada para as
expectativas de outra pessoa desde o nascimento, nunca permitiram que fosse quem ela queria
60
Maya Banks
KGI 11
ser. Zoe Kildare era quem Zoe queria que ela fosse, e agora, mais do que tudo, queria ser o tipo de
mulher que vivia o tipo de vida que tinha experimentado hoje.
Percebendo que Joe estava esperando por ela, mirou com cuidado, posicionando o pulso e
deixou-a voar. Prendeu a respiração quando a pedra atingiu a superfície e, em seguida, para sua
surpresa, não afundou ou fez um respingo enorme. Ela pulou! E continuou a pular!
Uma, duas, três vezes. Meu Deus! Quatro, cinco, seis, sete!
Jogou as mãos sobre a boca e depois saltou para cima e para baixo como uma animada
criança de dois anos de idade.
— Eu consegui! Eu consegui!
Em seguida, se lançou nos braços de Joe, quase derrubando-os no deque. Eles os firmou, e
ela o apertou tão forte quanto podia.
— Obrigada, — sussurrou. — Este foi o melhor dia de todos os tempos.
Quando se afastou, os cantos dos olhos dele se enrugaram e calor entrou em seu olhar de
uma maneira que ela podia jurar que sentia em todo seu corpo até os dedos dos pés. Ele tinha
esses belos olhos castanhos. Olhos que poderiam ser sombrios, mas também ternos e engraçados.
Na superfície, parecia um homem tão simples, como se o que você viu fosse o que você tem, mas
ele era muito mais.
— Agora é sua vez, — disse sem fôlego, entregando-lhe uma das pedras escolhidos de seu
esconderijo.
— Eu não sei. Você foi muito impressionante. Não quero me envergonhar, — ele brincou.
Ela revirou os olhos. — Oh, por favor. Sua pedra provavelmente vai percorrer todo o
caminho desse bendito lago.
Ele fez um show de preparação assumindo a mesma postura que a instruiu a tomar. Sua
respiração ficou presa na garganta e ela suavemente contou baixinho enquanto a pedra seguia um
caminho semelhante ao dela.
Em seguida, mergulhou os dois punhos no ar e girou como uma idiota.
— Tome essa Sr. Eu-fiz-pedras-saltarem-toda-minha-vida. Eu venci por um!
Ela não tinha ideia do que era mais quente em sua pele, o sol ou o olhar dele. Então ele abriu
um largo sorriso, dentes brilhando e não era mais uma questão do que a aquecia. Quem precisava
de sol quando tudo que esse homem tinha que fazer era olhar e sorrir?
Ele ergueu a mão para cumprimentá-la e em seguida, levantou o outro punho para bater nas
juntas dos dedos dela. Prazer impregnava seu rosto, encharcando até mesmo a corrente
sanguínea. Por uma preciosa tarde roubada ela foi autorizada a retirar-se da realidade de suas
circunstâncias, e pela primeira vez experimentava a alegria de ser parte de algo maior do que
qualquer coisa que já tinha imaginado.
Sim, Rusty a seduziu com histórias de ela e seus irmãos e suas vidas nesta pequena cidade
no Tennessee nas margens do Lago Kentucky, mas com toda a honestidade, Zoe nunca realmente
entendeu. Quem realmente vivia esse tipo de vida? Tinha sido tão estranho para ela que assumiu
que Rusty embelezava aquelas estórias. Afinal, ela era boa contadora de histórias. Em Zoe ela
encontrou um público cativo, porque embora as duas mulheres compartilharam infâncias
similares, desprovidas de qualquer superabundância de amor ou carinho, ao contrário de Rusty,
61
Maya Banks
KGI 11
ela tinha continuado essa existência em sua vida adulta, sem saber que algo tão raro sequer
existia.
Uma parte dela queria que Rusty tivesse exagerando o vínculo que a família Kelly tinha
porque esse vínculo enfatizava muito bem o ambiente estéril e austero ao qual foi submetida,
graças a uma mãe que simplesmente foi embora sem olhar para trás e um pai que estava mais
interessado em um robô que pudesse ser programado do que criar uma filha.
Suspirou, virando-se mais uma vez para fitar o lago, forçando seu olhar faminto a se afastar
de Joe e tudo o que viu em seus olhos que ela não tinha. Soltou um suspiro melancólico e abraçou-
se, simplesmente absorvendo o esplendor do início do verão no lago Tennessee.
Estava muito quieta quando uma mão forte se envolveu delicadamente em torno de sua
nuca, oferecendo-lhe um aperto suave.
— Foi divertido chutar a minha bunda? — Joe perguntou levemente.
Estava com muito medo de olhar para ele, sabendo o quanto deveria parecer destroçada
neste momento. Os cantos de sua boca inclinaram para cima em um fantasma de sorriso
enquanto tentava levantar o véu de melancolia que lentamente se estendera sobre ela como um
nevoeiro. Ele iria fazer perguntas. Perguntas que exigiam respostas que ela mesma sequer sabia
ou queria saber.
Então virou o triste sorriso para ele, as palavras derramando fora do peito, apesar de seu
desejo de não querer falar.
— Não é patético que um dos destaques da minha vida foi pular uma pedra perfeitamente
lisa que encontrei enquanto brincava com os tornozelos mergulhados em um riacho com o jeans
enrolado, em uma doca com vista para uma das paisagens mais lindas que já vi? Tudo depois de
ter o mais maravilhoso?
A mão dele se imobilizou e logo depois o polegar roçou sobre a pele sensível atrás da orelha
dela. Fechou os olhos quando ele se inclinou para ela e apertou os lábios em sua têmpora.
— Faz-me mais patético que um dos destaques da minha vida foi ensinar uma mulher linda
com os pés descalços e jeans enrolados como saltar essa pedra sete vezes sobre o lago, tudo isso
enquanto desfruta uma das vistas mais bonitas que eu já vi?
Seus olhos se arregalaram e ela girou, olhando para ele em choque. De repente ele estava
tão sério quando todo o dia estivera tão alegre e provocante. Sinceridade irradiava de sua
expressão e seus olhos jamais se afastaram do seu perfil, dando uma indicação clara de qual vista
ele estava se referindo.
A marca quente dos dedos em seu pescoço permaneceu muito tempo depois que ele se
afastou.
— Eu deveria levá-la de volta para casa, — disse em voz baixa, enquanto o sol mergulhava
mais baixo no horizonte. — Mamãe terá o jantar pronto em breve e não estará feliz se eu não
levá-la de volta a tempo.
Ele pegou a mão dela, como tinha feito no início do dia, e voltaram para a caminhonete em
silêncio. Seu charme fácil e riso pronto, tão prevalente durante toda a tarde, foram agora
substituídos por um estado de espírito silencioso, quase taciturno, embora ele fizesse uma
tentativa óbvia de sorrir cada vez que ela olhava em sua direção.
62
Maya Banks
KGI 11
Quando pararam na casa da mãe dele, poucos minutos depois, uma dor permanente parecia
incutida em seu peito. Afortunadas. Essas pessoas tinham tanta sorte de ter a vida que tinham.
Por ter tantas pessoas que amavam e se preocupavam com elas. Que as coisas simples,
evidentemente, não eram consideradas como garantidas.
A vida simplesmente parecia se mover em um ritmo mais lento aqui e a declaração contra a
explicação de Rusty, e agora de Joe, de que ele e seus irmãos faziam para viver parecia ridícula.
Sem dúvida, eles argumentavam que esquivar-se de balas e bombas, proteger as pessoas em
perigo e trazer justiça para aqueles que poderiam corromper o modo de vida que os Kelly
estimavam tanto, dificilmente poderia ser considerado um ritmo mais lento, mas este lugar, essas
pessoas, pareciam desafiar isso, enviavam uma mensagem para o mundo exterior.
E acima de tudo, eles responderam seu chamado, sem permitir que a crescente corrupção
acelerada do mundo exterior e a resignação da humanidade e aceitação através da extinção de
crenças fundamentais, uma vez valorizados por tantos outros no mundo, infringissem o modo de
vida que consideravam tão sagrado.
Pessoas como os Kelly simplesmente não existem fora dos filmes e da ficção popular.
Pessoas e lugares como os quais Zoe conheceu em seu curto período de tempo aqui com Rusty
foram pensados para os tempos anteriores, não atuais ou relevantes. Ela mesma provavelmente
teria rido, incrédula sobre uma descrição do que agora testemunhava em primeira mão,
descartando-o como uma simples nostalgia de algo criado por pessoas que viveram décadas antes
da explosão da tecnologia moderna.
Em outras palavras, lugares onde pessoas como estas eram apenas mitos.
Só agora que Zoe tinha experimentado, sentido, provado, ela desesperadamente não queria
perder. Quando o mundo real se intrometesse e dane-se, esse momento iria chegar, sabia que se
sobrevivesse a inevitável colisão, nada seria o mesmo para ela novamente. Nada em sua vida até
agora nunca tinha sido real.
Quase riu alto enquanto Joe parava no topo dos degraus da varanda. Aqui estava ela,
pensando um pouco sabiamente que pessoas como os Kelly não existiam na ficção exterior,
quando toda a sua vida tinha sido nada além de um palco, realidade alternativa inventada, e,
como resultado, ainda não tinha a primeira pista de quem ela era ou qual era seu propósito.
— Obrigada por hoje, — disse educadamente quando ele se virou para encará-la.
Mantinha-se distante, sabendo que nunca experimentaria outro dia como este, e por isso,
trancou-o, determinada a protegê-lo e estimá-lo. Entretanto, não estava prestes a transmitir o
fato de que queria rastejar sob as cobertas e, depois de puxá-las sobre a cabeça, chorar pelo que a
sua vida nunca foi e nunca poderia ser.
Capítulo Onze
Joe estava em casa há apenas alguns minutos quando ouviu uma batida na porta. Soltou um
gemido e passou a mão pelos cabelos. Estava tentado a fingir que estava no chuveiro ou
63
Maya Banks
KGI 11
indisposto ou que tinha ido para a cama e não ouviu a batida. Mas se fosse um de seus irmãos
intrometidos eles não desistiriam. Ele poderia muito bem desistir agora antes que as coisas
saíssem de controle.
Caminhou até a porta, desejando ter pelo menos tempo para tomar banho. Estava ridículo
com a calça ainda enrolada e as botas sem meias. As barras da calça jeans ainda estavam úmidas
de quando ele andou pela água do riacho pegando pedras com Zoe, e sabia que quem estava do
outro lado da porta não perderia um único detalhe de sua aparência.
Abriu a porta e ficou surpreso quando viu Shea ali parada, seu irmão gêmeo, Nathan,
agarrado a ela.
Shea sorriu para ele e ele não pôde deixar de corresponder ao sorriso. Adorava sua cunhada.
— Olá, Joe. Espero que você não se importe por aparecermos sem avisar.
Joe a puxou para um abraço e então a levantou e a girou para dentro, depositando-a na
entrada. Deixou cair um beijo em sua bochecha e bagunçou seu cabelo quando se afastou.
— Claro que não, querida. Estou sempre contente de ver minha cunhada favorita e seu
marido pé no saco.
Nathan bufou, e assim que Joe se virou para cumprimentar o irmão gêmeo, Nathan o
golpeou no ombro com o punho.
— Desligue o flerte. Ou encontre a mulher de outra pessoa para flertar. Ela já foi
reivindicada.
Joe revirou os olhos.
— Como se todos no mundo não soubessem disso. Caso tenha escapado ao seu
conhecimento, a pobre mulher desorientada só tem olhos para você, embora me faça questionar
seu julgamento nos homens. Claramente eu teria sido a melhor escolha.
Shea riu e deslizou um braço esguio em volta da cintura de Joe, apertando-o afetuosamente.
Nathan franziu o cenho e gentilmente tirou o braço de sua esposa da cintura de Joe e então
envolveu os próprios braços ao redor dela, segurando-a para que não pudesse escapar.
— Vamos entrar. — Joe disse enquanto se dirigia para a sala. — Posso pegar alguma coisa
para vocês?
— Shea queria vir visitar, — Nathan disse.
Por cima da cabeça de Shea, o olhar de Nathan conectou-se ao de Joe, enviando um sinal
silencioso para ter cuidado. Joe revirou os olhos novamente. Como se ele não tratasse Shea com o
maior cuidado. Sempre compartilhou um vínculo especial com a esposa de seu gêmeo, e estava
grato por isso, por mais inexplicável que fosse.
Shea era dotada de talentos extraordinários. Habilidades que tornaram possível para ela se
conectar telepaticamente com Nathan quando ele estava preso nas montanhas afegãs sofrendo
horrível tortura. Não só o mantivera são, recusando-se a deixá-lo desistir da esperança, mas
também tomara sua dor e tortura como dela. Ela apropriara-se dessa dor e, como resultado,
sofrera por ele, um fato que ainda fazia Nathan quase perder a cabeça quando pensava
novamente sobre isso.
Ela era uma das mulheres mais fortes que Joe já conheceu e isso dizia muita coisa dada a
força de todas as esposas de seus irmãos. E as esposas dos companheiros de equipe. Os homens
64
Maya Banks
KGI 11
da KGI foram abençoados sem medida por encontrar mulheres tão ferozes quanto eles,
possuidoras de determinação de aço e uma feroz recusa em se deixar abater ou desistir. Não tinha
dúvidas de que essas mulheres salvaram seus irmãos e companheiros de equipe tanto quanto
afirmavam que seus maridos as salvaram.
Sem Shea, Nathan estaria perdido para eles. Como Swanny, que estivera preso com ele e
que sofrera tanto quanto. Joe nunca seria capaz de reembolsá-la pelo presente que ela deu a seu
irmão. Voltar para casa, onde ele pertencia. Agradecia a Deus todos os dias por ela e orava para
que a mulher com a qual ele, um dia se envolvesse e se casasse, possuísse ao menos uma fração
do espírito, ferocidade e generosidade de Shea.
— Eu sabia que você não conseguiria ficar longe. — Joe brincou. — O meu irmão tem sido
um ranzinza arrogante ultimamente? Quer que eu dê um jeito nele para você?
Shea revirou os olhos e riu. Então baixou o olhar e torceu as mãos nervosamente. Ele
imediatamente percebeu seu desconforto e ergueu o olhar preocupado para Nathan,
perguntando sem palavras que diabos estava acontecendo.
Os lábios de Nathan se comprimiram em uma linha sombria e ele balançou a cabeça,
sinalizando em direção a Shea, e então simplesmente encolheu os ombros, dizendo que o que
quer que fosse que estava incomodando sua esposa, ela não dissera a Nathan ainda. O fato de ela
ter pedido para vir aqui, para conversar com Joe, o preocupava pra caramba porque Nathan e
Shea eram muito íntimos. Duas metades de um todo. Almas gêmeas verdadeiras, e Joe nunca
acreditara nesse conceito antes dela, mesmo tendo testemunhado Ethan, Sam e Garrett se
apaixonarem profundamente por suas esposas.
Joe foi até Shea, pegando sua mão e desenrolando os dedos antes de envolver a mão ao
redor delas. Guiou-a até o sofá e sentou-a ao seu lado. Nathan se acomodou do outro lado dela, a
mão indo imediatamente para o ombro.
— O que há aconteceu querida?
— Eu sei que você passeou com Zoe hoje, — ela disse hesitante.
A sobrancelha de Joe franziu e ele olhou de novo para seu irmão em questionamento. Por
que diabos levar Zoe em algum lugar causaria tanta aflição a Shea?
— Não é da minha conta o que há entre vocês, — ela correu a dizer antes que Joe pudesse
interpor suas perguntas. — Não é por isso que estou aqui e não quero que pense que estou sendo
intrometida. Eu não faria isso com você. Posso provocá-lo sobre sua eventual queda, mas sei o
quanto você valoriza sua privacidade e o quanto te incomoda quando todo mundo começa a te
provocar sobre encontrar a mulher de sua vida, e é por isso que tudo que vou fazer é apenas
provocar você um pouquinho.
Ele estava ficando cada vez mais confuso a cada minuto, e Nathan não parecia mais
iluminado do que ele.
— Querida, sei que você não é bisbilhoteira e que está apenas brincando comigo quando me
persegue sobre encontrar uma esposa e me estabelecer, — Joe disse em seu tom mais gentil. —
Mais do que qualquer pessoa, você sabe como me sinto próximo de você e Nathan. Como eu não
poderia? E por essa razão, nunca me importaria se você ou Nathan se intrometessem, nem me
importaria que você soubesse sobre qualquer relacionamento que eu possa um dia ter. Agora o
65
Maya Banks
KGI 11
que está acontecendo aqui, querida? Você está me preocupando, e se você continuar assim,
Nathan vai ter um treco. Ele já parece que está prestes a reorganizar a minha sala de estar, porque
está mortalmente preocupado sobre o que está incomodando você agora. E eu também. —
acrescentou suavemente.
— Você contou a ela algo sobre mim? — Ela perguntou. — Sobre minhas habilidades?
— Claro que não. Você sabe que eu nunca exporia você ou Grace a um estranho. Ninguém
na família o faria. Espero que não esteja preocupada com isso.
Ela balançou a cabeça.
— Você não entendeu. Eu precisava saber se ela já sabia, porque se não sabe, não quero que
você diga nada para ela por que...
Ela parou e olhou para baixo, uma preocupante carranca franzindo seus traços delicados.
— Por que, querida? — Nathan perguntou, inclinando-se para frente para poder olhar para
ela. Ele estava prestes a sair do sofá, e Joe sabia que a paciência de seu gêmeo estava diminuindo.
Quando se tratava de algo que perturbasse Shea, Nathan derrubaria a maldita casa para obter
respostas para que pudesse resolver o problema.
Ela suspirou, a expressão ficando mais tensa, os olhos parecendo cada vez mais infelizes.
— Eu me conectei a ela durante o churrasco, — ela sussurrou. — Pelo menos acho que foi
ela. Tinha que ser, certo? Quero dizer, nunca fui capaz de me conectar com mais ninguém na
família exceto vocês dois, e ela era a única lá com quem eu não tinha estado antes.
Joe e Nathan trocaram olhares preocupados e Joe respirou profundamente.
— O que você viu, querida? — Joe perguntou, tentando esconder a súbita onda de
ansiedade em sua voz. Seu pulso se acelerou imediatamente e o suor se formou na testa. Ele
percebeu que estava... Assustado. Com medo do que Shea poderia lhe dizer, mas ao mesmo
tempo, se ela tivesse visto os pensamentos de Zoe, então poderia dizer o que ele queria saber.
Mais importante ainda, ela seria capaz de dizer por que diabos Zoe estava tão assustada.
— Eu não vi nada, — ela disse, os ombros cedendo.
Nathan a puxou para seus braços, o olhar cheio de preocupação por sua esposa.
— Foi muito ruim? E por que não me disse quando aconteceu? Droga, Shea. Devia ter me
dito no momento em que aconteceu para que eu pudesse te tirar de lá.
Ele podia entender o ponto de vista de Nathan. Nunca foi fácil para Shea se conectar com
outra pessoa. Era uma experiência extremamente esgotante, que minava suas forças e a deixava
extremamente vulnerável. Para não mencionar a dor que causava se ela tentasse ajudar a outra
pessoa mesmo assim.
— Mas eu senti... — Ela parou, e seus olhos estavam preocupados enquanto olhava para
Joe. — Eu senti o medo dela, Joe. Foi esmagador e tão sufocante que pensei que eu ia desmaiar.
O aperto de Nathan se intensificou em torno da esposa e sua expressão era uma mistura de
medo, raiva e preocupação.
— Eu não queria me intrometer ou invadir a privacidade dela, — ela disse rapidamente. —
Espero que saiba disso, Joe. Eu nunca faria isso à família ou a um hóspede da família.
Joe estendeu a mão para tocar sua bochecha.
66
Maya Banks
KGI 11
— Shhh, querida. Eu sei disso. Todos nós sabemos. Você acabou de dizer isso. Você não
pode escolher a quem se conecta. É aleatório e fora do seu controle. Mas por que está tão
preocupada que eu tivesse dito algo a Zoe sobre suas habilidades se você não viu coisa alguma na
mente dela?
Shea estendeu a mão para Joe, segurando-a com tanta força que as unhas pequenas
cavaram dolorosamente em sua pele. Duvidava que ela sequer percebesse a urgência que estava
irradiando. Ele e Nathan podiam sentir sua agitação. Era a primeira vez em muito tempo que o
caminho mental entre ele e Shea estava aberto. Também duvidava que ela estivesse ciente disso e
o incomodava que sua experiência com Zoe a tivesse deixado tão mal que ela sequer percebeu
que estava transmitindo alto e claro para os dois irmãos. Nathan era compreensível. O caminho
estava sempre aberto entre os dois, e como resultado, Nathan sempre soube se Shea estava
sentindo qualquer tipo de dor ou angústia, se estava com medo ou em apuros. Mas esse não era o
caso com Joe.
Exceto...
— Espere um segundo. — disse Joe, olhando rapidamente para seu irmão para ver se ele já
tinha entendido o que ele entendeu. Julgando pela tensão em sua expressão, ele tinha. Ou estava
chegando lá pelo menos.
Shea olhou para Joe em questionamento.
— Por que Nathan não soube quando isso estava acontecendo? — Ele perguntou.
— Essa é uma boa pergunta. — Nathan rosnou.
A cor subiu nas bochechas de Shea e ela baixou os olhos para não olhar para nenhum dos
irmãos.
— Shea? — Nathan perguntou. — Baby, por que você escondeu isso de mim? Não gosto da
ideia de você experimentar algo assim, quando esse era o último lugar que você esperava que algo
parecido acontecesse, e especialmente quando acabou de dizer que se sentiu tão sufocada a
ponto de pensar que iria desmaiar. Por que você se fecharia para mim assim?
Uma ponta de dor tingiu a voz de seu irmão e o peito de Joe se apertou em resposta.
Ninguém, além de Joe e Shea, sabia a batalha que Nathan ainda lutava com seus demônios. Que
ainda havia noites em que ele não dormia e noites em que dormia, mas era assombrado por
pesadelos. Um dos maiores pesadelos é o de perder Shea. Era por isso que precisava dela por
perto sempre, mesmo quando estavam fisicamente separados. A conexão telepática que
compartilhavam significava que ela estava em sua cabeça o tempo todo como ele estava na dela.
Mantinha Nathan firme e seguro, por que ele precisava saber em todos os momentos que a
mulher que ele amava mais do que a vida estava segura, especialmente quando estava longe dela
em uma missão por um período de tempo indefinido.
O fato de ela ter se fechado para ele era como uma rejeição para Nathan, e Joe se
preocupou com o que isso faria para a batalha que ainda ardia dentro dele. E o que faria com o
relacionamento do irmão e da cunhada. Deus os ajudasse se Nathan perdesse Shea. Ele não
sobreviveria. O que um bando de malditos bastardos terroristas não conseguiu fazer com seu
irmão, quebrá-lo, impedi-lo de voltar para casa, terminar sua vida... Seria realizado se ele tivesse
que viver sem Shea.
67
Maya Banks
KGI 11
O aperto de Joe em torno da mão de Shea se intensificou, enquanto que até então, ela era a
pessoa com o aperto de morte. Quando ela estremeceu, ele prontamente a soltou, praguejando
baixinho.
— Desculpe Shea. Não queria te machucar. Você está transmitindo, querida, e é muito
intenso.
Ela franziu a testa e de repente ele não a sentiu mais. Foi abrupto e uma sensação não
agradável quando ela repentinamente terminou a comunicação, mesmo se não tivesse sido
consciente. Joe poderia entender a dependência de Nathan por Shea como uma sombra constante
em sua mente e por que o preocupava que ela tivesse fechado aquele caminho íntimo no
momento em que sentira as emoções de Zoe. Só esperava que ele não tivesse dado a Shea a ideia
errada com seu suave comentário de ela estar se comunicando com ele por seu caminho mental e
não apenas com Nathan. Na verdade, queria que ela se afastasse antes que ela visse e sentisse a
força de seus próprios pensamentos.
— Eu nunca quis te machucar, — Shea disse suavemente enquanto se virava para Nathan, os
braços envolvendo o pescoço dele.
Nathan a esmagou contra ele, enterrando o rosto em seu cabelo.
— Eu sei baby. Só me deixa louco pensar em você sofrendo e eu não sabendo ou
compartilhando isso com você.
— Eu não queria fazer uma cena, — ela disse, a voz ainda baixinha. — E, acima de tudo, não
queria que Zoe soubesse ou que alguém tivesse que explicar isso a ela. Ainda não quero que ela
saiba. Ela está tão assustada, Joe, e se souber que eu agora tenho um caminho em sua mente,
poderia assustá-la ainda mais e acho que ela poderia fugir.
— Você percebeu algo além do medo dela? — Joe perguntou com cuidado.
Ela se afastou de Nathan e balançou a cabeça enquanto voltava sua atenção para Joe.
— Não senti esse tipo de medo desde o que aconteceu quando eu fui levada... Daqui, — ela
disse, a voz se embargando enquanto invocava a lembrança de seu sequestro. — E quando fiquei
conectada naqueles horríveis eletrodos e incapaz de falar com Nathan ou com você. Não tenho
ideia do por que ela está tão apavorada, mas estava paralisada com isso. Estava transmitindo tão
poderosamente que eu estava impotente para fazer qualquer coisa até que finalmente consegui
força suficiente para fugir dela. Foi... Incapacitante.
Nathan praguejou e Joe acrescentou sua própria quantidade silenciosa de maldições. Por
que sua cunhada sofrera por algo que ela não pediu e não podia controlar e também por que sua
avaliação de Zoe estava certa. Ela estava terrivelmente aterrorizada. Tão assustada que seu medo
foi a única coisa que Shea captou quando foi assaltada pela força da sobrecarga mental de Zoe.
O celular de Joe tocou, e ele ia silenciá-lo, mas viu que a chamada era de Donovan.
— Dê-me só um segundo, Shea. Tente relaxar por mim. Vamos descobrir isso, querida. Não
quero que você se preocupe. É Van no telefone.
Ele se levantou e propositadamente colocou vários metros de distância entre ele, Nathan e
Shea, de modo a dar-lhes privacidade. Nathan ficou abalado pelo que Shea contara e precisaria de
alguns minutos para se acalmar.
— Ei, Van. — cumprimentou enquanto respondia a chamada.
68
Maya Banks
KGI 11
— Fiz o que me pediu e escavei o passado de Zoe. — disse Van, a voz não traindo nada, o
que devia confortá-lo, mas à luz do que ele já sabia e Shea tinha acabado de confirmar, estava
tudo menos tranquilo.
— E?
— Não é nada fora do comum, embora ajudasse saber o que eu deveria estar procurando
além de que ela foi ferrada por algum ex-namorado idiota.
— Conte-me o que você encontrou. — disse Joe impaciente.
— Nada. É a criança do cartaz de uma vida quieta, não muito colorida. Ela tem vinte e seis
anos, não tem família, mora sozinha, se formou na DePaul University há um ano com mestrado em
administração de negócios. Pagou pela escola como um monte de alunos que não têm apoio
familiar ou bolsas de estudo. Com empréstimos estudantis, que ela vai começar a reembolsar
daqui a alguns meses. Teve uma ampla gama de empregos de meio período e de fim de semana
durante o período escolar. O suficiente para pagar o aluguel e outras poucas coisas, mas não
muito mais. Não é muita ativa nas mídias sociais. Pelo pouco que consegui, ela não parece muito
ativa.
Joe franziu o cenho.
— Acho que isso responde à pergunta de por que nunca a vimos ou a conhecemos antes.
Assumimos quando Rusty disse que ela era uma amiga que ela a conheceu enquanto estava na
universidade, que Zoe tinha ido para UT também. Mas se ela foi para a escola em Chicago, então
aparentemente elas tinham uma amizade de longa distância.
— Isso também explicaria por que Rusty a teria convidado para ficar em nossa casa por um
tempo indefinido. Imagino que elas não tenham se visto muito e se Zoe acabou de sair de um mau
relacionamento, é lógico que precisaria de uma amiga como Rusty.
Joe assentiu, distraído enquanto olhava para Shea. Tomando uma decisão imediata, fechou
a boca. Estava prestes a contar a Van sobre Shea, mas não queria preocupar o resto da família
desnecessariamente. Não até que soubesse com certeza que tinham algo com que se preocupar.
Bastava ter o apoio de Nathan.
— Ok, obrigado, Van. — murmurou.
— Você encontrou alguma coisa hoje? — Van perguntou.
Joe fez uma careta. Tinha esperado sair do assunto de seu encontro com Zoe. Como se fosse
possível. Estava preocupado que todas as esposas estivessem na sua cola e na de Zoe - junto com
a mãe - mas eram seus irmãos que provavelmente seriam os mosquitos irritantes.
— Só que ela tem zero autoconfiança, não pensa muito de si mesma como mulher e está
com medo.
— Não sei o que dizer cara, — disse Donovan. — Até que ela confie em você não há muito
que você possa fazer para tranquilizá-la. Aceite a opinião de quem já passou por isso, é melhor
esquecer todas as besteiras sobre tempo e espaço e respeitar as fronteiras. A primeira coisa que
você tem a fazer é certificar-se de que ela pode confiar em você, e isso não vai acontecer a
primeira vez que você disser para ela confiar. Mas se combinar isso com também tentar levá-la a
confiar em você sobre o que ela tem medo, então espero que você consiga desarmá-la. Pressione,
69
Maya Banks
KGI 11
mas não seja idiota. E, enquanto isso dê a ela o máximo de atenção possível. Ela vai descobrir que
você não vai machucá-la.
— Você parece tão certo sobre isso, — Joe disse secamente. — Não sei se devo estar
constantemente no espaço dela. Isso poderia enviar todos os sinais errados, e não quero que isso
aconteça.
— Não tenha a cabeça presa na bunda para que não reconheça a mulher da sua vida quando
ela está bem debaixo do seu nariz. — repreendeu Donovan. — Se você insistir em viver em
negação e acabar machucando-a porque estava apenas sendo um idiota teimoso, você nunca vai
perdoar a si mesmo por rejeitá-la. Sem mencionar, se você deixar claro, depois de tentar tão
duramente fazê-la confiar em você, que não tem interesse nela, então ela irá embora e você
nunca mais conseguirá trazê-la de volta.
Um nó se formou no estômago de Joe e seus dedos se apertaram em punhos diante do
pensamento de Zoe indo embora e ele nunca mais a vendo.
— Vou ter isso em mente, — disse antes de terminar o telefonema.
Voltou para onde Nathan e Shea estavam sentados. Deslizou para o sofá no outro lado de
Shea e esfregou a mão sobre o topo da cabeça dela.
— Eu pedi a Van para verificar o passado de Zoe, e ele não encontrou nada.
Shea se mexeu, os olhos cheios de seriedade enquanto olhava para ele.
— Não estou errada, Joe. Ela tem medo de alguém ou de alguma coisa.
— Eu sei querida. — disse, apertando o joelho dela.
— Não quero me intrometer. — ela continuou. — Eu prefiro ficar longe dela, a menos que
eu receba alguma advertência para me preparar para algo desagradável. Eu não me sentiria no
direito de divulgar algo se ela não confiou em um de nós o suficiente para nos dizer.
— Concordo. — disse Joe. — Ela me dirá quando estiver pronta.
— Você parece certo disso, — disse Nathan, com uma sobrancelha arqueada em
questionamento.
Joe encolheu os ombros.
— Não vou dar muita escolha a ela.
— Eu não achava que vocês estavam prontos para algo assim, — Shea murmurou.
— É ela quem não está pronta — Joe respondeu, percebendo naquele instante que era
verdade. — Eu fiquei pronto no minuto em que coloquei os olhos nela.
Isso também era verdade. Ele simplesmente não quisera que fosse. Agora? Não conseguia se
lembrar de um único argumento que tivesse saído de sua língua no passado para saber por que
deveria permanecer solteiro. O único problema era, esta não era uma jogada garantida. Longe
disso. Zoe não iria cair em seus braços, e tampouco aceitaria que um homem que ela só encontrou
duas vezes a queria para sempre.
Inferno, ele estava tendo problemas suficientes para aceitar isso pelos dois. Não, o problema
não era aceitar - ele aceitou muito bem. O problema era acreditar que se apaixonou tão fácil
quando, durante tanto tempo, lutou contra a ideia. Por mais que odiasse admitir, todos os irmãos
tinham razão quando diziam que ele saberia quando a pessoa certa entrasse em sua vida. Bem,
70
Maya Banks
KGI 11
agora sabia, e o que o assustava era que saber era uma coisa. Fazer isso acontecer era uma luta
completamente diferente. Uma que ele não tinha intenção de perder.
Capítulo Doze
Na manhã seguinte, Joe acordou com um único propósito. Não tinha dormido muito.
Antecipação e nervosismo lotaram sua mente e lutaram por igual atenção até que os dois
nadaram juntos e fizeram uma confusão. Ele formou e reformou seu plano de ataque uma dúzia
de vezes, mas cada vez, se reduziu a um único objetivo. Passar outro dia com Zoe não importa
como iria fazer isso acontecer.
Sabendo que horas sua mãe sempre preparava o café da manhã, Joe se levantou depois de
cochilar por algumas horas, tomou banho e se vestiu, uma sensação de urgência o atingindo.
Enquanto caminhava pelo ar frio da manhã, sentiu-se revigorado. Sua pele começou a picar e a
pressão arterial aumentou mais que nunca. Antecipação de vê-la novamente, de desvendar mais
do mistério que era Zoe Kildare, continuou incessantemente até se tornar completamente
consumidor. Uma obsessão.
Os poucos minutos que levou para entrar no complexo e estacionar em frente à porta de sua
mãe não lhe deu tempo para formular seus pensamentos melhor do que a noite inteira. Nem
sabia o que ia dizer ainda.
Deixou-se entrar pela porta da frente e cheirou o ar apreciativamente. Panquecas e bacon, a
menos que suas narinas estivessem erradas, e elas raramente estavam quando se tratava de
identificar o que sua mãe estava cozinhando. Deus sabe que ele teve anos para aperfeiçoar suas
suposições usando apenas seu nariz e o estômago rosnando como guia.
— Joe! — Sua mãe exclamou quando ele entrou na cozinha.
— Tem o suficiente para um mais? — Perguntou esperançoso.
Ela revirou os olhos.
— Não tenho sempre? Nunca sei quem vai aparecer no café da manhã, então sempre faço
muito. Seu pai continua resmungando que eu faço muita comida, mas nunca reclama quando isso
significa que ele pode repetir. Claro que só sirvo metade do que é permitido, então ele acha que
está levando vantagem quando concordo que ele repita.
Ele riu e abraçou sua mãe. Desde o ataque cardíaco do pai vários anos antes, sua mãe tinha
tomado as rédeas da dieta e atividade física de seu pai, forçando-o a trabalhar menos horas na loja
de ferragens, o que inevitavelmente significava contratar ajuda em tempo parcial ou depender de
um membro da família para cobrir sua folga.
— O que está na sua agenda hoje? — Marlene perguntou enquanto Joe se sentava no
balcão. — Não pensei que voltaria a vê-lo em menos de uma semana.
O calor subiu por seu pescoço e ele evitou o olhar fixo dela.
— Parei para ver o que as meninas tinham planejado para o dia. Pensei em sair com Zoe de
novo. Não conseguimos fazer tudo o que eu tinha planejado ontem.
71
Maya Banks
KGI 11
Marlene o estudou por um momento e, obviamente, aprovando, sorriu e voltou a misturar o

batedor de panquecas. Por um momento, o único som na cozinha foi o chiado de bacon e o ruído
dela batendo a mistura com uma colher de pau.
— Ela não vai se entregar facilmente, — disse sua mãe em voz baixa. — É uma menina para
ser tratada com cuidado.
— Eu sei, — ele disse tão suavemente quanto ela. Não se incomodou em negar a pergunta
sutil em sua voz. Já tinha passado da fase de negar sua atração por Zoe e o que ela significava para
ele.
— Tenho toda a fé que você vai conseguir conquistá-la, — Marlene disse com um sorriso
suave que aquecia seus olhos e rosto inteiro. — Gosto dela, Joe. Ela é perfeita para você.
— Você não receberá argumentos de mim, — ele voltou. — Mas você e eu não somos os
que precisam ser convencidos. Vai levar muito mais para que ela se abra e confie seu coração a
mim.
Ela sacudiu a cabeça, os olhos repentinamente inundados com lágrimas não derramadas.
— Você não tem ideia de quanto tempo tenho orado pelo dia em que meu último filho fosse
conquistado. É tudo que uma mãe pode pedir. Que seus filhos amem como ela e o marido
amaram por mais de quarenta anos e que sejam abençoados com suas próprias famílias.
— Acho que agora você terá que colocar seus olhos em Rusty, — ele disse gentilmente, para
sacudi-la de sua repentina nostalgia.
Ela bufou.
— Aquela garota vai se mostrar mais teimosa do que todos os meninos juntos.
— A que garota você está se referindo? — Disse Rusty enquanto entrava na cozinha.
— Bom dia querida, — Marlene disse, sorrindo para sua garota mais nova. — Sente-se. Zoe
está vindo para o café da manhã?
Rusty deu uma cotovelada nas costelas de Joe enquanto se sentava em um dos banquinhos.
— Ela deve chegar em cinco minutos. Levantei-me e tomei banho antes dela, mas falei que
você estava fazendo panquecas e como elas eram impressionantes, e acho que a boca dela já está
cheia de água.
Joe estendeu a mão e enganchou o braço ao redor do pescoço de Rusty, puxando-a para
baixo de modo que pudesse esfregar os nós dos dedos acima de sua cabeça.
— É melhor ficar esperta pirralha. Sou maior do que você. Lembre-se disso quando estiver
tentando abusar de mim. Vou comer sua parte do bacon se você não melhorar e mostrar o devido
respeito.
Ela bufou.
— Mexa no meu bacon e morra, velhinho. Suponho que eu deveria ser melhor com você.
Mamãe sempre pregou sobre o respeito pelos mais velhos.
— Sua pequena novilha. Vou te pegar por me chamar de velho. — Ele disse com uma voz
que prometia retribuição.
— Então, o que o traz tão cedo esta manhã? — Rusty perguntou, como se estivesse
percebendo sua presença inesperada.
Ele se moveu desconfortavelmente, observando-a cuidadosamente à espera de sua reação.
72
Maya Banks
KGI 11
— Eu ia perguntar a Zoe se ela queria ter a segunda parte da nossa excursão. Não
conseguimos fazer tudo que estava na lista.
Os olhos de Rusty se arregalaram enquanto ela olhava fixamente para ele.
— Não vou machucá-la, Rusty. — disse calmamente. — Ela sempre estará segura comigo.
— Uau. Quer dizer, puta merda! Quando isso aconteceu? — Perguntou incrédula.
Ele encolheu os ombros.
— Não sei te dizer quando nem mesmo como. Só sei que é assim.
— Caramba! — Ela suspirou. — Ela nunca vai acreditar que eu não a preparei para isso.
— Seria tão ruim? — Ele perguntou, ainda olhando sua irmã mais nova cuidadosamente. —
Eu nunca a machucaria. Nunca deixaria ninguém machucá-la novamente.
Para sua surpresa, os olhos de Rusty se encheram de lágrimas. Ela virou a cabeça e limpou
rapidamente com o dorso da mão.
— Ei, — ele disse suavemente. — Por que isso?
Ela se virou para ele e sorriu.
— Estou feliz por você. Por ela. Mesmo que ela ainda não tenha ideia. Em outras
circunstâncias, seria divertido pra caramba assistir quando ela descobrir que resistir é inútil.
Seus olhos se estreitaram quando ele olhou para Rusty.
— Que outras circunstâncias estamos falando aqui?
— Ela é minha amiga, não apenas uma mulher que chamou sua atenção. Minhas lealdades
estão divididas. Portanto, não posso, em sã consciência, estar completamente ao seu lado neste
caso. Além disso, ela vai precisar de uma aliada. Nesta família, já está previamente determinado
que ela não terá como resistir a você. Não posso deixá-la pensar que não tem ninguém ao lado
dela.
O tom de Rusty era provocador, mas havia algo em seus olhos que o preocupava. Ele não
conseguia descobrir o que. Talvez estivesse tentando ver mais do que havia. De qualquer forma, já
tinha decidido que Zoe seria a única a contar seus segredos a ele. Mais ninguém. Não faria com
que Donovan a examinasse mais, e agora que Shea estava preparada, ela ficaria mais fortificada
quando voltasse a entrar em contato com Zoe.
— Bom dia, — Marlene cantarolou, lançando um rápido olhar de advertência a Rusty e Joe. –
Dormiu bem, querida?
Joe se virou para ver Zoe de pé na entrada da cozinha, o olhar tímido e hesitante.
— Dormi sim. Obrigada, Sra. Kelly.
— Venha e sente-se. O primeiro lote de panquecas será servido em menos de um minuto. E
quantas vezes tenho que dizer para você me chamar de Marlene ou Ma? Qualquer coisa que você
queira, menos Sra. Kelly. Você é da família e não pode ser tão formal. Eu me sinto como uma velha
quando alguém me chama de Sra. Kelly!
Zoe começou a cercar Joe para pegar o banquinho do outro lado de Rusty, mas ele pegou
sua mão, esfregando o polegar sobre o batimento acelerado em seu pulso. Gentilmente puxou-a
para sentar ao seu lado para que ela ficasse entre ele e Rusty.
Ela corou até as raízes do cabelo e parecia tão perfeitamente adorável que precisou se
controlar para não beijá-la naquele momento. Lançando-lhe olhares furtivos, ela se acomodou no
73
Maya Banks
KGI 11
banquinho, a mão ainda capturada pela dele. Ele puxou a mão dela para descansar em cima de
sua coxa e continuou a esfregar o polegar em círculos suaves na pele macia.
— Vim convidá-la para sair comigo novamente hoje. Ainda há muito que não consegui te
mostrar ontem. E se eu for um bom menino, esperava que você me desse uma revanche em jogar
pedras já que você chutou meu traseiro ontem.
Os olhos dela se arregalaram e sua boca se abriu em evidente surpresa.
— Por que você quer passar o dia comigo de novo? — Perguntou, surpresa. Então baixou o
olhar enquanto mais cor subia em suas bochechas. — Você não tem que colocar o seu dia em
espera para ser bom para mim.
Ele teve que respirar profundamente várias vezes para que sua raiva se esvaísse. A ideia de
que ela, de alguma forma, não achava que era boa o suficiente para ele querer sair com ela, que
era algum tipo de caso de pena, enfureceu-o. Queria rastrear o filho da puta que a fizera duvidar
de sua autoestima e tirar as bolas dele.
— Na realidade, estava esperando que você fosse legal comigo, — ele disse tão ligeiramente
quanto podia, levando-se em conta o quanto estava chateado.
Não era o único que percebeu o jeito que ela formulou sua declaração ou constrangimento.
Tanto Rusty como sua mãe estavam visivelmente aborrecidas, embora rapidamente mudassem
suas feições. Sua mãe voltou a bater o próximo lote de panquecas, mas sua mandíbula estava
apertada e ela colocou um pouco mais de força nos movimentos.
— Quero passar o dia com você, Zoe. — disse em voz baixa para que os outros não
ouvissem. — Sei que não tenho que fazer nada, mas ficaria muito feliz se você concordasse em
passar o dia comigo.
Ela finalmente levantou o olhar para encontrar o dele e o que ele viu quase quebrou seu
coração. Seus olhos eram esperançosos e, no entanto, tristes ao mesmo tempo. Quase como se
tivesse se resignado a ser insignificante e indigna dele ou de qualquer homem.
Ele levantou a mão dela à boca e apertou os lábios contra cada um dos dedos. Os olhos dela
imediatamente se arregalaram e um arrepio entrou em erupção sobre seu corpo. Graças a Deus
ela sentia a mesma química que ele. Não estava voando sozinho, nem sua atração era unilateral.
— Diga que vai me tirar da minha tristeza e concordar em passar o dia comigo. — persuadiu.
Seus lábios se separaram e ele quase gemeu ao convite inconsciente. Se ao menos
estivessem sozinhos ele desfrutaria seus lábios sedosos e dedicaria uma hora explorando a
plenitude e suavidade de sua boca.
O sorriso dela era adoravelmente tímido, mas lentamente espalhou o calor em seus olhos
até que o rosto inteiro se acendesse com prazer e excitação. Ele sentiu uma satisfação selvagem
que ela estava começando a entendê-lo.
— Eu gostaria disso, — ela sussurrou. — Mas...
Ele pressionou um dedo em seus lábios, os mesmos lábios que estava morrendo de vontade
de provar.
— Shhh. Sem desculpas. Você e eu. E hoje o dia é nosso. O que acha de fazermos o melhor?
74
Maya Banks
KGI 11
Finalmente, ela acenou com a cabeça, e ele percebeu que estava segurando a respiração
quando seu peito começou a queimar. Lentamente deixou o ar aprisionado sair de seus pulmões,
sentindo-se tão fraco e instável quanto um potro recém-nascido enquanto o alívio o acertava.
Um obstáculo superado. Apenas mais uma dúzia antes de conhecer todos os dragões que
sua dama precisava matar.
Capítulo Treze
— Você tem que me ajudar! — Zoe chiou quando quase arrastou Rusty para o quarto que
compartilhavam.
— Fica calma sis. — disse Rusty. — Sabe que farei tudo o que puder. Você precisa de ajuda
com o que?
— Tudo? O que devo usar? E com isso quero dizer algo que não grite desesperada ou que
estou me oferecendo demais. Casual. Quero dizer, fomos passear e jogar pedras no lago ontem,
então tenho que estar preparada para qualquer coisa, mas não muito casual. Não quero parecer
horrível ou qualquer coisa parecida.
Rusty riu.
— Deixa comigo. Simples, casual e não desesperada. Acho que posso lidar com isso. — Ela
foi para o armário dela e alguns segundos depois afastou a cabeça. — As pernas e axilas estão
raspadas?
— O quê? — Zoe ofegou.
— Espere, — explicou pacientemente. — Tenho um short que ficaria impressionante em
você e um top que seria perfeito, mas não gostaria de mostrar essas pernas se estiverem peludas.
Zoe fechou os olhos em mortificação.
— Sim, já me depilei. Mas você tem certeza? Short?
Rusty lhe enviou um olhar paciente cheio de amor.
— Zoe, você tem pernas assassinas e uma bunda de matar. Vai preencher meu short como
eu nunca pude. Eu esperava que meus anos adolescentes esquisitos fossem apenas isso, anos
adolescentes que eu cresceria. Infelizmente, meu corpo não recebeu esse memorando, e como
resultado, não tenho quadris, nem bunda e nem seios. Já vi varas com um corpo com mais curvas
que o meu.
— Isso não é verdade! — Zoe protestou. — Você é linda, Rusty. Eu queria ser tão alta quanto
você. Você é quem tem pernas assassinas, e seus seios e quadris, para não mencionar o seu
traseiro, estão em perfeita proporção.
Rusty revirou os olhos.
— Não que eu não aprecie as observações, mas é em você que precisamos nos concentrar.
Agora, vai confiar em mim?
Zoe suspirou.
75
Maya Banks
KGI 11
— Você sabe que eu confio. Só queria não estar tão nervosa. Não é como se ele tivesse
algum interesse em mim como mulher.
— Deus salve-me das mulheres inconscientes, — Rusty disse com um suspiro exagerado. —
Agora vamos. Não queremos mantê-lo esperando.
Dez minutos mais tarde, Zoe estava vestida, o cabelo em um coque bagunçado e maquiagem
aplicada levemente em um olhar natural que destacava suas feições de uma forma que mesmo ela
tinha que admitir a fez se sentir... Bonita.
— Vamos, vou te levar. — disse Rusty com um sorriso.
Zoe empurrou os pés em um par de sandálias brilhantes, verificando o esmalte nas unhas
dos pés que ela e Rusty aplicaram na noite anterior quando Zoe contava a Rusty sobre seu
primeiro encontro com Joe. Rosa quente não era uma cor que ela teria usado geralmente, mas
isso a fez se sentir um pouco ousada e ultra feminina.
— Você está linda. — Rusty assegurou.
— Devo estar louca, — Zoe murmurou enquanto permitia que Rusty a rebanhasse pelas
escadas.
— Querida, você sabe disso. Deus sabe que eu já disse o suficiente. Mas você não pode
deixar que aquele idiota controle o resto de sua vida, e certamente não pode dar a ele o poder
sobre a sua autoconfiança. Consegue imaginar se fosse eu que estivesse pensando e dizendo as
coisas que você está? Você estaria em cima de mim como uma sarna. Agora pare de pensar
demais e vá se divertir. Não é um crime, você sabe.
A cabeça de Zoe se levantou e com ela um surto de percepção.
— Você está certa. Eu o deixei me controlar por muito tempo. Já chega!
— Ahhh garota, — disse Rusty com aprovação. — Agora se divirta e fofocaremos sobre isso
mais tarde.
— Sim, bem, não se esqueça de que vamos falar sobre Sean também, — Zoe disse em um
tom de advertência.
A expressão de Rusty imediatamente azedou.
— Nada a dizer, exceto que ele é um homem terrivelmente arrogante com a cabeça presa no
traseiro.
Zoe riu.
— Garota, você acabou de descrever metade da população masculina.
— Só metade? — Rusty perguntou inocentemente.
Outra risada rolou dos lábios de Zoe quando viraram a esquina para a sala de estar, e Joe
imediatamente olhou para cima. Seus olhos se aqueceram com aprovação enquanto o olhar subia
e descia pelo corpo dela. A pele dela arrepiou dos braços nus até a ponta dos dedos.
Céus, mas o homem era gostoso pra caramba. Calor inundou suas bochechas enquanto a
mortificação a atingia. Ela era repugnantemente transparente e apenas rezou para que ele não
percebesse esse pensamento particular que certamente estava refletido em seus olhos.
Julgando pela forma como sua expressão endureceu e o olhar ardente ficou mais escuro, ela
achava que ele percebera. E parecia que não tinha qualquer objeção a esse pensamento.
Controle-se Zoe. Nada pode acontecer. Nada vai acontecer.
76
Maya Banks
KGI 11
Ela estava lendo muito sobre o que Rusty considerava hospitalidade do sul. Disseram-lhe
várias vezes como a família de Rusty era calorosa e acolhedora, e tudo o que estava vendo era
evidência desse fato.
— Você está pronta? — Joe perguntou, a voz rouca e áspera. — Mamãe embalou almoço
novamente.
— É ruim que tão cheia quanto estou pelas panquecas que ela fez, meu estômago acabou de
rosnar antecipadamente?
Ele riu.
— Você não seria humana se a comida de Mamãe não tivesse esse efeito em você.
Ele se inclinou e beijou a bochecha de Rusty e então a puxou para um abraço rápido.
— Estou com meu celular se você ou Mamãe precisarem de alguma coisa. Tenha um bom
dia, querida.
— Cuide bem dela, — avisou Rusty.
Joe enredou seus dedos com os de Zoe e puxou-a para seu lado para que ela se acomodasse
sob seu ombro.
— Só o melhor. — disse ele sinceramente.
Um sorriso suave curvou a boca de Rusty, e por um momento, Zoe pensou que ela via a
emoção bruta refletida no profundo verde de seus olhos. Perplexa com a breve interação olhou
para Joe apenas para ver a profunda seriedade refletida em seu olhar.
Ele levantou a cesta de piquenique com a mão livre e então a guiou até a porta e depois para
a caminhonete. Uma vez que a colocou no assento do passageiro, deu a volta e enfiou a cesta de
piquenique na parte de trás antes de deslizar atrás do volante.
— Pensei que poderíamos sair de barco e pescar um pouco, enquanto ainda está fresco, —
disse, enquanto saíam da garagem.
— Sério? — Zoe perguntou, a excitação atravessando suas veias.
Ele sorriu para ela, os olhos brilhando com o calor ao qual tinha se acostumado quando ele
olhava para ela.
— Sim. Sério. Tenho um barco menor na minha casa, mas também mantenho um maior
ancorado na marina. Usamos quando saímos em um grupo maior e vamos nadar ou passar um dia
ao sol. Podemos pescar, nadar ou ambos. Nem precisamos sair do lago até esta tarde, se é isso
que você gostaria. Podemos pescar enquanto está fresco, fazer uma pausa para o almoço e depois
nadar para nos refrescar.
Seu rosto caiu.
— Não trouxe nada para nadar.
Ele sorriu triunfante.
— Posso ter dito a Rusty para arrumar um de seus trajes de banho e estou usando minha
sunga sob o jeans. Sempre vale a pena estar preparado.
— Não posso trocar de roupa em um barco no meio do lago!
— Há uma cortina para troca, — disse ele, não perdendo o sorriso. — Nunca iria colocá-la
em uma situação que você não estaria confortável.
— Oh, ok, então.
77
Maya Banks
KGI 11
Ela momentaneamente ficou sem palavras.

