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Contexto

O poema “nevoeiro” enquadra-se na terceira e última parte da obra


Mensagem, o Encoberto, na secção Os Tempos.
Esta última parte é notoriamente sebastianista. Defendia-se que o rei
encoberto iria voltar numa manhã de nevoeiro para salvar Portugal do estado de crise
e de incerteza em que se encontra. A morte do rei em Alcácer-Quibir preconizará um
renascimento e Portugal voltaria a ser o V Império que foi outrora.
Na secção Os Tempos encontram-se 5 poemas onde Pessoa descreve,
metaforicamente, desde um passado remoto a um futuro ainda sem data, a evolução
de Portugal, através dos momentos que antecedem a chegada do Encoberto.
Esta composição poética é um poema lírico porque existe um sujeito poético
que, no seu enunciado, expõe o seu sentimento, a sua visão pessoal da decadência do
país.

Título
O título do poema ilustra simbolicamente a situação de apatia, dispersão e
incerteza em que Portugal se encontrava. Por outro lado, este título retoma o mito
sebástico e, nesta perspetiva, o nevoeiro é o surgimento de uma nova luz.
Paradoxalmente, o título surge como uma referência disfórica, pois indica a morte da
Pátria. No entanto, transmite uma nota de esperança por evocar a ressurreição de
uma nova era.
Pode dizer-se que Portugal é nevoeiro, pois apresenta um perfil indefinido, sem
brilho, sem chama, uma pátria sem alma, onde ninguém sabe o que quer, nem
distingue o mal do bem.
Aparte:
Face a esta situação da Pátria, o sujeito poético encontra-se inicialmente
desanimado, descrente e desorientado.

Análise (ao longo do poema)


Ao longo do poema podemos dar conta da indefinição e da decadência de
Portugal através de várias crises:

 Crise política – v.1


 Crise de valores sociais e morais – vv.7-9
 Crise de identidade nacional – v. 13
 Crise de unidade – vv. 11-12
Análise (1ª estrofe)
Na 1ª estrofe, Fernando Pessoa caracteriza o estado da nação no presente de
um modo mais geral.
Primeiros 3 versos: Portugal encontra-se num estado de apatia, tristeza,
desânimo e decadência. É uma crise tão profunda que nenhuma mudança no governo
nem nenhuma guerra podem demover Portugal do seu estado de tristeza. É
considerado então como indefinido, como um manto de nevoeiro.
4º verso: O facto de Portugal estar a “entristecer” deve-se às crises por que
está a passar. Este verso tem um aspeto durativo, de continuidade que indica que
Portugal irá continuar a “entristecer”.
5º e 6º versos: Portugal vive uma vida triste e inconsequente, sem destino
(“brilho sem luz”). Pessoa depara-se com o facto de haver um brilho exterior, ou seja,
uma vida existente na parte de fora de todos os indivíduos. Esta vê que há quem
enriqueça, quem tenha família, quem procrie, e quem morra. Mas toda a vida sem
sentido é como “brilho sem luz e sem arder”. É mais, é ainda pior, é “como fogo-fátuo
que encerra”, ou seja, é a aparência do brilho, mas sem luz interior, sem esse mesmo
brilho interiormente. Quem vive assim limita-se a sobreviver e apresenta um brilho
artificial e apagado, que é próprio dos corpos mortos e decompostos.

Análise (2ª estrofe)


Na segunda estrofe, o poeta faz uma caracterização mais detalhada de
Portugal, referindo-se a todas as pessoas da sociedade em geral. Nesta confirma-se o
que foi dito anteriormente e realça-se a antítese entre o desânimo do presente e a
esperança no futuro.
Primeiros 3 versos: Aqui faz-se referência às almas individuais que não sabem o
que querem, não se conhecem, nem conseguem distinguir o mal do bem, notando-se,
assim, que Portugal é um país perdido. Assiste-se a uma sociedade amoral, desligada
dos mais altos valores, da nacionalidade, do espírito de unidade religiosa, sobretudo
da irmandade, havendo, no entanto, uma esperança ténue que reside no íntimo de
cada um, um desejo de mudança.
Discurso parentético do 4º verso: os sentimentos e as ideias contrárias
evidenciam a desorientação e os sentimentos contraditórios por que os portugueses
passam. O sujeito poético pretende neste verso demonstrar a sua esperança (“ânsia”)
de quem deseja (“chora”) o fim do “nevoeiro”. Este verso apresenta também uma nota
dissonante do tom pessimista do poema. A partir deste, dá-se início a uma viragem no
poema e começa uma exortação à mudança.
Relação deste com os dois últimos versos: no verso 10, como disse
anteriormente, o sujeito poético expressa a esperança e a ânsia pelo advento de um
novo tempo ou império, sentimentos que se relacionam com os versos finais do
poema. Neste sentido, embora se associe Portugal à indefinição, ao “nevoeiro”, a
tendo em conta o sentido messiânico que lhe é atribuído, como o eleito para a
construção do Quinto Império.
Verso 13: mais à frente vou apresentar os recursos expressivos do poema, mas
achei necessário fazer aqui a referência a esta metáfora. Esta metáfora transmite o
lamento e o desalento do sujeito poético, que expressa um apelo velado. Portugal,
como já vimos, é sinónimo de nevoeiro devido à indeterminação em que vive. Mas as
reticências com que o verso termina germinam a esperança. Podemos dizer que nelas
se vislumbra a silhueta de D. Sebastião e a possibilidade da mudança.

Análise do último verso


Com esta frase, Pessoa desvanece-se, deixando a cada um de nós a tarefa de
revelar em nós mesmos os mistérios que ele nos tem vindo a anunciar. Esta frase é
então o concretizar de uma “ânsia distante que perto chora” e uma explosão de
esperança. É a hora de assumir o sonho. Sendo este o último verso do poema e da
obra Mensagem assume um papel muito importante, permitindo-nos ler esta obra
como a epopeia que irá de vir. Podemos associar esta frase à mensagem desta obra,
que é procurar no íntimo a razão que ilumina a vida que vale a pena ser vivida, sendo
assim uma tradução a um final que se caracteriza e a nós se apresenta como otimista e
positiva.

Expressão latina e a sua relação com os dois últimos versos do poema


Através da expressão latina “Valete, Fratres.”, concretiza-se, no final do poema,
o desejo de fraternidade, de cumplicidade e de união necessárias para a mudança,
além de um apelo a Portugal, no sentido de o incentivar à construção de um império
espiritual, o Quinto Império. Deste modo, a conclusão do poema configura uma
despedida no presente, lançada para o futuro, confirmando-se a predestinação de
Portugal.
A relação entre esta expressão e os dois últimos versos é a seguinte:
Através da apóstrofe

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