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Sintaxe do Português

- Existem no mundo milhares de línguas (entre 6500 a 7000)


- Segundo alguns autores (Chomsky, p.ex.) todas elas tê m em comum um conjunto de
características (universais linguísticos):
- sistema combinató rio discreto: as gramá ticas das LNs permitem, a partir de um no finito de
elementos, construir um no infinito de sequê ncias
- recursividade: uso infinito de meios finitos
- estruturação hierárquica dos elementos das frases: uma frase não é uma soma de elementos

Quando estudamos as línguas, verificamos que:


- Se organizam a partir de um conjunto de sons (no finito em cada língua) 

- Os sons constituem palavras – unidades mais ou menos complexas, que podem manifestar uma
informação estritamente gramatical, ou lexical/gramatical 

- Organizam as palavras em frases de acordo com uma determinada ordem (línguas VO ou OV)
- Ninguém fala estritamente por frases isoladas. Uma comunidade linguística sabe construir
sequências linguísticas mais ou menos complexas que permitem a interacção discursiva (e.o.)
entre os falantes (textos/discursos...) 

- Mesmo sabendo isto, todos sabemos que as línguas são diferentes entre si 


O conhecimento gramatical interiorizado pelos falantes de uma língua permite-lhes


• identificar e produzir
– frases, i.e., sequê ncias gramaticais
Ex. As crianç as adoram correr no parque.
– e sequê ncias nã o gramaticais
Ex. *adoram no crianç as parque correr as.

• reconhecer que a ordem das palavras nã o é aleató ria e é significativamente relevante
Ex. O Luís assustou o elefante. O elefante assustou o Luís.
Amava Simã o Teresa. (Amor de Perdiç ão, Camilo Castelo Branco)
Javier Garcia foi-se transformando nã o apenas num bom jogador mas també m num jogador bom.
O Bernardo Sasseti é o melhor pianista portuguê s de jazz. O Má rio Laginha é o melhor pianista de
jazz portuguê s.

Diferentes línguas apresentam diferentes ordens estruturais:


Ex. (Latim) (O Paulo viu o Pedro)
Paulus (nominativo) videt Petrum (acusativo)
Petrum videt Paulus
Petrum Paulus videt

Ex. (Alemã o) (O jovem trouxe o CD ao seu irmã o)


Der Junge hat seinem Bruder die CD mitgebracht.
“o jovem (nominativo=SUJ) ao seu irmã o (dativo=O.I.) o CD (acusativo=O.D.) trouxe (V)”
Der Junge hat die CD seinem Bruder mitgebracht.
“o jovem (Nominativo=SUJ) o CD (acusativo=O.D) ao seu irmã o (dativo=O.I) trouxe (V)”
Seinem Bruder hat der Junge die CD mitgebracht.
“ao seu irmã o (dativo=O.I) o jovem (nominativo=SUJ) o CD (acusativo=O.D.) trouxe (V)”

A ordem estrutural que caracteriza a nossa língua pode condicionar a nossa maior ou
menor receptividade em relaç ão a línguas com outras ordens estruturais.
O gé nero textual em causa, em particular o gé nero literá rio, poderá legitimar certas ‘violaç ões’ na
ordem das palavras, tornando aceitá vel aquilo que, do ponto de vista gramatical, seria incorreto.
Ex.: Todo o tempo ela se apagava no silê ncio. E agora, escutando a rendeada oraç ão, ele a desconhecia.
Por exemplo, suas estas palavras:
-- Eu quero entrar no chã o antes que acabe a terra.
(Mia Couto, in “Amor à ú ltima vista”)

A ordem da combinaç ão das palavras nas frases depende das propriedades específicas dessas mesmas
palavras
Ex. O Pedro comeu quatro nozes.
Que propriedades sintá tico-semâ nticas de comeu?
- Classe morfo-sintá tica: verbo
- Seleciona um complemento objeto direto
- Seleciona um sujeito com propriedades de [+animado] -...

As palavras que ocorrem nas frases organizam-se em “pequenos grupos naturais”, i.e., em Unidades
Sintá ticas ou Constituintes Frá sicos
Ex. O Pedro comeu quatro nozes

Os constituintes frá sicos correspondem a diferentes níveis estruturais


O Pedro comeu quatro nozes
O Pedro comeu quatro nozes

A estrutura frásica é uma estrutura hierarquizada, i.e., uma estrutura de Constituintes Imediatos (CI)

Ex. de análise em CI:



– O Pedro e comeu quatro nozes são CI da frase “O Pedro comeu quatro nozes”
– comeu e quatro nozes são CI de “comeu quatro nozes”
–...

