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A adolescência como construção social: estudo

sobre livros destinados a pais e educadores

Adolescência como uma construção social


Ana Mercês Bahia Bock

Resumo

A adolescência tem sido tema de interesse na sociedade e, conseqüentemente, a Psicologia tem dedicado a ela espaço importante, tanto no campo da
Psicologia do Desenvolvimento quanto nas áreas de Psicologia da Educação e Psicologia Social. Livros, revistas e publicações têm sido produzidos para
levar aos pais e educadores um saber mais técnico sobre a adolescência. O interesse de nosso estudo se colocou exatamente na concepção de
adolescência apresentada nestas publicações e se propôs a uma análise crítica, indicando as conseqüências de concepções naturalizantes, tanto na prática
educativa quanto na fragilidade das políticas públicas neste setor. Com base na perspectiva sócio-histórica em Psicologia, pretendeu-se contribuir para
a divulgação e desenvolvimento de uma concepção de adolescência como produção social, indicando possibilidades de novas práticas e subsídios para
a construção de políticas públicas para a juventude, levando-se em consideração a adolescência a partir de sua natureza histórica.
Palavras-chave: adolescência; políticas públicas; juventude

Adolescence as a Social Construction - a Research on the Concept On


Books Applied to Parents and Educators
Abstract

The adolescence has been a society interest theme and consequently Psychology is giving it a very important space not only in the field of Development
Psychology but on fields of Education and Social Psychology as well. Books, magazines and publications have being produced in order to give parents and
educators a more technical knowledge on the adolescence theme. The interest of our research is related to the exact conception of adolescence that
those publications present and considers its critical analysis indicating the consequences of naturalizing conceptions as much as in the educative practice
as in the fragility of public policies in that sector. Based on social-historical perspective in psychology, it was intended to contribute to the spreading and
development of an adolescence conception that takes it as a social production indicating possibilities of new practices and allowances to the construction
of youth public policies that considers adolescence its social historical nature.
Keywords: Adolescence, Public Policies, Youth

Adolescencia como construcción social: estudio sobre libros destinados a


padres y educadores
Resumen

La adolescencia ha sido un tema de interés en la sociedad y por consiguiente la Psicología le ha dedicado un espacio importante, tanto en el campo de la
Psicología del Desarrollo como también en el área de la Psicología de la Educación y la Psicología Social. Libros, revistas y publicaciones han sido producidos
para pasarle a los padres y educadores un saber más técnico sobre la adolescencia. El interés de nuestro estudio se encajó exactamente en la concepción de
la adolescencia que estas publicaciones presentan, y se propone un análisis clínico de ellas, indicando las consecuencias de concepciones naturalizantes, tanto
en la práctica educativa como en la fragilidad de las políticas públicas en este sector. Con base en la perspectiva socio-histórica en Psicología se pretendió
contribuir para la divulgación y desarrollo de una concepción de adolescencia que la tome como producción social, indicando posibilidades de nuevas
prácticas y subsidios para la construcción de políticas públicas para la juventud que vea a la adolescencia a partir de su naturaleza histórica.
Palabras clave: adolescencia, políticas públicas, juventud.

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A Psicologia e outras áreas da ciência têm se dedi- todas as manifestações da conduta, dominada pela
cado ao estudo da adolescência, buscando contribuir ação, que constitui a forma de expressão conceitual
a qualificação dos trabalhos profissionais com estes mais típica deste período da vida; 9) uma separação
jovens e a compreensão dos “problemas” sociais en- progressiva dos pais; e 10) constantes flutuações de
volvendo a juventude. Livros, revistas e publicações humor e do estado de ânimo” (Knobel, 1989, p.29)
têm sido produzidos para levar aos pais e educado- Note-se que as concepções correntes, até então,
res um saber mais técnico sobre a adolescência, concebiam a adolescência como uma etapa natural do
instrumentando profissionais e pais a lidarem com eles desenvolvimento, tendo um caráter universal e
de modo mais competente e eficaz. Ou seja, a ado- abstrato. Inerente ao desenvolvimento humano, a
lescência tem se tornado um tema de interesse para adolescência não só foi naturalizada, mas também
o qual se tem criado um saber específico. Em publi- percebida como uma fase difícil, uma fase do desen-
cação recente, Aguiar, Bock e Ozella (2001) apresen- volvimento, semi-patológica, que se apresenta carre-
tam uma síntese de estudos sobre o conceito de ado- gada de conflitos “naturais”. A cultura aparece apenas
lescência. Os autores afirmam a marca indelével da como molde da expressão de uma adolescência natu-
Psicanálise na construção do conceito e identificam ral que, por outro lado, sofre com a pressão exercida
no início do século XX, com Stanley Hall, a introdu- pela sociedade atual, a qual impõe a moratória ao ado-
ção da adolescência como objeto de estudo da Psico- lescente pela dificuldade e demora para ingressar no
logia. Concebida como uma fase da vida do homem, mundo do trabalho. Nessas construções teóricas,
ela foi identificada como uma etapa marcada por tor- encontramos a visão de que o homem é dotado de
mentos e conturbações vinculadas à emergência da uma natureza, dada a ele pela espécie e, conforme
sexualidade. cresce, se desenvolve e se relaciona com o meio,
Foi Erickson (1976), no entanto, que atualizando características que já estão lá, pois são de
institucionalizou a adolescência. Apresentou-a a par- sua natureza. A adolescência pertence a esse conjun-
tir do conceito de moratória e a caracterizou como to de aspectos. Suas características são decorrentes
uma fase especial no processo do desenvolvimento, do “amadurecer”; são hormônios jogados na circula-
na qual a confusão de papéis, as dificuldades para es- ção sanguínea e o desabrochar da sexualidade genital
tabelecer uma identidade própria a marcavam como os fatores responsáveis pelo aparecimento da
“...um modo de vida entre a infância e a vida adulta” sintomatologia da adolescência normal.
(Erickson, 1976, p.128). Inúmeros estudos têm sido feitos sem que se apre-
Erickson foi seguido por muitos autores. Na Amé- sente uma nova versão ou conceituação para a ado-
rica Latina cabe destacar Aberastury e Knobel (1989) lescência capaz de superar a visão naturalizante.
que, com sua obra, tornaram-se referência para pro- David Levinsky (1995) conceitua a adolescência
fissionais de várias áreas. Knobel introduziu a noção como sendo uma fase do desenvolvimento evolutivo,
de “síndrome normal da adolescência”, caracterizada em que a criança gradualmente passa para a vida adul-
por uma sintomatologia que inclui: “1) busca de si ta de acordo com as condições ambientais e de his-
mesmo e da identidade; 2) tendência grupal; 3) ne- tória pessoal. Levinsky entende a adolescência como
cessidade de intelectualizar e fantasiar; 4) crises reli- de natureza psicossocial, no entanto, ao debater o
giosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransi- surgimento da fase, vincula-a à puberdade e ao de-
gente até o misticismo mais fervoroso; 5) senvolvimento cognitivo. Para o autor, a adolescência
deslocalização temporal, em que o pensamento ad- é caracterizada pelo modo com que a sociedade a
quire as características de pensamento primário; 6) representa, ou seja, nas sociedades modernas ela é
evolução sexual manifesta, desde o auto-erotismo até mais lenta e dolorosa e já nas primitivas, ela era
a heterossexualidade genital adulta; 7) atitude social agilizada e atenuada pelos ritos de passagem e pela
reivindicatória com tendências anti ou associais de maior facilidade em participar do mundo adulto. Ao
diversa intensidade; 8) contradições sucessivas em lado desta leitura mais social e cultural, Levinsky refe-

