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LFG – PENAL – Aula 05– Prof.

Rogério Sanches – Intensivo II – 17/08/2009


SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

Revisão: na última aula nós começamos o sursis. Demos o conceito de sursis,


depois explicamos que o Brasil adotou o sistema franco-belga, eu fiz uma
observação importante: o art. 89, da Lei 9.099/95 adotou o sistema do probation of
first offenders act. Depois disso, vimos a natureza jurídica, ou seja, o sursis é um
direito subjetivo do réu. Preenchidos os requisitos o juiz não só pode, como deve
suspender a execução da pena. Se é um direito subjetivo do réu, então ele pode ser
recusado. O réu pode recusar o sursis, pode recusar o benefício, por sua conta e
risco.

Sumário da aula de hoje: hoje vamos analisar sursis (continuação), vamos


ver concurso de crimes (despenca em concursos) e, talvez consiga introduzir
medida de segurança.

O que falta ver a respeito do sursis? Quase tudo. Tenho que analisar com
vocês quais as espécies de sursis. Temos quatro.

8.3. ESPÉCIES DE SURSIS

Nós vamos analisar as quatro espécies de sursis através de um quadro, para


variar.

ESPÉCIES DE SURSIS
SURSIS SURSIS SURSIS
SURSIS ETÁRIO
SIMPLES ESPECIAL HUMANITÁRIO
Previsão legal: art. Previsão legal: art. Previsão legal: art.
Previsão legal: art.
77, c/c art. 78, § 1º, 77, c/c art. 78, § 2º, 77, § 2º, in fine do
77, § 2º, do CP.
do CP do CP CP.
Pressuposto: Pressupostos: Pressupostos: Pressuposto:
Pena imposta não a) Pena imposta não a) Pena imposta não a) Pena imposta não
superior a 2 anos, superior a 2 anos. superior a 4 anos, superior a 4 anos,
considerando-se o Deve ser considerando-se o considerando-se
concurso de delitos considerado-se o concurso de delitos. concurso de delitos.
concurso de delitos. b) Ser idoso com b) Condições de
b) reparação do mais de 70 anos. saúde do
dano ou condenado.
impossibilidade de
fazê-lo
Período de Prova: Período de Prova:
varia 2 a 4 anos. varia de 2 a 4 anos Período de Prova: Período de Prova:
varia de 4 a 6 anos varia de 4 a 6 anos
No primeiro ano No primeiro ano
da suspensão : da suspensão: No primeiro ano No primeiro ano da
a) prestação de a) proibição de da suspensão: suspensão:
serviços à frequentar
comunidade ou determinados Se reparou o dano Se reparou o dano
b) limitação de fim- lugares e ou mostrou ou mostrou
de-semana. b) proibição de se impossibilidade de impossibilidade de
ausentar da comarca fazê-lo: art. 78, § 2º fazê-lo: art. 78, § 2º
sem autorização do
juiz e Se não reparou o Se não reparou o
c) comparecimento dano ou mostrou dano ou mostrou
mensal em juízo impossibilidade de impossibilidade de
para comprovar fazê-lo: art. 78, § 1º fazê-lo: art. 78, § 1º
atividades.

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Requisitos: Requisitos: Requisitos: Requisitos:


a) Condenado não a) Condenado não a) Condenado não a) Condenado não
reincidente em reincidente em reincidente em reincidente em crime
crime doloso. crime doloso. crime doloso. doloso.
b) Circunstâncias b) Circunstâncias b) Circunstâncias b) Circunstâncias
judiciais favoráveis judiciais favoráveis judiciais favoráveis judiciais favoráveis
(princípio da (princípio da (princípio da (princípio da
suficiência) suficiência) suficiência) suficiência)
c) Não cabível ou c) Não cabível ou c) Não cabível ou c) Não cabível ou
não indicada não indicada não indicada não indicada
restritiva de direitos. restritiva de direitos. restritiva de direitos. restritiva de direitos.

a) Sursis SIMPES

Previsão legal: art. 77, c/c art. 78, § 1º, do CP:

Art. 77 - A execução da pena privativa de


liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime
doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição
prevista no Art. 44 deste Código.

Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o


condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento
das condições estabelecidas pelo juiz.
Art.§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o
condenado prestar serviços à comunidade (Art. 46) ou
submeter-se à limitação de fim de semana (Art. 48).

Cumulando o art. 77 com o art. 78, § 1º, você tem o sursis simples.

Pressuposto: Pena imposta não superior a dois anos considerando


concurso de delitos – Estou falando de pena imposta na sentença. Para saber se
a pena suplanta ou não dois anos, eu considero concurso de crimes? Eu tenho um
crime de 1 ano e meio e ele é condenado por outro crime de 1 ano na mesma
sentença. Se eu analisar cada um dosa crimes separadamente, os dois não
suplantam dois anos de pena. Mas, somados, 2 anos e meio suplantam dois anos de
pena. Considera o concurso de crimes ou não? Considera! “Deve ser considerado o
concurso de delitos.” Imaginem só 100 estelionatos, todos com pena de 1 ano e
você fazer jus a 100 sursis. Eu estou exagerando porque exagerando você
consegue perceber o quanto seria injusto não considerarmos um concurso de
delitos. Então,

Período de Prova: este sursis, chamado de simples, tem um período de


prova que varia de 2 a 4 anos. O que significa esse período de prova? O período
em que a execução fica suspensa e você é sujeito a condições. É o período que
você vai ter que provar a sua ressocialização espontânea. Olha a dica que eu vou
dar: o mínimo do prazo que o juiz pode determinar a suspensão: o mínimo sempre

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vai coincidir com o máximo da pena a ser suspensa. A pena não pode suplantar 2
anos! 2 anos é o prazo mínimo do período de prova. Guardem isso! Nos outros
sursis, você vai ver que, mudando o prazo máximo da pena, muda também o
período de prova. Guardaram essa dica? Observação: No primeiro ano do período
de prova, ele vai prestar serviços à comunidade, ou ficar o fim-de-semana limitado.

Requisitos:

1. Condenado não reincidente em crime doloso.


2. Circunstâncias judiciais favoráveis – quando eu digo ‘circunstâncias
judiciais favoráveis’, guardem mais uma vez: eu vou analisar o art. 59 de
acordo como princípio da suficiência. Eu vou ver se o sursis é suficiente
para os fins da pena. O condenado tem que demonstrar que o sursis, para
ele, é suficiente para atingir os fins da pena.
3. Não cabível ou não indicada restritiva de direitos – vocês já viram
isso comigo. Estudamos isso na aula passada. O sursis é subsidiário. Só
cabe o sursis se não couber restritiva de direitos. Só cabe sursis se não
for indicada a restritiva de direitos. O sursis é subsidiário.

