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LEI 13.019/2014
(Regime jurídico das parcerias voluntárias)
Elaborado em 02/08/2014
Márcio André Lopes Cavalcante
I – NOÇÕES GERAIS
A Lei aplica-se para órgãos e entidades não apenas da União, como também dos Estados, DF e Municípios.
Logo, rege a administração pública federal, estadual, distrital e municipal.
Repare que a Lei não regula parcerias firmadas por empresas públicas e sociedades de economia mista
exploradoras de atividades econômicas.
- que não distribui para ninguém (sócios, associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores etc)
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- nenhum tipo de dividendo, bonificação, resultado, sobra etc. auferido pelo exercício de suas atividades.
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Obs: os recursos angariados deverão ser aplicados integralmente pela OSC na consecução do seu objeto
social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva.
As disposições da Lei n. 13.019/2014 são aplicáveis para reger o termo de parceria celebrado entre a
administração pública e a OSCIP?
SIM. A Lei n. 13.019/2014 aplica-se, no que couber, às relações da administração pública com as entidades
qualificadas como organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP), de que trata a Lei n.
9.790/99.
II – CHAMAMENTO PÚBLICO
Introdução
A administração pública pode fazer transferências voluntárias de recursos para organizações da sociedade
civil com o objetivo de que sejam realizados planos de trabalho em regime de mútua cooperação.
A organização da sociedade civil que receberá tais transferências será selecionada por meio de um
procedimento nominado de “chamamento público” e, após escolhida, deverá celebrar um “termo de
colaboração” ou um “termo de fomento” com a administração pública.
Guardadas as devidas diferenças, esse chamamento público funcionará como se fosse uma licitação, ou seja, um
processo seletivo (competitivo) para selecionar a organização que melhor poderá executar o projeto.
Esse é o ponto mais interessante e importante da Lei, considerando que essa seleção pública busca evitar a
escolha das ONGs que irão receber os recursos com base em interesses pessoais e preferências
políticas/ideológicas.
Veja a definição que é dada pela Lei n. 13.019/2013 em seu art. 2º, XII:
XII - chamamento público: procedimento destinado a selecionar organização da sociedade civil para firmar
parceria por meio de termo de colaboração ou de fomento, no qual se garanta a observância dos princípios
da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são
correlatos;
Esse chamamento público é obrigatório para a celebração de qualquer modalidade de parceria, salvo
algumas exceções previstas na Lei n. 13.019/2013 e que serão vistas mais abaixo.
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São vedadas cláusulas que restrinjam o caráter competitivo e estabeleçam preferências ou distinções em
razão da naturalidade, da sede ou do domicílio dos concorrentes ou de qualquer outra circunstância
impertinente ou irrelevante para o específico objeto da parceria.
Será impedida de participar da comissão de seleção pessoa que, nos últimos 5 anos, tenha mantido relação
jurídica com, ao menos, uma das entidades em disputa.
A Lei n. 13.019/2013, contudo, traz exceções nas quais o chamamento público não será obrigatório.
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À semelhança do que ocorre com as licitações, a Lei n. 13.019/2013 prevê situações em que o
chamamento é dispensado e outras em que o procedimento é inexigível.
Para os fins desta Lei, administrador público é o agente público, titular do órgão ou entidade, competente
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A proposta a ser encaminhada à administração pública deverá atender aos seguintes requisitos:
I - identificação do subscritor da proposta;
II - indicação do interesse público envolvido;
III - diagnóstico da realidade que se quer modificar, aprimorar ou desenvolver e, quando possível, indicação
da viabilidade, dos custos, dos benefícios e dos prazos de execução da ação pretendida.
Preenchidos os requisitos acima, a administração pública deverá tornar pública a proposta em seu site na
internet e, verificada a conveniência e oportunidade para realização do Procedimento de Manifestação de
Interesse Social, o instaurará para oitiva da sociedade sobre o tema.
Obs2: a realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social não dispensa a convocação por
meio de chamamento público para a celebração de parceria.
Introdução
Como vimos acima, a administração pública pode fazer transferências voluntárias de recursos para
organizações da sociedade civil com o objetivo de que sejam realizados planos de trabalho em regime de
mútua cooperação.
