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CoNSELHO EDITORIAL FOLHA
Alcino Leite Neto
EXPLICA
Ana Luisa Astiz
Antonio Manuel Teixeira Mendes
Arthur Nestrovski
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Carlos Heitor Cony


Gilson Schwartz SETREM I
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Otavio Frias Filho
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, Bíblioreca José de AJencar ~
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Paula Cesarino Costa

A ADOLESCÊNCIA
CONTARDO CALLIGARIS

PUBLIFOLHA
© 2000 Publifolho - Divisão de Publicações do Empresa Folho do Monhã S.A.
© 2000 Contordo Colligoris

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
SUMÁRIO
arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa
e por escrito da Publifolha - Divisão de Publicações da Empresa Folha da Manhã S.A.
INTRODUÇÃO ................................. 7
Editor
Arthur Nestrovski
1. ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO ............... . ... 11
Capa e projeto gráfico
Silvia Ribeiro

Assistente de projeto gráfico


2. "O QUE ELES ESPERAM DE MIM?" ....................... 23
Marilisa von Schmaedel

Revisão 3. "COMO CONSEGUIR QUE ME RECONHEÇAM


Mário Vilela E ADMITAM COMO ADULTO?" ............................. 31
Editoração eletrônica
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4. A ADOLESCÊNCIA COMO IDEAL CULTURAL ........ 55

PEQUENA BIBLIOGRAFIA COMENTADA .... 75

Dados internacionais de Catalogação nq Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil)

Calligaris, Contardo
A adolescência I Contardo Calligoris. -São Paulo :
Publifolho, 2000.- (Folha explica)

Bibliografia.
ISBN 85-7402-215-2

1. Adolescência 2. Adolescentes - Conduta de vida


3. Psicologia do adolescente I. Título. 11. Série.

00-2129 CDD-155.5

Índices para catálogo sistemático:


l. Adolescência : Psicologia 155.5
2. Psicologia do adolescente 155.5

1a reimpressão

PUBLIFOLHA
Divisão de Publicações do Grupo Folha

Av. Dr. Vieiro de Carvalho, 40, 11° ondor, CEP 01210-010, São Poulo, SP
Tels.: ( 11) 3351-6341/6342/6343/6344- Site: www.publifolho.com.br

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1
hoje, eles se procuram e eventualmente se acham. Mas,
\ além disso, eles precisam lutar com a adolescência, que
I
'i é uma criatura um pouco monstruosa, sustentada pela
cJ, imaginação de todos, adolescentes e pais. Um mito, in-
\\ ventado no começo do sécu.lo 20, que vingou sobretu-
do depois da Segunda Guerra Mundial. 1
J 1/ A adolescência é o prisma pelo qual os adultos
olham os adolescentes e pelo qual os próprios adoles-
centes se contemplam. Ela é uma das formações cul-
turais mais poderosas de nossa época.
Objeto de inveja e de medo, ela dá forma aos
sonhos de liberdade ou de evasão dos adultos e, ao
mesmo tempo, a seus pesadelos de violência e desor-
dem.
Objeto de admiração e ojeriza, ela é um pode-
roso argumento de marketing e, ao mesmo tempo, uma
m adolescente um pouco sem rumo, es- fonte de desconfiança e repressão preventiva.
tranhando seu próprio comportamento, A Holden e aos pais pode-se responder, assim,
paradoxalmente desafiador e arrependido, que os jovens de hoje chegaram à adolescência numa
pára você na rua e fala:"Estou só passando época que alimenta uma espécie de culto desse tempo
por uma fase agora. Todo o mundo passa por fases, não da vida. E caberia, então, tentar explicar como isso nos
é?" Alguém talvez reconheça sua voz. É Holden, o afeta a todos.
herói do romance O Apanhador no Campo de Centeio,
de J.D. Salinger.
Aproveitando-se da situação, atrás e ao lado dele
se aglomeram pais e mães de adolescentes. Eles tam-
bém perguntam: "Então, é assim?Vai passar? É só uma
fase?"
Resposta de bolso, caso Holden e os pais o pa-
rem na rua: "Não. Não é apenas uma fase. Por isso,
nada garante que passe".
Nossos adolescentes amam, estudam, brigam, tra-
balham. Batalham com seus corpos, que se esticam e se
transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no
1
C f. llibliografia, L
quadro complicado da fanúlia moderna. Como se diz
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Elc111ottos de dcjillíçâo 13

ciedade, é importante sobressair e adquirir destaque.


E, para se destacar, há principalmente dois campos, seja
você homem ou mulher: a pesca com o arpão e as sere-
natas de berimbau. Em outras palavras, nessa sociedade
é bom e necessário ser um excelente pescador com o
arpão e tocar magistralmente o berimbau-de-boca.
Quem melhor pesca e toca- todos percebem- é clara-
mente muito mais feliz do que os outros.
Você está muito satisfeito com isso. Pois, durante
os 12 anos, você olhou, imitou e aprendeu. Você na
verdade se acha e talvez seja mesmo ótimo na pesca
.. I f' com o arpão - pelos anos na selva, seu corpo está
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UL. treinado, forte e rápido - e está prestes a desafiar qual-
A ADOLESCÊNCIA COMO MORATÓRIA quer um numa serenata de berimbau.
Nessa altura, os anciões da tribo lhe comunicam
o seguinte: talvez você tenha tamanho e perícia sufi-
magine que, por algum acidente, você seja

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cientes para encarar tanto um surubim de dois metros
transportado, de uma hora para outra,. a uma quanto um berimbau dos mais sofisticados, mas é
sociedade totalmente diferente. Digamos que melhor esperar mais dez anos antes de vir fazer pro-
o avião no qual você estava sobrevoando um priamente parte da tribo e, portanto, competir de igual
canto recôndito da Amazônia teve uma dificuldade téc- para igual com os outros membros. Naturalmente, os
nica. O piloto conseguiu aterrissar, mas o aparelho está anciões acrescentarão que esse "pequeno" atraso é in-
destruído. Não há como esperar socorro, nem como sair teiramente para seu bem. Eles amam você e por isso
do fundo selvagem da floresta. Por sorte, uma tribo de querem que ainda pm um tempo você seja protegido
índios que nunca encontraram homens modernos, mas dos perigosíssimos surubins que andam por aí. Isso
que são relativamente bem-humorados, adota você e seus sem falar dos berimba us ...
amigos. Será necessário, imaginemos, 12 anos para que Portanto, você vai poder se preparar melhor ainda
vocês se entrosem com os usos e costumes de sua nova para o dia em que será enfim reconhecido como mem-
tribo - desde a linguagem até o entendimento dos valo- bro da tribo. Que tudo isso, acrescentarão também os
res da sociedade em que aparentemente vocês viverão o anciões, não constitua fi·ustração nenhuma, pois na ver-
resto de seus dias. dade a tribo inteira considera que você tirou a sorte
Os 12 anos passaram. Você agora fala corrente- grande e que os ditos dez anos serão os mais felizes de
mente a língua, conhece as leis e regras de sua nova sua existência. Você - acrescentam eles - não terá as
tribo, na verdade se sente um deles. Entre as coisas que pesadas responsabilidades dos membros da tribo. Ao
você aprendeu, está o fato evidente de que, nessa so- mesmo tempo, poderá pescar e tocar berimbau à von-
14 A ndolescêncía
Elcmclltos de dcfiníçiio 15

tade- será apenas como treino, de brincadeira, mas jus- que são cruciais para se fazer valer em nossa tribo: é
tamente por isso serão atividades despreocupadas. necessário ser desejável e invejável.
Agora, seriamente, como você acha que encara- Enfim, esse aprendizado mínimo está solidamente
ria o anúncio e a perspectiva desses dez anos de limbo? assimilado. Seus corpos, que se tornaram desejantes e
Logo agora que você achava que seu berimbau ia se- desejáveis, poderiam lhes permitir amar, copular ego-
duzir qualquer ouvido e sua destreza transfixar peixes zar, assim como se reproduzir. Suas forças poderiam
de olhos quase fechados ...
assumir qualquer tarefa de trabalho e começar a levá-
É bem provável que você passasse por um le- los na direção de invejáveis sucessos sociais. Ora, logo
que variado de sentimentos: raiva, ojeriza, desprezo nesse instante, lhes é comunicado que não está bem
e enfim rebeldia. Se houvesse uma tribo ininüga, se- na hora ainda.
ria o momento de considerar uma traição. No míni-
~ Em primeira aproximação, eis então como co-
mo, você voltaria a se agrupar com os companheiros
meçar a definir um adolescente. 2 Inicialmente, é
do avião, que talvez você tivesse perdido de vista e alguém
que agora estariam lidando com a imposição da mes-
1. que teve o tempo de assimilar os valores mais
ma moratória. Juntos, vocês acabariam constituindo
banais e mais bem compartilhados na comunidade (por
uma esRécie de tribo na tribo, outorgando-se mutu-
exemplo, no nosso caso: destaque pelo sucesso finan-
amente \o reconhecimento que a sociedade parece ceiro/social e amoroso/sexual);
temporanamente negar a voces to d os\,\'iT
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voces se a as-
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2. cujo corpo chegou à maturação necessária para


tariam de suas famílias (adotivas, no caso) e viveriam
que ele possa efetiva e eficazmente se consagrar às ta-
no e pelo grupo, onde se sentem tratados como ho-
refas que lhes são apontadas por esses valores, compe-
mens e mulheres de verdade. Circulando em grupo,
tindo de igual para igual com todo mundo;
impondo sua presença rebelde pelas ruas da aldeia -
3. para quen1, nesse exato n1mnento, a conluni-
se possível nas horas menos adequadas -, vocês se- dade impõe uma moratória.
riam fonte de preocupação e medo, objeto de re-
Em outras palavras, há um sujeito capaz, instruí-
pressão e, quem sabe, de inveja.
do e treinado por mil caminhos - pela escola, pelos
Pois bem: o que acontece com nossos adolescen-
_ pais, pela mídia- para adotar os ideais da comunidade.
tes é parecido con1 o destino dos aeronáufragos dessa
. Ele se torna um adolescente quando, apesar de seu
pequena história. Ao longo de mais ou menos 12 anos,
corpo e seu espírito estarem prontos para a competi-
as crianças, por assim dizer, se integram em nossa cultu-
ção, não é reconhecido como adulto. Aprende que,
ra e, entre outras coisas, elas aprendem que há dois cam-
por volta de mais dez anos, ficará sob a tutela dos adul-
pos nos quais importa se destacar para chegar à felicidade
e ao reconhecimento pela conmnidade: as relações
amorosas/sexuais e o poder (ou melhor, a potência) no
campo produtivo, financeiro e social. Em outras pala- ] Em todo o texto, quando falamos do "adolescente" sem mais especificar, entende-
vras, elas aprendem~ que há duas qualidades subjetivas lHos a palavra como substantivo neutro. Salvo indicaç;lo explícita do contrá,·io, nossas
afirmações valem, portanto, para ambos os sexos.
E/cmc11tos de dcji11içâo 17
16 A ado/escê11cía

mento totalmente inéditos para a tribo. Essas são ape-


tos, preparando-se para o sexo, o amor e o trabalho,
sem produzir, ganhar ou amar; ou então produzindo, nas sugestões benignas.
Ora, o caso dos jovens modernos é bem pior
ganhando e amando, só que marginalmente.
do que o destino dos aeronáufi-agos na hospitaleira
Uma vez transnütidos os valores sociais mais bá-
tribo da selva amazônica. Pois, além de instruir os
sicos, há um tempo de suspensão entre a chegada à
jovens nos valores essenciais que eles deveriam per-
maturação dos corpos e a autorização de realizar os
seguir para agradar à comunidade, a modernidade
ditos valores. Essa autorização é postergada. E o telTl-
também promove ativamente um ideal que ela situa
' ,\ , po de suspensão é a adolescência.
acima de qualquer outro valor: o ideal de indepen-
\,-\. . Esse fenômeno é novo, quase especificamente
dênci~ Instigar os jovens a se tornarem indivíduos
<s b . . contemporâneo. É com a modernidade tardia (com o
independentes é uma peça-chave da educação mo-
.. / século que mal acabou) que essa moratória se instaura,
derna~ Em nossa cultura, um sujeito será reconheci-
· Z,_ se prolonga e se torna enfim mais uma idade da vida.
,_j do como adulto e responsável na medida em que
viver e se afirmar como independente, autônonlO -
como os adultos dizem. que são.
A ADOLESCÊNCIA COMO Isso torna ainda nuis penoso o hiato que a ado-
REAÇÃO E REBELDIA lescência instaura entre aparente maturação dos cor-
pos e ingresso na vida adulta. Apesar da maturação
dos corpos, a autonomia reverenciada, idealizada por
A imposição dessa moratória já seria razão suficiente
todos como valor supremo, é reprimida, deixada para
para que a adolescência assim criada e mantida fosse
uma época da vida no mínimo inquieta. mais tarde.
Desde já vale mencionar que a desculpa nor-
Afinal, não seria estranho que nwças e rapazes
malmente produzida para justificar a moratória da
nos reservassem alguma surpresa desagradável, uma vez
adolescência é problemática. tt>retende-se que, apesar
impedidos de se realizar como seus corpos permiti-
da maturação do corpo, ao dito adolescente faltaria
riam, não reconhecidos como pares e adultos pela co-
maturidade.\- Essa idéia é circular, pois a espera que lhe
nmnidade, logo quando passam a se julgar enfim.
é imposta é justamente o que o mantém ou torna
competitivos.
Pensem de novo em como vocês reagiriam. na inadaptado e imaturo.
Não é dificil verificar que, em épocas nas quais
~ hipotética tribo: mesmo supondo que evitassem deci-
essa n1.oratória não era imposta, jovens de 15 anos já
sões drásticas (cair fora, entrar em guerra aberta com
levavam exércitos à batalha, comandavam navios ou
os anciões, trair a tribo etc.), é presum.ível que passa-
simplesmente tocavam negócios com competência.
riam por um período de contestação aguda. Começa-
O adolescente não pode evitar perceber a con-
riam a pescar com dinamite e a tocar teclado eletrônico
em vez de berimbau. Inventariam e tentariam im.por tradição entre o ideal de autonomia e a continuação
(eventualmente à força) meios de obter reconheci- de sua dependência, imposta pela moratória.
18 A adolcscêucía Elcmmtos de dtjlníção 19

