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• reconhecer que a ordem das palavras nã o é aleató ria e é significativamente relevante
Ex. O Luís assustou o elefante. O elefante assustou o Luís.
Amava Simã o Teresa. (Amor de Perdiç ão, Camilo Castelo Branco)
Javier Garcia foi-se transformando nã o apenas num bom jogador mas també m num jogador bom.
O Bernardo Sasseti é o melhor pianista portuguê s de jazz. O Má rio Laginha é o melhor pianista de
jazz portuguê s.
A ordem estrutural que caracteriza a nossa língua pode condicionar a nossa maior ou
menor receptividade em relaç ão a línguas com outras ordens estruturais.
O gé nero textual em causa, em particular o gé nero literá rio, poderá legitimar certas ‘violaç ões’ na
ordem das palavras, tornando aceitá vel aquilo que, do ponto de vista gramatical, seria incorreto.
Ex.: Todo o tempo ela se apagava no silê ncio. E agora, escutando a rendeada oraç ão, ele a desconhecia.
Por exemplo, suas estas palavras:
-- Eu quero entrar no chã o antes que acabe a terra.
(Mia Couto, in “Amor à ú ltima vista”)
A ordem da combinaç ão das palavras nas frases depende das propriedades específicas dessas mesmas
palavras
Ex. O Pedro comeu quatro nozes.
Que propriedades sintá tico-semâ nticas de comeu?
- Classe morfo-sintá tica: verbo
- Seleciona um complemento objeto direto
- Seleciona um sujeito com propriedades de [+animado] -...
As palavras que ocorrem nas frases organizam-se em “pequenos grupos naturais”, i.e., em Unidades
Sintá ticas ou Constituintes Frá sicos
Ex. O Pedro comeu quatro nozes
A estrutura frásica é uma estrutura hierarquizada, i.e., uma estrutura de Constituintes Imediatos (CI)
Identificaç ão dos CI atravé s da aplicação de testes de constituê ncia (testes empíricos, i.e.,
baseados na observaç ão dos dados disponíveis nas diferentes línguas):
• Substituiç ão
• Deslocaç ão
• Retoma anafó rica
- Deslocaç ão
• clivagem
1a) O Pedro comeu quatro nozes mas diz-se que ele comeu dez
2a) O filho da Maria levou os livros para a escola e a professora pensou que ele se tinha esquecido do
de inglê s
2b) *O filho da Maria levou os livros para a escola e a professora pensou que ele da Maria se tinha
esquecido do de inglê s
Definição estrutural: SN CI de SV
Função sintática: Complemento Objeto Direto
- Deslocaç ão
• clivagem
• passiva
- Deslocaç ão
• pseudo-clivagem
Ambiguidade estrutural
Duas interpretaç ões, duas estruturas possíveis de acordo com duas posiç ões estruturais diferentes
que o SP “de física” pode assumir:
a) CI de SV
b) CI de SN
2) - Chame-me um taxi.
- Certo. Você é um taxi.
Situaç ão decorrente de ambiguidade estrutural de “Chame-me um taxi”: duas interpretaç ões, de
acordo com duas funç ões sintá ticas diferentes que “me” pode assumir:
- complemento direto (um taxi: predicativo do objeto directo)
- complemento indireto (um taxi: objeto direto)
Classes sintagmáticas
Os constituintes que integram as frases mantê m entre si relaç ões gramaticais, i.e., desempenham
funç ões sintá ticas na frase.
Funções sintáticas
• Sujeito
• Predicado
• Predicativo do sujeito
• Predicativo do complemento direto
• Complemento direto
• Complemento indireto
• Complemento oblíquo (preposicional ou adverbial)
• Modificador
Sujeito
• É CI de F
O André (masc. sing.) é (3ªp sing.) um rapaz simpá tico (masc. sing.)
- Sujeito nominal
- Sujeito nulo
– Subentendido
Chegaram e começ ou a chover.
Ils sont arrivé s... They arrived... Sie sind gekommen...
– Indeterminado
Diz-se que em agosto vai chover.
On dit... It is said... Man sagt...
– Expletivo
Chove. Há pessoas que...
Il pleut It rains Es regnet Il y a... There are... Es gibt...
Predicado
É um SV, CI de F
Inclui os complementos do verbo
mas pode incluir outros elementos predicativos quando o verbo é copulativo (ser, estar, ficar,
continuar, parecer, permanecer, tornar-se, revelar-se...) que desempenham a funç ão de Predicativo do
Sujeito (adjetival, nominal, preposicional e adverbial):
- quando o verbo seleciona como seu complemento um domínio de predicaç ão (achar,
nomear, classificar, considerar,... ; Predicados verbo- nominais) temos dois domínios de
predicaç ão: primá ria e secundá ria
autê ntica (SA), um amor (SN) desempenham a funç ão de Predicativo do Complemento Direto
O domínio de predicaç ão selecionado pelo verbo pode corresponder a uma descriç ão de um estado
resultante (estado em que ficou o SN C.D. como resultado do evento descrito)
C.D. Nominal
O Luís chamou-a.