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re-se às crises universais na adolescência ligadas ao reconhecidos, a adolescência é vivida sob forma de
tabu do incesto. A sociedade e a cultura agravam a imensa contradição e ambigüidade. No mais, é um
crise dos adolescentes com sua hipocrisia e parado- fenômeno das sociedades modernas surgidas no final
xos, introjetando no adolescente seus defeitos de for- do século XIX e início do século XX com o incre-
ma projetiva. mento da urbanização e industrialização, emergindo
Içami Tiba (1985), outro autor brasileiro de gran- entre a infância e a vida adulta como um período in-
de repercussão na área, define a adolescência como termediário. Segundo as autoras, vivenciar experiên-
uma fase do desenvolvimento não estabilizada por cias com seus grupos de pares seria a maior aspira-
tempo de duração, mas que sempre tem início após a ção, pois deste modo deixam de ser crianças, esta-
puberdade, e nada mais é do que a maturação belecendo novas relações com seus pais e familiares.
filogeneticamente programada do aparelho Melucci (1997) afirma que a adolescência é a ida-
reprodutor. A adolescência seria uma fase de de da vida em que se começa a enfrentar o tempo
reestruturação do “núcleo do eu”, quando as estrutu- como uma dimensão significativa e contraditória da
ras psíquicas/corporais, familiares e comunitárias so- identidade. Nesta idade, o futuro é visto como um
frem mudanças conflitantes. Lutos e fragilidades psí- conjunto de possibilidades, prevalecendo sua orien-
quicas afloram neste período em que o adolescente tação. Essas possibilidades podem se tornar fantas-
tende a buscar autonomia, liberdade, prazer e status, mas, por não haver tempo para realizá-las.
agindo de maneira compulsiva e agressiva. A cultura Bajoit e Franssen (1997) relacionam a adolescên-
aparece como reflexo dos aspectos corporais e psi- cia à experiência no mercado de trabalho, entendo-a
cológicos (naturais), assim como os modos de pro- como um momento decisivo na definição da identida-
dução da vida também não são vistos como de do jovem. Apontam que, no entanto, a referência
constitutivos da adolescência. ao trabalho tradicional se tornou impraticável por sua
Outeiral (1994) é outro autor brasileiro utilizado dificuldade de inserção, sendo esta degradação vivida
como referência na área. Para ele, a adolescência é como crise. Eles realizaram um estudo interessante,
uma fase do crescimento humano que se caracteriza mostrando como em cada grupo social esta crise é
pela definição da identidade. Seu início se dá com as vivida diferentemente. Em jovens do meio popular a
transformações do corpo, ou seja, com a puberdade, representação do trabalho está mais ligada a normas
e se estende até que a maturidade e a responsabilida- tradicionais e o desemprego é vivido como exclusão;
de social sejam adquiridas pelo indivíduo. A adoles- já, entre os jovens da classe média desvalorizam o
cência é dividida, por Outeiral, em três fases: na pri- trabalho assalariado preferindo um projeto de auto-
meira, o jovem vivencia uma passividade em relação realização e o desemprego é vivido como tempo para
as suas transformações corporais, criando-se a partir redefinição de projetos existenciais.
daí um sentimento de impotência frente ao mundo e Peralva (1997) coloca a adolescência como uma
à realidade. Na segunda, a crise se dá por um choque fase do crescimento, provindo da cristalização das
entre gerações, já que a estrutura familiar vivida hoje “idades da vida”, sendo que estas fases aparecem
é muito diferente da estrutura vivida por seus pais. A hierarquizadas. O velho se impõe sobre o novo; o
busca da independência é o foco central, incluindo a passado informa o futuro e esta definição cultural da
busca da definição sexual. Na terceira e última fase, a ordem moderna define as relações entre adultos e
busca se dá pela identidade profissional e inserção no jovens, estabelecendo o lugar no mundo para cada
mercado de trabalho, ou seja, a busca de reconheci- idade da vida. O jovem é aquele que se integra mal,
mento pela sociedade e a independência financeira. resiste à socialização, se desvia do padrão, sendo a
Para Domingues e Alvarenga (1991), a adolescên- representação do desvio.
cia é uma fase para o ingresso na vida adulta e que, Estudos como os de Becker (1989) e Calligaris
pelo fato de não haver precisão sobre seu início e seu (2000) trouxeram elementos culturais para a leitura da
término, demarcados através de rituais socialmente adolescência, mas não superaram a visão abstrata do