A ADOLESCÊNCIA IDEALIZADA DURAÇÃO DA ADOLESCÊNCIA

Tal contradição torna-se ainda mais enigmática , 1O começo da adolescência é facilmente observável,

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para o adolescente na medida em que essa cultura !por se tratar da mudança fisiológica produzida pela
parece idealizar a adolescência como se fosse um puberdade. Trata-se, em outras palavras, de uma
tempo particularmente feliz. Como é possível? Se transformação substancial do corpo do jovem, que
o adolescente é privado de autonomia, se é afasta- adquire as funções e os atributos do corpo adulto.
1
do da realização plena dos valores cruciais de nos- Querendo circunscrever a adolescência no tempo,
sa cultura, como pode essa mesma cultura imaginar como idade da vida, chega-se facilmente a UlTl con-
que ele seja feliz? senso no que concerne ao seu começo. Ele é deci-
O adolescente poderia facilmente concluir que dido pela puberdade, ou seja, pelo amadurecimento
essa idealização da época da vida que ele está atra- dos órgãos sexuais. Alguns dirão que a adolescên-
vessando é uma zombaria que agrava sua insatisfa- cia propriamente dita começa um ou dois anos
ção. Ele certamente tem direito de se irritar com depois da puberdade, pois esse seria o tempo ne-
isso: é dificil entender por que os adultos (que em cessário para que, de alguma forma, o estorvo fisi-
princípio deveriam conhecer a adolescência, por te- ológico se transformasse numa espécie de
rem~ passado por aí em algum momento) achariam identidade adolescente consolidada. Outros dirão,
graça nessa época da vida ou a lembrariam com nos- ao contrário, que a adolescência co111eça antes da
talgia. Tentaremos explicar essa idealização, sobre- puberdade, pois esta é antecipada pela adoção pre-
tudo no Capítulo 4. Mas, seja como for, o coce de comrortamentos e estilos de adolescentes
adolescente vive um paradoxo:lele é frustrado pela mais velhos. ,Seja como for, a puberdade - ano a
moratória imposta, e, ao mesmo tempo, a idealização mais, ano a menos - é a marca que permite calcu-
social da adolescência lhe ordena que seja feliz;: Se a lar o começo da adolescência.\
adolescência é um ideal para todos, ele só pode ter Quando a adolescência começou a ser instituída
a delicadeza de ser feliz ou, no mínimo, fazer baru- por nossa cultura e, logicamente, apareceram as com-
lhentamente de conta. plicações sociais e subjetivas produzidas pela invenção
Em nossa cultura, a passagem para a vida adul- dessa moratória, pensou-se primeiro que a causa de
ta é um verdadeiro enigma. A adolescência não é só toda dificuldade da adolescência fosse a transforma-
uma moratória mal justificada, contradizendo valo- ção fisiológica da puberdade. A adolescência, em SUJI1-f1,
res cruciais como o ideal de autonomia. Para o ado- seria uma manifestação de n;ud~~Ǫ~j;-;~l;l~~~i~, um. -~
lescente, ela não é só uma sofrida privação de processo rÍaturaP
reconhecimento e independência, misteriosamente
idealizada pelos adultos. É também um tempo de
3
transição, cuja duração é misteriosa. Cf. Bibliografia, I, em particular os comentários à obra de Stanley G. H ali.
ElciiiCIItos de defhúçiio 21
20 A adolcscêllcia

De certa forma, a moratória da adolescência é o


De fato, a transformação trazida pela puberdade
fruto dessa indefinição. Numa sociedade em que os
é considerável. Tanto do ponto de vista fisiológico
adultos fossem definidos por alguma competência es-
quanto da inngem de si que deve se adaptar a essa
pecífica, não haveria adolescentes, só candidatos e uma
mudança\Basta lembrar a chegada dos desejos sexuais
iniciação pela qual seria fácil decidir: sabe ou não sabe,
(que já existiam, mas que são agora reconhecidos como
tais pelos próprios sujeitos) e, aos poucos, a descoberta é ou não é adulto.
Como ninguém sabe direito o que é um homem
de uma competição possível com os adultos, tanto na
ou uma mulher, ninguém sabe também o que é preciso
sedução quanto no enfrentamento~
para que um adolescente se torne adulto. O critério
Mas essas mudanças só acabam constituindo um
simples da maturação física é descartado. Falta uma lista
problema chamado adolescência na n1edida em que o
estabelecida de provas rituais. Só sobram então a espera,
olhar dos adultos não reconhece nelas os sinais da pas-
a procrastinação e o enigma, que confrontam o adoles-
sagem para a idade adulta.
cente - este condenado a uma moratória forçada de
/ - O problema então não é: "Quando começa a
l~dolescência?", mas: "Como se sai da adolescência?"
sua vida- com uma insegurança radical em que se agi-
O equivalente da adolescência, em outras cultu- tam questões que correspondem aos próximos capítu-
ras, é um rito de iniciação, eventualmente acompa- los: ifO que eles esperam de mim?", "Como conseguir
que' me reconheçam e admitam como adulto?", "Por
nhado de algumas provas. Por mais duras que possam
ser, elas serão sempre mais suportáveis do que a inde- que me idealizam?'1
Voltando à pequena lista de elementos definitórios
finida moratória moderna. Aliás, em nossa hipotética
tribo amazônica, na verdade os anciões nunca impo- exposta acima, no final da seção" A Adolescência Como
riam uma espera indefinida de dez anos ou mais. Eles Moratória", acrescentemos, concluindo, que o adoles-
poderiam exigir que vocês lutassem cm:po a corpo cente é também alguém:
4. cujos sentimentos e comportamentos são ob-
com o rei dos surubins gigantes, por exemplo. Ou então
que levassem 15 berimbauzadas na cabeça. viamente reativos, de rebeldia a uma moratória injusta;
Mas, para que fosse possível uma iniciação à vida 5. que tem o inexplicável dever de ser feliz, pois
adulta, com uma prova designada, seria necessário que vive uma época da vida idealizada por todos;
se soubesse o que define um homem ou uma mulher 6. que não sabe quando e como vai poder sair
adultos. Essa definição, na cultura moderna ocidental, de sua adolescência.
fica em aberto. Adulto, por exemplo, é quem conse-
gue ser desejável e invejável. Como saber então quan- --· -·--- ..,- ...... -~..,...___,....-...

to desejo e quanta inveja é preciso levantar para ser SETREM


admitido no Olimpo dos "grandes"? Portanto, fica tam-
bém em aberto a questão de quais provas seriam ne- Biblioteca José de Alencar
cessárias para que um adolescente merecesse se tornar ..
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um adulto.
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"o que eles esperam de mim?" 25

/--.O que vemos no espelho não é bem nossa ima-


~em. É unu imagem que sempre deve muito ao olhar
(~os outros. Ou seja, me vejo bonito ou desejável se
fénho razões de acreditar que os outros gostam de
mim ou me desejam. Vejo, em suma, o que imagino
que os outros vejam. Por isso o espelho é ao mesmo
tempo tão tentador e tão perigoso para o adolescente:
porque gostaria muito de descobrir o que os outros
vêem nele. Entre a criança que se foi e o adulto que
ainda não chega, o espelho do adolescente é freqüen-
temente vazio. Podemos entender então como essa
época da vida possa ser campeã em fragilidade de auto-
estima, depressão e tentativas de suicídio ..
INSEGURANÇA /-- Parado na frente do espelho, caçand~ as espinhas,

~//l~
r >edindo as novas formas de seu corpo, desejando e
.!;: derizando seus novos pêlos ou seios, o adolescente
adolescente se olha no espelho e se acha Q 1 ive a falta do olhar apaixonado que ele merecia quan-
diferente. Constata facilmente que perdeu 1 do criança e a falta de palavras que o admitam como
aquela graça infantil que, em nossa cultu- pa~ na sociedad~ d~s adultos. A ~nsegurança se torna
ra, parece garantir o amor incondicional · assim o traço propno da adolescenoa.
dos adultos, sua proteção e solicitude imediatas. Essa ~Grande parte das dificuldades relacionais dos
segurança perdida deveria ser compensada por um adolescentes, tanto com os adultos quanto com seus
novo olhar dos mesmos adultos, que reconhecesse a coetâneos, deriva dessa insegurança. Tanto uma timi-
imagem púbere como sendo a figura de outro adulto, dez apagada quanto o estardalhaço maníaco manifes-
seu par iminente. Ora, esse olhar falha: o adolescente tanl as mesmas questões, constantemente à flor da pele,
perde (ou, para crescer, renuncia) a segurança do amor de quem se sente não mais adorado e ainda não reco-
que era garantido à criança" sem ganhar em troca ou- nhecido: será que sou amável, desejável, bonito, agra-
tra forma de reconhecimento que lhe pareceria, nessa dável, visível, invisível, oportuno, inadequado etc.?
altura, devido.
Ao contrário, a maturação, que, para ele, é evi-
dente, invasiva e destrutiva do que fazia sua graça de
criança, é recusada, suspensa, negada. Talvez haja INTERPRETAR OS ADULTOS
maturação, lhe dizem, mas ainda não é maturidade.
Por conseqüência, ele não é mais nada, nem criança O adolescente, portanto, se lança numa interrogação
amada, nem adulto reconhecido. que durará o tempo (indefinido) de sua adolescência
26 A adolescêllâa "o q11c dcs cspera111 de IIJÍIIJI" 27
J
1
e queJconsiste
· em se perguntar o que sera' que os a du I- risca suas indicações e seus pedidos, mas descobrir qual
tos querem e esperam dele./Ou seja, qual seria o re- é de t;1to o desejo deles, atrás do que dizem que que-
quisito para conquistar uma nova dose do amor dos rem. Em suma: de fato (e não só em suas recomenda-
adultos que ele estima ter perdido junto com a inffin- ções pedagógicas), qual é o ideal dos adultos, para que
cia. Qual seria o gesto necessário para redirecionar o eu possa presenteá-los com isso e portanto ser por eles
olhar adulto, que parece ter-se desviado. Qual o atri- enfim amado e reconhecido como adulto?"
buto que garantiria, enfim, que ele fosse reconhecido ~Em geral, o ~)dolescente é ótimo intérprete do
entre "os grandes". desejo dos adultos.IMas o próprio sucesso de suas in-
Infelizmente (pois sem isto tudo seria mais fácil), terpretações produz fatalmente o desencontro entre
nessa tentativa o adolescente não pode se confinar a adultos e adolescentes. Pois se estabelece um fantásti-
uma simples adesão ao que os adultos parecem expli- co qüiproquó: o adolescente acaba eventualmente
citamente esperar dele e desejar para ele. Pois os adul- atuando, realizando um ideal que é mesmo algum de-
tos se contradizem. Parecem negar a óbvia maturação sejo reprimido do adulto. Mas acontece que esse
de seu corpo e lhe pedir que continue criança; e ten- desejo não era reprimido pelo adulto por acaso. Se
tam mantê-lo numa subordinação que contrasta com reprimiu, foi porque queria esquecê-lo. Por conse-
os valores que eles mesmos lhe ensinaram. qüência, o adulto só pode negar a paternidade des-
Querem que ele seja autônomo e lhe recusam essa se desejo e se aproveitar da situação para reprimi-lo
autonomia. Querem que persiga o sucesso social e amo- ainda mais no adolescente.
roso e lhe pedem que postergue esses esforços para "se Um caso simples e crucial: a idealização do que
preparar" melhor. É legítimo que o adolescente se per- est1 fora da lei é própria à cultura moderna. O indivi-
gunte:"Mas o que eles querem de mim, então? Querem dualismo de nossa cultura preza acima de tudo a auto-
(segundo eles dizem) que eu aceite esta moratória, ou nomia e a independênci;l de cada sujeito. Por outro
preferem, na verdade, que eu desobedeça e afirme minha lado, a convivência social pede que se traguem doses
independência, realizando assim seus ideais?" cav;1lares de conformismo. Para compensar essa exigên-
Será que os próprios adultos sabem? Aparente- cia, a idealização do fora-da-lei, do bandido, tornou-se
mente não: a adolescência assume assim a tarefa de parte integrante da cultura popular. Gángsteres, rouJ/JOys,
interpretar o desejo inconsciente (ou simplesmente malandros literários, televisivos ou cinematográficos se-
escondido, esquecido) dos adultos. guem entretendo nossos sonhos. Eventualmente (mas
O pensamento é mais ou menos o seguinte: "Os não necessariamente) essa idealização é acompanhada
adultos querem coisas contraditórias. Eles pedem uma por algum tipo de justificativa moral. Por exemplo,
moratória de minha autonomia, mas o resultado de R.obin Hood está à margem da lei, nns isso porque o
minha aceitação é que eles não me amam mais como xerife de Nottingham é um usurpador ilegítimo. Ou
uma criança, nem reconhecem como um par esta 'coi- seja, R.obin Hood se situa contra e acima da lei em
sa' na qual eu me transformei. Talvez, para ganhar seu nome de uma justiça superior a ela. Mas essa artimanha
amor e seu reconhecimento, eu não deva então seguir à parece cada vez menos necessária: nas últimas décadas
28 A adolcscêacía "o que eles esperam de IIIÍm?'' 29

