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HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. 3. ed.

São Paulo: WMF


Martins Fontes, 2012.

Mtdo. David Andrade Rattacaso (pág. 17/87)

Dtdo. Fábio Carvalho de Alvarenga Peixoto

APRESENTAÇÃO

- Divisão da apresentação em 3 partes: (1) uma introdução – análise dos fundamentos


da epistemologia de Hessen; (2) análise de cada um dos 5 problemas principais
contidos
nos achados fenomenológicos; (3) crítica à epistemologia hesseana.

2 A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO (sujeito é realmente capaz de apreender o


objeto?)

- Dogmatismo: não levanta o problema do conhecimento.

- Ceticismo: sujeito não pode apreender o objeto;

=> ceticismo metafísico: positivismo;

=> ceticismo religioso: agnosticismo;

=> ceticismo ético: relativismo;

=> Subjetivismo (ceticismo parcial): validade da verdade é restrita ao sujeito


que conhece e julga;

=> Relativismo (ceticismo parcial): validade da verdade é dependente de


fatores externos (influência do meio ambiente, do espírito da época, círculo
cultural, etc.).

- Pragmatismo: substitui o conceito de verdade (conceito entre pensamento e ser) por


outro conceito de verdade (útil, valioso, promotor da vida).

- Criticismo: meio termo entre ceticismo e pragmatismo: confiança no conhecimento


humano em geral, com desconfiança com relação a qualquer conhecimento
determinado.
- Entendimento de Hessen: “criticismo é o único ponto de vista correto”.

ORIGEM DO CONHECIMENTO (fonte do conhecimento humano é a razão ou a


experiência?)

- Racionalismo: razão é a principal fonte do conhecimento humano (modelo


matemático);

=> racionalismo teológico (iluminação divina);

=> teognosticismo (intuição racional do absoluto);

=> racionalismo imanente (Descartes e Leibniz – certo número de conceitos


inatos na consciência);

=> racionalismo estritamente lógico: distinção absoluta entre origem psicológica


e origem lógica do conhecimento.

- Empirismo: única fonte do conhecimento é a experiência (modelo das ciências


naturais).

- Intelectualismo: há juízos necessários aos pensamentos, com validade universal,


porém eles decorrem da experiência.

- Apriorismo: há elementos apriorísticos na consciência, mas apenas formais; o


conteúdo é dado pela experiência.

- Entendimento de Hessen:

=> psicologia moderna aponta para uma “mescla de conteúdos intuitivos e não-
intuitivos na consciência, para uma atuação conjunta de fatores racionais e
empíricos no conhecimento humano”;

=> objetos ideias: “O intelectualismo é capaz de resolver esse problema mais


facilmente”; vs. objetos reais: “razão ao apriorismo quando afirma que nosso
conhecimento das ciências reais contém fatores a priori”.

4 A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO (o sujeito determina o objeto, ou o objeto


determina
o sujeito?)
- Objetivismo (solução pré-metafísica): objeto determina o sujeito.

- Subjetivismo (solução pré-metafísica): a verdade do conhecimento encontra-se no


sujeito.

- Realismo (solução metafísica): existem coisas reais, independentes da consciência:

=> realismo ingênuo: nenhuma reflexão epistemológica;

=> realismo natural: condicionado por reflexões críticas (é absurdo admitir que
o sangue não seja vermelho) e epistêmicas (é absurdo admitir que o sangue
deve existir apenas em minha consciência);

=> realismo crítico: propriedades ou qualidades apreendidas por um sentido


existem apenas na consciência.

- Idealismo (solução metafísica): não há coisas reais, independentes da consciência:

=> idealismo subjetivo: coisas são apenas conteúdo da consciência;

=> idealismo objetivo (panlogismo): conteúdo da consciência é soma de


pensamentos de juízos.

- Fenomenalismo: não conhecemos as coisas como são, mas como nos aparecem.

- Entendimento de Hessen: realismo: idealismo fracassa “devido à existência do nosso


eu, da qual temos certeza face a uma auto-intuição”.
5 OS TIPOS DE CONHECIMENTO (existe, além do conhecimento racional –
cartesianamente pressuposto –, um conhecimento intuitivo?)