— Bem? — Ele perguntou. — O que vai ser? Pesca, em seguida, nadar, ou você só quer
pescar e voltar para casa?
— Bem, eu gostaria de nadar. Quero dizer, a menos que você não queira.
— E perder a oportunidade de vê-la de maiô? — Ele perguntou, fingindo horror.
O rosto dela corou carmesim. Ela devia estar vermelho brilhante, tão quente como estava
queimando. Amaldiçoou o fato de que era ruiva e tinha a pele clara. Significava que nunca
escapava com um pensamento embaraçoso, e que aqueles pensamentos embaraçosos estavam
sempre em destaque.
— Não sou tão boa quanto você pensa, — murmurou enquanto olhava para longe.
— Você é uma mulher linda, Zoe, — ele disse, todo o humor se foi de sua voz. Olhou para ele
pelo canto dos olhos e viu que seu rosto era um quadro de absoluta solenidade. — Não dou a
mínima para quem te disse o contrário ou que você acredita no idiota, mas você é linda, e não
apenas do lado de fora. Você é linda onde mais importa.
Por um momento, foi doloroso respirar e rapidamente se virou para que ele não visse a
evidência traiçoeira de suas lágrimas. Se ele soubesse que ela não era linda por dentro ou por fora.
Se soubesse quem e o que ela era, a sujeira de onde vinha, nunca mais a olharia de novo.
Seu coração doeu copiosamente e ela fechou os olhos enquanto a dor se intensificava. Raiva
e traição queimando como ácido e deixando um gosto sujo em sua boca. Raiva pelas escolhas que
seu pai fizera e pelo fato de não ter se importado que sua própria filha tivesse que pagar por elas.
E raiva da mãe por simplesmente partir e não se importar o bastante com a criança que deixou
para trás.
O que havia nela de tão amaldiçoado? Indigno de amor?
Quando finalmente arriscou olhar novamente para Joe, ele estava olhando para frente, a
mandíbula dura em uma máscara de raiva. O que ela fizera para irritá-lo? Porra, por pelo menos
um dia ela poderia fingir ser a pessoa que se tornaria com a ajuda de Rusty? Só uma vez poderia
deixar para trás a bagunça que era sua vida antiga e viver alguns momentos roubados como
alguém que ela não era, mas queria ser com cada respiração?
Sabendo que já tinha feito uma bagunça do dia e estavam apenas acabando de sair do
complexo, forçou o gosto de desespero a se afastar e perguntou levemente:
— Então, que tipo de peixe vamos pescar? E você come o que pega ou os joga de volta na
água?
Ele alcançou sua mão antes de responder, o calor reconfortante e a força de seus dedos
enquanto se entrelaçavam aos dela aliviando a tensão em seu peito.
— Pesco qualquer coisa que eu consiga pegar e definitivamente os como. Na verdade, se
conseguirmos pegar o suficiente para uma refeição, pensei que poderia fritá-los para você no
jantar. E não vou sequer fazê-la ajudar a limpá-los, — ele brincou.
Ela não conseguia controlar o estremecimento ao pensar no que limpeza de peixe implicava.
Ela tinha uma política firme de nunca comer nada em um restaurante que não estivesse
completamente decapitado de modo que nenhum olho a olhasse fixamente.
— Obrigada, — disse secamente.
78
Maya Banks
KGI 11
Ele riu.
— Quanto ao tipo de peixe que vamos tentar hoje, pensei em começar com algo que não é
apenas fácil, mas divertido como o inferno. Vou te preparar uma vara Zebco3, um carretel e um
flutuador4 e veremos se conseguimos pegar um dourado5 ou dois. Nada mais divertido do que
assistir a sua cortiça começar a saltar na água antes de desaparecer. Para um peixe tão pequeno,
eles lutam como o inferno. Não há nada como isso.
Ela enrugou o nariz em pensamento.
— Qual tamanho? Se eles são tão pequenos, como você pode comê-los?
Ele sorriu indulgentemente para ela.
— Deixe o tamanho para mim. Você se surpreenderia com o tamanho desses peixes. E não
há nada melhor para comer. Isso eu posso garantir. Você não viveu até que comeu um grande
dourado frito com bolinhos de milho.6
— Hum, — ela disse, batendo os lábios com apreço.
— Isso é o que estou pensando. — ele murmurou, os olhos em sua boca, dando a ela a
distinta sensação de que não estava se referindo ao peixe.
Ela corou novamente, desta vez um zumbido de prazer aquecendo suas bochechas. A boca
dele era linda, e ela se perguntou qual seria a sensação contra a dela. Se ele seria um beijador
exigente, apaixonado ou um homem que se contentaria em deixá-la levar. Deus, esperava que
fosse o primeiro, porque algo tão delicioso quanto seus beijos não deveria ser deixado por conta
dela.
Uau. Precisava voltar atrás e parar com essa linha de pensamento. Estava ficando tão
distante de si mesma, pensando nele beijando-a. Ele estava sendo amigável. Hospitaleiro. E era
óbvio que sentia pena dela. Ai. Aquela era uma maneira de apagar a euforia inebriante que a
envolveu no momento em que começara a fantasiar sobre ele beijando-a.
Além disso, só complicaria as coisas, e complicação era a última coisa que precisava agora.
Especialmente porque não podia ficar aqui indefinidamente. Ou mesmo por muito mais tempo.
Estava se tornando complacente. O fato de que Sebastian não a tivesse usado apenas, mas
planejara matá-la, estava ficando mais fraco em sua memória. Como foi isso? Precisava acordar e
parar de fantasiar ou não só conseguiria ser morta, mas colocaria em perigo um monte de pessoas
inocentes também.
— Darei uma menta para saber o que você está pensando agora.
A declaração trouxe seu foco bruscamente para ele e viu que seus olhos estavam estreitados
e os lábios uma linha apertada enquanto a olhava intensamente. Porcaria. Precisava deixar de ser
um maldito livro aberto quando se tratava de cada processo de pensamento que tinha.
3 Marca da vara de pesca.
4 Objetos usados para indicar a posição em que a linha está na água.
5
6 hush puppies - bolinhos fritos típicos do Sul dos EUA servidos com peixe frito.
79
Maya Banks
KGI 11
— Estou pensando em quantos peixes vou pegar mais do que você. — disse levemente.
— Mmm-hmm, — ele disse, claramente não acreditando nela. Mas deixou passar.
Agradecidamente.
Alguns minutos mais tarde, estacionaram na marina em frente ao lago onde o complexo
estava localizado, e ela olhou para a entrada acolhedora que abrigava tantos barcos. Era o início
de um dia absolutamente perfeito. A água era calma e serena e um azul vibrante e profundo que a
fazia suspirar de prazer.
— Gosto muito mais desse som, então continue pensando no que está pensando agora e
pare de se preocupar com qualquer outra merda, — ele disse com firmeza.
Os olhos dela se arregalaram de surpresa com a habilidade com que ele lia sua linguagem
corporal mesmo quando seu rosto não era um reflexo direto dos pensamentos. Mas então,
considerando o que ele e os irmãos faziam e o fato de que Rusty a tinha advertido de sua
capacidade de ler qualquer situação, não deveria chocá-la que ele parecia tão em sintonia com sua
mente caótica.
Ele escolheu uma vaga de estacionamento e depois pulou para fora, pegando a cesta e um
refrigerador que ela não tinha visto até agora. Então deu a volta antes que pudesse protestar e
levantou o braço para ela se agarrar enquanto deslizava para fora da caminhonete.
— Está pronta para fazer uma farra com os dourados desavisados? — Ele perguntou, os
olhos brilhando com diversão.
— Está pronto para ter a bunda chutada por uma garota novamente? — Ela desafiou em seu
tom mais atrevido.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Então, para sua surpresa, deixou cair um beijo em sua
testa virada para cima.
— Sim. E planejo desfrutar cada minuto.
Capítulo Quatorze
— Minha isca balançou! — Zoe gritou, quase soltando a vara e o molinete no qual dava um
aperto de morte.
Joe sorriu quando o flutuador ficou louco sobre a superfície da água e, de repente,
desapareceu de vista. — Agora! — Ele gritou. — Puxe para cima, mas não com tanta força.
Posicione o gancho exatamente como te ensinei.
Ela puxou com muita força, mas felizmente o gancho estava firme, porque tudo o que ela
conseguia por seus esforços era resistência. Seus olhos dançaram com excitação quando ela
começou a girar freneticamente. Sua sobrancelha franziu e ela mordeu o lábio inferior em
concentração enquanto lutava com a vara curvada.
— É isso aí. Gire lentamente. Não tão rápido. Traga-o para o barco.
80
Maya Banks
KGI 11
De repente, o peixe apareceu na superfície e balançou ao acaso enquanto a linha girava em

loucos círculos. Joe estendeu a mão para pegá-la e, em seguida, trouxe o peixe para dentro do
barco para que pudesse tirar o gancho.
Zoe estava de pé sobre ele, o cenho franzido escurecendo seu entusiasmo anterior. — É
isso? — Perguntou com ceticismo. — Ele parecia muito maior! Deveríamos comê-lo?
Ele riu de sua perplexidade e então levantou o peixe para sua inspeção. — Esse é um
tamanho muito bom de pegar, — apontou. — Maior do que a média. Definitivamente devemos
mantê-lo.
— Sério? Você não está exagerando? — Ela perguntou enquanto ele abria o tanque do barco
de pesca e jogava o peixe dentro.
— Não, — respondeu. — Você pega mais alguns como esse, e a refeição estará garantida.
— Oh. Eles apenas parecem tão... Pequenos.
— Às vezes, as melhores coisas da vida vêm em pacotes pequenos, — ele disse, permitindo
que seu olhar flutuasse significativamente sobre seu corpo beijado pelo sol.
Ela corou, mas o prazer brilhou em seus olhos. — Acha que pegarei outro no mesmo lugar
ou devo pescar do outro lado?
— Oh infernos não. Jogue sua isca de volta onde estava. Onde há um, geralmente há pelo
menos uma dúzia.
— E você? — Ela perguntou, olhando enquanto ele se sentava em um dos assentos para
observá-la.
— Estou me divertindo exatamente onde estou. Não há melhor vista para o lago, — disse
preguiçosamente.
Ela bufou. — Você está tão cheio de si, Joe Kelly.
Ele sorriu. — Nada mais do que a verdade, senhorita. Minha mãe me ensinou a nunca
mentir.
Com isso, sua expressão ficou séria e ela se virou rapidamente conforme lançava sua linha
nas proximidades de onde acabara de pegar o primeiro peixe. Joe balançou a cabeça, a
impaciência flamejando. Ela não estava mais perto de se abrir e confiar nele do que da primeira
vez que se encontraram. De fato, parecia que ela aumentava ainda mais sua reserva ao redor dele,
como se tivesse firmado sua determinação de não deixar ninguém entrar. Será que ela não
confiou nada à Rusty ou Rusty era tão sem noção do que acontecia como o resto deles era? Mais e
mais se perguntou se sua irmã tinha contado tudo para ele, quando relatou o que Zoe
supostamente dissera sobre o seu ex-namorado que estava tentando ferrar com ela. Mas mesmo
que Rusty não tivesse falado tudo, não poderia pedir-lhe para trair a confiança de Zoe. Não
quando isso provavelmente iria enviá-la correndo tão rápido e tão longe quanto possível na
direção oposta.
Frustração o atingiu. Numa época em que deveria sentir como se tivesse todo o tempo do
mundo para explorar um relacionamento com uma mulher com a qual poderia muito bem se ver
junto para sempre, em vez disso se sentia como se estivesse trabalhando contra o relógio e o
tempo estivesse rapidamente se esgotando. Não conseguia explicar a persistente borda de pânico
que o assaltava. Apenas que isso estava comendo um buraco em seu intestino e se não fizesse
81
Maya Banks
KGI 11
rapidamente o seu movimento, ele poderia perdê-la. No entanto, se fizesse seu movimento muito
rápido ou chegasse muito forte, a perderia de qualquer maneira.
Inferno de posição para se estar.
De repente todas as vezes que ele encheu o saco de seus irmãos por causa de suas
mulheres, veio à mente e ele fez uma careta. Se eles tivessem sentido apenas metade de seu
medo e frustração enquanto ele estava ocupado dando-lhes merda, estava surpreso que não o
tivessem enchido de porrada. Ele teria merecido. Tinha um mau pressentimento que estava
devendo um inferno de uma rodada de desculpas antes de tudo acabar. Mas calçaria a sandália da
humildade desde que significasse voltar para casa e para Zoe todas as noites.
— Joe! — Ela exclamou enquanto lutava com a vara. — Peguei outro! Oh meu Deus, você
estava certo! Tem mais!
Desta vez, quando ele soltou o peixe, Zoe estava olhando para ele, os olhos brilhando de
prazer e excitação e com uma expressão tão extasiada que ele teve que controlar fisicamente o
desejo de beijá-la até perder o sentido e continuar até que a pesca fosse esquecida.
Os lábios dela estavam úmidos por repetidamente correr a língua sobre eles em abjeta
concentração. Mesmo agora, sua língua se lançava frequentemente em um gesto nervoso
cativante. Ele estava tendo algumas fantasias sérias sobre como era o sabor dela e sobre fazer sua
própria exploração de seus lábios, mordiscando cada deliciosa polegada. Deus sabia que ela
cheirava bem o suficiente para comer. Quando, não se, ele tivesse a boca sobre ela, poderia gastar
a maior parte de uma semana apenas provando a pele deliciosa do alto de seu cabelo bagunçado
até embaixo, naquelas delicadas, femininas, e quentes unhas do pé pintadas de cor-de-rosa.
— Joe?
Merda. Ela o apanhou totalmente com a cabeça nas nuvens. Ou melhor, com a mente
solidamente focada nela e naquelas fantasias dignas de gemidos com as quais estava torturando a
si mesmo.
— Sim, querida? — Perguntou distraidamente enquanto continuava a observá-la morder o
lábio inferior com os dentes. Concentrou-se em segurar o gancho novamente, rezando para que
seus pensamentos não fossem tão transparentes quanto parecia.
Teve que mudar de posição porque suas bolas estavam doendo e latejando como umas
filhas da puta e seu pau já tinha empurrado e passado a abertura de seu calção de banho e estava
pressionado tão firmemente contra o zíper que as marcas iam ser uma tatuagem permanente.
— Iremos manter esse? — Perguntou.
Ele sorriu para sua pergunta ansiosa. — Sim, querida. Definitivamente esse peixe é um que
vale a pena manter.
Assim como você.
Ele quase disse isso em voz alta e fechou os lábios para evitar que seu pensamento
escapasse.
Ela bateu palmas com satisfação. — Quantos mais precisamos?
— Nós pescaremos até que você se canse de pegá-los ou eles parem de morder a isca, —
disse divertido. — Quanto mais pegarmos, apenas significa que terei que convidar mais pessoas
para uma fritada de peixe. — Então parou e fingiu dar grande importância à questão. — Mas
82
Maya Banks
KGI 11
pensando bem, vamos parar em uma dúzia. Dessa forma, não terei que convidar mais ninguém e
vou ter você toda para mim no jantar. Serei um cavalheiro e esperarei até que eu tenha que te
deixar de volta na casa de Mamãe esta noite para limpá-los, para que você não tenha que ajudar.
Então irei para casa, limparei e deixarei os peixes no gelo e então vou fritá-los para você no jantar
amanhã à noite. O que acha?
Ela estava com um completo olhar de “cervo em frente aos faróis7”. Seus olhos estavam
arregalados e em pânico, mas, mais que isso, a boca estava aberta em aparente choque com o
fato de que a havia convidado para passar tempo com ele novamente. A raiva se agitou dentro
dele, tornando-o inquieto e nervoso. Por que diabos deveria surpreendê-la que ele -ou qualquer
homem- estivesse interessado nela, estava além dele. Ela precisava ver sua própria beleza e
atração. Mas esse era o ponto. Ela não o fazia. Não via o que ele e todos os outros viam. Sua visão
de si mesma no espelho era falha. Arruinada pela percepção de um babaca egoísta e desmiolado,
e pior, ele aparentemente havia aproveitado todas as oportunidades para derrubá-la. Para
lembrá-la exatamente o que ele pensava sobre ela e fazê-la sentir-se menos que uma mulher e
mais insegura.
Ele queria... Diabos, Joe não tinha ideia do que o idiota queria. O que mais poderia ter
desejado quando teve Zoe? Ela havia sido dele. Embora a ideia deixasse um péssimo gosto em sua
boca, precisava aceitar que ela tinha pertencido a um bastardo que não a apreciava, e que não
tinha percebido o tesouro que possuía. Mas isso não significava que agora Joe não iria mover céu
e terra para fazê-la perceber que ele nunca cometeria os mesmos erros que seu ex. Nunca
desperdiçaria o belo presente que ela havia dado a outro homem. Ela mesma. Se fosse abençoado
o suficiente para que ela confiasse seus cuidados à ele, jamais lhe daria uma única razão para
duvidar dele ou o fato de que passaria todos os dias mostrando o quão afortunado ele acreditava
ser.
Despertou de seus rígidos pensamentos e considerou suas feições solenes. — Isso é um não?
— Ele brincou levemente, trazendo o tópico de volta ao convite para jantar. — Ou você está
apenas morrendo para me ajudar a limpar o peixe e prefere que façamos isso juntos?
Ela lhe lançou um olhar assustado por cima do ombro e então uma risadinha escapou.
— Zoe! Você pegou mais um!
Ela quase deixou cair a vara de pescar enquanto se movia de volta. Puxou a vara para cima e
soltou um som de júbilo quando a ponta se curvou e a rolha desapareceu ainda mais longe da
vista.
— Eu peguei! — Ela gritou. — Cacete Joe. Este deve ser enorme!
Ele se moveu rapidamente por trás dela e apertou o peito contra suas costas, chegando ao
redor dela para estabilizar a vara. — Assim, — murmurou próximo à sua orelha. — Mantenha a
ponta para cima o tempo todo. Não o deixe ter qualquer folga. Conforme puxar para cima, ative a
bobina em cada espaço de folga. Mantenha a linha presa o tempo todo.
Descansou as mãos sobre as dela, guiando seus movimentos enquanto a vara se movia e
dançava contra suas palmas. Inalou o cheiro doce de seus cabelos e enrugou o nariz quando o
vento soprou mechas macias sobre suas narinas, fazendo-lhes cócegas levemente.
7 Um estado mental de alta excitação causada por ansiedade, medo, pânico, surpresa e/ou confusão, ou abuso de substâncias.
83
Maya Banks
KGI 11
Ela era quente e tão suave em seus braços. Como se pertencesse ali. Como se sempre
tivesse pertencido. Embora se concentrasse ferozmente em pegar o peixe, podia ver que ela
estava muito consciente de sua proximidade. Sua língua disparou sobre o lábio inferior e então os
dentes se afundaram nele como se para estabilizar seus nervos. Ou talvez disfarçar sua reação.
Sorriu para si mesmo. Esperava como o inferno que ela não estivesse imune e que ele não
estivesse voando sozinho aqui. Seria horrível se sua atração não fosse recíproca, mas esse
claramente não era o caso. Ela podia não querer sentir a tensão sexual entre eles, mas estava lá,
reconhecida por ambos.
Manteve as mãos dela envolta das dele, e ajudou a girar a linha o suficiente para que o peixe
deslizasse livre da superfície da água e relutantemente a soltou para que ele pudesse pegá-lo.
Pegou a linha e habilmente deslizou o gancho da boca do peixe.
— Sim. Você estava certa, Zoe. Este é enorme. Certamente um dos maiores que já vi.
— Sério?
Seus olhos dançaram com prazer e ela se contorceu em excitação, fazendo com que seu
sorriso se tornasse ainda mais afetuoso. Senhor, mas ela facilitava para que alguém a amasse.
Como poderia não amá-la?
— Definitivamente vou tirar fotos deste antes de limpá-lo e planejo medir e pesá-lo
também. Quem sabe? Talvez você tenha pegado um quebrador de recordes.
E ele não achava que era possível que seu sorriso fosse ainda maior ou que ela se iluminasse
mais do que já estava. Ele ocupou-se deixando o peixe com os outros e então se virou para ela.
— Bem, Zoe, o que vai ser? Peixe frito para toda a família ou jantar para dois amanhã à noite
na minha casa? Do jeito que você está pescando, terá uma dúzia no barco a qualquer momento.
Ela enrubesceu e abaixou a cabeça embaraçada, mas seus lábios se contraíram em um
sorriso. — Bem, odiaria que você ficasse acordado até tarde, limpando mais de uma dúzia, — ela
disse.
Ele riu. — Isso é generoso de sua parte, querida. Tudo bem então. Três já foram, faltam
nove. Está pronta para ir de novo?
Ela enrugou o nariz quando ele colocou um grilo no gancho e teve o cuidado de manter a
boia bem distante de seu corpo enquanto ela balançava a linha para a água.
— Pensei que as pessoas pescavam com minhocas e coisas assim. Nunca ouvi falar de usar
grilos. Não que eu queira tocar em minhocas. — disse desgostosa. — Não sei o que é pior.
Pegajoso, ou pernas assustadoras. — Estremeceu. — Porque você ficou com a parte injusta deste
acordo? Eu fiquei com a diversão de pegar todos eles enquanto você fica preso colocando as iscas
no gancho, tirando o peixe da linha e limpando-os depois.
— Asseguro-lhe que em nenhum momento fiquei com a parte injusta deste acordo, — falou
arrastadamente, um sorriso torcendo seus lábios. — De fato, se colocar um pouco de pernas
assustadoras em um gancho, tirar alguns peixes pegajosos fora do gancho e limpá-los depois é o
preço que tenho que pagar por uma tarde com uma mulher divertida e bonita como o inferno, que
me fez rir mais do que eu já ri há muito tempo, que eu nem me lembrava como era, então me
inscreva para mais.
84
Maya Banks
KGI 11
Desta vez, ela não desviou o olhar nem pareceu negar que alguém pensaria tal coisa. Olhou
para ele com honesto desconcerto, como se não conseguisse entender o que ele falou.
Deu um passo mais perto dela enquanto guiava sua linha em direção ao ponto onde ela
havia pegado os primeiros peixes. Parou a poucos centímetros de tocá-la e fitou-a nos olhos.
— Não sou difícil de entender, Zoe, — murmurou. — Sem jogos. Não sou o tipo que flerta.
Se não quero dizer algo, não digo. E nunca me sinto obrigado a dizer merda que realmente não
quero dizer, apenas para fazer alguém se sentir melhor. Acho que é melhor tirarmos isso do
caminho logo. Você está me entendendo?
Ela engoliu em seco, a garganta trabalhando para cima e para baixo enquanto lentamente
acenava com a cabeça. Seu olhar estava cheio de admiração enquanto continuava olhando para
ele, como se processasse sua solene declaração e medisse sua sinceridade.
— Sim, — finalmente sussurrou. — Acho que sim.
— Então você pode querer pegar aquele peixe que está mexendo com sua linha, — disse
divertido.
Ela se virou a tempo de ver o flutuador mergulhar pela quarta vez, e puxou a vara para cima
com as duas mãos, deixando escapar uma risada contagiante.
— Estou tão fodido, — Joe sussurrou para si mesmo. — E o inferno é que estou amando
cada maldito minuto.
Capítulo Quinze
Zoe se espreguiçou languidamente e bocejou quando o sol se abateu sobre ela, aquecendo
seus músculos até os ossos. Bem que poderia tirar uma soneca. Estava cansada da melhor
maneira, nunca tivera tanta diversão na sua vida, e os raios do sol não estavam tornando mais fácil
vencer a letargia que se apoderara dela no minuto que vestiu o maiô que Joe pegara emprestado
de Rusty.
Ficou horrorizada quando descobriu o fato que Rusty havia dado a Joe um biquíni de duas
peças, e não um maiô particularmente modesto. Manteve uma toalha embrulhada firmemente
em torno dela até que finalmente escolheu um lugar ao sol. Só quando percebeu que precisava da
toalha para se deitar, finalmente permitiu que ela caísse de seu corpo enquanto se mexia para
descer o mais rápido possível. Felizmente Joe dera-lhe privacidade, ocupando-se com outra coisa,
então não tinha sido testemunha do desastre que era ela em um biquíni.
Agora que ele já tinha acabado, poderia ser uma boa ideia ficar de bruços para que seus
seios não saíssem do top. Assim que se acomodou, suspirou enquanto o calor deslizava
languidamente sobre suas costas.
Assustou-se quando a mão de Joe desceu sobre suas costas nuas, e ela se levantou, virando
a cabeça para olhar por cima do ombro.
85
Maya Banks
KGI 11
— Desculpe incomodá-la, — Disse. — Mas não quero que você se queime, então vou passar
protetor solar em suas costas. Apenas relaxe e volte para o que você estava fazendo. Você nem vai
reparar que estou aqui.
Ela quase bufou. Em que planeta ela não saberia que ele estava lá ou que suas mãos
estariam deslizando sobre sua pele nua?
— Posso fazê-lo. — Disse, inquieta, tentando se levantar.
Ele colocou uma leve pressão em suas costas, empurrando-a de volta para baixo.
— A menos que você seja um polvo ou extremamente flexível, não vejo como vai conseguir
passar em algumas partes de suas costas. Além disso, vou precisar de alguém para passar nas
minhas costas quando eu terminar com a sua.
Ele disse isso com tanta inocência, como se não fosse grande coisa passar protetor solar um
no outro. E talvez não fosse com ele, o que significava que ela estava apenas fazendo papel de
uma grande idiota.
Com um suspiro, se acomodou e fechou os olhos. Alguns segundos depois, quase gemeu em
voz alta quando ambas as palmas das mãos pressionaram sobre sua pele e ele começou a esfregar
em padrões apertados e circulares. Tinha que ser um crime as mãos de um homem fazer isso tão
bem. Todos os lugares que ele tocava acenderam sob seus dedos como se implorando e pedindo
por mais.
Teve que morder os lábios com força para evitar que os sons de prazer escapassem de sua
garganta. Isso era uma tortura. Absoluta, magnífica, a tortura mais incrível jamais inventada na
história da humanidade. Graças a Deus, ele não estava fazendo perguntas a ela, porque ela faria
ou diria qualquer coisa, desde que ele não parasse.
Ele não parecia estar com pressa, um fato pelo qual estava agradecida. Fechou os olhos
enquanto suas mãos acariciavam cada polegada exposta da pele sensível em sua nuca para as
solas de seus pés e todas as partes no meio.
Quando as pontas dos dedos massageavam perigosamente perto dos globos de suas
nádegas, ela se viu prendendo a respiração até aparecer manchas em sua visão. Mas ele
continuou com traços de pluma, apenas rastreando os limites do fundo do biquíni e tentando-a
sem piedade com um pensamento: E se aquele tecido não estivesse lá?
Estava quase inconsciente quando finalmente parou, e desta vez seu gemido de desagrado
não pôde ser retido. Ele riu suavemente acima dela, mas penetrou a espessa neblina que a cercava
como mais um sussurro do que uma risada verdadeira. Então sentiu outra coisa pressionar seu
ombro. Algo que se parecia com os... Lábios dele? Agora estava apenas alucinando. Havia um
limite de felicidade orgástica que uma menina podia ter, afinal.
— Fique deitadinha aí, querida. Vou colocar minha camisa para não ter que se preocupar em
passar em mim.
— Mmmkay. — Disse sonhadora.
Mais uma vez, sua risada divertida penetrou em seu estado semiconsciente, mas ela apenas
sorriu e se afastou em uma nuvem de euforia. Podia jurar que os dedos dele estavam passando
através dos fios extravagantes de seu cabelo que se soltou e estava bagunçado, mas não
86
Maya Banks
KGI 11
conseguia se incomodar em abrir os olhos para investigar. Além disso, no que diz respeito às
fantasias, esta era muito bonita e não tinha nenhum desejo que acabasse em breve.
— Eu me pergunto se você sabe o quanto é linda. — Joe sussurrou, a voz aparentemente a
milhas de distância.
Agora ela sabia que estava definitivamente dormindo e sonhando. Por uma vez, foi bom
sonhar com algo além do medo e da humilhação ou acordar com o coração disparado, o suor
molhando seu cabelo.
— Nunca tive um sonho melhor. — Murmurou através dos lábios imóveis. — Você terá ido
embora quando eu acordar?
Ela ouviu um riso suave e depois uma voz que era tudo menos leve e provocante. Era
contraditória com todo o cenário do sonho. Era firme e cheia de uma resolução gentil e implacável
e enviou arrepios até os dedos dos pés.
— Não vou a lugar nenhum, Zoe. Nem agora. Nem nunca. Receio que esteja presa a mim,
querida. Não sei o quanto você vai gostar de acordar e descobrir que isto não é um sonho, é muito
real, mas eu gosto disso pra caramba: você presa comigo.
— Ninguém nunca fica. — Ela disse tristemente, não gostando do rumo que esse sonho
tinha tomado. Queria as partes boas de volta. — Ninguém corresponde ao meu amor. Todo
mundo sempre vai embora.
Houve um longo silêncio e por um momento ela relaxou, contente em deixar o sonho morrer
depois de sua pequena mudança de incrível para não tão incrível assim. E depois...
— Não desta vez, querida. — Essa voz de novo. Tão dolorosamente familiar, que tinha
ocupado um lugar sólido em seus sonhos nas últimas noites. — E isso é uma promessa.
Embora soubesse que tal promessa jamais seria mantida, ainda lhe dava conforto e se
agarrou a ela enquanto seguia para o esquecimento.
*****
Joe sentou-se a uma curta distância de onde Zoe dormia, o olhar vagando ocasionalmente
entre o sol e suas costas, que ainda brilhavam do protetor solar que ele aplicara duas vezes. A
segunda vez que aplicou suavemente a loção em sua pele, ela não tinha sequer se agitado, mas o
franzir minúsculo que fazia mesmo enquanto dormia e a tensão evidente em sua testa e em torno
da boca incutiu uma dor em seu peito que não seria atenuada.
Quem era o... “Todo mundo” a que ela se referia com uma voz quase infantil que lhe
quebrara o coração? Sua dor foi além da de um ex-amante. E sua infância? Donovan não
mencionara uma família. Pais ou irmãos. Ele não dissera nada, e agora Joe se perguntava por quê.
Estava sozinha no mundo? Certamente Rusty sabia muito sobre ela. Talvez fosse por isso que
Rusty fizera amizade com ela e era tão leal e protetora. Ele recomendou sua irmã por isso, mas a
partir de agora, proteger Zoe de qualquer coisa que tivesse o poder de machucá-la era seu
trabalho.
Verificou o relógio enquanto observava o sol afundar mais no céu. Por mais que odiasse até
mesmo uma noite de separação dela, estava ficando tarde e ela estava claramente exausta. Estava
87
Maya Banks
KGI 11
na hora de levá-la de volta à casa da mãe para passar a noite. Ela não tinha comido muito no
almoço. Ela ficou quieta. Quase pensativa enquanto compartilhavam a oferta que sua mãe tinha
preparado para eles. De vez em quando, conseguia tirar um sorriso quando brincava com ela, mas
a tristeza se agarrara aos seus traços durante a maior parte da tarde depois de terem terminado
de pegar a dúzia de peixes que ele lhe dissera que precisavam.
E então ela adormeceu enquanto aplicava a primeira camada de protetor solar. Em seu
estado de sonho, suas reações foram honestas e sinceras. Ela tinha gostado muito de seu toque,
arqueando-se nele como uma gatinha ronronando. Mas então a tristeza gotejara de sua voz
quando calmamente lhe disse que ninguém nunca ficou e que nunca corresponderam ao seu
amor.
Nunca quis nada mais naquele momento do que colocá-la em seus braços, segurá-la
firmemente e jurar nunca deixá-la ir. Mas sabia que não seria tão fácil simplesmente prometer
algo em que ela não acreditaria. Levaria tempo para ela estabelecer confiança e ser capaz de
colocá-la completamente nele. E pretendia dar-lhe todo o tempo do mundo que ela precisasse até
que chegasse o momento em que ela estaria com ele, nos braços dele, onde pretendia provar
todos os dias que não iria para nenhum lugar longe dela.
— Quais segredos você está escondendo, baby? — Sussurrou enquanto a observava suspirar
e enfiar o punho sob o queixo. — Você vai confiar em mim o suficiente para compartilhá-los e
deixar-me tirar o poder de machucá-la?
Deixou escapar um suspiro e então, relutantemente, parou de onde estava esparramado na
plataforma do barco. Arrastou-se até onde Zoe estava deitada, sorrindo enquanto olhava para
seus olhos fechados, os cílios que descansavam em sua pele fazendo-a parecer tão inocente
durante o sono. Ela lembrou-lhe de um anjo ou uma daquelas pequenas fadas dos contos infantis.
— Zoe. Zoe, querida. Preciso que você desperte. É hora de ir para casa.
Ela enrugou o nariz e seus lábios viraram para baixo.
— Ah. — Murmurou.
Ele riu enquanto abaixava a cabeça para beijar as rugas de seu nariz. Seus cílios voaram
imediatamente quando ela acordou.
— Ei. — Ele disse, sorrindo para seu semblante confuso.
Então ela sorriu, e seu sorriso enviou calor através de regiões de seu coração que ele ainda
não tinha percebido que estavam desligadas.
— É hora de ir? — Disse timidamente.
Ela parecia tão desapontada que ele odiava dizer que era. Em vez disso, acenou com a
cabeça.
— O cenário do sol. Pensei que você poderia desfrutar assistindo o por do sol enquanto
voltávamos para a marina. Mamãe servirá o jantar em breve e deve estar se perguntando onde
estamos.
Ela bocejou, cobrindo a boca. — Eu tive o sonho mais maravilhoso. — Disse
melancolicamente.
Seu pulso acelerou enquanto ele simplesmente a observava, o olhar percorrendo cada
centímetro de seu rosto, seus olhos, até mesmo os cabelos.
88
Maya Banks
KGI 11
— Oh? Você sonhou comigo então? — Ele brincou.