Qustamente quando apareceu e vingou a adolescência), 1. Uma cultura em que a autonomia e a indepen-
a marginalidade e a delinqüência são cada vez mais dência são os valores centrais e mais exaltados só pode
glorificadas pela cultura popular. Prova de um sonho se transmitir por um duplo vínculo, ou seja, por uma
adulto bem presente e bem reprimido. consignação paradox~1l e contraditória. A virtude essen-
Não é difícil, portanto, ao adolescente interpre- cial que deve ser ensinada é, com deito, a capacidade
tar o confi:lrmismo ou mesmo o "legalismo" dos adul- de desobedecer. Portanto, obedecer é desobedecer. Mas
tos como sintomas de um desejo que sonha mesmo - complicação - quem desobedece estJ obedecendo.
com transgressões e infi·açõcs e que (supôc o adoles- Dificil tanto obedecer quanto seu contrJrio.
cente) preferiria portanto um filho malandro a um 2. Na sociedade pré-moderna, a divisão social era
"mauricinho babaca". relativamente pacífica, estabelecida. Hoje, a divisão so-
Para chegar a essa conclusão, o adolescente não cial é móvel e a posição de cada um depende, em prin-
precisa de muito esforço, pois a cultura popular um- cípio, do reconhecimento dos outros que se consegue
bém idealiza a própria adolescência rebelde. ou n:io. É normal que ninguém esteja satisfeito com
Esse é um sonho ou uma nostalgia explícita dos sua situaç:io e que cada um tente melhor~1-la. O adulto
mesmos ~?S qt!t'_J!l'Lk~lj<)l)t.:diência c confi:lrmida- moderno transmite ao adolescente não um estado onde
de aos adolescentes e sempre lembram o que acotlte- ele poderia se instalar como se herdasse uma moradia,
ceu com C:hapeuzinho Vermelho por ter desobedecido mas uma aspiração. Mais do que isso: ele transmite a seu
~]mãe, mas que na verdade se extasiam com uma longa rebento a ambição de não repetir a vida e o status dos
série de apologias da revolta dos jovens, desde jlii'Clltlldc adultos que o engendraram. Ou seja, de desrespeitar
'lhii!SI'iada até I<ids.~ suas origens, de não se confórmar, de se destacar.
Em suma, o adolescente é levado inevitavelmente a 3. Apesar disso tudo, os adultos devem também
descobrir a nostalgia adulta de tr;msgressão, ou mJlhor, transmitir ao adolescente as regras da conformidade
de rcsistL'ncia iís exigências antilibcrtJrias do mundo. Ele social, ncccssJria para que ele não seja simplesmente
ouve, atrJs dos pedidos dos adultos, um "Faça o que cu inadaptado.lOra, essa transmissão inevitJvcl de princí-
desL:jo e não o que eu peço". E atua em conseqüência. pios morais c valores prezados pelo consenso social apa-
Essa intcrpreução do desejo dos adultos pelo rece ao adolescente como prova da covardia, do
adolescente não é só LKilitada ou induzida pela cultu- oportunismo e do fi·acasso dos adultol Se eles prezam a
ra popular, que ofer~ç~A leitura de todos uma espécie exceção, porque se dobram a rogar a confórmidade? A
de repertório ;;-;:·;~{! dos ~~;]E(JS e dos ideais. Mesmo autoridade do adulto é assim minacb, pois todos os va-
sem essa L1cilitH;ão, ~1s propriedades bJsicas do desejo lores positivos parecem emanar da resignação ao fi·acas-
moderno levariam o adolescente ~)s mesmas conclu- so, de um desejo fi·ustrado de rebeldia ou de unicidade.
sões de fimdo. Pelo seguinte caminho: Quanto mais o adulto tenta se constituir como autori-
dade moral, t~mto mais se qualifica como hipócrita,
porque a cultura (c ele junto com ela) promove cotno
1
(:t~ Hihliogr.di.l, li. ideal aquele que f1z exceção à norma.
30 A adolescêHCÍa

4. Quanto mais o adulto se manifesta rigoroso e


quer impor sua autoridade recorrendo a uma tradi-
ção, tanto mais ele a enfi·aquece e se enfraquece com
ela. Esse recurso, portanto, passa a produzir cada vez 3. //COMO CONSEGUIR
mais revolta por aparecer sempre, em nossa cultura,
como hipócrita. Ou seja, como repressão exercida
QUE, ME
contra o inconfessável de nossos sonhos. RECONHEÇAM
5. O adolescente é levado a concluir que o adul-
to quer dele revolta. E a repressão só confirma nele E ADMITAM
essa crença, apenas acrescentando a constatação de que
o adulto repressor é hipócrita.
COMO ADULTO?//
"como col/scgftír q11c me rcconhcçil/11 c admítam (OIJJO adulto?" 33

pode ser uma maneira de obedecer. E obedecer, quem


sabe, talvez seja o jeito certo de não se conformar.
Essa complicação insolúvel introduz um leque
de transgressôes que vai desde um conformismo ines-
perado (o cúmulo da transgressão nesse caso consiste
em voltar a uma cultura que não f1ria a apologia da
transgressão) até uma espécie de arrematação infinita,
em· que não se sabe mais qual lance encontrar que
constitua uma transgressão suficiente.
Não h:i como tentar uma lista mesmo sucinta
dos comportamentos e estilos pelos quais os adoles-
centes pedem sua admissão :1 sociedade adulta. Na
mesma época em que parece vingar o pesadelo do
predador urbano, també·m aparecem jovens que co-
letivamente ~1bjuram as scduçôes do mundo, se
engajam a chegar virgens ao casamento c se vestem
finalidade da adolescência é clara: o ado- como mission:1rios. A variedade de escolhas morais
lescente quer se tornar adulto. Podemos não é· menor: desde o cinismo criminoso até a pie-
manter essa hipótese inicial, embora, como dade mais solid:iria.\;I
veremos (conclusão do Capítulo 4), nessa O f1to é que a adolescência é uma interpreta-
empreitada o adolescente encontre uma surpresa. Mas, ção de sonhos adultos, produzida por uma moratória
~o r ora, con~tatemos que o adolescente quer ser reco- . que força o adolescente a tentar descobrir o que os
nhecido como sujeito adulto, um par dos adultos. Ele ) j ,:• adultos querem dele. O adolescente pode encontrar
quer permissão para fazer parte da comunidade~ ~~f c construir respostas muito diferentes a essa investi-
'':! -
gacao. As cone:l utas auo
J 1 - tao
esccntes, em suma, sao -
~1
O problema, como observamos antes, é que para li'V
f y L >

ser reconhecido ele parece ter que transgredir. Para ser ~ .1 ~ variadas quanto os sonhos e os desejos reprimidos
amado, para preencher as expectativas do desejo dos q dos adultos. Por isso elas parecem (e talvez sejam)
\
adultos, é necessário, paradoxalmente, não se confor-
mar ao que os mesmos adultos explicitamente pedem.
Transgredir também não é nada fácil. Não é suficiente
l todas transgressoras. No mínimo, transgridem a von-
tade explícita dos adultos.
lo adolescente, na procura de reconhecimento, é
atender às expectativas implícitas e faltar com as explí- culturalmente seduzido a se engajar por caminhos tor-
citas. Como já observamos, o adolescente se encontra tuosos onde, paradoxalmente, ele se m~rginaliza logo
entregu.e a problemas lógicos complicados. no momento em que viria se integrarJ'Pois o que lhe
. :r S~ o imperativo cultural dominante é "Desobe- é proposto é tentar, ou melhor, forçar, sua integração
rdece!", "Prova tua autonomia!", então desobedecer justamente se opondo :1s regras da comunidade.
34 A adolcscêllcia "como co l/seguir que me reco11hcçam cadmitam como adulto?'' 35

/ As mil e uma condutas que um adolescente pode Segundo, a adolescência não é só o conjunto das
/escolher para tentar obter o reconhecimento dos adul- vidas, dos adolescentes. É também uma imagem ou
1 tos têm, portanto, uma coisa em comum, além do ca- uma série de imagens que muito pesa sobre a vida dos
) ráter dificil, senão desesperado, do empreendimento. adolescentes. Eles transgridem para ser reconhecidos,
~ Trata-se do sentimento dos adultos de que a adoles- e os adultos/para reconhecê-los, constroem visões da
) cência é uma espécie de patologia social ou, no me- adolescência. Elas podem estar entre o sonho (afinal, o
/ lhor dos casos, um lugar onde as patologias psíquicas e adolescente é a atuação de desejos dos adultos), o pe-
''~5ociais seriam endêmicas e epidêmicas. sadelo (são desejos que estariam melhor esquecidos) e
O comportamento adolescente é considerado no o espantalho (são desejos que talvez voltem para se
mínimo anormal, por parecer (e de fato ser) transgres- vingar de quem os reprimiu).

~
sivo, quando comparado ao padrão adulto (o padrão Essas visões- embora sempre extremas- são tam-
confesso dos adultos). bém as linhas segundo as quais de fato se organiza o
)J Os adolescentes são f:1cilmente considerados uma comportamento dos adolescentes em sua procura de
,~~ameaça à ordem estabelecida e à paz f:mliliar. reconhecimento. São ao mesmo tempo concreções da
'f;1" ~1dultos receiam as irrupções transgressivas que rebeldia extrema dos adolescentes e sonhos, pesadelos
os adolescentes podem escolher como maneiras de se ou espantalhos dos adultos. Por isso, são chaves de acesso
afirmar. Mas, sobretudo, os adultos sabem confusamente à adolescência. Destaco cinco: o adolescente gregário,
que o que há de mais transgressor nos adolescentes é a o delinqüente, o toxicômano, o adolescente que se
realiza~·ão de um desejo do~~ adultos, que estes preten- enfeia e o adolescente barulhento.
diam reprimir e esquec~l;Se a adolescência é uma
patologia, ela é então w}b patologia dos desejos de
rebeldia reprimidos pelos adultos.' &J,c(.·.\"'lt.J \"c(
A vida real dos adolescentes'.(ct~rgi:ande maioria O ADOLESCENTE GREGÁRIO
deles) pode ter pouco a ver com as figuras dessa pato-
logiq. Mas elas são cruciais, por duas razões. Q_ac{olescente, descobrindo que a nova imagem pro-
' Primeiro, descrever e tentar explicar os com- jetad;l-por seu corpo não lhe vale "naturalmente" o
portamentos extremos dos adolescentes é a melhor estatuto de adulto, é acuado a agir.
maneira de situar os monstros que enfrenta tam- A primeira ação - em resposta à falta do reco-
' o aoo I escente aparentemente " norma I'' - enl-
b em j nhecimento que ele esperava dos adultos - consiste
bora ele os enfrente de maneira mais bem-sucedida. em procurar novas condições sociais, em que sua ad-
Pais e adolescentes conseguem a cada dia negociar missão como cidadão de pleno direito não dependa
acordos viáveis. Mas, por isso mesmo, o drama da mais dos adultos e, portanto, não seja mais sujeita à
adolescência, com o qual conseguem lidar, apare- moratória. O adolescente transforma assim sua faixa
ce mais claramente quando sua violência atropela etária num grupo social, ou então num conglomera-
seus atores. do de grupos sociais dos quais os adultos são excluí-
36 A adolescêncía "como conseguír que me monhcçam eadmítam COlHO adulto?'' 37

