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'TRANSCRIÇÕES

I EJ cruentos Basilares da . Organização Humana


A,NTO!HO RUBBO MtlLLER

Bacharel em OiênciM Políticas e Sociais) S. Paulo - Bacharel em Oiências) pela /"


Faculdade de Antropologia e Geografia) OJ.:ford

CONTEúDO parativo, mutatis· mutandis, no estudo das socie-


dades hwnanas e da Vida social dos individuos.
O. Diagramas Os diagra mas aqui exibidos são partes es-
1. Sistemas Sociais Especificos senciais do conjunto mínimo indispensável para
2. Ecúmeno - Pais~gem e Panoramas oferecer uma :visão do conSpecto geraL A própria
Cenários - Benfeitorias e Suplementos disposição e sequência dos di·a .gramas fabilitam a
3. Personagens e Agregados análise do todo e a comparação das partes. :msses
4. Comportamento diagramas são instrumentos esq.u emáticos, que
Cânones ' servem como quadro de referência' sinótico para
5. Perfis de Ubiquação e Personalidades o estudo da ORGANIZAÇÃO SOCIAL e da OR-
Estrutura Social GANIZAÇÃO INDIVIDUAL.
I
6. Comunidades Heterogêneas P.ara melhor entendimento, convém ante,s
7. Conjunturas examinar cada diagrama horizontalmente e, em
8. Conclusões seguida, cada sistema., verticalmente, nos dife-
9. Indicações rentes diagramas, de cima para baixo e de bai~
xo para cima. Com isso, os fatos da própria . ex,
O... DIAGRAMAS periência individual virão à tona, devido à qua-
Seis diagramas - didáticos são exibidos nesta lidade .catalitica do gráfico. O próprio leitor pOp
apresentação. sumária da TEORIA DA ORGA- derá, utilizando-se dos diagramas vêzes repeti- '
NIZAÇÃO :gUMANA, sendo os três primeiros das, estabelecer a inteligência de .inúmeros fatos
ilustrados e os três seguintes abstratos. de sua experiência pes~oal, assim tornando-os
Ç>s diagramas sintetizam os conceitos prin- evidentes .
cipais da teoria da organização humana, a sa- O texto que acompanha os diagramas apre-
ber: Sistemas Sociai,s Específicos; Ecúmeno - senta urna n ova teoria da organização humana. '
Paisa.g em e Panoramas - Cenários - Benfei- O texto ' e . os diagramas foram elaborados com
torias e Suplementos; Personagens e Agregados; oemprêgo de termos bem estudados que, em-
Comportamento e Cânones; Perfis de Ubiquação bora tenham acepções fornecidas pelos dicioná-
e Personalidades -' Estrutura' Social; e, final- ~os comuns, devem ser 'agora empregados como
mente, comunidades heterogêneas. _O diagrama termos técnicos, devido às suaS-, conotações so-
de uma comunidad~ heterogênea é uma justapo- ciológicas e a conveniência de se fixar uma ter-
sição de diagramas de comunidades homogêneas minologia intuitiva.
e serve para sugerir a aplicação do método com-
1. SISTEMA SOCIAIS ESPECíFICOS'
Extraido de «Estudós de Antropologia Teóri-
ca e Aplicada» - N.o 5 - Junho de 1957. A ORGANIZAÇÃO HUMANA baseia-se na
Escola de Sociologia e Politica de São Paulo existência de catorze (14) Sistemas Sociais Espe-
- São ·Paulo. cüicos para-autônomos.
TRANSCRIÇõES 69