Ela ruborizou um vermelho escuro e deixou cair seu olhar, embora um sorriso ainda pairasse
em seus lábios.
— Não vai compartilhar como foi esse maravilhoso sonho?
Ela balançou a cabeça. — Não. Porque se eu fizer isso, pode não se tornar realidade.
Ela prendeu sua atenção. Estava se referindo ao que ela pensou que tinha sonhado? Ou teria
sonhado alguma outra coisa nas duas horas que ele a deixara dormir depois que ela se afastou?
— E você quer que seu sonho se torne realidade? — Perguntou casualmente.
Anseio era evidente em seus olhos quanto se concentraram em algo longe, em outro tempo
talvez.
— Se algum sonho pudesse se tornar realidade, então sim, mais do que qualquer coisa eu
gostaria que fosse.
Não que ele já não tivesse decidido o seu destino e o curso, mas se não tivesse, essas
palavras teriam selado para ele. Ela não tinha ideia de que ele sabia exatamente a que ela estava
se referindo e que ele estava em festa com o que ela pensava que tinha sonhado. E, bem, de certa
forma, era apropriado, desde que planejava fazer cada parte desse sonho se tornar realidade
exatamente como ela queria.
— Sonhos podem se tornar realidade. — Ele disse.
Seu sorriso lentamente desapareceu. — Para alguns, eu acho.
— Mas não para você?
Ela desviou o olhar. — Eu não sou muito sonhadora. — Ela disse com indiferença forçada. —
Sou mais realista. Quando a realidade te morde continuamente na bunda, você tende a prestar
atenção.
Joe estendeu a mão, deslizando o polegar sob o queixo dela antes de gentilmente virar as
costas para encará-lo.
— Não concordo.
Ela parecia confusa. — Com o que você não concorda?
— Que você não é uma sonhadora.
Seus olhos se arregalaram e ela piscou várias vezes como se tentasse descobrir como queria
responder.
— Não há nada de errado em ser um sonhador, Zoe. Quanto mais você sonha, maior a
possibilidade do resultado e mais feliz o final, você não diria?
Seus olhos se encheram de lágrimas e ela teria se afastado novamente, mas ele segurou suas
bochechas com ambas as palmas, embalando seu rosto em suas mãos. Usou os polegares para
limpar ternamente a umidade que se arrastou para um lado.
— Eu poderia também dizer que quanto maior você sonha, mais difícil será quando cair e a
realidade te morder na bunda. — Ela falou sufocada.
Ele riu suavemente. — Você tem uma obsessão com a realidade e com as pessoas.
— Não é uma piada. — Ela disse em uma voz suplicante, como se implorando para não
menosprezar suas declarações. — Esta é a minha realidade. Pode não ser a sua, Joe. Mas é a
89
Maya Banks
KGI 11
minha e eu estou bem familiarizada com o que acontece com meus sonhos. No meu mundo, é um
grande nada, não importa o quão duro eu deseje o contrário.
— Baby, me escute. — Disse ele, acariciando a pele sedosa sobre suas maçãs do rosto. —
Quando eu disse que acredito que você é uma sonhadora, foi o melhor dos elogios. Só porque
nem todos os seus sonhos se tornaram realidade até agora não significa que eles estão destinados
a nunca se tornar. Todos temos um sonhador dentro de nós. Você pode não pensar que tem, mas
eu vejo em você. Eu te vejo. E isso só me deixa ainda mais determinado a fazer esses sonhos se
tornarem realidade para que você possa finalmente deixar que o mundo inteiro veja essa linda
sonhadora.
Seus olhos estavam vidrados de choque enquanto ela olhava desamparada para ele.
— Você não pode fazer promessas como essas para mim, para ninguém. — Ela negou. —
Você não é responsável por tornar os sonhos de outra pessoa realidade. Somente os seus. Só eu
posso fazer meus sonhos se tornarem realidade, e se há uma coisa que aprendi sobre mim mesma
nessa área é que sou uma falha enorme.
Joe soltou um grunhido de impaciência e raiva, embora não fosse dirigido a ela. Ela pulou e
então o olhou com olhos feridos, enquanto tentava se afastar dele. Ele praguejou baixinho e
violentamente. Estava chegando com a delicadeza de um trem de carga e sabia muito bem que ela
tinha que ser tratada com o máximo cuidado, como se fosse a mais preciosa das coisas.
— Você esqueceu algo sobre mim, querida. Estou e um negócio onde faço duas coisas. Faço
sonhos de algumas pessoas se tornarem realidade. E faço os pesadelos de outras pessoas
ganharem vida. Então não me diga o que posso ou não posso fazer. Porque prometo que se você
me deixar entrar, se você me der a chance, eu farei meu maldito melhor para realizar cada um de
seus sonhos.
Ela engoliu em seco e seus lábios se abriram em choque, e ele precisou de toda sua
resistência para não puxá-la através dos últimos centímetros de distância entre eles e beijá-la até
que não pudesse respirar sem que fosse o ar do outro. Esse era seu sonho agora, foda-se tudo.
Todos os outros podiam esperar suas malditas vezes.
— Você nem me conhece. — Ela sussurrou. — Por que me diz algo assim?
— Você está certa. Não sei tudo sobre você. Ainda. Mas quero saber e vou. E quando eu
souber, então pretendo manter cada uma das minhas promessas. Agora, antes de terminar de te
assustar tanto que você pule no lago e nade todo o percurso de volta para o complexo, precisamos
ir ou Mamãe vai chutar a minha bunda. Preciso que coloque seu colete salva-vidas e encontre um
lugar para ficar confortável para o passeio de volta. Ok?
Ela parecia aturdida, e ele não podia culpá-la. Ele rolou sobre ela como uma escavadeira e
então recuou tão rapidamente que teve sorte que ela não tinha caído no lago, muito menos
pulado. Mas precisava se controlar antes que fosse demasiadamente longe muito rápido e a
deixasse escorregar através de seus dedos.
Jesus, mas o mero pensamento de procurá-la e não encontrá-la quase o paralisou de medo.
Ele estava estressado e se não conseguisse se controlar rapidamente, iria foder tudo antes mesmo
de ter a chance de provar que ela estava segura com ele. Que nunca a machucaria. Que ele
destruiria qualquer um que tentasse machucá-la novamente.
90
Maya Banks
KGI 11
E agora mesmo, talvez o melhor curso de ação fosse simplesmente mantê-la fora de
equilíbrio. Se ela estivesse um pouco instável e tentando entendê-lo, então não poderia fugir ao
mesmo tempo. A possibilidade de sua fuga o aterrorizava demais, quando quase nada tivera o
poder de assustá-lo em sua vida. Perder seu irmão, perder Shea, perder seus pais. Essas eram as
únicas coisas perto do terror que ele sentia quando pensava em perder Zoe.
Assim que navegou para fora da enseada onde ancorou o barco para que ele e Zoe
pudessem nadar e tomar sol, pisou no acelerador e deixou-o rugir sobre a água lisa como vidro do
Lago Kentucky. O sol era uma gigantesca bola de fogo laranja, no oeste, avançando mais para o
horizonte, e adiante, as luzes cintilantes da marina começavam a piscar.
Zoe estava sentada no banco lateral a apenas meio metro de onde ele estava, o olhar focado
em algum objeto distante, as mechas de cabelo que escaparam do coque na cabeça dela fluindo
pelas costas como salpicos de luar.
Ela estava com uma toalha enrolada em torno do corpo e usava uma jaqueta por baixo.
Deveria ter permitido que ela voltasse a vestir-se antes de voltarem, mas teria ficado escuro
quando voltassem para a marina. Podia oferecer privacidade a ela onde a caminhonete estava
estacionada e ficar do outro lado da porta aberta, de costas, sentando-se para vigiar qualquer
outra pessoa que aparecesse a distância.
Pelo menos agora compreendeu o brilho malicioso nos olhos de Rusty e seu inocente sorriso
quando ela lhe deu um biquíni para Zoe como ele havia pedido. Rusty era mais alta e não tão
voluptuosa nos lugares que Zoe era, e como resultado, o biquíni de Rusty, que a cobria
modestamente, era pequeno demais para Zoe em lugares que o deixaram de pau duro
permanente durante toda a tarde.
Rusty sabia exatamente o que estava fazendo e precisamente como o biquíni caberia - ou
melhor, não caberia - em Zoe, e se a pequena sem-vergonha pensava que ele não iria dar o troco,
ela estava iludida.
Uma vez estacionado na marina, ajudou Zoe a sair do barco e, em seguida, envolveu o braço
em torno de sua cintura, puxando-a para o calor de seu corpo enquanto caminhavam para a
caminhonete. As madrugadas e noites do início do verão ainda tinham uma pitada de frio,
enquanto a primavera relutantemente dava lugar aos dias mais quentes de verão que estavam à
frente.
Esta era a melhor época do ano. Dias repletos de muitas lembranças felizes. Inúmeras
viagens como hoje. Pesca, natação, cavalgadas com a família, churrascos, fogueiras, um
refrigerador cheio de cerveja, conversando sobre os velhos tempos e sobre o futuro.
Joe realmente nunca foi capaz de participar das conversas sobre o que ainda estava por vir,
enquanto seus irmãos olhavam para suas esposas e filhos com amor em seus olhos e falavam de
criar seus filhos onde foram criados. Ele podia contar uma porção de histórias sobre os “bons e
velhos tempos”, e todas as travessuras nas quais se envolvera enquanto crescia, mas sempre
ficara em silêncio quando a conversa se voltava para o futuro. Com o passar do tempo, quando
todos os seus irmãos estavam finalmente comprometidos, sentira uma estranheza que nunca
antes experimentara. Como um estranho olhando para algo tão bonito que feria seus olhos
91
Maya Banks
KGI 11
quando olhava. Percebeu agora que o que sentira era solidão. E inveja pelo que seus irmãos
tinham e ele não.
Olhou para Zoe enquanto abria a porta do passageiro para ela. Quem pensava que em tão
pouco tempo seu futuro agora estaria ao seu lado e que, pela primeira vez, realmente entenderia
e seria capaz de sentir tudo o que seus irmãos falavam, compartilhavam e viviam.
— Fique do outro lado da porta, vou virar as costas e proteger a abertura no batente para
que ninguém possa vê-la se trocar. — Disse. — Não há ninguém por perto, mas caso apareça,
prometo que não verão nada. Apenas se apresse antes que eu seja tentado a espreitar. — Ele
provocou.
Para sua surpresa e deleite, ela respondeu rindo. — Você é incorrigível, Joe. Mas Marlene já
tinha me avisado. Ela disse que você era o gêmeo mal, sempre aprontando e que Nathan era o
mais calmo. Agora entendo o que ela quis dizer.
Ele ofegou em fingido ultraje e indignação. — Vou fazer você saber que sou considerado o
gêmeo sensível. Nathan é apenas um homem das cavernas sem bons modos. Você viu como ele
trata minha pobre cunhada Shea?
— Sim. — Ela disse em uma voz melancólica. — É óbvio que ele a ama muito. Adorei vê-los
juntos.
A sobrancelha de Joe subiu. Não tinha percebido que ela estivera assistindo a qualquer
pessoa ou casal em particular no churrasco ou que tivesse sido capaz de classificar as
apresentações aleatórias para fazer as conexões entre nomes e rostos, mas era óbvio que Nathan
e Shea captaram sua atenção e que ela passou muito tempo estudando-os.
— Eles têm uma história bastante incrível. — Ele disse suavemente.
— Oh? O que você quer dizer? — Perguntou ansiosamente.
Ele sorriu para si mesmo. Sua Zoe era uma romântica. Bom saber. Pelo menos agora sabia
uma maneira de ganhar pontos a seu favor no caminho.
— É uma longa história e nem sempre é bonita. Mas definitivamente é linda.
— Uau! — Ela suspirou. — Isso foi lindo, Joe.
A testa dele franziu em confusão. — O que você quer dizer?
— A forma como falou. O jeito que descreveu. Foi muito poético.
Havia um leve desejo em sua voz, como se ela quisesse que alguém lhe falasse dessa
maneira.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer e então ele sorriu.
— Por mais que eu queira receber o crédito pelo meu lado filosófico, tenho que confessar
que o texto dessa declaração não foi premeditado.
— Isso é o que torna tudo ainda mais bonito. — Disse ela intencionalmente. — Mas o que
você quis dizer exatamente, com nem sempre foi bonito. Eles discutiam muito ou algo assim?
Quando ela disse isso, bateu no ombro dele para deixá-lo saber que tinha terminado, e ele
se virou, sorrindo para ela. — Não, baby. Acho que nunca os vi realmente discutindo. Bem, a
menos que Nathan esteja preocupado que algo que ela está fazendo vai ser muito duro com ela.
— Você sabe que todo o seu rosto se acende quando você fala sobre eles? — Zoe perguntou
calmamente.
92
Maya Banks
KGI 11
Ele sorriu de novo. — Sim, acho que sim. Você tem que entender. Nathan é meu gêmeo.
Compartilhamos algo que a maioria das pessoas não entende. Mas Shea percebe porque ela é
uma parte disso. Vou te contar tudo sobre isso algum dia. Prometo. Mas como disse, é uma longa
história e partes dela definitivamente não são para os fracos de coração. Mas sempre foi
destinado a ser um felizes para sempre. Nathan não teria aceitado outra maneira. Só levou um
pouco mais para chegar lá do que outros. Mas se eu tivesse que adivinhar, é ainda mais doce por
essa razão.
— Você já ouviu a si mesmo? — Ela perguntou enquanto ambos fechavam as portas depois
de entrarem na caminhonete. — Você tem a maneira mais eloquente de frasear as coisas. Eu
poderia passar horas apenas te ouvindo falar.
Ele levantou a cabeça, surpreso. Olhou para ela um longo momento antes de perceber que
ela estava absolutamente séria. Então ele riu. Riu tanto que colocou os braços sobre o volante e,
em seguida, pousou a testa em cima deles e sibilou até as laterais de seu corpo doerem.
Zoe fez um som de exasperação. — O quê foi? — Perguntou. — O que você tem? Eu retiro o
que disse. Você fala como um idiota.
Ela fez um som ofegante e cruzou os braços sobre o peito, olhando para ele pela sua visão
periférica.
— Desculpe querida. — Ele disse, ainda tentando conter a risada. — Você tem que entender
que, de acordo com o resto de meus irmãos, sou impaciente, pavio curto e mal-humorado. Para
não mencionar rude. Hmm, eles gostam muito da palavra “sujo” quando se trata de descrever-me.
— Disse com um sorriso em sua direção. — Se ouvirem você descrever qualquer coisa que tenha a
ver comigo como sendo eloquente ou, Deus me livre, lindo, eles ririam feito bobos. Inferno, eles
provavelmente iriam rir muito.
— Bem, eles parecem idiotas. — Disse Zoe sombriamente.
O calor se espalhou por seu peito e deslizou até o pescoço até que o agarrou ferozmente ao
redor da garganta. Ninguém jamais o defendeu de seus irmãos. Todos estavam geralmente muito
ocupados concordando com a avaliação deles sobre ele para oferecer qualquer desacordo. E, no
entanto, Zoe parecia querer entrar e chutar seus traseiros por insultá-lo.
— Não machuque ninguém, querida. — Ele riu. — Em sua defesa, sou tudo isso. Bem, a
maior parte do tempo. Parece que faço exceções para mulheres realmente lindas, de nome Zoe.
Ela abaixou a cabeça e afrouxou os braços até que suas mãos caíram no colo. Olhou para
elas por um longo momento antes de inclinar a cabeça para estudá-lo mais uma vez.
— Esqueço o que faz na maior parte do tempo.
Seu sorriso e riso pronto desapareceram quando ele ficou tenso. — Que difícil deve ser
proteger e defender as pessoas que sequer sabem o risco tão grande que você corre. Eu ficaria
chocada se você fosse todas aquelas coisas que seus irmãos lhe chamam. Mas isso não é quem
você é. Eu não vi essa pessoa nenhuma vez. Acho que descobri o seu pequeno segredo, Joe Kelly.
Ele olhou para ela com horror. — Não vai me expor, certo?
— Você é um cara legal. Um cara duro por fora e um doce completamente molengo no
interior.
93
Maya Banks
KGI 11
Ele quase engasgou. Cobriu sua reação com uma tosse e então limpou a garganta. Um doce?
Oh espera, não apenas um doce. Foi muito pior. Um doce pegajoso e molengo. Mãe de Deus. Se
ele pensou que seus irmãos iriam rir da sua cara antes, isso não era nada comparado com a
maneira que seria expulso as gargalhadas da sala de guerra, se alguma vez soubessem que Zoe o
chamou de um doce “pegajoso, molengo e suave”.
Sua expressão deve ter sido tão horrorizada quanto ele sentiu porque ela explodiu em
gargalhada e continuou a rir tanto que estava enxugando lágrimas das bochechas. — Oh, Deus, se
você pudesse ver seu rosto. — Ela balbuciou e sufocou.
— Sim, sim, divirta-se. Chutar um homem quando ele está caído. — Resmungou de bom
humor. — Vamos ver quem tem a última risada.
— Eles também te chamam de mal-humorado? — Ela provocou.
— Definitivamente.
Ela rachou de rir novamente. — Não! Não consigo imaginar por quê.
— Sarcasmo não combina com você, linda senhora.
— Acho que combina muito bem. — Ela disse descaradamente.
Bem, ela o pegou, mas afinal tudo combinava com ela. Não conseguia pensar em uma única
coisa que não se adequasse a ela.
— Oh, aqui estamos. — Disse, surpresa e um pouco desapontada, quando entraram no
complexo.
Ele compreendeu o sentimento muito bem. Hoje fora um dos melhores dias em que se
lembrava. Estava lá em cima com o dia em que soube que seu gêmeo estava finalmente seguro e
voltando para casa quando não se sabia se Nathan estava morto ou vivo. Ou o dia em que Shea,
muito traumatizada, finalmente retornou para eles depois de dias completamente retirada em si
mesma como a única maneira que tinha de sobreviver ao pior.
Franziu a testa. Até agora, todos os melhores momentos que podia lembrar giravam em
torno de Nathan e Shea ou seus outros irmãos e momentos memoráveis com suas esposas. Nunca
antes tivera alguém com quem compartilhar esse tipo de momentos. Até agora.
Ele a olhava amorosamente enquanto estacionava na frente da casa de sua mãe, sabendo
que ela não veria como estava olhando para ela. Estava muito ocupada olhando para a varanda
como se esperasse que sua mãe ou pai saísse a qualquer momento.
— Zoe.
Ela se virou para olhá-lo. Ele tocou um cacho de cabelo, puxando-o com ternura para longe
da bochecha para colocá-lo atrás da orelha. — Obrigado por hoje. — Disse, roçando o polegar
sobre seu queixo e mandíbula.
Ela olhou inquisitivamente para ele. — Não deveria ser essa a minha fala?
— Não, a não ser que você seja eu e tenha tido um dos melhores dias de sua vida pelo
segundo dia consecutivo. — Ele disse sem qualquer indício de brincadeiras em seu tom.
O olhar dela se suavizou e por um momento ele viu tanta necessidade, tanto anseio em seus
olhos, que era como um soco no estômago. Já não podia resistir à tentação de sua atração.
Lentamente, diminuiu a distância entre eles na cabine da caminhonete. Segurou sua mandíbula
em sua palma, inclinando sua cabeça na posição certa para receber seu beijo.
94
Maya Banks
KGI 11
Não disse nada por medo de quebrar o feitiço. Em vez disso, gentilmente pressionou os
lábios contra os dela. Engoliu seu suspiro ofegante, sugando-o profundamente em seus pulmões,
saboreando-o antes de relutantemente expulsá-lo mais uma vez. Deslizou lentamente sobre a
superfície de seus lábios, provando cada centímetro, não deixando nenhuma parte intocada ou
sem provar. Então se tornou um pouco mais ousado, movendo a língua para frente, pedindo que o
deixasse entrar enquanto continuava o gentil assalto em sua boca.
Ela ofegou, os lábios se separaram e um barulhinho de respiração soou, quase como um
soluço minúsculo, desapareceu em sua boca enquanto deslizava a língua para dentro, esfregando
sensualmente sobre a dela. Tocando, recuando, realizando uma dança delicada. Cuidando para
não bater em seus sentidos ou sobrecarregá-la, simplesmente continuou a derramar cada pedaço
de seu amor e desejo em um precioso beijo.
De repente, ela se afastou, as lágrimas enchendo seus olhos enquanto olhava para ele. O
pesar brilhou em seu olhar. Pesar? Que porra é essa?
— Desculpe Joe. Deus, eu sinto muito. — Disse com um grito agonizado. — Não quis te
induzir. Sei que enviei sinais mistos. Mas não podemos fazer isso. Eu não posso. — Sussurrou em
uma voz torturada. — Oh Deus, você não vê?
— Não, não vejo. — disse com o tom mais gentil que conseguiu reunir quando estava furioso
por dentro por ela estar se culpando. Mal direcionando a culpa!
— Você merece alguém muito melhor do que eu. — Disse, lágrimas correndo pelo rosto. —
Por favor, temos de esquecer que isso aconteceu.
Ele quase bufou. Como se isso fosse acontecer. E que merda ela estava dizendo sobre ele
merecer alguém melhor? Queria colocar o punho no maldito vidro, estava tão enfurecido por
como uma desculpa patética de um ser humano poderia derrubar uma mulher tão doce,
vulnerável e bonita como Zoe. Ele queria matar o filho da puta!
— Desculpe. — Ela sussurrou novamente.
Antes que pudesse se acalmar e confiar em si mesmo para falar sem rugir e assustá-la até a
morte, ela abriu a porta, desceu e se foi, deixando-o sentado na caminhonete, olhando frustrado,
enquanto ela corria para a casa.
Ficou sentado ali por um longo momento, antes de perceber que Rusty viera para fora e
agora estava de pé à sua janela esperando que ele tomasse conhecimento dela. Rapidamente
desceu o vidro da janela e ela deu-lhe um olhar cheio de simpatia para consolar a dor.
— Mamãe está com ela. — Rusty disse calmamente antes que pudesse exigir a resposta.
Ele bateu com o punho no volante e praguejou fortemente. Então deixou cair a mão e deu a
sua irmã um olhar de remorso.
— Não se atreva a desculpar-se por algo que estou fazendo desde a primeira vez que vi Zoe
de novo. — Rusty olhou para ele.
— Que diabos ele fez, Rusty? E não me dê essa besteira de resposta de antes. Estou
perdendo-a logo depois que ganhei tanto terreno com ela hoje. Eu a beijei e ela se assustou.
Começou a se desculpar dizendo que eu merecia alguém muito melhor. Que merda é essa?
95
Maya Banks
KGI 11
Os lábios de Rusty tremiam e a tristeza enchia seus olhos. — Não é minha história para
contar, Joe. Mesmo se eu soubesse toda a história. Você não pode me pedir para trair Zoe quando
todo mundo na vida dela já fez isso. Não posso fazer isso com ela. Iria destruí-la.
Ele suspirou. — Não, claro que não pode querida. Sinto muito. Estou tão frustrado. Não
posso perdê-la. Não vou perdê-la. — Disse mais enfaticamente.
Ela sorriu. — Se você se sentar e não fizer nada, então, que tipo lamentável de Kelly, você
seria?
— Está certo. — Ele rosnou. — Veja. Ela precisa de você agora. Seja uma boa amiga para ela,
Rusty. Não vou pedir para você trair sua amizade. Mas, droga, não me importo com o que você vai
dizer a ela, mas certifique-se que ela não vai começar a se esconder de mim. Temos um encontro
amanhã à noite. Vou cozinhar para ela em minha casa e espero que você a deixe pronta para sair
quando eu chegar aqui. Posso confiar em você?
Ela estendeu a mão e cobriu o braço dele. Ele então pegou sua mão e apertou
afetuosamente. — Vou deixá-la pronta para sair. Você só estará aqui como disse que faria e
deixará o resto para mim. Ok?
— Estou confiando meu futuro a você, Rusty. — Disse calmamente. — Ela é tudo para mim.
Você entende isso?
O sorriso de Rusty era estranhamente triste. — Entendo muito bem o que acontece quando
um homem Kelly decide que uma mulher é dele. É uma pena o resto da população masculina não
poder ser como você. Não se preocupe Joe. Eu te ligo se surgir alguma coisa. Entretanto, deixe-nos
ter nosso tempo de garotas. Vou convencê-la a ir amanhã, e depois cabe a você.
Então sua expressão ficou séria e ela o olhou diretamente nos olhos. — Não vai ser fácil, Joe.
Espero que saiba disso e que esteja preparado. Você não vive a sua vida sob uma pilha de merda
e, em seguida, tem alguém escavando para te tirar e convencê-lo em apenas um dia que você
cheira como um jardim de rosas. Você precisará ter paciência com ela e lidar com muito cuidado.
— Você tem um jeito com as palavras, irmãzinha. — Disse ele, balançando a cabeça. Então
bufou. — Um jardim de rosas. Tenho que me lembrar disso.
Ela riu, mas a tristeza em seus olhos ainda o incomodava porque ele tinha um sentimento
que o que viu não tinha nada a ver com Zoe e tudo a ver com algo que estava fazendo sua irmã
mais nova parecer derrotada. Porque derrota nunca foi uma palavra usada num mesmo contexto
que Rusty Kelly.
Até agora.
Capítulo Dezesseis
Zoe estava encolhida contra a cabeceira da cama de Rusty, os joelhos erguidos até o peito,
os braços envoltos em torno das pernas enquanto descansava o queixo sobre eles. Estava tão
envergonhada, e só tinha a si mesma para culpar depois de ter feito um espetáculo daqueles
quando Joe a beijou.
96
Maya Banks
KGI 11
Ok, então não foi só porque ele a beijou. Foi o jeito como ele a beijou. Era a promessa de
amor e para sempre em seu beijo que a destroçou. Aqui estava um cara dando tudo de si, sem
esconder nada. Tudo o que ela tinha sonhado em um homem, só que ela o encontrou muito tarde
para fazer qualquer diferença. Havia honestidade e sinceridade em seu beijo, em suas palavras e
até em suas ações. Sem decepções ou mentiras. Não, isso era tudo o que ela fazia. Essas coisas
vinham dela e isso quebrou seu coração.
Joe era um cara bom. Uma raça rara que ela sequer imaginava que existia fora dos contos de
fadas e das lendas urbanas. Ele era muito mais do que bom. Muito bom para os gostos dela e da
sua laia. Muito bom para ser contaminado por seu legado de crime, assassinato e corrupção.
Apesar de que derrubar o império de seu pai poderia ficar bem no currículo da KGI.
O pensamento histérico subiu e morreu tão depressa quanto brotou. As lágrimas
queimavam suas pálpebras e fechou os olhos, recusando-se a chorar mais por tudo o que nunca
teve e nunca teria. Tudo bem antes, quando não sabia o que estava perdendo. Não sabia que o
que fantasiava não era uma mera fantasia, mas um verdadeiro homem de carne e osso. Um
homem que parecia interessado nela. Em Zoe Kildare. E esse era o problema. Por mais que Zoe
gostasse de declarar que Stella Huntington era uma mulher que já não existia, nunca existiu, Zoe
Kildare era o personagem fictício. Não Stella. Zoe não tinha uma certidão de nascimento. Nenhum
passado além do que Rusty havia fabricado, não importava quão habilmente isso tivesse sido feito.
Zoe era apenas a amiga imaginária de Stella, resultado de sua infância patética e solitária e de sua
recusa em aceitar a realidade. Talvez se tivesse descoberto antes o verdadeiro inferno que sua
vida era, não seria tão ingênua agora como adulta. Crédula. Isso cobria todas as bases em uma
única palavra. Deveria ser a mulher mais crédula do mundo.
— Sis, se você se torturar mais um pouco, terá hematomas amanhã. — Disse Rusty enquanto
se sentava na cama ao lado dela.
— Sou um idiota, Rusty.
Para seu horror, uma nova torrente de lágrimas brotou em seus olhos enquanto falava.
Rusty envolveu ambos os braços em torno dela e abraçou-a ferozmente. Zoe a segurou
enquanto as lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto.
— Sou tão estúpida. — Sussurrou. — Eu queria - quero - tanto o que não posso ter que dói.
Rusty afastou-se dela e olhou firmemente, seus traços desenhados em uma expressão feroz.
— Por que diabos você diria uma bobagem como essa? Você acha que ele é melhor do que você
Zoe? Acha que esta família é melhor do que você? Que eu sou melhor do que você? Pelo amor de
Deus, escute a si mesma. Você sabe de onde eu vim. As coisas que fiz. As coisas que eu tinha que
fazer. Como isso é pior do que sua situação? Você não fez nada além de nascer das pessoas
erradas, e se isso é um crime, então me tranque em um inferno com um monte de outras pessoas
agora e jogue fora as malditas chaves.
— Minha identidade de vida inteira é uma mentira completa. — Zoe disse seriamente. —
Menti para toda a sua família. Para Joe. Você acha honestamente que ele apenas encolheria os
ombros se eu dissesse, oh bem, se soubesse que tudo o que sabe sobre mim, que tudo que eu
disse a ele, não é nada além de invenção? Eu sequer sei quem sou agora, então como posso
esperar que ele queira alguém que nem existe?
97
Maya Banks
KGI 11
O sorriso de Rusty era suave e cheio de compreensão e compaixão. — Porque o amor é