dos e em que os adolescentes podem mutuamente se as comunidades de estilo (dark, punk, rave, clubber etc.):
reconhecer como pares. o acesso aqui exige apenas a composição de uma
~Contrariamente às crianças, os adolescentes en1 imagem, um look que todos reconheçam como tra-
geral considerarão que sua verdadeira comunidade não ço COlllUnl.
é a família\Isso não é propriamente um efeito da fre- Outros grupos pedem que a senha que dá aces-
qüente desagregação dos núcleos ümiliares (esvazia- so à comunidade seja uma marca duradoura- tatua-
mento das casas onde todos trabalham, ou separação gem, cicatriz- ou um tipo específico de modificação
dos pais). É o inverso\ a crise da família revela de fato corporal.
que os próprios adultos estão tomados por pruridos Outros, ainda, pedem uma espécie de pacto de
adolescentes, com ânsia de rebeldias e liberdades\(en- sangue, como a participação numa responsabilidade
tre elas, a liberdade das responsabilidades de uma fa- coletiva indissolúvel, sem retorno. Aqui o ato de rou-
mília). Essas inquietações juvenis não os aproximam bar, estuprar ou matar coletivamente produz uma cul-
dos adolescentes, os quais esperam deles algo que não pa commn, mn segredo comun1.
encontram em seus coetâneos.( É possível que smjam O grupo adolescente- seja um estilo comparti-
novos modelos de família e estes pern1itam que adul- lhado ou propriamente uma gangue- aparece de qual-
tos e adolescentes convivam - e não só se abriguem quer jeito como uma patologia aos olhos dos adultos.
sobo mesmo tet<~?~Até lá, a verdadeira comunidade do Os gostos gregários dos jovens são considerados anor-
adolescente é composta por seus coetâneos e, entre <mais e perigosos. O grupo adolescente é vivido como
estes, pelo grupo restrito de pares com os quais com- o que sanciona a desagregação da família e quebra a
partilha as escolhas de estilo mais importantes. relação hierárquica entre gerações, visto que o adoles-
\Recusado como par pela comunidade dos adul- .. cente encontra em seus coetâneos o reconhecimento
tos, indignado pela moratória que lhe é imposta e que se esperava que pedisse aos adultos.
acuado pela indefinição dos requisitos para terminá-la O adulto, sem se perguntar muito por que os
(a famosa e enigmática maturidade), o adolescente se adolescentes são gregários, demoniza o grupo adoles-
afasta dos adultos e cria, inventa e integra microsso- cente temido como uma espécie de tribo na tribo.
ciedades que vão desde o grupo de amigos até o gru- De fato, a própria constituição do grupo adoles-
po d~ estilo, até a gangue) . cente é, do ponto de vista dos adultos, uma transgres-
\Nesses grupos, ele procura a ausência de mora- são. Os adolescentes se tornam gregários porque lhes
tória ou, no mínimo, uma integração mais rápida e · é negado o reconhecimento dos adultos - sendo isso
critérios de admissão claros, explícitos e praticáveis (à o que eles mais querem. Por isso, inventam grupos em
diferença do que acontece com a famosa "maturida- que possam encontrar e trocar o que os adultos recu-
de" exigida pelos adultos)~ saram ou pediram que fosse deixado para mais tarde.
Os grupos adolescentes, sempre respondendo a Ora, os adultos consideram suspeito esse afas-
esses pré-requisitos, são, por assim dizer, de densida- tamento dos adolescentes. Com razão, pois o grupo
des diferentes. Alguns são informais e abertos, como adolescente surge justamente porque estes escolhe-

L
38 A adolcscêucía
"como couscguir que me rccou!tcçam cadmitmu co1uo adulto?'' 39

ram não mais esperar pelo reconhecimento poster-


E, quanto mais o comportamento infrator en-
gado dos adultos. O que já é uma transgressão, tal-
contrar reconhecimento imediato pelos outros, tanto
vez a mais grave.
mais vai se estender, se tornar complexo e se distanci-
Portanto, o gregarismo aparece como uma pato-
logia adolescente por ser uma forma de insubordina-
I
')•
~ ar das nonnas.
Por essa razão, qualquer policial de ronda sabe
ção aos adultos.
que, a partir de três, os adolescentes se tornam poten-
Os jovens gregários transgridem por se basta-
cialmente mais perigosos, visto que se constituem nun1
rem, ou seja, por se reconhecerem entre pares, dispen-
sando os adultos.
Mas, além disso, no grupo assim constituído, eles
\
'•
grupo de reconhecimento mútuo, em que a infração
(grande ou pequena) vale como senha.

perseguem e praticam os sonhos proibidos (dos adul-


tos). O grupo adolescente é transgressor em sua fun-
ção (oferecer reconhecimento sem precisar dos O ADOLESCENTE DELINQÜENTE
adultos). Mas é também facilmente transgressor em
suas atuações. Para seus membros, vale a idéia de que a
Voltemos à motivação primeira do adolescente: trata-
esperança de reconhecimento vem da transgressão.
se de conseguir um reconhecimento para o qual nin-
Sobretudo, vale a constatação de que a transgressão
guém sabe lhe dizer quais são as provas, qual é o ritual
coletiva solidifica o grupo e garante reconhecimento
iniciatório necessário! E, por conseqüência, de colo-
recíproco no seu seio. O grupo adolescente se torna
car fim a uma moratória que lhe é imposta logo quando
por isso mesmo um espantalho.
se sente maduro, forte e potencialmente adulto.
Não é por acaso que, em certas jurisdições dos
O adolescente é rejeitado pela sociedade dos
Estados Unidos, por exemplo, a legislação local per-
adultos, que respondem ao seu pedido de admissão
mite que os jovens pilotem um carro desde os 16
com uma bola preta na urna·: Ora, quando um pe-
anos, mas proíbe que dirijam com outros adoles-
( dido não encontra uma palavra que no mínimo re-
. \ c entes no veículo antes dos 18 anos de idade. A ex-
conheça sua relevância, normalmente seu autor
\periência mostra ao legislador que a reunião de
levanta a voz. Numa progressão linear, grita, quebra
adolescentes multiplica substancialmente a tentação
. vidros e pratos, coloca fogo na casa e pode até se
de infringir regras. Ou seja, desde que o grupo ado-
matar para ser levado a sério. Ou seja, ele tenta im-
lescente esteja reunido, cada um (a começar pelo
por pela força, ou mesmo pela violência, o que apa-
piloto) terá a tarefa de conseguir aquele reconheci- rentemente não é ouvido.
mento pelos outros que os adultos negam.
É lugar-comum notar que haveria uma impor-
Quanto mais o comportamento for transgressor,
tância quantitativa da criminalidade adolescente - o
tanto mais ftcil será o reconhecimento: a transgres-
que não é totalm:ente surpresa, visto que a rebeldia
. são demonstra afastamento dos adultos, adesão e fi-
parece ser um caminho que o próprio adulto aponta
delidade ao grupo.
para o adolescente. Mesn10 nos últimos anos, quando
40 A adolescência
"como conseguir que me reconheçam eadmitam como adulto?'' 41

a criminalidade diminuiu drasticamente nas grandes ras". Melhor ainda: fazer grupo e com o grupo fazer
cidades an<ericanas, por exemplo, o único número que besteiras. Enfim, se associar para transgredir.
resistiu foi o de adolescentes infratores e criminosos. Nessas condições, a delinqüência poderia ser uma
Em alguns momentos e lugares, eles até cresceram. sólida vocação da adolescência.
Alimenta-se assim o espantalho do adolescente dito . "Delinqüência" não é uma palavra excessiva,
"predador" (como se fosse uma espécie diferente (embora de fato pouquíssimos adolescentes se tornem
identificada por seu comportamento sanguinário). :'.propriamente delinqüentes. Mas existe uma parceria
Ora, custou certo tempo para que alguém se desse de adolescência e delinqüência, porque o adolescente,
conta do que está por trás dos números (vai custar por não ser reconhecido dentro do pacto social, ten-
mais ainda para que esta verdade seja assimilada pelo tará ser reconhecido "fora" ou contra ele- ou, o que
público). A verdade é que o número de crimes co- dá na mesma, no pacto alternativo do grupo.
metidos por adolescentes provavelmente evolui segun- Ele constituirá um novo pacto entre adolescen-
do uma curva bem parecida com a curva dos crimes tes, com claras regras de reconhecimento mútuo. Es-
dos adultos. Provavelmente - porque a grande maio- sas regras sempre estarão deliberadamente em ruptura,
ria das pesquisas não conta os crimes, mas os crimino- mais ou menos declarada, com o pacto social.
sos indiciados e condenados. A conseqüência dessa Dentro ou fora da prática gregária, os jovens não
abordagem é que a tribo mais gregária sempre parece desistirão de tentar suscitar a atenção e o reconheci-
mais criminosa. Não é dificil entender por quê: os mento dos adultos. O grupo que eles vierem a consti-
adolescentes cometem seus crimes em grupo (para se tuir seguirá um modelo de ação que deverá transgredir
reconhecerem mutuamente como membros do gru- o pacto social, já que continua viva a esperança de
po). É claro, por conseguinte, que a cada crime vários merecer, por essa transgressão, a atenção dos adultos. A
adolescentes criminosos podem ser inculpados e con- '-
transgressão tenta encenar o que os adolescentes acre-
denados. Isso não é o caso dos adultos.
ditam ser um desejo recalcado dos adultos/Há o pro-
A idéia de que os adolescentes seriam o grupo jeto de entregar como presente para os adultos um
mais perigosamente criminoso não parece ter suporte comportamento, um gesto, do qual eles teriam sido
quantitativo. Os números só nos dizem algo que de frustrados éf, assini., de merecer uma medalha. Quanto
fato não é surpreendente, à luz de nossas considera- mais a interpretação do desejo dos adultos for certei-
ções: ou seja, um adulto ou no máximo dois se eng;Uam ra,.mais esse projeto fracassará. Nesse caso, a transgres-
juntos no empreendimento de roubar um carro. O são adolescente presenteia os adultos c9m uma imagem
mesmo crime poderá ser cometido por um bando de que justamente eles querem reprimir)O erro dos ado-
adolescentes que, uma vez o crime perpetrado, mal lescentes (erro em relação a sua própria estratégia) é
caberão todos no carro.
pensar que para os adultos possa ser agradável encon-
Resumindo, o adolescente tem dois caminhos trar uma encenação de seu próprio recalque.
possíveis e compatíveis para obter algum reconheci- Paradoxo e dificuldade da relação entre gerações:
mento: fazer grupo e fazer estardalhaço, ou "bestei-
os adolescentes transgridem - até gàEeféRtt.::.iJ\ão--·
: Biblioteca jos.é de Alencar
42 A adolescêncía
"como conseguir que me reco11heçam eadmitam como adulto?" 43

para burlar a lei, não na esperança de escapar das con- Não é dificil enumerar os comportamentos mais
seqüências de seus atos, mas, ao contrário, para excitá- freqüentes da delinqüência adolescente. Sua banalida-
la, para que a repressão corra atrás deles e assim os de só demonstra a banalidade dos desejos que os ado-
reconheça como pares dos adultos, ou mrlhor, como lescentes conseguem descobrir atrás do silêncio dos
as partes escuras e esquecidas dos adultosfEles imagi- adultos.
nam que, como delinqüentes, serão amados por serem O furto - desde os pequenos roubos de mer-
portadores de sonhos recalcados.(Nessa condição, tor- cadoria nas lojas até o assalto e a colaboração em
na-se impossível para os adultos escolher uma estraté- empreendimentos criminosos (extorsão, tráficos ilí-
gia correta entre tolerância e repressão. Por exemplo, citos etc.)- são a conduta mais óbvia. Afinal, o ide-
é um perigo deixar a porta aberta (como está aconte- al social do sucesso financeiro é triunfante em nossa
cendo cada vez em mais países) para que o tribunal sociedade, e o jovem é mantido afastado dele pela
decida se jovens culpados de crimes graves devem ser moratória da adolescência. Ele escolhe perseguir esse
perseguidos como menores ou como adultodÀ vista sucesso por um caminho que dispensa a retórica
disso, como o jovem resistiria à tentação de fazer algo explícita sobre o valor do esforço, do suor na testa e
que seja grave a ponto de forçar o tribunal a julgá-lo do trabalho (todos pretextos da moratória). Trata e s-
como adulto- que é o que ele pede desde sempre? Se / ses valores morais como se fossem apenas ornamen-
for julgado e condenado como adulto, isso será a de- tos corretivos, que permitem ao adulto tolerar sua
monstração do fato de que os adultos só ouvem a lin- própria avidez. O pensamento do jovem, por incons-
guagem do crime mais detestável e de que essa ciente que seja, soará assim: "Vocês me dizem que é
linguagem funciona:) para ficar rico, mas querem que eu fique aqui na
\Tolerar não é uma opção, visto que o jovem atua espera suando para me preparar. Eu acho que essa
justamente para levantar a repressão. A tolerância só o preparação suada que vocês promovem e elogiam é
.forçará a atuar com mais violência. apenas um jeito de vocês se consolarem de seus fra-
Os adolescentes, então, transgridem e os adultos cassos e não encararem suas covardias. Eu vou com-
reprimem. Por um lado, se os adultos reprimem pre- petir pelos meios diretos que na verdade vocês
ventivamente, impondo regras ao comportamento gostariam de usar. Vou roubar, por exemplo".
adolescente, eles afirmam a não-maturidade dos ado- Outro exemplo é a valorização seja da força fi-
lescentes. Em resposta, os adolescentes serão levados a sica, seja da provocação, da disponibilidade ao
procurar maneiras violentas de impor seu reconheci- enfrentamento (a capacidade de lutar e arriscar). O
n1ento. adolescente atua, encena o gosto de se afirmar sobre
Por outro lado, a repressão punitiva só manifesta e contra os outros arriscando a pele, paródia do mes-
ao adolescente que seu gesto não foi entendido como tre antigo, à qual o adulto renunciou faz tempo -
deverià, ou seja, como um pacote de presente cheio de preferindo negociações e outros compromissos so-
ideais e desejos reprimidos dos adultos. O que também ciais menos perigosos. De novo o adolescente, lem-
levará o adolescente a aumentar a dose de rebeldia. brando pelo seu comportamento que a violência pode
44 A adolescência "Como conseguir que me reconheçam eadmitam como adulto?" 45