Esta é a base. Daqui para frente, muda uma coisa ou outra. Você decorou a
primeira coluna, acabou. O resto sai naturalmente.

b) Sursis ESPECIAL

Previsão legal: art. 77, c/c art. 78, § 2º, do CP:

Art. 77 - A execução da pena privativa de


liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime
doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição
prevista no Art. 44 deste Código.

Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o


condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento
das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 2º - Se o condenado houver reparado o dano,
salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do
Art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o
juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior
(prestação de serviços à comunidade ou limitação
de fim de semana) pelas seguintes condições, aplicadas
cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde
reside, sem autorização do juiz;

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c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,


mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

O sursis especial é idêntico ao simples. Só muda a condição. Só isso! Só


muda o que ele vai ter que cumprir no primeiro ano. Os requisitos e os
pressupostos são praticamente os mesmos. Então, se você preencher esses
requisitos, ao invés de no primeiro ano você ficar prestando serviços à comunidade
ou com o fim-de-semana limitado, você, de acordo com o § 2º, fica proibido de
frequentar determinados lugares, de ausentar-se da comarca sem autorização e
comparecimento obrigatório. São condições bem menor rigorosas do que prestar
serviços à comunidade o ano inteiro ou ficar com o fim-de-semana limitado.

Pressupostos: O sursis especial traz um segundo pressupostos


importante e é exatamente isso que o diferencia do sursis simples. No sursis
especial existe reparação do dano ou impossibilidade de fazê-lo. É o requisitos
que diferencia o simples do sursis especial. Em um, há reparação do dano. Em
outro, não.

Período de Prova: Qual o período de prova? Este sursis continua tendo um


período de prova que varia de 2 a 4 anos. Porém, com uma observação: ao invés
de no primeiro ano você prestar serviços à comunidade ou ficar com o fim de
semana limitado, haverá proibição de frequentar determinados lugares, proibição
de se ausentar da comarca sem autorização do juiz e comparecimento mensal em
juízo para comprovar atividades. Comparem! No sursis simples, no primeiro ano,
você tinha que prestar serviços à comunidade ou ficar com o fim de semana
limitado. No sursis especial, não! Você fica proibido de frequentar certos lugares,
de se ausentar da comarca sem autorização e é obrigado a comparecer para
justificar atividades. Tudo porque você reparou o dano ou comprovou a
impossibilidade de repará-lo. A condição a ser cumprida no primeiro ano muda.
Muda por quê? Porque você reparou o dano e, por isso, merece condições menos
rigorosas.

Requisitos: Eu não vou perder tempo. Os requisitos são os mesmos do


sursis simples.

1. Condenado não reincidente em crime doloso.


2. Circunstâncias judiciais favoráveis
3. Não cabível ou não indicada restritiva de direitos

c) Sursis ETÁRIO

Previsão legal: art. 77, § 2º do CP

§ 2º - A execução da pena privativa de


liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser
suspensa, por quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou
razões de saúde justifiquem a suspensão.

O que não está grifado, é sursis que vamos ver em seguida (sursis
humanitário).

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Mudou a pena imposta. Era de 2 e agora pode ser de até 4. Se mudou a pena
imposta, o que muda, automaticamente? O período de prova! Aqui, será de 4 anos.

Pressupostos: O primeiro pressupostos mudou com os outros dois.


Agora, a pena imposta é, ao invés de 2, não superior a 4 anos. Continua
considerando o concurso de delitos. Tem um outro pressuposto: condenado maior
de 70 anos. Eu não falei idoso. Repare que nem todos os idosos são beneficiados
por esse sursis. Somente o idoso com mais de 70 anos e assim permanece, mesmo
com o advento do estatuto do idoso. Então, cuidado que o examinador vai trocar
maior de 70 anos por 60 ou mais, ou mesmo pela expressão “idoso”. Não! Não
abrange todo idoso! Só o idoso com mais de 70 anos!

Período de prova: Se a pena imposta agora não pode suplantar 4


anos, é claro que o período de prova de suspensão mudou. A execução agora fica
suspensa de 4 a 6 anos. E essa pessoa maior de 70 anos, no primeiro ano, vai
fazer o quê? Eu vou aplicar para este idoso as condições, no 1º ano, do art. 78, § 1º
(prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim-de-semana) ou do art. 78,
§ 2º (proibição de frequentar determinados lugares e proibição de se ausentar da
comarca sem autorização do juiz e comparecimento mensal em juízo para
comprovar atividades)? Os dois. Vai depender dele. Se ele reparar o dano, § 2º. Se
ele comprovar a impossibilidade de reparar o dano, §2º. Se não fizer, isso, §1º. Se
ele reparar o dano, as condições são menos rigorosas. Se ele não reparar o dano,
vai tomar o art. 78, § 1º. Está certo que dependendo da idade, ao invés de fazê-lo
prestar serviços à comunidade, será preferível a limitação de fim de semana.

Requisitos: Os requisitos são os mesmos! são requisitos que se repetem no


especial e se repetem no etário: condenado não reincidente em crime doloso e
circunstâncias judiciais favoráveis e não cabível ou não indicada restritiva de
direitos.

d) Sursis HUMANITÁRIO

Previsão legal: art. 77, § 2º do CP, in fine

§ 2º - A execução da pena privativa de


liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser
suspensa, por quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou
razões de saúde justifiquem a suspensão.

Então, já deu para perceber que o sursis humanitário é exatamente idêntico


ao sursis etário, com uma diferença. E onde está essa diferença? No segundo
pressuposto. O sursis etário está preocupado com a idade e o humanitário, com as
condições de saúde. O sursis humanitário está preocupado com as condições de
saúde do condenado. É a debilidade da saúde do condenado que ficaria
comprometida no cárcere. A debilidade da saúde demonstra que a clausura
prejudica o tratamento ou a cura. Não estou falando em doença específica.
Qualquer doença cuja cura ou tratamento fica seriamente comprometido no
cárcere, preenchidos os requisitos, faz jus ao sursis humanitário. Não precisa
aguardar a pessoa ficar em estado terminal. A lei é clara: razões de saúde
justificam a concessão benefício. Ninguém está falando em último suspiro, beira da
morte, etc. Eu já peguei condenado pedindo suris humanitário por conta da
tuberculose. Ele estava num estágio tal da tuberculose, que precisava de um

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tratamento intensivo. Então, ele dizia: “não só o tratamento é importante para


mim, como estando na clausura, eu vou passar tuberculose para todos.”