Aná lise em CI (Constituintes Imediatos)- formas de representaç ão


- Caixas de Hockett

- Estrutura em diagrama em árvore

O Pedro comeu quatro nozes


F

Grupo Nominal Grupo Verbal


O Pedro comeu quatro nozes
CI da Frase (F):
- Sintagma nominal (SN)
Classe Morf.-Sintát. do Núcleo: NOME
- Sintagma verbal (SV)
Classe Morf.-Sintát. do Núcleo: VERBO

O Pedro comeu quatro nozes



Os miúdos compraram duas cadernetas de cromos
O filho da Maria levou os livros para a escola

Identificaç ão dos CI atravé s da aplicação de testes de constituê ncia (testes empíricos, i.e.,
baseados na observaç ão dos dados disponíveis nas diferentes línguas):
• Substituiç ão
• Deslocaç ão
• Retoma anafó rica

1. O Pedro comeu quatro nozes.


2. O filho da Maria levou os livros para a escola.

- Substituiç ão (pelo pronome pessoal ou por SN equivalente)

1a) Ele comeu quatro nozes

1b) O menino comeu quatro nozes

2a) Ele levou os livros para a escola

2b) O André levou os livros para a escola

Definiç ão estrutural: SN CI de F


Funç ão sintá tica: Sujeito

- Deslocaç ão
• clivagem

1a) Foi O Pedro quem comeu quatro nozes


2a) Foi o filho da Maria quem levou os livros para a escola
2b) *Foi o filho quem da Maria levou os livros para a escola

• deslocaç ão à direita

1a) Comeu quatro nozes, o Pedro


2a) Levou os livros para a escola, o filho da Maria
2b) *Da Maria levou os livros para a escola, o filho

Definiç ão estrutural: SN CI de F


Funç ão sintá tica: Sujeito
- Retoma anafó rica (em estruturas de coordenaç ão)

1a) O Pedro comeu quatro nozes mas diz-se que ele comeu dez
2a) O filho da Maria levou os livros para a escola e a professora pensou que ele se tinha esquecido do
de inglê s
2b) *O filho da Maria levou os livros para a escola e a professora pensou que ele da Maria se tinha
esquecido do de inglê s

Definiç ão estrutural: SN CI de F


Funç ão sintá tica: Sujeito

1. O Pedro comeu quatro nozes.


2. O filho da Maria levou os livros para a escola.

- Substituição (pelo pronome pessoal)

1a) O Pedro comeu-as



2a) O filho da Maria levou-os para a escola

Definição estrutural: SN CI de SV
Função sintática: Complemento Objeto Direto

- Deslocaç ão
• clivagem

1a) Foi quatro nozes que o Pedro comeu


2a) Foram os livros que o filho da Maria levou para a escola

• passiva

1a) Quatro nozes foram comidos pelo Pedro


2a) Os livros foram levados para a escola pelo filho da Maria

Definiç ão estrutural: SN CI de SV


Funç ão sintá tica: Complemento Objeto Direto

1. O Pedro comeu quatro nozes.


2. O filho da Maria levou os livros para a escola.

- Substituição (por um único verbo)

1a) O Pedro chegou



2a) O filho da Maria caiu

Definição estrutural: SV (CI de F)


Função sintática: Predicado

- Deslocaç ão
• pseudo-clivagem

1a) O que o Pedro fez foi comer quatro nozes


2a) O que o filho da Maria foi levar os livros para a escola
- Retoma anafó rica (em estruturas de coordenaç ão e pares pergunta-resposta)

1a) - O que é que o Pedro fez?


- Comeu quatro nozes

2a) - O que é que o filho da Maria fez?


- Levou os livros para a escola

Definiç ão estrutural: SV (CI de F)


Funç ão sintá tica: Predicado

Ambiguidade estrutural

1) O professor falou aos estudantes de física.

Duas interpretaç ões, duas estruturas possíveis de acordo com duas posiç ões estruturais diferentes
que o SP “de física” pode assumir:

a) CI de SV
b) CI de SN

Aplicaç ão de testes de constituê ncia:


• Substituiç ão (pelo pronome pessoal)

1a) O professor falou-lhes de física


1b) O professor falou-lhes.

• Deslocaç ão por clivagem

1a) Foi aos estudantes que o professor falou de física


1b) Foi aos estudantes de física que o professor falou

2) - Chame-me um taxi.
- Certo. Você é um taxi.

Situaç ão decorrente de ambiguidade estrutural de “Chame-me um taxi”: duas interpretaç ões, de
acordo com duas funç ões sintá ticas diferentes que “me” pode assumir:
- complemento direto (um taxi: predicativo do objeto directo)
- complemento indireto (um taxi: objeto direto)

Ambiguidade estrutural vs. ambiguidade lexical

Classes sintagmáticas

• Sintagma Nominal (SN)


O Luís está cansado.

• Sintagma Verbal (SV)


O Luís está cansado.
• Sintagma Adjetival (SA)
O Luís está cansado.
A Ana comprou uma blusa de seda egípcia.

• Sintagma Preposicional (SP)


Todos os namorados da Ana tê m o nariz aquilino.
O Joã o levou os primos ao Jardim Zooló gico.

• Sintagma Adverbial (SAdv)


Os miú dos estã o aqui.

Os constituintes que integram as frases mantê m entre si relaç ões gramaticais, i.e., desempenham
funç ões sintá ticas na frase.

