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RESENHA CRÍTICA

RANCIERE, JACQUES. O Espectador Emancipado. São Paulo: Editora WMF Martins


Fontes, 2012 (p. 61 – 69). Por Artur Ferreira da Silva. Direção Teatral. 2019.2.
Dando prosseguimento as suas reflexões sobre a política da arte Rancière
continua a discorrer sobre o regime estético da arte. Ele se volta então para a
inutilidade inerente a arte, o lugar do vazio, do inútil e improdutivo que abre uma cisão
nas formas sensíveis da existência ditas como normais. Ou seja, destaca a potência
contida no caráter de inutil da arte por contraposição ao utilitarismo que impera na
sociedade capitalista contemporânea.
A partir disso pode-se começar o paradoxo da arte política pela relação entre
essas duas a partir do dissenso, da maneira de reconfigurar a experiência comum
sensível em ambas. Haveria então uma estética da política e uma política da estética
e há uma política da arte que é um recorte específico de objetos da vida comum. Essa
política da arte vem antes da dos artista, ela não depende de um desejo específico.
Tão pouco pode-se mensurar ou definir a contribuição da arte para a política enquanto
ação. Assim lógicas heterogêneas vão se entrelaçando.
A ficção seria outro fator determinante na arte política segundo este autor. Para
ele, esta não é a criação de um mundo imaginário em oposição ao mundo real, mas
sim um trabalho que instaura dissensos ao deslocar as maneiras de apresentação do
sensível, formas de enunciação e modificando ritmos, escalas e quadros. Isso significa
também mudar a percepção do sensível e de relacionar acontecimentos dessa ordem
aos sujeitos.
Em seguida o autor defende que a política da arte seria o entrelaçamento de
três lógicas: das formas da experiência estética, da ficção e da metapolítica. Também
seria um entrelace contraditório e particular entre as três formas da eficácia: a lógica
representativa, a lógica estética e a lógica ética. Rancière cita o efeito de
distanciamento brechtiano como uma tentativa deste entrelace. Deixa ainda bem claro
que mesmo assim não é possível mensurar numericamente uma relação entre o
choque artístico, a tomada de consciência e o engajamento na ação política.
O autor insiste na fundamental questão da ruptura. Para ele a ruptura causada
pela obra de arte cria um espaço de possibilidade. Nesse espaço seria possível a
reorganização de referências sensíveis que dão a cada um seu lugar na ordem das
coisas. Para então introduzir a ideia da ruptura como sistema de entretenimento e o
deslocamento do paradigma da arte do objeto para a arte como criação de relações
com o mundo.

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