1l:sses catdrze sistemas sociais especificos são emancipação gradativa; nos sistema~ militar, poU-
os seguintes: De Parentesco (1), Sanitário (2), ti co, jurídico e de precedência.
de Manutenção (3), De Lealda~e (4), De Lazer
(5), Viário (6), Pedagógico (7), Patrimonial (8), 2. ECúMENO - PAISAGENS E PANORAMAS
de Produção (9), Religioso (10), Militar (11), CENARIOS - . BENFEITORIAS E SUPU<;:-
Político (12), <1uridico (13), e fin~lmente, . de MENTOS
,'"-
Precedência (14).
" Os sistemas sociais especüicos, ·dada sua na- Os componentes de uma comunidad,;; fixam-
ture213i para:autônoma, tendem a manter-se em se em seu EcüMENO, isto é, a parte habitável
equilíbrio, sendo que o colapso de um pOde: afe- da PAISAGEM.. Os sistemas sociais especificos
!",tar os demais e até paralizar o organismo social. revestem a paisagem com CENÁRIOS próprios,
Os catorze sistemas s?ciais especificos fa- compostos de benfeitorias e respectivos suple-
cultam a manifestação e desenvolvimento das mentos, dispostos em contiguidade, integrando
disposições essenciais à vida individual e de re- os PANORAMAS, que 'podem ser observados . (; .
laç"ã <i, isto é, possibilitam ~ sua enteléquia e fa- analis'a dos sincrônicamente. 9s cenários repre-
vorecem a continuidade do grupo. sentam artifícios de adatação ao meio ambiente.
Em condições naturais, os cenários podem apre-
s ..
j
'
sentar-se
dos. '
de forma incipiente ou pouco elabora-
o
Os cenários principais de cada ecúmeno co-
c munitário, inerentes aos catorze sistemas sociais
1 específicos, são os seguintes : domicilios "e ,quin-
tais, .j(l) Parentesco; nosocÔ'mios e suas instala-
DESENVOLVIMENTO li ções, (2) Sanitário; negôcios e praças, (3) Ma-
nutenção; clubes e pontos, (4) Lealdade; logra-
1
douros e estágios, (5) Lazer; vias e estações,
, (6) Viário; escolas e bibliotecas, (7) Pedagógico;
B1 o 1 Óg 1 Q o propriedades e bancos, (8) Patrimonial; oficina...
e campos, (9) Produção; templos e adros, (lO) ,
Religioso; quarteis e acampamentos, (11) Militar;
PRECED.tNClA

JURIDICO
H
'. paços e diretórios, (12) Político; tribunais e ~r­
l'OLIrrcO
tórios, (13) Jurídico; e, finalmente, mansões e
la
~n.lTAlI 11
recantos, (14) Precedência.
RELlcroso ID Os 'a spectos da paisagem em geral e dos ce-
'R()[",çlD
• nários em particular podem .:variar conforme as
PATRIltOH1A.L

n.:OACÔClrco
• estações do ano, as ocorrências próprias aos sis-
1 temas sociais específicos, os àcontecimentos re-
v1ÁJllo
Ó
correntes ou mesmo extemporâneos.
WER
;
Para a eficiente análise sincrônica dos -pano-
LEALDADE

IU..'ft1TENÇÃO
• , ramas, que se sucedem no per·c urso de uma pai-
I
SIJI'I'J'A.'UO 2 sagem, o observador deve concentrar-se nesse
PAROrrESCO 1 mister e visar a linha do horizonte, para poder
...
U.
ti

,.
identificar,
, prontamente, em tôda a, extensão e
o IDADE o. o. o• .. .. 1.· 7
'" 17 21
profundidade do campo . visual, cada cenário e,
neste, cada um de seus elementos componentes.

A presente seriação dos sistemas sociais es- 3. PERSONAGENS E AGREGADOS


pecificos rela.ciona-se ao desenvolvimento bioló-
". gico psíquico e social do indivíduo, desde sua Nos CE~ARIOS é que estão surtos os PER·
emergência no sistema de parentesco até sua SONAGENS E AGREGADOS.
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TRANSCRIÇOES, 71

Os personagens básicos e respectivos agre- tadiamente significa trabalho; 'a lternativamente,