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conceito. Becker (1989) propõe que olhemos a ado- problemática da vida, que deve ser superada. As ca-
lescência como “a passagem de uma atitude de simples racterísticas específicas da adolescência (se é que exis-
espectador para uma outra ativa, questionadora. Que tem) são tomadas como negativas ou como “boba-
inclusive vai gerar revisão, autocrítica, transformação” gens da idade”.
(Becker, 1989, p.10). A adolescência concebida como Além disso, pode-se apontar como um elemento
transformação, toma da sociedade e da cultura, as for- importante de crítica o fato da adolescência, concei-
mas para se expressar. tuada no âmbito da Psicologia, estar fundamentada em
Partindo da adolescência como moratória, Calligaris um único tipo de jovem, como apontou Santos (1996):
(2000) analisa, de forma rica, as dificuldades que os homem-branco-burguês-racional-ocidental, oriundo
jovens vão encontrar na sociedade para se inserirem, em geral da Europa ou dos Estados Unidos. Os estu-
nesta fase denominada adolescência, fase esta institu- dos, em sua maioria, são feitos a partir da existência
ída na nossa cultura e que, para o autor, só se tornou desses jovens, não se buscando em outros grupos a
problemática, merecendo destaque em nossos estu- suas idiossincrasias; ao contrário, como se toma a
dos, quando “o olhar adulto não reconheceu nelas os adolescência como universal e natural não há qualquer
sinais da passagem para a vida adulta” (Calligaris, 2000, necessidade de buscar outros grupos para completar
p.20). Calligaris avança na direção da superação do os estudos. Esses são buscados apenas para a aplica-
conceito abstrato afirmando: “...Numa sociedade em ção dos conceitos já construídos.
que os adultos fossem definidos por alguma compe- Criticar a perspectiva naturalizante se torna uma
tência específica, não haveria adolescentes, só candi- necessidade, pois a Psicologia, ao desenvolver pers-
datos e uma iniciação pela qual seria fácil decidir: sabe pectivas naturalizantes, deixa de contribuir para leitu-
ou não sabe, é ou não é adulto. Como ninguém sabe ras críticas da sociedade e para a construção de polí-
direito o que é um homem ou uma mulher, ninguém ticas adequadas para a juventude, responsabilizando,
sabe também o que é preciso para que um adoles- com sua leitura, o próprio adolescente e seus pais
cente se torne adulto. O critério simples da maturação pelas questões sociais que envolvem jovens, como a
física é descartado. Falta uma lista estabelecida de violência e a drogadição.
provas rituais. Só sobram então a espera, a O objetivo deste estudo foi de fazer uma revisão
procrastinação e o enigma, que confrontam o adoles- crítica sobre a concepção de adolescência que tem sido
cente – este condenado a uma moratória forçada de divulgada, em nossa sociedade, através de livros e pu-
sua vida – com uma insegurança radical...” (Calligaris, blicações destinadas a pais e educadores. O estudo
2000, p.21). O autor caminha investigando as dificul- pretende também analisar as orientações de condutas
dades dos jovens em obterem da sociedade informa- que têm sido decorrentes desta concepção. Preten-
ções que lhes possibilitem superar a moratória e fi- de-se contribuir para a superação de concepções
nalmente conclui que, o adolescente, na falta de defi- naturalizantes que têm marcado o conceito e
nição ‘do que ser’, torna-se um intérprete dos dese- reapresentá-lo, a partir da perspectiva sócio-histórica
jos adultos. “...o adolescente é levado inevitavelmen- em Psicologia, como uma produção social, assim como
te a descobrir a nostalgia adulta de transgressão, ou indicar subsídios para uma “nova” prática com adoles-
melhor, de resistência às exigências antilibertárias do centes e para a construção de políticas públicas que
mundo. Ele ouve, atrás dos pedidos dos adultos, um tomem o jovem como ator social importante.
‘Faça o que eu desejo e não o que eu peço’E atua em A análise crítica que se pretende fazer, sobre as
conseqüência” (Calligaris, 2000, p.28). Assim, produções conceituais da adolescência, parte da pers-
Calligaris retoma uma concepção abstrata da adoles- pectiva sócio-histórica em Psicologia. Uma perspec-
cência: a fonte da adolescência está nos desejos adul- tiva que, tendo base no marxismo, entende que o in-
tos e não nas formas de vida. divíduo se desenvolve a partir de sua relação com o
Tanto em uma versão quanto em outra, a adoles- mundo social e cultural. “...o homem se torna mais
cência fica concebida como uma fase difícil, uma fase individual e pode desenvolver uma atividade totalmen-

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te autônoma, necessariamente através de um grande um ser constituído no seu movimento e ao longo do
desenvolvimento das relações sociais, da realidade tempo, pelas relações sociais, pelas condições sociais
humana objetivada e com a plena socialização do indi- e culturais engendradas pela humanidade. Um ser que
víduo” (Duarte, 1993, p.157). tem características forjadas pelo tempo, pela socie-
Leontiev, psicólogo soviético, em seu texto “O dade e pelas relações, imerso nas relações e na cultu-
Homem e a Cultura”, apresenta com clareza estas ra das quais retira suas possibilidades de ser e suas
idéias. “Podemos dizer que cada indivíduo aprende a impossibilidades. Um homem que está situado no
ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nas- tempo histórico e que terá sua constituição psíquica
ce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda determinada por essa condição. A relação indivíduo/
preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do sociedade é vista como uma relação dialética, na qual
desenvolvimento histórico pela sociedade humana” um constitui o outro. O homem se constrói ao cons-
(Leontiev,1978, p.267). truir sua realidade. A sociedade passa a ser impres-
Em estudo anterior sobre o fenômeno psicológi- cindível para a compreensão da forma de se apresen-
co, Bock (2001) encontrou duas visões antagônicas tar do homem; do humano. Não se pode conhecer o
denominando-as de “visão liberal” e “visão sócio-his- humano se não for pela sua relação com as formas de
tórica”, acompanhando as grandes vertentes do pen- vida e as relações sociais. O próprio fenômeno psi-
samento positivista e marxista de nosso tempo. Estas cológico é histórico, permitindo que se entenda o que
visões são referência para o estudo que ora se apre- está aí como padrão, como algo mutável, resultante
senta. de um determinado padrão de relações e de critérios
A concepção sócio-histórica se contrapõe à con- dominantes que respondem a interesses sociais de
cepção de base liberal, na qual o homem é concebido imposição de uma determinada visão de saúde.
a partir da idéia de natureza humana. Seria possuidor O fenômeno psicológico deve ser entendido como
de uma natureza que permite com seu desenvolvi- construção no nível individual do mundo simbólico
mento que se torne homem, tal qual o conhecemos. que é social. O fenômeno deve ser visto como subje-
Haveria assim, um homem apriorístico dentro de cada tividade, concebida como algo que se constituiu na
um de nós, um homem em potencial com seu desen- relação com o mundo material e social, mundo este
volvimento previsto pela sua própria condição de que só existe pela atividade humana. Subjetividade e
homem. Esse desenvolvimento pode ser facilitado ou objetividade se constituem uma à outra sem se con-
dificultado pelo meio externo, social e cultural. O fundirem. A linguagem é mediação para a internalização
homem é livre e dotado de potencialidades naturais da objetividade, permitindo a construção de sentidos
que necessitam de condições adequadas para se pessoais que constituem a subjetividade. O mundo
atualizarem, se concretizarem, permitindo a realiza- psicológico é um mundo em relação dialética com o
ção daquilo que é potencial, dada a natureza humana. mundo social. Conhecer o fenômeno psicológico sig-
Quanto à relação do homem com a sociedade, nifica conhecer a expressão subjetiva de um mundo
encontramos a visão de que a sociedade é sempre objetivo/coletivo; um fenômeno que se constitui em
algo externo e independente dele e essa deve estar um processo de conversão do social em individual;
organizada para facilitar e contribuir com o seu de- de construção interna dos elementos e atividades do
senvolvimento do potencial. A sociedade é vista como mundo externo. Conhecê-lo desta forma significa
algo contrário às tendências naturais do homem e é retirá-lo de um campo abstrato e idealista e dar a ele
compreendida e estudada sempre como algo que é uma base material vigorosa. Permite ainda que se su-
externo e estranho à natureza humana, pois não faz pere definitivamente visões metafísicas do fenômeno
parte da Natureza. Suas forças são contrárias às ten- psicológico que o conceberam como algo súbito, algo
dências humanas. que surge no homem, ou melhor, algo que já estava
Na visão sócio-histórica, utilizada como referên- lá, em estado embrionário, e que se atualiza com o
cia, o Homem é visto como um ser histórico, isto é, amadurecimento humano.