O Joã o levou-os ao Zoo.
A minha irmã adorou-o.
O Joã o disse-o.
A Ana considera-o.
ou um Advé rbio
Moro ali.
- Modificadores verbais
Vi o Gil no cinema.
O telefone tocou quando cheguei.
- Modificadores nominais
Os rapazes mais altos jogam basquete.
A maç a vermelha é para o Luís.
Vi uma galinha com 7 pintos.
Vi o Gil no cinema.
Verbos principais
- impessoais (ou de zero lugares)
- intransitivos
- nergativos
- inacusativos
- transitivos (diretos)
- transitivos indiretos
- ditransitivos
- transitivos de trê s lugares
• Verbos copulativos
• Verbos auxiliaries
- Transitivos (diretos): selecionam dois argumentos: um com a funç ão sintá tica de sujeito
e um complemento com funç ão de O.D. (adorar, quebrar, partir, presenciar, escrever,
argumentar...)
Verbos Copulativos
Selecionam um constituinte, que pode ser um SN, um SA, um SP ou um SAdv:
A Ana é professora.
O Augusto continua uma simpatia.
O Luís parece um palhaç o.
Os filhos da Maria sã o simpá ticos.
O livro está interessantíssimo.
Os rapazes permaneceram na escola.
A FCSH fica na avenida de Berna.
Estou com pena de ir embora.
O aeroporto fica ali.
Verbos Auxiliares
Selecionam como complemento um SV
Significação
- das palavras
Que conhecimento temos do significado das palavras de uma língua?
- dos enunciados
Que conhecimento temos das regras que nos permitem construir predicaç ão e a referê ncia
linguística?
- dos textos
Que conhecimento temos dos mecanismos que garantem a sequencializaç ão de enunciados no
discurso?
Mas as coisas nã o sã o assim tã o simples: o significado de uma palavra está em estreita relaç ão com o
modo como este se relaciona com o significado de outras palavras.
Deste estudo se ocupa a Semâ ntica Lexical.
Relações lexicais
• As palavras nã o significam isoladamente
• As palavras relacionam-se entre si numa rede de relaç ões complexas (relaç ões lexicais)
• As relaç ões lexicais permitem caracterizar semanticamente as palavras
• A configuraç ão das redes de relaç ões lexicais diverge de língua para língua
Exs:
‘jovem’ tem uma relaç ão mais estreita com ‘velho’ que com ‘alto’
‘rosa’ relaciona-se de uma maneira com ‘flor’ e de outra com ‘margarida’
em Dyirbal (Austrá lia) nã o há um lexema gené rico correspondente a “lagarto”; apenas formas que
designam “tipos de lagarto”: banggarra (lagarto de língua azul), biyu (lagarto com pregas), buynyjul
(lagarto de barriga vermelha), gaguju, bajirri...
O vocabulá rio das crianç as no processo de aquisiç ão reflete a forma como o vocabulá rio se organiza
– usam sobretudo “palavras bá sicas” (Costa & Santos 2003: 92-3), ou hiperó nimos (que referem mais
genericamente)
Ex. flor permite-lhes referir o que seja rosa, violeta, mal-me-quer... (lexemas que nã o dominam)
– chegam a adotar abusivamente um lexema tomado como “palavra bá sica”, ou hiperó nimo
Ex. vaca aplica-se a qualquer animal grande com 4 patas
Relações lexicais:
- hiperonímia e hiponímia
- holonímia e meronímia
- sinonímia
- antonímia
Hiperonímia e hiponímia
• Relaç ão hierá rquica, assimé trica entre:
- hipó nimo (termo subordinado, mais específico) rosa, mal-me-quer, margarida, salmã o,
pescada, robalo...
- e hiperó nimo (termo subordinante, mais geral) flor, peixe
Rosa é uma flor, mas uma flor nã o é necessariamente uma rosa; pode ser um mal-me-quer, uma
margarida...
Salmã o é um peixe, mas um peixe nã o é necessariamente um salmã o; pode ser uma pescada, um
robalo...
• O sentido do hiperó nimo está incluído no sentido de cada um dos hipó nimos:
O sentido de flor está contido no sentido de rosa, mal-me-quer, margarida...
O sentido de peixe está contido no sentido de salmã o, pescada, robalo...
O sentido de dizer está contido no sentido de murmurar, balbuciar, exclamar...
O sentido de cor está contido no sentido de azul, branco, encarnado...
Holonímia e meronímia
• Relaç ão de posse inaliená vel entre meró nimo (termo que designa a parte): volante, amortecedores,
travã o... braç o, pescoç o, nariz... e holó nimo (termo que designa o todo): automó vel, rapaz
Os termos ditos sinó nimos divergem entre si por serem mais ou menos formais, eruditos, té cnicos,
dialetais, etc. ou por outras razõ es semâ ntico-pragmá ticas:
A minha casa / a residê ncia do PM é em Lisboa.