gados, inerentEfs aos, catorze sistemas sociais es- cumprir agenda usofrutuàriamente -é beneficio ..
pecificos, são os seguinfes: Parente e Tribo, (1) Os correlativos trabalho-benefício e dever-direito
Parentesco; Higiário * e População, (2) Sanitá- se correspondem e indicam fenômenos que são
rio ; Freguês e Freguesia, (3) Manutenção; Ca- imperativos em ca(,ia sistema soci:al especifico.
marada e Companhia, (4) ~aldade; Certamista O incumbente, no desem.penho de agenda, es-
e Público, (5) Lazer; Itinerante e Multidão, (6) tá sempre sujeito a praxes, que podem ser facul-
Viário; Intelectual e Colégio, (7) Pedagógico; tativas ou obrigatórias. As praxes são condicio-
Dono e Corporação, (8) Patrimonial; Pro4utor e nadas por crenca·s , derivadas ou formadoras de
Emprêsa,' (9) Produção; Devoto e Igreja, (10) utopias ou ideologias.
,.. Religioso; Soldado e Nação, (11) Militar; Cida- Os incumbentes, e'lll contacto, servem, se de
dão e Povo, (12) Politico; Parte e Coletividade, universos de ,discurso, convencionados por meio
(13) Jurídico; e, finalmente, Fautor e Sociedad'!, de idiomas e dialetos, com seus simbolos, isto é:
(14), Precedência. _ palavras, gestos, e~pressões faciais, meneios, en-
Cada individuo é um ente social polivalente, tonações de voz fi outros sinais significativos e
constituido pelos personagens básicos e visivel se prevalecem de valores - positivos, relativos
na paisagem como ora um ora outro perso~em ou nega~ivos, podendo estar habilitados a aplicar
incumbente, identific ~vel pela indumentária p'e~­ sanções - apreciativas (elogios), reticentes (to-
tinente -ao agregado a ' que estiver vinculado mo- lerância), ou depreciativas (penalidades). Os in-
mentânea ou permanentemente e pela atitude cumbentes
, podem delegar, eventualmente, esta
implicita na coaptação. função a autoridades instituídas, com mandatos

4. COMPORTAMENTO
.
OANONES
ou~orgados informalmente - autoridade intrín-
seCa., ou formalmente - autoridade extrinseca.

A ATITUDE do personagem lncumbente re- 5. PERFIS DE UBIQUAÇAO E PERSONALI-


vela o comportamento estabelecido e decorrente DADES - ESTRUTURA SOCIAL
dos cânones. O comportamento dos incumbent~s '
é sempre especifico e cunhado pelos cânones dos 9s atos dos personagens evocam suas res-
.
, respectivos agregados. ponsabilidades. As responsabilidades defluem das
Os individuos estão 'sempre cumprindo agen posições dos incumbentes nas hierarquias de ca-
da em cronogramas dos sistemas sociais espe- da sistema social especifico.
. ,
cificos. Os cronogramas em geral existem dE As hierarquias fixam 'a s relações d'e ascen-
maneira para-consciente, sendo observados em" ,dencia e subordinação entre os componentes dos
piricamente, com precisão variável; todavia, as _ respectivos agregados e,determinam as compe-
comunidades procuram harmonizar os cronogra- tências dos incumbentes, as quais são demarca-
mas dos sistemas sociais especificos e consequen- das por .termos correlativos" vocativos. Cada sis-
temente as agendas individuais de seus habitan- tema social especifico tem a "sua própria nomen-
tes. clatura de correlativos, que é· necessário deter-
As agendas compõem-se de atos aprazados, minar em cada comunidade.
atos não aprazados e atos Imprevistos. O ato As relações sociais são sempre de ascendên-
denota a agenda e a agenda denota o incumben- cis e subordinação: o tratamento equivalente é
te, O mesmo individuo pode ser visto na pa~sa- mera ficção, apesar da ocorrência de correlati-
gem cumprindo várias agendas ' concomitantemen- vos homógrafos. Os correlativos "'designam os
, te, sendo uma sempre essencial e as outras 'aces- papeis que são desempimhados pelos incumben-
sórias. As agendas são cumpridas prestadiamen- teso
te ou usofrutuàríamente, constituindo deveres e As hierarquias dividem o espaço social em
direitos, respectivamente. Cumprir agenda pres- camadas, A camada superior constitue a 'elite,
as camadas média e inferior constituem 'a massa
.. Higiário -' Termo cunhado pelo autor do e a camada subjacente .c onstitue a ralé. Elites
presente ensaio, precàriamente, para designar o e massas tendem a funcionar harmônicamente .
individuo enquanto portador de higidez, A ralé de cada' agregado é formada pelo número
72 ELEMENTOS BASILARES DA ORGANIZAÇÃO HUMANA