Funções sintáticas

• Sujeito
• Predicado
• Predicativo do sujeito
• Predicativo do complemento direto
• Complemento direto
• Complemento indireto
• Complemento oblíquo (preposicional ou adverbial)
• Modificador

Sujeito

• É CI de F

• Controla a concordâ ncia verbal

O André (masc. sing.) é (3ªp sing.) um rapaz simpá tico (masc. sing.)

• Pode nã o ocorrer na primeira posiç ão argumental

Fugiram os periquitos da Maria.


Surpreendeu todos que o Joã o tenha arrumado o quarto.

• Pode ser nominal (SN) ou frá sico

O André é um rapaz simpá tico.


Surpreendeu todos que o Joã o tenha arrumado o quarto.
Quem limpa e quem arruma tem a tarde livre.

Teste para identificaç ão do sujeito

- Sujeito nominal

O gato persegue o rato.

Fugiram os periquitos da Maria.

• Substituiç ão (pelo pronome pessoal / por SN equivalente)

Ele persegue o rato / O cã o persegue o rato.

Eles fugiram / Os pardais fugiram.


• Deslocaç ão (clivagem)

É o gato quem persegue o rato.

Foram os periquitos da Maria que fugiram.

- Sujeito frá sico

Surpreendeu todos que o Joã o tenha arrumado o quarto.

• Substituiç ão (pela forma neutra do demonstrativo isso)

Isso surpreendeu todos.

- Sujeito nulo
– Subentendido
Chegaram e começ ou a chover.
Ils sont arrivé s... They arrived... Sie sind gekommen...

– Indeterminado
Diz-se que em agosto vai chover.
On dit... It is said... Man sagt...

– Expletivo
Chove. Há pessoas que...
Il pleut It rains Es regnet Il y a... There are... Es gibt...

Predicado

 É um SV, CI de F
 Inclui os complementos do verbo

O Luís chamou a mã e durante a noite.

O Joã o leva os primos ao Zoo quando tem tempo.

A Ana ofereceu um cachimbo ao avô pelo Natal

Os cã es gostam de biscoitos de manteiga.

O Joã o disse que a Ana está em casa durante a tarde.

O teu filho telefonou à Luisa.

Teste para identificaç ão do predicado

O Luís chamou a mã e durante a noite.

O Joã o leva os primos ao Zoo quando tem tempo.


• Posiç ão de contraste com pseudo-clivada

O que o Luís fez foi chamar a mã e durante a noite.


O que o Joã o faz é levar os primos ao Zoo quando tem tempo.

• Resposta a interrogativa O que fez SUJ.?

- O que fez o Luís durante a noite?


- Chamou a mã e.

- O que faz o Joã o quando tem tempo?


- Leva os primos ao Zoo.

Predicado; Predicativo do Sujeito

Uma F inclui pelo menos um elemento verbal

O rapaz comprou um livro

mas pode incluir outros elementos predicativos quando o verbo é copulativo (ser, estar, ficar,
continuar, parecer, permanecer, tornar-se, revelar-se...) que desempenham a funç ão de Predicativo do
Sujeito (adjetival, nominal, preposicional e adverbial):

O rapaz parece triste.

O rapaz é sobrinho da Ana.

Ele está em Lisboa.

A Ana fica cá .

triste (SA), sobrinho da Ana (SN), em Lisboa (SP), cá (Adv.)

Predicado; Predicativo do Complemento Directo

- quando o verbo seleciona como seu complemento um domínio de predicaç ão (achar,
nomear, classificar, considerar,... ; Predicados verbo- nominais) temos dois domínios de
predicaç ão: primá ria e secundá ria

A Ana considera a Luísa autê ntica.


A Ana considera autê ntica a Luísa.
Acho o Luís um amor.

autê ntica (SA), um amor (SN) desempenham a funç ão de Predicativo do Complemento Direto

O domínio de predicaç ão selecionado pelo verbo pode corresponder a uma descriç ão de um estado
resultante (estado em que ficou o SN C.D. como resultado do evento descrito)

O Luís deixou a Maria furiosa.

A má vontade torna qualquer aproximaç ão infrutífera.

A nota de Matemá tica pô s o Pedro num oito.


Nestes casos, o Predicativo do C.D. (furiosa, infrutífera, num oito) corresponde a uma construç ão
resultativa.

Complementos do Verbo – Complemento Directo

• Estruturalmente, integra o SV (é CI de SV): é complemento do V

• Pode ser nominal (SN):

O Luís chamou a mã e.


A minha irmã adorou o livro que lhe ofereci.

 ou frá sico (frase completiva):

O Joã o disse que a Ana está em casa.


A Ana considera que a Luísa é autê ntica.

Teste para identificaç ão do Complemento Direto (C.D.)

 C.D. Nominal

O Luís chamou a mã e.


O Joã o levou os primos ao Zoo.
A minha irmã adorou o livro que lhe ofereci.

- Substituiç ão pela forma acusativa do pronome pessoal

O Luís chamou-a.
O Joã o levou-os ao Zoo.
A minha irmã adorou-o.

 C.D. Frá sico (frase completiva)

O Joã o disse que a Ana está em casa.


A Ana considera que a Luísa é autê ntica.