"'
ser fonte de autoridade, não seduz o adulto. Ao con-
trário, ele o constrange e o ameaça, apontando sua
O ADOLESCENTE TOXICÔMANO
covardia. Na relação com os adultos (não só sua
família), o adolescente, não conseguindo produzir res-
peito, prefere e consegue produzir medo. O medo é
o equivalente fisico, real, do que o respeito seria sim-
bolicamente.
n A visão da adolescência que parece ser mais preocu-
pante para os adultos é a visão do adolescente toxicô-
I, mano. ., Os adolescentes seriam mais sensíveis do que
1 os adultos ao charme das drogas ilegais.
Entende-se como a delinqüência propriamente ~-------- Na verdade, não seria dificil argumentar que o
dita, organizada, pode vir a ser uma resposta à mora- interesse dos adolescentes de hoje para as drogas é a
tória. Ela freqüentemente implica uma associação de atuação de um interesse para as drogas da geração pre-
delinqüentes que comporta todos os requisitos do gru- cedente. Os adolescentes de hoje são os descendentes
po de adolescentes. Satisfaz o ideal social de sucesso e de uma geração que explicitamente ligou o uso das
riqueza pela apropriação imediata e real. E impõe o drogas a todos os sonhos de liberação e revolução (pes-
medo que é o equivalente real do respeito. "Me disse- soal, sexual, social etc.) que ela agitou e subseqüente-
ram que era crucial enriquecer, ter sucesso e poder. mente abandonou e recalcou.
Não me deixaram competir - pediram para esperar. Desse ponto de vista, a relação adolescente com
Então eles vão ver." as drogas seria hoje um capítulo da rebeldia herdada
Do mesmo jeito, a promiscuidade mais arriscada · pelos adolescentes, depois de largada por seus pais. Ela
pode ser uma resposta à moratória sexual, que trans- seria a interpretação e atuação da grande esperança
gride a retórica explícita do pudor, do respeito, da que os adultos de hoje recalcaram, quando desistiram
vergonha. "Me dizem que é para ser desejante e dese- de sua revolta e abraçaram valores mais estabelecidos.
jável e gozar com isso, mas me pedem para esperar, Mas a droga tem também outras razões de sedu-
para não me queimar cedo demais. Eles não querem zir o adolescente.
encarar suas covardias frente a seus próprios desejos. Sensível à "injustiça" da moratória, o adoles-
Querem, falam, falam e nunca fazem o que querem. cente descobre que, em matéria de drogas ditas le-
Eu vou lhes mostrar como se goza." Não conseguin- gais (álcool e tabaco), há em princípio uma separação
do que seu corpo seja reconhecido como adulto (por- de pesos e medidas entre adultos e adolescentes. A
tanto desejável), o adolescente pode escolher se impor interdição seletiva dessas drogas aos adolescentes é
pela sedução mais brutal. O desejo do adulto seduzi- vivida como parte do processo de sua infantilização,
do, tentado, é - como o medo - outro equivalente uma vez que cigarro e álcool são liberados para os
fisico, real, de um reconhecimento que tarda. adultos.
A prostituição adolescente com clientes adultos O argumento que insiste sobre o perigo de ál-
é um bom exemplo de uma maneira de forçar o reco- cool e tabaco para a saúde pode produzir o efeito in-
, nhecimento, quase irônica:"Se este corpo não é dese- verso ao esperado, pois nada prova que o adolescente
jável, por que pagam para tê-lo por um momento?" queira ser o objeto de uma proteção ou de um cuida-
'---
46 A adolcscêncía "Co1no conseguir que me reconheçam eadmitam COlHO adulto?" 47

do especial que, de novo, o infantilizaria. No entanto, O que é próprio ao desejo moderno é que, atrás
esse argumento deve ser levantado e defendido de cada objeto desejado, sempre há um desejo de algo
vigorosamente pelos pais. Sem isso, o adolescente po- mais, de uma qualidade diferente: uma vontade de re-
deria se sentir entregue a algo bem pior do que a conhecimento social - a qual nunca se esgota no ob-
infantilização: o descaso de seus pais com sua vida. jeto~\Em outras palavras, o que é desejado é sempre
Ele também pode ser seduzido justamente pelo instrumental para afirmar e constituir nosso lugar so-
risco de vida que cigarro e bebida acarretam. Repre- cial.\Por mais que eu possa obter o objeto que eu
sentante quase oficial das fantasias inconfessáveis dos quero, nem por isso ele me satisfará. A riqueza de nos-
adultos, o adolescente não vai poder ficar atrás, logo so mundo depende disto: de uma procura que deve se
num campo onde alguns adultos parecem dispostos a manter inesgotável - nenhum objeto satisfazendo a
correr riscos para gozar um pouco. A tentação será de sede de reconhecimento social que permanece atrás
desafiar os riscos fumando e bebendo até não poder de nossayoJ)Ji1fk de....poss.uirou cl~<:)l!Slu_nir.
mais. Ora- na fantasia dos adultos e talvez de fato-, a
As drogas que são proibidas para todos têm mais droga seria o objeto que promete e entrega uma satis-
charmes ainda. fação acabada, mesmo que apenas momentânea. Essa
Além de serem proibidas (um charme em si), fantasia transforma a droga em senha de acesso a um
podem representar uma maneira de enriquecer pelo universo alternativo regrado por um pacto dife!-ente.
tráfico, desmentindo a moratória. Nesse outro mundo, o que importa para todos é o
Elas proporcionam também uma boa forma objeto, a droga, sua presença, não o status social que
gregária de reconhecimento recíproco entre droga- ela instaura. Por isso a toxicomania talvez seja a trans-
dos, ou seja, são a ocasião da constituição de grupos I gressão mais preocupante, porque parece minar um
adolescentes coesos. i; pressuposto fundamental do pacto social vigente: a
Há mais um aspecto que faz o sucesso da toxico- permanência da insatisfação.
mania adolescente, ou no mínimo de seu espectro, que Por ser ou parecer um·objeto que satisfaz de vez,
perturba o sonho dos adultos. um bem em si, a droga é uma ameaça muito especial.
O que os adultos receiam, na visão do adoles- -Ela quebra a regra moderna de funcionamento do
cente drogado, da maconha à heroína e ao crack? Fora ( desejo. O drogado pára de deslizar de um objeto a
os riscos para a saúde e o perigo de encarar conse- ) outro, da roupa ao carro, ao parceiro bonito - todos
r.-qüências penais, há uma espécie de temor de que, no )metáforas no caminho de um status social que nem a
\ baseado ou na pedra, o adolescente encontre um oh- , totalidade dos objetos poderia produzir. A droga - à
' jeto que satisfaça seu desejo, mate sua procura, acabe diferença dos outros objetos - apagaria o desejo. A
com a insatis(<ção. O medo, em suma, de que com a _preocupação de que o rapaz ou a moça que usam
droga o adolescente, de repente, seja feliz. Por que isso maconha parem de competir na escola, se deprimam,
angustia os adultos? Seria mesmo um problema para não saiam da cama etc. é mais que justificada: ela ex-
os adolescentes? pressa o medo legítimo de que, pela droga, eles trans-
48 A adolescêllcía "Co111o COIJseguh·que 111e rccouheça111 ead111ita111 COIIIO adulto?'' 49

gridam de vez as regras essenciais do funcionamento Na verdade, é freqüente que adolescentes passem
do desejo moderno. pela droga um tempo e parem de usar. É também fre-
Mais do que nas outras formas da delinqüência, qüente que isso aconteça na cara dos adultos, os jovens
os adultos vêem na droga uma perigosa porta de saída pedindo ajuda para voltar dessa viagem. Há adolescen-
por onde os adolescentes escapariam à moratória para tes que se drogam para então precisar de algum tipo de
entrar de vez em outro mundo. reabilitação e pedir ajuda. É uma estratégia parecida com
Os adolescentes concordam com essa preocu- a dos que naufragam de propósito na rota de um tran-
pação e só podem encontrar nela mais uma razão para satlântico, para - uma vez recolhidos - viajar de graça
se satisfazer na droga. Afinal, os adultos não param de na primeira classe. Ou seja, é uma estratégia que força o
mentir, para os outros e para eles mesmos, sobre o reconhecimento do adulto.
valor, o charme e o interesse dos objetos. Consomem /-,A reabilitação, trazer alguém de volta da delin-
como se acreditassem mesmo que o desfile dos obje- qüência, da droga ou da prostituição, é o contrário da
, tos de consumo possa responder, satisfazer, a seus infantilização: ela implica o reconhecimento de que
anseios e desejos. quem se perdeu esteve em perigo de verdade.
Precisamos acreditar que os objetos podem nos É isso que almejam, todas as condutas extremas
fazer felizes. Deslizamos sem parar de um a outro, da adolescência transgressora: convencer o outro de
sempre na espera de mais um que será decisivo, final. que a vida do adolescente não é nenhum limbo pre-
De fato, isso é um faz-de-conta. Não podemos re- paratório, ela está acontecendo de verdade, como a
nunciar à insatisfação que nos faz correr e que vita- vida adulta.
liza nosso mundo. Nenhum objeto pode nos satisf.ner,
pois o que queremos não são coisas e posses, mas -
atrás delas - reconhecimento ou status. E nada pode
extinguir nossa sede desses dois.
O ADOLESCENTE QUE SE ENFEIA
Ora, a droga é, na série dos objetos, uma espécie
de subversão. Drogando-se, o adolescente pode pen- Os adolescentes parecem contradizer, ou melhor, de-
sar estar atuando a seguinte verdade recalcada pelos safiar, os cânones estéticos dos adultos. Segundo estes,
adultos: "Há um objeto que nos satisfaria, mas é ne- eles se enfeiam sistematicamente.
cessário esquecê-lo, pois a satist:1ção seria fatal para Os grupos adolescentes inventam quase sempre
nosso sistenu social". um padrão estético interno, pelo qual os 1nembros se
A droga é um objeto mortal. Não só porque pode diferenciam e se reconhecem entre si. Não é raro que
matar o usuário, mas porque- tão grave quanto isso - esse estilo constitua alguma espécie de agressão deli-
ela pode matar seu desejo. berada ao cânone dominante: afinal, o grupo (mesmo
De fato, não é o caso de dramatizar essa visão do o grupo de estilo) outorga seu próprio reconhecimento
adolescente toxicômano. A grande maioria dos ado- interno. Desafiar a aprovação dos adultos é sua pró-
lescentes apenas flerta com a droga. pria função.
50 A ado/cscê11cia
"como Wlls~suír que I/ICrcúmhcr,mtc 11dmítaJJJ como tJdulto?'' 51

Mas a estética adolescente não surge só para isso


tória de cocô-xixi e de fi·aldas), uma maneira preventi-
(ou seja, para se diferenciar, produzir coesão de grupo
e desafiar o cânone adulto). va de se ridicularizar logo nos arredores dos órgãos
genitais, mas também a pmmessa de um permanente
Pode ser que o ato de se enfeiar corresponda a
interesse com o que está nas cuecas (a cueca fica, por
uma recusa da sexualidade e, sobretudo, da desejabili-
assim dizer, sempre em riste).
dade como valor social. Assim como o adolescente pode
No conjunto, as transgressôes estéticas que pare-
parecer contestar a idolatria do valor financeiro, econô-
.cem assinalar e prometer transgressôes sexuais ou mo-
mico (por exemplo, recusando-se a ostentar os apetre-
rais são esfórços para encontrar algum conforto no
.. chos desse valor nas vestimentas e em outros símbolos
olhar indignado ou assustado dos adultos. Logo, para
tradicionais de riqueza), tornando-se feio de poderia
que o medo, o escíndalo do olhar dos adultos ccm-
criticar um sistema que valoriza a desejabilidade dos
venc;am o adolescente de que lá no espelho ele está
corpos como razão do reconhecimento social.
, contemplando um ser perigoso, atrevido e scxy. Al-
Pode ser também que o adolescente se enfeie
gué·m que os adultos teri~1m de reconhecer como adul-
para se proteger de um olhar que poderia não achá-lo
to, adultíssimo. Na verdade, a grande maioria dos
desejável. Ele conseguiria prevenir essa catástrofe para
adolescentes de cabelos ultraloiros, brincos, tatuagens e
sua insegurança atribuindo sua indesejabilidade a seus
cara feia, caso encontrassem a si mesmos numa rua es-
próprios esforços de se enfeiar:"Não gostam de mim,
mas é porque eu não quis". cura, trocariam de calçada preocupados ou correriam
para casa assustadíssimos.
Na verdade, a feiúra é também uma espécie de
exibicionismo escancarado, a proposta de um erotis-
mo fora da norma, a promessa de uma armadilha se-
xual que não se preocupa em passar pelos ícones O ADOLESCENTE BARULHENTO
socialmente aceitos da desejabilidade.
O piercin,r.; umbilical das gan?tas é exemplarmen-
Os adultos criticam f:1cilmente. Dizem que os adoles-
te tudo isso ao mesmo tempo. E uma _lembrança do
centes são tietes, adulam seus ídolos. Ou ainda que os
nenê de umbigo apenas cicatrizado. E uma curiosa
adolescentes gostam de marcas, se transformam em
distração lúdica no caminho do órgão genital, ou uma
anúncios publicit~1rios ambulantes. Acrescentam que
alusão a uma fechadura de castidade. É, sobretudo, uma
eles vivem num filme, ou em v~1rios, e arrumam uma
maneira de chamar o olhar para o encontro perma-
identidade imitando personagens. Por isso eles se per-
nente, não tão longe da vagina, de uma abertura do
çorpo com algo metálico e duro. dem na contemplaç;'io das estrelas (do cinema e dos
palcos), assim como se esquecem nas marcas que pas-
) A mesma coisa vale para a marca registrada dos
sam a defini-los.
)garotos dos anos 90: os centímetros de cueca expostos
( acima do cós baixado. Eles são uma recusa da sexuali-
É uma ironia barata. Pois, de f~1to, os adolescentes
vivem nos mesmos filmes que os adultos. Cams e Pcoplc
(. dade pela infantilização (a cueca à vista evoca uma his-
não s;'io revistas para adolescentes. Ou seja, a imita<,·ão e
52 A adolcsc~IICÍa
~~Como co11seguír que me rcconhcrmu cadmitam CO l/lO adulto(' 53

a idolatria são formas básicas da socialização moderna;