- Intuicionismo: conhecimento imediato, sem mediação da consciência cognoscente;

=> intuição formal (intuição não-sensível, espiritual)

=> intuição material (conhecimento imediato de um dado provido de conteúdo):


(1) intuição racional (intuição do ser-assim); (2) intuição emocional (intuição do
ser-aí); (3) intuição volitiva (intuição do valor).

- Distinção entre validade universal e demonstrabilidade: intuição possui uma


importância autônoma do campo prático, não no teórico.

- Entendimento de Hessen: “Não há dúvida de que há esse conhecimento”; intuição do


ser-aí, intuição de si mesmo, intuição estética e intuição de valores religiosos.

6 O CRITÉRIO DA VERDADE (como reconhecer a verdade do conhecimento?)

- Conceito de verdade:

=> conceito transcendente (realismo): concordância do conteúdo do


pensamento com o objeto;

=> conceito imanente (idealismo): essência da verdade reside no interior do


pensamento.

- Critério de verdade:

=> conceito imanente: ausência de contradição (vale apenas para o campo das
ciências ideais);

=> conceito transcendente: critério da evidência imediata: “intuição” para


conteúdos do pensamento.

- Entendimento de Hessen: “essencial a relação do conteúdo de pensamento com o


objeto. Essa relação certamente não significa uma reprodução [...], mas uma
coordenação seguindo certas leis”; “há, sem dúvida, evidência no campo do
pensamento. Quando afirmo que todos os corpos são extensos ou que o todo é maior
do que a parte, a verdade desses juízos é imediatamente clara para mim. Mas a
evidência não pode ser encarada como o verdadeiro fundamento de validade desses
juízos. Ela é, antes, a maneira pela qual aquilo que é de natureza lógica se faz valer na
consciência”.

7 CRÍTICA À TEORIA DO CONHECIMENTO DE HESSEN

- Teoria do Conhecimento foi editado em 1925; Ser e Tempo foi editado em 1927.

- Ontologia fundamental (Heidegger):

=> Heidegger, assim como Hessen, utilizar-se do método fenomenológico: “A


ontologia só é possível como fenomenologia” (HEIDEGGER, 2012, p. 123);

=> o problema da afirmação de que somos seres: censura ao preconceito de que


“[o] ‘ser’ é o conceito que-pode-ser-entendido-por-si-mesmo” (HEIDEGGER,
2012, p. 39); “o ente ‘é’ somente no entender do ente a cujo ser pertence algo
como o entendimento-do-ser” (HEIDEGGER, 2012, p. 515);

=> “Não sabemos o que ‘ser’ significa. Mas já quando perguntamos ‘que é ‘ser’?’
nos mantemos em um entendimento do ‘é’, embora não possamos fixar
conceitualmente o que o ‘é’ significa” (HEIDEGGER, 2012, p. 41);

=> superação do cartesianismo (cogito sum cobre apenas metade da pergunta


sobre o ser): autointerpretação pré-ontológica do ser de si mesmo não pode
“ser tomada como fio-condutor adequado” à resposta da pergunta sobre o ser
(HEIDEGGER, 2012, p. 69);
=> Dasein – “a substância do homem é a existência” (HEIDEGGER, 2012, p. 589):
“Esse ente que somos cada vez nós mesmos e que tem, entre outras
possibilidades-de-ser, a possibilidade-de-ser do perguntar” (HEIDEGGER, 2012,
p. 47); “da” (aí) indica “aqui” e “lá” (HEIDEGGER, 2012, p. 379);