- Substituiç ão pelo pronome demonstrativo –o (clítico acusativo)

O Joã o disse-o.
A Ana considera-o.

Complementos do Verbo - Complemento Indirecto


Estruturalmente, integra o SV (é CI de SV): é complemento do V;
É um SP (sintagma preposicional)

A Ana ofereceu um cachimbo ao avô .


O teu filho telefonou à Luisa.
Teste para identificaç ão do objeto indireto (C.I.)

A Ana ofereceu um cachimbo ao avô .


O teu filho telefonou ao meu filho.

 Substituiç ão pela forma dativa do pronome pessoal (clítico dativo)

Ana ofereceu-lhe um cachimbo.


O teu filho telefonou-lhe.

Complementos do Verbo – Complemento Oblíquo


Estruturalmente, integra o SV (é CI de SV): é complemento do V

 Pode ser um SP (sintagma preposicional)

O Joã o leva os primos ao Zoo quando tem tempo.


O Joã o pô s os livros na mochila.
A Maria gosta de chocolate.

 ou um Advé rbio

Moro ali.

Ao zoo, na mochila e de chocolate sã o C. Oblíquos Preposicionais; ali é um C. Oblíquo Adverbial

Teste para identificaç ão do complemento preposicionado

O Joã o levou os primos ao Zoo.


O Joã o pô s os livros na mochila.
Moro ali.

 Substituiç ão (por outras expressõ es preposicionais ou adverbiais)

O Joã o levou os primos lá /a esse sítio.


O Joã o pô s os livros lá /nesse sítio.
Moro alé m/em Sintra.

Complementos dos Nomes e dos Adjectivos

 Sã o selecionados pelos N e A


 Sã o tipicamente SP (preposiç ão + SN / F)

A perda da memó ria é algo terrível.


Ignoremos o facto de poder vir a chover.
A organizaç ão dos cursos pelos docentes resultou.
Um treino diá rio é absolutamente necessá rio aos atletas.
Considera a hipó tese de vires à minha festa.
A sugestã o de um passeio juntos agrada-me.
A opiniã o de que há uma saída para a crise é utó pica.
Estamos empenhados em trabalhar para o mesmo fim.
Modificadores

 Constituintes que ocorrem na F sem que, no entanto, sejam selecionados por V, N, A e P


 Pertencem a vá rias categorias morf.-sint. (Adv., A, SP, F...)
 Podem modificar constituintes de diferentes categorias (F, SV, SN...):

- Modificadores frá sicos


Provavelmente a Maria vem à festa.
Ontem fomos ao cinema.

- Modificadores verbais
Vi o Gil no cinema.
O telefone tocou quando cheguei.

- Modificadores nominais
Os rapazes mais altos jogam basquete.
A maç a vermelha é para o Luís.
Vi uma galinha com 7 pintos.

Teste para identificaç ão do modificador verbal

Vi o Gil no cinema.

 Retoma anafó rica em pares pergunta-resposta

– O que aconteceu no cinema?


– Vi o Gil

Ver contraste com complemento verbal:


Ex:
O Luís pô s os livros na mochila.
*– Que fez o Luís na mochila?
– Pô s os livros

Modificador Verbal vs. Complemento Oblíquo

Vi o Gil no cinema. (modificador verbal – nã o selecionado pelo verbo)

O Luís pô s os livros na mochila. (complemento oblíquo – selecionado pelo verbo)


Subclasses de verbos

 Verbos principais
- impessoais (ou de zero lugares)
- intransitivos
- nergativos
- inacusativos
- transitivos (diretos)
- transitivos indiretos
- ditransitivos
- transitivos de trê s lugares

• Verbos copulativos
• Verbos auxiliaries

Verbos Principais (ou plenos)


- Impessoais (ou de zero lugares): nã o tê m nenhum argumento (nem na posiç ão de
sujeito) (haver, chover, nevar...)

Chove a câ ntaros. Nevou abundantemente.

- Intransitivos: nã o selecionam complementos, apenas um argumento na posiç ão de


sujeito
- (Intransitivos) Inergativos (dormir, correr, trabalhar, andar...; sujeito com
propriedades típicas de sujeito)

O Luís espirrou. / A Maria dormiu.


*espirrado o Luís, [...] / *dormida a Maria, [...] (particípio absoluto)
*O Luís está espirrado / *A Maria está dormida (forma participial, pos.
predicativa)
*O Luís espirrado [...] / *A Maria dormida [...] (forma participial , pos. atributiva)

- (Intransitivos) Inacusativos (ruir, morrer, nascer, cair, adormecer...; sujeito com


propriedades de sujeito e de O.D.)

O Luís desmaiou. / As camé lias floriram.


desmaiado o Luís, [...] / floridas as camé lias, [...] (particípio absoluto)
O Luís está desmaiado / As camé lias estã o floridas (forma participial, pos.
predicativa)
O Luís desmaiado [...] / As camé lias floridas [...] (forma participial, pos.
atributiva)

- Transitivos (diretos): selecionam dois argumentos: um com a funç ão sintá tica de sujeito
e um complemento com funç ão de O.D. (adorar, quebrar, partir, presenciar, escrever,
argumentar...)