Período de prova: 4 a 6 anos. Se mudou a pena imposta, muda


também o período de prova. Agora, prestem atenção! O que ele vai fazer no
primeiro ano? Vai prestar serviços à comunidade ou fica com o fim de semana
limitado, ou fica sujeito a condições menos rigorosas do art. 78, § 2º? A resposta é
a mesma: depende dele: se reparou o dano ou comprovou a impossibilidade de
repará-lo, merece o art. 78, §2º. Se não fez isso e nem comprovou a
impossibilidade, art. 78, § 1º. Vai depender dele. Se ele fez jus ao sursis por conta
da sua saúde, é claro, você não vai colocá-lo prestando serviços à comunidade.
Incidirá a limitação de fim-de-semana, se é que já não estará limitado a semana
inteira.

É isso que você tem que saber. O quadro despenca em primeira fase de
concurso! Tranquilo!

8.4. É CABÍVEL SURSIS PARA CRIME HEDIONDO ou EQUIPARADO?

Será que isso é possível? Essa pergunta tem que ser analisada antes e
depois da Lei 11.464/9007:

Antes da Lei 11.464/07, havia duas correntes:

1ª Corrente: O sursis está implicitamente vedado pelo regime integral


fechado.
2ª Corrente: Cabe sursis, pois não bastasse a inconstitucionalidade do
regime integral fechado, não existe proibição expressa.

Então, havia duas correntes em claro embate! No meio dessa discussão, veio
a Lei de Drogas, a Lei 11.343/06 que, no seu art. 44, proíbe expressamente
sursis. Então, no meio dessa briga, isso aconteceu.

E qual foi o problema? Depois disso, veio a Lei 11.464/07 e aboliu o regime
integral fechado. Isso significa que a tal da proibição implícita desapareceu. Isso
significa que o sursis não está proibido nem implícita e nem explicitamente na Lei
dos Crimes Hediondos. Preenchidos os requisitos, o juiz deve suspender. Então,
não existe vedação expressa. Preenchidos os requisitos, o juiz tem que conceder.

Rogério, você como promotor, sai por aí concordando com o sursis?


Nananinanão! O que você faz? Você exuma o regime integralmente fechado? Não.
Isso também não! Você, se prestar concurso para Defensoria, tem que brigar pelo
sursis para crime hediondo e equiparado. Agora, se você prestar MP, cautela! Tem
um crime hediondo, apesar de preencher os requisitos, você pode bater na tecla e
evitar o sursis. Qual é? Art. 59. Eu falei que na análise do art. 59, eu tenho que
concluir se o benefício é ou não suficiente. Eu digo para o autor do crime
hediondo: o sursis é ineficiente! Para o autor de um crime desses o sursis é
ineficiente, é sinônimo de impunidade!

Agora, eu quero saber o seguinte: o que eu faço com a Lei 11.343/06? o que
eu faço, já que ela continua proibindo expressamente? Vocês têm que lembrar que
essa lei nasceu durante a discussão e, claramente, adotou a primeira corrente.

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Para a primeira corrente, a premissa desapareceu, mas a Lei de Drogas continua.


E agora? Será que a Lei de Drogas pode continuar proibindo o sursis? O STJ e o
STF ainda não se manifestaram sobre tráficos praticados após a Lei 11.343/06.
Então, não temos ainda uma posição segura. Eu vou apenas alertar o seguinte: não
tem sentido ser possível o sursis para crimes hediondos e equiparados e só o
tráfico ficar proibido. Não tem sentido! Fere o princípio da isonomia.

Olha a pergunta que caiu em concurso, pergunta mega-thunder-blaster-


blaster:

8.5. É POSSÍVEL NO BRASIL SURSIS INCONDICIONADO?

É o sursis que não está atrelado a qualquer condição a ser cumprida no


primeiro ano. Existe isso no Brasil? É só vocês olharem para a tabelinha que
fizeram! Todos, no primeiro ano, têm que cumprir alguma coisa. Então, não é
possível sursis incondicionado no Brasil. Não se admite sursis incondicionado no
Brasil. No Brasil, todo sursis está agregado a alguma condição.

E se o juiz da condenação esquece ou não agrega qualquer condição


e o MP não recorre, assim transitando em julgado? Vocês já sabem que não
há sursis incondicionado. Como responder a essa pergunta? O MP não recorre, e
aí? O indivíduo vai ficar tranquilo, esperando 2 anos, aguardando a sua
ressocialização sem fazer absolutamente nada!? Sem aprontar, obviamente!

1ª Corrente: “Se a decisão que concedeu o sursis transitou em julgado


sem condições, não pode o juiz da execução supri-la, suprir essa falha da
decisão.”

2ª Corrente: “Se o juiz da condenação omite condições na sentença,


pode o juiz da execução especificá- las. Aí não se pode falar em ofensa à coisa
julgada, pois esta diz respeito à concessão do sursis e não às condições do sursis,
as quais podem ser alteradas no curso da execução da pena.” As condições do
sursis são matéria de execução penal. O juiz pode, não só especificá-las, como
alterá-las. É a posição do STJ.

Quem me dá um caso em que o condenado preenche todos (objetivos e


subjetivos) os requisitos da lei mas não admite sursis. A pessoa (não o crime)
preenche todos os requisitos. Está convicto de que vai obter o benefício. O juiz
fala, 'vou aplicar' e, na hora que vai aplicar, 'ops, não posso'. Para você e não para
o seu crime! Quem é?? Vocês viram que nós estamos cheios de estatutos? Do índio,
do idoso, da criança... E por que eu falo isso? Estatuto do estrangeiro!
Estrangeiro em situação ilegal no país não faz jus ao sursis. Tem vedação
expressa do benefício do sursis. Estrangeiro em situação ilegal no país não faz jus.
Tem vedação expressa no Estatuto do Estrangeiro, Lei 6.815/80.

8.6. A REVOGAÇÃO DO SURSIS

O benefício pode ser revogado? Pode! O sursis pode ser revogado nas
seguintes hipóteses. Prestem atenção porque revogação cai muito! Ele pode ser
revogado de duas formas:

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 Obrigatoriamente
 Facultativamente

a) Revogação Obrigatória (art. 81, CP)


Sempre que eu falo da revogação obrigatória, estou falando do art. 81, do
CP (prestem atenção nessa revogação):

Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso


do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por
crime doloso;
II - frustra, embora solvente, a execução de pena
de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a
reparação do dano;
III - descumpre a condição do § 1º do Art. 78 deste
Código.

1ª Causa de Revogação Obrigatória (inciso I) – condenação definitiva


por crime doloso

Detalhe: não importa o momento da prática do crime, se antes ou depois do


início do período de prova. Você foi condenado definitivo por um crime doloso?
Revogação obrigatória do sursis.

Essa revogação é automática ou precisa de decisão motivada do magistrado?