A organização da sociedade civil que receberá tais transferências será selecionada por meio de um
procedimento nominado de “chamamento público” e, após escolhida, deverá celebrar um “termo de
colaboração” ou um “termo de fomento” com a administração pública.
Caso o parecer técnico ou o parecer jurídico de que tratam, respectivamente, os incisos V e VI acima
conclua pela possibilidade de celebração da parceria com ressalvas, deverá o administrador público cumprir
o que houver sido ressalvado ou, mediante ato formal, justificar as razões pelas quais deixou de fazê-lo.
Para os fins da Lei n. 13.019/2014, dirigente é a pessoa que detenha poderes de administração, gestão ou
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Transparência e controle
No início de cada ano, a administração pública deverá publicar os valores aprovados na lei
orçamentária para a execução de programas e ações do plano plurianual em vigor, que poderão ser
executados por meio de parcerias com as organizações da sociedade civil.
A administração pública deverá manter, na internet, a relação das parcerias celebradas, em ordem
alfabética, pelo nome da organização da sociedade civil, por, no mínimo, 5 (cinco) anos.
De igual forma, a organização da sociedade civil deverá divulgar na internet e em sua sede todas as
parcerias celebradas com o poder público.
Por fim, a administração pública deverá divulgar pela internet as formas por meio das quais qualquer
pessoa possa apresentar denúncias sobre a aplicação irregular dos recursos transferidos.
Impedimentos
Ficará impedida de celebrar qualquer modalidade de parceria prevista na Lei n. 13.019/2014 a organização
da sociedade civil que:
I - não esteja regularmente constituída ou, se estrangeira, não esteja autorizada a funcionar no território nacional;
II - esteja omissa no dever de prestar contas de parceria anteriormente celebrada;
III - tenha como dirigente agente político de Poder ou do Ministério Público, dirigente de órgão ou entidade
da administração pública de qualquer esfera governamental, ou respectivo cônjuge ou companheiro, bem
como parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o segundo grau;
IV - tenha tido as contas rejeitadas pela administração pública nos últimos 5 anos, enquanto não for sanada
a irregularidade que motivou a rejeição e não forem quitados os débitos que lhe foram eventualmente
imputados, ou for reconsiderada ou revista a decisão pela rejeição;
V - tenha sido punida com sanções administrativas, pelo período que durar a penalidade;
VI - tenha tido contas de parceria julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal de Contas, em decisão
irrecorrível, nos últimos 8 (oito) anos;
VII - tenha entre seus dirigentes pessoa condenada pelo Tribunal de Contas, punida por infração
administrativa grave ou condenada por ato de improbidade administrativa, enquanto durarem os efeitos
das sanções impostas.
Em qualquer das hipóteses acima previstas, persiste o impedimento para celebrar parceria enquanto não
houver o ressarcimento do dano ao erário, pelo qual seja responsável a organização da sociedade civil ou
seu dirigente.
Vedações
A Lei n. 13.019/2014 prevê que a parceria celebrada entre a administração pública e as organizações da
sociedade civil será destinada à realização de finalidades de interesse público.
Contudo, não é toda e qualquer atividade de interesse público que pode ser realizada pela OSC.
Nesse sentido, o art. 40 da Lei prevê que é vedada a celebração de parceria que envolva, direta ou
indiretamente:
I - delegação das funções de regulação, de fiscalização, do exercício do poder de polícia ou de outras
atividades exclusivas do Estado;
II - prestação de serviços ou de atividades cujo destinatário seja o aparelho administrativo do Estado.
ou outros bens.
Introdução
A administração pública está obrigada a realizar procedimentos de fiscalização das parcerias celebradas
antes do término da sua vigência, inclusive por meio de visitas in loco, para fins de monitoramento e
avaliação do cumprimento do objeto.
A partir disso, a administração pública emitirá relatório técnico de monitoramento e avaliação da parceria e
o submeterá à comissão de monitoramento e avaliação, que o homologará.