de personagens desajustados. Para 'a indicação ,O perfil de ubiquação do indivíduo no espa-


das ralés, em cada sistema social específico, os ço social se projeta pari pàssu ao seu desenvol-
designativos são os seguintes: gentalha, (1) Pa- vimento biológico. Essa projeção é acompanha-
rentesco; escória, (2) S'a nitário: súcia, (3) Manu- da de ritos de passagem, integrando-o como per-
tenção; velhaca da, ( 4) Leaídade; gandaia, (5 ) sonagem em cada agregado. A projeção do per-
Lazer; populacho, (6) Viário; malta, (7) Peda- fil se completa ao atingir o sistema de prece-
~
gógic~; corja, (8) Patrimonial; matulagem, (9) dência, quando o indivíduo atinge também sua
Produção; gentilid3ide, (10) Religioso; ~terva, emancipação cronológica. Há um outro movi-
(11) Militar; cangaço (12) Político; canalha, (13) mento do perfil de ubiquação e que se processa
Jurídico; e, finalmente, escwnalha, (14) Prece- verticàlmente, para efeito de carreira, o que re- ')
d~ncia. per,cute no sistema de ·p recedência, cujo proto-
O Perfil de ubiquação * é 'a ligação das po- colo definirá a representação social do ~ndivíduo.
sições do indivíduo nas hierarquias dos sistemas A personalidade do individuo resulta do S~ll
sociais específicos. A inci,dência do perfil de ajustamento ao rêspectivo perfil de ubiquação .
ubiquação se dá nas camadas do espaço social. O desenvolvimento acidentada da personalidade
Cada perfil de ubiquação é necessàriamentl\ uní- pode causar ao indivíduo traumatismos às ve-
voco, embora vários possam ser englobadoS"nu- zes insuperáveis. A personalidade bem equilibra-
ma só categoria. Há um perfil que é superjacen- da é aquel'a que não sofre choques quando o in-
te e confere soberania social efetiva, enquanto cumbente tiver de passar de um a outro 'perso-
os perfis subjacentes são de inanidade social par- nagem, acionandd-se automàticamente o espec-
cial e, em casos extremos, de inanidade so- tro latente respectivo, ou quando tiver de assu-
cial total. Os perfis de ubiquaçãodevem ser de- mlr papeis diferentes,' conforme as cop.tingências
terminados in loco, o que se consegue verifican- interiores ou 'a s solicitações exteriores. Os gê-
do como os indivíduos se ' colocam nas ocasiõi!s meos são titulares competitivos para o mesmo
em que é mister .p erfilar, como por exemplo perfil de ubiquação, devido sua compleiçãoequi-
quando devem passar por uma porta ou quando voca. A emergência de gêmeos apresenta-se co-
devem entrar em forma em diferentes sol~nida­ mo problema grave de primogenitura principal-
mente em caso de monarquia hereditári'a, devi- ,\
.-
des.
A faculdade de operar o perfil de ubiqua- do à rivalidade potencial na operação de um per-
ção é controlada pelas sanções, que são insdtu- fil de ubiquação singular e univoco por exce-
cionais, isto é, inerentes B;0S sistemas sociais es- lência: é como se foram xi(ópagos, incapazes de p ,
pecificos; a sanção depreciativa mais forte é a biografias autônomas.
- que reduz o personagem à I inanidade social, e a O complexo de hierarquias e o conjunto dos
. mais radical é a que retira do individuo a fa- perfis de ubiquação compõem a estrúturasocial
culdade de operar o seu perfil de ubiquação de uma comunídade. A estrutura social plasma
in totum, permanentemente, pelo exílio, reclusão a organização social e a ortanização individual.
ou morte. A estrutura social é muito estável, enquan-
A exposição do indivíduo a contactos sujei- to que Os cânones são mais sujeitos a mudanças
ta-o ao .p ronto desempenho de papeis, p~oYoca­ ou variações. O fato de a estrutura social ser
dos .p elos vocativos empregados pelos interlocu- muito estável faz com que indivíduos sucedam
tores, presentes ou ausentes, por meios diretos seus ancestrais nos perfis de ubiquação e os per-
ou indiretos. O indivíduo exposto está sempre su- fis intercalares sejam legados aos'\ p6steros, pos-
jeito a passar de um personagem a outro ou de sibilitando aos que desenvolveram biografias au-
um- papel a outro, até em fraçÕes de segundo, tênticas que as tornem prospectivas para os com-
o que o impele a adquirir a conveniente versati- ponentes das gerações sucessivas.
lidade. P'a ra o indivíduo que não deseja expor-
se há uma ficção, que consiste em fazer~se in" 6. COMUNIDADES HETEROG®NEAS
cógnito . .
Na povoação ,da área habitável de uma ·p ai-
>!< Perfil de ubiquação - Noção concebida pe- sagem, seus .habitantes formam, por propinqui- '"
lo autor do presente ensaio. dade, uma comunidade, que pode 'ser considera-
, '
T~ANSCRIÇÕES .
I
73