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A adolescência da perspectiva sócio-histórica buscar compreender sua gênese histórica e seu de-
A adolescência não é vista aqui como uma fase na- senvolvimento.
tural do desenvolvimento e uma etapa natural entre a Adélia Clímaco (1991) traz em seus estudos vári-
vida adulta e a infância. A adolescência é vista como os fatores sociais-econômicos e culturais que nos
uma construção social com repercussões na subjeti- possibilitam compreender como surgiu a adolescên-
vidade e no desenvolvimento do homem moderno e cia. Retomaremos aqui, brevemente, estes fatores
não como um período natural do desenvolvimento. É apontados pela autora. A sociedade moderna, com
um momento significado, interpretado e construído suas revoluções industriais, gerou grandes modifica-
pelos homens. Estão associadas a ela marcas do de- ções nas formas de vida. Com as revoluções industri-
senvolvimento do corpo. Essas marcas constituem ais, o trabalho se sofisticou, do ponto de vista
também a adolescência enquanto fenômeno social, mas tecnológico e passou a exigir um tempo prolongado
o fato de existirem enquanto marcas do corpo não de formação, adquirida na escola, reunindo em um
deve fazer da adolescência um fato natural. mesmo espaço os jovens e afastando-os do trabalho
Há muitas outras características que constituem por algum tempo. Além disso, o desemprego crônico/
a adolescência; além disso, as marcas corporais são estrutural da sociedade capitalista trouxe a exigência
significadas socialmente, não sendo tomadas no con- de retardar o ingresso dos jovens no mercado e au-
ceito de adolescência em si, como características do mentar os requisitos para este ingresso, o que era
corpo e, portanto, naturais. Exemplo disto são os seios respondido pelo aumento do tempo na escola.
na menina e a força muscular nos meninos. Sabemos A ciência, por outro lado, resolveu muitos proble-
que os seios e o desenvolvimento da massa muscular mas do homem e ele teve a sua vida prolongada, o
acontecem na mesma fase da adolescência. Mas, a que trouxe desafios para a sociedade, em termos de
menina que tem seus seios se desenvolvendo não os mercado de trabalho e formas de sobrevivência. Es-
vê, sente e significa como possibilidade de amamen- tavam dadas as condições para que se mantivesse a
tar seus filhos no futuro, o que seria vê-los como na- criança mais tempo sob a tutela dos pais, sem ingres-
turais. Com certeza, em algum tempo ou cultura, isso sar no mercado de trabalho. Mantê-las na escola foi a
já foi assim. Hoje, os seios tornam as meninas seduto- solução. A extensão do período escolar e o conse-
ras e sensuais. Esse é o significado atribuído qüente distanciamento dos pais e da família e a apro-
atualmente. A força muscular dos meninos já foi ximação de um grupo de iguais foram conseqüências
significada como possibilidade de trabalhar, guerrear destas exigências sociais. A sociedade então assiste à
e caçar. Hoje é beleza, sensualidade e masculinidade. criação de um novo grupo social com padrão coletivo
Da mesma forma, o jovem não é algo “por nature- de comportamento -a juventude/a adolescência.
za”. Como parceiro social está ali, com suas caracte- A adolescência se refere, assim, a esse período de
rísticas, interpretadas nessas relações,, o modelo para latência social constituída a partir da sociedade capi-
sua construção pessoal. Construídas as significações talista gerada por questões de ingresso no mercado
sociais, os jovens têm então a referência para a cons- de trabalho e extensão do período escolar, da neces-
trução de sua identidade e os elementos para a con- sidade do preparo técnico. Essas questões sociais e
versão do social em individual. históricas vão constituindo uma fase de afastamento
A abordagem sócio-histórica, ao estudar a adoles- do trabalho e o preparo para a vida adulta. As marcas
cência, não faz a pergunta “o que é a adolescência”, do corpo, as possibilidades na relação com os adul-
mas, “como se constituiu historicamente este perío- tos vão sendo pinçadas para a construção das signifi-
do do desenvolvimento”. Isto porque para esta abor- cações.
dagem, só é possível compreender qualquer fato a Podemos prosseguir no caminho de Clímaco
partir da sua inserção na totalidade, na qual este fato (1991) e postular a hipótese de que os jovens passa-
foi produzido, totalidade essa que o constitui e lhe dá ram, então, a estar colocados em uma nova condição
sentido. Responder o que é a adolescência implica em social: o jovem, apesar de possuir todas as condições