assim. O amor é o que há na ausência de provas. O amor não exige evidências, e se o fizer, então é
uma aberração fodida do amor, e pessoalmente não quero ter nada a ver com isso. Além disso,
você não mentiu sobre o que importa. Nunca mentiu sobre quem você é hoje. Agora. Quem você
era quando entrou nesta casa. Você foi a pessoa que sempre foi, mas nunca foi permitido ser.
Como isso está errado? Eu vou te dizer o que está errado. São as pessoas que nunca permitiram
que você fosse qualquer coisa exceto a pessoa que eles queriam que fosse. Isso é fodido, Zoe.
Você quer ser livre de toda essa merda, livre para ser quem você quiser e acima de tudo livre para
ser feliz, não essa bagunça. É real, é bom, é precioso e está certo. Você nunca vai me persuadir a
pensar de forma diferente. Nunca vai persuadir uma única pessoa nesta família a pensar diferente,
e isso certamente não mudaria a maneira como meu irmão olha para você. Você não entendeu?
Você é amada, Zoe. Você. Não a pretensa Stella. Não a pessoa que você pensa que é. A verdadeira
você. Quanto mais real você quer?
Zoe ficou quieta e depois franziu o cenho enquanto processava a declaração apaixonada de
Rusty. — Você age como se mentir sobre quem e o que eu sou para todos na sua família e
especialmente Joe não fosse grande coisa.
Rusty suspirou. — Só é grande coisa porque você fez com que fosse querida.
Zoe olhou para sua amiga em total perplexidade. — O que sugere que eu faça? Diga a Joe a
verdade?
Ela deixou escapar a pergunta que estava queimando para perguntar, mas não estava
preparada para a resposta calma e simples de Rusty. — É exatamente o que eu acho que deve
fazer.
— O que? Você está louca? Como isso resolve alguma coisa? Você acha que eu quero
envolver mais alguém na bagunça que é a minha vida? Não quero que ele ou alguém de sua
família se machuque por minha causa! — Ela explodiu.
— Querida, eu não estou menosprezando sua situação quando digo isso, mas afinal de
contas eu te falei sobre o que meus irmãos fazem diariamente, você acha que eles sequer vão se
incomodar com sua situação? Você acha que se esconder pelo resto de sua vida, sem amigos, sem
família, sem chance de amar, será uma solução real para a ameaça contra você? Meus irmãos
podem ajudá-la. — Rusty disse em voz baixa. — Eles absolutamente a ajudariam. E não é isso que
você quer? Que a situação seja resolvida para que possa dormir à noite sem se preocupar se vai
morrer no dia seguinte ou nunca acordar para vê-lo? É esta a maneira que você quer continuar?
— Claro que não. — Disse Zoe, com um soluço saindo do peito.
Ela enterrou o rosto nas mãos, enxugando impotente as lágrimas escorregando por suas
bochechas.
Os braços de Rusty rodearam-na mais uma vez enquanto as duas mulheres se abraçavam em
silêncio. Zoe enterrou o rosto no ombro de Rusty enquanto seu corpo tremia com soluços
baixinhos. Rusty acariciou seus cabelos, oferecendo conforto e apoio enquanto Zoe lentamente se
recompunha. Quando os soluços se acalmaram, Zoe se afastou, as mãos tremendo ao encontrar o
olhar sério e simpático de Rusty.
98
Maya Banks
KGI 11
— Eu não sei o que fazer. — Admitiu. — Estou tão cansada, Rusty. Estar aqui com você e sua
família está sendo um inferno para mim. O melhor tipo de céu e o pior tipo de inferno ao mesmo
tempo, e é exaustivo. É como ser provocada com tudo que eu sempre quis, mas nunca pude ter.
— Responda honestamente. — Disse Rusty, prendendo-a com o olhar. — Você se importa
com Joe? Você poderia se ver amando-o? E não me ofereça razões pelas quais você não deve ou
razões por que não pode. Só estou interessada em ouvir sua resposta honesta e sincera.
Por um momento, Zoe ficou paralisada e incapaz de formular uma única palavra. Seus lábios
pareciam entorpecidos e congelados. Fechou os olhos e finalmente sussurrou o que tentara
desesperadamente não se permitir sentir, mas falhara miseravelmente. — Já o amo.
Quando abriu os olhos, Rusty estava sorrindo para ela através de suas próprias lágrimas.
Apertou as mãos de Zoe nas dela enquanto uma única lágrima escorregava pelo seu rosto. —
Então acho que você tem a resposta. Você vai desistir de qualquer chance que tem de uma vida
feliz com o homem que ama, porque está com medo de todos os “e se”? Ou vai sair da sua bunda,
correr o risco e colocar tudo nos trilhos?
— Você realmente acha que eu deveria... Contar a ele? Tudo? — Zoe perguntou inquieta.
— Cada palavra. De seu pai até ao cabeça-de-merda do Sebastian. Não só ele e meus outros
irmãos podem ajudá-la, mas querida, eles vão ajudá-la. Mesmo se você não significasse nada para
Joe, o que claramente não é o caso, eles ainda iriam ajudá-la. É quem eles são e o que fazem.
— Você faz parecer tão fácil. — Zoe disse miseravelmente.
— É. — Disse Rusty. — É difícil se você dificultar. Mas querida, escute-me. Joe ama você. Isso
é claro para quem tem olhos. Ele vai praguejar como um louco e fazer todos os tipos de ameaças
contra a humanidade, mas ouça-me. Nenhuma parte de sua ira e raiva será direcionada para você.
Ele vai querer sair e chutar o rabo de Sebastian e depois pisotear em cima do seu pai, e tenho
certeza que meus outros irmãos terão que acalmá-lo - isto é, depois que eles pararem de fazer
suas próprias ameaças contra todos que já te prejudicaram. Mas ele ficará tão louco e
emocionado que você confiou nele e que deu a ele essa última parte de você que ele sabe que não
tem ainda.
— Você parece tão certa. — Zoe disse duvidosa.
— Eu estou! — Disse exasperada. — Quer que eu escreva isso em sangue? Ou talvez
devêssemos fazer um pacto de sangue entre nós.
Zoe riu. — Só se incluir o desenvolvimento mais recente entre você e um certo xerife quente
chamado Sean Cameron.
A expressão de Rusty tornou-se assassina, mas por trás da raiva estava tão ferida que Zoe se
encolheu com a emoção crua flamejando nos olhos de sua amiga.
— O que aconteceu? — Zoe perguntou suavemente.
Rusty suspirou e então caiu para trás na cama, estendendo os braços para fora. — Ele está
me deixando louca. Eu te falei sobre o beijo.
— Sim.
— Bem, desde O Beijo, ele não poupou nenhuma oportunidade de colocar tanta distância
entre mim e ele quanto possível. O comprimento que ele faz para me evitar é ridículo, para não
mencionar infantil, vindo de um homem crescido que é um xerife.
99
Maya Banks
KGI 11
Zoe franziu o cenho. — Não me pareceu que ele estivesse te evitando no churrasco. Na
verdade, parecia que era você quem estava evitando-o.
— Sim, bem, isso é porque de repente ele parou de me evitar e eu estava apenas dando-lhe
uma dose de seu próprio remédio. Acontece que ele não gostou muito. Imagina.
Zoe começou a rir. — Oh, entendi. Então você vai saltar sobre mim sobre o sacrifício dos
meus desejos e os sentimentos de culpa, mas está sacrificando seus desejos e anseios por causa
de uma vingança mesquinha?
— É uma ótima razão. — Rusty fungou.
— Ok, vou te dar um desconto. Ele tem sido um idiota desde o Beijo.
— Nem me fale.
— Então, quando você vai deixá-lo fora do gancho?
Rusty levantou-se para apoiar-se nos cotovelos. — Hã? Quem disse que eu farei tal coisa?
Zoe revirou os olhos. — Vamos amiga. Como se você não tivesse fantasias sérias sobre “o
policial” desde que era adolescente?
Rusty corou e abaixou o olhar. — Lamento muito ter te contado há quanto tempo tenho
essa paixonite estúpida por Sean. — Ela murmurou.
— Paixonite estúpida? Acho que você está bem além desse estágio agora. — Zoe disse
gentilmente. — Admita. Você está apaixonada por ele.
Rusty fez uma careta. — Se você contar isso a alguém eu te mato. Joe pode nunca me
perdoar, mas eu posso viver com isso.
— Parece que você precisa de uma dose de seu próprio remédio. — Zoe apontou.
— O que isso quer dizer? — Rusty resmungou.
— Você está aqui me dando conselho sobre não deixar o amor ir e colocar tudo nos trilhos.
Então, tome seu próprio conselho. Ele decidiu parar de te evitar. Você não está curiosa para saber
por quê? Pare de evitá-lo e confronte-o em um lugar em um momento em que ele não pode
possivelmente afastar-se de você e colocá-la para fora. Não aceite não como resposta ou deixe-o
esquivar-se da questão. O que você tem a perder?
— Tudo. — Disse Rusty suavemente. — Agora posso imaginar todos os tipos de razões pelas
quais ele me evitou a cada passo depois de me dar o mais abrasador beijo de minha vida. Mas
imaginar e saber são duas coisas diferentes. E se ele não sente o mesmo por mim?
— Gostaria de salientar aqui que você pode pensar que sabe como Joe sente, mas nós não
sabemos ao certo, e ainda assim você quer que eu me declare para ele e arrisque ser dispensada.
E é disso que você tem medo, não é? Ser dispensada por ele.
— Bingo. — Disse Rusty, a voz tão baixa que Zoe mal podia ouvi-la.
— Eu entendo. — Disse, estendendo a mão para Rusty. — Mas você não saberia de um jeito
ou de outro? Dessa forma, se ele te der o fora, então você pode fechar essa porta de uma vez.
Prosseguir com a sua vida e superá-lo e encontrar alguém que irá apreciá-la como a mulher
maravilhosamente impressionante, insanamente inteligente e bela que você é.
— É difícil imaginar sequer sentir por outro homem o que sinto por Sean. — Disse Rusty, as
lágrimas se formando em seus olhos novamente. — Meu Deus, Zoe. Se ele me rejeitar novamente,
vai me esmagar, e nada nunca foi capaz de me esmagar e me manter para baixo na minha vida.
100
Maya Banks
KGI 11
Nem a cadela da minha mãe. Nem o idiota do meu padrasto. Nenhum dos outros idiotas que
tentaram tirar vantagem de uma garota adolescente. Mas Sean me rejeitando poderia.
— O que pretende fazer se não o confrontar? Fazê-lo falar com você e tomar conhecimento
de você? — Zoe perguntou com simpatia.
— Ficar velha, me tornar uma senhora com gatos e cartazes por toda a propriedade com
sinais de “proibido invadir” e executar todos que entrarem na minha propriedade com uma
espingarda. — Rusty murmurou.
Zoe resmungou. — Você é muito jovem, muito inteligente, talentosa e linda para isso.
Nenhum homem vale esse tipo de vida.
Rusty suspirou. — Você está certa. Sei que está certa. Por mais que me doa admitir isso, já
que sou eu que deveria estar no seu traseiro por causa de merda assim.
— Então talvez ambas devêssemos colocar as cartas na mesa e se formos rejeitadas, então
poderemos nos tornar velhas donas de gatinhos juntas, mas deixarei o manuseio dos intrusos e da
espingarda para você.
Rusty começou a rir mesmo enquanto limpava uma lágrima perdida de sua bochecha. —
Deus, eu te amo, Zoe. Você honestamente é a irmã que nunca tive, mas sempre quis. E tenho
trocentas cunhadas, para não mencionar todos os adotados de Mama Kelly, e eu amo muito todos
eles, mas nunca poderia compartilhar com eles tudo o que compartilhei com você.
— O mesmo vale para mim. — Disse Zoe em voz baixa. — Eu te amo, Rusty, e não importa o
que aconteça com Joe, em meu coração você sempre será minha sis. Espero que saiba disso.
Rusty se inclinou e as duas mulheres se abraçaram novamente, apenas segurando
firmemente uma a outra.
— Então... Sobre Sean? — Zoe aventurou-se.
Rusty suspirou. — Vamos fazer um acordo. Você vai jantar com Joe como planejado amanhã
à noite e contar tudo a ele. Sean trabalha amanhã à noite; no entanto, sei como entrar na casa
dele. Seu sistema de segurança é uma merda total considerando que ele é um policial. E talvez eu
só esteja esperando por ele quando ele chegar em casa depois do trabalho.
Zoe arregalou os olhos. — Sério?
Rusty assentiu com a cabeça. — Não posso deixar você ser mais corajosa que eu. Nós irmãs
temos que ir juntas nisso. Vamos buscar os nossos homens. Ou algum outro ditado sentimentalista
assim. Se eu sentar e esperar o traseiro teimoso de Sean, vou acabar ficando velha com apenas
dezenas de gatos para me fazer companhia.
— Não importa onde eu esteja, o que estou fazendo ou com quem estou, você tem que jurar
me ligar assim que terminar com Sean. — Disse Zoe com firmeza.
— O mesmo vale para você depois que contar tudo a Joe. Combinado?
Zoe sorriu e abraçou Rusty uma última vez. — Fechado sis. Eu te amo, sabia?
Rusty sorriu. — Também te amo, Zoe. Se tivermos sorte, Joe e Sean nunca saberão o que os
atingiu.
Mas a dúvida e o medo se refletiam em seus olhos enquanto se afastavam.
101
Maya Banks
KGI 11
Capítulo Dezessete
— Ela está aqui! — Shea Kelly guinchou quando correu para a porta.
Nathan sacudiu a cabeça, sorrindo enquanto seguia sua esposa para saudar a irmã Grace, o
marido de Grace, Rio, e sua filha adolescente adotada, Elizabeth. Embora as duas irmãs pudessem
falar telepaticamente à vontade, diariamente, não se viam pessoalmente com tanta frequência
porque Rio vivia em Belize num complexo fortificado, longe dos olhos curiosos do público. Mais
importante ainda, fora do radar do governo, já que Grace havia sido declarada morta alguns anos
antes.
Quando chegou à porta, viu Shea e Grace em uma maratona de abraços loucos enquanto Rio
estava de lado com um olhar divertido em seu rosto. Rio trocou olhares com Elizabeth e então os
dois reviraram os olhos.
— Hey cara. — Nathan gritou enquanto descia os degraus da varanda. — Olá, Elizabeth.
Deus, menina, olhe para você! Eu juro que toda vez que te vejo é como olhar para uma estranha.
Rio, você tem certeza que não precisa de uma equipe designada apenas para proteção dela? Você
provavelmente tem um problema sobre meninos durante todo o dia.
Elizabeth corou, mas parecia satisfeita com o elogio de Nathan.
Rio colocou o braço em volta do pescoço da filha e puxou-a para o lado dele. — Tive que
matar dois só esta semana. — Rosnou. — Em breve vou precisar de um novo local de desova se
ela continuar atraindo-os como moscas.
— Paaai! — Ela reclamou, gemendo.
Rio sorriu para ela, mas Nathan percebeu o calor que entrou em seus olhos quando olhava
para Elizabeth. Ela foi deixada órfã aos doze anos depois que o pai, o chefe impiedoso de um
império criminoso mundial, foi morto pelo mesmo homem que raptara Grace para que ela
pudesse curar Elizabeth, que na época estava morrendo de uma forma difusa de Câncer.
Foi necessário tempo e o constante e inabalável amor de Rio e Grace por Elizabeth para ela
se ajustar e chegar a um acordo com o que seu pai tinha sido, a sua própria culpa e a preocupação
de que Rio e Grace não poderiam amá-la depois que seu pai quase causou as mortes dos dois. Por
alguns anos depois de morar com eles, sempre os chamou pelo nome. E, um ano antes, enquanto
jantavam, ela perguntou a Rio se ele se importava se o chamasse de pai.
Grace enviou a Elizabeth um olhar cheio de lágrimas, por que ambas haviam discutido a
provável reação de Rio no dia em que ela se aproximou de Grace para chamá-la de mãe. Rio
confessou mais tarde aos seus companheiros de equipe da KGI que, ao lado do dia em que Grace
se tornou sua, foi o melhor dia da vida dele.
Finalmente, as irmãs se afastaram, ambas enxugando lágrimas de seus rostos. Nathan
estremeceu, porque embora fosse óbvio que as lágrimas eram de alegria, ele odiava ver Shea
chorar. Era um fato bem conhecido que ele se sentia impotente se ela derramava uma lágrima.
Muitas mulheres aproveitariam disso, mas Shea não. Mas ela não precisava recorrer à
manipulação para conseguir o que queria. Nathan lhe daria a lua se ela pedisse.
— Oi, Nathan. — Grace disse, se aproximando para abraçá-lo enquanto Shea trocava
abraços com Rio. — Estou muito feliz por você cuidar bem de Shea.
102
Maya Banks
KGI 11
— Na verdade, é ela quem cuida de mim. — Nathan disse com um sorriso. — Mas estou feliz
em aceitar o crédito.
Grace riu.
— Você está pronto para fugir? — Rio perguntou a Nathan.
Nathan assentiu e puxou Shea em seus braços. — Vocês divirtam-se. Não vamos demorar.
Reunião padrão e check-in.
Grace, Elizabeth e Shea acenaram quando Nathan e Rio dirigiram a curta distância da casa de
Nathan para a sala de guerra.
Shea deixou cair a mão e se virou para sua irmã e sobrinha. — Vamos lá, vocês duas. Temos
tanto para conversar! Eu não as vejo o suficiente.
Grace sorriu. Na verdade, estava quase radiante. E brilhando como uma estrela. Parecia ter
engolido a luz do sol e seu sorriso era tão feliz que as lágrimas picaram as pálpebras de Shea. Não
muito tempo atrás, as duas irmãs estavam desesperadas e fugindo por suas vidas, inseguras se
nunca mais se veriam. Agora tudo estava perfeito.
Sentaram-se no sofá e Shea mordeu o lábio para suprimir seu próprio sorriso pateta. Às
vezes a vida apenas ficava melhor. Olhou para Grace e achou que ela estava um pouco esquisita.
Shea lambeu os lábios exatamente quando Grace abriu a boca.
— Eu...
— Tenho...
— Novidades!
As duas mulheres pararam, então se encararam, chocadas, e depois começaram a rir.
Elizabeth revirou os olhos, mas Shea percebeu que ela se aproximou ainda mais de Grace e o fato
de ela ter enfiado a mão entre a de Grace e segurá-la firmemente.
— Ok, então nós duas obviamente temos novidades. — Shea disse quando finalmente
ganhou compostura. — Você primeiro.
Grace estava inquieta pela excitação. Olhou para Elizabeth, e Elizabeth lhe deu um sorriso
encorajador. O sorriso de retorno de Grace era suave e cheio de amor. Então ela virou olhos
brilhantes para Shea. — Estou grávida. — disse Grace, com a voz embargada.
A boca de Shea se abriu. — Você está falando sério? Mesmo?
— Mesmo!
Shea caiu de costas no sofá, segurando seu estômago enquanto ria. Lutou para se endireitar,
mas estava ofegante quando tentou dizer alguma coisa. Enxugou os olhos com o dorso da mão e
sorriu como uma idiota para Grace e Elizabeth. Então balançou a cabeça.
— Parece que realmente compartilhamos tudo. Estou grávida também. — Confessou
timidamente.
Grace a olhou atordoada. Elizabeth guinchou e mergulhou em direção a Shea, segurando-a e
abraçando-a enquanto ela tremia de excitação.
— Meu Deus! Dois bebês! — Elizabeth disse, batendo palmas quando se afastou de Shea.
— Shea? — Perguntou Grace com voz preocupada. — Você está feliz com isso? Pensei que
você e Nathan estavam esperando um pouco.
103
Maya Banks
KGI 11
Shea lhe enviou um sorriso que só poderia ser interpretado como delírio absoluto. — Esperei
boba. É só que nos últimos meses, começamos a falar sobre isso. É algo que Nathan quer mais do
que tudo, mas acho que está preocupado em me pressionar e que não é o que eu quero, então ele
não diz muito sobre isso agora.
— Assim sendo você tomou as coisas em suas próprias mãos. — Grace disse secamente.
Shea sorriu. — Se esperássemos nossos homens para fazer as coisas, íamos esperar para
sempre.
Grace suspirou. — Isso é verdade. Então você está feliz, Shea? Muito feliz? E é isso que você
quer?
— Oh, sim. — Shea respirou. — Aqui tem sido uma fábrica regular de bebês nos últimos
anos. Juro que sou a única que ainda não deu a luz. Mas uma coisa que eu notei é que parece
estar pegando. Eu não ficaria surpresa se houvesse uma súbita erupção de gravidez em todas as
esposas. Maren já está grávida, então podemos culpá-la se alguém tentar nos culpar por uma
operação bebê.
Grace prendeu a respiração. — Ela está? Oh, isso é maravilhoso! Steele com dois bebês.
Deus, eu preciso de uma foto disso.
— Nós duas precisamos. — Shea riu. — Nathan disse que ele estava fora de órbita no dia em
que descobriu, que estava enlouquecendo numa reunião da KGI.
Grace cobriu o riso com a mão. — Pobre homem. Oh, bem, esta é a primeira vez de Rio,
então isso deve tirar o foco do Ice Man. Eles terão sangue fresco para atormentar agora que Rio
vai se afogar em fraldas e mamadeiras e noites sem dormir. Talvez eu não devesse contar a ele por
um tempo. Isso iria manter todos fora de seu caso por algumas semanas extras de qualquer
maneira, certo?
Shea ergueu a mão. — Uau. Espere um minuto. Ele não sabe? Você não contou a ele?
Grace fez uma careta. — Acabei de descobrir. Sim, eu poderia ter dito ao Rio antes de sair de
casa em Belize, mas se eu tivesse dito, ele provavelmente não teria me deixado vir. Na verdade,
provavelmente me manteria sob rígido bloqueio e chave durante toda a gravidez.
— Ele certamente faria isso - Murmurou Elizabeth.
As duas mulheres riram.
— Bem, eu não disse a Nathan também, mas descobri esta manhã e não quis contar dois
minutos antes que vocês chegaram aqui e então empurrá-lo porta afora. O pobre homem não
seria capaz de se lembrar de seu próprio nome depois de uma notícia como essa.
Grace acenou com a cabeça. — Isso é verdade. Acho que vamos dar aos nossos maridos
algumas notícias esta noite, hein?
— Parece que sim. — Shea disse com um sorriso.
Grace sorriu para ela, lágrimas brilhando em seus olhos. — Não acredito que estamos
compartilhando isso. Não consigo pensar em nada mais perfeito.
*****
104
Maya Banks
KGI 11
Joe entrou na sala de guerra esperando que ninguém o olhasse de perto. Ele parecia - e se
sentia - como uma merda. Não dormiu nada que valesse à pena a porra da noite anterior, apesar
de ganhar a garantia de Rusty de que Zoe estaria em sua casa esta noite. Estava muito
concentrado nas centenas de outras coisas que poderiam dar errado, resultando em que ele não
tivesse uma chance no inferno com Zoe.
Um dia atrás teria dito que estava a apenas dois centímetros de patético. Hoje? Há muito
tempo superou patético e foi direto para desesperado.
Acenou com a cabeça para seus irmãos mais velhos, mas não parou para conversar
enquanto se dirigia para onde sua equipe estava de pé.
— Hey, espere um segundo. — Chamou Donovan.
Joe parou e se virou para ver Donovan correr para alcançá-lo. Ele tinha um olhar preocupado
no rosto. Porra.
— O que há, Van? — Perguntou levemente.
Os olhos de Donovan se estreitaram daquele jeito de não me venha com fingimento. — Tudo
bem com Zoe? — Ele perguntou, abaixando a voz para que não fossem ouvidos. Joe apreciou isso
pelo menos.
— Eu não sei. Ainda. — Acrescentou Joe. — Mas vou chegar lá. Sei o que preciso saber hoje
à noite. — Acrescentou vagamente.
Donovan franziu a testa, estudando seu irmão mais novo por um longo momento.
— Posso fazer alguma coisa?
Joe suspirou. — Você descobriu alguma coisa na família dela? Parentes? Irmãos? Esse tipo
de coisa? Você não os mencionou, então supus que não existe nenhum, mas não confirmei com
você.
Donovan balançou a cabeça lentamente. — Ela era filha única. De acordo com meu relatório,
os pais morreram em um acidente de carro quando ela tinha dezessete anos. Não encontrei nada
sobre lares adotivos, mas não é incomum que um jovem de dezessete anos seja emancipado em
vez de uma ordem judicial. Pode ser que ela não correu atrás de ajuda e apenas se virou sozinha.
O inferno é, ela era provavelmente mais inteligente para fazer isso. Há um monte de grandes
prestadores de cuidados de adoção lá fora, mas também há uma tonelada de sanguessugas para
receber o cheque todos os meses também. Parece que ela era inteligente e engenhosa e fez isso
por conta própria. Ela tem coragem, e isso é admirável.
— Ela não deveria ter ficado sozinha por tanto tempo. — Joe disse em, a mandíbula bem
apertada. — Admirável ou não, é uma merda não ter ninguém para se apoiar ou estar lá para
ajudá-lo se você cair.
— Você planeja ser essa pessoa no futuro? — Perguntou Donovan casualmente.
— Planejo sua bunda, eu sou! — Ele estalou.
Então percebeu quão perfeitamente seu irmão tinha ceifado a armadilha e como ele caiu
nela rapidamente. Franziu o cenho para Donovan e entrou em seu espaço, seu dedo para cima e
apontando. — Se você disser uma porra de palavra ou de um sorriso presunçoso eu reorganizarei
esse sorriso para você. — Joe rosnou. — Além disso, se disser merda a qualquer um, e isso inclui
os outros palhaços que eu chamo de irmãos, e Zoe descobrir ou causar algum problema para ela,
105
Maya Banks
KGI 11
então haverá um problema sério entre você e eu. A última coisa que preciso agora é mais uma
razão para ela me empurrar para longe, não me deixar entrar ou correr o inferno tão rápido e tão
longe de mim e de todos aqui quanto possível. Você entendeu?
Donovan mal conseguiu sufocar o riso, mas estava lá, reluzindo em seus olhos verdes. Mas
em vez de agredir Joe ainda mais, ele o surpreendeu deixando cair o sorriso e adotando um olhar
de completa seriedade. — Estou falando sério cara. Se precisar de qualquer coisa, absolutamente
qualquer coisa. Não importa a que hora do dia, onde estou ou onde você está, me chame. Eu serei
o irmão mais velho puto se você me ignorar sobre isso. Estamos claros?
Joe assentiu, sem confiar em si mesmo para falar em torno do nó na garganta.
— Como conseguiu que Eve confiasse em você? No começo, quero dizer. — Disse quando
recuperou a compostura.
O olhar de Donovan se suavizou diante da menção de sua esposa. — Não lhe dei qualquer
escolha. — Admitiu. — Eu era um idiota, se você quiser saber a verdade. Mas eu era um idiota
desesperado. Ela estava indo para... Inferno, o que estou dizendo, ela estava fugindo. De mim, de
todos os outros. E não havia nada que eu pudesse fazer a respeito disso senão pressionar minha
vantagem e usar todas as ferramentas disponíveis, incluindo coerção e manipulação.
Ele estremeceu, mas continuou. — Não estou orgulhoso do jeito com o qual lidei, mas
também não me arrependo, porque consegui meu objetivo, Eve está aqui. Travis e Cammie estão
aqui. Seguros. Amados. Cuidados. Não estão lá fora correndo riscos ou, Deus me livre, se seu
padrasto bastardo não tivesse sido levado e ela ainda estivesse fugindo, ela poderia, neste
momento, estar nas mãos dele, sob seu controle. — Donovan estremeceu, os olhos escurecendo
com raiva e... Medo e dor.
— Então não, não tenho nenhum arrependimento, porque no final do dia, eles estão todos
seguros. Às vezes... Bem, tem que ser dito. Às vezes, a abordagem homem das cavernas realmente
funciona melhor.
Joe explodiu em gargalhadas. — Essa é boa! Você, que sempre me ensinou e o resto de
nossos irmãos sobre a maneira correta de tratar uma mulher. Que sempre criticou nossos
métodos de homem das cavernas e o fato de não sermos suficientemente sensíveis às
necessidades das mulheres. E agora de repente, quando é sobre a sua mulher que estamos
falando, você está praticamente batendo no peito, grunhindo e rosnando “minha mulher”. Estou
surpreso que você não a arrastou pelo cabelo. Ou que permita que eu e o resto dos homens da
família olhemos para ela, muito menos conversemos com ela.
Donovan lançou-lhe um olhar descontente. — Talvez tenha considerado fortemente não
deixar qualquer um dos meus irmãos tontos respirar o mesmo ar que minha esposa, mas ela me
informou que meu pensamento de Neandertal, por mais cativante que fosse, simplesmente não
funcionaria com ela. E então ameaçou me negar sexo até que eu vi o erro de meus caminhos.
Joe ofegou e gaguejou, os olhos molhando quando gargalhou. Imaginou a calma e doce Eve
olhando furiosa para Donovan e se recusando a fazer sexo com ele, e se dobrou, segurando o
estômago enquanto uivava.
— Você zomba da minha dor. — Disse Donovan com a voz ferida. — Espere Sr. Sensível. Sua
hora está chegando. Ria agora. Aproveite enquanto tem a chance. Seu tempo é tão limitado que
106
Maya Banks
KGI 11
nem é engraçado. O inferno disso é que você não vai se importar nem um pouco. Você andará em
torno dela manso, sem suas bolas, mas com um grande sorriso no rosto, jurando que está
adorando tudo.
Joe sorriu. — Enquanto a mulher certa estiver na posse de minhas bolas, então não, eu não
me importarei nem um pouco.
Os lábios de Donovan se contraíram e ele deu um tapa nas costas de Joe, terminando a
sessão de tortura. — Jesus, homem, você faz a diversão de zombar de você perder a graça. Você é
patético. Você deveria ser mais desafiante do que isso. Era seu dever ser o último homem em pé.
Joe deu-lhe uma saudação de dois dedos e depois se juntou a sua equipe, que estava
olhando para ele estranhamente. Exceto Nathan, que sabia muito bem o quanto a vida de seu
gêmeo estava mudando - já havia mudado. Suspirou e rezou para que fosse capaz de fazer um
anúncio para sua equipe em breve. Isso significaria que Zoe estava a bordo e que seu
relacionamento como ela era uma coisa certa.
— Está tudo bem? — Perguntou Nathan em voz baixa.
Joe suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Sim. Acho que sim. Espero que sim. Inferno, não
tenho nenhuma merda de pista e não terei até esta noite.
— O que vai acontecer esta noite? Algo que eu possa fazer para ajudar?
— Marquei um encontro com Zoe para jantar na minha casa. Então eu a beijei quando a
levei de volta para a casa da Mamãe ontem à tarde. Sabe, depois que já tínhamos planejado o
jantar para esta noite.
Nathan se encolheu. — Uh-oh. Isso não soa bem.
Joe soltou a respiração. — Sim. Nem me fale. Ela se assustou. Começou a balbuciar um
monte de merda sobre não ser boa o suficiente para mim. Que eu merecia alguém melhor. Que
ela estava enviando sinais mistos e que era tudo culpa dela. Porra. Pior ainda, ela se desculpava
repetidamente. Cada frase era, eu sinto muito. Eu me senti muito constrangido, cara. E antes que
eu pudesse corrigir essa carga de porcaria, ela fugiu e correu para casa. Jesus.
— Maldição. — Nathan disse calmamente. — E mesmo assim ela irá a sua casa esta noite?
— Oh, sim, — Ele murmurou. — Rusty prometeu-me, não importa o que ela tivesse que
fazer, ela convenceria Zoe a ir quando eu chegasse lá. Estou contando com ela. Falando em Rusty.
Sabe de alguma coisa acontecendo com ela?
Nathan lhe enviou um olhar intrigado. — Que diabos você está falando? O que o faz
perguntar isso?
Joe suspirou. — Só perguntando. Não consigo descobrir, mas algo está acontecendo. Ela não
é a mesma. Não está agindo como ela mesma. Mas isso é tudo que sei e não queria levantar o
alarme quando poderia ser apenas minha imaginação hiperativa. Estou tão fodido com essa coisa
com Zoe que quem sabe o que estou vendo.
Sam chamou a atenção, interrompendo sua conversa com Nathan. Estava tudo bem, ele não
tinha mais nada a dizer, e se tivesse que especular ou se preocupar mais com o estado de espírito
de Zoe ou com o estado de seu relacionamento, ou a falta dele, iria perder a porra de sua mente e
começar a latir para a lua.
107
Maya Banks
KGI 11
— Allie estará no comando na próxima hora. — Sam anunciou. — Ela falará sobre as etapas
em desativar três das bombas mais comuns usadas em ameaças e em ataques terroristas
domésticos. Prestem atenção, meninos e meninas, porque haverá dever de casa, e um teste sobre
isso em poucos dias. — Ele disse com diversão não disfarçada. — E nos reuniremos amanhã para a
palestra de campo e demonstração deste exercício. Estou sendo bonzinho com vocês, docinhos.
Não vai demorar muito, e sim, é obrigatório. Se vocês faltarem seus salários serão encurtados e
vocês ficarão de lado. Apenas no caso de alguém estar pensando em deixar passar.
Houve uma série de resmungos, palavrões e maldições ecoaram através da sala de guerra.
Provavelmente foi uma das poucas vezes em que Garrett não foi ameaçado pelo uso da palavra
com F (fuck/porra), ou uso repetido delas. Falando no assunto, era difícil separar quem estava
reclamado mais, desde que veio de tantas direções.
— Jesus, o que levantou o rabo dele? — Ryker resmungou. — Não me lembro de ele ser um
idiota. Posso estar repensando meu emprego.
— Oh, eu tenho uma boa ideia do que levantou seu traseiro. — Skylar murmurou, lançando
um olhar que poderia encolher as bolas de um homem em direção a Allie.
Joe reprimiu o riso e tentou adotar um olhar severo, apropriado para um líder de equipe.
Falhou. Miseravelmente.
— Provavelmente está preocupado com o fato de Allie ficar por perto, já que não tivemos
muita ação nas últimas quatro semanas. — Edge murmurou, interceptando sua opinião.
— Talvez essa seja sua tentativa de mostrar a ela como somos sérios. Você sabe, porque não
podemos estar brincando e fazendo piadas quando temos tempo de inatividade. Isso seria
altamente impróprio.
Swanny sufocou e cobriu o som com uma tosse, cobrindo a boca para também esconder o
rosto. Nathan apertou os lábios, mas eles ainda se contraíram suspeitosamente. Skylar bufou e
revirou os olhos. Ryker emitiu uma risada que o fez receber olhares do resto da sala.
— Pelo amor de Deus! — Skylar murmurou. — Dê-me quinze minutos no ringue com ela e
vou mostrar quanto sou terrivelmente séria.
Os olhos de Ryker se arregalaram e ele parecia estar prestes a cair de joelhos e adorar Skylar
no altar. Ele até colocou uma mão sobre o coração como se recitando sua promessa de fidelidade
a sua companheira de equipe.
— Oh merda, seria quente. — Edge respirou, os olhos se alargando de forma exagerada. —
Oh, espero sinceras desculpas pela minha infeliz e extremamente inapropriada resposta, Sra.
Watkins. A resposta mais adequada seria, que seria muito educativo e um excelente exemplo do
quanto esta organização composta de agentes das forças especiais sérios é extremamente séria. E,
claro, o quanto levamos a sério a séria questão de bater, quer dizer, a questão de treinar
seriamente nossos novos recrutas, a seriedade com a qual respeitamos, particularmente quando
se trata da séria questão do humor. Nós, naturalmente, não temos senso de humor e tomamos
como ofensa grave à suposição de que os sensos de humor inexistentes são inadequados de todas
as maneiras.
Skylar não aguentou, estourando em risos e tremendo tão forte que começou a respirar com
dificuldade. Segurou as costelas, sufocando cada vez que tentou formar uma palavra. Os olhos de
108
Maya Banks
KGI 11
Swanny eram enormes enquanto ele olhava fixamente em choque para o grande homem que
tinha acabado de falar mais palavras em um minuto do que em todo o tempo que tinha sido
membro do KGI. Nathan e Joe trocaram olhares divertidos, cada um balançando a cabeça.
— Puxa. — Sussurrou Ryker. — Essa foi boa. Merda, não tinha ideia do bando irreverente no
qual eu caí. Acho que estou apaixonado. De uma forma completamente platônica, heterossexual,
é claro.
— Jesus. — Murmurou Nathan. — Temos motins em nossas mãos. Temos um
temperamento pior do que P.J., com mais do que o suficiente para apoiar a bravata, e então
temos um cara que faz com que meus outros irmãos pareçam ter dois anos de idade no
departamento de sarcasmo. E então o cara novo aqui está incitando todos eles. Você lida com
eles, Joe.
Joe bufou. — Estou com medo de Skylar. Acho que vou ficar aqui e manter a boca fechada
ou ela pode decidir me dar quinze minutos no ringue. Eu gosto da minha boa aparência do jeito
que é. Mas Edge, cara, tenho que dizer, essa é a merda mais engraçada que já ouvi na minha vida.
Você vai escrever isso para mim para que eu possa pendurá-lo no quarto da equipe? Estou
pensando em torná-lo nosso novo mantra. É algo para aspirar, sabe? Todos devemos nos esforçar
para ser mais... Sérios.
Os outros gemeram. Swanny revirou os olhos. — Deixe o humor para Edge, cara. Você
acabou de matar a brincadeira.
— Algum de vocês se importa em compartilhar o que é tão engraçado? — Sam perguntou.
— Uh-oh. — Edge murmurou para que apenas sua equipe pudesse ouvir. — A Super Nanny
está prestes a dar castigos porque alguém riu durante a aula.
Skylar e Swanny fizeram sons sufocantes novamente, Ryker tinha seu rosto virado para o céu
enquanto falava graças a Deus, e Nathan parecia congelado no lugar enquanto Joe lutava com
seus lábios que tentavam se arreganhar em sua maldita cara. Ah foda-se. Edge estava certo. Skylar
estava certa. Esta besteira séria era apenas isso. Merda. Se a novata não conseguisse lidar com um
pouco de humor mórbido, então ela não pertencia a nenhuma equipe do KGI para começar.
— As coisas estavam ficando um pouco... Sérias demais. — Joe disse, fazendo seus
companheiros gemerem enquanto lutavam contra outra risada. — Tentando acabar com a
monotonia. Alguém tem um problema com isso?
Ele examinou a sala enquanto fazia a declaração desafiadora, o olhar persistido em Allie um
pouco mais que os outros. Sim, ele a estava chamando. Era óbvio, mas sua equipe estava certa.
Todos precisavam aliviar a merda. Quando seu olhar encontrou Allie novamente, ela corou e
então olhou para baixo, percebendo a mensagem de sua equipe. Joe sentiu uma pontada de
culpa. Não queria envergonhá-la, mas puta merda, ela se envergonhou o suficiente na última
reunião, quando cada pessoa tinha tentado fazê-la se sentir mais à vontade.
— Não quando você deixa alguém além de Sophie manter suas bolas para você, Sam. — Joe
falou pausadamente. — Alguma razão especial por que está permitindo isso agora?
O olhar de Sam era assassino. Garrett parecia que estava prestes a estourar um vaso
sanguíneo enquanto lutava para manter uma cara séria. Donovan sequer tentou. Ele cobriu o
rosto com uma mão e olhou para cima como se orasse por orientação, libertação ou força. Joe não
109
Maya Banks
KGI 11
podia dizer qual. Ou talvez estivesse rezando para que Joe desaparecesse antes que Sam
estourasse algo. Uma coisa estava clara, entretanto. A equipe de Joe não foi a única que teve
problemas com o julgamento e a desaprovação de Allie. Eles eram apenas os únicos que tiveram a
coragem de dizer qualquer coisa.
Sam cruzou os braços sobre o peito e então se recostou contra a plataforma de
planejamento enquanto olhava para Joe. — O que exatamente isso quer dizer? — Perguntou em
uma voz perigosamente tranquila.
Skylar limpou a garganta. — Não quer dizer nada, Sam. Ele está cobrindo os comentários que
eu fiz, e embora você provavelmente os consideraria inadequados, eu os mantenho.
Joe ergueu a mão. — Menos, Sky. E isso é uma ordem.
Skylar ergueu uma das sobrancelhas, mas se calou. Lançou a Edge um olhar inquisitivo. Joe
não podia culpá-la. Ele e Nathan não davam ordens e definitivamente não falavam do jeito que ele
acabou de falar, como se estivesse em alguma viagem de poder. Era uma equipe. Um grupo bem
organizado, bem oleado e malditamente eficiente que fazia o que era necessário, sem perguntas.
— A minha equipe está de acordo com as declarações e opiniões expressas pela minha
equipe. — Disse Joe, aumentando a voz. — Não estaríamos tendo essa conversa se você não
tivesse entrado no que era claramente a comunicação entre a equipe na tentativa de
microgerenciar e suprimir qualquer dica de um maldito senso de humor. Pegue uma pista, Sam.
Ninguém na minha equipe é ofendido pelo humor ou opiniões, então procure outro lugar para o
seu problema. Agora, se conseguirmos acabar com isso, eu apreciaria, e tenho certeza que todos
os outros também.
Os lábios de Allie estavam pressionados e a culpa sombreava seus olhos. Rio não parecia
chateado nem satisfeito. Ele estava tão ilegível como sempre, embora ele disse alguma coisa,
obviamente para Allie, porque ela acenou com a cabeça e voltou para a fortaleza de sua equipe.
Bem. Deixe sua equipe protegê-la. Para isso é que eles estavam lá. E deixe sua equipe lidar com a
vara no rabo que ela tinha. Os problemas dela não significavam que a organização inteira da KGI
tinha um problema, e Sam precisava entender isso rapidamente antes que P.J., que era mais
franca do que Sky, descascasse o rabo de Allie.
O olhar de Joe se dirigiu para onde a equipe de Steele estava postada para obter a reação
deles, mas sequer se incomodou em olhar para Steele. O homem exibia a mesma expressão vinte
e quatro horas, sete dias por semana. Exceto quando descobriu que sua esposa estava grávida, Joe
mentalmente emendou. Os olhos de P.J. estavam dançando de riso e ela estava olhando para Sky.
Quando Sky olhou na direção de P.J. ela deu uma piscadela exagerada e um sinal com o polegar
atrás das costas de Cole para que não fosse testemunhado por toda a sala.
Cole encontrou a expressão de Joe com o semblante preocupado quando inclinou a cabeça
em direção a P.J. e, em seguida, gesticulou sutilmente na direção de Sky. Joe quase riu. Cole estava
claramente orando por misericórdia. Provavelmente teria que suportar mais de um dos discursos
inflamados e irritados de P.J., depois que P.J. e Skylar fizeram grandes esforços para suavizar as
coisas com Allie na primeira vez em que Allie demonstrou preocupação com a leviandade no local
de trabalho. Allie obviamente não foi apaziguada, a julgar pelo modo como a reunião seguinte fez
com que sua ira ficasse cada vez maior. E depois de hoje? E Sam sendo um idiota conservador para
110
Maya Banks
KGI 11
combinar com o jeito inflexível de Allie? Joe ficou muito feliz por não ter que ir para casa com P.J.
ou Skylar. Ou Edge. Edge raramente ficava chateado. Ele era um cara do tipo “viva e deixe viver”,
curto em palavras, mas grande em ação. Mas era óbvio que Allie o esfregou da maneira errada e
igualmente claro que o lado de sua lealdade estava alinhada com Sky, que era sua melhor amiga,
colega de quarto e de trabalho.
— Você e eu conversaremos mais tarde. — Sam disse friamente.
Foda-se que não. Joe tinha peixe maior para fritar do que ouvir um maldito sermão de seu
irmão mais velho. Além disso, Sam realmente não queria foder com ele agora. Seu temperamento
estava em um pavio curto e sua paciência estava em pedaços. Uma palavra errada de Sam e ele
lhe diria onde ele poderia enfiar a KGI e seu trabalho.
Não é a melhor ideia para entrar em um novo relacionamento desempregado.
Joe voltou para sua equipe e revirou os olhos, mas Skylar olhou para ele com olhos grandes,
azuis e infelizes que brilhavam com desculpas. Edge parecia preocupado, e Swanny estava apenas
olhando estranhamente para ele. Nathan era o único que parecia estar relaxado e despreocupado,
mas afinal ele era o único que sabia a fonte do pavio curto e temperamento quente de Joe.
— Vamos apenas respirar e passar por isso. — Joe disse em voz baixa. — Não tenho tempo
para lidar com Sam ou qualquer uma dessas besteiras agora, mas vou lidar com isso, eu juro.
— Sinto muito ter aberto minha boca. — Skylar disse miseravelmente, enquanto ela e o
resto da equipe tentavam parecer que estavam prestando atenção ao ataque de Allie sobre
desativação de bombas. — Foi infantil da minha parte e não vou deixar você ser punido por minha
infantilidade, Joe. Você é um grande líder de equipe e não merece essa porcaria.
Ele sorriu gentilmente para ela. — Você não acha que todo mundo aqui está pensando
exatamente o que você disse, mas foi a única disposta a dar voz a isso? Olhe, se Rio quer deixá-la
arruinar a química da equipe dele, é problema dele, não nosso. Duvido que ele ou qualquer um de
seus homens tenha um senso de humor da porra de qualquer maneira, então provavelmente não
estão nem aí para a atitude de superioridade ou arrogância dela. Mas ela não vai ferrar com a
minha equipe. E ninguém na minha equipe vai receber suspensão como um porra de aluno de pré-
escola por falar o que passa na sua mente. Jesus, você sabe como isso é insano? Quando alguém
nesta organização já foi censurado por falar o que pensa? Inferno, até agora, sempre foi
encorajado. E quem, nesta organização, nunca soltou piadas em “momentos impróprios” ou
criticou essa organização por não ter sido séria ou o que quer que ela tenha em seu traseiro?
— Sequer sou da marinha, mas isso tem um sério hooyah de mim. — Edge murmurou. — E
isso é um sério trocadilho.
— Tenho que dizer: não poderia ter dito melhor. — Swanny murmurou.
Os lábios de Skylar curvaram-se e seus olhos cintilaram com diversão. — Vamos ser
desgarrados?
Joe cobriu o riso com a mão, esfregando os lábios até que o som em sua garganta diminuiu.
Ryker parecia animado. — Cara, tenho que dizer, minha vida era chata pra caralho antes de
me juntar a vocês. Suponho que um dia normal no trabalho é um conceito estranho para vocês,
pessoal.
111
Maya Banks
KGI 11
Nathan inclinou-se para frente, fingindo interesse nos diagramas que Allie estava
apontando, provocando outra rodada de risos de sua equipe.
— Não vamos ser desgarrados. — Disse Nathan, impressionantemente mantendo os lábios
imóveis enquanto continuava seu ato de ventriloquismo. — Sky vai desafiar Allie para uma luta de
biquíni na gelatina, e Joe vai desafiar Sam para uma luta de polegares, melhor de três jogos.
— Oh inferno sim. — Ryker disse, os olhos esperançosos.
Edge bufou. — Estava esperando P.J. versus Allie. Luta na lama. Roupa opcional. Sky é como
minha irmã, cara. Eu teria que lixar meus olhos se eu a visse total ou parcialmente nua.
— Estou estranhamente ofendida por isso. — Skylar arrastou. — Deus, vocês parecem
idiotas. Sabem disso, não é?
Joe sorriu. — Claro que sim. Você não pensou que estávamos falando sério, não é? Jesus. E
arriscar não só a sua ira, mas a sua, de P.J. e de Allie? Uma de vocês já é ruim o suficiente, mas
todas três na minha bunda ou na bunda de qualquer outra pessoa? Como eu disse, prefiro a minha
boa aparência intacta. Não necessito reorganizar minhas bolas.
— Além disso, ele está praticando para a próxima vez que estivermos reunidos e não
tivermos que assistir a uma apresentação sobre bombas chata pra caralho. — Nathan ofereceu. —
Se ele disse toda aquela merda na frente de Allie, então qualquer coisa que qualquer um de nós
disser ou rir é pálida em comparação.
— Uma trama inesperadamente desonesta. — Skylar disse admiradamente. — Eu aprovo.
Tenho que admitir, porém, que tive um momento de raiva quando você começou a jorrar toda
essa merda machista. Você tem sorte de estar longe o suficiente de mim e eu não reagi e coloquei
você em sua bunda e servi as suas bolas na minha palma.
— E ela se pergunta por que fico de boca fechada. — Joe murmurou. — Bem, na maioria das
vezes.
As gargalhadas, roncos e risos do restante da equipe foram abafados por uma variedade de
extensos, provocadores e desconfiados olhares do resto dos membros da KGI.
— Joe?
Joe ficou imediatamente alerta, todos os sinais de descontração e piada desaparecendo
instantaneamente. Lutou por um breve momento, tentando coordenar e direcionar todo seu foco
pelo estreito caminho mental que o ligava a Shea.
— O que foi querida?
Mesmo enquanto fazia a pergunta, olhou para Nathan por sua visão periférica, mas ele
estava completamente relaxado, braços cruzados sobre o peito enquanto observava Allie encerrar
sua palestra instrutiva. — Você precisa de ajuda?
Sua risada suave o deixou tranquilo e sentiu seu abraço tranquilizador. Nunca conseguiria
entender como ela fazia isso. A comunicação era estranha o suficiente por si só, mas como diabos
ela conseguia fazer parecer como se estivesse tocando-o fisicamente quando não estavam sequer
a uma distância de verem um ao outro? Era tão incompreensível quanto sua habilidade de não
apenas bloquear a dor da pessoa com quem ela estava conectada telepaticamente, mas também
tomá-la para si mesma, redirecionando não apenas a lesão, mas a dor real que se seguia.
112
Maya Banks
KGI 11
— Sinto muito. Tentei pensar na melhor maneira de conversar com você sem você pensar o
pior, mas, bem, não existe um jeito. Mas estou bem, juro. Eu só queria saber se você poderia fazer
algo para mim?
Ela soou incerta e um pouco hesitante no final, fazendo Joe franzir o cenho.
— Claro querida. Você tem que saber disso. Você sabe, ou deve saber, que tudo que tem a
fazer é pedir. Agora qual é o problema e o que precisa que eu faça?
Ele se sentiu tão bem quanto ouviu seu pequeno suspiro de alívio. Mulher louca. Teria uma
conversa séria com ela para procurá-lo quando precisasse de alguma coisa. Não importa o que
fosse.
Seu riso suave invadiu sua mente novamente. — Você sabe que posso ler sua mente quando
estamos conectados como agora. Como se você tivesse dito isso. Pensar e dizer são a mesma coisa.
Ele mentalmente revirou os olhos. Deus o ajude com mulheres inteligentes. Parecia que
estava atormentado com elas hoje.
Ela riu novamente. Ele franziu o cenho, certificando-se de que ela estava na recepção
telepática do processo.
— Nathan disse que ia ser detido depois da reunião por um tempo. Algo a ver com tirá-lo de
uma bagunça para que você pudesse ir para casa e se concentrar em seus problemas femininos.
Palavras dele, não minhas, ela apressadamente emendou. De qualquer forma, qualquer outra hora
você sabe que eu não me importaria, Joe, mas preciso que ele vá direto para casa. Tenho algo...
Especial... Planejado. Há algo que preciso dizer a ele, e me perguntei se você poderia talvez se
certificar de que ele não demorasse depois da reunião de vocês hoje?
Com suas palavras veio um flash de insight, ou melhor, uma visão em seus pensamentos.
Sentiu-a sorrindo e a alegria o inundou, ou melhor, sentiu sua alegria e, em seguida, a imagem de
Shea com um ventre proeminente, a mão descansando protetoramente sobre o ventre enquanto
sussurrava suavemente para seu filho por nascer.
Pura merda!
Ele olhou de lado para o irmão novamente, mal conseguiu conter o sorriso de assumir seu
rosto. Nathan ia ser pai! Seu gêmeo teria seu primeiro filho. Merda, isso era épico!
Então ficou sério.
— Querida, você está feliz com isso? Foi planejado? Estavam todos tentando?
Nathan não tinha dito nada a Joe sobre a possibilidade e eventualidade de Shea ficar
grávida. Será que Nathan não teria compartilhado algo tão importante com a pessoa com a qual
ele era mais próximo na terra, depois de sua esposa?
— Ele não te disse por que não estávamos tentando. — Disse Shea suavemente. — É difícil
colocar em palavras.
Ela riu da piada involuntária. — Ou melhor, pensamentos, suponho. Conversamos sobre isso,
sim. Mas ele estava preocupado que eu não estivesse pronta e que ele estava projetando seus
próprios desejos para mim, então parou de falar sobre isso completamente. Mas ele
definitivamente quer uma criança - eu quero uma criança. — Ela disse, com convicção em suas
palavras.
113
Maya Banks
KGI 11
— Só quero ter certeza de que você está feliz. — Joe disse calorosamente. — Afinal, vocês
são minhas duas pessoas favoritas na Terra. Parabéns, mãezinha. Estou muito feliz por você e meu
irmão. E sim, vou me certificar de que ele vá embora logo depois de terminarmos aqui, o que deve
acontecer nos próximos dois minutos.
— Obrigada Joe. Você é o melhor. Você vai ser o padrinho deste bebê, você sabe né?.
Seu coração inchou com uma miríade de emoções. Amor. Gratidão. Orgulho. E esperança.
Tanta esperança. Não só para seu irmão e cunhada, mas também para ele, que em um futuro não
muito distante, essa seria sua vida. Com Zoe.
— Você vai chegar lá, Joe. Você tem que acreditar nisso. Se você a ama, então nunca duvide
dela ou de você ou da eventualidade de uma vida com ela.
— Obrigado menina.
Graças a Deus não estava tendo que manter essa conversa falando ou nunca seria capaz de
tirar as palavras em volta do enorme nó em sua garganta. — Preciso correr agora. Estamos
terminando, então você tem cerca de dez minutos para se preparar.
— Amo você, Joe.
— Também te amo, querida. Cuide bem de si e da minha sobrinha ou sobrinho.
Nesse momento, Allie terminou sua sessão e então deu um passo atrás, indicando a Sam que
a palavra era dele. Todo mundo estava pegando suas coisas e começando a seguir na direção da
entrada. Sam suspirou e apenas disse: — Dispensados. Vamos recomeçar às nove amanhã de
manhã.
Nathan hesitou, e Joe deu-lhe um tapinha no ombro. — Não se preocupe, cara. Posso te ler
como um livro. Você não vai escutar o sermão de Sam no meu lugar para que eu possa chegar em
casa e descobrir o meu plano de jogo para esta noite. Nós dois estamos indo. Foda-se Sam. Ele
pode esperar até amanhã.
Nathan sorriu. — Não é um plano ruim. Shea disse que tem uma surpresa para mim quando
voltar, e suas surpresas geralmente envolvem lingerie sexy.
Joe gemeu. — Cara, fala sério? Podemos deixar isso pra lá?
— Claro! — Nathan disse com satisfação. — Você não receberá nenhuma informação sobre
como a minha mulher fica linda com a lingerie da Victoria's Secret.
Joe lançou-lhe um olhar terrível. — Foi você quem começou o assunto lingerie. Lembra?
Capítulo Dezoito
O estômago de Zoe estava cheio de borboletas quando terminou de aplicar o brilho labial
cintilante e bateu os lábios enquanto examinava seu reflexo no espelho. Nenhum coque
desarrumado hoje à noite. Em vez disso, tinha escovado os longos fios, deixando-os soltos pelas
costas. Apesar de suas preocupações anteriores sobre alongar seu cabelo, teve que admitir que
gostou. Muito.
114
Maya Banks
KGI 11
Quando tudo terminasse e tirasse o alongamento, tinha o objetivo de deixar o cabelo

crescer como era agora. O constrangimento forçou seu olhar para baixo, era incapaz de sequer
encontrar seus próprios olhos no espelho. Era humilhante admitir que tinha usado seu cabelo com
um comprimento preciso apenas porque era o que seu pai exigira. Ele era muito exigente no que
queria. Mandava até na sua forma de vestir, guarda-roupa, cabelo, maquiagem e até mesmo joias
e acessórios.
— Você é uma idiota. — Acusou o reflexo olhando para ela. — Uma água-viva espinhosa que
tem medo de sua própria sombra e não possui absolutamente nenhuma iniciativa.
— Você está sendo muito dura com as águas-vivas. — Comentou Rusty secamente da
entrada.
Zoe se virou, horrorizada por tê-la ouvido falar sozinha. — Relaxe Zoe. Você parece
congelada. Precisa relaxar, e pelo amor de Deus, se dê um tempo.
Zoe suspirou. — Minha vida é uma bagunça. Sempre foi uma bagunça, e o fato de eu nunca
ter feito uma única coisa para corrigir isso ou enfrentar meu pai me mata.
Rusty levantou uma sobrancelha. — Não é isso que você está fazendo agora? Tenho certeza
de que seu querido pai não tem ideia de onde você está, o que está fazendo ou com quem está
fazendo.
Um sorriso cintilou nos lábios de Zoe. Ela lutou, mas sua boca continuou a puxar até que ela
soltou uma gargalhada. — Muito verdadeiro. — Então riu mais forte. — Pode imaginar levar Joe
para casa para conhecer meu pai? Meu pai seria todo pomposo e condescendente e Joe seria
como, “eu realmente não dou a mínima para o que você pensa”.
Rusty deu uma gargalhada, os olhos brilhando de alegria. — O pior é que posso totalmente
imaginar. Posso imaginar com qualquer um dos meus irmãos. Especialmente Garrett.
— É também ruim que de repente me sinto cem por cento melhor sobre o encontro desta
noite?
Rusty sorriu. — Você tem um gosto pela rebeldia, não é?
— Acho que sim. — Murmurou. — Quem diria que eu me tornaria uma criança tão
selvagem. Juro por toda a minha vida até agora que eu era um exemplo de obediência e
subserviência.
— Tem razão. — Disse Rusty gentilmente. — Não é crime querer amor e aceitação.
Especialmente das pessoas que devem dar-lhe livremente e sem condição. Não tenho vergonha de
admitir que eu teria feito qualquer coisa para agradar a minha mãe e até mesmo meu padrasto
cabeça de merda até que finalmente percebi que era inútil e a única coisa que tinha sido bem
sucedida foi a deterioração do meu auto-respeito.
— Eu conheço esse sentimento. — Zoe disse tristemente.
Rusty olhou para o relógio. — Joe deve chegar a qualquer momento, então você precisa
terminar de se arrumar e descer. Se o obrigar a esperar, fico preocupada que ele suba as escadas e
a leve por cima do ombro. Dê-lhe alguma folga, Zoe. Ele ficou muito preocupado quando você teve
seu colapso depois que te beijou. O pobre cara estava tão lamentável que eu nem peguei no pé
dele.
115
Maya Banks
KGI 11
Zoe revirou os olhos, mas apressou-se para completar a maquiagem. Alguns minutos depois,
afastou-se do espelho.
— Isso é tão bom quanto pode ficar.
— Você está perfeita. — Disse Rusty calorosamente. — E estou ouvindo a voz de Joe, então
está na hora. Vamos.
Zoe permitiu-se ser conduzida pelas escadas, mas se recusou a encontrar o olhar de Joe. Foi
muito embaraçoso depois de assustá-lo na noite anterior. Sussurrou adeus a Rusty, Frank e
Marlene e depois saiu para a caminhonete com ele, que abriu a porta para ela e a ajudou a entrar
antes de caminhar e entrar no lugar do motorista.
Ele ligou o motor, mas não se afastou imediatamente. Estendeu a mão e segurou a dela,
então a puxou para sua boca para beijar cada dedo. Ela olhou para ele em estado de choque.
Ele sorriu. — Finalmente. Eu não tinha certeza se você ia evitar olhar para mim a noite toda.
Ela corou furiosamente e abaixou a cabeça. Mas ele enfiou os dedos sob o queixo dela e
levantou-o para que seus olhares se encontrassem de novo.
— Não faça isso, linda. Tudo o que você está pensando ou sentindo, deixe pra lá. Você pode
fazer isso por mim esta noite?
Ela sorriu, relaxando lentamente em sua presença. — Sim, posso fazer isso.
Os olhos dele eram quentes e suaves e seu sorriso era gentil. E o sorriso se alargou com sua
concordância.
— Sim? Boa decisão. Vamos comer então. Os peixes estão todos limpos, preparados e
prontos para fritar. Até os hush puppies estão lá.
— Parece bom. Nunca fui capaz de comer peixe que eu mesma peguei. — Disse pesarosa.
— Bem, graças a você, nós dois vamos comer esta noite. — Ele disse, dando-lhe um sorriso
caloroso novamente.
Ela se encontrou sentada em um banco no balcão da cozinha, onde Joe serviu-lhe um copo
de vinho antes de instruí-la a sentar e relaxar e fazer companhia enquanto ele cozinhava.
Ela sentiu apreciativamente quando o cheiro de peixe e dos bolinhos fritos logo encheram o
ar. Estivera tão petrificada com receio dessa noite depois do desastre da noite passada, mas não
sentiu nenhum mal-estar que tinha imaginado. Era como se a noite passada sequer tivesse
acontecido. Joe ainda era tão... Joe. O mesmo cara que ele tinha sido nos últimos três dias. Era
engraçado e doce e incansavelmente consciencioso de cada necessidade dela. E a forma como
olhava para ela enviou as borboletas já presentes em modo de voo completo em sua barriga e
peito.
Quando terminou de pegar o último peixe, colocou a bandeja no balcão antes de encher o
seu copo de vinho e o dela e então deslizou para o banquinho ao seu lado. Pegou um dos peixes
sem cabeça - graças a Deus, estava sem cabeça - e colocou-o em seu prato, mas segurou-o.
— Há um pequeno truque para comê-lo, mas nada difícil. — Ele assegurou. Apertou o
polegar e o indicador sobre uma das barbatanas enquanto segurava firme no resto do corpo.
Então levantou e facilmente removeu a barbatana, criando uma linha divisória horizontal na carne
do peixe. Depois virou o peixe e repetiu o processo com a barbatana inferior também.
— Agora você está pronta para descascar um dos filés. — Disse triunfante.
116
Maya Banks
KGI 11
Cuidadosamente puxou para baixo com o polegar, deslizando uma fina fatia de carne que
estava frita em um lado e branquinha e suculenta no interior. Vapor levantou-se da carne e Zoe
percebeu minúsculas pequenas marcas pretas onduladas através dela.
— Agora, só porque eu tirei o filé não significa que não poderia ainda haver algumas
espinhas minúsculas em torno das bordas, especialmente para o topo onde as costelas estavam
localizadas. Você tem que mastigar com cuidado e se sentir qualquer coisa dura ou afiada,
manobre-o em sua língua e simplesmente cuspa em um guardanapo de papel. — acrescentou com
um sorriso.
Seus olhos se estreitaram suspeitosamente para ele. — Esta é uma tentativa de me levar em
uma viagem tipo garota-da-cidade como um peixe-fora-d’água onde eu faço ou digo algo
completamente ridículo que resulta em você rir como um bobo sobre o quanto estou totalmente
fora da minha realidade?
Sua testa franziu e ele pareceu confuso a princípio. Uma onda de vergonha e pesar a
lambeu, aquecendo a pele e enrubescendo as bochechas até que sentiram que estavam em
chamas. Ele olhou fixamente para ela, seus olhos parecendo penetrar diretamente através de suas
barreiras para que ele visse seu coração. Como se visse o quanto ela temia ser o alvo da piada dele
- ou de qualquer outra pessoa.
— Zoe, querida, isso me irritou seriamente. — Disse com uma voz rosnada. — Não porque
questionou minhas intenções. Você tem permissão para fazer isso sempre que quiser. Sempre
serei honesto com você sobre minhas intenções. Juro. O que me irrita é que algum bastardo a
tenha treinado para esperar o pior das pessoas. E me irrita ainda mais que você esteja falando por
experiência pessoal.
Ela se mexeu desconfortavelmente, tocando a carne ainda quente que nem mesmo tinha
saboreado. A última coisa que queria era a sua compaixão. E tinha o pressentimento de que se
pedisse desculpas isso só iria irritá-lo ainda mais, então não disse nada e em vez disso mordeu o
peixe com cuidado, soprando para não queimar a língua.
Prestando atenção a sua advertência, mastigou cuidadosamente, atenta a qualquer coisa
que se parecesse com um pedaço de espinha. O delicioso sabor explodiu em suas papilas
gustativas e seus olhos se alargaram instantaneamente. — Isso é muito bom. — Disse.
Ele sorriu. — Eu te daria algo ruim?
Ela deu outra mordida, mastigando rapidamente. Então pegou um dos bolinhos fritos,
percebendo que Joe estava mergulhando o dele em ketchup. Ela franziu a testa, mas como ele não
fazia nada errado, seguiu o exemplo, mergulhando seu bolinho no ketchup dele, já que ela não
tinha colocado em seu prato ainda, e então cuidadosamente deu uma pequena mordida no
bolinho de milho frito. Mais uma vez ficou atônita.
— Bom? — Perguntou Joe, divertido.
Mas ela já estava enchendo a boca com o resto do bolinho, acenando imperiosamente com
a mão livre.
Ele explodiu em gargalhadas e rapidamente desossou alguns pedaços de peixe e empilhou-
os em seu prato junto com vários bolinhos. Até esguichou uma quantidade generosa de ketchup
em seu prato e então se recostou, observando enquanto ela continuava a comer com entusiasmo.
117
Maya Banks
KGI 11
Parou quando percebeu que ele não estava comendo. Estava apenas olhando para ela.
Parou no ato de colocar mais em sua boca e se virou para olhar para ele. -O que foi? Por que você
não está comendo?
Ele sorriu aquele sorriso que despedaçava os ossos, que a fazia querer chorar e sorrir ao
mesmo tempo. Era um sorriso que tinha o efeito mais confuso sobre ela. Seus joelhos ficaram
fracos e os mamilos imediatamente franzidos. Como poderia fazê-la pensar em sexo simplesmente
sorrindo?
Ele era perigoso para todas as mulheres. Deus, se isso era tudo o que precisava, ele deveria
ter mulheres na cama todos os dias, ou pelo menos a qualquer hora que quisesse. Um homem
como ele não precisava se estabelecer com uma em particular e abraçar uma vida de monogamia.
Podia jogar por qualquer conjunto de regras que quisesse e Zoe duvidava que as mulheres se
importassem.
Então, por que estava focando tanto sua atenção e charme... Nela? Não fazia sentido. Zoe
não estava sendo lamentável ou melancólica. Tinha consciência de sua aparência. Ela era apenas
simples. Não era feia, mas estava longe de ser bonita. Definitivamente média. Alguém que se
misturava com uma multidão, nunca se destacando. Não era o tipo de parar o tráfego e estava
grata por esse fato. Isso permitiu que ela desaparecesse e permanecesse fora de radar até agora,
então tinha que estar fazendo algo certo.
— Por que diabos você está se torturando agora? — Joe murmurou, acariciando a ponta do
dedo levemente pela curva de sua bochecha.
Uma carícia tão simples tinha o poder de rouba suas palavras e fazê-la esquecer
completamente de si mesma e o que estava fazendo. O que ela estava fazendo? Além de olhar
para ele como uma idiota. Abriu a boca para responder, mas descobriu que não conseguia pensar
em nada a dizer.
— Não tenho ideia. — Finalmente admitiu. — Toda vez que você me olha dessa maneira ou
me toca, minha mente simplesmente vira geleia.
Oh Deus, ela tinha acabado de admitir isso? O chão poderia se abrir e engoli-la... Tipo agora?
Mas ele não ria nem zombava dela. Não, estava tão sério quanto possível. — Me alegro de
não ser o único cuja mente vira geleia aqui. — Ele disse calmamente. — Seria uma merda se eu
fosse o único a me sentir assim em relação a você olhando ou me tocando.
Sua boca se abriu quando ela olhou para ele. Então a fechou e rapidamente voltou para sua
refeição. Coma. Apenas coma e finja que ele não tinha dito algo absurdo ou que o resultado dele
dizer isso fez seu coração vibrar tão descontroladamente que não conseguia recuperar o fôlego.
Comeu roboticamente, com medo de olhar para ele novamente no caso de ele ter qualquer
outra revelação que certamente inclinaria a terra em seu eixo. Mas ele permaneceu quieto até
que ela terminou. Empurrou o prato para trás com um suspiro e então lhe deu um sorriso sem
olhar diretamente para ele. — Foi fantástico, Joe. Eu realmente gostei.
— Estou contente. — Ele disse simplesmente.
Ele ergueu uma perna sobre o banquinho e pegou os pratos para colocá-los na pia. Então
simplesmente voltou para onde ela estava sentada e envolveu seus dedos com os dela antes de
puxá-la para cima e guiá-la para o sofá da sala.
118
Maya Banks
KGI 11
Colocou-a sobre as almofadas fofas e depois se acomodou ao seu lado, puxando-a para
recostar-se em seu ombro. Ela se enrijeceu por um longo momento antes de relaxar gradualmente
em seu abraço. O braço dele estava enrolado ao redor de seus ombros, descansando em seu braço
oposto, os dedos preguiçosamente traçando linhas acima e abaixo de sua pele.
Estava seduzindo-a com nada mais do que o mais leve dos toques. Já estava pronta para se
afastar do sofá, e poderia chutar-se por exagerar tanto a noite antes, quando ele a beijou. Agora,
ele nunca mais a beijaria. Mas ela podia beijá-lo, não podia?
Lambeu os lábios antes de perceber o que estava fazendo. Ele gemeu suavemente e fechou
os olhos, tensão evidente em sua testa. Ele respirou profundamente e então virou a cabeça em
direção a ela, seus narizes apenas polegadas distante.
Ele estendeu a mão para tocar seu rosto, traçando sua maçã do rosto com as carícias mais
suaves. — Diga-me alguma coisa, Zoe. — Disse calmamente. — Se pudesse ter qualquer coisa que
quisesse no mundo, ter qualquer desejo concedido, o que desejaria?
Ela engoliu nervosamente. Se isso não era uma pergunta carregada destinada a levá-la a um
grande problema, não sabia o que era. Mas talvez ele estivesse cansado de ser o único a fazer
todas as aberturas. Seria esse o seu apelo para que o encontrasse no meio do caminho? Teria
mandado a mensagem errada depois de tudo?
Fechando os olhos, suspirou e reuniu sua coragem firmemente ao redor dela, as mãos
tremendo enquanto tentava trabalhar o nó na garganta. Então, finalmente, foi capaz de formar
palavras reais. — Você. — Sussurrou. — Você, Joe. Eu desejaria você.
A satisfação e tanto alívio brilharam em seus olhos, dizendo que ela não cometera de
maneira alguma o pior erro de sua vida. Ele segurou sua bochecha enquanto abaixava o rosto para
o dela, seus olhos semicerrados e pesados de desejo.
— Então faça os sonhos de nós dois se tornarem realidade, Zoe. — Disse com a voz rouca. —
Faça amor comigo. Deixe-me fazer amor com você. Deixe-me te mostrar o quanto seria perfeito
entre nós. Nunca quis tanto algo na minha vida. Nunca quis ninguém tanto quanto quero você.
Ela mordeu o lábio enquanto seu coração martelava com estrondo contra o peito. Sua boca
ficou completamente seca e teve que tirar a língua do céu da boca para que pudesse falar.
— Você realmente quer dizer isso? — Perguntou com voz rouca.
— Se você me der a chance, vou te mostrar. — Ele jurou.
— Então faça amor comigo. — Disse com o mais suave sussurro. — Por favor.
— Isso é algo que você nunca terá que me pedir. — Ele respirou além de seus lábios
enquanto suas línguas se encontravam.
Ele mergulhou fundo, acariciando a língua sobre a dela e depois explorando os recessos mais
profundos de sua boca até que ela o estava respirando. Cheirando. Totalmente intoxicada pelo seu
gosto e toque. Estremeceu quando seus dedos dançaram levemente sobre seus ombros e então
patinou por seus braços até que circundaram os pulsos como braceletes.
Ele entrelaçou as mãos enquanto a puxava para ficar de pé e então começou a caminhar
para trás em direção a outra sala. Enquanto retrocedia pela porta aberta, uma de suas mãos girou
o interruptor da luz enquanto a outra deslizava sob sua camisa, puxando as pontas de dentro da
calça.
119
Maya Banks
KGI 11
A mão que a tinha deixado retornou brevemente, envolvendo e moldando seu seio através
do sutiã e camisa, os dedos se unindo para puxar levemente o pico rígido. Ela ofegou, e ele engoliu
o som e então deslizou ambas as mãos sob a camisa, levantando-a e empurrando seus braços para
cima para que pudesse puxar a camisa sobre sua cabeça.
Desejando tanto tocá-lo quanto ele parecia querer tocá-la, ela lhe deu o mesmo tratamento,
deslizando as palmas das mãos sobre a leve penugem que descia para sua virilha, empurrando a
camisa enquanto continuava para cima até que ele voluntariamente levantou os braços e a ajudou
a libertá-lo completamente.
Foram para as calças um do outro simultaneamente, tentando abri-las, as mãos saltando
sobre o jeans, o som rasante de zíperes enquanto cada um freneticamente tentou libertar o outro.
Então Joe ficou quieto, pegando os pulsos de Zoe e segurando-os enquanto abrandava o ritmo.
— Deixe-me saborear este momento, deixe-me saborear você. — Ele murmurou, seus olhos
brilhando calorosamente com necessidade e desejo. — Esta será a noite mais perfeita da minha
vida e quero ter certeza de que seja perfeita para você também.
Seu coração se fundiu ainda mais com a gravidade em seu tom, gravidade absoluta gravada
em sua expressão enquanto ele fazia amor com ela com os olhos. O calor subiu por seu pescoço e
pelas bochechas enquanto ele se retirava, seu olhar firmemente fixado nela enquanto gentilmente
desabotoava o fecho do sutiã. Puxou as alças levemente e permitiu que ele fosse para baixo,
pousando no chão entre eles.
Então voltou sua atenção para terminar o trabalho de deslizar a calça para fora, curvando-se
a um joelho quando libertou uma das pernas e depois a outra. Ela se sentia totalmente exposta e
vulnerável, de pé diante dele apenas com a calcinha de renda que usava.
Os olhos mais uma vez presos nos dela, enganchou os polegares na faixa fina, descansando
as mãos em seus quadris, e então puxou para baixo até que finalmente estava completamente
descoberta para seu olhar e seu toque.
Ela estremeceu ante o brilho predatório em seus olhos, à maneira aquecida com que seu
olhar deslizou tão sensualmente sobre sua pele. Colocando as mãos sobre seus ombros, mais uma
vez ele a encaminhou até que a parte inferior de suas pernas encontrou o colchão sobre a cama.
Ele a encorajou a se abaixar e depois se ajoelhou diante dela, os lábios se fechando sobre
seu mamilo. Arrepios irromperam-se sobre sua carne e ela tremeu sob o ataque de sua boca e
língua quando ele sugou cada mamilo, por sua vez, repetindo várias vezes antes de retornar aos
lábios, os dedos se enfiando em seu cabelo, inclinando sua cabeça para baixo para encontrar sua
boca enquanto ele ficava de joelhos. — Você é tão linda. — Murmurou.
Suas mãos continuavam a vagar livremente, tocando e acariciando cada centímetro de carne
exposta que podia encontrar enquanto a beijava e se alimentava em seus lábios, sugando a ponta
da língua. Suas mãos voaram para seus ombros quando ele começou a subir, alavancando suas
costas enquanto se movia para cima e sobre ela.
Ele a deixou por apenas o tempo que demorou em se livrar da calça e cueca e ela
corajosamente observou o corpo altamente musculoso, ombros largos, rígido abdômen e ereção
considerável. Seus olhos se arregalaram e ela fez um som exclusivamente feminino de apreço.
120
Maya Banks
KGI 11
Incapaz de resistir, alcançou e deslizou os dedos pelo pênis dele enquanto ele subia na cama
entre suas pernas. Ele ficou imóvel, fechando os olhos enquanto gemia de prazer. Se possível,
cresceu ainda mais e ficou mais duro quando ela acariciou e então foi mais baixo para cobrir o
saco, correndo os dedos sobre a pele um pouco mais áspera lá.
A umidade preencheu a cabeça larga e ela deslizou o dedo sobre ela, recolhendo-a antes de
levar a mão à boca para lentamente inserir o dedo entre os lábios, sugando antes de soltar o dedo
com um estalido audível.
Joe gemeu de novo, os músculos do pescoço e do peito rígidos e tensos enquanto baixava o
corpo cuidadosamente sobre o dela. Seu calor era um choque enquanto a cobria, toda a dureza
masculina fazendo-a se sentir delicada e feminina. E muito desejável. Este não era um homem que
achou que ter sexo com ela seria uma tarefa árdua. Embora o pensamento fosse triunfante,
também tinha uma nota discordante, mas se recusou a permitir que pensamentos de Sebastian se
intrometessem na beleza deste momento com um homem que o fez parecer e soar como um
completo idiota.
Sua boca caiu sobre a dela, quente, urgente, tão apaixonada que lhe tirou o fôlego. Seu
corpo cobriu o dela, moldando sua suavidade ao corpo muito mais duro e ainda assim a embalou
protetoramente, fazendo-a ela se sentir mais cuidada do que já sentiu em sua vida.
A boca dele moveu-se fervorosamente pela mandíbula até o pescoço, parando para
mordiscar levemente sua orelha antes de mudar para o outro lado e começar tudo de novo do
topo. Desta vez, quando chegou a orelha, varreu para baixo, centrando os lábios e língua em sua
garganta antes de beijar um caminho do vale dos seios até o umbigo.
Lambeu-o antes de iniciar um caminho tortuoso de volta, desta vez virando para um seio,
brincando e provocando o mamilo antes de finalmente sugá-lo firmemente entre os dentes,
mordiscando com força suficiente para tê-la inundado em agradável agonia do tipo mais doce.
Não tendo muita experiência no departamento de sexo, Zoe não tinha ideia de que um
homem pudesse ser tão paciente como Joe. Tão pouco exigente e altruísta. Parecia que seria
capaz de passar horas em seus seios até que estava arqueando desamparadamente sob ele,
respondendo às sensações deliciosas. Os gemidos ofegantes que enchiam o ar estavam vindo dela.
— Joe! — Ofegou.
— Calma querida. — Ele cantarolou, dando golpes longos e preguiçosos ao seu mamilo,
enquanto a mão deslizava lentamente entre suas pernas esticadas.
Ela ficou rígida, sua boca formando um O enquanto os dedos dele separavam suavemente
suas dobras, mostrando seu clitóris ultrassensível ao toque. Ele a fez esperar, acariciando sua
umidade, acariciando e provocando sua abertura, então se movendo cada vez mais perto do
nódulo inchado e pulsante.
Se não a tocasse logo, ela ia morrer. Se a tocasse, ela iria morrer. De qualquer maneira, iria
explodir. Gemeu profundamente. — Joe, por favor.
Ele a recompensou acariciando com o polegar em um movimento circular enquanto
deslizava o dedo médio dentro da sua vagina. Ela ficou rígida, a boca se abriu num grito silencioso.
Ele ficou mais ousado, pressionando mais o clitóris e enfiando os dedos mais profundamente,
121
Maya Banks
KGI 11
acariciando enquanto sua vagina se agarrava com avidez a eles, apertando em espasmos enquanto
aumentava a velocidade e a intensidade de seus movimentos.
Sua cabeça se levantou do peito dele, e por um momento, ele a acariciou brincando com ela
apenas com os dedos enquanto a observava a cada reação. — Deus, você é tão linda. — Disse,
apertando um beijo no umbigo enquanto abrandava o ritmo de seus dedos.
Ela estava tão à beira, tão perto do limite, que se ele tivesse respirado sobre ela no lugar
certo, ela veria fogos de artifício. E, no entanto, ao mesmo tempo, não queria que terminasse.
Queria prolongá-lo até ficar louca de antecipação. Com quem estava brincando? Já estava louca
com uma necessidade insana de ser completada.
Olhou para ele com olhos pesados, amando o absoluto foco que via. Foco sobre ela e seu
prazer. Ergueu a mão e deslizou-a através do cabelo curto, acariciando, permitindo que seus
dedos deslizassem pela linha cinzelada da mandíbula. Ele capturou seu dedo indicador com os
lábios, sugando-o e passando a língua sobre a ponta.
— Preciso de você agora. — Ela sussurrou roucamente.
Sua mão se afastou de sua vagina enquanto seu corpo deslizava sensualmente até o dela até
que suas bocas se alinhassem perfeitamente. Beijou-a profundamente, esboçando seus lábios
antes de se afastar para olhar fixamente para ela.
— Vou buscar um preservativo, querida.
Ela observou em um estado de sonho quando ele se inclinou sobre seu corpo para abrir a
gaveta do criado-mudo. Puxou um pacote e o abriu, deixando o preservativo ainda no invólucro
aberto. Então voltou a beijá-la com vigor renovado, o corpo se movendo para se posicionar acima
dela, o joelho cutucando suas coxas. Reexplorou a rota anterior pelo seu corpo com a boca, desta
vez provocando-a com a mão ao mesmo tempo, empurrando suavemente para dentro, esticando-
a em preparação para sua posse.
Ficou inquieta, retorcendo-se debaixo dele, com as pernas afastadas, os tornozelos
enganchados nas costas das panturrilhas dele, instando-o silenciosamente a tomá-la. Mantendo
seu peso fora dela com uma mão, alcançou o preservativo com a outra e habilmente rolou-o sobre
a ereção tensa. Então agarrou a base e esfregou a ponta para cima e para baixo em sua fenda,
circundando o clitóris antes de abaixar para circundar sua abertura repetidamente.
Ela estava quase no ponto de implorar quando finalmente ele colocou a ponta larga na
entrada de sua vagina e empurrou para dentro, devagarzinho enquanto olhava para ela,
observando atentamente qualquer sinal de desconforto.
Sua resposta foi apertar os tornozelos em torno de suas pernas, empurrando-o para baixo
enquanto as mãos voavam para seus ombros, as unhas cavando em sua carne, marcando-o da
mesma forma que ele a marcou repetidamente o tempo todo com sua boca.
Ele avançou para frente e ela suspirou enquanto se esticava em torno dele para acomodar
seu tamanho. Cada centímetro de carne que ele tocava estava altamente sensibilizado e era como
receber um choque elétrico cada vez que se movia.
Agarrou-o, desesperada pela libertação, mas também querendo que durasse para sempre.
Seu nome era uma ladainha em seus lábios e parecia torná-lo mais dominante, mais vigoroso e
possessivo. Ele alavancou o corpo até que estivesse alinhado com o dela e colocou os cotovelos
122
Maya Banks
KGI 11
para baixo em ambos os lados de sua cabeça para que ela não suportasse todo o seu peso e então
fundiu a boca com a dela enquanto começou a penetrar mais profundo, mais duro e mais rápido.
Seus olhos se fecharam, mas ele mordiscou seu queixo, e quando ela abriu os olhos, estava
olhando para ela com uma intensidade que a incendiou.
— Mantenha os olhos abertos, querida. Quero ver você gozar.
As palavras eram exigentes - não um pedido, mas um comando - e só aumentavam seu
desejo e acrescentavam uma borda mais nítida que ia construindo o inferno no seu íntimo. Fez o
que ele pediu e trancou seu olhar com o dele, fascinada pelo prazer feroz que queimava tão
brilhantemente em seus olhos, certamente um espelho para o dela.
— Quero você comigo. — Disse com um suspiro . — Goze comigo, querida. Vamos juntos.
Para assegurar o resultado que desejava, deslizou uma mão entre eles assim como
aumentou a velocidade e a força dos impulsos. Seus dedos realizaram um círculo apertado ao
redor e sobre seu clitóris e ela ofegou para respirar como a tempestade soprou fora de controle.
— Joe, não posso... Não posso. . .
— Respire querida. Monte a onda comigo. Veja como somos bonitos juntos. — Afastou seu
cabelo da testa e então pressionou os lábios em sua testa enquanto seu rosto enrugava em uma
expressão de doce agonia. — Agora. — Sussurrou. — Agora, Zoe. Pule. Deixe seu corpo cair.
As ternas palavras tão cheias de emoção e necessidade genuínas tão urgentes quanto a dela
própria catapultaram-na em queda livre. Espiralou como uma folha no outono, girando
loucamente até que estava tonta e tão cheia de prazer que temia explodir. A borda foi ficando
cada vez mais nítida até que não aguentou mais a tensão. Cada músculo em seu corpo tenso e
enrolado ao ponto da dor deliciosa.
E então o mundo explodiu em torno dela e perdeu todo sentido de tempo e espaço. Tentou
valentemente obedecer ao comando de Joe para manter os olhos abertos, mas estavam tão
pesados que era uma luta para mantê-los ainda meio abertos. Ele não a castigou ou repreendeu.
Parecia entender e compartilhar sua experiência. Beijou cada pálpebra com doçura e reverência
enquanto se esticava dentro dela, corpo tremendo incontrolavelmente.
Ele rugiu seu nome e então a abraçou firmemente, deslizando os braços por baixo de seu
corpo até que estavam trancados de todas as maneiras possíveis. Enterrou o rosto em seu
pescoço, inalando seu cheiro como se pudesse imprimir permanentemente a sua essência. Ela
deixou a cabeça cair para trás, dando-lhe acesso livre para imprimir tudo o que ele queria,
simplesmente apreciando a sensação de seu toque e ternura depois do orgasmo mais explosivo
que já experimentou em sua vida.
Vários longos minutos passaram, Joe em cima de Zoe, alternadamente beijando e
mordiscando seu pescoço enquanto preguiçosamente corria as palmas e dedos para cima e para
baixo das costas dele enquanto ele ficava completamente flácido, saciado e satisfeito, assim como
ela.
— Essa foi a coisa mais linda que eu já experimentei. — Ela sussurrou contra seu ouvido.
Seus braços apertaram ao redor dela, e por um momento ele ficou em silêncio, como se
estivesse se recuperando depois de um evento tão incrível.
123
Maya Banks
KGI 11
— Você é a coisa mais linda que já experimentei. — Ele disse suavemente. — Nunca quero
que acabe querida. Nunca tive nada tão precioso como você, e nunca terei.
Capítulo Dezenove
Zoe acordou lentamente, permanecendo perfeitamente imóvel absorvendo o simples