da quanto à sua enteléquia, fru1ção principal e e (12) Político; tribunocracia e (13) Jurídico; e,
composição étuica. fimilmente, absolutismo e (14) Precedência.
Quanto à sua enteléquia, as comunidades Nota - Achucando-se, nos diagramas, o
encontradas nas diferentes paisagens podem ser: sistema social especifico predominante, re,:ela-
embrionárias (1), mirins - micro- comunidades se aquele que, na conjuntura, mantém hegemonia,
(2), médias (3) e guaçús - macro-comunidades inferindo-se o respectivo regime.
(4). A enteléquia de cada comunidade está na
dependêncire.. de recursos que lhe possibilitem 2. Tensões Sociais
atingir e mà nter o esplendor concebido pelas
ideologias dos sistemas sociais específicos, como Quando um sistema social específico exor-
partes integrantes e coerentes da ideologia ge- bit a de suas funções, tensões sociàis tendem a
ral. ocorrer, da mesma maneira como quando as eli-
A função primordial de cada comunidade tes se excedem em opressão ou lassidão, ficando
realça-se pela pre\lominância de um sistema so- comprometidas \ as reciprocidades. Para as for-
cial específico sôbre os demais, que é o que lhe mas de supressão do apoio mútuo, há também
o
determina regime ' e lhe ,c ondiciona o equilíbrío. termos correntes, embora nem sempre explícit:a-
As comunidades, . do ponto de vista étnico, mente correlacionados debaixo de uma vista de
podem ser homogêneas e heterogêneas. Comuni- conjunto e que são os seguintes: repúdio e (1)
dades heterogêneas são as que se compõe ,d e duas Parentesco; retraimento e (2) Sanitário; boicote
ou mais etnias. A presença de várias etnias em e (3) Manutenção; hostilidade e (4) Lealdade;
uma comunidade subentende a existência de sec- indiferença e (5) Lazer; obstrução e (6) Viário;
cionamento nos agregados dos sistemas sociais absellteismo e (7) Pedagógico; Sonegação e (8)
especificos, com hierarquias próprias, variando Patrimonial; greve e (9) Produção; heresia e (10)
os cânones de etnia papa etnia. Nas comunidades Religioso; opróbrio e (11) Militar; desconfiança
heterogêneas, ocorrem simbioses e sincretismos, e ( 12) Político; revelia e (13) Jurídico; e final-
enquanto não há fusão -das hierarquias institucio- mente, desprêso e (14) Precedência.
nais, integração dos cânones étnicos e assimila-
ção dos' alotoctones por meio da multipliqação 3. Explosão Demográfica e ótimo COmunitário
de perfis de ubiquação. Os habitantes de comu-
nidades heterogêneas são dotados de personalida- Quando uma comunidade ultrapassa o seu
des polivalentes, com índoles complexas. esplend.9r, crescendo desmesuradamente, o fun-
\ \ cionamento normal dos sistemas sociais especi-
7. CONJUNTURAS -ficos é afetado; os elementos autóctones podem
ne'c'essitar de alotóctones quando o crescimento
1. Hegemonia de~ográfico é insatisfatórío para manter uma