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cognitivas, afetivas e fisiológicas para participar do dos se modificaram no tempo e nas diversas civiliza-
mundo adulto, estava desautorizado a isso, devendo ções: força física, cortesia e amor, guerra e caça, jo-
permanecer em um compasso de espera para esse gos, proezas, responsabilidades, transgressões; 20
ingresso; vai ficando distante do mundo do trabalho e anos ou 30 anos; uma etapa curta ou longa de passa-
distante também das possibilidades de obter autono- gem para a vida adulta, a adolescência não foi a mes-
mia e condições de sustento. Vai aumentando o vín- ma coisa sempre.
culo de dependência do adulto, apesar de já possuir Ao estudar a construção histórica da infância e da
todas as condições para estar na sociedade de outro adolescência, em seu trabalho de mestrado, Santos
modo. Essa contradição vivida pelos jovens foi res- (1996) cita Morin (1986; 1990) que acredita que a
ponsável pelo desenvolvimento de uma série de ca- adolescência, enquanto “classe de idade” surgiu na ci-
racterísticas que refletem a nova condição social na vilização do século XX, nos anos 50, e hoje, é, prati-
qual se encontram. Estas características são aquelas, camente, fenômeno universal. Para ele, a adolescên-
descritas pela Psicologia, mas que não são tomadas cia nasce nos Estados Unidos e depois se espalha ra-
aqui como naturais e sim, constituídas no processo pidamente pelo mundo ocidental, países do leste eu-
histórico e social: crises de identidade e busca de si ropeu e centros urbanos do Terceiro Mundo. As ex-
mesmo; tendência grupal; necessidade de plicações para seu surgimento são o declínio da famí-
intelectualizar e fantasiar; atitude rebelde; onipotência lia como unidade de produção e mudança do padrão
e outras. As condições sociais nas quais se encontram de vida agrário para o urbano. As ocupações já não
os jovens são como fonte mobilizadora e geradora da passavam de pai para filho, o que criou um gap entre
chamada “adolescência”. A moratória na qual se en- a experiência dos pais e a dos filhos, transformando a
contram os jovens não é um período necessário do idade de teens em época da vida dedicada à escolha
seu desenvolvimento e sim, um período no qual o profissional. Essa visão ganha força social e passa a
mundo adulto considerou necessário colocar seus jo- ser respaldada por normas legais de proibição do tra-
vens para poderem, os adultos, estar mais tempo no balho neste período da vida e de compulsoriedade da
mercado de trabalho e, os jovens mais bem prepara- educação escolar. Essas medidas acabam conferindo
dos para responderem às exigências do novo mundo status jurídico para a existência da adolescência como
do trabalho tecnológico. categoria de idade. “A indústria cultural se apropria
Na retomada histórica, Levi e Schmitt (1996) per- dos valores e atributos próprios desta fase da vida e
mitiram que compreendêssemos que a juventude, nas contribui para criar uma cultura adolescente. Desse
várias épocas históricas e nas civilizações, adquiriu modo, as mudanças econômicas, familiares e cultu-
significados distintos. Na sociedade grega, os homens rais transformam a experiência de crescimento e a
eram a força física e os jovens tinham essa força em adolescência tornou-se um importante estágio na bi-
sua plenitude e vigor e eram treinados para se torna- ografia individual e, mais do que isso, em um conjunto
rem cidadãos de forma integral e a juventude signifi- etário nas sociedades modernas ocidentais” (Santos,
cou esta etapa de preparação. No mundo romano, a 1996, p.154).
caça, a briga, a corrida e a nudez caracterizaram a Outro fator para o desenvolvimento da adolescên-
juventude. Às mulheres estava destinada a criação dos cia é a ausência de ritos institucionalizados de passa-
filhos e os cuidados da casa, não exigindo prepara- gem, descontinuidade entre o mundo do adulto e da
ções muito sofisticadas. Para os homens existiam vá- criança. Faltam modelos para o desempenho de pa-
rios rituais de preparação. Para a juventude judaica na péis, o que provoca uma dificuldade de identificação
Europa, os 30 anos de idade marcavam o ápice da da criança, contribuindo para produzir conflitos em uma
força e responsabilidade plena. O casamento era a fase que passa a ser de transição. Santos (1996) afirma
atividade mais importante para marcar a vida adulta, a que só pode haver adolescência como tempo de con-
qual possuía status, prestígio e possibilidades de acesso flito onde o mecanismo de iniciação, transformando a
a direitos. As “marcas” da juventude e seus significa- criança em adulto, se deslocou ou decompôs-se e onde

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se desenvolveu uma zona de cultura e de vida que não pos (os que se engajam no trabalho desde cedo e
está engajada, integrada na vida adulta. adquirem autonomia financeira mais cedo). Não há
Adolescência para Santos (1996) está identificada uma adolescência, enquanto possibilidade de ser; há
com escola, com aumento de tempo na escola, com uma adolescência enquanto significado social, mas suas
a mudança da instituição escolar e a extensão pro- possibilidades de expressão são muitas.
gressiva do período de aprendizagem; tudo isto deu
consistência e visibilidade à condição infanto-juvenil
(Santos, 1996, p.157). Alguns grupos sociais que fi- O Estudo
cam excluídos da escola e ingressam cedo no mundo
do trabalho se “adultizam” e não têm acesso à ado- O estudo se desenvolveu a partir da análise de tex-
lescência, enquanto uma condição social. tos publicados sobre adolescência, destinados aos pais
São muito importantes as contribuições de Clímaco e professores. Analisamos o conceito de adolescên-
(1991) e Santos (1996), no sentido de produzir uma cia presente nestes textos, através da sua sistemati-
clareza sobre a concepção de que a adolescência é zação em categorias que nos permitiram uma aproxi-
criada, na sociedade moderna, por exigências dessa mação maior do discurso.
sociedade. Constitui-se na relação com os adultos, A escolha dos textos se deu a partir de um levan-
representantes dessa sociedade. As características se tamento que:
constituem na medida em que os jovens, colocados - considerou livros destinados a pais e professo-
nessa nova condição, desenvolvem suas formas de res sobre a adolescência que, na opinião de ven-
inserção nessa relação. dedores em grandes livrarias, eram considera-
Importante registrar que, na medida em que esse dos livros de alta vendagem.
fato social da adolescência se configura, tomando - contemplou publicações de autores brasileiros
contornos mais claros, a sociedade como um todo e estrangeiros (publicados em português) indica-
registra e dá significado a esse momento. A ciência dos pelos livreiros. O livro estrangeiro indicado
a estuda, a conceitua, a expressa em livros e des- era americano, não havendo nas livrarias, à dis-
creve suas características (tomadas como se fos- posição, no momento, livros de outros países.
sem naturais da idade). A sociedade reconhece, Os livros deveriam, em seu conteúdo, conter
então, uma fase do desenvolvimento de seus filhos trechos que permitissem acesso ao conceito de
e jovens e atribui-lhe significados; espera algumas adolescência do autor e indicações de conduta
condutas de seus filhos e jovens.. A adolescência de como lidar com os adolescentes e terem sido
se instala de forma inequívoca na sociedade. Os publicados nos últimos 10 anos (1992 em dian-
jovens que não possuíam referências claras para te) 1.
seus comportamentos utilizam, agora, essas carac- Construímos, a partir dos textos, categorias para
terísticas como fonte adequada de suas identida- a sistematização dos conteúdos. As categorias per-
des: são agora adolescentes. mitiram organizar os conteúdos dos textos, tornan-
Não há nada de patológico; não há nada de natu- do mais visível a concepção. Quatro categorias para
ral. A adolescência é social e histórica. Pode existir sistematizar o conteúdo foram, então, elaboradas:
hoje e não existir mais amanhã, em uma nova forma- 1) Descrição das características e comportamen-
ção social; pode existir aqui e não existir ali; pode to do jovem;
existir mais evidenciada em um determinado grupo 2) Descrição da relação dos jovens com adultos;
social, em uma mesma sociedade (aquele que fica mais 3) Explicação da adolescência: Gênese e
afastado do trabalho) e não tão clara em outros gru- 4) Regras e Orientações.