conforto de não acordar sozinha. Joe estava envolvido tão fortemente ao redor dela que não havia
espaço entre eles. Fechou os olhos, revivendo a beleza do amor que fizeram. As lágrimas surgiram
e, apesar do seu melhor esforço, vazaram de debaixo dos cílios e escorreram pelo rosto. Virou a
cabeça para longe de onde descansava no peito de Joe, rezando para que ele ainda estivesse
dormindo.
Nenhuma sorte.
Ele se mexeu e rolou para que se encarassem, os olhos brilhantes de preocupação e medo.
—Ei, — disse suavemente, tentando enxugar as lágrimas. — O que foi babe? Te machuquei?
Você está bem?
A emoção entupiu sua garganta, quase a tornando incapaz de falar. — Foi lindo, —
sussurrou, ecoando as palavras que usara na noite anterior. — Nunca experimentei nada tão...
Perfeito.
Não mais capaz de suportar seu escrutínio, enterrou o rosto contra o ombro dele e aspirou
em respirações firmes em um esforço para ganhar controle sobre suas emoções dispersas.
Ele não disse nada, apenas acariciou para cima e para baixo em suas costas em um
movimento calmante. — Eu te assustei, Zoe? Fui muito duro e rápido?
Ele parecia tão preocupado e desgostoso consigo mesmo que ela se levantou do abrigo
quente de seu corpo para que pudesse olhar para ele, esperando que sua expressão refletisse
tudo o que mal conseguia colocar em palavras. Como poderia explicar algo tão extraordinário com
meras palavras?
Os olhos dela brilhavam com lágrimas e frustração. O que ela tinha feito para lhe dar a ideia
de que ele tinha sido algo menos que gentil, amoroso e muito terno?
Foi quando o fogo brilhou nos olhos dele e uma inundação de emoção alagou seu rosto e ele
a puxou para baixo até que suas bocas fossem apenas um fôlego que ela percebeu, para sua
completa mortificação, que tinha formulado sua última pergunta em voz alta.
— Querida, você não fez nada de errado, — ele disse, limpando o restante das lágrimas que
tinham acumulado nos cantos de seus olhos. — Me perguntei mais de uma vez se eu morri e fui
para o céu, porque ter você aqui, na minha cama depois de me dar a honra e o privilégio de fazer
amor com você, é nada menos que a glória de Deus. Tenho certeza de que ouvi anjos cantando
‘Aleluia’, ou talvez fosse eu, e nesse caso provavelmente te assustei até a morte, — ele brincou.
— Ou talvez devêssemos fazer tudo de novo, sabe, só para você ter certeza, — ele adicionou
em um sussurro rouco.
124
Maya Banks
KGI 11
O corpo de Zoe ganhou vida, os mamilos formando pontos rígidos e uma pulsação
começando em sua virilha. — Talvez você esteja certo, — sussurrou.
— Gosto do jeito que minha mulher pensa, — disse, beijando-a, a língua mergulhando
dentro de sua boca enquanto lambia e duelava com a dela.
— Eu sou? — Perguntou sem fôlego. — Sua mulher?
Ele se afastou, uma profunda carranca no rosto. — Essa é a pergunta mais idiota que já ouvi.
Não era em você que eu estava tão profundamente dentro que conseguia sentir todos os seus
movimentos?
Ela corou.
— Você é minha, Zoe. Não se engane nisso.
— Precisamos conversar Joe. — disse em uma voz calma e sombria.
— E nós vamos. Assim que eu convencê-la além de uma sombra de dúvida que você
pertence a mim de corpo, alma e coração.
— Mas...
Ele cobriu seus lábios com um dedo gentil e depois com os próprios lábios. Suas palavras a
emocionaram e assustaram ao mesmo tempo. E liberaram um desejo reprimido por coisas que
nunca ousou sonhar.
As mãos dele se moviam para cima e para baixo pelas curvas de seu corpo, acariciando,
fazendo padrões preguiçosos em sua pele, mergulhando cada vez mais baixo até que pensou que
enlouqueceria com desejo. Seus mamilos se esticaram para cima como se implorando por sua
boca, e ele prontamente obedeceu, abocanhando um pico tenso profundamente e sugando em
movimento rítmico, depois girando para dar igual atenção ao outro.
Seus dedos mergulharam no cabelo dele, as unhas escavando no couro cabeludo antes de
embalar amorosamente sua cabeça ao seio enquanto os dedos dele trabalhavam sua magia sobre
sua pele mais delicada e trêmula. Ele inseriu um dedo longo dentro de seu canal, fazendo-a gritar
e arquear os quadris para cima, procurando mais. — Por favor, Joe, não me faça esperar, —
suplicou suavemente. — Preciso de você agora.
Acrescentou outro dedo, esticando a passagem inchada e lisa, e então os retirou,
levantando-os para a boca para sugar a umidade. — Você tem um sabor delicioso, — disse em um
novo rosnado.
— Agora, Joe. — ela insistiu, torcendo e balançando a cabeça de um lado para o outro
enquanto a urgência continuava a subir até que ela temia enlouquecer.
— Shhh, minha querida, — ele disse ternamente.
Ele juntou os dedos e pressionou as palmas das mãos contra o colchão enquanto se
posicionava entre as pernas dela.
— Você está pronta para mim, querida?
Ela gemeu e se arqueou, tentando forçá-lo para dentro dela. E então ele deslizou
profundamente, fazendo-a ofegar com a súbita plenitude, mas parou quando mal estava dentro,
preocupação piscando em seus olhos.
— Se você parar agora, vou ser forçada a matá-lo, — disse em um suspiro fraco.
125
Maya Banks
KGI 11
Joe riu, mas empurrou profundamente, provocando um gemido de ambos. Zoe correu as
unhas por suas costas quando se agarrou firmemente nele, arqueando para encontrá-lo. Onde a
noite anterior tinha sido longa, doce e lânguida, uma exploração de algo novo e tão precioso, esta
manhã foi carregada de desespero para renovar essa conexão. Apressada. Um emaranhado de
braços e pernas, beijos apaixonados, suspiros ofegantes e gemidos de prazer de ambos.
— Porra, — ele suspirou. — Desculpe querida, mas vai ser rápido. Não consigo segurar.
— Quem te pediu para ir devagar? — Ela rosnou.
Ele investiu e suas unhas apertaram em seus ombros. Provavelmente ele iria ostentar
marcas, mas ela não se importava. Gostava da ideia de marcá-lo, de fazer com que sua
propriedade fosse conhecida.
O rosto dele era uma coroa de agonia enquanto percorria seu caminho dentro dela,
balançando-a contra a cabeceira da cama em impulsos implacáveis.
— Quero você comigo, querida. Você está perto?
— Se você parasse de me perguntar como eu estou, eu já estaria lá, — ela lamentou.
Ele sorriu, deixando cair um beijo em seus lábios que logo se transformou em uma
exploração voraz de sua boca. Ela o sentiu inchar dentro dela, assim como sentiu o aumento
acentuado de seu orgasmo, de repente explosivo e totalmente consumidor. — Joe! — Ela gritou.
— Estou aqui, querida. Sempre aqui. Venha comigo. Esteja comigo. — Ela se despedaçou
assim que ele gritou e empurrou uma última vez, sua liberação piscando como uma tempestade
com relâmpagos estalando violentamente no céu noturno. Ele se afundou contra ela e ela
envolveu os braços firmemente em torno dele, recusando-se a permitir que movesse seu peso. —
Querida, vou esmagar você, — disse, a voz grossa com diversão.
— Não me importo, — Ela disse, com a voz abafada pelo peito. Ele enterrou o rosto em seu
pescoço e ficou ali um longo momento. Então soltou um gemido. — Merda.
— O que foi? — Ela perguntou, de repente preocupada. Ele rolou e caiu de costas.
— Droga! Esqueci-me da reunião obrigatória da KGI esta manhã.
Ela se sentou, puxando os lençóis para cobrir os seios. Olhou ansiosamente para ele.
— Devo ir, então? — Perguntou com a voz hesitante.
Ele se inclinou para frente e beijou-a, acariciando sua bochecha e aprofundando o beijo.
— O que eu quero é que você fique aqui, — disse suavemente. — A reunião não vai
demorar, e quando eu voltar vou trazer café da manhã na cama. Por favor, fique, Zoe. Dê-me algo
que valha a pena voltar para casa.
Seu coração voou fora de controle enquanto olhava para a sinceridade gravada em seus
traços.
— Ok, — sussurrou. — Mas Joe, quando você voltar... Temos de conversar.
— Conversaremos sobre o que você quiser querida.
— Promete?
Ele pressionou mais um beijo em seus lábios trêmulos. — Prometo. — sussurrou.
*****
126
Maya Banks
KGI 11
Joe entrou na reunião cinco minutos atrasado, ignorando o olhar afiado de reprimenda de
Sam. Nathan e Donovan, no entanto, sorriam amplamente enquanto Nathan arqueava uma
sobrancelha inquisitiva.
— Mais tarde, mano. — Joe murmurou para Nathan. — Quanto tempo o sermão de hoje
deve durar?
— O tempo que for necessário para que detonemos este exame final que Allie tem a
impressão que fará todos nós de tolos, — Skylar murmurou, ouvindo a pergunta de Joe.
— Preciso que todos vocês intercedam ao meu favor se o irmão mais velho quiser me
segurar depois do tempo limite no trabalho, — Joe disse para que só sua equipe pudesse ouvir.
Skylar sorriu. — Te daremos cobertura. Estamos bem cientes de que você tem coisas
melhores para fazer. E Joe? Do fundo do meu coração, te desejo o melhor, — ela disse
sinceramente.
Ele sorriu calorosamente para sua companheira de equipe. — Obrigada, Sky. Realmente
aprecio isso.
Allie tinha montado uma estação onde cada membro da equipe iria desativar e desmantelar
um dispositivo explosivo, e precisava ser feito em menos de dois minutos.
— Jesus, — Dolphin, um dos homens de Steele, murmurou. — Um aluno do quinto ano
conseguiria desarmar essa coisa com os pés nas costas.
Risadinhas escaparam, fazendo com que Allie franzisse a testa e olhasse na direção deles. —
Hora de ficar sérios, todos vocês, — Edge falou.
— Como nosso estimado colega gosta tanto de dizer, vamos amarrar as cabras e sair daqui.
Dessa vez o riso explodiu e P.J., que estava ao alcance do ouvido, revirou os olhos. — Vocês
nunca vão me deixar esquecer.
— Hey, era um bom mantra naquela época. — disse Dolphin, sorrindo como um idiota.
— Se eu pudesse ter sua atenção, podemos começar, — Allie disse em uma voz que poderia
congelar os fogos do inferno.
— Eu vou primeiro. — Joe se ofereceu. Se com isso pudesse ir embora primeiro, seria de
bom grado o cordeiro sacrificial.
— Eu iria por equipe, — Allie respondeu.
Joe encolheu os ombros. — Funciona para mim. Minha equipe vai primeiro, e como líder da
equipe, significa que vou primeiro. Nathan vai depois. Tem algum problema com isso? - Ele
perguntou docemente.
Ela o indicou para a primeira estação, e ele quis rir. Podia fazer isso com os olhos fechados.
Ela realmente achava que as pessoas da KGI eram estúpidas? E se achava, por que queria se juntar
a eles?
Ela começou a ditar as instruções, mas antes que pudesse terminar, Joe cortou o fio final,
verificou se havia armadilhas restantes que detonassem a bomba se o gatilho primário estivesse
desativado e depois se retirou, mantendo as mãos para cima. — Feito. Satisfeita, senhora?
Ela tinha um olhar atordoado no rosto. Deu um passo para frente com uma carranca e fez
uma verificação completa do dispositivo e depois sacudiu a cabeça. — Isso foi incrível, — disse, um
127
Maya Banks
KGI 11
sinal de admiração rastejando em sua voz. — Acho que é o momento mais rápido que alguém já
registrou em qualquer uma de minhas aulas.
Joe sorriu. — Nem sou o melhor. Gostamos de perturbar Baker sobre explosivos, mas ele é o
cara quando se trata de programar, desmantelar ou detonar qualquer dispositivo conhecido, e
bem, alguns poucos que sequer supomos que existam.
Allie parecia que não tinha ideia do que fazer com essa informação.
Joe virou-se para seu gêmeo. — Agora é com você, mano. Tente não me humilhar.
Os outros riram, mas Allie agora estava olhando-os com a expressão pensativa, e algo que se
assemelhava a culpa e constrangimento sombreava seus olhos.
Joe puxou Donovan para o lado sutilmente.
— O que foi? — Donovan perguntou calmamente.
— Preciso que você me cubra com Sam. Tenho certeza que ele ainda está chateado por eu
me esquivar ontem, mas preciso ir. É importante ou eu não pediria.
A preocupação brilhou nos olhos do irmão. — Está tudo bem?
Joe sorriu. — Vai estar Van. Assim que eu puder voltar para casa.
Donovan sorriu com súbita compreensão.
— Não se preocupe com Sam. Vou lidar com as coisas aqui.
Joe não perdeu tempo e saiu da sala de guerra enquanto Sam chamava e pedia para ele
esperar. Ignorando o pedido, pulou na caminhonete e saiu do complexo de volta para sua cabana.
Estava fora da caminhonete, caminhando para a porta da frente quando percebeu que estava
entreaberta.
Alarme o percorreu. Não tinha deixado a porta aberta. Zoe teria saído apesar de sua
promessa de ficar? Correu para dentro, olhando apressadamente para a sala de estar e para a
cozinha antes de correr para o quarto, que também estava vazio, mas o que fez seu sangue correr
frio, seu coração quase parando, era o caos absoluto lá.
Havia sinais óbvios de luta. Lâmpadas quebradas. Cobertores e lençóis estavam fora da cama
e espalhados por todo o chão, e as roupas de Zoe ainda estavam onde ele a jogara na noite
anterior, quando a despiu.
Mas o que enviou terror flamejando através de seu coração e mente foram os salpicos de
sangue a cama, no chão e até mesmo a parede.
Alguém levara Zoe a força enquanto ele a deixara sozinha. Sem proteção. Fora da segurança
do complexo. Oh Deus, isso foi culpa dele. Todas as mulheres Kelly estavam seguramente
instaladas dentro das paredes do complexo, e ainda assim ele deixara Zoe para se defender
sozinha. Nunca se perdoaria se não a recuperasse segura e ilesa, e mesmo se fosse a última coisa
que fizesse, localizaria todos os fodidos que ousaram pôr suas mãos na mulher que ele amava.
Quem derramou seu sangue. Ele mataria cada um deles.
Capítulo Vinte
128
Maya Banks
KGI 11
Rusty percorreu a casa de Sean, e então percebendo o quanto estava sendo absurda, revirou
os olhos e entrou no quarto dele. Não era como se alguém estivesse aqui, e o sistema de
segurança de Sean era uma vergonha para um policial.
Parou na entrada do quarto dele, o calor sufocando suas bochechas quando imaginava estar
na cama com Sean. Era humilhante reconhecer quanto tempo teve essa fantasia em particular.
Mas não era mais uma menina com fantasias adolescentes sobre beijar Sean. Suas fantasias eram
adultas agora. Do tipo que ela estava nua com Sean fazendo amor com ela e admitindo que a
queria tanto quanto ela o queria.
Bem, já que esperou tanto por isso, era hora de agir. Apressadamente despiu-se antes que
perdesse a coragem e depois puxou as colchas da cama bem feita e deslizou debaixo dos lençóis
que tinham o cheiro dele. Enterrou o rosto nos travesseiros, inalando seu cheiro totalmente
masculino que a deixara louca por mais anos do que gostaria de admitir.
Ouviu a porta da frente se abrir e estremeceu. Cara, ela chegou bem na hora. Ouviu os
passos leves dele através da casa, parando a intervalos, e então seu ritmo diminuiu e não
conseguia mais ouvir os passos. Franziu a testa, perguntando-se o que estava acontecendo.
Então, de repente, a porta do quarto se abriu e ela olhou para o cano da pistola de Sean. Ela
disparou para cima, esquecendo que estava nua por baixo, e o lençol caiu, mostrando os seios
para o olhar assustado dele.
— Rusty, que diabos você está fazendo aqui? — Ele exigiu saber. — Está tentando ser
baleada? O que está fazendo? E coloque suas malditas roupas de volta, — disse com a voz
estrangulada.
Sorriu para si mesma. O olhar dele deslizou para seu corpo desde que descobriu quem
estava no quarto - ou cama, para ser mais exato - e os olhos estavam focados em seus seios,
excluindo tudo o mais.
— Bem, se você insiste. — disse inocentemente, tirando o lençol para descobrir
completamente sua nudez.
Sean parecia que tinha acabado de engolir a língua, e então fechou os olhos, com a
mandíbula apertada, e ela pôde vê-la agitar-se. A mão dele tremia quando recolocou a arma no
coldre. Bem, pelo menos ele ficou bem afetado, esse tinha sido seu pior medo.
— Pelo amor de Deus, Rusty, o que diabos você está fazendo na minha cama? Por falar
nisso, como diabos entrou?
Ela sorriu maliciosamente. — Seu sistema de segurança é péssimo!
Sean esfregou uma mão cansada no rosto. — O que está acontecendo aqui, Rusty? E por que
você está... Nua... Na minha cama? — Ele quase se engasgou com a palavra nua.
— Se eu tiver que soletrar, então realmente não há esperança para você.
Ele sentou-se na ponta da cama, o tormento e a clara indecisão refletidos em seus olhos. De
repente, parecia tão inseguro, quando era sempre tão certo de si mesmo.
— O que você quer? — Ele perguntou suavemente.
— Você. — disse sem rodeios. — Estivemos dançando um ao redor do outro durante anos,
Sean. Eu me recuso a acreditar que minha atração é unilateral. E é óbvio que você não vai dar o
129
Maya Banks
KGI 11
primeiro passo, então eu dei. Esta parecia ser a melhor maneira de chamar sua atenção, e a julgar
pela sua reação, eu diria que funcionou.
— Você sabe que isso não pode acontecer, Rusty, — ele disse gentilmente.
— Eu sei? Você sabe, por falar nisso? Suas palavras dizem uma coisa, mas seus olhos dizem
algo bem diferente. — ela disse calmamente.
— Você é uma mulher linda, querida. Nenhum homem a ignoraria.
— Exceto você, aparentemente. — disse, repentinamente sentindo a necessidade de jogar
as cobertas sobre ela novamente. Mas estaria condenada se retrocedesse agora. — Você me
beijou, lembra? Porque eu me lembro de cada segundo. Nunca esqueci Sean. Você esqueceu?
Pode me olhar nos olhos e dizer que esqueceu? Talvez não tenha significado nada para você, mas
significou tudo para mim. E nunca consegui esquecer.
Ela rastejou até o fim da cama, ignorando o olhar alarmado no rosto dele, concentrando-se
em vez disso na chama de desejo que acendeu em seus olhos. Envolveu os braços em torno dos
ombros dele, notando a rigidez com que se manteve sob controle. Então pressionou os lábios
contra os dele e suspirou, derretendo contra ele, os seios pressionando seu peito duro e
musculoso.
Ele soltou um gemido que soou como uma mistura de protesto e desejo cru, e ela
aproveitou a oportunidade para rastrear o interior de sua boca com a língua. Para deslizar a ponta
sobre as bordas ásperas. Por um momento glorioso, ele cedeu e tomou o controle do beijo, e a
maneira como a dominou a fez tremer da cabeça aos pés. Então ele abruptamente agarrou seus
ombros, afastando-a firmemente dele, a expressão dura. Um rápido olhar para baixo confirmou
que ele estava duro em outros lugares também.
— Isso não pode acontecer, Rusty. Droga. Pare!
— Você não pode negar a sua resposta para mim, — ela sussurrou.
— Acho que é seguro dizer que eu teria a mesma reação se qualquer outra linda mulher nua
se enrolasse ao meu redor. — ele respondeu.
Ela se encolheu como se tivesse sido esbofeteada, recuando e abaixando a cabeça para
esconder o súbito aumento de lágrimas. Nunca se sentira tão devastada quanto nesse momento.
Nem mesmo o tormento de sua infância. A humilhação amontoada sobre ela por sua mãe e, em
seguida, seu padrasto ou a constante zombaria e vergonha no colégio. Jurara quando era pouco
mais do que uma criança que ninguém nunca iria vê-la chorar novamente.
— Rusty querida, — ele disse suavemente.
— Não sou nada para você, não sou boa o suficiente para você, — disse enfraquecida. —
Você deixou isso muito claro durante anos. Acho que sou muito burra e muito nova para alguém
de sua posição. Aparentemente eu precisava que alguém jogasse isso na minha cara. Bem, você
fez isso. Parabéns. Eu entendi.
Sean praguejou longa e violentamente. — Droga, Rusty, não é isso que eu quis dizer. Quer
me ouvir, por favor? A última coisa que quero é magoá-la.
— Tarde demais. — disse, sufocando as lágrimas. Envolveu o lençol em volta dela e então se
arrastou para pegar sua roupa, ignorando seus repetidos apelos para que ouvisse. Foi submetida à
rejeição e tratada como um maldito caso de caridade. Sean Cameron poderia ir se foder porque
130
Maya Banks
KGI 11
estava cansada de colocar o dela na reta quando ele era muito covarde para fazer o mesmo. O
celular de Sean tocou e ele praguejou quando pegou o telefone.
— Cameron, — ele falou irritado. — O quê?
A maneira como ele disse o que foi como um soco de apreensão abaixo da espinha de Rusty.
— Estou a caminho. Vou buscar Rusty e levá-la. Dê-me cinco minutos.
Ele fechou o telefone, o rosto uma máscara de preocupação. — Se vista.
— Sean, o que aconteceu? — Perguntou, odiando o fato de que sua voz tremia.
— Zoe desapareceu e não parece bom. Você vai comigo porque parece que é a única que
tem verdadeiras respostas. — Ela ficou pálida e seus lábios tremeram.
— Oh Deus, — sussurrou. — Não. Ele não podia tê-la encontrado. Ele não podia ter, — ela
gemeu.
— Guarde suas desculpas para Joe, que está fora de si, — Sean estalou. — Você tem um
monte de explicação para dar, como sobre quem é esse ele que não poderia encontrá-la, mas
nenhuma das quais implica eu encontrá-la nua na minha cama.
— Oh, não se preocupe, Sean. Nunca me humilhei mais do que hoje. Você tem minha
promessa que nunca mais vai acontecer.
Capítulo Vinte e Um
O último dos testes tinha acabado de ser concluído e Allie estava visivelmente surpresa que
cada membro da KGI não só passou, mas fez isso com velocidade e precisão que ela claramente
não estava esperando. Também estava surpresa que parecia haver pouca dúvida entre os
membros de sua equipe que iriam passar tão facilmente. Ela tinha esperado que esfregassem isso
em seu rosto, mas estivera errada sobre isso também. Ficou intrigada com toda a situação.
A vergonha percorreu-a, através de cada osso de julgamento em seu corpo. Estivera tão
convencida de que sua posição na organização da KGI era provisória, que de alguma forma era
uma cidadã de segunda classe, a novata que precisava provar que era muito fodona para que se
encaixasse com todos os outros fodões que a cercavam. Pior foi o fato de que já havia duas
guerreiras que eram obviamente tão qualificadas quanto suas contrapartes masculinas e tratadas
como iguais. Não tinha visto nada além de respeito direcionado a P.J. e Skylar. Queria o mesmo
respeito embora não tivesse feito nada para ganhá-lo, exceto agir como uma vaca pronta para
atacar com um machado e um péssimo comportamento. Dificilmente a boa companheira de
equipe que professava querer ser. Era ela que tinha um inferno de um monte de coisas para
aprender, não os outros.
Envergonhou-a que tivesse sido aquela que chegou com noções preconcebidas, e não seus
novos companheiros de equipe. Era a única de mau humor por que acreditava que seria tratada
injustamente e fizera papel de tola quando não tinha nada para provar a ninguém.
Seria de admirar que os outros não estivessem interessados em fazer amizade com ela? Em
oferecer fidelidade? Cobertura? Absolutamente. Não tinha dúvida que podia contar com eles
131
Maya Banks
KGI 11
como equipe. Mas camaradagem, amizade e um verdadeiro sentido de pertencer? Não tanto, e
isso era culpa dela.
Um zumbido alto interrompeu seus pensamentos sombrios e olhou rapidamente ao redor
quando a sala inteira ficou atenta, desconfiada e tensa, pronta para a ação. Algumas maldições
foram ouvidas e alguém murmurou: — Todas as coisas boas sempre chegam ao fim.
Donovan foi o primeiro a chegar ao telefone, que ela percebeu era a linha segura, que nunca
significava uma chamada social ou alguém chamando para uma conversa amigável. Era um apelo
às armas.
— Kelly aqui, — disse, em tom tenso.
Houve uma longa pausa.
— Que porra é essa? Mais devagar Joe. Diga-me o que aconteceu.
A sala inteira se aproximou mais de Donovan, preocupação gravada no rosto de cada pessoa,
especialmente a de Nathan, o gêmeo de Joe.
— Droga! — Explodiu Donovan. — Fique calmo, cara. Estaremos aí em dois minutos.
Ele desligou em meio a um coro de demandas para saber que inferno estava acontecendo.
Ignorou o clamor e começou a emitir ordens. — Nathan e as equipes de Steele comigo. Rio, sua
equipe fica aqui para organizar as comunicações e agir como cobertura. Até que saibamos o que
estamos enfrentando, preciso de cada homem disponível e pronto.
Allie franziu o cenho. — Ele é um dos nossos. Não devemos todos ir?
Nathan e sua equipe se voltaram para Allie, as expressões nem um pouco amigáveis. Mesmo
P.J., Cole e Dolphin fecharam fileiras com Nathan e o resto de sua equipe e de Joe.
Mas foi Sam que levantou a mão para silenciar os outros antes que tivessem tempo de
responder. — Vivemos e morremos em equipe, e até agora você não provou ser uma participante
da equipe. E isso diz respeito a um dos nossos, então só quero que estejam envolvidos nessa
missão aqueles que estão comprometidos cento e dez por cento com essa família. Porque somos
família, não apenas uma porra de organização que coleta um cheque de pagamento e dá o dia
como encerrado. Agora, estamos desperdiçamos bastante tempo enquanto meu irmão
obviamente precisa de nossa ajuda. Donovan pode dar um relatório sobre o que ele sabe no
caminho. Agora vamos. Rápido!
— Fui injusta com todos vocês, — Allie disse em voz baixa. — Devo a todos um pedido de
desculpas, mas como você disse agora um dos nossos precisa de nossa ajuda, e meus erros podem
ser corrigidos mais tarde, se eu tiver essa oportunidade.
— Rio? Você decide, — Sam disse ao líder da equipe.
Rio simplesmente assentiu. — Entre e vamos dar o fora daqui.
Noventa segundos depois, quatro veículos rugiram enquanto paravam fora da cabana de
Joe. Nathan entrou e seu coração afundou quando viu Joe sentado no sofá, o rosto enterrado nas
mãos. Ele olhou para cima quando ouviu os outros entrarem e Nathan estremeceu ante a agonia e
dor cruas refletidas nos olhos de seu gêmeo.
Nathan afundou no sofá ao lado dele enquanto os outros ficaram parados, tensos e prontos
para ir para a guerra se era isso que precisava.
— O que aconteceu? — Nathan perguntou suavemente.
132
Maya Banks
KGI 11
— Eu a deixei aqui, — Joe disse dolorosamente. — Deixei-a aqui desprotegida. Disse a ela
que não me demoraria muito. Pedi para que ficasse e tomaríamos o café da manhã quando eu
voltasse. — Gesticulou para a sala de estar que parecia que tinha sido atingida por um furacão. —
Eu voltei para casa. E o quarto... — Parou, sufocando as palavras, enterrando mais uma vez o rosto
nas mãos.
Sam gesticulou para Dolphin e Baker verificarem o quarto.
— O que havia no quarto? — Nathan pressionou calmamente.
— Ela lutou muito, — disse Joe dolorosamente. — Seu sangue está no chão, Jesus, até a
parede. Salpicado como se um idiota a tivesse atingido com força suficiente para derramar seu
sangue. Eu a deixei aqui, droga!
— Você não poderia ter imaginado Joe, — disse Skylar gentilmente, tomando o assento do
outro lado. Enfiou a mão na dele, segurando firmemente.
— Não, mas se eu não tivesse enrolado para construir dentro do complexo, se já tivesse
construído a minha casa, ela estaria lá, segura, dentro do complexo onde algum idiota não poderia
chegar a ela.
— A pergunta é quem? — Sam disse.
— Acho que Rusty provavelmente tem a resposta para essa pergunta. — disse Sean
severamente da porta, enquanto impulsionava Rusty para dentro. Joe estava de pé
imediatamente, a expressão suplicante. Rusty se apressou em seus braços, lágrimas escorrendo
por suas bochechas. Ele a esmagou contra ele, segurando-a firmemente.
— Você tem que me ajudar Rusty. Você tem que me dizer o que sabe. Tudo. Não deixe nada
para fora. Alguém a pegou. Ela está machucada. Seu sangue está em todo o meu quarto. — Ela
afastou-se e envolveu os braços ao redor da própria cintura enquanto encarava a sala cheia de
pessoas olhando para ela a procura de respostas. Fechou os olhos enquanto mais lágrimas
escorriam por suas bochechas. — O verdadeiro nome dela é Stella Huntington.
— Que merda é essa? — Joe perguntou.
Donovan levantou a mão. — Deixe-a explicar, Joe. Não temos muito tempo.
Rusty fechou os olhos mais uma vez e sua voz tremia quando fez a próxima revelação.
— O pai dela é Garth Huntington.
O quarto ficou completamente silencioso enquanto olhares chocados a atingiam de todas as
direções. Então, uma explosão de respostas ecoou pela sala. Joe estava dividido entre choque e
traição. Ele não entendeu nada. — Zoe-Stella, quem quer que ela seja... O pai dela era um senhor
do crime que dirigia um dos maiores impérios criminais na América do Norte?
Rusty correu de volta para Joe e abraçou-o firmemente antes de se inclinar para trás e olhar
fixamente para seus olhos. — Ela não te usou nem te traiu, Joe. Ela estava fugindo para salvar a
própria vida. Eu criei uma nova identidade para ela. Uma inquestionável. Que não poderia
possivelmente ligá-la a Stella Huntington. Ela não tinha ideia de quem ou o que o pai dela era até
que algum idiota a enganou em um esforço para chegar ao seu pai, um pai que nunca deu a
mínima para ela, que passou toda a vida lhe dizendo o que fazer, como ser, quem ser, como se
vestir. Ele ditou todos os aspectos de sua vida.
133
Maya Banks
KGI 11
Respirou fundo antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, porque todo mundo parecia
estar prestes a explodir. Continuou sem fôlego, as palavras caindo tão rápido que teve dificuldade
em seguir sua linha de pensamento. — Sebastian, o bastardo que se aproximou dela, usou-a e
brincou com suas inseguranças e necessidade de ser amada pela primeira vez em sua vida, fez isso
em um esforço para chegar ao pai dela. Quando ele percebeu que o pai não se importava com ela,
seu plano mudou. Zoe ouviu-o ao telefone com alguém dizendo que ela não tinha mais nenhuma
utilidade porque o velho não se importava com ela, então usá-la como um peão era inútil e ele
planejava matá-la.
Uma rodada de maldições subiu e o rosto de Joe se apertou até o ponto de fúria. Rusty
colocou a mão no braço dele, sentindo os músculos ficarem tensos e terem espasmos sob seu
toque.
— Por favor, deixe-me terminar. — implorou. — Ela entrou em pânico. Não conhecia
ninguém e não tinha amigos. Exceto... Eu. Nós nos conhecemos quando estávamos na faculdade.
Isso é verdade. Ela estudou na Universidade do Tennessee. Ela me procurou porque não tinha
mais ninguém com quem pudesse contar, e graças a Deus que ela fez isso. Depois de um monte de
pesquisas e longas horas de trabalho mental, criei uma identidade inteiramente nova - uma nova
vida - e Zoe Kildare nasceu. Era o nome da amiga imaginária com a qual ela tinha crescido porque
não tinha mais ninguém, — Rusty sussurrou dolorosamente. — Criei toda a sua vida desde o
nascimento até o presente, completa com presenças de mídia social e contatos, uma conta da
Amazon com um histórico de compras que correspondia a sua nova personalidade. Consegui uma
certidão de nascimento emitida em seu novo nome, cartão de Seguro Social e de motorista, bem
como registro de frequência e graduação da Universidade DePaul em Chicago. Colocamos um
monte de trilhas falsas para separar partes do país, até mesmo abri uma conta no banco na Costa
Leste. E uma vez que a maioria das pessoas tentando disfarçar-se simplesmente cortam os
cabelos, não os faz crescer, eu clareei o cabelo dela da cor vermelha original, e meticulosamente
coloquei mechas em camadas para que parecessem tão naturais quanto possível e o cabelo dela
aparentou quinze centímetros maior do que o comprimento real. Criei uma aparência
inteiramente nova, tanto que seu próprio pai não a reconheceria.
— Puta merda! — disse Donovan, maravilhado. — Você conseguiu tudo isso, Rusty? Merda,
até mesmo eu encontrei somente o que você criou quando fiz a pesquisa sobre ela.
— Por que diabos nenhum de vocês me disse? — Joe perguntou dolorosamente. — Eu
nunca a teria deixado sozinha e desprotegida. Isso nunca teria acontecido. Entendo por que Zoe
não poderia - não podia - confiar em mim, mas por que você não, Rusty?
Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Não podia traí-la, Joe. Como eu poderia saber que
você se apaixonaria ou se interessaria por ela? Se eu a traísse, se ela suspeitasse que eu tinha
contado a verdade para qualquer um de minha família, ela teria fugido e estaria morta agora.
Sam limpou a garganta para chamar a atenção de Joe. — Estou enviando Rio e equipe para
reunir as esposas e ir para a casa de Mamãe. Não temos como saber o que esse babaca planejou,
se ainda está na vizinhança ou fora em algum lugar desconhecido, mas seríamos idiotas se
tomássemos qualquer coisa como garantida. Ninguém vai a lugar nenhum até que possamos
descobrir. Steele, preciso que você vá pegar as imagens de vigilância da cabana e arredores,
134
Maya Banks
KGI 11
incluindo o perímetro externo do complexo, mas deixe PJ e Cole fornecendo cobertura aqui,
apenas caso seja necessário.
Joe sacudiu-se de seu terror o tempo suficiente para emitir ordens para sua equipe também.
— Sky, você e Swanny fazem uma varredura completa do quarto e tenham cuidado para não
contaminar nenhuma potencial evidência. Edge, preciso que você e Ryker procurem ao redor da
cabana por pegadas ou marcas de pneus. — Então se voltou para Rusty, tentando entender o
engano em que se tornara involuntariamente atolado. — Qual o nome do idiota? O que a fodeu
para chegar ao pai dela?
— Sebastian, mas duvido que seja seu verdadeiro nome, — ela disse amargamente.
— Maldição, Rusty, você deveria ter nos contado isso! — Sam disse frustrado. Seus outros
irmãos expressaram o mesmo quase em uníssono.
Rusty deu as costas a Joe, mas ele viu o lampejo de dor e decepção em seus olhos antes de
ela se virar e ela viu a acusação escrita em cada um dos rostos de seus irmãos. Até mesmo Nathan
parecia zangado, o que parecia ser a última gota para Rusty.
Ela apertou as mãos nas laterais do corpo e explodiu de raiva e tristeza, atacando as pessoas
que considerava sua família e que a consideravam também.
— Eu fiz apenas o que qualquer um de vocês faria - o que sempre fazem - para completos
estranhos, e principalmente para alguém que vocês amam e consideram família ou amigo íntimo.
Se todos vocês parassem de me ver como uma idiota sem cérebro, responsabilidade ou respeito
por alguém além de mim, perceberiam que tudo o que fiz foi superar o estigma do meu passado
para que mamãe e papai pudessem se orgulhar de mim. Para que todos vocês pudessem se
orgulhar de mim. Para que eu pudesse ser digna de ser uma Kelly. Para que eu pudesse fazer parte
de algo que nunca tive antes. Uma família.
— Vocês são hipócritas, — ela murmurou com uma voz que parecia que estava
precariamente perto das lágrimas. — Donovan permite que todas as esposas ajudem com sua
fundação de caridade, o que muitas vezes exige que uma ou mais delas estejam em contato com
pessoas que precisam de ajuda, e todas as vítimas que são ajudadas, que recebem auxílio para sair
de situações de merda, para se mudar depois de obter novos nomes, novos documentos, dinheiro,
habitação e uma nova vida em uma nova cidade, estão envolvidos em situações perigosas, muitas
vezes com risco de vida. Você já parou para considerar o perigo em que está colocando as esposas
de vocês? Seus filhos? Sua família inteira?
— E se uma dessas vítimas for encontrada pelos idiotas de quem estão fugindo? Aqueles dos
quais suas esposas ajudaram a se esconder? Você não acha que o idiota pode estar um pouco
interessado em saber como a vítima foi capaz de fazer algo tão elaborado? Onde conseguiram o
dinheiro, o trabalho, o novo nome e tudo o mais que vocês lhes deram? Se as vidas dela fossem
ameaçadas, você não acha que essas vítimas jogariam cada pessoa debaixo do ônibus se fosse a
única maneira que conseguiriam sobreviver? A única maneira dos filhos delas sobreviverem?
— E você nunca parou para considerar a possibilidade de um desses bastardos abusivos
querer vingança contra as pessoas que ajudaram a propriedade deles, especialmente outras
mulheres que meteram o nariz em seu maldito negócio e deu a mulher dele a ideia de que estaria
melhor sem ele? Você seriamente tem coragem de ficar aí de pé e me passar um sermão de
135
Maya Banks
KGI 11
maneira tão hipócrita quando uma de suas esposas pode ser seriamente ferida, estuprada ou até
mesmo morta em retaliação?
— E se você acha que não pode acontecer, então você é ingênuo, e os homens que fazem o
que você faz e que viram a merda que todos vocês viram não deveriam ser malditamente
surpreendidos por qualquer coisa.
— Se há uma coisa que aprendi nesta família, é que todos vocês se esforçam ao máximo
para fazer a coisa certa e tudo que se importam é a família, e ainda assim vocês não poupam
qualquer oportunidade de me lembrar que eu não sou da família e, além disso, todos me
crucificaram por fazer exatamente o que todos vocês fazem diariamente, mas suponho que é
diferente porque aparentemente nesta organização o lema é faça o que eu mando, mas não faça
o que eu faço.
As lágrimas correram por suas bochechas quando ela começou a soluçar. A sala ficou atônita
em completo silêncio enquanto os irmãos trocavam olhares de remorso. Estranhamente, Sean
parecia... Chateado.
Rusty enxugou as lágrimas e o rosto molhado com raiva e então começou a seguir em
direção à porta.
— Rusty, — Joe chamou.
Ela parou apenas o suficiente para olhar para trás, mais lágrimas escapando de seus olhos
inchados. — Não se preocupem comigo. Seu foco precisa estar em encontrar Zoe. Eu vou para
casa - para Frank e Marlene, — emendou. — Se eu ainda for bem-vinda, — terminou
amargamente.
Uma série de maldições ecoou na sala enquanto ela se apressava para sair. Quando Donovan
e Garrett a seguiram, Sean, que estava em silêncio, voltou e levantou a mão para detê-los. — Vou
me certificar de que ela chegue em casa com segurança. — disse calmamente. — Estarei de volta
em breve. Não é necessário dizer que vocês terão todos os recursos do departamento do xerife
para ajudar de qualquer maneira que puder.
Sean saiu da cabana de Joe e depois correu para pegar Rusty, que estava andando pela
estrada sinuosa.
— Rusty, maldição, espere! — Ele gritou.
Ela ficou visivelmente imóvel, a coluna enrijecida enquanto esperava rigidamente que ele se
aproximasse. Quando ela se virou, ele estremeceu com a frieza em seus olhos, mas sua raiva
estava quente o suficiente para derreter qualquer gelo que ela conseguiu erguer.
— Você estava tentando se matar? Você poderia estar colocando em perigo não só você e
Zoe, mas toda a sua família, não dizendo a verdade desde o início. Cresça Rusty, e pare de agir
como se o mundo ainda estivesse querendo te pegar. Esse peso que você carrega em seus ombros
ficou tão árduo que você está cambaleando sob ele.
— Eu só tenho três palavras para você, xerife. — ela disse em uma voz tão calma e derrotada
que enviou arrepios pela coluna dele. — Vá se foder.
— Droga, Rusty! Você ainda não descobriu que existem pessoas que amam e se preocupam
com você? Está tão convencida de que o mundo quer te pegar que não consegue ver o que está
bem debaixo do seu nariz.
136
Maya Banks
KGI 11
— Oh, eu vejo o que está debaixo do meu nariz, — ela disse suavemente. — Vejo muito
bem. Tenho certeza de que você tem coisas melhores a fazer do que zombar de mim pelos meus
caprichos infantis e adolescentes, então por que não vai se tornar útil e ajudar a limpar minha
merda enquanto percorro o resto do caminho para a casa de Marlene?
— Para a sua casa, Rusty, — ele disse frustrado. — Sua casa. Você optando por acreditar ou
não, há um monte de gente que te ama se você simplesmente deixar. — Ela encolheu os ombros.
— Não importa como eu chame agora, não é? Acredito que o ditado diz “casa é onde está o
coração”, e vamos apenas dizer que meu coração não está mais aqui. E se a pessoa que você ama
não corresponder ao seu amor, não faz muito sentido, não é?
Ela se virou e começou a correr, e Sean assistiu impotente enquanto ela chegava às portas
do complexo. Ele fechou os olhos e enrolou os dedos em punhos apertados.
Sempre foi assim com Rusty. Como tentar segurar a água nas mãos com os dedos abertos. E
ele tinha fodido qualquer chance de ser capaz de impedi-la de deslizar ainda mais longe, porque
ela o torceu em tantos nós que nada que ele dissesse ou fizesse sairia do jeito que pretendia.
Capítulo Vinte e Dois
— Que diabos vou fazer? — Joe perguntou, desespero enchendo sua voz. — Deus, eu sequer
tive a chance de dizer que a amava ou que eu a queria para sempre.
— Pare com isso, — disse Garrett, com dureza. — Você não pode falar desse jeito. Todos nós
já passamos por isso. Todos nós sentimos exatamente o que você está sentindo. Você tem que ter
fé, cara. Nós vamos recuperá-la.
— A pergunta é, quem diabos está com ela? — Ethan murmurou. — Temos dois ângulos
para explorar. Babaca número um - o pai dela. Ou babaca número dois - este imbecil do Sebastian
que a usou e, em seguida, planejou matá-la.
— Ou um terceiro ângulo - qualquer número dos muitos inimigos que o pai dela fez ao longo
dos anos. — acrescentou Donovan. — Se Sebastian não percebeu a princípio que o pai de Zoe não
se importava com ela, as chances são que muitas outras pessoas também não perceberam.
Deus, as possibilidades pareciam infinitas, e Joe sentiu como se estivesse batendo com a
cabeça na parede. Por que não arrumou tempo para conversar quando Zoe quis? Ela parecia tão
hesitante e preocupada, e agora ele sabia, maldição, sabia o que ela queria dizer a ele, e a
dispensou por uma maldita reunião que era tão sem importância no esquema das coisas, que ele
queria bater em algo.
— Ela tentou me dizer, — Joe disse roucamente. — Esta manhã ela disse que precisávamos
conversar e estava tão nervosa e hesitante, mas eu a dispensei por causa daquela fodida reunião.
Pedi a ela para ficar, disse que tomaríamos café da manhã e, em seguida, falaríamos sobre o que
ela quisesse. Porra! Por que não a coloquei em primeiro lugar?
O telefone de Sam tocou e ele agarrou-o, colocando-o no ouvido. — Fale comigo.
Depois de um momento de silêncio, disse: — Estaremos logo aí.
137
Maya Banks
KGI 11
— Steele pegou todas as imagens de vigilância e tem algo que precisamos dar uma olhada,
— Sam disse. — Vão em frente. Vou reunir os outros e estaremos bem atrás de vocês.
Joe já estava correndo para a porta, seus irmãos logo atrás dele. Saíram em um estrondo
pelo complexo, parando abruptamente fora da sala de guerra.
— O que você tem? — Joe perguntou assim que entraram.
Steele socou uma série de comandos e levantou imagens de vigilância da cabana de Joe.
Alguns segundos depois, Joe congelou quando viu uma inconsciente, e ensanguentada Zoe sendo
arrastada para fora da cabana por um homem, seguido de perto por um cúmplice. Fúria fervia em
suas veias e bateu o punho na mesa de planejamento.
Sam entrou, seguido pelo resto dos membros da KGI, menos a equipe de Rio, que protegia o
resto da família na casa de Frank e Marlene. Todos assistiram horrorizados quando Zoe foi jogada
sem cuidado no banco traseiro de um SUV preto enquanto um homem subia na parte de trás com
ela, o outro entrando no banco do motorista.
— Congele, — ordenou Donovan. — Retorne um pouco e segure. Você pode ampliar e obter
uma imagem clara da placa do carro?
Joe prendeu a respiração enquanto Steele ampliava, e então impacientemente, Donovan
assumiu os controles e limpou a imagem até que finalmente os números estavam visíveis e lidos
mais facilmente. Sean entrou na sala de guerra e Joe imediatamente berrou um comando para o
xerife procurar a placa e colocar um BOLO8 para todo o estado do Tennessee. Os bastardos não
poderiam ter ido tão longe ainda. A menos que fossem pegar um avião com Zoe.
— Contate todas as pistas de pouso locais ou qualquer local onde um helicóptero poderia
decolar, — Joe acrescentou.
Para o choque de todos os presentes, a porta da sala de guerra abriu-se de novo, admitindo
Rio e Diego, mas a sala explodiu em caos, com Nathan perdendo a porra da cabeça quando
percebeu que Shea estava enfiada solidamente entre eles, seus corpos formando uma barreira
protetora ao redor dela.
— Que porra é essa? — Nathan perguntou.
Seu olhar furioso encontrou Rio, exigindo sem palavras uma explicação de por que sua
esposa não estava seguramente instalada com as outras esposas.
Shea avançou, correndo para Joe, jogando seus braços ao redor dele e abraçando-o
firmemente. — Sinto muito, Joe. Eu tive que vir. — Lançou um olhar apologético na direção de seu
marido, implorando silenciosamente que ele entendesse. — Acho que posso ajudar, — disse
baixinho.
Por um momento, Joe não pôde respirar enquanto a esperança o agarrava pela garganta. As
lágrimas queimavam suas pálpebras com o ato altruísta de sua cunhada. Um ato que ele sabia que
poderia custar-lhe caro.
— Não! Droga, Shea. Não! Você não vai fazer isso. Eu a proíbo! — disse Nathan
acaloradamente. — Você está grávida, querida. Você não pode correr esse tipo de risco!
Os outros estavam claramente perdidos enquanto olhavam de um lado para outro entre
Nathan, Shea e a súbita esperança e alívio que derramou dos olhos de Joe.
8 BOLO – Gíria policial para “estar à procura” (Be on the look out - BOLO)
138
Maya Banks
KGI 11
— Alguém vai me dizer o que está acontecendo aqui? — Perguntou Garrett.