O Joã o adora esquilos.


A menina quebrou o braç o.
O José escreveu as duas cartas que lhe pediram.
O ministro argumentou que desconhecia o processo.
- Transitivos indiretos: selecionam dois argumentos: um com a funç ão sintá tica de sujeito
e um complemento oblíquo (partir (mov.), discordar, agradar, assistir, suceder,
residir...)

O carro chocou com a mota.


Discordo sempre do Joã o. Concordei com a Ana.
A Ana partiu para longe.
Os Almeida Silva moram ali.

- Ditransitivos: selecionam trê s argumentos: sujeito e dois complementos, O.D. e O.I.


(oferecer, dar, pedir, trazer, comprar...)

O rapaz ofereceu um ramo de rosas à mã e.


Eles pediram ao professor que adiasse o teste.

- Transitivos de trê s lugares: selecionam trê s argumentos: sujeito e dois complementos,


O.D. e complemento oblíquo (partilhar, transportar, depositar, retirar...)

A retroescavadora retirou a terra do meio da rua.


A Luísa partilhou o lanche com o Dinis.

Verbos Copulativos
Selecionam um constituinte, que pode ser um SN, um SA, um SP ou um SAdv:

A Ana é professora.
O Augusto continua uma simpatia.
O Luís parece um palhaç o.
Os filhos da Maria sã o simpá ticos.
O livro está interessantíssimo.
Os rapazes permaneceram na escola.
A FCSH fica na avenida de Berna.
Estou com pena de ir embora.
O aeroporto fica ali.

Verbos Auxiliares
Selecionam como complemento um SV

Elas estã o a jogar xadrez.


Vamos continuar a conversar.
Eles começ aram a trabalhar.
Este pã o foi cozido a lenha.
Temos corrido todos os dias.
Semântica do Português

Significação

“A significaç ão é o ponto de partida e o ponto de chegada de toda a actividade linguística”

(Lopes & Rio-Torto 2007: 13)

A significaç ão encontra-se ao nível:

- das palavras
Que conhecimento temos do significado das palavras de uma língua?

- dos enunciados
Que conhecimento temos das regras que nos permitem construir predicaç ão e a referê ncia
linguística?

- dos textos
Que conhecimento temos dos mecanismos que garantem a sequencializaç ão de enunciados no
discurso?

A significaç ão de uma palavra complexa depende:


- do significado dos seus morfemas (ex. apaixonada+mente)
A significaç ão de um enunciado depende
- do significado das palavras que nele ocorrem
- da estrutura gramatical da frase (ex. O cã o mordeu o carteiro. O carteiro mordeu o cã o.
O cã o mordeu o rapaz. O cã o está a morder o carteiro.)

Princípio de composicionalidade (Frege):


“O significado de uma expressã o complexa é determinado pelo significado dos seus constituintes e
pela forma como se combinam”

Mas as coisas nã o sã o assim tã o simples: o significado de uma palavra está em estreita relaç ão com o
modo como este se relaciona com o significado de outras palavras.
Deste estudo se ocupa a Semâ ntica Lexical.

Relações lexicais
• As palavras nã o significam isoladamente
• As palavras relacionam-se entre si numa rede de relaç ões complexas (relaç ões lexicais)
• As relaç ões lexicais permitem caracterizar semanticamente as palavras
• A configuraç ão das redes de relaç ões lexicais diverge de língua para língua

Exs:
‘jovem’ tem uma relaç ão mais estreita com ‘velho’ que com ‘alto’
‘rosa’ relaciona-se de uma maneira com ‘flor’ e de outra com ‘margarida’
em Dyirbal (Austrá lia) nã o há um lexema gené rico correspondente a “lagarto”; apenas formas que
designam “tipos de lagarto”: banggarra (lagarto de língua azul), biyu (lagarto com pregas), buynyjul
(lagarto de barriga vermelha), gaguju, bajirri...

O vocabulá rio das crianç as no processo de aquisiç ão reflete a forma como o vocabulá rio se organiza
– usam sobretudo “palavras bá sicas” (Costa & Santos 2003: 92-3), ou hiperó nimos (que referem mais
genericamente)
Ex. flor permite-lhes referir o que seja rosa, violeta, mal-me-quer... (lexemas que nã o dominam)
– chegam a adotar abusivamente um lexema tomado como “palavra bá sica”, ou hiperó nimo
Ex. vaca aplica-se a qualquer animal grande com 4 patas

Relações lexicais:
- hiperonímia e hiponímia
- holonímia e meronímia
- sinonímia
- antonímia

Hiperonímia e hiponímia
• Relaç ão hierá rquica, assimé trica entre:
- hipó nimo (termo subordinado, mais específico) rosa, mal-me-quer, margarida, salmã o,
pescada, robalo...
- e hiperó nimo (termo subordinante, mais geral) flor, peixe

Rosa é uma flor, mas uma flor nã o é necessariamente uma rosa; pode ser um mal-me-quer, uma
margarida...
Salmã o é um peixe, mas um peixe nã o é necessariamente um salmã o; pode ser uma pescada, um
robalo...