. determinada estruturaI social; e quando o cresci-


Frequentemente, um sistema social especí- mento demográfico é incontido os recursos po-
fico predomina sôbre os demais, exercendo he- dem não comportar uma comunidade maior, sen-
gemonia e ditando-lhe o regime, durante perío- do necessário recorrer à imigração ou conquista.
dos variáveis, Para os excessos, no exercício des-
sa hegemonia, de que a históría apresenta mui- 8. , CONCLUSõES
tos casos, há mesmo termos consagrados pelo
uso, embora nem sempre conscientemente cor- O isolamento dos catorze sistemas sociais
relacionados, como, por exemp~o, os seguintes: específicos, como foram aqui apresentados, é
paternalismo e (1) Parentesco; racismo e (2) o resultado de pesquisas que venho realizando,
Sanitário; mercantilismo e (3) 'Manutenção;, fa- estribado na hipótese de sua existência para-
voritismo e (4) Lealdade; promiscuidade e (5) autônoma, vislumbrada em 1941, no decorrer do
Lazer; nomadismo e (6) Viário; academismo e primeiro ano de ensino da Antropologia Sodal
(7) Pedagógico I capitalismo e (8) Patrimonial; na Escola de Sociologia e Política de São Pau-
tecnicismo e (9) Produção; clericalismo e (10) lo, após um ano de estágio (1939-1940) no Ins-
Religioso; caudilhismo e (11) militar; dirigismo tituto de Antropologia Social da Faculdade de

".
74 ELEMENTOS BASILARES DA ORGANIZAÇÃO HUMANA

Antropologia e Geografia da Universidade 'de Ox- 9. INDICAÇõES


ford. O enunciado dessa hipótese foi publicado
pela primeira , vez em 1947, na revista Sociolo- 1. Vantagens
gia, Volume IX, n.o 3, em artigo intitulado «SÔ-
bre Paradigma em Antropologia Social». De Uma das preocupações atuais da Antropo-
1948 a 1949, de volta a Oxford, dediquei-me '1 logia Social é tornar-se útil ao próprio homem.
elaboração da hipótese, transformando-a numa
tese com dado~ etnográficos de duas sociedades Entre as aplicações práticas destacam-se as
autóctones da ~mérica do Sul: os Incas, do Peru seguintes: (1) Relações Humanas; (2) Relações
e os Ramkokamekra, do estoque Gê. Públicas; (3) Urbanismo; (4) Relações Intér-
Comunitárias; (5) Política Migratória; (6) Mu-
Como está escrito no artigo citado, a hipó- dança Social orientada; (7) Desenvolvimento In-
tese mencionava, de forma explicita, os sistemas ,d ividual e Soci'a l; (8) Psicoterapia de Grupo, e
de que os cientistas ..sociais já cogitavam e su- etc.
punha a existênda de' outros que era preciso de-
terminar, sem que permanecessem resíduos, para Outra vantagem que se apresenta é na ,c om-
consegUir-se uma teoria ' .global relativa às so- preensão da cultura. Cultura em sua acepção de
ciedades 'h umanas e à , vida social dos indivíduos. civilização é o conjunto dos cânones: (1) agen-
das, (2 ) praxes, (3) crenç'a s, (4) símbolos; (5)
Entre os sistemas de que os cientistas so- valores e (6)' sanções; em sua acepção de erudi-
ciais já cogitavam, constava o «sistema econô- ção, é o conj unto das disciplinas corresponden-
mico». As experiências demonstravam, todavia, tes aos cânones: (1) planejamento; (2) pragmá-
tica; (3) epistemologia; (4) semântica; (5) éti-
que o que se vem designando como «sistema eco-
ca; e (6) crítica.
nômico» não é um sistema sodal especifico,' e
sim um conjunto formado por certos sistemas s~- 2 . Reconhecimentos
ciais especificos passíveis de tratamento mone-
tário, isto é, sujeitos à penetração da moed!i. Em comunidades embrionárias, alguns siste-
Esta verificação é importante para terem-se na mas sociais específicos podem estar latentes e
englobados em outros; em comunidades mirins,
devida conta os chamados elementos intercor- os sistemas podem ser nítida mente identifica-
rentes a que se atribui fracassos de planeja- dos; em comunidades médias, os sistemas se
mento. apr.esentam com mais intensidade, dificultando
o sát reconhecimento ao neófito; em comunida-
O isolamento dos sistemas socIaIS especifi- des guaçús, a complexidade dos sistemas ,p ode
cos que constituem a Organ~zação Social , tam- ser tal qUe sua disposição pode parecer caótica.
bém permitiu a elaboração da teoria da estrutu-
ra social, e consequentemente a concepção da O processo' de reconhecimento mais adequa-
idéia de perfU de ublquação, relevante ao estudo do para o exame dos 'sistemas sociais específi-
da personalidade. cos, portanto, consisfe na identificação dos ce-
nários e personagens em comunidades mirins,
Hodiernamente, a vida social dos individuos que servirá para perceber, pelo contraste, os mes-
é objeto de estudo de uma nova disciplina cha- mos fenômenos em outros tipos de comunidade,
ma da «Psicologia Soelal», combinando a Psico- o que se consegue surpreendentemente, como
logia ê om a Antropologia Social. Na teoria aqui poderão testemunhar dezenas de 'a lunos que, des-
esboçada, sua área seria melhor indicada pelo de o segundo semestre de 1955 até o segundo se-
.,
diagrama referente aos <<Personagens e Agreg~ mestre de 1956 se submeteram voluntàriamente
dos», combinado com o diagrama relativo ao a essa prova, com tôda a liberdade de critica, em
«Perfil de Ublquação e Personalidad.e - Estru- excursões na periferia da cidade de São Paulo,
tora Social»: em suma, o que aqui se convencio- nas imediações do munic1pio e no interior do -, .
nou chamar de «Organização Individual». Estado. *