A pessoa está cumprindo sursis, o período de prova e é condenada definitivamente
por crime doloso. O juiz da execução vai analisar a condenação definitiva. E ele vai
poder ou não revogar? Se a revogação couber, ele tem que fundamentar? Tem que
dar direito á ampla defesa? Percebam: ele foi condenado definitivamente, ele já
teve todo o processo para ser defender. Vai ter que se defender outra vez?

Posição do STF e do STJ: A revogação é automática, dispensando decisão


motivada do juiz, muito menos ampla defesa. Ele não tem que ser ouvido. O que ele
tinha que ser ouvido, já foi lá no processo onde foi condenado.

2ª Hipótese de Revogação (inciso II – 1ª parte) – frustra, embora


solvente a execução da pena de multa.

Isso persiste? Foi ou não revogado? A pessoa que não paga a multa merece
ter contra ela o sursis revogado? O que vimos na última aula? Que o não
pagamento da multa, hoje, não gera mais conversão. Deve ser executado como
dívida ativa. Se a multa não pode mais ser convertida em privativa de liberdade, a
multa, gerando revogação do sursis, indiretamente, isso é uma conversão. Então, o
que aconteceu? Isso foi revogado pela Lei 9.268/96. Essa segunda hipótese de
revogação, da 1ª parte do inciso II foi tacitamente revogada pela Lei 9.268/96
porque gera uma conversão indireta. O que interessa, pois, é a segunda parte.

2ª Causa de Revogação Obrigatória (inciso II – 2ª parte) – não


reparação do dano sem motivo justificado

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Normalmente o candidato fica assim: “Rogério, não estou entendendo. Você


falou que se ele repara o dano, ele tem direito ao sursis especial. Se ele não
repara, ele tem direito ao sursis simples. E agora você está me dizendo que ele tem
que reparar o dano, senão o sursis é revogado. Já não estou entendendo mais
nada! Pelo que você explicou o fato de ele reparar ou não o dano, vai interferir no
tipo de sursis, ou especial (se reparou ou comprovou a impossibilidade de reparar)
ou simples (se não reparou e nem comprovou a impossibilidade de reparar). E
agora você está dizendo que se não reparar o dano, vai revogar o sursis. Não dá
para entender!” E aí, pessoal, como é que dá para compatibilizar isso aqui?

Você vai ter que analisar antes e depois da condenação:

 Reparação antes da condenação – gera o sursis especial

 Reparação depois da condenação – é obrigatória para as demais


espécies.

Então, na verdade, o legislador está dizendo: você que tinha que reparar o
dano depois, antecipou? Merece um sursis especial. Você que deixou para reparar
só depois da condenação, seu sursis é simples, mas de qualquer modo o sursis vai
estar atrelado à reparação do dano. Ou antes ou depois.

Por isso, a reparação do dano é chamada por muitos de condição legal


indireta. E por quê? Porque se vocês pararem para prestar atenção, a reparação do
dano acaba sendo condição de todos os sursis. Se reparou antes, sursis especial.
Se não reparou antes? Vai ter que reparar depois, nas demais espécies, mas vai ter
que reparar. Condição legal indireta. Todos compreenderam isso? Viram que não
tem contradição nenhuma?

Uma observação: a lei colocou que revoga o sursis sem motivo justificado.
Então, a revogação aqui, no inciso II, não é automática. O condenado precisa ser
ouvido para justificar. No inciso I é automática. No inciso II ele tem que ser ouvido
porque pode justifica por que razão não reparou o dano.

3ª Causa de Revogação Obrigatória (inciso III) – Descumprimento


injustificado do art. 78, § 1º (prestação de serviços à comunidade ou
limitação de fim de semana)

Aqui, o sursis é revogado se o condenado descumpre a condição do § 1º, do


art. 78. E o que diz ele? Que no primeiro ano, ele estará sujeito à prestação de
serviços à comunidade ou à limitação de fim de semana. Se ele descumprir,
revogação obrigatória. A revogação aqui também não é automática. Ele tem que
ser ouvido.

Essas são as três causas de revogação obrigatória porque a quarta, eu falei


que foi revogada tacitamente. Vamos agora para as duas hipóteses de revogação
facultativa.

b) Revogação Facultativa (art. 81, § 1º, CP)

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§ 1º - A suspensão poderá ser revogada se o


condenado descumpre qualquer outra condição
imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime
culposo ou por contravenção, a pena privativa de
liberdade ou restritiva de direitos (isto é, a pena que não
seja de multa).

1ª Causa de Revogação Facultativa (§ 1º, 1ª parte) – descumprimento


injustificado das condições que estejam fora do art. 78, § 1º.

Por exemplo, as condições do art. 78, § 2º. São revogações que não estejam
no art. 78, § 1º, porque se estiverem no art. 78, §1º, a revogação é obrigatória. Art.
78, § 2º: você não comparece mensalmente em juízo. Você se ausenta da comarca
sem autorização do juiz e por aí vai.

Eu falei em descumprimento injustificado. Significa o quê? O condenado tem


que ser ouvido. O beneficiário tem que ser ouvido. E qual é a segunda causa de
revogação facultativa?

2ª Causa de Revogação Facultativa (§ 1º, 2ª parte) – Condenação


definitiva por crime culposo (se doloso é obrigatória), ou
contravenção penal a pena diversa da multa

Se você tiver crime culposo com condenação a privativa de liberdade ou


restritiva de direitos, revogação facultativa. Contravenção penal a privativa de
liberdade ou restritiva de direitos, revogação facultativa. Se as duas infrações
sofrerem multa, não revoga, nem facultativamente.

Rogério, você falou que aqui é revogação facultativa, quer dizer, o juiz pode
revogar ou não. E se ele resolve não revogar, o que ele pode fazer? Então, vamos
lá: opções do magistrado. Qual magistrado? O da execução, obviamente.

Opções do magistrado:

 1ª Opção – revogação
 2ª Opção – nova advertência (ele pode advertir novamente o
condenado)
 3ª Opção – prorrogar o período de prova até o máximo.
 4ª Opção – exacerbar as condições impostas (se eu falei que você
tinha que voltar para casa todos os dias às 8 horas da noite, agora vai
ter que voltar às 6, se eu falei que você podia ficar em bar até as 8,
agora você não pode ficar em bar, por exemplo).

Pergunta: qual é o primeiro para qualquer sursis? Seja simples, especial,


humanitário, etário? Não ser reincidente em crime doloso. Vamos supor: no
passado você tem condenação definitiva (2 anos) por um crime e no presente você
pratica novo crime. Para este cabe sursis? Você tem uma condenação no passado
por um crime e a pena é de dois anos. Você pratica novo crime e o juiz, nesse novo
crime, fixa pena de 1 ano. Cabe sursis? Se eu falar para vocês que ambos os crimes
são dolosos, cabe sursis? Qual foi o primeiro requisito? Não ser reincidente em
crime doloso. E ele é reincidente em crime doloso? É. Cabe sursis? Não.