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Gestor
Além da comissão de monitoramento, a administração pública designará um agente público que ficará
responsável pela gestão da parceria, tendo poderes de controle e fiscalização.
Obrigações do gestor
São obrigações do gestor:
I - acompanhar e fiscalizar a execução da parceria;
II - informar ao seu superior hierárquico a existência de fatos que comprometam ou possam comprometer
as atividades ou metas da parceria e de indícios de irregularidades na gestão dos recursos;
III - emitir parecer técnico conclusivo de análise da prestação de contas final;
IV - disponibilizar materiais e equipamentos tecnológicos necessários às atividades de monitoramento e
avaliação.
Obs: essas medidas devem ser tomadas exclusivamente para assegurar o atendimento de serviços
essenciais à população e a fim de realizar ou manter a execução das metas ou atividades pactuadas.
V – PRESTAÇÃO DE CONTAS
A organização da sociedade civil está obrigada a prestar as contas finais da boa e regular aplicação dos
recursos recebidos no prazo de até 90 dias a partir do término da vigência da parceria, conforme
estabelecido no respectivo instrumento.
Constatada irregularidade ou omissão na prestação de contas, será concedido prazo para a organização da
sociedade civil sanar a irregularidade ou cumprir a obrigação.
A administração pública terá como objetivo apreciar a prestação final de contas apresentada, no prazo de
90 a 150 dias, contado da data de seu recebimento, conforme estabelecido no instrumento da parceria.
I - regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a
legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão do responsável;
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II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falta de natureza
formal de que não resulte em dano ao erário;
Novidades Legislativas comentadas
III - irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:
a) omissão no dever de prestar contas;
b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico, ou de infração a norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial;
c) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico;
d) desfalque ou desvio de dinheiro, bens ou valores públicos.
VI – RESPONSABILIDADE E SANÇÕES
Introdução
As organizações da sociedade civil que descumprirem os termos da parceria firmada, ou praticarem outros
ilícitos, poderão sofrer sanções administrativas e até responder por ato de improbidade administrativa.
Além disso, os dirigentes, gestores, administradores públicos poderão também ser responsabilizados na
esfera penal caso suas condutas caracterizem-se como crime.
A sanção estabelecida na letra “c” é de competência exclusiva do Ministro de Estado ou do Secretário Estadual
ou Municipal, conforme o caso, facultada a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de 10 dias
da abertura de vista, podendo a reabilitação ser requerida após 2 (dois) anos de sua aplicação.
De igual forma, também poderá ser responsabilizada a pessoa que atestou ou exarou parecer técnico
afirmando que a organização realizou determinadas atividades ou cumpriu as metas exigidas e, ao final, se
constate que isso não ocorreu.
Atenção: a Lei n. 13.019/2014 NÃO previu, expessamente, a responsabilidade do profissional que emitiu o
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parecer JURÍDICO.
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a
entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie;
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
públicos transferidos pela administração pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem
a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da administração pública com
entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita
observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.
(...)
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente:
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas
pela administração pública com entidades privadas.
pela legislação vigente ao tempo de sua celebração, sem prejuízo da aplicação subsidiária da nova Lei,
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naquilo em que for cabível, desde que em benefício do alcance do objeto da parceria.
De acordo com a nova Lei, o instrumento CONVÊNIO ficará restrito a parcerias firmadas entre os entes
federados (art. 84). Ex: convênio entre União e o Estado do Ceará.
Para as parcerias entre a administração pública e a OSC, o instrumento adequado passa a ser o termo de
colaboração ou o termo de fomento, conforme já explicado.
Observação final
Apesar da boa intenção na edição da Lei, percebe-se que se trata de um diploma que ainda apresenta
diversos pontos polêmicos e, em alguns casos, uma redação confusa e difícil.
Desse modo, optou-se, neste estudo, por conservar ao máximo o texto original, considerando que o real
sentido e alcance das regras ainda serão construídos a partir da interpretação dada pela doutrina, pela
administração pública e pelos Tribunais.
Para fins de concurso, acredito que durante alguns anos somente será exigido dos candidatos a redação
literal dos dispositivos, sendo suficiente o que foi explicado acima.