• O sentido do hiperó nimo está incluído no sentido de cada um dos hipó nimos:
O sentido de flor está contido no sentido de rosa, mal-me-quer, margarida...
O sentido de peixe está contido no sentido de salmã o, pescada, robalo...
O sentido de dizer está contido no sentido de murmurar, balbuciar, exclamar...
O sentido de cor está contido no sentido de azul, branco, encarnado...

• É um mecanismo que garante a sequencializaç ão de enunciados


Hoje, na praç a, comprei cenouras, nabos, batatas e nabiç as. Quando cheguei a casa, pousei os legumes
sobre a mesa.

Hoje, na praç a, comprei legumes. Quando cheguei a casa, pousei as cenouras, os nabos, as batatas e as
nabiç as sobre a mesa.
O Luís ofereceu uma rosa à Ana. A flor murchou no dia seguinte.
?O Luís ofereceu uma flor à Ana. A rosa murchou no dia seguinte.

Holonímia e meronímia
• Relaç ão de posse inaliená vel entre meró nimo (termo que designa a parte): volante, amortecedores,
travã o... braç o, pescoç o, nariz... e holó nimo (termo que designa o todo): automó vel, rapaz

Posse aliená vel – vs – Posse inaliená vel


O livro do rapaz – posse aliená vel
*O livro é uma parte do rapaz ≠ O braç o do rapaz – posse inaliená vel

relaç ão entre meró nimo/parte e holó nimo/todo:


O braç o é uma parte do rapaz

• É um mecanismo que garante a sequencializaç ão de enunciados


Ofereceram-me uma guitarra. Partiram-se logo duas cordas.
Aproximá vamo-nos da aldeia. O campaná rio da igreja destacava-se do casario.
Os amortecedores estã o como novos, os travõ es també m. Queres comprar-me o meu carro?
O Luís partiu o braç o
(Il s’est cassé le bras; He has broken his arm)
Sinonímia
• Relaç ão entre termos sinó nimos
casa / residê ncia manly / virile
ver / observar heal / recuperate
cego / invisual go down/ descend
alunos / estudantes send / transmit
celha / frigideira paç o / palá cio
cefaleia / dor de cabeç a cavalo / equídeo
pê sames / condolê ncias atelié / oficina
entalar / trilhar apá tico, passivo
ascendê ncia / linhagem cílio / pestana

• Sã o raros os sinó nimos perfeitos (i.e., equivalentes, inter-substituíveis)


Ex. cem / uma centena, preceder / anteceder, doze / uma dú zia Traz doze / uma dú zia de ovos

Os termos ditos sinó nimos divergem entre si por serem mais ou menos formais, eruditos, té cnicos,
dialetais, etc. ou por outras razõ es semâ ntico-pragmá ticas:
A minha casa / a residê ncia do PM é em Lisboa.
Ele viu o filme do Komandarev. / Ele observou as abelhas.
É saudá vel fazer desporto. / nã o tenho um dente sã o.

Antonímia
• Relaç ão de oposiç ão
o Antonímia biná ria
vivo/morto, presente/ausente, acordado/ adormecido, saber/ignorar, culpado/inocente, mentir
/dizer a verdade, falso/verdadeiro, par/ímpar

O Luís nã o está presente. implica O Luís está ausente.


O Luís nã o está ausente. implica O Luís está presente.
Ele nã o ignora as horas. implica Ele sabe as horas.
Ele nã o sabe as horas. implica Ele ignora as horas.

o Antonímia nã o biná ria


amar/odiar, carrasco/vítima

Eles nã o se odeiam. nã o implica Eles amam-se.


Ele nã o é o carrasco. nã o implica Ele é a vítima.

o Antonímia Graduá vel


(termos que se podem combinar com um pouco, pouco, muito...)
Grande/pequeno, quente/frio, rá pido/lento, feliz/triste, bom/mau, rico/pobre, baixo/alto

O Luís nã o é pobre. nã o implica O Luís é rico. O filme nã o é bom. nã o implica O filme é mau.

o Antonímia Conversa
padrinho/afilhado, comprar/vender, pai/filho, ser mais alto/ ser mais baixo, antes/depois

O Joã o é padrinho do André . implica O André é afilhado do Joã o.


A Ana é mais alta que a Maria. implica A Maria é mais baixa que a Ana.
O filme é antes da festa. implica A festa é depois do filme.
O significado de uma palavra está relacionado com as representaç ões mentais (herdadas
culturalmente e construídas) que fazemos do “universo de objetos, de entidades, de propriedades, de
situaç ões, de eventos, de aç ões, de processos e de estados”.
(Lopes & Rio-Torto 2007: 22)

Associamos a cada palavra uma noç ão (representaç ão cognitiva construída culturalmente e como
resultado da nossa experiê ncia individual, de entidades reais ou imaginá rias)
A noç ão é um conjunto de propriedades físicas, culturais, afetivas.