1
Waldman, Larry – E agora? Tenho um filho adolescente, Ed. Mercuryo, 1997, São Paulo; Tiba, Içami – Disciplina: limite na medida certa- Ed.
Gente, 1996, São Paulo; Zagury, Tânia – O Adolescente por ele mesmo: orientação para pais e educadores – Ed. Record, 1996, Rio de Janeiro;
e Zagury, Tânia – Limites sem trauma- construindo cidadãos – Ed. Record, 12a. edição, 2001, Rio de Janeiro

70 A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores • Ana Mercês Bahia Bock
Voltamos aos textos e fomos numerando as frases migo para o qual a melhor arma é a compreensão. O
na seqüência de cada texto. Montamos então, quatro adulto é valorizado como capaz da aceitação e da pa-
quadros, um para cada livro, no qual colocamos as ciência e o jovem é tomado como alguém sem con-
frases nas suas categorias, numeradas em sua trole ou maturidade. A adolescência passa e tudo fica
seqüência, permitindo ao leitor o conhecimento exato resolvido. Não há o que se fazer enquanto a adoles-
da seqüência do texto. A sistematização e a análise cência é vivida; resta ser tolerante.
foram feitas mantendo os livros separados um do Tiba (1996, p. 77-86) adota visão naturalizante e
outro, permitindo o conhecimento de cada um em adaptativa ao caracterizar a adolescência. O adolescente
sua visão e conceito. é visto como um ente acima e além dos indivíduos e
Em seguida, pudemos iniciar a análise de cada li- das relações. As características são tomadas como uni-
vro/capítulo, em cada uma das categorias; quais e versais e inevitáveis, respondem a necessidades.
como estavam apresentadas as características e o Quanto à relação com os adultos, este é estável,
comportamento dos adolescentes; qual a gênese apon- pronto e acabado, ao contrário do adolescente. O
tada pelo texto para essas características; como esta- conflito na relação é tomado como natural e o adulto
va apresentada a relação dos adolescentes com os deve aprender a conviver bem com isso.
adultos e quais as orientações que eram apresentadas Quanto à gênese da adolescência, Tiba é taxativo
para os pais e professores. Em relação às quatro ca- na sua visão; há um padrão natural. A adolescência
tegorias indicadas foram feitas sínteses de cada livro. simplesmente acontece. Há, no entanto, uma refe-
rência à saúde que permite que o conflito não seja tão
As concepções que encontramos nos livros intenso. O que é um filho saudável? Não se sabe pelo
Para Waldman (1997, p. 23-56), a adolescência texto. Sabe-se que a saúde reduz a intensidade do
acontece sem que se escolha ou saiba. É marcada por conflito (necessário e inevitável).
características universais e pela busca da independên- A orientação oferecida para os adultos é de tole-
cia e identidade. Antes desta idade, isso não ocorre e rância e compreensão, supondo que a adolescência
nem mesmo a forma de relação dos pais com os fi- é natural e não tem jeito a não ser tolerar. Zagury
lhos em nossa sociedade é pensado como tendo algo (2001, p.145-163) apresenta a adolescência com ca-
a ver com o que se busca nesta fase. O adolescente é racterísticas negativas, “como capacidade inesgotá-
visto de forma negativa, como alguém sem controle, vel de se opor, insegurança e baixa auto-estima, cer-
que não consegue decidir; as palavras utilizadas por ta dose de depressão; precisam de amor, são jovens
Waldman para caracterizá-los são negativas: retalia, e estão aprendendo”. Todas estas características são
agride, resiste; malvados, parecem doidos. São vis- atribuídas à idade. São negativas no sentido de
tos como incapazes. incompletude e imaturidade e por não serem carac-
Quanto à relação com os adultos, os pais são vítimas. terísticas desejadas.
O próprio nome do livro demonstra esta posição: E Na relação, os pais precisam ser tolerantes e dar
agora? Tenho um filho adolescente. Mostra que os pais amor aos filhos adolescentes e devem se impor como
são despreparados para conviverem com os adolescen- autoridades. Há uma grande preocupação em orien-
tes. Resistem a perder o controle sobre os filhos. tar os pais para se manterem hierarquicamente supe-
Quanto à gênese da adolescência esta é natural, riores em relação a seus filhos adolescentes.
decorrente da produção de hormônios e mudanças O texto não traz qualquer informação sobre a gê-
corporais e intelectuais. A adolescência é ainda imatu- nese da adolescência. Como ela surge? Como surgem
ridade do ser humano que está em desenvolvimento todas as características da adolescência? Não há
e, por isso, é uma fase que passa. posicionamento sobre isso, o que demonstra uma vi-
O autor então, vê as relações com os pais como são naturalizante.
luta, mas os pais devem ser capazes de tolerância e Quanto às orientações e regras, Zagury entende
compreensão. O adolescente é tomado como um ini- que o jovem deve ser aceito, tolerado e compreendi-

Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) • Volume 11 Número 1 Janeiro/Junho 2007 • 63-76 71
do. A autoridade do adulto serve para dar segurança Negativos porque são características desvalorizadas
e amor. Para a autora, autoridade está diferenciada de na sociedade; porque aparecem como incompletude,
controle, sendo a autoridade muito valorizada como imaturidade, algo que ainda não acabou de acontecer
necessária para enfrentar o filho adolescente que faz e de se desenvolver. As características positivas que
as coisas erradas e estas não devem ser toleradas. De aparecem na descrição da adolescência são tomadas
resto, a orientação básica é mesmo a tolerância e a como algo “da fase”, fruto da imaturidade. É definida
autoridade. em oposição com o adulto, o qual aparece como a
Em um segundo livro de Zagury (1996, p. 23-32), meta deste desenvolvimento; como o estágio a ser
a descrição das características dos jovens é extensa e atingido; como a etapa que apresenta as característi-
rica. Características de comportamento social e, prin- cas que a adolescência ainda não possui. Adolescência
cipalmente, psicológicas. São tomadas e apresentadas é fase do desenvolvimento e se encaminha para a vida
como características de uma fase do desenvolvimen- adulta. Por isso a adolescência aparece como fase pas-
to, universais e naturais, pois todos os jovens nesta fase sageira.
apresentarão estas características. Interessante relaci- Como fase do desenvolvimento, as características
onarmos algumas: desenvolvimento físico, intelectual e são universais e inevitáveis. Tomadas como fruto do
afetivo, amadurecimento sexual, mudanças sociais, ten- desenvolvimento são também naturalizadas. É da na-
dência à imitação, tendência a buscar novas respostas, tureza do homem e de seu desenvolvimento passar
onipotência pubertária, grande apetite, insegurança, por uma fase como a adolescência. As características
busca de identidade, confusão, medo, preocupação desta fase, tanto biológicas, quanto psicológicas são
social, sonho, contradição, serenidade, instabilidade, naturais. Rebeldia, desenvolvimento do corpo, insta-
emoções contraditórias e sentem-se imortais. bilidade emocional, tendência à bagunça, hormônios,
A relação do adulto com o jovem é apresentada tendência à oposição, crescimento, desenvolvimento
como uma relação difícil, pois os pais não querem do raciocínio lógico, busca da identidade, busca de
perder o lugar de referência e os filhos estão em uma independência, enfim todas as características são equi-
fase complexa. A gênese da adolescência está no de- paradas e tratadas da mesma forma, porque são da
senvolvimento do raciocínio que permite o aumento natureza humana.
da capacidade intelectual e, portanto, gera indepen-
dência intelectual. No entanto, o desenvolvimento in- Relações dos jovens com os adultos:
telectual não parece ser responsável por todas as ca- A relação é apresentada como uma relação difícil e
racterísticas da adolescência. conflituosa, uma luta, pois os jovens querem se liber-
Quanto às orientações e regras, os adultos devem tar dos pais e estes não querem perder o controle
compreender a adolescência como uma fase do de- dos filhos. Os critérios são diferentes, os gostos, as
senvolvimento. A adolescência é complexa, mas pas- vontades, as regras, enfim, tudo é apresentado como
sa. Os pais não devem infantilizar os filhos e devem sendo muito diferente entre pais e filhos. A diferença
estabelecer com clareza as regras de convivência. Os surge das características dos jovens que, por nature-
jovens não devem ser poupados no que diz respeito za, se opõem ao que está estabelecido pelos pais. É
a assumirem suas responsabilidades. Firmeza e, com- característica da adolescência a oposição aos pais e
preensão é um bom remédio para esperar a adoles- ao mundo adulto.
cência passar.
Explicação da adolescência: gênese
Discutindo os dados e esboçando uma É, a rigor, uma incógnita. Poucas referências são
conclusão feitas à gênese da adolescência, não se buscando uma
Características da adolescência: visão clara da gênese dos fenômenos. Como surgem
A adolescência foi apresentada, nos 4 livros estu- estas características? Na verdade, não se tem nenhu-
dados, por meio de elementos, em geral, negativos. ma leitura sobre isto porque se crê que a adolescên-

72 A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores • Ana Mercês Bahia Bock
cia é natural; é uma fase do desenvolvimento, não sendo do adulto e mundo jovem, a impossibilidade de auto-
necessário se falar da gênese; a ênfase recai sobre a nomia financeira dos jovens que ou não trabalham ou
descrição das características que estão em potencial sustentam a família, nenhuma destas questões é toma-
na natureza humana e vão se atualizando conforme há da como elemento importante para compreender a
desenvolvimento e crescimento. Assim, não há leitu- forma como se apresenta a adolescência em nossa so-
ra social alguma. As relações com o mundo social e ciedade. As relações familiares são as únicas que apare-
adulto aparecem somente como interferência; inter- cem nos textos e são fatores de influência sobre a ado-
ferem mas não constituem. As diferenças existentes lescência, mas não a constituem.
entre os adolescentes se dão devido às influências do Outra questão importante é que o jovem apre-
meio que facilitam ou dificultam o desabrochar da- sentado nos textos é das camadas de médio ou alto
quilo que é potencial. poder aquisitivo. Não há, no entanto, qualquer refe-
rência a isto. O adolescente está tomado como uni-
Orientações e regras: versal, quando são evidentes as diferenças entre os
A maior parte das orientações está dada aos adul- grupos das diferentes classes sociais devido a dife-
tos, na medida em que os livros são destinados a pais rentes formas de inserção social. Mas nada disso está
e professores e, estão sempre na direção de pedir apresentado e debatido, pois a adolescência está to-
tolerância, compreensão e paciência. Os argumentos mada como universal e natural. Os textos não ser-
que justificam este pedido são: a adolescência é pas- vem para a compreensão de jovens de outros grupos
sageira, pois se constitui como uma fase do desenvol- sociais. Ao contrário, impõe um modelo que, ao não
vimento; a adolescência, como algo necessário no se apresentar no processo do desenvolvimento, leva
crescimento, é incontrolável; e, por fim, os adultos a consideração de anormalidades e patologias, ao in-
são seres mais completos e prontos e, portanto, po- vés de apenas diferenças decorrentes das diferentes
dem controlar a situação. inserções na sociedade.
Pede-se aos adultos que controlem o medo de As relações com os adultos são tomadas como
perder o filho e de perder o controle, mas não se conflituosas. Os adolescentes são responsabilizados
discute a necessidade do controle (ela é naturalizada) pelas tensões. Utilizam-se termos como luta para fa-
nas relações pais e filhos. Os adultos são incentivados zer referência a estas relações. Com isto, deixa-se de
ao controle, à autoridade, à imposição de regras, re- incentivar relações de parceria social entre pais e fi-
gras que são do mundo adulto. Mas são também in- lhos. Os pais recebem milhares de orientações que
centivados ao amor, à compreensão, à tolerância, a devem seguir para aliviar as tensões na família. Cabe a
manterem relações democráticas e a valorizar positi- eles salvar as relações. Ficam sobrecarregados de
vamente o adolescente. responsabilidade, quando poderiam ver seus filhos
Todas as sugestões são a partir da idéia de que a adolescentes como parceiros, que como qualquer
adolescência é natural. Portanto não há propostas ativas. pessoa, inclusive os próprios pais, têm, em cada mo-
Recomenda-se apenas a aceitação e a paciência. mento da vida, projetos, necessidades e possibilida-
A adolescência, da forma apresentada nos textos, des que são delineadas pela cultura.
não tem gênese social. Nenhuma das suas característi- Nossa cultura valoriza o adulto produtivo. Desva-
cas é constituída nas relações sociais e na cultura. As- loriza todas as outras fases da vida: a infância, a velhi-
sim, ao se pensar a problemática da adolescência não ce e a adolescência, tomadas como fases improduti-
se toma qualquer questão social como referência. A vas para a sociedade, por isso desvalorizadas. A visão
falta de políticas para a juventude em nossa sociedade, naturalizadora reforça estes valores, ao tomar o de-
a desqualificação e inadequação das atividades escola- senvolvimento como referência.
res para a cultura jovem, o sentimento de apropriação A Psicologia não deve manter-se divulgando e re-
que os pais têm, em nossa sociedade, em relação aos forçando estas visões, pois não contribui para a cons-
filhos, as contradições vividas, a distância entre o mun- trução de políticas sociais adequadas para a juventu-