Ele viu o filme do Komandarev. / Ele observou as abelhas.
É saudá vel fazer desporto. / nã o tenho um dente sã o.
Antonímia
• Relaç ão de oposiç ão
o Antonímia biná ria
vivo/morto, presente/ausente, acordado/ adormecido, saber/ignorar, culpado/inocente, mentir
/dizer a verdade, falso/verdadeiro, par/ímpar
O Luís nã o é pobre. nã o implica O Luís é rico. O filme nã o é bom. nã o implica O filme é mau.
o Antonímia Conversa
padrinho/afilhado, comprar/vender, pai/filho, ser mais alto/ ser mais baixo, antes/depois
Associamos a cada palavra uma noç ão (representaç ão cognitiva construída culturalmente e como
resultado da nossa experiê ncia individual, de entidades reais ou imaginá rias)
A noç ão é um conjunto de propriedades físicas, culturais, afetivas.
Detemos as noç ões de cã o, de danç a, de belo, de sorriso, mas també m de danç ar um tango, de comer
pouco, de tempo preté rito, de tempo futuro, de unicó rnio...
Por exemplo, també m podemos construir uma noç ão (representaç ão cognitiva) a que associemos a
palavra ‘vintecó rnio’.
Enunciar é
§ Representar (conceber cognitivamente noç ões e operaç ões metalinguísticas)
§ Referir (designar entidades, do mundo, real / imaginá rio)
§ Predicar (dizer algo sobre as entidades referidas)
Expressõ es linguísticas
§ Referenciais
O Luís é simpá tico.
As meninas saltaram um muro.
Vá rias pessoas temem a forç a do mar.
§ Predicativas
O Luís é simpá tico.
As meninas saltaram um muro.
Vá rias pessoas temem a forç a do mar.
‘Tempo’
- Cronoló gico (ing.: ‘time’)
- Metereoló gico (ing.: ‘weather’)
- Gramatical (ing.: ‘tense’)
A construç ão de referê ncia temporal (valores de anterioridade, simultaneidade e posterioridade dos
acontecimentos linguísticos) depende do momento em que o sujeito responsá vel por estes enunciados
(sujeito enunciador), se situa.
Ex. ‘amanhã ’: dia depois do dia em que digo ‘amanhã ’ ‘ontem’: dia antes do dia em que digo ‘ontem’
‘neste momento’: momento em que estou a construir o acontecimento linguístico
Há um EU, AQUI e AGORA (ego, hic et nunc) subjacente a qualquer enunciado.
‘Nas sociedades e línguas ocidentais, os acontecimentos sã o construídos de acordo com valores de
passado, presente e futuro, i.e., de anterioridade, simultaneidade e posterioridade em relaç ão ao
Tempo da Enunciaç ão:
Ex.: Ontem / há trê s dias / quando estive no Porto, fui ao cinema.
Estou a dar aulas neste momento / agora.
Amanhã / um destes dias / para a semana vou ao teatro.
Mas...
• um valor temporal de anterioridade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical passado
(preté rito)
Ex.: Em 1500, Pedro Á lvares Cabral chega ao Brasil.
• um valor temporal de simultaneidade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical presente
Ex.: A Ana tem ido ao cinema todas as semanas.
• um valor temporal de posterioridade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical futuro
Ex.: No verã o, viajo até aos Himalaias. Amanhã , conto-te uma histó ria.
A construç ão de qualquer categoria gramatical, como o Tempo, é um Sistema de correspondê ncias nã o
biunívocas que, em cada língua, se estabelece entre:
Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘preté rito’
(anterior a T0):
- preté rito perfeito simples (escrevi)
- preté rito perfeito composto (tenho escrito)
- mais que perfeito simples (escrevera)
- mais que perfeito composto (tinha escrito)
- preté rito imperfeito (escrevia)
Todos estes tempos gramaticais estã o no modo indicativo
Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘presente’
(simultâ neo a T0):
- forma perifrá stica (PE) / gerú ndio (PB)
estou a escrever; estã o a escrever / estou escrevendo; estã o escrevendo
- preté rito perfeito composto
tenho escrito
Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘futuro’
(posterior a T0):
- futuro simples (escreverei)
- futuro analítico (vou escrever)
- presente do indicativo (depois da aula, escrevo a carta; de aqui a um mê s, vemo-nos; logo vou ao
cinema; amanhã , telefono-te)
Presente gramatical:
- Nã o marca a construç ão de um tempo presente
- Pode marcar a construç ão de:
- Futuro (Logo, falamos.)
- Preté rito (Em 1755, dá -se um terramoto em Lisboa.; Em 1109 nasce D. Afonso
Henriques.)
- Sem tempo (fora do eixo temporal):
. Definitó rio (Os gatos sã o felinos.; O Sol nasce todos os dias.)
. Habitual (Estudo na FCSH.; Dou aulas de Gramá tica do Portuguê s.; Ele escreve
romances. ; Como sopa todos os dias.)
- Relato (imediatez) (CR chuta para L.; A multidã o exige justiç a.)