, Em todas as suas tentativas de desafiar e provo-
valem para os adultos tanto como para os adolescentes.
car, o adolescente encontra uma dificuldade: por mais
No mais, trata-se, nessa crítica irônica, apenas do emba-
que invente maneiras de se enfeiar, de se distanciar do
te entre, digamos, estilistas como Prada e Giorgio Armani
.. cânone estético e comportamental dos adultos, a cada
contra Tommy Hilfiger. Ou então de um ator como
vez, rapidamente, a cultura parece encontrar jeitos de
Leonardo DiCaprio contra Robert De Niro.
idealizar essas maneiras, de transformá-las em com-
Mas, se todos vivemos ou procuramos inventar
portamentos aceitos, até desejáveis e invejáveis. Ou
nossa vida graças aos mesmos filmes, é verdade que o
seja, o adolescente descobre que sua rebeldia não pára
adolescente é o maior fã de videoclipes. Aqui, mais do
de alimentar os ideais sociais dos adultos.
que a história, importam as imagens e a música. As
figuras que cantam e dançam são personagens que ain-
da procuram seus roteiros - perfeitas para os adoles-
centes se identificarem, pois permitem adotar um gesto,
um estilo, um look, sem por isso cmnprar uma aventu-
ra narrada e preestabelecida ou, pior, uma vida inteira.
A música deixa mais liberdade ainda do que o
clipe. Ela dá apenas o clima, sugere uma atitude, mas
não dita uma história. O adolescente vive com uma
trilha sonora permanente, inspiradora de imagens com
as quais compõe sua identidade. Ele fica (ou é) irrita-
do com o metal, romântico com Phil Collins, wol e
inspirado com o ral!c, todo dinâmico com a rlísw etc.
Essa escuta constante comporta sua parte de pro-
vocação. O adolescente oscila entre estourar as caixas
de som e viver de fone de ouvido. O recado é claro:
ou te ensurdeço ou não te ouço.
Seja qual for o efeito disso sobre a comunicação
verbal, o volume da música é também uma espécie de
metáfora sonora da intensidade da experiência ado-
lescente. Uma maneira de gritar: "Eu não vivo, arre-
bento". Os adultos, por mais que protestem, não agem
diferentemente e, de vez em quando, adoram estourar
as caixas de seus aparelhos para comunicar (aos vizi-
nhos, aparentemente) as insustentáveis emoções da-
quele dia (ou, pior para o vizinho, daquela noite).
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A lldolcsdlláll (011/0 ídml nJ/t11ml 57

sonho de liberdade por excelência, o sonho que acom-


panha qualquer vida adulta contempodnea nas f(Jr-
mas mais variadas, do desejo de ftTias à tentação de
cai r fc1ra.
Verifica-se ent:'ío o paradoxo seguii1te: a adoles-
cência, excluída da vida adulta, rejeitada num limbo,
acaba interpretando e encenando o catálogo dos so-
nhos adultos, com maior ou menor sucesso. Mas, atra-
vés de todas as suas variantes, ela sempre cncarna o
maior sonho de nossa cultura, o sonho de liberdade.
Ou seja, por tentar dispensar a tutela dos adultos, a
rebeldia adolescente se torna uma encenação do ideal
cultural básico. Por esse motivo, as condutas adoles-
centes em todas as suas variantes se cristalizam, se fi-
xam ,e se tornam objeto de imitação.
; Tudo leva a f~1zer da adolescência um ide;1l so-
fm lado exasperante da adolescência é que cial. É até bem possível que a adolescência smja na
é dificil encontrar uma escolha adolescente modernidade como idealnecessário.Jogo, que a ado-
que não seja a realização do sonho dos lescência como ideal seja quase um corolário do num-
adultos\\É quase impossível, para o adoles- do contemporáneo. Mas, além dessa possibilidade (que
cente, se afastar da interpretação do desejo adulto, por examinaremos no Capítulo 5), h;1 outras cumplicida-
duas razões.
des que, no mínimo, colaboram em tal idealização da
Primeiro, porque o acesso à idade adulta em nossa adolescência.
cultura não é regrado por um ritual, mas depende de Os adolescentes, como vimos, se reúnem em gru-
um olhar, de um consenso que nem sabe articular suas pos que podem ser mais ou menos fechados, mas sem-
condições. Portanto, é necessário procurá-las interro- pre apresentam ao mundo uma identidade própria,
gando e interpretando o desejo dos adultos. diferente do universo dos adultos e dos outros grupos.
Segundo, por uma espécie de pecado original No mínimo, são comunidades de estilo regradas por
próprio a uma cultura que idealiza a autonomia. Mes- traços de identidade claros e definidos, pois os mem-
mo se o comportamento adolescente fosse totalmen- bros devem poder pertencer a elas sem ter de coçar a
te regrado pelo plano de não mais depender do cabeça se perguntando:"Mas o que será que os outros
reconhecimento dos adultos, mesmo se isso fosse pos- querem para me aceitar?" Os grupos têm portanto
sível (e talvez se torne possível, por exemplo no grupo em comum um look (vestimentas, cabelos, maquiage1n),
adolescente), a autonomia assim realizada ainda seria ,preferências culturais (tipo de música, imprensa) e
o sonho dos adultos para o adolescente. Aliás, esse é o comportamentos (bares, clubes, restaurantes etc.).
58 A adobcêllcia
A adolcscêllcía CO I /lo ídcal wltflral 59

O resultado disso é que cada grupo impõe facil- os estilos adolescentes (seus produtos, seus apetrechos)
mente a seus membros uma conformidade de consu- são oferecidos e vendidos aos adultos, magnificando
mo bastante definida. Por isso mesmo, todos os grupos um mercado já interessante em si. Desde os anos 80,
se tornam também grupos de consumo facilmente surge uma verdadeira especialidade do marketing da
comercializáveis. Os adolescentes, organizados em adolescência. Sua relevância está nas proporções do
identidades que eles querem poder reconhecer sem mercado dos adolescentes: eles são numerosos e dis-
hesitação, se tornam consumidores ideais por serem põem de cada vez mais dinheiro. Mas interessa1n ao
um público-alvo perfeitamente definido.A adolescên- mercado também pela influência que exercem sobre a
cia e suas variantes são assim um negócio excelente. decisão e a consolidação de modas, que transformam
O próprio marketing se encarrega de definir e crista- os modelos de consumo de muitos adultos.
lizar os grupos adolescentes, o máximo possível. A adolescência, por ser um ideal dos adultos, se
Os grupos, nascidos como amparo contra a mo- torna um fantástico argumento promocional.
ratória imposta pelos adultos, se constituem em ideais ( - Até aqui pensávamos que havia uma revolta dos
.' para os adultos justamente por serem rebeldes. Ao ·jovens contra sua exclusão da sociedade dos adultos. E
( mesmo tempo, esses grupos são culturalmente exalta- acrescentávamos que as form. as dessa revolta podiam
. dos pelo marketing, que tem todo interesse em coincidir com ideais adultos por duas razões: porque
apresentá-los como coesos, catalogando os apetrechos
necessários para seus membros, comercializando as ( o ideal cultural dominante é, em nossa cultura, a insu-
bordinação e porque, ao se revoltar, os jovens ainda
senhas de reconhecimento e todos os traços do look .; estariam tentando agradar aos adultos, ou seja, realizar
suscetíveis de circular no mercado. \algum sonho deles.
Esses lcloks que sürgiram como "rebeldia" são J1 Agora podemos perguntar se a adolescência não
então propostos como ideais para aumentar a adesão (,surgiu justamente porque os adultos modernos preci-
de seus membros, ou seja, para seduzir os adolescentes \•saram dela como ideal.
que chegam ao mercado dos grupos ou transitam de \
Será que a adolescência não foi provocada, im-
um grupo para outro. pondo a moratória e suscitando a rebeldia,justamente
Cada look é propagandeado e idealizado por sua para que encenasse o sonho de idiossincrasia, de
comercialização. Cada grupo e a adolescência em ge- unicidade, de liberdade individual e de desobediência
ral se transformam numa espécie de .franchisin/Ç que que é próprio de nossa cultura? Será que a adolescência
pode ser proposta à idealização e ao investimento de não veio a existir para o uso da contemplação preocu-
todo mundo, em qualquer faixa etária. pada, mas complacente, dos adultos?
Se a adolescência encena um ideal cultural bási- Às vezes, essa suspeita deve atravessar o espírito
co, é compreensível que ela se transforme num estilo dos adolescentes.
que é cool para todos. Vimos como e por quê- correndo atrás de um
Na idealização comercial e para maior proveito reconhecimento que os adultos lhe negam e que ele
, lu-; empresários da adolescência, praticamente todos procura com seus pares- o adolescente constitui gru-
6o A adobtúida
A adolcscéllda coiiiO ideal wltllml 61

pos e conformismos. É interessante notar que esses invenção moderna. Em princípio e com as devidas
grupos mudam com extrema rapidez. Há uma cons- exceções, em nossa cultura todos amamos, ou Ille-
tante invenção de novos estilos.,Como se o adoles- lhor, veneramos, as crianças incondicionalmente e ir-
cente tentasse correr mais rápido do que a comer- resistivelmente. Não podemos deixar passar um
cialização, que quer descrevê-lo para melhor miúdo perto de nós sem estender a mão para uma
idealizá-lo e vender seu estilo. Como se ele fugisse
carícia protetora na pequena testa. Quando, num café
da assídua recuperação de sua rebeldia pelos adultos, ou restaurante, cruzamos o olhar de uma criança sen-
famintos de modelos estéticos de juventude, liberda- tada em outra mesa, estamos dispostos a fazer .qual-
de e ;.ebeldia.
quer macaquice para extrair seu sorriso. Em outras
Se a adolescência não existisse, os adultos mo-
palavras: qualquer adulto parece estar investido da
dernos a inventariam, tanto ela é necessária ao bom
(liupla missão de proteger as crianças e torná-las feli-
desempenho psíquico deles.
) zes. Mas por que essa seria uma propriedade exclusi-
~. va da modernidade?
Certo, os seres humanos nasce:m extraordinaria-
DA INVENÇÃO DA INFÂNCIA mente prematuros, e a espécie conta com cuidados
parentais assíduos e permanentes para assegurar a so-
À ÉPOCA DA ADOLESCÊNCIA
brevivência dos rebentos. Sem uma dose brutal de amor
dos pais e esforços anexos, nossa espécie estaria presu-
Chegou a hora de perguntar em que medida e como mivelmente ameaçada.!
essa moratória que produziu a adolescência veio a
O amor pelas crianças nos parece portanto na-
ocorrer logo na modernidade tardia que nós habita-
tural, um efeito quase fisiológico da prematuração dos
mos. Chegou a hora, em suma, de explicar por que c
pequenos humanos, necessário na batalha da evolu-
como a adolescência que nos interessa é um fenôme-
ção das espécies. Sem amor e cuidados as crianças de-
no sobretudo dos últimos 50 anos.
certo não sobreviveriam, mas nem por isso o amor c
Faz um século apenas que a adolescência se tor- os cuidados foram sempre os mesmos.
nou um tema que justificasse um livro como este. Até
Ao contrário, como fói inicial e magistralmente
então, certamente era possível se preocupar com o devir
mostrado por Philippe Ariês," pode-se dizer que a
dos jovens, tanto fisico quanto moral e econômico,
infância é uma invenção moderna. Entendendo aqui
mas "a adolescência" não era uma entidade que enco-
por infância não os primeiros anos da vida - que
rajasse um título ou animasse a imprensa. Não era um
sempre existiram, obviamente--, mas a própria idéia
[lto social reconhecido. Era uma f,1ixa etária, mas não
por isso um grupo social. Ainda menos um estado de
~de um tempo da vida bem distinto da idade adulta,
,·miticamente feliz, protegido pelo amor dos pais c,
espírito e um ideal da cultura.
Para entender co1no isso aconteceu, é necessá- "'E..,..n
;:j ·- '"M
i !"~ í::
rio primeiro lembrar que a própria infância é uma
' Ct~ Bibliografia, 111. ·3iblioteca José de Alencat
62 A adolcscêllcía
A adolcscêllcía como ideal wltttml 63