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

E se eu disser que, no passado a pena imposta não foi de 2 anos. Foi de


multa! Ele deixa de ser reincidente em crime doloso? A pena no passado foi de
multa. Ele continua reincidente? Continua. E eu pergunto: cabe sursis? Cabe!! Art.
77, § 1º. Esse dispositivo diz o seguinte:

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não


impede a concessão do benefício.

Então, tem previsão legal. Agora, preste atenção: veja se você concorda com
essa doutrina: “essa é a maior prova de que multa não gera reincidência.” Vocês
concordam com isso? Eu acho que é exatamente o contrário. É a maior prova de
que multa gera reincidência, porque se multa não gerasse reincidência, não
haveria a necessidade do art. 77, § 1º alertando que não impede o sursis. Eu tenho
o art. 77, § 1º exatamente porque multa gera reincidência, mas é uma reincidência
que não impede sursis. É uma reincidência diferente! Tem doutrina querendo
justificar multa não gerar reincidência com base nesse parágrafo. Tiro no pé! Esse
parágrafo é a maior prova de que a multa gera reincidência, mas é uma
reincidência que não impede o sursis. É diferente.

Você está na prova do MP: O juiz concedeu o sursis para uma pessoa que
não merece. Você vai recorrer. Qual o recurso? Carta testemunhável, protesto por
novo júri? Ele foi condenado, mas o juiz suspendeu a execução (sursis). E não
poderia ter feito isso. Você, MP, vai recorrer. Qual é o recurso? Apelação! O que
você vai pedir para o tribunal? O juiz errou. Você vai pedir para o tribunal fazer o
quê com o sursis? 99% vão dizer assim: “ante o exposto, requeiro seja revogado o
sursis.” Nada disso! Você tem que dizer: cassado o sursis. Na próxima etapa da
aula, vamos ver a diferença entre revogação e cassação.

(Intervalo)
c) Revogação vs. Cassação
 Fato superveniente extingue benefício.
 Fato anterior impede o início do cumprimento.

A revogação do sursis ocorre em razão de fato superveniente (condenação


por crime ou contravenção, descumprimento das condições impostas, etc.). A
revogação pressupõe início do benefício. Já na cassação, o fato é anterior que
impede o início do benefício. Ou seja, a cassação evita o início do sursis.

E quais são as hipóteses de cassação? São duas as hipóteses que a


doutrina vislumbra:

1. O não comparecimento do beneficiário na audiência admonitória


(audiência de advertência). O não comparecimento, obviamente,
injustificado.

2. Recurso provido contra a concessão do benefício.

Então, presta atenção! Se o condenado não comparecer na audiência


admonitória, o fato é anterior ao início do benefício, cassação. Se o MP recorre e o
tribunal reforma a decisão, dando provimento ao recurso ministerial, ele cassa o
sursis. Não confundam com revogação! Muito fácil isso, mas o problema é que na
hora da prova a gente não sabe a diferença entre revogação e cassação e pede

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

revogação. O pedido é impossível. Não começou o benefício, como é que você está
pedindo revogação?

8.7. PRORROGAÇÃO DO SURSIS (DO PERÍODO DE PROVA)

O sursis pode ser prorrogado se, eventualmente, está sendo decidida uma
causa de revogação. Vamos ao art. 81, § 2º:

§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por


outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o
prazo da suspensão até o julgamento definitivo.

Por que na hipótese de um beneficiário estar sendo processado por outro


crime ou contravenção, o juiz deve prorrogar o período de prova? Por que? Porque
a procedência dessa ação pode gerar a revogação ou obrigatória ou facultativa.
Isso é fácil.

O que eu quero saber é o seguinte: inquérito policial prorroga o sursis? Você


não está sendo processado por nenhum crime, não está sendo processado por
nenhuma contravenção, mas contra você há um inquérito por conta de um crime.
Existe um inquérito por conta de uma contravenção? Inquérito policial gera
prorrogação? Olhe o dispositivo: “se o beneficiário está sendo processado!” Não
abrange inquérito policial.

Cuidado! Seu examinador pode dificultar na primeira fase: “se o beneficiário


está sendo investigado ou processado.” Investigado, não! Ele tem que estar sendo
processado. Se for só inquérito, deu 2 anos, pronto! Extinta a pena.

Outra observação com relação a esse parágrafo segundo: durante a


prorrogação do período de prova, prorrogam-se também as condições a que ele
está sujeito? O juiz prorroga o período de prova. Ele só prorroga o período de
prova ou, automaticamente, se prorrogam as condições do sursis? Prestação de
serviços à comunidade, limitação de fim de semana, comparecimento mensal,
proibição de frequentar determinados lugares... O que vocês acham? Só se
prorroga o período de prova. Não subsistem as condições impostas. Ou seja,
as condições são cumpridas no tempo normal, não são prorrogadas. Você vai
prestar serviços à comunidade só no primeiro ano mesmo, não vai ficar prestando
serviços à comunidade durante todo o tempo da prorrogação, até porque o
processo pode durar anos.

Prestem atenção: art. 82:

Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido


revogação, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade.

Vocês estão lembrados na aula passada, que eu dei o conceito de sursis e


pedi que grifassem o finalzinho? O que vocês grifaram no final? No final do
conceito de sursis vocês grifaram “extinta a punibilidade.” A doutrina diz:
cumprido o sursis, extingue a punibilidade. Mas não é isso o que diz a lei. A
punibilidade não foi extinta. A punibilidade se concretizou. O que extinguiu foi a
pena privativa de liberdade cuja execução foi suspensa pelo sursis. Então, cuidado!

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

A doutrina diz que o cumprimento do sursis gera extinção da punibilidade. Pessoal,


extinção da punibilidade, não! Extinção da pena privativa de liberdade. Eis a
expressão legal. Na aula passada, confiram, eu pedi para vocês grifarem. Eu falei:
“grifa, que na próxima aula eu vou criticar.” Estou criticando. A lei não fala
“extinta a punibilidade”. A lei fala “extinta a pena privativa de liberdade”. É
diferente!

A doutrina faz a mesma coisa no art. 82. Ao invés de falar em extinção da


pena privativa de liberdade, fala em extinção da punibilidade. Ou seja, não está
obedecendo a redação legal. Só isso! Muito fácil!

Agora eu faço duas perguntas boas e a gente já parte para concurso de


crimes.