— Vocês sabem que minha telepatia, ou melhor, minha capacidade de se conectar com as
pessoas, é aleatória, — disse ela, sem encontrar os olhos furiosos e em pânico de Nathan. — O dia
do churrasco, a primeira vez que Zoe nos encontrou... Eu a ouvi. Ou melhor, eu a senti, —
rapidamente corrigiu. — O medo dela era esmagador. Quase me sufocou. Por um longo momento,
eu não conseguia respirar, era tão doloroso. Pensei que iria desmaiar.
— Jesus, — Donovan murmurou.
— E você acha que pode se conectar a ela agora? — Sam perguntou gentilmente.
— Eu não quero que ela sequer tente! — Nathan rosnou. — Você não tem ideia do que está
acontecendo com Zoe, qual é a situação dela, ao que você estaria se expondo. Não permitirei isso,
Shea. Você já está frágil o suficiente com esta gravidez chutando sua bunda diariamente. Nem
quero pensar no que isso pode fazer para você ou nosso bebê.
Parte de Joe concordou com Nathan. O risco era imenso. Mas a outra parte queria gritar
com seu irmão que se os papéis fossem invertidos e fosse Shea suportando Deus sabe o que, e
que alguém pudesse ser a chave para encontrá-la e ajuda-la, ele seria totalmente intransigente
quanto a fazer o que fosse necessário para ajudá-la.
— É exatamente por isso que vou fazer tudo que puder para ajudá-la - e à você, Joe.
A voz suave de Shea ecoou na mente de Joe e ele a aproximou, abraçando-a com força
enquanto enterrava o rosto em seu cabelo.
— Você nunca saberá o quanto isso significa para mim, garotinha. Eu a amo muito. Não
posso perdê-la agora que finalmente a encontrei.
Joe viu Nathan suspirar em resignação ao perceber que ele e Shea tiveram sua própria
conversa telepática.
Todo mundo olhou com preocupação para Shea e um rubor tornou suas bochechas cor-de-
rosa por ser o objeto de tanto escrutínio.
— Você nos diz como quer fazer isso, Shea, — Garrett disse gentilmente. — Se preferir
apenas ter Nathan e Joe com você, então o resto de nós vai desaparecer até que você nos dê o
sinal de que está tudo bem.
Shea sorriu timidamente. — É gentil da sua parte, Garrett, mas acho que todos deveriam
estar aqui. Não estou sempre ciente do que retransmito, e se tivermos todos os ouvidos atentos
corremos menos risco de perder detalhes importantes.
— Prometa-me, — disse Nathan com ferocidade. — Se isso lhe causar qualquer dor ou
angústia, prometa-me que você vai parar.
Shea afastou-se de Joe e foi para os braços do marido. — Vou ficar bem, Nathan. Prometo.
Preciso começar. Estamos perdendo um tempo que Zoe pode não ter.
Joe enrijeceu, seu rosto se contorcendo em dor. Shea lhe enviou um olhar de desculpas, mas
ele sacudiu a cabeça. — Só está falando a verdade. Não sabemos o que estamos enfrentando - o
que ela está enfrentando, então sim, precisamos nos apressar. Apenas me diga o que você precisa.
Qualquer coisa.
— Apenas esteja aqui e tente ficar calmo para que eu possa dar todo o meu foco para tentar
estabelecer o elo entre mim e Zoe. Pode demorar um pouco porque é muito para compreender
139
Maya Banks
KGI 11
que você pode de repente ouvir alguém falando em sua cabeça, e ela vai se perguntar se está
ficando louca.
Nathan conduziu Shea para um dos sofás na sala de guerra e sentou-se ao lado dela. Ela
estendeu a mão para Joe para puxá-lo para baixo ao lado dela e então se sentou entre os dois
homens, suas mãos entrelaçadas nas dela.
Ela respirou fundo e fechou os olhos, franzindo a testa com tensão. A sala inteira ficou em
silêncio enquanto toda a atenção se concentrava nela.
Shea apagou tudo de sua mente enquanto fechava todos os caminhos, exceto as estreitas e
fracas impressões digitais que a levavam a Zoe.
Capítulo Vinte e Três
Zoe foi colocada paralisada no chão, as mãos amarradas atrás das costas, os tornozelos
amarrados tão firmemente que a corda cortou sua pele, que estava coberta de sangue. Piscou em
um esforço para limpar a visão, obscurecida pelo sangue e inchaço, mas sua cabeça tinha sofrido a
maior lesão. A dor era tão esmagadora que a náusea estava sempre presente, e engoliu
rapidamente para evitar o vômito.
Sebastian estava a uma curta distância com dois cúmplices que ela não conseguiu identificar.
Exibia uma expressão presunçosa de vitória, e de vez em quando olhava abertamente para ela,
aparentemente divertido com o dano que infligira.
— O velhote realmente não dá a mínima para você, — disse com uma risada. — Ele parecia
bastante entediado enquanto eu listava minhas demandas. Eu me pergunto se ele vai dizer o
mesmo quando eu ignorar seu blefe e enviar-lhe imagens da cabeça de sua filha sendo explodida.
Ele se abaixou e correu os dedos sugestivamente sobre seus seios, e ela se encolheu, quase
gemendo com a dor que o movimento lhe causava. Ele riu e, em seguida, deu um tapa com as
costas da mão em sua bochecha já machucada.
— Pretendo provar essa boceta novamente antes de te devolver para o papai. Se você me
der qualquer problema, vou deixar meus parceiros terem a vez deles também, então se eu fosse
você, eu seria uma menina muito boa.
Lágrimas percorreram suas bochechas, misturando-se com sangue fresco e seco de seu nariz
e boca. Não havia esperança de resgate. Ninguém sabia onde estava, e mesmo se Rusty dissesse
tudo a Joe e seus irmãos, Joe não iria querê-la. Seu pai dava a mínima para ela - nunca se importou
com ela. Uma vez... Antes de sua mãe partir, ele havia sido um homem diferente. Ele tinha sido
um pai de verdade. Tinha vagas lembranças de uma família amorosa, dele jogando-a no ar
enquanto ela gritava de prazer. Colocando-a na cama à noite, depois de ler uma história para
dormir.
Tudo isso chegou ao fim depois que sua mãe foi embora sem ao menos um adeus, uma carta
ou um eu te amo. Um dia ela estava lá e então não estava mais, e seu pai se transformou em um
homem frio, sem coração, que ela não mais reconhecia. Ele a culpou por sua mãe partir? A odiava
140
Maya Banks
KGI 11
por isso? Que tipo de pai culpava uma criança de cinco anos? E mesmo que não a culpasse, não
percebeu que ela estava tão machucada quanto ele? Ela não perdeu somente um dos pais. Ela
perdeu ambos no dia em que sua mãe os deixou para trás.
E agora Sebastian estava zombando dela, sabendo muito bem que seu pai não se importava.
Sabia que não iria sair desta com vida. Ouvira o telefonema e seu plano para matá-la e isso a
instigou a fugir. Que tipo de monstro brincava com ela quando conhecia a eventualidade de seu
destino? Parecia que Sebastian e seu pai eram farinha do mesmo saco.
Fechou os olhos, repetindo cada momento com Joe, Rusty, e a família Kelly. Por um curto
período de tempo, soubera o que era tocar o sol, entendeu como era o amor incondicional e a
lealdade.
E Joe, como queria ter dito que o amava. Se ao menos pudesse ter aquela linda noite de
volta, a noite mais maravilhosa de toda a sua vida.
Dor a assaltou de novo quando Sebastian bateu em sua bochecha ferida, fazendo com que
um novo fio de sangue escorresse pelo canto da boca.
— Abra os olhos, sua puta. Sim, isso mesmo. Olhe para o homem que vai foder você
enquanto o papai escuta.
Ele esfregou as mãos com alegria e ela o olhou com horror. O homem estava louco. Um
sociopata completo. Para seu alívio, um de seus cúmplices chamou-o e os dois conversaram
através da sala fora do alcance de sua audição. Não tinha nenhum desejo de ouvir mais das
atrocidades que ele tinha planejado para ela. Fechou os olhos, mordendo o lábio abusado em uma
tentativa inútil de acalmar o fluxo de lágrimas e o aperto vicioso de impotência que a assediava.
— Zoe? Aqui é Shea, a esposa de Nathan. Por favor, não reaja de forma alguma. Sei que você
provavelmente está pensando que ficou louca. Você não está. Sou telepática e posso falar com
algumas pessoas desta maneira, mesmo a grandes distâncias. Joe está comigo e está explodindo
de medo. Está desesperado para te encontrar. Estamos todos desesperados para encontrá-la, mas
preciso que você me ajude a ajudá-la.
Zoe sacudiu a cabeça, a histeria subindo rapidamente. Oh Deus, estava perdendo a cabeça.
— Não, Zoe. Você está perfeitamente sã. Não tenho tempo para explicar tudo, mas juro que
sua mente não está passando truques em você. Sei que você está sentindo dor e sem esperança,
mas posso te ajudar. Por favor, deixe-me ajudá-la. Não me deixe de fora, e não fale em voz alta.
Basta pensar no que você quer dizer. Vou te ouvir.
— Shea?
A tentativa de resposta de Zoe a convenceu de que realmente estava louca. Mas estava tão
entorpecida que, mesmo se sua mente estivesse passando truques nela, era melhor do que a
realidade que estava vivendo.
— Estou aqui, — veio a calma resposta de Shea.
— O que faço? O que eu deveria fazer? — O medo movia as súplicas desesperadas. — Oh
Deus, estou louca, não estou? Perdi todo contato com a realidade. Realmente vou morrer.
A coisa mais estranha aconteceu. Ela sentiu a preocupação e compaixão de Shea. Ela tinha
um caminho para a mente de Shea e soube que Shea estava consumida de medo por ela. Por Joe.
141
Maya Banks
KGI 11
Podia até mesmo sentir Shea tentando acalmar Joe e teve que reprimir o soluço que brotou em
sua garganta.
— Não! Zoe, por favor, vou explicar tudo para você mais tarde, mas eu juro, isso é muito real
e posso te ajudar. Entendeu? Posso te ajudar. Podemos salvá-la, mas você tem que me ajudar.
Você pode fazer isso?
Depois de uma longa hesitação, Zoe sussurrou um sim mental mesmo enquanto as lágrimas
se acumulavam em seus olhos. O que tinha a perder? Iria morrer, e se houvesse a mais remota
chance de que não estava alucinando, valia correr o risco.
— Você pode me dizer onde está? Onde estão te mantendo? Qualquer detalhe, não importa
se for pequeno. O que você lembra? O que eles disseram? Qualquer coisa que possa nos dar que
ajudaria a localizá-la Zoe. Não deixe uma palavra de fora.
— Não é tão longe do complexo, ou pelo menos não acho que estive fora por tanto tempo. É
um nome bobo, a cidade, quero dizer. — Frustração bateu junto com a dor em sua cabeça, e ela
sentiu Shea colocar os dedos nas próprias têmporas e testa em um esforço para afastar a dor. Zoe
estava causando dor à ela? Ela podia sentir o que Zoe sentia? A tentação de fugir, de ignorar a
oferta de ajuda de Shea, era forte.
— Não! Zoe, estou bem. Você não pode desistir e não pode me ignorar.
E então algo ainda mais estranho aconteceu. A dor que era tão prevalecente no corpo
surrado de Zoe simplesmente desapareceu como se nunca tivesse estado lá. Mas ela sentiu o
sofrimento de Shea, e isso trouxe lágrimas aos seus olhos.
— Não! Se você fizer isso, não vou lhe dizer nada, — Zoe disse ferozmente. — Você não vai
sofrer por mim. Eu não vou deixar.
Sentiu o suspiro de frustração de Shea e, estranhamente, a trilha da raiva e medo de Nathan
por Shea.
— O que você fez? — Zoe perguntou maravilhada. — Como você fez a dor parar?
— Eu não tenho muito tempo, — Shea disse fracamente. — Manter um caminho como este
esgota minha força, e logo vou estar insensível. Você tem que me dizer como encontrá-la antes que
seja tarde demais.
— Vi um cartaz que dizia Bucksnort9. Estou louca? Estava tonta e acabava de voltar à
consciência, mas viramos em uma saída que dizia Bucksnort. Juro que era o que dizia.
— Quantos deles estão mantendo você, Zoe? Contra o que estamos lutando e o que eles
estão esperando?
— Meu pai. Eles pensam que ele vai se importar com o fato de estarem comigo, —
acrescentou tristemente. — Eles não têm ideia de como estão errados. Se ele não vier, eles vão me
matar. Se ele vier, eles vão me matar. Realmente não importa.
Não contou a Shea as outras ameaças que Sebastian fizera. Que planejava estuprá-la,
independente de o pai vir ou não. Mas então percebeu como era ridículo já que Shea estava em
sua cabeça e sabia exatamente o que Sebastian tinha ameaçado e o que ele já tinha feito.
9 É o nome de uma pequena comunidade no Tennessee, mas na gíria significa um peido particularmente alto.
142
Maya Banks
KGI 11
— Isso não vai acontecer, — Shea disse ferozmente. — Está me ouvindo, Zoe? Aguente firme
e faça o que tiver que fazer para ficar segura e sobreviver. Os homens estão indo para aí. Eles vão
te tirar daí exatamente como fizeram comigo.
— Eles estão voltando, — Zoe disse com medo. — O que faço?
— Eu vou ficar com você, Zoe. Estarei aqui o tempo todo. Não vou deixa-la sozinha.
O silêncio de Shea a confortava enquanto olhava para os olhos de seus captores que
brilhavam de triunfo.
— Shea? Joe, quero dizer, eles, precisam saber que há mais do que apenas os três homens
dentro da sala que estão me mantendo. Há mais. Muito mais. Lá fora, mantendo guarda e estão
fortemente armados.
— Não faça ou diga nada para aumentar a ira deles, — Shea sussurrou em sua mente. —
Seja dócil e suave. Não entregue as cartas que você tem na mão. Deixe-os pensar que está
apavorada. Seja corajosa e espere por nós, Zoe.
— Shea? Pode fazer algo por mim, por favor?
— Qualquer coisa, Zoe.
— Se... Se eu morrer, por favor, diga a Joe que sinto muito. Diga a Rusty e ao resto da sua
família que eu sinto muito. Eu nunca quis colocar vocês em perigo. E diga ao Joe...— Ela parou um
momento, lutando contra uma nova onda de lágrimas. — Diga a ele que o amo e que ele foi a
melhor coisa que já me aconteceu.
Shea estava feroz, o poder crescendo na mente de Zoe, dando-lhe uma explosão de força e
um alívio da dor implacável em sua cabeça. — Nem pense nisso, Zoe. Não se atreva a desistir.
Estamos indo para você. Joe está indo para você.
Zoe se agarrou firmemente a sólida promessa de Shea. Talvez estivesse perdendo a cabeça,
mas a convicção na voz de Shea não era imaginada. Shea - e Joe - eram sua única esperança.
Capítulo Vinte e Quatro
Toda a organização KGI convergiu para a pequena cidade rural de Bucksnort, no Tennessee,
rastejando como formigas por todo o terreno, investigando todos os possíveis esconderijos. Shea
tinha insistido em ir e não iria desistir. Sua conexão com Zoe era parte integrante da operação de
resgate, e então finalmente, não tiveram escolha a não ser incluí-la como o ponto de contato com
Zoe.
Shea manteve uma comunicação constante com Zoe, embora em cada sessão Zoe parecia
enfraquecer, um fato que Shea manteve para ela mesma, para que Joe não perdesse
completamente o frágil controle sobre sua própria sanidade. Mas se preocupou com Zoe, porque
sabia que, além dos abusos infligidos a ela pelo babaca no comando, Sebastian, ela também
sofrera uma lesão na cabeça. Enquanto Shea poderia protegê-la da constante torrente de dor, não
conseguiria curar o ferimento. Apenas Grace poderia fazer isso, e Shea nunca arrastaria sua irmã
143
Maya Banks
KGI 11
grávida para uma situação em que ela ou o bebê pudessem ser seriamente prejudicados por
assumir o ferimento para si mesma.
Seguindo as imagens nebulosas colhidas da mente de Zoe, foi capaz de identificar certos
marcadores nas estradas e animadamente guiou o caminho quando reconheceu um deles da
memória de Zoe.
Nenhum dos membros da KGI gostava que Shea, estando grávida, estivesse remotamente
envolvida na situação, mas não tinham muita escolha quando a vida de Zoe estava pendurada na
balança. Allie permanecia quieta, absorvendo a estranheza do que estava testemunhando com
admiração, não o ceticismo que se poderia esperar.
— Merda, — Shea murmurou quando ordenou que o comboio de veículos parasse. Uma
careta preocupada puxou seus lábios e ela olhou para Nathan e Joe alarmada.
— O que foi querida? — Nathan perguntou.
— O lugar onde a estão mantendo é uma verdadeira fortaleza. Eu te falei o que Zoe disse
sobre haver muitos homens armados guardando o perímetro do prédio onde a mantêm. Ela
estava indo e voltando a consciência quando foi levada para dentro, então suas memórias
estavam misturadas e confusas. Mas estou lendo o que ela viu conforme mais coisas voltam para
ela, e não é bom. O exterior é intensamente fortificado. Não há como entrar lá calmamente ou
sem uma briga, — acrescentou com um tom preocupado.
Joe sorriu e apertou a mão de Shea para confortá-la. — Lutar para abrir nosso caminho para
dentro e para fora é o que fazemos querida. Além disso, temos uma arma secreta. Você.
Ela tentou sorrir, mas vacilou e seu rosto caiu completamente. — Não quero que nenhum de
vocês se machuque. — ela implorou.
Nathan a beijou suavemente. — Prometa-me que você vai ficar para trás e fora do caminho.
Se eu tiver que me preocupar com você e cobrir minha equipe, então eu decepcionarei aos dois.
Os membros da KGI se reuniram a cerca de um quilômetro da fábrica abandonada onde Zoe
estava sendo mantida presa.
— Allie, preciso que você e Baker coloquem explosivos nas seções mais reforçadas do
prédio, longe de onde Zoe está sendo mantida para que não seja pega na explosão.
Particularmente não me importo com quem mais será pego nisso. E preciso que seja feito rápido,
— Sam ordenou tacitamente.
— Sim, senhor, — Allie disse, fazendo sinal para que Baker a seguisse enquanto se
separavam, cada um carregando um pacote com C-4 suficiente para bombardear uma pequena
cidade.
— P.J., Cole, Diego e Dolphin, preciso de todos vocês como franco-atiradores, cobrindo as
asas norte, sul, leste e oeste. Extraiam todos os alvos em sua mira. Deem sinal quando estiver tudo
limpo.
O olhar de Sam vagou sob Nathan, como se soubesse que seu irmão não ia gostar da
próxima ordem. — Preciso que você fique para trás e mantenha-se com Shea.
— Espere um maldito minuto, — Nathan protestou.
— Ela tem que ser protegida a todo custo, — Sam disse calmamente. — Não se trata de te
tirar da ação. Ela é nosso único meio de comunicação com Zoe. Se ela se machucar ou for
144
Maya Banks
KGI 11
capturada, estaremos fodidos. Preciso que você se certifique de que isso não aconteça. Além
disso, se as coisas correrem mal, você é nossa melhor chance de chegar a Shea antes que ela
esteja longe demais.
Nathan relutantemente concordou.
— O resto de vocês se separe. Vamos convergir de todas as direções, obter acesso assim que
Allie e Baker tiverem acionado os explosivos. Precisa ser um rápido entra e sai, e não dou a
mínima para as baixas a menos que sejam nossas. Não quero que haja sequer um arranhão em
nenhum de vocês.
— Donovan, Garrett, vocês estão comigo. O resto de vocês espalhe-se. Joe, Shea acredita
que Zoe está sendo mantida no subsolo em um porão. Rio, Ryker e Terrence irão te dar cobertura
e vão para baixo com você. Assim que alcançarmos nosso objetivo, daremos o fora daqui. Temos
dez minutos, começando agora.
— Estamos prontos quando você estiver, — Sam disse suavemente no bocal para Allie e
Baker. — Hora de nos mostrar do que você é feita, garota.
Em resposta, uma série de explosões balançou a terra, sacudindo-a como um terremoto.
Tumulto e gritos explodiram quando os homens começaram a se arrastar do prédio.
— Eles sempre têm que tornar tudo tão fácil, — P.J. resmungou quando começou a pegá-los
um por um.
— Ei, guarde um pouco para nós e não seja fominha, Sra. Coletrane, — Cole reclamou.
Joe ignorou os típicos gracejos que geralmente apreciava em suas missões. Nunca antes
tinha sido tão pessoal para ele. Não sabia como seus irmãos sobreviveram nas vezes em que
foram as mulheres que eles amavam que iriam salvar. Seu coração não conseguia suportar.
Rio e Terrence o flanquearam, com Ryker logo atrás, tirando qualquer ameaça assim que
aparecia e Joe sacudia um refletor para iluminar os corredores que pareciam algo tirado de uma
masmorra do século XVI. Jesus, era úmido e mofado e cheirava a morte e à decadência humana
aqui embaixo. Imaginar Zoe - sua Zoe - aprisionada nisso quase o enviou diretamente ao limite.
— Como ela está, Shea?
Seu chamado ansioso para sua cunhada era mais para ajudá-lo a não perder a cabeça do que
qualquer outra coisa.
— Ela está quieta, Joe. Está morrendo de medo e mais preocupada com todos vocês do que
com ela mesma. Ela se resignou de que não vai sobreviver e isso parte meu coração.
— Diga a ela que vamos buscá-la e para não desistir, — Joe exigiu, o nó em sua garganta e a
dor em seu peito quase o paralisando. — Diga que vou tirá-la daqui e para ela fazer o que tiver
que fazer para sobreviver até eu chegar até ela.
— Joe! Eles a estão movendo! — A intrusão ansiosa de Shea em sua mente o fez congelar. —
Ela está tão aterrorizada que seus pensamentos estão em completo caos. Perdi minha conexão
com ela. Não sei se ela me bloqueou ou se está tão em pânico que é incapaz de raciocinar.
Rio, Ryker e Terrence automaticamente retiveram seus passos quando Joe parou
abruptamente, olhando cautelosamente, fazendo varredura da área a procura de qualquer
possível ameaça.
— O que aconteceu? — Rio perguntou em voz baixa.
145
Maya Banks
KGI 11
— Shea diz que a estão movendo, mas não consegue uma boa leitura de Zoe porque ela está
muito assustada. Por nós, porra. Ela está mais preocupada conosco e resignou-se a morrer, mas
não quer que nenhum de nós seja morto.
— Porra! — Terrence resmungou. Ele não era um homem de muitas palavras, mas sempre
conseguia chegar ao coração da questão.
— Isso é fodido, — grunhiu Rio. — Jesus, ela não merece a vida de merda que teve quando
representa tudo de bom neste mundo.
— Não precisa me dizer isso, — Joe falou entre os dentes cerrados.
Tiros foram disparados à distância, e gritos e sons de luta física podiam ser ouvidos.
— Zoe está em movimento, — Joe gritou em seu bocal. — Tenham extremo cuidado ao
mirarem. Certifiquem-se de que ela não será pega no fogo cruzado.
— Espalhem-se, — Sam ladrou. — Quero uma verificação completa do perímetro. Ninguém
entra ou sai desta propriedade até Zoe ser encontrada.
As comunicações de rádio ficaram em silêncio. Então, de repente P.J. falou. — Tenho uma
mira em dois homens. Um está carregando Zoe, tenho certeza.
— Onde? — Joe perguntou.
Mas a comunicação foi interrompida por tiros, e então uma série de maldições preencheu o
ouvido de Joe e o terror o apanhou. Começou a correr, esquecendo-se de seu treinamento, de
cautela, de tudo menos de chegar à mulher que amava.
— Abaixe-se Joe! — Ryker esbravejou.
— Que diabos? — Joe rugiu.
Balas salpicaram a parede onde a cabeça de Joe estivera momentos antes.
— Não seja estúpido, — rosnou Terrence. — Você morrer não ajudará Zoe.
— Homem caído, — P.J. disse com urgência. — Asa Leste. Arrumem um helicóptero,
imediatamente10.
O caos se seguiu. Rio ficou pálido enquanto recebia uma transmissão, e então ele e Terrence
correram, deixando Joe e Ryker seguindo-os atrás.
Allie estava esparramada no heliporto de concreto, o sangue se acumulando debaixo dela.
Diego estava cuidando dela enquanto Donovan providenciava o kit de primeiros socorros para
colocá-la no soro e tentava parar o sangramento.
P.J. se aproximou, uma expressão sombria no rosto. — Ela tomou um tiro que era para Zoe,
— disse calmamente. — Os babacas entraram em pânico quando descobriram que não iriam sair
vivos, então iam atirar em Zoe, deixá-la no heliporto e decolar no helicóptero. Allie saiu do nada,
atirando e dizendo a Zoe para correr como o inferno.
Terrence ajoelhou-se ao lado de Allie, e Diego e Donovan trabalharam nela. — Aguente aí,
menina Allie. Nós não te deixaremos tão facilmente. Você tem que ser baleada pelo menos duas
vezes antes de receber tratamento especial por aqui.
Allie tentou rir, mas acabou tossindo, o movimento causando dor. — Eu já disse o quanto eu
estava errada sobre vocês?
10
A expressão usada foi STAT: Uma abreviação da palavra em Latim statim, “imediatamente”, frequentemente usada em contextos
médicos.
146
Maya Banks
KGI 11
— Não, mas você estará aqui para fazer isso, tenho certeza, — Rio provocou.
— Estou muito ruim? — Perguntou, a dor enrugando sua testa.
Diego sorriu. — Nada que a mantenha afastada de qualquer concurso de beleza.
— Allie, para qual direção Zoe foi? — Joe perguntou gentilmente. — Tenho que encontrá-la.
— Ela correu para o bosque. Eu disse a ela para se mandar, que alguém iria encontrá-la, mas
para ir tão longe do tiroteio quanto possível.
— Você salvou a vida dela. Obrigado, — Joe disse gravemente.
— Só estou fazendo o meu trabalho, — ela disse fracamente. — Prevendo que eu ainda
tenha um, depois da imbecil que fui com todos vocês.
— Você terá Allie, — disse Rio com um sorriso. — Você terá.
*****
Zoe correu em nenhuma direção clara, se encolhendo e esquivando quando ouvia tiros
distantes. Enxugou o sangue que manchava sua visão e continuou correndo, mas então pisou em
um buraco e torceu dolorosamente o tornozelo, caindo em uma pilha dolorosa no chão. Tentou
levantar-se, mas sua força estava completamente esgotada. Enrolou-se em uma bola, gemendo
enquanto a dor que tentava tão corajosamente suprimir, a atingia como uma vingança.
Amontoou-se lá, tremendo violentamente, lágrimas se misturando com o sangue manchado
em suas bochechas e boca. O gosto metálico a deixou enjoada e ela se secou, o estômago se
revoltando com a violência que a cercava como uma espessa neblina.
Isso era quem ela era. Seu legado. Como Joe poderia querer isso - Como ele poderia querê-
la? Não foi capaz de dizer a verdade para ele, ela mesma, e agora parecia que ela o usou,
propositadamente o enganou e a toda sua família. Arrastando-os todos com ela, para seu nível de
sub-humanidade.
— Zoe! Zoe! Onde você está querida?
A voz desconhecida a deixou tensa por toda parte e ela prendeu a respiração, rezando para
que estivesse escondida entre a sujeira e os escombros em que estava deitada. E então...
— Zoe! Querida, você está bem? Não tenha medo. Eu sou um dos mocinhos.
Abriu os olhos para ver um desconhecido conjunto de olhos azul-gelo pertencentes a um
homem alto e imponente, de cabelos loiros e traços duros. Estremeceu com a intensidade em seus
olhos e recuou involuntariamente.
— Meu nome é Steele, senhora. Trabalho com a KGI. Sou um dos líderes de equipe, como
Joe. Minha equipe é composta por P.J., Cole, Baker e Renshaw. Estou aqui para te levar de volta ao
Joe. Você está muito machucada?
As lágrimas encheram seus olhos enquanto ele gentilmente limpava um pouco do sangue de
seu rosto.
— Não posso voltar para lá, — sussurrou. — Não pertenço a isso. Não sou do seu tipo.
Ele inclinou a cabeça, obviamente confuso por sua declaração. — E que tipo é esse, querida?
— O tipo bom, — ela sufocou. — Eu estou... Suja. Contaminada. Toda a minha vida estive
cercada por corrupção e sujeira. Meu pai lidera um vasto império criminoso. Isso é quem eu sou,
147
Maya Banks
KGI 11
de onde vim, o tipo de pessoa que sou. Minha mãe sequer me amava o suficiente para me levar
com ela quando deixou meu pai. Por favor, apenas me deixe ir. Não posso voltar para lá. Não
desse jeito. Por favor, apenas me deixe ir. Estou te implorando.
O rosto duro de Steele suavizou-se com linhas de compreensão. Ele segurou sua bochecha,
enxugando o sangue que escorria dos cortes em seu rosto, a expressão ficando fria enquanto
examinava o dano feito à ela.
— Que tal eu te levar para minha esposa. Ela é médica e pode cuidar de seus ferimentos.
Você precisa de cuidados médicos, Zoe. Você gostaria dela. Ela é uma mulher maravilhosa.
— Você não vai deixar que Joe me veja assim? — Perguntou com medo.
Seu rosto se suavizou novamente. — Não, Zoe. Não vou te obrigar a fazer qualquer coisa que
não queira. Mas preciso te levar agora. Não sabemos o quanto você está ferida ou se quebrou
alguma coisa. Vou telefonar para a Maren e avisá-la de que estamos chegando, ela estará
esperando para examiná-la. Combinado?
— O-Ok, — disse trêmula. — Você... Você tem um cobertor? Eu não quero que ninguém
veja...
Ela parou, abaixando a cabeça, envergonhada.
Steele alcançou a mochila que estava carregando e tirou um cobertor. Em seguida,
simplesmente envolveu em torno dela, levantando-a em seus braços para que pudesse dobrar os
cantos em torno de seu queixo de modo que apenas o rosto ficasse visível.
— Estou levando Zoe. Tenha o helicóptero pronto para o transporte. Vou levá-la para a
enfermaria para ver Maren, — disse ao microfone. — E diga a Joe para se afastar, — disse em uma
voz de advertência.
Zoe fechou os olhos e enterrou o rosto contra o peito de Steele para evitar o escrutínio dos
outros enquanto Steele avançava em direção ao helicóptero em espera. Ouviu os distantes
protestos de Joe e seus irmãos discutindo com ele para se afastar. Somente quando estava segura
dentro do helicóptero com Donovan e Steele e ele decolou no ar, ela cedeu à força esmagadora da
inconsciência.
Capítulo Vinte e Cinco
— Acho que você deveria levar Rusty para a sala de exames. — Maren disse calmamente
para o marido. — Zoe está severamente traumatizada. Acho que ela teve uma ruptura com a
realidade. Está catatônica, e fica histérica com a mera menção de ver Joe.
— Porra! — Steele disse, esfregando a nuca. — Deveria tê-la visto quando a encontrei.
Estava tão envergonhada, e por quê? Genética? Está convencida de que é uma semente ruim por
causa de quem e o que o pai dela é. Ela deve se sentir culpada por envolver todos nós, mas se não
tivesse procurado Rusty, ela estaria morta.
— Ela se recusou a ver mais alguém. Até Marlene. Acho que Rusty é a nossa melhor chance
de chegar até ela.
148
Maya Banks
KGI 11
— Ela está na sala de espera, silenciosa e sem falar com ninguém. Está suportando tanta
culpa e vergonha quanto Zoe e isso é uma merda. O que a família dela fez com ela é imperdoável.
— Ele disse enojado. — E estou preocupado que o dano não possa ser desfeito.
— Vá buscá-la. — Maren disse suavemente. — Diga que Zoe precisa dela. Rusty nunca
deixaria de vir para quem precisasse dela.
Steele abraçou sua esposa e a beijou longa e docemente. Sua mão foi para barriga ainda lisa
como sempre fazia quando a abraçava. Por mais aterrorizado que estivesse com a perspectiva de
ela passar por outra gravidez, não poderia imaginar a vida ficando melhor. Sua esposa e filha eram
seu mundo inteiro, e agora adicionariam outra vida minúscula. Isso o maravilhava e assustava em
igual medida.
— Eu te amo. — Disse, porque aproveitava todas as oportunidades para dizer isso a ela.
Ela sorriu. — Volte a ser você mesmo, homem de gelo. Agora vá buscar Rusty para que
possamos tentar ajudar Zoe. Estou preocupada com ela.
Ele lhe deu mais um beijo e depois saiu da sala de exames onde os membros da KGI foram
deixados, exceto Allie e o resto da equipe de Rio, que estavam com ela no hospital em Murray,
Kentucky, onde estava passando por uma cirurgia para remover a bala que tinha ricocheteado em
uma de suas costelas inferiores, quebrando-a e parando em seu apêndice, exigindo que fosse
removida.
Joe levantou-se, mas Steele sacudiu a cabeça como um sinal para que continuasse sentado
e, em seguida, caminhou até onde Rusty estava amontoada no canto, os joelhos atraídos para o
peito, o olhar abatido, recusando-se a olhar para o resto de sua família.
Steele se abaixou e empurrou o queixo dela para cima em um movimento suave, de modo
que foi forçada a encontrar seus olhos. — Maren quer que você vá ver Zoe, ela não está indo bem,
Rusty e precisa de você.
— Sou eu quem a pôs nessa situação. — disse amargamente. — Não acho que eu seja quem
ela precisa.
— É aí que você se engana. — Steele disse suavemente. — Você é uma boa amiga, Rusty.
Você fez a coisa certa. Eu não me importo com o que alguém aqui diz. Você salvou a vida dela.
Ela pareceu atordoada enquanto olhava para ele, os olhos enchendo de lágrimas por seu
apoio. Ele simplesmente se levantou e estendeu a mão para ajudá-la. Ela pegou e permitiu que ele
a puxasse para seus pés. Ignorando as desesperadas exigências de Joe para saber o que estava
acontecendo, Steele a guiou até a sala de exame, onde Maren limpava cuidadosamente o sangue
do rosto de Zoe.
Assim que viu Zoe, Rusty começou a chorar e correu para a cama, cuidadosamente
envolvendo Zoe em um abraço gentil. Maren discretamente se afastou e fez um gesto para que
Steele a seguisse para fora da sala.
Zoe se mexeu um pouco, o embotamento se afastando de seus olhos, e então lágrimas
começaram a escorrer pelo rosto dela enquanto puxava Rusty, abraçando-a ferozmente.
— Obrigada por ter vindo. — Zoe sussurrou, agarrando-se desesperadamente a sua amiga.
— Por que você me agradeceria? — Perguntou Rusty amargamente. — Eu quase te matei,
isso foi o que aconteceu, você foi sequestrada e abusada.
149
Maya Banks
KGI 11
Zoe afastou-se em choque, de queixo caído, e então estremeceu com a dor na boca inchada
e na mandíbula. — Do que você está falando? — Perguntou com voz rouca. — Você me salvou,
Rusty, eu estaria morta se não fosse por você.
— Não de acordo com minha família. — Rusty disse e uma torrente de lágrimas inundou
seus olhos.
— O que? Eles estão te culpando? Que bobagem! — Ela disse com veemência. O que eles
estão pensando? Você é a única amiga que tenho no mundo. Você arriscou tanto por mim. Por
minha causa, você e toda a sua família poderia ter sido ferida ou assassinada. Eu nunca deveria ter
pedido o que te pedi e ter concordado com tudo que você fez para mim.
— Se eu não tivesse mentido para minha família, você estaria mais bem protegida, — disse
Rusty com a voz embotada. — Você não teria ficado sozinha por um minuto. Eles estão furiosos
comigo. E Sean...
Rusty se interrompeu, o rosto se despedaçando. Zoe se inclinou e envolveu os braços em
torno dela mais uma vez. — O que aconteceu? — Perguntou baixinho.
— A melhor pergunta é: o que não aconteceu? — Dor e traição eram brilhantes nos olhos de
Rusty. — Eu fiz papel de boba quando esperei por Sean chegar em casa. E se isso não fosse ruim o
suficiente, recebi a chamada de que você tinha sido sequestrada no meio da minha humilhação e
depois me arrastei para a sala de guerra e tive que dizer a todos o que eu tinha feito. Depois que
minha família me fez andar sobre as brasas, Sean não poupou nenhuma oportunidade de me dizer
que eu era uma criança egoísta que precisava crescer, que tudo não era sobre mim e eu precisava
aprender a ser mais responsável.
— E pensar que eu gostava dele. — disse Zoe com raiva. — Vou matá-lo por isso. Como eles
puderam, Rusty? Como puderam dizer essas coisas para você? Você arriscou sua vida por mim.
Você me ajudou quando eu não tinha mais ninguém a quem recorrer e nunca pediu nada em
troca. E eles estão bravos com você por isso?
— Sean está irritado. O resto está decepcionado, acho. Não tenho certeza qual é pior. A
ideia de que eu faria propositadamente qualquer coisa para colocar os pais que me adotaram, as
únicas pessoas que sempre me amaram e me aceitaram, em perigo me deixa doente. Eu faria
qualquer coisa por eles. Qualquer coisa. — Disse Rusty, sufocando um soluço.
— É minha culpa. Não sua Rusty. Não vou deixar você se culpar. Você é a pessoa mais
altruísta e atenciosa que eu já conheci.
Rusty sorriu com lágrimas para ela. — Eu tinha que te ver. Precisava te dizer o quanto eu
sentia muito enquanto tinha a possibilidade. É a única razão pela qual me sentei com toda a
família durante as últimas horas enquanto Maren te examinava.
Zoe franziu o cenho. — Não gosto do som disso, Rusty. É muito parecido com um adeus, e
não vou deixar você ir embora.
Rusty lhe deu um sorriso triste. — Não posso ficar. Pelo menos não agora. Tenho que ir
embora. Juntar os meus pedaços. Superar Sean e seguir em frente. Descobrir o que vou fazer com
a minha vida.
— Rusty, não! — Zoe falou sufocada. — Não vá. Por favor, não vá. Irei com você. Se você não
pode ficar imagine eu. Podemos ir juntas.
150
Maya Banks
KGI 11
O sorriso de Rusty era genuíno desta vez. — Se acha que o Joe vai se sentar e deixá-la ir
embora, então, sis, você não conhece o homem muito bem. Ele está prestes a perder a cabeça
porque não foi capaz de te ver. Ver por si mesmo que você está bem. Ele passou pelo inferno e se
culpa por deixá-la desprotegida.
Outra lágrima deslizou pela bochecha de Zoe. — Nunca vou me encaixar aqui. — Disse
tristemente. — Foi tolo de minha parte sonhar. Eu vivi na minha própria cabeça, criando minha
própria fantasia toda a minha vida, recusando enfrentar a realidade. Não posso continuar fazendo
isso.
— Preciso te pedir um favor. — disse Rusty, ignorando sua declaração.
— Qualquer coisa. Somos irmãs, e o tempo e a distância nunca mudarão isso.
Os lábios de Rusty tremiam e ela rapidamente desviou o olhar. Então se virou para Zoe e
agarrou ambas as mãos dela. — Não diga a ninguém que vou embora. Não vou simplesmente
desaparecer. Nunca preocuparia Marlene e Frank assim. Vou deixar uma carta para Marlene
explicando tudo, bem, nem tudo. Mas é hora de começar a viver minha vida e parar de desejar o
impossível. Preciso de tempo para resolver o que quero.
— Me prometa que vai manter contato. — Zoe disse, segurando as mãos de Rusty com força
enquanto as lágrimas rolavam por suas bochechas. — Não importa o que aconteça. Nunca vou
trair sua confiança, mas, por favor, mantenha contato comigo.
Rusty assentiu, tremendo demais para responder verbalmente.
— E tenho um favor a pedir em troca. — Zoe disse, a dor a consumindo.
— Qualquer coisa. — disse Rusty, ecoando a promessa de Zoe.
— Pode pedir a Marlene que me pegue? Não quero ver Joe. Nem ninguém. Só preciso de
tempo. Eu acho, como você, que preciso de algum tempo para descobrir a minha vida. Só espero
que ela não esteja tão chateada comigo que não vai me querer em sua casa.
Rusty a abraçou novamente. — Considere feito. Marlene não tem um osso de julgamento
em seu corpo. E se eu disser que você precisa dela, então ela estará aqui, e confie em mim,
ninguém a impedirá. Especialmente seus filhos. Joe pode não gostar, mas ele respeitará a palavra
dela como lei.
— Me faça mais uma promessa. — disse Zoe, segurando a mão de Rusty mais uma vez. —
Não saia sem dizer adeus e sem me dar uma maneira de entrar em contato com você.
Rusty sorriu. — Não vou. Amo você sis.
— Também te amo. — Zoe sussurrou.
— Vou buscar Marlene agora.
O fato de Rusty não ter se referido a Marlene como mãe ou mamãe não passou
despercebido por Zoe. Quebrou seu coração que ela tinha trazido tanta dor para esta família.
Danos irreparáveis. Não podia mudar quem era, mas podia pelo menos se certificar de quem seria.
— Na saída, você poderia perguntar a Shea se ela poderia vir falar comigo? — Zoe perguntou
hesitante.
Rusty apertou sua mão e depois a abraçou em despedida. — Vou falar com ela. Então me
prometa que assim que você chegar a casa de Marlene você vai descansar.
O sorriso de Zoe estava fraco. — É uma promessa que não vou ter problemas para manter.
151
Maya Banks
KGI 11
Capítulo Vinte e Seis
Rusty saiu da sala de exame e sentiu cada olho nela. Recusou-se a encontrar o olhar de
alguém, procurando apenas Shea. Caminhou para a outra mulher e disse rigidamente em voz
baixa. — Zoe gostaria de vê-la.
Os olhos de Shea estavam cheios de compaixão e simpatia, tanto que fez Rusty se contorcer
em desconforto. Até agora, toda a família teria ouvido falar de sua traição. A raiva de Nathan feriu
mais, por que de todos os irmãos, ele foi o que mais a aceitou desde o início. Tinha sido amável
quando ela era uma adolescente agressiva de quinze anos, com medo de que o retorno de Rachel
dos mortos a fizesse perder o afeto de Marlene. Como resultado, ela sempre teve um vínculo mais
estreito com ele do que com qualquer um dos outros irmãos Kelly.
— Como ela está? — Sussurrou Shea.
Rusty fez uma careta. — Não está bem, mas o que mais poderia ser esperado? Ela esteve
péssima em todas as fases da sua vida.
Quase estremeceu porque parecia que estava falando de si mesma e não de Zoe, e Shea
percebeu isso. — Tudo ficará bem, Rusty. — Ela ofereceu.
Rusty tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. — Nunca mais vai ficar bem, Shea. Mas
obrigada.
Virou-se para sair, ignorando o chamado de Joe. Acelerou o passo e, uma vez lá fora, quase
correu para o veículo e entrou apressadamente, apertando a ignição e retrocedendo enquanto Joe
freneticamente acenava para ela parar.
*****
Joe passou a mão pelo cabelo e fechou os olhos desesperado. Todo o maldito mundo tinha
virado de cabeça para baixo. E ele estava impotente para fazer qualquer merda sobre isso. Voltou
para a enfermaria, decidido a verificar Zoe. Não tinha sido capaz de chegar perto o suficiente nem
mesmo para dar uma olhada nela, muito menos tocá-la, segurá-la, confortá-la e dizer o quanto a
amava e que seu coração estava quebrando por ela.
Já bastava. Desta vez, não aceitaria não como resposta.
Quando voltou, notou que Shea não estava mais ao lado de Nathan, e imediatamente enviou
um olhar interrogativo para seu irmão.
— Zoe pediu para vê-la. — Nathan disse calmamente. — Tenho certeza que ela está confusa
e tem um monte de perguntas.
— Vou lá. — Disse Joe, virando-se para a sala de exames apenas para encontrar Steele em
pé na frente dele, impedindo o caminho.
— Você precisa se acalmar. — Steele disse. — A única maneira de conseguir que Zoe
cooperasse e me permitisse levá-la a Maren para receber o atendimento médico que ela precisava
152
Maya Banks
KGI 11
desesperadamente era se eu jurasse que você não a veria. Eu prometi e não vou quebrar minha
promessa.
— Dê-lhe algum tempo, Joe. — Advertiu Donovan suavemente. — Ela está passando pelo
inferno. Ela não é ela mesma agora, e quem pode culpá-la? Seja paciente. Você vai vê-la em breve.
— Mas por que ela não quer me ver? — Perguntou Joe, com agonia em sua voz. — Rusty
esteve lá. Agora Shea. É porque eu falhei com ela?
— Sente-se antes que caia. — Sam ordenou.
Steele suspirou. — Ela acha que não é boa o suficiente para você.
Joe tropeçou em direção a uma das cadeiras e afundou-se, enterrando o rosto nas mãos.
Estava preocupado a ponto de enlouquecer. Uma dúzia de razões havia flutuado em sua cabeça a
respeito de por que Zoe estava tão inflexível que ele, ou qualquer outra pessoa, não pudesse vê-la,
e a pior delas era o que mais podia ter acontecido com ela que eles não sabiam. Nunca em um
milhão de anos ele teria sonhado que ela teria a ideia tola de que não era boa o suficiente para
ele. Foi ele quem não a protegeu. Foi ele quem a deixou vulnerável a ponto de ser sequestrada e
aterrorizada por aqueles idiotas.
O queixo de Steele estava apertado de raiva. — Olha, Zoe está pensando muita merda bem
fodida agora, e isso não tem nada a ver com a sua falha. Exatamente o oposto. Ela acredita que
falhou com todos nós. Ela implorou para que eu não te deixasse vê-la.
Joe se encolheu, incapaz de respirar através da dor.
— Ela está envergonhada. — Steele disse, a expressão furiosa. — A mulher está convencida
de que está danificada. Contaminada. Não é boa o suficiente para você ou qualquer pessoa nesta
família ou organização. A única maneira que eu poderia convencê-la a deixar-me obter
atendimento médico foi prometer levá-la para Maren. Eu tinha que envolvê-la em um cobertor,
porque ela estava envergonhada com o que algum idiota fez com ela, as contusões e sangue em
seu corpo e rosto. Tenho que te dizer cara. Eu já vi muita coisa durante meu tempo nas forças
armadas e na KGI, mas isso... Isso me deixa mal pra caramba. Você vai ter que ter muito cuidado
com ela, mas ao mesmo tempo não pode deixá-la continuar com essa bagunça de merda que está
na cabeça dela.
Joe olhou para ele em choque pela resposta irritada. — Não é boa o suficiente para mim?
Para minha família? — Exclamou. — Que porra é essa?
— Analise pela perspectiva dela. — Steele disse. — Ela esteve cercada e foi usada por idiotas
a vida inteira. Rusty foi sua primeira e única amiga, e através dela, ela conheceu todos nós e pela
primeira vez aprendeu o que era aceitação - e amor. E ela pensa que fez com que tudo isso
desmoronasse em nossas cabeças. Ela não percebe que se Rusty não tivesse feito o que fez, ela
estaria morta. Nenhum de vocês parece perceber isso.
Os irmãos de Joe trocaram olhares preocupados, mas silenciosos, as expressões pesarosas.
Os olhos de Joe se estreitaram. — Não culpo Rusty por nada.
— Não é o que parece. Mais importante ainda, não é a maneira que Rusty vê também.
— Droga! — Joe explodiu. — Eu não estava com raiva de Rusty por ajudá-la. Ou mesmo por
não quebrar a confiança de Zoe. Eu sabia que Rusty sabia mais do que demonstrava. Nós até
conversamos sobre isso. Eu só queria que ela tivesse confiado em mim e que soubesse o que Zoe
153
Maya Banks
KGI 11
significava para mim, porque além de Zoe, ela era a única que sabia o tipo de perigo que Zoe
enfrentava.
— Tudo o que sei é que duas mulheres estão sofrendo porque ambas sentem que
fracassaram e que não são boas o suficiente, e isso é fodido e nós sabemos disso.
Steele virou-se e caminhou de volta para onde sua equipe estava de pé, efetivamente
terminando a conversa. Joe fechou os olhos e se estendeu para Shea. — Shea, querida, tenho que
saber. Como ela está? Como está realmente?
Houve uma breve pausa. — Ela está quebrada, Joe. Está desanimada e sente culpa por coisas
sobre as quais ela não tinha controle.
Joe podia ouvir as lágrimas na voz de Shea e isso o destruiu. Queria dizer a Shea para contar
a Zoe que ele a amava, mas Zoe merecia ouvir essas palavras pela primeira vez dele.
Se ele pudesse ter a chance.
— Eu sei que nunca te agradeci pelo que você fez por ela, querida, mas eu te amo por isso.
— Você tem que saber que eu faria qualquer coisa por você, Joe. Eu a amo também. Ela é
boa para você. Eu rezei por alguém exatamente como ela para você. Você parece bem, feliz e
apaixonado.
— Continue orando, Shea. Porque eu não a tenho... Ainda.
Capítulo Vinte e Sete
Apenas quando Joe pensou que as coisas não poderiam ficar mais difíceis em sua esperança
de ter acesso a Zoe, sua mãe correu para a enfermaria e foi recebida por Maren, que acabava de
vir da sala de exame.
Sua frustração deve ter sido evidente, porque quando sua mãe o viu, seus traços se
suavizaram com simpatia e amor e ela correu para envolvê-lo em um abraço. Ele a abraçou por um
longo momento, o sofrimento envolvendo-o como uma névoa.
— Não se preocupe querido. — Sussurrou sua mãe. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo. Vou
levar Zoe para casa comigo. Dê-lhe tempo. O que ela mais precisa agora é tempo, paciência e
acima de tudo, amor.
— Eu a amo, Mãe. — Ele disse com uma voz dolorida.
— Eu sei que você ama. E ela ama você. Acredite e segure-se nisso. Não desista.
— Eu nunca vou desistir dela. — Disse ferozmente. — Cuide dela, mãe. Por favor.
Ela se afastou e acariciou-o na bochecha. -Você sabe que vou cuidar dela e vou atualizá-lo
muitas vezes. Eu dou um ou dois dias no máximo. Vou sufocá-la com tanto amor e aceitação que
ela vai esquecer todas essas tolices sobre não ser boa o suficiente para esta família. Ela é
exatamente o que esta família - e você - precisa.
— Eu não poderia concordar mais. — Ele disse bruscamente.
— Escute filho. Sei que você quer, que precisa vê-la. Entendi. Mas ela não está em um bom
momento agora. Acho que você deveria ir para que eu possa trazê-la para casa. Ela está
154
Maya Banks
KGI 11
horrorizada com o pensamento de você vê-la agora. Só vai torná-lo mais traumático para ela se
você ficar.
Lágrimas queimaram as pálpebras dele. Queria fazer mais do que apenas vê-la. Queria
segurá-la em seus braços e nunca mais soltar, mas não queria deixá-la mais estressada. Seus
ombros caíram e ele sabia que a tristeza que sentia se refletia em cada parte de seu corpo.
— Eu vou, Mamãe. Mas pode me ligar e dizer como ela está e quando, ou se, concordará em
me ver?
Lágrimas brilhavam nos olhos de sua mãe também. — Claro querido. Agora vá descansar se
puder. Odeio vê-lo sofrendo desse jeito. Vou cobri-la com amor até que você obtenha a honra de
fazê-lo sozinho.
Ele a abraçou novamente. —Obrigado.
— Vá agora para que eu possa levá-la para casa para descansar. Ela deve estar sentindo
muita dor.
Ele não achava que fosse possível se sentir mais torturado do que já sentia. Lentamente,
como se tivesse cem anos, se virou e caminhou em direção à porta. Donovan o seguiu.
— Vamos. Vou te dar uma carona. — Disse Donovan em voz baixa. — Tenho uma missão que
preciso cumprir.
Joe lançou-lhe um olhar interrogativo enquanto saíam para o SUV de Donovan.
— Imaginei que você estaria com pressa de voltar para Eve e Cammie.
— Preciso falar com Rusty primeiro. — Disse Donovan, sombrio. — Devo um pedido de
desculpas a ela.
O coração de Joe doeu um pouco mais porque ele e Zoe não eram as únicas duas pessoas
que sofriam.
— Dê-lhe meu amor, ok? — Pediu Joe suavemente.
— Vou dar. Agora vamos levá-lo para casa para que você possa dormir um pouco. Você
parece péssimo.
— Sinto-me péssimo.
*****
Donovan aproximou-se da casa de seus pais e saiu, dirigindo-se para a porta. O jipe de Rusty
estava lá, então não se incomodou em bater. Não tinha certeza se uma visita de qualquer um de
seus irmãos seria recebida no momento. Rusty tinha todo o direito de ficar chateada. E se sentir
traída.
Entrou, notando o silêncio no interior. Seu pai teria ido com sua mãe para pegar Zoe, e
depois de uma rápida verificação do andar de baixo, sabia que Rusty deveria estar lá em cima no
quarto. Não querendo entrar e invadir sua privacidade, ficou de pé, ao pé da escada e chamou-a.
— Rusty?
Houve um silêncio prolongado, e assim que estava prestes a chamar seu nome novamente,
ela apareceu no topo, a expressão inescrutável. — Donovan? O que está fazendo aqui?
— Podemos conversar? — Perguntou.
155
Maya Banks
KGI 11
Ela hesitou, mas então lentamente desceu as escadas, e ele pôde ver o sofrimento
entorpecendo seus olhos normalmente vibrantes e travessos.
— O que foi? — Ela perguntou indiferentemente quando chegou embaixo.
— Vamos nos sentar na sala de estar. — Disse, segurando o cotovelo dela com delicadeza.
— Zoe está bem? — Perguntou ansiosamente.
— Ela está bem, querida. Ou pelo menos está indo tão bem quanto se pode esperar. A
mamãe irá trazê-la em breve.
Ela lhe lançou um olhar confuso. — Sobe o que você quer falar?
— Sente-se. — Disse, apontando para o sofá e tomando o espaço ao lado dela.
— Eu te devo um pedido de desculpas, querida. Eu, nós, estávamos fora de linha, e não
tínhamos direito de dizer as coisas que dissemos a você.
Ela encolheu os ombros. — Eu merecia. Eu menti para todos vocês.
— Não. — Ele disse enfaticamente. — Você fez a coisa certa. Você foi uma boa amiga e
salvou a vida de Zoe. Inferno, fiquei surpreso com tudo o que conseguiu fazer. Você até me
enganou, e meu ego levou uma surra infernal. Você é um gênio. Nunca suspeitei de qualquer coisa
quando fiz a verificação de antecedentes sobre ela. Você me impressionou, Rusty. Eu sempre
soube que você era brilhante. Só não percebia a extensão de suas habilidades em tecnologia.
Ela olhou para as mãos, não respondendo ao elogio.
— Sinto muito pelo que aconteceu, Rusty. Não vou oferecer desculpas. Nunca deveria ter
acontecido. Você é da família, e não é assim que a família deve ser tratada. Mas oferecer-lhe um
pedido de desculpas não é a única razão pela qual eu vim vê-la, embora seja a principal. Quero lhe
oferecer um emprego.
A cabeça dela levantou e a testa franziu em confusão. — O que?
— Você sabe sobre a fundação que nossas mulheres ajudam da melhor forma que podem,
mas os aspectos técnicos são tratados por mim. Novas identidades, documentos, certidões de
nascimento, basicamente tudo que você fez para Zoe, só que você fez um trabalho muito superior
do que eu alguma vez fiz. Quero que você assuma e gerencie a fundação. As esposas ainda
ajudariam, mas você iria dirigir tudo e assumir os aspectos técnicos. E não pense que isso é uma
oferta de piedade ou um pedido de desculpas. A fundação é meu bebê e eu a levo muito a sério.
Se eu não tivesse certeza de que você poderia fazer o trabalho e fazê-lo bem, não iria pedir-lhe
para assumir.
O sorriso dela era triste e não alcançou seus olhos. — Atualmente, tive outras ofertas de
emprego. Estava aproveitando para passar o verão aqui em casa para decidir qual oportunidade
quero prosseguir. Eu reduzi para dois e planejei tomar minha decisão em breve.
Seu tom e expressão fizeram com que Donovan hesitasse em acreditar, mas nunca a
questionaria. Ela já tinha recebido muito desrespeito de sua família.
— Tem certeza de que não posso persuadi-la a voltar-se para o lado negro? — Ele brincou.
— Não só você teria um salário muito generoso, mas seria menos uma carga para mim. Eve e eu
estamos falando sobre ter um filho, e com a KGI já sendo um trabalho de tempo integral, a
fundação me faria passar ainda mais tempo longe de minha família e, finalmente, um bebê.
156
Maya Banks
KGI 11
— Acho que Eve seria uma grande diretora de operações. — Rusty respondeu. — Ela sabe
como funciona. Ela seria uma grande defensora dessas mulheres, porque passou pelo que elas
passaram. E se não ela, que tal Eden? Ela raramente aceita trabalhos de modelagem.
Donovan ficou frustrado com Rusty, sentada, ao lado dele. Conversando como se fossem
estranhos. Tinha uma sensação de afundamento, mas não conseguia descobrir o que o
incomodava. Talvez ela só precisava de tempo para superar a dor que seus irmãos infligiram
quando as emoções estavam tão voláteis após o desaparecimento de Zoe. E ele não sabia o que
fazer e odiava esse tipo de sentimento de desamparo de não saber reparar os danos causados.
Ela obviamente não dissera nada a Mamãe ou Pop, ou ambos teriam arrancado o couro de
todos os filhos. Mas então Rusty não era maliciosa. Ela foi muito mal interpretada todos aqueles
anos atrás, quando entrou pela primeira vez em suas vidas, mas tinha o maior coração que ele
conhecia.
Sabendo que não tiraria mais nada dela, forçou um sorriso e estendeu a mão para afogar seu
cabelo afetuosamente. — Ok, bem, se mudar de ideia, sabe onde me encontrar. Ou se estiver
procurando um salário maior, podemos chegar a um acordo mutuamente satisfatório.
Ela sorriu fracamente e por um momento ele pode jurar que seus olhos brilharam com
umidade, mas foi tão rápido que ele deve ter imaginado.
— Obrigada, Van. Se as outras possibilidades não funcionarem, você será a primeira pessoa
que eu chamarei.
Além disso, ele teve a sensação de que ela não estava dizendo remotamente a verdade, mas
sim dizendo o necessário para fazê-lo recuar.
Impulsivamente, ele se levantou e puxou-a para seus pés e apertou-a em um grande abraço.
— Te amo, garota. Espero que você sempre se lembre disso. — Ela o abraçou tão
ferozmente por um momento e depois cuidadosamente desembaraçou-se de seu abraço. Podia
jurar que viu um pouco de alívio em suas feições quando ouviu o som de um carro estacionando lá
fora.
— Deve ser Zoe. — Ela disse. — É melhor ir ajudá-la a se instalar.
Assim, ele foi sumariamente dispensado. Ao vê-la se apressar para a porta, algo dentro dele
se retorceu um pouco mais apertado e ele franziu o cenho, preocupado com o que seus instintos
estavam tentando lhe dizer.
Capítulo Vinte e Oito
Zoe afundou na cadeira de leitura de estofado macio no quarto que dividia com Rusty, o que
proporcionou uma vista privilegiada do lago que se espalhava ao longo do horizonte. Envolveu a
velha colcha ao redor dela mais firmemente, aquela que Marlene lhe deu, afirmando que havia
pertencido a mãe dela.
Zoe se opôs ao presente, afirmando que não tinha direito a uma herança de família. Marlene
a abraçou e esclareceu apenas que ela era da família.
157
Maya Banks
KGI 11
Uma semana inteira havia se passado desde o dia em que escapou da morte certa nas mãos
de um homem que nunca soube exatamente o propósito, além de arrancar o poder de seu pai. Foi
risível que ele acreditou mesmo por um minuto, que seu pai sacrificaria qualquer coisa por ela,
quando esse conhecimento foi o que fez acabar com a farsa do relacionamento de ambos, o que
parecia ter acontecido uma vida atrás.
De muitas maneiras, isso aconteceu a uma vida atrás. Ou pelo menos outra vida. Uma que
ela percebeu que nunca realmente viveu, mas simplesmente sobreviveu. Não sabia o que era
viver, rir e amar até Rusty, Joe e sua família. Especialmente Joe.
Fechou os olhos contra a súbita onda de emoção, determinada a não ser fraca. A não
quebrar. De alguma forma, teria que aprender a sobreviver mais uma vez depois de duas décadas
sobrevivendo.
A casa esteve estranhamente silenciosa desde o seu regresso. Marlene e Frank foram
extremamente respeitosos de sua privacidade e seus cuidados. Zoe e Rusty ainda dividiam um
quarto e elas conversaram, mas Rusty estava distante e ferida, a devastação dela tão evidente
quanto a de Zoe.
Por mais que sua própria dor fosse profunda, não estava cega a Rusty, e todas as manhãs,
temia que iria acordar e saber que Rusty havia ido embora.
Era como se a comunidade inteira e a pequena rede do condado adjacente a Tennessee,
Kentucky Lake, estivesse segurando a respiração com receio. Zoe propositadamente buscou
refúgio no quarto dela, raramente saindo e apenas o fazendo quando Marlene falava tão
insistente que a culpa pesava sobre ela.
Ela se sentia... Suja. Como se sua presença em uma família como os Kelly fosse ofensiva e ela
manchasse o nome deles pela associação. Intelectualmente sabia como esse pensamento era tolo.
Sabia que os pecados do pai não eram dela. E ainda assim simplesmente não conseguia ir além do
fato de que representava cada coisa que os Kelly arriscavam suas vidas diariamente para derrotar.
Como poderia esperar manter sua cabeça erguida em uma família cuja única ambição era tornar o
mundo um lugar melhor? Quando a família dela foi uma das muitas a profaná-lo?
Era de admirar que sua mãe a deixou sem nunca olhar para trás? Tentou sentir simpatia por
uma mulher sobre a qual mantinha tão escassas memórias, mas não conseguia considerar uma
única circunstância em que voluntariamente deixaria sua filha, especialmente no cuidado de
alguém cujo nível de sucesso era medido pela forma como era intimidante e temido.
A raiva brotou no peito de Zoe, como um caldeirão borbulhante. Não só pela mãe, de quem
se ressentia desde que teve idade suficiente para entender que foi abandonada, mas pelo pai, que
podia ter, que deveria ter feito escolhas diferentes. Alguém que nunca deveria ter tido um filho se
não estava disposto a sacrificar tudo por ele.
Adoecia sua alma, que carregava essa linhagem e legado. Isso foi o que a contaminou.
Saltando de um conjunto de genes de não uma, mas duas pessoas irresponsáveis ensimesmadas
que não tinham o direito de procriar.
Genética não influencia a tomada de decisão. Somente as pessoas fazem as decisões
acontecerem.
158
Maya Banks
KGI 11
As palavras de um de seus professores de faculdade se agitaram em sua mente. Ela nunca