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de; não ajuda a construir projetos educacionais ade- período do desenvolvimento, como expressões da
quados para manter os jovens na escola e a inserir os natureza humana. A realidade social é vista como in-
jovens nos grupos e nas instituições que têm como dependente do homem; como algo que interage com
vocação o debate sobre a juventude. Enfim, a visão o desenvolvimento potencial do homem, podendo
naturalizante da adolescência é mais do que uma visão contribuir e facilitar esse desenvolvimento, ou impe-
que acoberta as determinações sociais; é uma visão dir e dificultar.
que impede a construção de uma política social ade- As práticas decorrentes desta visão são
quada para que os jovens possam se inserir na socie- remediativas, curativas e terapêuticas, pois, ao postu-
dade como parceiros sociais fortes, criativos, cheios larem um desenvolvimento natural do homem, se pro-
de projetos de futuro. põem a observar seu trajeto, cuidando para que siga o
A concepção de adolescência, apresentada nos li- que está previsto pela natureza. Caso se desencami-
vros estudados, é uma concepção liberal, fruto do pen- nhe do previsto, lá estará o profissional para intervir e
samento moderno. No período de ascensão da bur- para adaptar. As técnicas de trabalho e os instrumen-
guesia, como classe dominante, e do desenvolvimento tos utilizados pelos profissionais não são vistos como
das forças produtivas do capitalismo, vamos assistir à intervenções ativas que interferem na constituição da
demanda por um novo tipo de conhecimento. Era pre- adolescência; são técnicas que reforçam a imagem de
ciso ultrapassar o conhecimento estático, submetido à um ser em conflito e de um ser imaturo e inacabado.
fé e aos dogmas da Igreja. A ciência moderna vem aten- São técnicas que se traduzem em explicações da ado-
der a essa necessidade: desmistificar a natureza, valori- lescência como uma fase “quase patológica”. São técni-
zar a racionalidade do homem, entendê-lo como um cas que supõem a possibilidade de, ao se tornar adul-
ser que, ao mesmo tempo que faz parte da natureza, to, se está pronto e acabado no desenvolvimento, tra-
possui uma autonomia em relação a ela que permite, zendo para a adolescência uma enorme responsabili-
dadas as condições favoráveis, o desenvolvimento ple- dade nas escolhas, nas ações, nas idéias, pois passado
no de capacidades que estão, no homem, em potenci- este período se estará adulto e as oportunidades de
al. O sujeito é visto como independente, livre, racional mudanças serão poucas.
e natural. O homem é visto como sujeito a leis naturais As práticas profissionais ficam pensadas como in-
e é, ao mesmo tempo, autônomo, capaz de usar a ra- tervenções que “ajudam no amadurecimento”, ou seja,
zão soberana. A realidade também é natural e indepen- que adaptam ao que está estabelecido. São decorren-
dente e deve ser conhecida a partir de sua natureza tes desta visão, as produções como as que estuda-
intrínseca sem a presença do homem, uma realidade mos, que apresentam as características da adolescên-
que tem seu próprio funcionamento. Dicotomiza-se cia de forma naturalizada, como crise de um desen-
sujeito e objeto; subjetividade e objetividade. “...A se- volvimento que tem a infância de um lado e o mundo
paração entre objetividade e subjetividade leva a uma adulto do outro; orientam pais e professores no sen-
naturalização dos aspectos subjetivos como dos aspec- tido da tolerância, pois a crise é passageira; que
tos objetivos, que, em última instância, faz com que universalizam e igualam todos os jovens, estejam eles
esses aspectos pareçam independer uns dos outros. A onde estiverem, inseridos em qualquer cultura e so-
partir do momento em que são tomados como inde- ciedade. Não contribuem em nada para desvendar as
pendentes, passam a serem vistos como autônomos, relações sociais e formas de vida como relacionadas à
com movimento próprio e natural...” (Gonçalves, 2001, gênese das características da adolescência, deixando,
p. 47). portanto, de apontar qualquer sugestão ou contribui-
É exatamente esse movimento no pensamento ção para a construção de políticas sociais para a ju-
moderno que produz a concepção de adolescência ventude. Restringe-se à tolerância.
que acabamos de estudar. Uma visão da adolescência Em síntese, nosso trabalho, ao buscar compreen-
como natural, independente da realidade material. As der a concepção de adolescência presente em nossa
observações levam a postular características, deste sociedade, enfatizou esta concepção naturalizante

74 A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores • Ana Mercês Bahia Bock
como aspecto que limita e restringe as práticas dos Bock, A. M. B. (2001). Aventuras do Barão de Munchhausen na
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em quadros “patologicamente normais” ou “natural- Calligaris, C. (2000). A adolescência. Coleção Folha Explica.
mente patológicos”. São Paulo: PUBLIFOLHA.
Os psicólogos estão, a nosso ver, perdendo a pos-
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cência. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica
públicas para a juventude que, entendendo a adoles-
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que tenham no jovem um parceiro social. Além dis- teoria histórico-social da formação do indivíduo. Campinas:
so, os psicólogos devem contribuir com seus sabe- Autores Associados.
res para que a adolescência seja vista como de res- Erickson, E. (1976). Identidade, juventude e crise. Rio de Janei-
ponsabilidade de todos. O que nossos jovens estão ro: Zahar.
fazendo, como estão se comportando deve ser com-
Gonçalves, M. G. M. (2001). A Psicologia como ciência do sujei-
preendido como fruto das relações sociais, das con-
to e da subjetividade: a historicidade como noção básica. Em A.
dições de vida, dos valores sociais presentes na cul-
M. B. Bock, O. Furtado & M. G. M. Gonçalves (Orgs.), Psicologia
tura, portanto, como responsabilidade de todos que
Sócio-Histórica: uma leitura crítica na Psicologia (pp. 37-52).
fazem parte de um conjunto social. Pais, professores, São Paulo: Cortez.
profissionais e adultos em geral devem ser alertados
Knobel, M.( 1989). A Síndrome da adolescência normal em
para a responsabilidade que possuem na formação e
A.Aberastury & M. Knobel Adolescência Normal. (pp.24-62).
na construção social de nossa juventude. Não se deve
Porto Alegre: Artes Médicas.
pedir a eles apenas tolerância.
Leontiev, A. (1978). O Desenvolvimento do psiquismo. Lisboa:
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Recebido em: 31/01/2007


Revisado em: 28/05/2007
Aprovado em: 12/06/2007

Sobre a autora:

Ana Mercês Bahia Bock (anabock@terra.com.br) é professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Membro
de corpo editorial da Revista Mexicana de Orientacion Educativa e Membro de corpo editorial da Alternativas em Psicologia.

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