1ª Pergunta (caiu na minha fase oral): É possível sursis sucessivo ou


simultâneo? Dá para alguém cumprir dois sursis sucessivamente ou
simultaneamente? Vejam só! Olha que interessante. Vamos supor que você foi
condenado a 2 anos pelo crime de furto e a essa condenação o juiz aplica o sursis.
Suspende a execução também por dois anos. O que acontece? Durante o
cumprimento deste sursis você é condenado a 1 ano por homicídio culposo. E,
neste último caso, o juiz concede o sursis por 2 anos. Quando essa condenação
chega para o juiz da execução, ele está diante de uma condenação por crime
culposo e condenação por crime culposo pode gerar a revogação do sursis ou não.
Vamos supor que ele não queria revogar esse sursis (porque a revogação é
facultativa). Isso significa que ele vai cumprir o sursis que lhe resta e, em seguida
o outro. Nós estamos diante do sursis simultâneo e sursis sucessivo. Vamos anotar:

“É possível sursis sucessivo e simultâneo quando, cumprido o


benefício ou durante o período de prova, o beneficiado venha a ser
condenado por crime culposo ou contravenção penal, hipótese facultativa
de revogação do sursis.”

2ª Pergunta: Quem está cumprindo o sursis pode votar? O sursis


suspende os direitos políticos?

1ª Corrente: Sursis suspende os direitos políticos. Quem está


cumprindo sursis, não pode votar. O fundamento dessa corrente está no art.
15, III, da CF/88 que, para suspender os direitos políticos, exige condenação.
Só. Não importa qual o crime, que tipo de pena ou quantidade da pena.
Basta condenação para suspender os direitos políticos, não importando o
crime ou sua pena.

Art. 15 - É vedada a cassação de direitos políticos,


cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I -
cancelamento da naturalização por sentença transitada
em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III -
condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos;

Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.


Tem condenação? Os efeitos persistem? Você não pode votar. Acabou!

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

2ª Corrente: Sursis não suspende direitos políticos. Qual o


fundamento? O fundamento é o seguinte: os direitos políticos só ficam suspensos
quando seu exercício é incompatível com a pena imposta. Quem está cumprindo
sursis pode ir até o local da votação e votar? Pode! Só suspende se houver
cumprimento de pena em regime fechado.

Vocês devem estar achando: o Congresso do jeito que está, prevalece a


segunda corrente. Não pessoal! Prevalece a primeira corrente. É a posição,
inclusive, do STF. Ou seja, enquanto você não cumprir o período de prova, você
não pode votar. Se teve que prorrogar o período de prova, enquanto não extinguir
o período de prova, você não vai votar em ninguém, muito menos ser votado.

Finalmente, terminamos o sursis. Agora vamos começar concurso de crimes


e aí eu só tenho mais uma aula de Penal Geral, para começar Penal Especial e
torcer para o Lula não mudar mais nada do Código Penal.

CONCURSO DE CRIMES

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

1. CONCEITO E ESPÉCIES

Conceito: “Ocorre concurso de crimes quando o agente com uma ou várias


condutas, realiza pluralidade de crimes.”

Espécies de concursos de crimes:

 Concurso Material
 Concurso Formal
 Continuidade Delitiva

Todos os crimes admitem concurso de delitos? Todas as infrações penais


admitem concurso de delitos ou tem alguma que não admite? Se eu estou
perguntando, é porque deve ter alguma que não admite, não é isso? NÃO! TODOS
ADMITEM! Doloso-doloso, doloso-culposo e culposo-culposo. Todas as infrações
penais admitem concurso de delitos. Umas infranções podem admitir só uma
espécies, outras, somente outras espécies, mas todas as infrações penais
admitem concurso de delitos.

Vamos explicar cada uma das espécies.

Concurso de crimes é um dos assuntos mais importantes que tem. Chato pra
dedéu, mas importante. Importante por que? Despenca em dissertação. Eu nunca
vi! Concurso aparente de normas e concurso de crimes. O examinador tem fetiche
com esses dois temas. Despencam! Conflito aparente nós vimos no Intensivo I.

Agora, ele não é só importante para dissertação. Na magistratura, cai


sentença. E vocês acham que vão ter que sentenciar um crime? Não! É certeza
absoluta que vocês vão ter que sentenciar concurso de delitos. Agora, vocês vão
ter que saber muito bem conflito aparente de normas para não condenar por todos
os delitos, para realizar uma absorção necessária, para enxugar a sentença e
concurso de delitos. Como eu vou aplicar a pena num concurso material, como
aplicar num concurso formal? Vai ter que saber!

2. CONCURSO MATERIAL ou REAL

Sinônimo de material, aqui é substancial? Aqui, não! Aqui é concurso


material ou real! Onde está previsto? Art. 69, do Código Penal:

Concurso Material
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas
de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-
se primeiro aquela.

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão (...), então vejam
que é possível concurso material até em crimes omissivos (não tem restrição
quanto a crimes).

Da simples leitura do art. 69, eu já consigo extrair os requisitos do concurso


material:

2.1. REQUISITOS

a) Pluralidade de condutas (mais de uma ação ou omissão) gerando:


b) Pluralidade de crimes

2.2. ESPÉCIES DE CONCURSO MATERIAL

a) Concurso material homogêneo – quando houver pluralidade de


crimes da mesma espécie.

b) Concurso material heterogêneo – quando houver pluralidade de


crimes de espécie diferente (você rouba e depois estupra). Você, com
pluralidade de condutas, provocou pluralidade de crimes diferentes.

2.3. REGRAS DE FIXAÇÃO DA PENA

Vamos trabalhar com roubo e estupro, lembrando que hoje, o estupro deve
ser encarado em sentido amplo, abrangendo o atentado violento ao pudor.. Você,
juiz, como vai fixar a pena? Concurso de crimes tem que ensinar assim mesmo,
bem “beabazinho”.

Você juiz, vai aplicar a pena para o roubo e depois vai aplicar a pena para o
estupro.

 1º) Vai aplicar a primeira, segunda, terceira fase para o roubo, chega
numa pena definitiva, vai fixar regime e analisar a possibilidade de
substituição ou não. Vamos supor que você chegue numa pena X.

 2º) Vai aplicar a primeira, segunda, terceira fase para o estupro,


chega numa pena definitiva, vai fixar regime e analisar a possibilidade
de substituição ou não. Vamos supor que você chegue numa pena Y.

O que você vai fazer em seguida? Somar as duas penas. Vai somar X com Y.
Pronto. Então, quer dizer que o juiz vai fixar cada uma pena individualizadamente?
Sim. Princípio da individualização da pena. Haverá um tópico na fixação da pena
para cada crime. Se eu sou candidato, eu coloco: “do roubo” e fixo a pena. “Do
estupro” e fixo a pena. E no dispositivo eu aplico o concurso material. Pronto,
acabou. Simples, vai cumprir as penas somadas.