sobretudo, não definido simplesmente pela espera


Com o fim da sociedade tradicional, a morte se
apressada de se tornar adulto. Na modernidade, a
torna fundamentalmente uma experiência indivi-
infincia se tornou objeto de preocupações, medi-
dual, cujo sentido (ou falta de sentido) deve ser pro-
tações, planos e projetos infinitos, tema inesgotável
curado no espaço da vida do indivíduo e não pode
e autônomo de exploração e debate. Aliás, essa po-
ser substituído pela significação mais ampla da co-
sição aos poucos parece ser herdada pela adoles-
munidade. Mesmo que a fé religiosa venha consolar
cência.
cada um em seu foro íntimo, a morte é antecipada.
Vamos ver como essa idéia ou visão da infância
na modernidade como o fim sempre trágico e soli-
veio surgindo em nossa cultura junto com a moder-
tário de uma existência que, por sua vez, parece coin-
n_idade (do século 13 em diante) e se afirmou defini-
cidir com, e não ser nada mais do que, a sobrevivência
tivamente só quando a modernidade ganhou a partida, do indivíduo.
no fim do século 18.
Entende-se que de repente, nesse contexto cul-
A maneira moderna de olhar para as crianças,
tural, as crianças assumam uma importância especial e
esse jeito de amá-las que faz da infância uma verda-
nova. Para quem a morte é o fim de tudo, as crianças
deira divindade cultural, triunfou quando a sociedade
se tornam a única consolação, a única promessa de
tradicional cedeu o passo ao individualismo.
algum tipo de continuação ou mesmo de imortalida-
Sem passar por uma descrição da transformação
de. Mas essa é apenas uma razão para que o indivi-
cultural que leva da sociedade tradicional ao indivi-
dualismo moderno invente a infância.
dualismo que domina nossa modernidade, é possível
Numa sociedade tradicional, cada criança vinda
lembrar dois traços essenciais que contribuíram para
ao mundo ocupa um lugar definido numa rede social
fazer dessa mudança cultural o momento da invenção
articulada e estabelecida. Em qualquer comunidade
da infância.
hierarquicamente organizada, nascer numa classe, numa
O próprio Aries nos deixou uma obra centrada
casta, numa corporação são figuras iniciais e decisivas
sobre essa transição, da qual salientou, além da inven-
do destino. Certo, a vida de cada um continua em suas
ção da infância, outro aspecto decisivo: uma mudança
mãos e eventualmente nas da graça divina, mas o su-
na experiência da morte.
jeito encontra uma exigência social ao mesmo tempo
Explicado rapidamente: numa sociedade trach-
fundamental e incontestável e, por isso mesmo, pacifi-
cional, a comunidade é a verdadeira depositária da
cada, tranqüila, geralmente explícita: trata-se de ocu-
continuidade da vida. Aqui a morte, por mais que
par o lugar que o nascimento outorgou a cada um,
seja um evento trágico e triste na vida do sujeito,
num universo onde por regra a divisão social é deci-
não é um ponto final, conclusivo, pois a vida que
dida pela tradição.
mais importa não é a do indivíduo - que se perde
Ao contrário, numa cultura individualista como a
com a morte. A comunidade sobrevive e segue. Ela é
nossa, espera-se de antemão que qualquer sujeito se
uma experiência que fala mais alto do que o fim do
construa um lugar e se invente um destino contra o
breve tempo de uma vida.
que a tradição e o berço onde nasceu lhe reservaran1.
64 A adolescência A adolescência como ídeal cultural 65

Por isso, transmitir, ensinar, formar são, em nossa cultu- vamente, por definição. Pois seu lugar no mundo não
ra, atividades tão problemáticas, pois a ordem transmiti- pode nem deve ser mais definido do que sua aspiração
da (quer dizer, a tradição) é de contradizer a tradição. - como se diz - de subir na vida, sua ambição, sua
Ora, quase todas as instituições do mundo tradi- inveja. Esse traço se revelou crucial para produzir uma
cional periclitaram ou sumiram com a modernidade. aceleração inédita na produção de riqueza e de dife-
O indivíduo só não se achou desprovido de comuni- rença social: o sujeito moderno quer mais (portanto,
dade porque uma sobreviveu e, de certa forma, adqui- produz e consome mais) porque deve querer sempre
riu importância nova e central na vida de todos: a mais do que os outros.
família. A família moderna é restrita ao essencial, nu- Não há, não pode haver, objeto, façanha ou mes-
çlear (ou seja, composta essencialmente pelo núcleo mo triunfo social que possa apagar essa insatisfação.
de pais e crianças), mas por isso mesmo mais intensa, Para o sujeito moderno, sua obra, seu trabalho de
pois idealmente organizada ao redor não de consan- escalador social permanecerão sempre inacabados.
güinidades extensas, de obrigações, deveres e contra- Talvez se compreenda melhor agora por que a
tos, mas da força proclamada dos sentimentos íntimos. modernidade realizada produz uma paixão inédita pelas
A família nuclear existe e resiste por ser fundada no crianças. Para seus pais e para os adultos em geral, elas
amor. Amor entre pai e mãe e amor entre estes e as são a consolação e a esperança. Graças a elas, os adul-
crianças que eles criam\ A família - instituição que tos estendem o sentido e a expectativa de suas vidas
portanto sobrevive e vinga na modernidade- é a gran- para além do limite estreito de sua sobrevivência indi-
de porta-voz do duplo vínculo moderno: ela pede às vidual. Graças a elas, a insatisfação própria do sujeito
crianças todo tipo de submissão e obediência em nome moderno se torna suportável, pois o fracasso - inevi-
do amor, mas também pede que, em nome do mesmo tável numa corrida que desconhece faixa de chegada
amor, a criança se liberte da família e ultrapasse a con- - alimenta a espera de que as crianças façam reveza-
dição na qual se criou, para responder às expectativas mento conosco.
dos pais. Particularmente, para dar continuidade (imor- , A infãncia preenche a função cultural essencial
talidade) aos sonhos dos pais- sonhos frustrados antes ~e tornar a modernidade suportável.
de mais nada pela mortalidade dos sonhadores\ Para isso, ela proporciona antes de mais nada um
Para entender melhor como se criam na moder- prazer estético. ~ii-9 épQr acaso que j\ries descobriu a
nidade as condições sociais e psicológicas da transformação que a modernidade produziu na ma-
sacralização da infãncia, ainda é preciso acrescentar a e
neira de ver amar as crianças principalmente a partir
esse quadro sucinto outro traço bem específico da da iconografia da infãnciac(As crianças modernas são
modernidade ocidental: a insatisfação fundamental do um objeto de contemplação, de agrado e descanso para
sujeito. O homem moderno não é insatisfeito aciden- nossos olhos. Crian1os, vestimos, arrumamos as crian-
talmente com o que lhe acontece, infeliz porque cho- ças para comporem uma imagem perfeita e segura de
veu, a peste recrudesceu ou de novo a guerra vem por felicidade. No começo da visão moderna da inffi11cia,
aí. É indispensável que ele seja insatisfeito constituti- elas eram vestidas aquém da diferença sexual, seu '-de-
\
66 A adolescência A adolescência como ídeal cultural 67

sejo era negado por ser para elas uma possível fonte de Por isso mesmo precisamos lutar para que nossos
inquietação. Nós precisamos ver as crianças ao abrigo anseios passem para elas nas melhores condições pos-
das imperfeições e das mágoas: completamente dife- síveis, ou seja, com a maior chance de serem satisfeitos
rentes de nós, por serem protegidas da corrida por elas no futuro.
insatisfatória ao sexo e ao dinheiro. Amparadas dane- 7- Paradoxalmente, as crianças devem ao mesmo tem-
cessidade, não desejantes, elas são sorridentes, amadas, ,-épo ser felizes e se preparar ativamente para consegui-
encantadas: vivem e1n outro mundo. ',rem tudo o que nós não conseguimos. A transmissão
Essa imagem de felicidade, inocência e paz que .dessa tarefa é crucial, constitutiva da infància moderna,
\ construímos como um presépio permanente no meio que portanto não é só uma imagem estática de felicida-
de nossas casas é a perfeição que nunca alcançamos de, mas uma espécie de promessa.
"'nem alcançaremos, pois ser insatisfeitos é para nós Por isso, a modernidade pode ser paradoxal-
definitório. Por isso, a infància, mais do que uma uto- mente hiperprotetora e violenta com suas crianças:
pia, é nossa idade de ouro. ela venera, protege as que têm condição de ser por-
De certa forma, a infància moderna é o verda- tadoras da promessa, ou seja, mandatárias dos so-
deiro grande resto da sociedade tradicional na socie- nhos dos adultos. E pode brutalmente deixar cair,
dade moderna: as crianças são as únicas que gozam de abandonar, aquelas que por qualquer razão não têm
direitos só pelo fato de serem pequenas, ou seja, de ou parecem não ter condição de realizar um dia
terem nascido crianças. Uma infància feliz é a única nossas esperanças (o único corretivo a essa brutali-
coisa à qual teríamos direito de nascença. dade é que sempre sobra algum gosto estético de
Isso é o que parece à primeira vista. Mas o ver- ver crianças felizes).
me da modernidade está no encanto desse jardim re- Por isso também a modernidade sofre de con-
servado, onde artificialmente contemplaríamos nossas tradições pedagógicas: como preparar as crianças para
crianças felizes. o futuro sem comprometer a imagem de sua felicida-
A infància não oferece só um prazer estético: a , de? Surge assim a utopia do aprender prazeroso, da
imagem da felicidade infantil tem também outra fun- aula que seria eficaz como um cursinho acelerado e
ção. Essas crianças felizes são também encarregadas de divertida como um jogo de jardim da infància. Essas
dar um sentido a nossa corrida social - garantindo contradições não ajudando, a preparação fica cada vez
que, embora incompleta, ela será continuada. Elas são mais longa e laboriosa.
as herdeiras de nossos anseios, de nossa insatisfação Quanto mais a infància se afasta de um simples
constitutiva. ! consolo estético, quanto mais é encarregada de prepa-
Portanto nos deleitamos na imagem de sua feli- )\rar o futuro, ou seja, de se preparar para alcançar um
r cidade, como se esta nos consolasse de nosso fracasso. '(impossível) sucesso que faltou aos adultos, tanto mais
Ou, melhor ainda, como se demonstrasse nosso suces- ela se prolonga. Isso inevitavelmente força a invenção
so: fracassamos nós, mas elas são felizes e seguirão sen- da adolescência, que é um derivado contemporâneo
do, dando assim completude a nossas falhas. da infància moderna.
68 A adolescêncía A adolescêncía como ideal cultural 69

A ÉPOCA DA ADOLESCÊNCIA ríamos que fossem nossos adolescentes. Gostaríamos


por quê? Para nos oferecer esse show,justamente.
/' As visões de infância e adolescência se opõem
Aos poucos, os adultos verificam que essas crianças /como um erotismo alusivo se opõe à pornografia.
que estão se preparando já são um pouco crescidas, à Olhamos para a infância como promessa. Procuramos
força de esperar. Elas constituem uma nova mistura, · na visão da adolescência o clipe de nossos gozos:
inédita. Os adultos tentam mantê-las protegidas e feli- "Nossa, se pudéssemos de verdade tirar férias de um
~"'zes, assistidas, no mundo encantado da infância, sem jeito que nem adolescente consegue!"
obrigações e responsabilidades. Por outro lado, elas se Há certo gênero de filme pornográfico onde
, parecem cada vez mais com os adultos, pelo tamanho,
1
(a~ situações extremas filmadas são reais, não atuadas.
pela maturação de seus corpos e pelas exigências de \Pois bem, a adolescência real nos assusta como um
sua felicidade e de seus prazeres, que não são mais '~desses filmes, em que, de repente, se realizam de
brinquedos e historinhas, mas, por exemplo, sexo e verdade fantasias que estão em nós, mas que prefe-
dinheiro - segundo eles vão aprendendo. Além disso, riríamos esquecer.
a própria pressão preparatória se torna parecida para ~ A infância é um ideal comparativo. Os adultos
essas crianças com a pressão da corrida adulta. 1 podem desejar ser ou vir a ser felizes, inocentes, des-
Aparece assim uma semelhança inédita entre os \ preocupados como crianças. Mas normalmente não
adultos e essas supostas "crianças" que já têm corpos, \gostariam de voltar a ser crianças.
gostos, vontades, prazeres e alguns deveres muito pa- '· Com a adolescência que hoje toma o lugar da
recidos com os nossos. infância no ideário ocidental, a coisa muda.
Cada vez mais, o olhar dos adultos se desloca das O adolescente não é só um ideal comparativo,
crianças para os adolescentes, pois o espetáculo de sua como as criancinhas. Ele é um ideal possivelmente
felicidade é de fato mais gratificante. Se conseguirmos identificatório. Os adultos podem querer ser adoles-
realizá-la mantendo os adolescentes protegidos e ir- centes.
responsáveis como crianças, mas com exigências e Os adolescentes ideais têm corpos que reconhe-
voracidades de adultos, eles vão nos oferecer um show cemos como parecidos com os nossos em suas formas
bem parecido com a felicidade que gostaríamos aqui e seus gozos, prazeres iguais aos nossos e, ao mesmo
e agora, para nós. tempo, graças à mágica da infância estendida até eles,
A imagem da infância encantada nos deleita por- são ou deveriam ser felizes numa hipotética suspensão
que nos consola e contém uma promessa. A imagem das obrigações, das dificuldades e das responsabilida-
~. da adolescência feliz nos propõe um espelho para con- des da vida adulta. Eles são adultos de férias, sem lei.
templar a satisfação de nossos ávidos desejos, se por Em nossa idealização, seriam turistas sexuais num Ter-
algum milagre pudéssemos deixar de lado os deveres ceiro Mundo sem polícia, bon vivants gostando de fi-
e as obrigações básicas que nos constrangem. Ou seja, car high no Afeganistão antes de 1970 ou nos cafés de
se pudéssemos ser tão despreocupados quanto gosta- Amsterdã, compradores em dólares nos supermerca-