=> pré-compreensão (já-ser-no-mundo) – ser é o ente que somos a cada vez –


apenas somos-no-mundo – então não há um ser em-si-mesmo fora do mundo –
o mundo é sempre ser-com => o ente que examinamos nós o somos cada vez
nós mesmos (HEIDEGGER, 2012, p. 139); assim, “o conhecer é ele mesmo
previamente fundado em um já-ser-junto-ao-mundo que constitui
essencialmente o ser do Dasein” (HEIDEGGER, 2012, p. 191); isto é: “o Dasein
somente existindo é cada vez seu si-mesmo, então a constância do si-mesmo
tanto quanto sua possível ‘não-constância’ exigem que seja proposta uma
questão ontológico-existenciária como o único acesso adequado à sua
problemática” (HEIDEGGER, 2012, p. 339); “o mundo já é sempre cada vez o que
eu partilho com os outros. O mundo do Dasein é mundo-em é ser-com outros.
O ser-em-si do-interior-do-mundo desses últimos é ser-‘aí’-com” (HEIDEGGER,
2012, p. 343-5);

=> fim do dualismo metafísico – a questão sobre o “mundo exterior” pressupõe


um “sujeito sem mundo”, o que é exisentenciariamente impossível –
epistemologia sepulta desde logo o mundo exterior, para fazê-lo ressuscitar
depois, mediante provas: “Crer na realidade do ‘mundo exterior’, com razão ou
sem razão; demonstrar essa realidade de modo satisfatório ou insatisfatório;
pressupô-la expressamente ou não, semelhantes tentativas, impotentes para
dominar em plena transparência o próprio solo sobre o qual se movem,
pressupõem de imediato um sujeito sem mundo ou, o que dá no mesmo, um
sujeito que não está seguro de seu mundo e que, no fundo, deve primeiramente
assegurar-se de um mundo” (HEIDEGGER, 2012, p. 573); “não ‘é’ dado de pronto
nem nunca se dá um mero sujeito sem mundo. Do mesmo modo que também
não há afinal de pronto um eu isolado que se dê sem os outros” (HEIDEGGER,
2012, p. 337); “O homem não ‘é’ e tem, além disso, uma relação-de-ser ao
‘mundo’ que adquire circunstancialmente. O Dasein nunca é um ente que esteja
‘de imediato’ desprovido de ser-em e que às vezes tenha o capricho de assumir
uma ‘relação’ ao mundo” (HEIDEGGER, 2012, p. 181); “mau uso atual de
entender o conhecimento como uma ‘relação entre sujeito e objeto’”
(HEIDEGGER, 2012, p. 187); “o Dasein não sai de sua esfera interna, na qual
estaria inicialmente encapsulado, mas, por seu modo-de-ser primário, ele já está
sempre ‘fora': junto a um ente que vem-de-encontro no mundo já cada vez
descoberto” (HEIDEGGER, 2012, p. 193);

=> superação da pergunta sobre a possibilidade do conhecimento e sobre a


essência do conhecimento – Dasein é-com outros: ao Dasein “não se deve
aplicar dogmática e construtivamente nenhuma ideia de ser e de realidade
efetiva, por mais que ‘ela possa ser entendida por si mesma’, e ao Dasein não
devem ser impostas coercitivamente, de modo ontologicamente inconsiderado,
‘categorias’ previamente delineadas a partir de uma tal ideia” (HEIDEGGER,
2012, p. 73);
=> superação do “conceito tradicional de verdade” (concordância do juízo com
seu objeto) – verdade como descoberta do Dasein: “Antes que as leis de Newton
fossem descobertas, elas não eram ‘verdadeiras’, do que não se segue que
fossem falsas, nem menos ainda que se tornariam falsas se já não fosse
onticamente possível nenhum ser-descoberto. Tampouco há nessa ‘restrição’
uma diminuição do ser-verdadeiro das ‘verdades’. Que antes dele as leis de
Newton não eram nem verdadeiras nem falsas não pode significar que o ente
por elas mostrado no seu descobrir não tenha sido antes. Essas leis se tornaram
verdadeiras por meio de Newton; com elas certos entes se tornaram em si
mesmos acessíveis ao Dasein. Com o ser-descoberto do ente, este se mostra
precisamente como o ente que ele antes já era. Descobrir assim é o modo-de-
ser da ‘verdade’” (HEIDEGGER, 2012, p. 627).

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