Rogério, você está dando um exemplo em que o roubo e o estupro estão


sendo condenados na mesma sentença. Agora, pode acontecer de o roubo estar
num processo e o estupro no outro. E aí, quem vai fazer essa soma? O juiz da

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

execução penal! É o art. 66, III, a), da LEP. É que no nosso exemplo, os dois crimes
estão no mesmo processo. Mas pode não acontecer isso. Quem vai fazer a soma
das penas é o juiz da execução penal. Art. 66, III, a), da LEP.

No nosso exemplo, não aconteceu isso, mas vocês duvidam que é


perfeitamente possível um dos crimes ter pena de reclusão e outro de detenção?
No nosso exemplo, não foi o que aconteceu (os dois, reclusão), mas vocês
concordam que é perfeitamente possível um ser punível com reclusão e o outro
com detenção? Vocês pegam, por exemplo, homicídio e lesão leve. E aí, como é que
faz nesse caso?

Se um dos crimes é punido com reclusão e o outro com detenção, é só você


observar o final do art. 69, do Código Penal. Olha o que o finalzinho diz: “no caso
de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro
aquela.” Primeiro a reclusão e depois a detenção, mesmo que o tempo da detenção
seja maior. Então, se você cumular detenção com reclusão, primeiro cumpre a
reclusão e depois a detenção.

Não é o nosso exemplo, mas vocês concordam que é perfeitamente possível


o crime X, privativa de liberdade, e o Y ser passível de restritiva de direitos? E
agora? Só vai poder substituir por restritiva de direitos se essa privativa de
liberdade for suspensa. Se não foi suspensa, você não pode substituir por restritiva
de direitos. Onde está isso? § 1º, do art. 69 e a gente nem sabe que existe:

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente


tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
suspensa, por um dos crimes, para os demais será
incabível a substituição de que trata o Art. 44 deste
Código.

O que ele está querendo dizer? Se você aplicar a privativa de liberdade para
um, você não vai poder aplicar a restritiva para outro, salvo se esta privativa
estiver suspensa nos termos do art. 77, do Código Penal (sursis). Você, juiz, se num
dos crimes, impõe privativa de liberdade, você não vai poder substituir os demais
por restritivas de direito, salvo se você conseguiu suspender a execução da
privativa de liberdade (sursis). Senão, esqueça! Jamais haverá privativa de
liberdade com restritiva de direitos! Jamais! Só se a privativa for suspensa!

Agora, prestem atenção! O art. 69, § 2º, resolve o problema quando o juiz
eventualmente tenha que aplicar restritiva de direitos no X e restritiva de direitos
no Y. E se o juiz conseguir aplicar nos dois casos? Aí o art. 69, §2º, diz o seguinte:

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de


direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que
forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

Simples! Qual restritiva de direitos você impôs no X? E qual você impôs no


Y? Elas podem ser cumpridas simultaneamente? Prestação de serviços à
comunidade e prestação pecuniária? Pode. Então, ele vai cumprir
simultaneamente. Elas não podem ser cumpridas simultaneamente, duas
prestações de serviços à comunidade, por exemplo? Então, ele cumpre uma e
depois cumpre a outra.

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

Eu quero saber o seguinte: o concurso material deve ser analisado pelo juiz
no momento de conceder uma fiança?

“Não se concede fiança quando, em concurso material, a soma das


penas mínimas cominadas for superior a 2 anos de reclusão.”

Quem adota isso? STJ! E o Supremo vem seguindo a posição do STJ. É que
essa questão é mais corrente no STJ (interpretação de lei federal).

Você juiz, vai analisar o concurso material para saber se é possível a


suspensão do processo (art. 89, da Lei 9.099/95)? O art. 89, da Lei 9.099 permite a
suspensão condicional do processo. Você tem um estelionato! Um estelionato
admite. Mas em outro processo você tem dois estelionatos! Somo as penas dos
estelionatos para ver se a mínima continua sendo de um ano, ou não? Eu analiso
cada estelionato separadamente? Isso significa que se praticar um estelionato ou
100 estelionatos, em ambos os casos tem direito à suspensão do processo? Deu
para raciocinar, né?

“A suspensão condicional do processo somente é admissível quando,


no concurso material, a somatória das penas mínimas cominadas não
supera um ano (STF).”

Eu não estou falando mais de sursis! O sursis, vocês já viram que ter que ser
considerado mesmo! “Rogério, então eu já entendi: concurso material eu vou
somar sempre!” Quase sempre! Há só um caso que você não soma. Foi nossa
última ou penúltima aula, no intensivo I. Você só não vai considerar a soma na
eventualidade de analisar a prescrição. Art. 119, do Código Penal. A prescrição de
cada crime é individualizada:

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a


extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada
um, isoladamente.

Então, cada estelionato prescreve isoladamente, sem somar as penas. No


nosso exemplo, o roubo vai ter a sua prescrição e o estupro, a dele.

3. CONCURSO FORMAL ou IDEAL

A previsão legal do concurso formal: art. 70, do CP:

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação


ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer
caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Então, vamos entender o concurso formal.

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

3.1. REQUISITOS

a) Conduta única

b) Pluralidade de Crimes

Até agora estávamos falando em pluralidade de condutas. Agora, não. Agora


eu tenho conduta única! Cuidado! Eu tenho conduta única, que não importa
obrigatoriamente em ato único, que não importa obrigatoriamente em ato único.
Isso significa que eu posso ter uma conduta fracionável em diversos atos.

Sabe qual é o exemplo: roubo a ônibus. Se vocês estudarem pelo Código do


Alberto Silva Franco, assaltante de ônibus que entra no ônibus e assalta todos os
passageiros, vocês vão encontrar jurisprudência dizendo que é concurso material.
Se tem 90 passageiros, ele praticou 90 roubos. Você vai multiplicar por 90 a sua
pena. Agora, vejam, uma segunda corrente diz: não! O concurso é formal. Uma
terceira diz: não! O crime é continuado.

STF já deu exemplo: roubo a ônibus é concurso formal. O roubo àquele


ônibus é uma conduta só, que foi fracionada em vários atos. Você vai ver que não
muda muito. Ele vai se ferrar do mesmo jeito porque tem desígnios autônomos em
todos. Vocês vão ver que o MP/SP concorda com o Supremo. Mas é concurso forma
impróprio, vai dar na mesma. Vai somar a pena. A gente concorda com o Supremo.
Desde que se somem as penas.

Visto isto, qual é a diferença do concurso material para o concurso


formal? Eu sei que parece idiota a pergutna, mas não confundam 69 com 70.

CONCURSO MATERIAL (ART. 69) CONCURSO FORMAL (ART. 70)


Pluralidade de condutas gerando Conduta única gerando
pluralidade de crimes pluralidade de crimes
Somente critérios objetivos Somente critérios objetivos
Não se exige unidade de desígnios Não se exige unidade de desígnios

No concurso material você tem pluralidade de condutas gerando pluralidade


de crimes. No concurso formal, você também tem pluralidade de crimes, porém,
conduta única. Em nenhum deles você exige o aspecto subjetivo. Você sempre
trabalha com o aspecto objetivo. Não se exige unidade de desígnios (que seria um
critério subjetivo).