realmente deu-lhes muita atenção até agora. Era muito bom dizer que podia e faria escolhas
diferentes das de seus pais, mas e seus filhos? Eles seriam influenciados e moldados pela natureza
ou pela criação?
Zoe fez uma careta. Se não valesse nada como argumento científico, então, ela mesma seria
uma criminosa completa.
Olhou melancolicamente a distância, observando enquanto o sol mergulhava mais baixo,
deslizando aparentemente diretamente no lago. Estava tão perdida em seus pensamentos que
não ouviu Rusty entrar. Não percebeu que ela estava no quarto até que se sentou calmamente na
beira da cama, o movimento detectado pela visão periférica de Zoe.
Como Zoe, Rusty estava escondida na casa de Marlene, recusando-se a aventurar-se,
especialmente depois do terceiro dia, quando Sean decidiu que foi paciente o suficiente e
começou a vir até a casa, pedindo para falar com Rusty. Rusty, que nunca se escondeu de
qualquer coisa em sua vida, temia que, se deixasse o complexo, Sean imediatamente a
encurralaria. Zoe se sentia tão mal pelo constrangimento que Rusty havia sofrido, e estava furiosa
pela maneira como Sean lidou com toda a situação. Ele era, obviamente, um burro que não
merecia Rusty.
Virou-se e ofereceu um sorriso hesitante, sem sequer se preocupar com uma tentativa de
simular. Ainda doía muito mover os lábios o suficiente para um sorriso convincente. Hoje foi o
primeiro dia em que foi capaz de tolerar mastigar alimentos sólidos depois de seis dias de caldos e
sopas, aumentando eventualmente até pratos com massas, frango e bolinhos de massa. Estivera
convencida que a mandíbula foi quebrada, mas Maren confirmou através de raios-X que estava
apenas gravemente ferida e nenhuma fratura era evidente.
— Ei, — Zoe disse suavemente, quando Rusty não falou.
Por um longo momento, Rusty não respondeu. Simplesmente olhou para Zoe, os olhos
suspeitosamente brilhantes. O estômago de Zoe deu uma guinada e depois apertou. — Não, —
Zoe murmurou, sacudindo a cabeça.
Rusty fez uma tentativa de sorriso lacrimoso, que resultou em uma careta. Então cambaleou
para fora da cama e se inclinou para baixo, envolvendo Zoe em um abraço apertado. Lágrimas
correram pelo rosto de Zoe descaradamente enquanto se agarrou a Rusty tão firmemente quanto
pode.
— Não vá, — Zoe pediu. — Ou pelo menos não vá sozinha. Vou com você.
Rusty se desvencilhou dos braços dela e deslizou para a grande cadeira, as pernas separadas,
então encarou Zoe. Lágrimas escorriam pelo rosto de Rusty, enquanto as duas se encararam em
silêncio. Finalmente, Rusty quebrou o silêncio. — Preciso ir, — ofegou. — Não posso ficar aqui
agora. Talvez com o tempo. Mas agora isso dói demais. Preciso seguir em frente com minha vida.
Provar algo para mim mesma, se ninguém mais.
Zoe agarrou a mão dela, apertando enquanto lutava para respirar em torno do enorme nó se
formando em sua garganta.
— Para onde você vai? — Perguntou.
159
Maya Banks
KGI 11
Rusty deu de ombros. — Agora? Longe. Onde quer que a estrada me leve. Quem sabe?
Talvez eu me encontre fora daqui. — Tocou o cabelo de Zoe, acariciando uma longa mecha e, em
seguida, colocando-a atrás da orelha. — Dê uma chance a Joe, Zoe. Sei que você está com medo.
Sei que acha que não é boa o suficiente, mas isso é tão fodido que nem sei por onde começar.
Prometa que vai permitir-se ser feliz pelo menos uma vez. Você merece muito.
— E você não? — Zoe desafiou, levantando o queixo teimosamente.
Os olhos de Rusty ficaram sombrios. — É por isso que estou indo. Porque nunca vou
encontrar o que estou procurando aqui, e não quero passar o resto da minha vida olhando para o
que preciso, mas nunca poderia ter.
Zoe encostou a testa até tocar a de Rusty , lágrimas correndo silenciosamente pelo rosto de
ambas. — Nunca poderei pagar tudo o que você fez por mim, — sussurrou.
A mão de Rusty apertou, revertendo o aperto de Zoe na mão dela então agora ela segurava
Zoe. — Você pode me pagar sendo feliz e fazendo meu irmão feliz.
Então Zoe engoliu em seco, o nariz e a garganta doloridos do peso de tanta dor e lágrimas.
— Eu te amo, Rusty. Você sempre será minha irmã de coração, não importa onde a vida nos
leve.
Rusty sorriu enquanto as lágrimas salpicaram o joelho de Zoe e ela fechou os olhos, a testa
ainda tocando a de Zoe.
— E você é a irmã que eu sempre quis, mas nunca tive. Desejei irmãos com todo o meu
coração, e esse desejo foi concedido. Então percebi o quanto eu sentia falta de ter uma irmã.
Agora não sinto falta de nada, — disse suavemente.
— Você vai ligar? — Zoe perguntou com voz estrangulada. — Vai manter contato?
— Você sabe que sim, — disse. Então puxou Zoe para um abraço, os braços em volta do
pescoço dela com firmeza. — seja feliz, Zoe. Não faça isso por mim ou qualquer outra pessoa. Faça
por você. Seja apenas quem você quer ser, não o que os outros dizem ou pensam. Nunca deixe
ninguém fazer você acreditar em nada diferente. Essa é uma lição que aprendi da maneira mais
difícil, mas que nunca vou esquecer.
Zoe mordeu o lábio enquanto Rusty se afastou e, em seguida, se levantou da cadeira. As
duas mulheres se encararam por um longo momento antes de finalmente Rusty sorrir. — Vou te
ligar em breve. Prometo.
Zoe puxou a colcha apertada em torno dela, precisando se agarrar a algo para que não
segurasse Rusty enquanto ela tentava sair. Rusty foi a primeira e única amiga que teve, a primeira
pessoa que confiava e que confiou nela, e de nenhuma maneira iria traí-la agora, se ela sentia que
ir embora era o que precisava fazer.
Assim que a porta se fechou suavemente com Rusty atrás dela, Zoe enterrou o rosto na
colcha para que os soluços não fossem ouvidos.
*****
Rusty saiu sorrateiramente pela porta dos fundos e para baixo no caminho sombreando a
beirada rochosa da encosta com vista para o lago. Era o seu local favorito quando queria ficar
160
Maya Banks
KGI 11
sozinha, porque ninguém nunca o descobriu, apenas ela. Um bosque oferecia uma barreira entre
as pedras grandes e lisas que se projetavam para fora e parte de trás da casa de Frank e Marlene,
então não precisava se preocupar em ser detectada. Entrou na fenda oca formada por duas pedras
enormes que estavam ancoradas na beirada do penhasco, um lugar incrível para se sentar, relaxar
e observar o sol se por e refletir.
Deixou escapar um suspiro. Toda a reflexão foi feita e as decisões foram tomadas. Então, por
que doía pra caramba, e por que se sentia como se estivesse sangrando até a morte por dentro?
Lágrimas obscureciam sua visão e limpou as bochechas desafiadoramente com as costas da mão.
O celular tocou, e olhou para baixo, preparada para ignorar a chamada, mas hesitou quando
viu o nome de Joe aparecer. Puxando uma respiração firme, pegou o telefone e apertou o botão
para aceitar. — Como você está? — Perguntou calmamente sem preâmbulo, assumindo o
comando da conversa antes dele começar a fazer perguntas sobre ela ou o que estava fazendo.
— Miserável. Estou prestes a perder a maldita cabeça. Você tem que me ajudar Rusty. Que
diabos posso fazer? Como posso falar com ela, se ela não sai do quarto, muito menos da casa?
A mágoa na voz dele era espessa e a voz de Rusty combinava com a dor na dele. — Posso
fazer melhor, — ela disse, depois de uma breve batalha para forçar a soar normal. —Se ela não vai
sair do quarto, então, sugiro que você use o plano B e encontre-a no território dela.
Houve uma longa pausa. Houve um nó na voz dele e ela não conseguia dizer se era
excitação, descrença, medo ou dúvida.
— Você está entregando-a para mim? — Perguntou em dúvida.
— Você está fazendo-a parecer um brinquedo, — Rusty disse secamente. — E não estou
traindo-a por querer que ela seja feliz uma porra de uma vez. Quero que ela seja feliz mais do que
qualquer coisa no mundo, — acrescentou em um sussurro triste.
— Ei, você está bem? — Ele perguntou bruscamente. — Onde você está mesmo? Acabei de
falar com Mamãe, e ela disse que não sabia onde você estava, mas você não saiu de casa a
semana inteira também.
— Estou por aí. Mas se você for para a fase B, então preciso estar em outro lugar amanhã à
noite. — ela falou, esperando difundir a preocupação dele.
— Você está sugerindo seriamente que devo invadir a casa dos meus próprios pais? —
Perguntou cético.
Rusty revirou os olhos. — Dã? Vamos ver, tenho uma grande janela, uma árvore de bom
tamanho que acontece de estar plantada embaixo da grande janela, mas se você tiver problemas
em escalar árvores, sempre existe uma escada. A janela estará destrancada. Você é bem-vindo,
por sinal.
— Espertinha. — ele disse sem nenhum calor. Então seu tom ficou sério. -Espero que você
saiba que nunca fiquei com raiva de você, Rusty. Sou grato que Zoe teve você e ainda mais grato
por tudo o que fez para protegê-la. Eu te amo, e será melhor você usar um vestido para o meu
casamento.
Rusty sorriu através de um rio de lágrimas e então teve que virar o telefone para baixo, de
modo que o receptor não pegasse o som de seu choro. Respirou profundamente e tentou como o
inferno ficar tranquila e manter a mente de Joe ocupada com o que deveria: Zoe. E fazê-la feliz.
161
Maya Banks
KGI 11
— Se você levá-la a casar com você, vou até usar saltos altos. — Disse levemente.
— Vou me lembrar disso. — disse alegremente. — E obrigada, Rusty. Te amo, menina.
Ela se recostou, descansando a cabeça contra a rocha, com foco na superfície cintilante da
água enquanto as linhas duras esculpidas com lágrimas desciam dos lados de seu rosto.
— Amo você também, — ofegou. — Preciso ir. Seja feliz, Joe.
Capítulo Vinte e Nove
Marlene acordou em seu horário habitual para tomar banho antes de Frank e assim deixá-lo
usar o banheiro enquanto preparava o café da manhã. Suspirou quando percorreu o caminho para
a cozinha. A casa toda gemia sob o peso de tanta dor e tristeza. Suas meninas estavam sofrendo, e
partia o coração de Marlene por não poder consertar as coisas e fazer tudo ficar bem.
Caminhou pelo balcão para abrir a geladeira quando viu um envelope com seu nome.
Franzindo a testa, refez seus passos e pegou-o, sentindo que era bastante fino. Estudou a escrita
observando que era terrivelmente semelhante a de Rusty. Mas por que Rusty deixaria um
envelope para ela?
Com as mãos trêmulas, rasgou o lacre e tirou uma única folha de papel dobrada. Enquanto
leu as primeiras linhas, sua visão turvou de lágrimas e caiu fortemente sentada em um dos bancos.
Querida Mãe,
Tenho muito a agradecer, por isso seria necessário uma resma inteira de papel e um dia
inteiro para listar tudo, então vou agradecer pela única coisa mais importante que você e papai me
deram. Amor. Eu nunca soube o que era amor, como era ser amada, e nunca amei ninguém até
você me deixar entrar em suas vidas. Você deu a uma jovem e vulnerável, adolescente algo mais
valioso do que todo o dinheiro do mundo. Você me deu um senso de valor. De autoestima. O
conhecimento que poderia ter e merecia melhor. Você acreditou em mim quando ninguém mais
acreditou. Nunca vou esquecer isso. Você salvou minha vida. Espero que saiba disso. Eu não seria
quem sou e o que sou hoje se não fosse por você.
Só queria dizer o quanto lamento que menti para você e papai e enganei a família e trouxe
perigo para todos vocês. Eu não faria mal a qualquer um de vocês por nada nesse mundo. Vocês
são o meu mundo. Preciso ir embora por um tempo. Preciso descobrir o meu lugar no mundo, o
que quero da vida, que tipo de vida quero ter. Tenho uma graduação e oportunidades de emprego,
e é hora de tirar vantagem delas. Por favor, não se preocupe comigo. Vou ficar em contato e ligar o
mais rápido que puder. E por favor, não fique com raiva sobre minha decisão ou que eu não disse
adeus. Foi duro o suficiente escrever esta carta. Eu nunca teria sido confiável para lhe dizer tudo
isso pessoalmente.
Eu sou jovem, e, como resultado, fiz algo tolo, e agora tenho que sofrer as consequências,
mas é hora de fechar também esse capítulo da minha vida e seguir em frente e tentar esquecer. Sei
162
Maya Banks
KGI 11
que não tenho o direito de pedir qualquer coisa a você, mas gostaria de pedir que não deixe que os
outros saibam onde estou ou o que estou fazendo. Só sei que vou ficar bem. Você e papai me
ensinaram como ser o tipo de pessoa de quem eu poderia me orgulhar e disso vocês realmente
podem sentir orgulho.
Vou entrar em contato assim que puder. Diga ao papai que nunca poderia ter pedido um pai
melhor. O segundo maior presente que vocês dois me deram foi o nome Kelly, e vou fazer o melhor
para tornar esse nome motivo de orgulho.
Amo vocês,
Rusty
Marlene apertou o papel no peito enquanto soluços brotaram em sua garganta. Em seguida,
inclinou-se, cruzando os braços sobre o balcão, e enterrou o rosto contra eles enquanto a dor a
oprimia.
*****
Sean estacionou seu veículo pessoal no complexo, as mãos apertadas firmemente em torno
do volante. Podia sentir o suor se formando na nuca e escorrendo pelas costas. Jesus, estava tão
nervoso e agitado como um novato participando da primeira grande batida. Não ficara tão
inquieto nem quando era novato e levou um tiro em seu primeiro ano como substituto.
Isso era o que ela fazia com ele, apesar de tudo. Ela o deixava tão torcido em nós que nunca
sabia se ele estava indo ou vindo, e, como resultado, tudo o que saía de sua boca saía
terrivelmente errado.
Quando parou em frente à casa de Frank e Marlene, fechou brevemente os olhos, remorso o
consumindo. Ele a feriu. Fez mais do que machucá-la. Ele a devastou. A rasgou em pedaços, disse
merdas que nunca deveria ter mencionado, tudo por causa do pensamento do que poderia ter
acontecido com ela, que ele não teria como protegê-la porque não fazia ideia do que ela havia
feito.
Bem, finalmente sabia exatamente o que queria dizer, droga. Aparentemente isso
finalmente funcionou e ela não havia colocado a cabeça para fora de sua maldita casa em uma
semana. Ele se recusava a esperar um minuto a mais. Recusava-se a permitir que ela pensasse o
pior por mais um minuto. Ele a faria ouvi-lo, e desta vez, colocaria a porra da boca e da língua para
trabalhar em uníssono para que pudesse dizer tudo o que queria.
Marchou para subir os degraus e tocou a campainha, enquanto o estômago apertava em
pavor. Ele a tratou terrivelmente. Ela provavelmente o odiava agora. E se não o ouvisse? Não, ele
não aceitaria não como resposta. Se isso significasse algemar o pequeno diabinho e arrastá-la para
fora da casa por cima do ombro e sobre ele, onde poderia prendê-la a um das suas cadeiras, ele a
faria ouvir.
163
Maya Banks
KGI 11
A porta abriu e Marlene ficou ali, linhas profundas de tristeza no rosto, as bochechas
avermelhadas, nariz e olhos inchados. Que porra é essa? Seu estômago afundou, enquanto a
preocupação pela mulher que considerava sua mãe adotiva o empurrou para frente.
— Marlene, está tudo bem? — Perguntou abruptamente.
Ela apertou os lábios, mas não respondeu. Em vez disso, calmamente perguntou, — O que
posso fazer por você, Sean?
Marlene não era tão... Reservada assim... Mas talvez fosse uma questão pessoal e ele não
devesse se intrometer. Além disso, perguntaria a Rusty depois que falasse tudo o que estava em
seu peito.
— Gostaria de falar com Rusty, — disse em um tom sombrio. — Não vou aceitar não como
resposta. Ela pode descer ou posso subir, mas de qualquer forma, ela vai falar comigo.
Marlene enxugou os olhos apressadamente. — Ela se foi, — disse, entre lágrimas.
Sean se encolheu, sentindo como se tivesse sofrido um golpe vicioso. Por vários longos
segundos não conseguiu respirar. — O que quer dizer, ela se foi? — Perguntou com voz rouca.
— Ela estava tão chateada e sentia que tinha decepcionado todo mundo, — disse Marlene,
em voz aflita. Donovan pediu desculpas e até ofereceu um emprego para que ela dirigisse a
fundação. Ela o impressionou muito com tudo o que conseguiu fazer quando criou um disfarce tão
elaborado e infalível para Zoe, mas ela disse que tinha outras ofertas de emprego e que estava em
casa apenas para passar o verão antes de decidir qual trabalho escolher.
Tirou um lenço do bolso da saia e enxugou os olhos e nariz. — Ela se culpa pelo que
aconteceu, e estava tão magoada pelo modo como os irmãos reagiram. Acredito que ela se sente
como se tivesse falhado com eles, conosco, e agora precisa de tempo para se recuperar e provar
que é digna. Deus, Sean, de quê? De quem? Ela é muito amada, e eu não poderia estar mais
orgulhosa se ela fosse do meu próprio sangue.
Sean colocou a mão na nuca, doente na própria alma. Ele era a razão de Rusty ter ido, não a
família dela. Foi ele quem a rasgou em pedaços, rejeitou e humilhou. Não a família dela. E estava
também extremamente irritado e assustado naquele momento sobre o que poderia ter
acontecido com ela para fazê-la entender por que havia ficado tão furioso.
Oh Deus, ela nunca o perdoaria. Como poderia quando nem ele mesmo seria capaz de se
perdoar? — Quando ela vai estar em casa? — Perguntou.
Marlene deu-lhe um olhar tão triste que rasgou seu coração. — Acho que ela não vai voltar
agora, — sussurrou.
Ela cobriu a boca com a mão e olhou rapidamente para longe antes de dirigir seu olhar para
Sean. — Sinto muito. Preciso ir agora. Zoe está tão chateada e ela precisa de mim. Já falhei com
Rusty. Não vou falhar com Zoe agora.
Ela fechou a porta silenciosamente, deixando Sean ali de pé, totalmente doente no coração.
Meu Deus, o que havia feito?
Fechou os olhos contra a picada repentina nas pálpebras, lembrando-se de voltar para casa e
encontrá-la nua. Em sua cama. Assim como sempre sonhou. Fantasiou. Quanta coragem foi
preciso para levá-la a abrir seu coração, quando por tanto tempo estivera convencida de que ele a
odiava e não lhe deu nenhuma razão para acreditar no contrário? Maldito covarde.
164
Maya Banks
KGI 11
Não foi sequer capaz de raciocinar o suficiente para simplesmente dizer a ela, admitir tudo o
que estava em seu coração. Ela sempre o assustou. Sempre. Como alguém poderia esperar segurá-
la? Prendê-la quando ela era um espírito livre, maior que a vida, com mais coragem e coração do
que qualquer um que já conheceu?
E agora ela estava fora de alcance. Tão evasivo como tentar pegar uma estrela cadente. E se
ela não voltasse?
Sua mandíbula ficou dura e foi tomado por uma determinação rígida. Recusou-se a desistir.
Não quando ela fizera tanto para chegar até ele. Ela merecia muito mais do que algum dia poderia
dar a ela, mas seria maldito se a deixasse ir novamente.
Ele lhe daria tempo, mas não iria esperar. Não mais. Só lhe daria algum tempo antes de
arrastá-la de volta, chutando e gritando se fosse necessário.
Capítulo Trinta
Joe estava na sombra da árvore contra a luz da lua e olhou para a janela do quarto onde Zoe
estava dormindo. Os dedos dele se enrolaram e desenrolaram enquanto o nervosismo o assaltou.
Dor era um cobertor pesado sobre a família Kelly. Eles perderam Rusty. A possibilidade de que
poderia perder Zoe era insuportável também.
Com Rusty indo agora, era muito possível que Zoe já não se sentisse confortável em
permanecer na casa dos pais. Ela já se culpava pelo que foi feito para ela e considerava-se um
fardo. Deus, um fardo!
Ela era o presente mais precioso que já poderia ter esperado receber. Um fardo? De maneira
nenhuma, e não a deixaria pensando esta besteira um segundo a mais.
Nunca nada foi tão importante na sua vida. Nada seria. Esta era sua vida, ou melhor, seu
futuro. Passou a mão sobre a boca de repente seca e engoliu o medo paralisante de perdê-la. De
não passar o resto da vida com ela. De ela não corresponder ao seu amor. De não querê-lo tão
desesperadamente quanto ele a queria.
Tentou respirar calmamente e, em seguida, olhou para a janela com uma nova intenção. —
Estou aqui, Zoe, — murmurou. — Acho que vou ter que ser o príncipe para sua Rapunzel.
Rapidamente escalou o tronco inferior até que foi capaz de obter uma posição em galhos
fortes o suficiente para suportar seu peso. Ganhando velocidade, foi subindo até alcançar a
distância da janela.
Não querendo assustá-la até a morte, lenta e silenciosamente deslizou a janela para cima,
segurando a respiração com medo de um rangido súbito ou gemido, mas a noite permaneceu
envolta em silêncio.
Abaixou-se e entrou, o olhar imediatamente a procurou. Imobilizou-se quando a viu deitada
na cama virada de lado para a janela, a pequena mão aninhada sob a bochecha e o travesseiro.
Engoliu a cólera enquanto notou os hematomas desvanecendo, ainda evidentes, quando eram
iluminados apenas pela luz da lua.
165
Maya Banks
KGI 11
Querendo - precisando - tocá-la, estar apenas perto dela, cruzou a distância e deslizou sobre
a cama com as costas descansando contra a cabeceira, o quadril apenas alguns centímetros do
rosto dela. Levou os dedos para deslizar através das mechas de cabelo que descansava sobre a
testa e bochecha exposta, e seguindo a mão a boca desceu, pressionando os lábios em sua
têmpora.
Ela mexeu-se debaixo dele e abriu os olhos, enquanto ele se afastou e ligou a lâmpada para
que ela soubesse quem era. Seus olhos se arregalaram em reconhecimento e então em pânico.
— Você me mata quando olha para mim com esse medo. — Joe falou, não mais confiável
para conter a onda de emoção reprimida. Tanta emoção. — Você não sabe o quanto te amo? Que
sempre vou te amar? Que faria qualquer coisa no maldito mundo para você? Que te quero para
sempre?
Estava implorando por ela, para todos os efeitos práticos sobre suas mãos e joelhos
implorando por seu futuro. O amor dela.
Zoe sentou-se, a umidade brilhando em suas pálpebras, a mão vibrando em um movimento
impotente em direção da garganta como se estivesse incapaz de falar. No momento, ele também
estava. Estava muito ocupado absorvendo a visão dela. Esperando... Orando... Por um milagre. Ela
era seu milagre.
— Como você pode querer alguém como eu para sempre? — Perguntou com uma voz rouca
cheia de vergonha.
O olhar dela nem mesmo encontrava o dele. Estava olhando em todos os lugares, exceto
para seu rosto. Ele estendeu a mão e segurou seu queixo, inclinando-o suavemente para cima até
que ela estava finalmente olhando para ele. — Você quer dizer alguém tão bonita, compassiva,
corajosa, doce, amorosa e leal como você. — disse com a voz suave.
Ela fechou os olhos enquanto as lágrimas escorriam, colidindo com os dedos dele enquanto
ele as secava. — Você sabe quem é meu pai, — ela ofegou. — minha própria mãe o deixou - me
deixou - antes que eu fosse sequer capaz de me lembrar muito dela. É esse o tipo de pessoa que
você quer? Alguém que é a antítese de cada coisa que você acredita e luta?
Joe se inclinou para baixo, ainda segurando o rosto dela na palma da mão, e a silenciou com
um beijo. Infundindo a riqueza do seu amor por ela, segurando-a com o mais terno dos toques,
como se ela fosse a pessoa mais preciosa do mundo. No mundo dele, ela era. Absolutamente.
Nunca teve tanta certeza de algo na vida.
— Você está se referindo ao tipo de pessoa que sou e o tipo de pessoa que você é, — disse
suavemente. — Deixe-me perguntar uma coisa, baby. O que você acha da esposa de Sam, Sophie?
A testa de Zoe franziu em óbvia confusão. — Ela é maravilhosa, tão agradável e bonita. Por
que você faria tal pergunta?
— E a esposa de Garrett, Sarah?
— Joe, por que você está me perguntando se gosto de suas cunhadas? Elas são boas. São
tudo o que não sou.
— E Eve, esposa de Donovan? — Ele persistiu.
Ela balançou a cabeça em confusão. Incapaz de se conter mais um segundo, ele puxou-a nos
braços, sentindo a rápida batida do coração dela contra o dele.
166
Maya Banks
KGI 11
— Acho que existem algumas coisas que você precisa saber sobre algumas das esposas dos
meus irmãos. Então, talvez, finalmente vai conseguir ver o que estou tentando fazê-la entender.
Ela franziu a testa novamente, enquanto esperava pelo que ele estava para dizer.
— O pai de Sophie, quando ainda estava vivo, era o segundo ou terceiro - esqueci
exatamente onde ele estava classificado - homem mais procurado pela CIA. — Ele observou
enquanto ela processava as informações, os olhos arregalados de surpresa. — E Sarah, o meio-
irmão dela era alguém que os Estados Unidos também queria muito derrubar, e ele atirou em
Garrett quando Garrett ainda estava na Marinha. Na verdade, Garrett e Sarah se conheceram
porque Garrett a estava usando para chegar ao irmão dela e trazê-lo para a justiça. E então tem o
pai de Eve. Ele era um pedófilo abusivo, um monstro completo que assassinou a mãe de Eve e foi
fazendo fodidas propostas assustadoras para a meia-irmã de Eve, que na época estava apenas
com quatro anos de idade. E só para constar, os pais biológicos de Rusty valem nada, e sei que
você não acha que ela está contaminada ou é indigna. E você a ama tanto quanto ela te ama.
Zoe olhou para ele em absoluto espanto, os olhos expressivos piscando uma luta rápida de
esperança contra a derrota. Era a mesma guerra que ele estava travando desde o dia em que ela
foi tirada dele.
— Mas o melhor de tudo, é que eu te amo, — disse Joe, enfatizando cada palavra. — quero
estar para sempre com você e ninguém mais. Não dou a mínima para quem e o que sua mãe e pai
foram. Você é quem me interessa. Você é quem amo, e nunca vou amar ninguém mais. É com
você que quero casar e ter filhos.
Emoldurou o belo rosto com as palmas das mãos enquanto olhava nos olhos dela. — Me
ame também, — sussurrou. — dê uma chance para nós. Nunca irei te decepcionar Zoe. Vou passar
o resto da minha vida amando você, se você me deixar.
Ela estendeu a mão e fechou os dedos em torno dos pulsos dele e segurou enquanto
abaixou a cabeça em suas mãos. Ele sentiu a umidade das lágrimas dela contra o polegar e
abaixou-se para que pudesse encontrar seu olhar mais uma vez.
— Ei, o que é isso? — Perguntou suavemente.
— Também te amo. — ela disse em um soluço. —Te amo tanto. Quero-o para sempre
também. Quero isso mais do que tudo. Estou tão cansada de sonhar, Joe. Apenas uma vez quero
algo real que seja meu. Você.
Doce alívio percorreu-o com tanto poder que o enfraqueceu momentaneamente. Fechou os
olhos e então a boca pressionou o topo da cabeça dela.
— Obrigado Deus, — ele sussurrou. — Obrigado Deus.
Ela deslizou as mãos até os braços dele e para os ombros, envolvendo os braços delgados
em torno dele. Ele a pegou e segurou com força, enterrando o rosto em seu cabelo, saboreando e
segurando tudo que era importante para ele nos braços.
— Quero ser melhor do que meus pais foram, — Ela disse, entre lágrimas. — quero que
meus filhos não se sintam apenas amados, mas que saibam que são amados. E quero que o pai
deles seja você.
Ele sorriu, gentilmente puxando os cabelos dela, puxando-a para longe de modo que seus
narizes quase se tocaram.
167
Maya Banks
KGI 11
— É uma maldita coisa boa, querida, porque eu não seria muito tolerante com outro homem
sendo pai de seus filhos.
Ele arrastou um dedo para baixo no hematoma em sua bochecha direita e, em seguida
traçou uma divisão no canto da boca com lábios vermelhos e suaves.
— Como você está se sentindo? — Perguntou calmamente. — Estou tão miserável por tê-la
deixado desprotegida. Isso nunca vai acontecer de novo, baby. Vou começar a construção de
nossa casa dentro do complexo, tão logo você escolha a planta que deseja. E até que seja
concluída, quando eu não estiver por perto, você estará dentro do complexo onde sei que sempre
estará segura.
— Foi minha culpa...
Ele apertou o dedo no lado ileso de sua boca. — Shhh. Não foi sua culpa, e não quero que
diga isso. Nunca. De acordo?
— Apenas se você nunca pedir desculpas para mim novamente, — disse, inclinando o queixo
para cima em desafio.
Ele riu e apertou os lábios nos dela novamente, ansioso para prová-la, para a glória no mero
ato de encontrar a mulher que passaria o resto de sua vida com ele, por ser tão abençoado que ela
correspondesse ao seu amor.
— Apenas se você se casar assim que isso puder ser arranjado, — ele desafiou em um tom
rouco.
Os olhos dela ficaram brilhantes de novo enquanto olhou em silêncio para ele. Em seguida, a
tristeza substituiu a alegria de antes.
— O que foi baby?
— Rusty se foi. — disse, um soluço escapando. — Eu a amo e sinto tanta falta dela. A culpa é
minha. É sim! — Ela insistiu quando ele emitiu um grunhido suave. — Eu a coloquei nesta
confusão e, como resultado, isso danificou o relacionamento dela com sua família, e odeio isso. Ela
é a melhor amiga que já tive e sou a razão que ela não podia ficar.
Joe suspirou e passou os dedos sobre a bochecha dela. — Não, querida. Você não falhou
com ela. Nós falhamos. A família dela. Isso é sobre nós. Nós cruzamos completamente a linha
quando cada um de nós teria feito a mesma maldita coisa.
Ela fez uma careta. — Sean é a principal razão que ela se foi.
Joe olhou para ela em confusão. — Sean? O que diabos ele tem a ver com isso?
Zoe revirou os olhos. — Eu juro, os homens são tão estúpidos. Você é incrivelmente obtuso.
— Não estou entendendo nada baby.
— Não se preocupe, — ela disse em exasperação. — Ela vai ficar bem. Ela é forte e é uma
lutadora.
— Sim, ela é, mas você também é, — disse, beijando-a. Então, assegurou que ela estivesse
olhando diretamente para ele quando ficou sério. — Zoe, você não é culpada ou responsável por
Rusty nos deixar, e ela seria a primeira a dizer-lhe isso. Falei com ela no mesmo dia antes que ela
saísse.
Ele não conseguiu controlar o espasmo de dor que ondulou sobre o rosto e precisou parar
de falar momentaneamente por causa do nó na garganta.
168
Maya Banks
KGI 11
— Você falou? — Zoe perguntou. — Você sabia? Não estou entendendo.