Detemos as noç ões de cã o, de danç a, de belo, de sorriso, mas també m de danç ar um tango, de comer
pouco, de tempo preté rito, de tempo futuro, de unicó rnio...
Por exemplo, també m podemos construir uma noç ão (representaç ão cognitiva) a que associemos a
palavra ‘vintecó rnio’.

Significado dos enunciados


Semântica frásica – predicação

Enunciar é
§ Representar (conceber cognitivamente noç ões e operaç ões metalinguísticas)
§ Referir (designar entidades, do mundo, real / imaginá rio)
§ Predicar (dizer algo sobre as entidades referidas)

A atividade da linguagem é uma atividade de


§ Representaç ão
§ Referenciaç ão
§ Regulaç ão / ajustamento intersubjetivo

Nos enunciados, construímos:


§ Expressõ es linguísticas referenciais - referem objetos / entidades do mundo, real / imaginá rio; tê m
valor referencial; designam entidades
§ Expressõ es linguísticas predicativas (predicadores) - predicam algo sobre esses objetos / entidades
(atribuindo-lhes determinada propriedade ou estabelecendo uma relaç ão entre essas entidades)

Expressõ es linguísticas
§ Referenciais
O Luís é simpá tico.
As meninas saltaram um muro.
Vá rias pessoas temem a forç a do mar.
§ Predicativas
O Luís é simpá tico.
As meninas saltaram um muro.
Vá rias pessoas temem a forç a do mar.

As expressõ es linguísticas referenciais


• referem de diferentes maneiras, i.e., tê m associados diferentes valores semâ nticos:
Vi o gato no sotã o. / Vi um gato no sotã o.
O gato bebeu o leite. / ? Um gato bebeu o leite.
? O Tareco é o gato. / O Tareco é um gato.
O gato adora leite. / Um gato adora leite.
O gato é um mamífero. / ?Um gato é um mamífero. ...

Determinaç ão das expressõ es linguísticas referenciais


 Definida (ex.: O gato bebeu o leite. / O gato adora leite.)
 Indefinida (ex.: Vi um gato no sotã o. / Um gato adora leite.)
Que valores semâ nticos de determinaç ão nominal?
 Específico
O gato tem a pata ferida. / O gato bebeu o leite.
Está um gato no telhado. / Vi um gato no sotã o.
 Gené rico
O gato é um animal mamífero. / O gato adora leite. Um gato precisa de cuidados. / Um gato adora leite.

Ambiguidade referencial / semâ ntica


(i.e., ao nível da determinaç ão da expressã o referencial)
Que valor semâ ntico?
A Joana quer casar com um indiano.
Os meus tios procuram um cã o com orelhas caídas.
Quero comprar uma casa com uma pista para Ovnis.

Desambiguizaç ão, com recurso ao indicativo / conjuntivo:


A Ana quer casar com um homem que é indiano – valor específico
A Ana quer casar com um homem que seja indiano – valor gené rico

Categorias gramaticais Tempo, Modo, Aspeto


Referê ncia temporal

‘Tempo’
- Cronoló gico (ing.: ‘time’)
- Metereoló gico (ing.: ‘weather’)
- Gramatical (ing.: ‘tense’)

‘Tempo’ cronoló gico / Referê ncia temporal nas línguas naturais:


• é a expressã o da forma como os acontecimentos construídos linguisticamente se projetam num eixo
imaginá rio.
• é concebido linearmente e construído em relaç ão a um ponto de referê ncia (Tempo da Enunciaç ão,
T0)
-------------------------l------------------------
T0

A construç ão de referê ncia temporal (valores de anterioridade, simultaneidade e posterioridade dos
acontecimentos linguísticos) depende do momento em que o sujeito responsá vel por estes enunciados
(sujeito enunciador), se situa.

Ex. ‘amanhã ’: dia depois do dia em que digo ‘amanhã ’ ‘ontem’: dia antes do dia em que digo ‘ontem’
‘neste momento’: momento em que estou a construir o acontecimento linguístico

Há um EU, AQUI e AGORA (ego, hic et nunc) subjacente a qualquer enunciado.

‘Nas sociedades e línguas ocidentais, os acontecimentos sã o construídos de acordo com valores de
passado, presente e futuro, i.e., de anterioridade, simultaneidade e posterioridade em relaç ão ao
Tempo da Enunciaç ão:
Ex.: Ontem / há trê s dias / quando estive no Porto, fui ao cinema.
Estou a dar aulas neste momento / agora.
Amanhã / um destes dias / para a semana vou ao teatro.

Mas...
• um valor temporal de anterioridade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical passado
(preté rito)
Ex.: Em 1500, Pedro Á lvares Cabral chega ao Brasil.
• um valor temporal de simultaneidade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical presente
Ex.: A Ana tem ido ao cinema todas as semanas.
• um valor temporal de posterioridade pode nã o ser marcado por um tempo gramatical futuro
Ex.: No verã o, viajo até aos Himalaias. Amanhã , conto-te uma histó ria.