"".
TRANSCRIÇõES 75

Os atos dos individuos e os cànones devem • A mesma experimentação foi prosseguida


ser interpretados, para inteligência da dinâmica no primeiro semestre de 1957, com alunos pós-
graduados nas Secções de Sociologia e Antropo-
psico-social. Uns e outros devem ser interpre-
logia 1) e de Economia (2), com os mesmos re-
tados como símbolos. Tudo que tem significação sultados.
é um símbolo. E' necessário determinar os atri- gar de outtos, em consequência de inibições ou
butos e verricar os que .se apresentam como te- conveniências, assim como descobrir os veiculos
utilizados para lhes dar forma, favorecendo a
mas constantes, a . fim de serem isolados os fo-
transposição de significados semelhantes impli-
cos de onde emanam os princípios norteadores
cados em configurações análogas.
das ações humanas. Atos e expressões frequen-
temente são alegóricos, sendo necessário consta- Escola de Sociologia e Política de São Paulo
tar qu~ndo uns at>~butos são empregados em lu- I 19 de maio de 1957.

NOVO MAPA DO RIO GRANDE DO SUL ·,


liII
II
Foi aprovado pelo Diretório Regional de Geografia um
mapa geral do Rio Grande do Sul, organizado pela Seção de li
Cartografia da Editôra Globo S. A., na escala de 1:750.000. li
A comissão designada para revisar o mapa, constituida -pe·-
los Consultores técnicos; engenheiro Walter Haettinger, Pro-
fessora Eddy Flôres Cabral, Osman Velasques Filho e Pro-
fessor Hans Augusto Thofehrn, chegou às seguintes conclu-
·sões:
a) Louvar a iniciati~.a da Editôra Globo de elaborar um
trabalho geográficos de ótimas caraterÍsticas, cooperando
". assim para a maior difusão de conhecimentos geográficos sô-
bre o Rio Grande do Sul;
b) Recomendar as retifiéações sugeridas no decorrer
do relatório para as futuras edições;
c) Propor seja permitido, mediante consulta ao egrégio
Diretório de Geografia e audiência do Sr. Diretor de Terras
e Colonização, apôr a legenda «Com a colaboração da Seção
de Geograf~a da Diretoria de Terras e Colonização da Secre-
taria da Agricultura, Indústria ~ Comércio e aprovado pelo
Diretório Regional de Geografia;·
d) Reiterar a conveniência de serem as publicações geo-
gráficas ou cartográficas, submetidas à aprovação dos Dire-
tórios de Geografia, a fim de prestigiar os bons trabalhos e
melhorar o padrão das obras de cunho científico.
O parecer da Comissão Revisora mereceu a \integral
aprovação do Diretório Regional de Geografia. I

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