Ele balançou a cabeça, impressionado com o desprendimento da irmã. — Eu não sabia o que
ela iria fazer. Liguei para ela, porque estava desesperado e estava perdido sem você. Precisava
saber como você estava. Qualquer coisa, qualquer informação, qualquer migalha que ela pudesse
me dar. Ela me enganou completamente. Jogou e provocou, então sugeriu que eu entrasse
através da janela do quarto e ela se certificaria de não estar aqui hoje à noite.
Ele olhou para baixo momentaneamente, a dor em sua voz mais pronunciada. — Ela queria
que você - e eu - fôssemos felizes, ela estava desesperadamente infeliz e sabia que estava indo
embora.
— Ela é muito especial, — Disse Zoe.
Ele balançou a cabeça, mas não disse nada enquanto a calmaria desceu em torno deles. Zoe
colocou os braços ao redor dele e a bochecha dela descansava contra seu peito.
— Amo você, — ela disse, a voz suave, levemente dolorida quando finalmente quebrou o
silêncio. — você é tudo o que estava procurando o tempo todo, mas nunca percebi até que pensei
que havia perdido tudo.
Como ela havia acabado de fazer com ele, passou os braços firmemente em torno dela,
ancorando-a ao seu corpo com firmeza, e deu vários beijos em seu cabelo.
— Calma baby. Você nunca vai me perder. Não conseguiria mesmo se tentasse. Receio que
estarei colado em você para o resto da minha vida absorvendo cada migalha de amor e atenção
com os quais você me alimentar.
Ela sorriu contra o peito dele e apertou-o apesar do fato de que ele estava sendo muito
consciente de não segurá-la com muita força depois das lesões e contusões que sofreu.
— Espero que esteja com fome, — disse a ele, inclinando a cabeça para sorrir largamente
em sua direção. — Porque tenho um monte de migalhas para você.
— Diga novamente, — ele sussurrou.
Ela sorriu, sem se fazer de desentendida. E aquilo foi a coisa mais linda que ele já viu na vida.
Seguido pelas mais belas palavras de sua existência.
— Amo você, — ela disse.
Epílogo
Com a construção da casa deles ainda por terminar, além de três membros da festa nupcial
grávidas, Joe e Zoe tomaram a decisão de esperar até que a casa estivesse acabada e mobiliada e
Maren, Grace e Shea tivessem seus bebês para se casar.
Claro que Zoe precisava ter um pouco de diversão torturando Joe quando Rachel anunciou
que estava grávida dois meses antes do casamento fazendo beicinho de forma exagerada e agora
dizendo que precisavam adiar o casamento até que Rachel tivesse o bebê.
169
Maya Banks
KGI 11
Joe não conseguiu ver o humor na situação, citando que, se tivesse de esperar que todas as
mulheres Kelly grávidas tivessem os bebês eles nunca se casariam, porque em uma família como
esta, alguém sempre estava grávida.
E quando Sarah radiantemente anunciou que estava grávida de seu segundo filho apenas
uma semana antes do casamento, Zoe riu e admitiu que Joe tinha razão.
Quando o dia finalmente chegou, Zoe estava fora de si de alegria e emoção. Todo o
contingente de mulheres Kelly acompanhou Zoe a Nashville para escolher o vestido de casamento,
e a viagem de compras se transformou em uma maratona de um fim de semana inteiro enquanto
procuravam O vestido.
Enquanto Zoe cuidadosamente entrou na nuvem de cetim e puxou o vestido para que uma
das outras mulheres pudesse começar a fechar os minúsculos botões de pérolas na parte de trás,
olhou com admiração para seu reflexo no espelho, incapaz de acreditar que aquela mulher que
parecia uma princesa era ela.
— Não ouse chorar, — advertiu Shea. — Sua maquiagem levou uma hora para ser feita, e
mais, se começar a chorar, então vou começar a chorar e todas as outras também vão, o que
significa mais de sete horas de reaplicação de maquiagem.
O riso explodiu e Zoe gargalhou, espalhando os lábios tão amplamente que pensou que
explodiria de felicidade. Seu rosto inteiro brilhava e a leve sombra cintilante em seus olhos
adicionou mais brilho em seu olhar. Ela se sentia como uma princesa de fadas. Como a realeza.
Seu cabelo, que agora estava sem os apliques, mas que estava quase do mesmo comprimento da
época em que os usava, estava enrolado frouxamente no alto da cabeça com cachos ondulados
que flutuavam pelo pescoço.
A tiara que as outras mulheres insistiram que ela usasse brilhava no alto da cabeça, mas o
que mais amava, além do anel de noivado gigantesco que Joe lhe deu, eram os brincos de
diamante que ele a presenteou na noite anterior, depois do ensaio.
Ele se inclinou e sussurrou e seu ouvido, — Toda princesa precisa usar brincos
impressionantes com sua tiara.
Ela conseguiu não explodir em lágrimas. Mas foi por pouco.
Uma leve batida na porta e Zoe olhou para cima, franzindo a testa. Todas que deveriam
estar no quarto nupcial estavam presentes e a presença de homens era proibida, então, quem na
terra estaria batendo?
As outras mulheres praticamente trocaram sorrisos enormes e balançaram com entusiasmo.
Zoe apenas balançou a cabeça, perguntando-se o que no mundo haviam inventado agora.
Mas, quando a porta se abriu, Zoe esqueceu tudo sobre maquiagem, cabelo, tiara, ou se
tudo estava perfeito. Lágrimas amontoaram em seus olhos e então ela correu, quase tropeçando
no longo comboio. Ela cambaleou e depois se atirou nos braços de Rusty.
As duas mulheres se penduraram uma na outra, rindo e chorando ao mesmo tempo.
— Estou contente de ter dito ao maquiador que precisaríamos de um grande retoque antes
da hora de ir, — Disse Sophie secamente.
170
Maya Banks
KGI 11
Mas todas as mulheres estavam com lágrimas nos olhos enquanto cercaram as duas que
estavam abraçadas e então convergiram para elas em um gigante abraço em grupo. Zoe
finalmente se afastou por tempo suficiente para examinar a amiga.
— Você veio, — Disse, entre lágrimas.
Rusty acenou com a mão para o vestido lindo e, em seguida, apontou os saltos.
— Nunca deixaria minha amiga se casar sem estar ao lado dela, — disse Rusty provocando.
— E... Joe me fez prometer que usaria um vestido para o casamento de vocês, e eu disse que
usaria saltos altos se ele conseguisse que você casasse com ele, por isso estou aqui.
Zoe a abraçou novamente. — Estou tão feliz que você está aqui! Este dia não poderia ser
mais perfeito agora. Queria tanto que você viesse. Você será minha dama de honra, é claro.
Rusty a abraçou de volta. — Você não acha que me arrumei desse jeito por que gosto né?
— Você está linda. — Zoe disse a verdade enquanto examinou Rusty de perto.
Foram oito meses desde que Rusty se foi, e ela parecia... Diferente. Ela sempre foi bonita,
mas agora estava linda. O cabelo estava mais longo e caía em ondas de cachos macios pelas
costas. Ela ganhou um pouco de peso, as curvas mais pronunciadas. Uma queixa consistente que
Rusty expressou era que não possuía quadris, bumbum ou seios, mas evidentemente ela
desabrochou muito tarde, porque sua figura estava absolutamente exuberante agora.
Rusty corou, e para alguém que não a conhecia bem pareceria que ela estava feliz, contente,
em um bom lugar. Mas a tristeza estava profundamente gravada em seus olhos. Estava mais
silenciosa e mais resignada, uma contradição direta da irreverente menina sarcástica que estava
sempre provocando e que de alguma forma desapareceu durante sua ausência.
Zoe apertou a mão dela, tentando o melhor para não fazer mais danos à maquiagem ao
chorar novamente. — Todos sabem que você está aqui? Oh meu Deus, eles vão ficar tão felizes em
vê-la, Rusty!
Rusty desviou o olhar, os olhos piscando com culpa. — A mamãe sabe. — disse calmamente.
— E o papai. E, claro, todas as mulheres, — disse, sorrindo na direção delas. — mas as fiz jurar
sigilo e ameacei não vir se elas dissessem a alguém.
Ela ficou séria quando voltou a olhar no rosto de todas as mulheres reunidas. — Sinto muito
por colocar todas vocês nessa posição, mas eu simplesmente não podia... — Ela se interrompeu,
ruborizando de vergonha.
Rachel, que talvez fosse a mulher mais doce, mais empática no grupo, colocou o braço sobre
os ombros de Rusty e apertou. — Não se desculpe Rusty. Vamos enfrentar isso. Os homens são
idiotas. Assumindo que alguns deles são mais idiotas do que outros, mas todos são como uma
névoa densa.
Risos ecoaram, quebrando o constrangimento. Mesmo Rusty sorriu e deu a Rachel um olhar
agradecido.
— Tem outra coisa antes de começar com isso, — Rusty encerrou. — Preciso pedir um favor
a todas vocês.
— Diga, — Zoe disse sem hesitação.
— Vou ficar para fotos logo após a cerimônia, mas, em seguida, preciso sair o mais breve
possível e tão rapidamente que preciso que todas vocês me ajudem.
171
Maya Banks
KGI 11
Não era necessário dizer, mas todas compreendiam que essa reserva era por causa de Sean.
Como ele não era um dos padrinhos, não estaria na igreja quando as fotos estivessem sendo
feitas, o que concedia a Rusty a oportunidade de evitá-lo, logo que a sessão de fotos terminasse.
— Deixe Sean comigo, — disse Rachel presunçosamente. — somos muito próximos e tudo o
que vou fazer é fingir me sentir um pouco mal por causa da gravidez e terei a total atenção dele.
Você pode sair enquanto tento não vomitar em cima dele.
A imagem era tão hilariante que todas começaram a rir de novo, muitas lágrimas enxugadas
dos olhos delas, provocando gemidos enquanto perceberam que o maquiador estaria muito
ocupado se a cerimônia começasse na hora.
— Venha sentar-se comigo enquanto retocam minha maquiagem, — Zoe incentivou. —
Quero saber tudo o que se passou durante os últimos oito meses.
Rusty revirou os olhos. — Acredite em mim, é aborrecido.
Zoe bufou. —Como se você pudesse ser aborrecida.
*****
Sean sentou-se no banco e se mexeu desconfortavelmente enquanto afrouxava a gravata.

Olhou para o relógio, franzindo a testa, enquanto os homens se levantavam para a entrada de Joe,
isso porque já haviam passado 10 minutos da hora de começar. Joe parecia nervoso e irritado.
Inferno, parecia que ele estava transpirando.
Queria encher o saco de Joe por estar uma pilha de nervos, mas podia muito bem imaginar o
medo dele de Zoe mudar de ideia ou algo acontecendo no último minuto que faria com que ele a
perdesse. Conhecia esse sentimento muito bem. Joe receberia o final feliz. Sean ainda estava
esperando por isso.
Alívio foi palpável no santuário quando a música começou e as portas que conduziam ao
vestíbulo foram abertas. Uma a uma, as esposas Kelly junto com Maren deslizaram pelo corredor,
cada uma segurando um buquê de íris roxas. Pela primeira vez em sua vida, Sean invejava seus
amigos pela vida que possuíam. As esposas que conquistaram. As crianças que tiveram.
Vários anos mais jovem do que os irmãos Kelly, ele tornou-se mais preocupado com a
carreira e permanecer solteiro do que estabelecer família como seus mentores mais velhos. Mas
agora estava com a idade que eles estavam quando todos começaram a se casar. Havia apenas
uma mulher pela qual estava remotamente interessado em se estabelecer, e ele fodeu a chance
com ela várias vezes.
Houve uma pausa enquanto Sophie tomou seu lugar junto a cerimonialista e Sean virou,
esperando Zoe aparecer a qualquer momento. Quando viu quem andava pelo corredor, costas
retas, olhos voltados para frente, seu estômago afundou no poço.
Rusty?
Foi bombardeado por uma série de emoções contraditórias. Júbilo. Alívio. Raiva. Excitação.
Traição. Mandou olhares acusadores para os homens Kelly, mas pareciam tão chocados quanto
ele. Assim como Joe, não tiveram, obviamente, nenhum aviso prévio do retorno dela. Como
172
Maya Banks
KGI 11
poderiam não saber? Ela era uma maldita dama de honra de Zoe e até mesmo Joe parecia
espantado.
Os olhos dele se estreitaram quando seu olhar deslocou para as mulheres, que não pareciam
nada surpreendidas. Elas pareciam extáticas. E assim como ele estava testemunhando isso, os
homens fizeram a mesma observação.
Rapidamente ele se virou enquanto Rusty se aproximava do banco onde ele estava sentado
à direita ao lado do corredor. O olhar dele cintilou, pela primeira vez, partindo do púlpito de onde
estava sentado.
— Rusty! — Disse em voz baixa. — Onde diabos você esteve? Estive preocupado além da
minha maldita mente!
— Não aqui. — ela sussurrou, alongando o passo e quase tropeçando nos saltos ridículos
que usava.
Sua Rusty nunca usava sapatos disfarçados de palitos de dentes. Ela usava sandálias de tiras,
botas de combate, tênis - usava o que uma mulher que não dava a mínima para maquiagem e
merda feminina e raramente usava o cabelo arrumado, exceto em um rabo de cavalo ou coque
bagunçado, mas esta noite... Ela estava tão linda que os dentes dele doeram.
Ela estava diferente, parecia diferente, e ainda assim ainda era sua Rusty. Nada jamais
mudaria isso.
Enquanto ela aumentou a distância entre eles, ele chamou seu nome, alto, sem se importar
com a cena que estava fazendo.
Ela virou-se e parou imediatamente, amargura queimando brilhantemente e seus olhos. —
Nunca vou perdoá-lo se você estragar o casamento de Zoe, — disse, a emoção espessa em sua
voz.
Sean fez uma careta e, em seguida, enviou a Joe um olhar de desculpas. Maldição! Nunca
conseguia dizer ou fazer a coisa certa. Abaixou a cabeça, incapaz de olhar para Rusty, porque se
olhasse, não seria confiável para superar a necessidade urgente de puxá-la para fora da igreja,
arruinando o casamento, e algemá-la a cama dele pelo tempo que levasse para que ela o ouvisse.
Ou para que ele finalmente fizesse isso certo.
O coração de Joe inchou com amor e gratidão enquanto olhava para Rusty. Indiferente ao
protocolo, uma vez que planejava quebrá-lo em apenas alguns momentos de qualquer maneira,
foi até o lugar onde ela estava e puxou-a em seus braços, abraçando-a ferozmente.
— Obrigada por estar aqui por Zoe e por mim, — sussurrou no ouvido dela. — Eu te amo
irmãzinha e senti sua falta pra caramba. Espero que isso signifique que está de volta onde
pertence.
Rusty sorriu e devolveu o abraço dele, consciente das flores que carregava. — Amo você
também, irmão mais velho. Agora comece isso antes que Zoe tenha um colapso e pense que você
mudou de ideia.
— Oh merda. — ele suspirou.
Ele foi até o pedestal do microfone rapidamente e nervosamente limpou a garganta
enquanto sinalizava para que as portas fossem abertas. Depois de abertas, elas revelaram Zoe,
173
Maya Banks
KGI 11
parecendo tão bonita que doía olhar para ela. Ela estava confusa e seu olhar encontrou o dele
claramente em óbvio questionamento.
Ele sorriu com ternura para ela e, em seguida, falou no microfone para a assembleia inteira
ouvir. — Queria fazer algo especial para minha futura esposa. Algo para deixá-la saber o quanto eu
a amo e o quanto aprecio a honra que ela me concedeu ao concordar em passar o resto da vida
comigo. Sei que é típico tocar a marcha nupcial nesse momento, mas escolhi uma música como
meu presente para ela, como minha mensagem enquanto ela caminha para mim, acompanhada
por meu pai.
O olhar molhado de Zoe ergueu para o pai de Joe, cujo braço estava dobrado firmemente
sob o dela enquanto se preparava para levá-la até o altar e entrega-la ao filho.
Mais uma vez ele fez um gesto, e a canção que escolheu - I Swear - por John Michael
Montgomery - começou a tocar. Ele havia instruído o pai para levá-la muito lentamente, e quando
Zoe e o pai dele chegaram ao local onde Joe estava esperando, ele assumiu.
Seu olhar se voltou para ela. Não conseguiria desviar o olhar se tentasse. Ela era a coisa mais
linda que já viu em sua vida. E era dele.
Enquanto Zoe absorvia a letra da canção, um filete de lágrimas rastreou as bochechas e seu
sorriso era tão grande que iluminou toda a igreja. Mas o que quase deixou Joe de joelhos foi o
imenso amor brilhando nos olhos dela para todos verem.
Era como se ele tivesse esperado por este momento desde sempre. O tempo que o pai levou
para acompanhá-la onde ele esperava foi interminável. Quando seu pai finalmente parou na sua
frente, seu coração estava batendo tão violentamente que estava convencido que as batidas
podiam ser ouvidas acima da música.
Frank se inclinou e beijou-a na bochecha, os olhos dele lacrimejando. — Bem-vinda a família,
minha menina.
Zoe apertou e soltou a mão dele e deu um suspiro trêmulo em esforço para não quebrar
completamente em soluços. Então ele formalmente transferiu a mão dela para Joe e olhou-o nos
olhos, com uma expressão de gravidade absoluta. — Tome conta dela bem e ame-a sempre.
—Eu vou. — Joe disse, com a voz embargada.
O pai deu um passo atrás para se juntar a mãe de Joe, que estava abertamente chorando e
enxugando o rosto com um lenço de papel repetidamente. Joe capturou as duas mãos de Zoe nas
suas e virou-os de modo que estavam de lado para a congregação.
Ele simplesmente olhou para ela, permitindo que todo o amor que sentia flutuasse de todas
as partes do seu corpo, coração e alma. O único som era o da música e da letra da canção, e Zoe
estava ouvindo atentamente, lágrimas brotando enquanto a canção falava sobre as promessas
que ele estava fazendo para ela.
— Eu te amo, — ela murmurou os olhos molhados, mas brilhando absolutamente com
alegria.
— Eu te amo mais, — ele murmurou.
E então silenciosamente murmurou o último verso da canção, de pé com sua noiva e
fazendo uma serenata para ela na frente da família inteira. Uma família composta de sangue e
amor. Uma família que não era definida pela genética, DNA ou nascimento. Uma família a qual Zoe
174
Maya Banks
KGI 11
agora pertencia e que seria dela. Ele sabia que apenas esse presente já era a coisa mais preciosa
que foi dada a ela.
E quando ele lhe desse filhos - uma família deles - sabia que a felicidade dela simplesmente
aumentaria dez vezes. Que era o único a obter o privilégio e a honra de fazê-la feliz, de fazer todos
os seus sonhos se tornarem realidade e dela ter-lhe concedido o amor, era tudo o que já havia
pedido e nada mais.
A canção terminou e percebeu que os olhos de ambos estavam molhados. Mais uma vez,
renunciando ao costume, levantou as mãos dela que ele estava mantendo firmemente contra o
peito, perto do coração, se inclinando e pressionando um beijo em seus lábios.
Agora que a música terminou, podia ouvir os soluços e sons suspeitos de gargantas sendo
limpas vindos de vários locais, até mesmo do seu lado, onde todos os irmãos estavam atrás dele.
Ninguém foi afetado pela beleza absoluta e perfeição deste momento no tempo. Se pudesse fazer
isso durar para sempre, faria. Mas não, ela ainda não era dele. Precisavam terminar a cerimônia.
Virou-se para o ministro, que casou a maioria de seus familiares. Ele foi o pastor da igreja
velha e caiada durante os últimos quarenta anos, então estava muito acostumado que os Kelly não
seguissem exatamente o protocolo habitual.
Os olhos dele brilhavam e o sorriso era suave, fazendo com que as rugas no rosto estivessem
mais pronunciadas. O cabelo era totalmente branco, mas possuía os olhos azuis mais gentis, mais
solidários e a alma mais generosa que qualquer homem que Joe conheceu. Ele apoiou a família
Kelly através de alguns dos melhores e piores momentos, e isso remontava a quando seus pais
eram jovens e Sam era o único filho.
— Vão se casar hoje, filho? — Ele perguntou divertido.
—Sim, senhor, — disse Joe enfaticamente.
Zoe sorriu e acenou em concordância.
Voltaram-se de frente para o pastor e solenemente recitaram seus votos, nunca olhando
para longe um do outro ou quebrando o contato físico, as mãos entrelaçadas o tempo todo.
Mesmo quando Joe deslizou a aliança de casamento no dedo anelar da mão esquerda, a mão
esquerda dele ainda se agarrava à direita dela.
Pouco antes de declará-los marido e mulher, o homem mais velho colocou uma mão no
ombro de Joe, a expressão séria quando focou nele.
— Filho, uma boa mulher é difícil de encontrar e um tesouro inestimável. Nunca se esqueça
do presente de Deus para você ou da Graça do Senhor, e sempre se voltem para Ele em tempos de
dificuldades. Seja amigo dela, seu maior fã e torcedor, e sempre, sempre tire o lixo, e se você
quiser pontos em brownies, se ofereça para lavar os pratos.
O riso se espalhou por toda a igreja.
— É uma honra declará-los marido e mulher. Filho, não apenas acho que deve beijar a noiva,
mas recomendo fortemente.
Joe não precisava de encorajamento. Virou-se e puxou Zoe para perto, envolvendo os braços
em volta dela e segurando-a até que não havia espaço entre eles, a suavidade dela moldada a sua
dureza. Por apenas um momento precioso, olhou nos olhos dela, empenhando-se em guardar na
175
Maya Banks
KGI 11
memória o jeito que ela estava, sabendo que lembraria isso até o dia de sua morte e relembraria
muitas vezes.
Então abaixou a boca e tomou os lábios dela, saboreando seu primeiro beijo como marido e
mulher. Sem se preocupar que tivessem audiência ou que sua mãe e seu pai estavam sentados a
poucos passos de distância observando-os, provocou seus lábios fechados com a língua,
persuadindo-a a abrir para ele.
Com um suspiro ofegante, ela capitulou e ele mergulhou dentro, saboreando-a e bebendo
de sua doçura. O beijo continuou por tanto tempo que ambos estavam ofegantes. Vivas, aplausos
irromperam da festa de casamento e daqueles sentados nos bancos.
— Se você se virar e olhar para sua família, apresentarei você e sua esposa, — disse o pastor
com um sorriso divertido.
Joe ficou de lado enquanto Zoe virou-se e encarou as pessoas que amavam.
— Senhoras e senhores, apresento-lhes Sr. e Sra. Joseph Kelly.
Aqueles que estavam sentados se levantaram e todo mundo começou a bater palmas,
quando não estavam limpando as lágrimas das bochechas. Sua mãe acumulou uma pilha de lenços
de papel no banco ao lado do pai, enquanto ele simplesmente estava com o braço ao redor dela,
um leve sorriso no rosto enquanto olhava com ternura para sua esposa.
Joe sorriu para Zoe. — Devemos, Sra. Kelly?
Ela riu. — Há uma enorme quantidade de Sras. Kelly, você sabe. Como você não vai
confundi-las ao falar Srª. Kelly?
Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Querida, contanto que você seja minha, não me
importo quem vamos confundir. Posso garantir que nunca estarei confuso sobre quem é a minha
esposa.
Ele a levou para frente e caminharam pelo corredor, sorrindo pelas felicitações ofertadas e a
óbvia alegria compartilhada por todos os presentes. Quando chegaram ao vestíbulo, Joe
rapidamente puxou-a para outro beijo longo que a deixou sem fôlego. Relutantemente se afastou
para ver os olhos dela rindo para ele.
— Bem, tenho apenas alguns segundos antes que eles nos sigam, — resmungou. — Não é
um crime aproveitar todas as oportunidades para beijar sua esposa no dia do casamento.
Ela inclinou-se e roçou a boca através da dele. — De fato não é, — murmurou.
Então as portas se abriram e as assistentes começaram a sair do santuário. Eles ficaram e
sorriram até que todos aqueles que estavam na festa de casamento saíram, dirigindo-se para a
casa de Frank e Marlene onde seria realizada a recepção. Sean, no entanto, permaneceu no
vestíbulo, a expressão pensativa enquanto olhava para a igreja.
— Venha, — Zoe murmurou, puxando a mão de Joe. — temos que tirar fotos.
Joe enviou um olhar curioso a Sean enquanto Zoe passou, perguntando o que estava
acontecendo e por que ele parecia que estava prestes a explodir. Então, algo que Zoe dissera na
noite que ele escalou a janela dela foi registrado, e ele finalmente entendeu.
— Puta merda! — Sussurrou no ouvido de Zoe quando atravessaram as portas e saíram pelo
corredor. — Rusty e Sean?
176
Maya Banks
KGI 11
Zoe interrompeu o passo e virou-se, olhando para Joe, a expressão suplicante. — Por favor,
Joe, você não pode dizer nada a ninguém. Vou explicar mais tarde. Prometo. Mas não pode dizer
nada ou só vai piorar as coisas para Rusty, e elas já estão bastante ruins.
— Foi por isso que ela nos deixou? — Ele perguntou asperamente.
Ele teve a vontade súbita de caminhar através das portas e bater na cara do homem
responsável por causar a sua irmã tanta dor ao ponto de ela deixar a própria casa, mas Zoe estava
silenciosamente implorando-lhe para deixar pra lá, e ele não faria nada para estragar o dia do
casamento dela.
— Vou te contar mais tarde, — ela sussurrou.
Ele se inclinou e beijou-a de modo que os outros pensariam que essa foi a razão para a
hesitação deles.
— Mais tarde, — ele concordou. — e quero saber se preciso bater a bunda do xerife do
condado quando acabar.
Zoe revirou os olhos e balançou a cabeça. Então soltou a mão dele e correu para onde Rusty
estava sendo abraçada e atacada por todos os seus irmãos. Ela enviou-lhe outro olhar suplicante e
desta vez ele entendeu que ela queria proteger Rusty da inquisição de seus cinco irmãos.
Cara, ele iria se dar mal por ficar do lado das mulheres, mas inferno, não dava a mínima.
Entrou no meio dos seus irmãos e envolveu Rusty em um enorme abraço de urso como se
estivesse emocionado por ela estar aqui. E ele estava. Continuando a abraçá-la, a manobrou longe
dos outros, em meio a perguntas de Sam e Donovan. Ainda abraçando-a, virou o rosto para que a
boca não fosse visível para seus irmãos e sussurrou no ouvido dela, — Não se preocupe querida.
Fique perto de mim e Zoe. Vamos manter o fogo longe de você. E apenas um aviso, Sean está no
vestíbulo e ele vai ter um pacote enorme com o qual lidar.
Rusty se afastou, as lágrimas desesperadas diminuindo enquanto surpresa e gratidão as
substituiu. — Obrigada, — disse em uma voz áspera.
Joe gentilmente puxou o cabelo dela. — A propósito, você está linda nesse vestido e nos
saltos. Mantive minha parte no trato. Fico feliz em ver que você também.
Ela riu e impulsivamente o abraçou, deixando-o sem respiração. — Sinto sua falta, — ela
sussurrou.
— Sinto sua falta também, menina. Sei que você não está pronta para vir para casa ainda,
mas lembre de uma coisa por mim, sim? Esta será sempre sua casa, e quanto estiver pronta,
estaremos esperando por você de braços abertos.
— Maldição, não se atreva a me fazer chorar na frente de todos, — Ela disse ferozmente.
O fotógrafo os interrompeu e pela próxima hora, não houve tempo para perguntas
enquanto as poses eram feitas, grupos foram formados e dezenas e dezenas de fotos foram
tiradas.
Perto do fim, Zoe puxou Rusty para o lado dela e, em seguida, virou-se para o fotógrafo,
pedindo-lhe algo em voz muito baixa para ser ouvido por alguém. Então, ela e Rusty andaram para
os degraus até a plataforma onde estavam o púlpito, a pia batismal e coro e se viraram para a
parte de trás da igreja, enquanto o fotógrafo emitiu instruções.
Mas para a última foto, Zoe ergueu a mão para o fotógrafo e disse, — Mais uma.
177
Maya Banks
KGI 11
Em seguida, colocou os braços ao redor da cintura de Rusty, girando-as para frente e

apertou a bochecha na de Rusty. Rusty estava visivelmente emocionada, colocou os braços em
torno de Zoe, então as duas estavam unidas, de rosto colado, e sorrindo tão abertamente que os
rostos de todos que as olhavam se suavizaram.
Zoe virou-se e beijou a bochecha de Rusty e o fotógrafo tirou uma foto rapidamente antes
das duas se separarem. Zoe segurou as mãos de Rusty na frente dela, e Joe sabia que este era o
silencioso adeus dela. Tristeza apoderou-se dele mesmo na hora mais feliz. Odiava o pensamento
de Rusty estar tão infeliz, e sabia que Zoe estaria triste nos próximos dias, mas estaria certo de
estar ao lado dela para colocar um sorriso em seu rosto.
Aproximou-se, pronto para dar seu apoio da forma que fosse possível. Olhou entre as duas
mulheres. — O que preciso fazer? — Perguntou em voz baixa.
Zoe sorriu para ele, o amor em seus olhos brilhando como a estrela mais cintilante no céu
noturno. — Diga a todos que estão aqui para irem para a recepção, em seguida, agrupe todos em
frente, e se perguntarem, diga que preciso de um momento a sós com Rusty.
Rusty apertou a mão de Joe, contorcendo o rosto para manter as emoções sob controle. —
Apenas fique em contato doçura, — Disse calmamente. — E não seja estranha. Se precisar de
alguma coisa, estou apenas a um telefonema de distância. Irei, sem perguntas.
— Isso significa mais para mim do que você jamais saberá, — Ela disse e endireitou os
ombros. — Ok, vamos fazer isso.
Joe caminhou de volta para o grupo e anunciou que era hora de ir para a recepção. Ele
apontou para frente enquanto começou a mover todos nesse sentido. Donovan franziu a testa e
olhou para Rusty, mas Joe o cutucou. — Zoe pediu um momento sozinha com ela. Eu disse que
iríamos esperar na frente.
Aparentemente apaziguado, Donovan olhou para trás mais uma vez e, em seguida, seguiu os
outros para fora da igreja.
Zoe esperou até que as portas se fecharam e então se virou para Rusty, engolindo várias
vezes em um esforço para limpar a garganta.
— Significa muito para mim que você me apoiar.
Rusty sorriu. — Sempre apoiarei você, sis. E ei, não se preocupe comigo, ok? Estou bem.
Realmente. E estou fazendo isso sozinha. De certa forma é uma... Libertação.
— Apenas tenha cuidado e lembre-se que te amo.
Rusty se inclinou para abraçá-la. — Amo você também. Agora vá. Seu marido está esperando
e vocês tem uma lua de mel maravilhosa para seguir.
— Vai me ligar em breve?
— Ligarei. Depois que você voltar da lua de mel.
Rusty olhou nervosamente para frente e Zoe virou em direção a parte de trás. — Se apresse
antes que Sean perca a paciência e invada.
Os olhos de Rusty ficaram tristes um breve momento e então ela se recuperou e deu a Zoe
um animado aceno antes de desaparecer pela porta que dava para o salão social, que por sua vez
lhe daria uma saída para a parte de trás da igreja.
178
Maya Banks
KGI 11
Zoe esperou alguns momentos para dar a Rusty tempo suficiente para fugir e então se virou,
juntando o tecido do vestido em cada mão, e caminhou pelo corredor, os lábios se curvando em
um sorriso sonhador.
Estava casada. Encontrou seu príncipe encantado, apesar de que ele usava botas de
combate e jaqueta e era sexy como o inferno. Remorso não encontrou caminho para o coração
dela. Por nada. Nem mesmo Sebastian. Porque se não fosse por esse fiasco, nunca teria pedido
ajuda a Rusty e nunca teria conhecido e se apaixonado por Joe.
Não, não mudaria uma única coisa, mesmo se pudesse voltar e fazer tudo de novo. Porque
se fizesse, não estaria onde estava hoje. E sabe o que ela estava? Feliz.
Quando chegou à porta, abriu-a para revelar Joe de pé e parou, impressionada com a linda
imagem dele no smoking preto olhando para ela com tanto amor que ainda a deixava perplexa
toda vez que o pegou fazendo isso.
Sem dizer uma palavra, venceu a distância restante e ele a pegou, levantando-a até o peito.
Enrolou as pernas em volta dele o melhor que podia com tanto tecido entre eles e plantou seus
lábios avidamente sobre os dele.
Ele gemeu quando sua mão em concha tocou atrás dela e amorosamente acariciou-a. — Nós
precisamos ir para a recepção?
Ela riu. — Bem... Temos uma lua de mel para ir. Você não tem um plano?
Os olhos dele brilhavam e um sorriso lento se espalhou pelo rosto. — Na verdade... Tenho.
— Virou, içando-a nos braços através das portas da igreja e para o sol do meio-dia. — Quer
verifica-lo Sra. Kelly?
Fim
Todos os arquivos aqui postados são para leitura pessoal.

É proibido postar e/ou anexar nosso conteúdo em outros blogs, fóruns, grupos, redes sociais e afins.
Nosso trabalho é gratuito e não temos nenhum tipo de lucro.
179

Maya Banks - KGI 11 - Mais Brilhante Que o Sol

Enviado por

Dados do documento

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Maya Banks - KGI 11 - Mais Brilhante Que o Sol

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

O Grupo Internacional Kelly (KGI): Um negócio super-elite e supersecreto, de administração

Traduzido e Revisado do Inglês

Zoe. Seu nome é Zoe Kildare agora.

Zoe a estudou por um longo momento.

— Você diz “nós” como se fosse me dar cobertura o tempo todo.

Frank virou para ir embora.

2 Grito de guerra da Marinha dos EUA.

de conversa sentimental e constrangedora que um homem poderia aguentar em um dia. E ainda

— E se eu estragar tudo? — Perguntou em um sussurro distorcido, em pânico, o olhar

simplesmente curioso. Quando a oportunidade se apresentasse, puxaria Rusty de lado e

Ela emitiu um suspiro cansado.

— Preciso que você me faça um favor, — Joe disse baixinho ao telefone.

— Obrigado, — Joe disse baixinho antes de desligar a chamada.

— Bem, então, querida, eu diria que é você que faz o tempo.

lá e as pessoas se vestem com roupas de época. Apresentações de cantores de Folk, e têm

Modo de vida anterior.

Marlene o estudou por um momento e, obviamente, aprovando, sorriu e voltou a misturar o

Ela momentaneamente ficou sem palavras.

3 Marca da vara de pesca.

4 Objetos usados para indicar a posição em que a linha está na água.

De repente, o peixe apareceu na superfície e balançou ao acaso enquanto a linha girava em

— Oh? Você sonhou comigo então? — Ele brincou.

O sorriso de Rusty era suave e cheio de compreensão e compaixão. — Porque o amor é

Quando tudo terminasse e tirasse o alongamento, tinha o objetivo de deixar o cabelo

Zoe acordou lentamente, permanecendo perfeitamente imóvel absorvendo o simples

Capítulo Vinte e Dois

— Alguém vai me dizer o que está acontecendo aqui? — Perguntou Garrett.

Capítulo Vinte e Três

Capítulo Vinte e Quatro

Capítulo Vinte e Cinco

Capítulo Vinte e Seis

Capítulo Vinte e Sete

Capítulo Vinte e Oito

As palavras de um de seus professores de faculdade se agitaram em sua mente. Ela nunca

Capítulo Vinte e Nove

— Você falou? — Zoe perguntou. — Você sabia? Não estou entendendo.

Sean sentou-se no banco e se mexeu desconfortavelmente enquanto afrouxava a gravata.

Em seguida, colocou os braços ao redor da cintura de Rusty, girando-as para frente e

Todos os arquivos aqui postados são para leitura pessoal.

Você também pode gostar