A construç ão de qualquer categoria gramatical, como o Tempo, é um Sistema de correspondê ncias nã o
biunívocas que, em cada língua, se estabelece entre:

Marcadores linguísticos de construç ão de referê ncia temporal:


• Advé rbios (amanhã , agora, ontem) e expressõ es adverbiais (para a semana, de aqui a trê s dias, na
semana passada, neste momento)
• Tempo gramatical (marcado flexionalmente)

Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘preté rito’
(anterior a T0):
- preté rito perfeito simples (escrevi)
- preté rito perfeito composto (tenho escrito)
- mais que perfeito simples (escrevera)
- mais que perfeito composto (tinha escrito)
- preté rito imperfeito (escrevia)
Todos estes tempos gramaticais estã o no modo indicativo

Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘presente’
(simultâ neo a T0):
- forma perifrá stica (PE) / gerú ndio (PB)
estou a escrever; estã o a escrever / estou escrevendo; estã o escrevendo
- preté rito perfeito composto
tenho escrito

Tempos gramaticais a que associamos a construç ão de um acontecimento num tempo ‘futuro’
(posterior a T0):
- futuro simples (escreverei)
- futuro analítico (vou escrever)
- presente do indicativo (depois da aula, escrevo a carta; de aqui a um mê s, vemo-nos; logo vou ao
cinema; amanhã , telefono-te)

Presente gramatical:
- Nã o marca a construç ão de um tempo presente
- Pode marcar a construç ão de:
- Futuro (Logo, falamos.)
- Preté rito (Em 1755, dá -se um terramoto em Lisboa.; Em 1109 nasce D. Afonso
Henriques.)
- Sem tempo (fora do eixo temporal):
. Definitó rio (Os gatos sã o felinos.; O Sol nasce todos os dias.)
. Habitual (Estudo na FCSH.; Dou aulas de Gramá tica do Portuguê s.; Ele escreve
romances. ; Como sopa todos os dias.)
- Relato (imediatez) (CR chuta para L.; A multidã o exige justiç a.)

Preté rito imperfeito:


Pode marcar a construç ão de:
- Preté rito (acontecimento construído como inacabado)
Eu estava ao telefone quando a campaínha tocou.
- Sem tempo (fora do eixo temporal)
. Habitual (preté rito)
Em crianç a, eu brincava no jardim.
. Hipoté tico
Eu dava a volta ao mundo, se pudesse.
. Desejo / pedido (forma de cortesia)
Eu gostava de ir à tua festa. Queria um copo de á gua, por favor.
. “Faz de conta”
Agora eu era o polícia e tu o ladrã o.

Preté rito mais-que-perfeito:


Pode marcar a construç ão de:
- Preté rito anterior a um outro preté rito
Ela chegou e eu fizera tudo o que era preciso.
- Sem tempo (fora do eixo temporal) – expressõ es fixas.
Fora eu rica e dava a volta ao mundo. Assim devera eu ser.
Pudera (eu)!
Tomara que chova!
Quem me dera!

Preté rito perfeito composto:


Nã o marca a construç ão de um tempo preté rito
Nã o marca a construç ão de aspeto perfeito (perfectum)

O Joã o tem estado doente.


Com verbo estativo: construç ão de um valor de continuidade e de um acontecimento singular

O Joã o tem ido ao cinema.


Com verbo nã o estativo: construç ão de um valor de iteratividade e de uma classe teoricamente
infinita de acontecimentos

O Joã o tem estado doente vá rias vezes.


Mas, se o enunciado for determinado por um advé rbio frequencial: construç ão de um valor de
iteratividade

O Joã o tem comido maç ãs.


*O Joã o tem comido duas maç ãs.
Exige um objeto direto indeterminado (que permita interpretaç ão iterativa)

O Joã o tem ido ao cinema muitas vezes.


*O Joã o tem ido ao cinema cinco vezes.
Nã o coocorre com adverbiais que marquem um nú mero finito de acontecimentos
O Joã o tem comido duas maç ãs por dia
O Joã o tem ido ao cinema cinco vezes por mê s
Desaparece a má formaç ão se a quantificaç ão dos acontecimentos construídos atribuir ao
enunciado um valor de iteratividade

O Joã o tem ido ao cinema este mê s.


*O Joã o tem ido ao cinema no mê s passado.
O tempo da enunciaç ão (T0) é necessariamente um dos instantes do tempo do acontecimento
linguístico (nã o ocorre com adverbiais que exprimam anterioridade)

Preté rito perfeito composto


Exprime uma situaç ão em curso no momento da enunciaç ão (simultaneidade), cujo início teve lugar
num tempo anterior (anterioridade) a T0.
Uso transitivo predicativo do preté rito perfeito composto (‘falso perfeito composto’, Paiva Bolé o)
Interpretaç ão resultativa (ver concordâ ncia entre objeto direto e particípio passado)

Dava-te o meu coraç ão


Se mo tiveras pedido
Agora já to nã o dou
Já o tenho prometido’ (quadra popular)

Crescei, desejo meu, pois a ventura


Já vos tem nos seus braç os levantado (Camõ es, Lírica)

Tenho tudo muito bem estudado.


Ele tem a vida perdida.
Tenho anotadas todas as tuas recomendaç ões. [...]
Tenho dito.

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