3.2. ESPÉCIES DE CONCURSO FORMAL

a) Concurso formal homogêneo – quando os crimes praticados são


idênticos. Capotamento matando todos os passageiros. O motorista vai
responder por três homicídios culposos em concurso formal. Uma
conduta negligente gerando três homicídios culposos, ele vai
responder em concurso formal pelos três homicídios

b) Concurso formal heterogêneo – quando os crimes praticados são


diversos. O mesmo capotamento, mas uma vítima morre e as outras

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

duas ficam feridas. Uma conduta produzindo três crimes: um


homicídio culposo e duas lesões culposas.

c) Concurso formal perfeito, normal ou próprio – aqui, não há


desígnios autônomos em relação a cada um dos crimes. O agente, com
uma conduta, pratica dois crimes: A e B. O crime A é doloso e o crime
B é culposo. Ou então o A é culposo e o B é culposo. Não há desígnios
autônomos.

d) Concurso formal imperfeito, anormal ou impróprio – aqui, há


desígnios autônomos. Já deu para perceber que o concurso formal
imperfeito ou impróprio só existe nos crimes dolosos, entendendo a
maioria que abrange o dolo eventual. Esse roubo no ônibus é um
concurso formal homogêneo imperfeito porque ele tem um desígnio
autônomo em cada um dos crimes. Ele tem vontade de praticar cada
um dos crimes. Marido encontra mulher na cama com outro: atira
contra os dois: mulher e Ricardão. Concurso formal homogêneo
imperfeito. São dois tiros, configurando dois atos da mesma conduta.
Foi a resposta certa do MP/SP. Mas por que imperfeito? Ele quis matar
os dois. E você vai entender por que aqui é imperfeito: porque aqui
você vai somar as penas, vai ser tratado como material.

3.3. REGRAS DE FIXAÇÃO DA PENA

O que o juiz vai fazer?

 Se eu estiver diante de um concurso formal homogêneo, o juiz vai


aplicar a pena de qualquer um dos delitos. Por quê? Porque são
idênticos.

 Agora, se eu estiver diante de um concurso heterogêneo, o juiz vai


aplicar a pena do crime mais grave.

Cuidado! Seja num, seja noutro, nós estamos diante do sistema da


exasperação. O que significa isso? A pena escolhida será aumentada de 1/6 à
metade. O juiz escolhe a pena de um deles, se idênticas; escolhe a pena do mais
grave, se diversas, e aumenta de 1/6 até a metade.

Então, vamos supor que eu esteja diante de dois homicídios. O que o juiz vai
fazer? Vai pegar a pena de 1 homicídio só, vai aplicar o critério trifásico e, na
terceira fase, vai aumentar a pena de 1/6 à metade.

Vamos supor que eu tenha um homicídio culposo no trânsito e uma lesão


culposa no trânsito. Aí já é heterogêneo. O que o juiz vai fazer? Vai trabalhar com a
pena do homicídio culposo. Primeira fase, segunda fase e na hora que chega na
terceira fase, vai aumentar de 1/6 à metade. Simples. Se as penas são diversas,
escolhe a mais grave, mas no final, vai aumentar de 1/6 até a metade.

E o juiz vai aumentar variando conforme o quê? Conforme o número de


infrações penais. Quanto mais infrações penais você gerou com a sua conduta,
mais próximo de metade. Quanto menos infrações penais você gerou com a sua

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SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

conduta, mais próximo de 1/6. é a posição do STF. 1/6 à metade varia conforme
o número de infrações. Posição do Supremo.

O concurso formal foi feito para beneficiar o réu. Então, é perfeitamente


possível um caso em que um concurso formal acaba sendo pior do que um
concurso material. Quer um exemplo que a doutrina dá? Homicídio doloso mais
lesão culposa. Preste atenção: ele, com uma só conduta, dá um tiro, mata a pessoa
e, por aberratio ictus, ele fere outra culposamente. Eu tenho lesão culposa (129, §
6º). A pena do homicídio é de 6 a 20 anos. A pena da lesão é de 2 meses a 1 ano.
Como houve concurso formal, você vai ter que escolher a pena mais grave. Então,
você vai ter que pegar a pena de 6 anos e majorar de 1/6 à metade. Ainda que você
tenha majorado do mínimo, essa pena de 6 anos vai para quanto? 7 anos. Se você,
ao invés de exasperar, tivesse somado 6 com 2 meses, a pena seria de quanto? 6
anos e 2 meses. Então, para ele foi pior o concurso formal. Então, o que você vai
fazer? Vai esquecer o sistema da exasperação para ele e vai somar. É o chamado
cúmulo material benéfico. Art. 70, § único:

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a


que seria cabível pela regra do Art. 69 deste Código.

O que está dizendo? Se a soma for mais benéfica, não aplique a


exasperação! Se a soma for mais benéfica, você vai ter que somar. É o chamado
cúmulo material benéfico. Isso é pegadinha de concurso. Seu examinador vai dar
um caso de cúmulo material benéfico, hein? É o art. 70, § único. O examinador vai
dar esse caso na prova: homicídio mais lesão culposa. O candidato não vai nem se
preocupar em ver se o cúmulo material era mais benéfico. Já vai, de cara, aplicar o
concurso formal. Então, cuidado! O que vocês vão ter que fazer na prova?

Sempre que vocês estiverem diante de concurso formal próprio, vocês vão
ter que fazer a exasperação da pena e depois perguntar: e se tivesse somado, seria
melhor ou pior? Entenderam? Fácil?

Agora, cuidado! No concurso formal impróprio, esqueçam a exasperação. Se


o concurso formal for impróprio, você vai ter que somar as penas, inevitavelmente.
É o que diz a parte final do art. 70:

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação


ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer
caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de
desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior.

Exasperação é só para concurso formal próprio, se o cúmulo material não for


mais benéfico. Concurso formal impróprio, cúmulo material.

Guardem isso!

 Exasperação é só para concurso formal perfeito e, mesmo assim, se o


cúmulo material não for mais benéfico.

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LFG – PENAL – Aula 05– Prof. Rogério Sanches – Intensivo II – 17/08/2009
SURSIS E CONCURSO DE CRIMES

 Concurso material imperfeito ou impróprio (nós temos o art. 70) tem


que somar as penas. Vai ser tratado, na soma das penas, como se
fosse material.

Então, esse marido que pegou a mulher com o Ricardão, vai responder por
concurso formal impróprio, somando as penas. No ônibus, ele tem desígnios
autônomos (concurso formal, mas impróprio), soma as penas.

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