..L
70 A adolescêncía A adolescêncía como ideal cultural 71

dos inflacionados do Quarto Mundo e mesmo assim importante quanto crisma, bar mitzvah ou equivalente.
eternos ganhadores da loteria. As maneiras em público eram, do mesmo jeito, inspi-
Talvez adoremos mais essa imagem do que a ima- radas pelos adultos. Chegando em casa da escola, os
gem das crianças que nos extasiava. Pois é propriamen- jovens deviam trocar da roupa de rua para a roupa de
te uma imagem de nós mesmos gozando, felizes, sem casa (isso porque se presumia que uma "criança" se
impedimento ou quase. Gostamos tanto que é uma pena sujasse, deitasse no chão etc.).
nos confinarmos na contemplação estética ou no so- A vontade frustrada de poder ficar o dia inteiro de
nhoj Por que simplesmente não imitá-los? Concreta- ( paletó e nó de gravata tem como paralelo hoje a gran-
mente não é simples, pois quem vai nos dar a mesada? : de vontade dos adultos de poderem enfim se vestir como
Mas podemos, por exemplo, imitar seus estilos.'\ \ adolescentes nos domingos e mesmo nas sextas-feiras
(A adolescência se torna assim um ideal dos adul- ) informais permitidas nos escritórios. A vontade de usar
tos~Ou seja, os adultos não se contentam mais com o I sapato amarrado até em casa corresponde hoje à vonta-
consolo oferecido pela visão das criancinhas felizes. \ de adulta de usar tênis até quando não é a hora de
Eles encontram nos adolescentes idealizados um pra- · praticar nenhum esporte.
zer menos utópico e mais narcisista.{ Os ad<?lescentes Também os adolescentes dos anos 60 procura-
oferecem uma imagem plausível, praticável.\ vam não só parecer adultos, mas se aventurar em qua-
Idealizar os prazeres da adolescência (que, contra- lidades de experiência adultas. Se possível, mais adultas
riamente à infância, é imitável) é uma maneira de que- do que a experiência dos adultos. Algumas ativida-
rer menos consolo com perspectivas futuras (o que a des adolescentes (desde as brincadeiras até a
infância oferece) e mais satisfação imediatafQueremos masturbação) eram culpadas e vergonhosas, não tan-
ver os adolescentes felizes porque eles seriam apenas a to por serem proibidas, mas por serem infantis, ou
caricatura despreocupada de nós mesmosprortanto, atin- seja, prova de distância da idade adulta, de falta da
gíveis, a nosso alcance. maturidade que daria acesso ao reconhecimento so-
Essa idealização não escapa aos próprios ado- cial e à independência.
lescentes. Talvez por isso os adolescentes dos anos 60 aca-
Até a metade dos anos 60, claramente o ideal baram sendo uma geração de indivíduos politicamen-
(inclusive estético) da maioria dos adolescentes era a . te engajados, para mitigar e esconder uma vontade de
idade adulta.~O que os adolescentes dessa época mais \ folia atrás da seriedade da consciência social. O ideal
queriam era ser aceitos e reconhecidos como adultos, :deles era a vida adulta. O desejo era não de se confor-
obter, em suma, pleno acesso à tribo.\J.sso provavel- . mar aos adultos, mas de não se diferenciar deles por
mente não é diferente do que querem os adolescentes ser infantis, adolescentes.
de hoje. Mas, justamente com esse fim, os de então se . Atrás desses adolescentes, havia as crianças, que
esforçavam em imitar os adultos(O aniversário (12 ou ( eram aparentemente felizes num mundo de contos de
13 anos) em que as calças compridas eram autorizadas \fada e assim ficariam até descobrirem que o que im-
era esperado como se fosse mais importante ou tão )portava era ser adulto. Elas eram idealizadas por todos,
72 A adolescê~Jcía A adolescêHcía como ídeal cultural 73

(inas como um daguerreótipo da felicidade de outros / A estética da adolescência atravessa assim todas as
j tempos. As crianças eram decorativas. O ideal eram os idades. E os continentes. Os adolescentes são os mes-
\ adultos, lá na frente. mos no mundo inteiro ou, ao menos, no mundo oci-
- ___ Isso começou a mudar bem naquela época. Aos \ ' dental. Mesmas modas, mesmos estilos, mesmas músicas .
(poucos, os adolescentes se tornaram o ideal dos adul- . X. .~~Uma mesmice muito americana. De fato, a adolescên-
l tos. Logo, ao interpretar o desejo dos adultos e procu- ( <,JP) cia foi inventada e vingou nos Estados Unidos. Não

") .(seria falso dizer que ela é originariamente americana.


1 rar descobrir qual seria o sonho deles atrás de seus
eventuais pedidos de conformidade, os adolescentes _ Isso significa apenas que os Estados Unidos mos-
depararam com sua própria imagem. O ideal escondi- t'-' ;~raram primeiro esse traço de modernidade, dita avan-
do dos adultos eram eles mesmos, os adolescentes. : çada, pelo qual os adultos preferem sonhar em ser
Como satisfazer aos adultos, senão sendo mais · adolescentes a ficar contemplando as crianças suposta-
adolescentes ainda do que já eram? :mente felizes. De qualquer forma, a adolescência é o
Fato notável: 'nestas últimas décadas, as crianças ·\ideal coletivo que espreita qualquer cultura que recusa
perderam sua especificidade estética. Elas são cada vez i~ tradição e idealiza liberdade, independência, insubor-
menos vestidas como crianças. Tampouco são masca- . dinação etc. Os Estados Unidos foram aqui a vanguarda
radas de adultos em miniatura, para antecipar o futuro 'do Ocidente moderno.
que se espera para elas. Elas são camufladas de adoles- Aliás, isso explica em parte a incrível expansão
çentes. É tanto mais surpreendente (e preocupante da cultura americana na segunda metade do século
,quanto às conseqüências) em lugares onde os adoles- 20. Pois quem captura a alma dos adolescentes, quem
centes e seus uniformes são símbolos instituídos de decide dos estilos adolescentes, de fato é mestre dos
uma marginalidade perigosa. Caminhe pela rua 12,5 sonhos dos adultos cuja aspiração é a adolescência.
em Nova York: sem falta você encontrará, por exem- Paradoxalmente (note-se entre parênteses), essa
plo, garotos de quatro anos de calças cargo ridicula- americanização forçada, que nivela e destrói patrimô-
mente largas, mantidas abaixo do cós para mostrar três nios culturais diferentes, pode ter alguns efeitos positi-
dedos de cueca, chapéu de beisebol virado para trás vos. Por exemplo, no Brasil rappers afavelados conseguem
ou então, no inverno, capuz por cima da cabeça. Em sair da exclusão e participar da adolescência (encarnar
suma, a caricatura dos membros de uma gangue. Eles para todos uma fatia de ideal) por parentesco com os
não estão vestidos nem de crianças nem de adultos. rappers dos guetos americanos.
Estão de adolescentes. O adolescente que eles imitam Nessa situação - em que a adolescência é um
é o ideal dos adultos que os vestem. Os homens adul- ideal para todas as idades e glo):_al -, o adolescente se
tos, por sua vez, estão ridiculamente fantasiados do torna um ideal para si mesmoi!-le é empurrado pelo
mesmo jeito. Repitam a mesma observação na saída olhar admirativo de adultos e crúnças a se tornar cada
de uma escola primária, comparando as meninas e as vez mais a cópia de seu próprio estereótipo. A se mar-
, mães que esperam o fim da aula. Não é raro que elas ginalizar (ser rebelde) para seguir ocupando o centro
\_compartilhem de uma estética comum. de nossa cultura, ou seja, o lugar do sonho dos adulto~
74 A adolescêncía

A adolescência, nessa altura, não precisa acabar.


Crescer, se tornar adulto, não significaria nenhuma
promoção. Consistiria em sair do ideal de todos para
se tornar um adulto que só sonha com a adolescência.
Acaba assim a preocupação fundamental do ado-
lescente de ser aceito ou reconhecido pelos adultos
como um par. Não precisa mais se preocupar. A ado-
lescência é agora o ideal dos adultos por ser suposta-
mente um tempo de férias permanentes- uma maneira
de ser adulto quanto aos prazeres, mas sem as obriga-
ções relativas. Se a adolescência é isso, ela é reconheci-
('da o suficiente. Por que desejar se tornar adulto quando
· os adultos querem ser adolescentes? E por que desejar
! o reconhecimento dos adultos, se na verdade são estes
/que parecem pedir que os adolescentes os reconhe-
c. çam como pares?
í' Os adolescentes pedem reconhecimento e en- ,
1 contram no âmago dos adultos um espelho para se

.; contemplar. Pedem uma palavra para crescer e ganham


' um olhar que admira justamente o casulo que eles
Lqueriam deixar.
( ' Moral da história: o dever dos jovens é enve-
\ lhecer. Suma sabedoria. Mas o que acontece quan-
/1do a aspiração dos adultos é manifestamente a de
{rejuvenescer?

1
Pequena bíblíogrrifía comentada 77

de parceiros sexuais e também às prisões. De fato, essa


precocidade não constituía novidade nenhuma. O que
era novo, naquele começo do século 20, era a preocu-
pação de Hall. Ele foi à luta para que os benefícios da
infância se prolongassem. Suas palavras foram decisivas
para que, aos poucos, os adolescentes fossem
escolarizados tão obrigatoriamente quanto as crianças.
Inaugurou-se assim uma tendência que hoje empurra a
escolaridade obrigatória (e com ela a adolescência) para
além dos 20 anos de idade.
Hall considerava a adolescência uma época peri-
gosa e trabalhosa. Mas concebia essas dificuldades como
naturais, próprias a uma fase da vida. Concluía, por-
tanto, que os jovens precisavam de proteção por mais
tempo do que pensávamos.
Em sua descrição da adolescência, já aparece a
ara ler mais sobre o tema e também para mistura de medo e inveja que acompanha até hoje a
percorrer com mais detalhes algumas das idealização dessa época da vida.
etapas que permitiram escrever este en- • Margaret Mead, Coming ofAge in Samoa. N ew
saio, podem-se apontar três caminhos. York: William Morrow, 1928.
I. O primeiro são os textos nos quais e pelos A. gJ:aiJ.dLi!!ltropólQga Marga~ead-respon-
quais a adolescência se constituiu e cresceu como deu a Hall, mostrando que ~_ad~a atorme~
objeto autônomo de perplexidade, reflexão e pesquisa. ,.da e difíciLnão é genh.tlma_}!~cessidade_ fisiol~ica,
Eles contribuíram não só para entender a adolescên- ,nenhurnaJ:at3ljda_s!~, mas_um~_p_r_Qdus:_ª-()_q~~~-C:~I_:__
cia, mas sobretudo para fazê-la existir como proble- .. tur.ª~la descreve uma sociedade nas ilhas Samoa onde
ma moder.no. a adolescência é uma transição fácil e feliz. Mesmo se
• Granville Stanley Hall,Adolescence: Its Psychology a descrição etnológica é hoje discutida (o que não
and Its Relatíons to Physiology,Anthropology, Sociology, Sex, significa contestada), o livro segue sendo um marco
Crime, Religion and Education. New York: D.Appleton no debate sobre infância e adolescência.
& Co., 1904. • Albert Cohen, Delinquent Boys: the Culture of
É a obra fundadora dos estudos sobre adoles- the Gang. NewYork: Free Press, 1955.
cência. Hall pode ser considerado o criador da ado- Logo depois da guerra, aparece o clássico de
lescência, seu inventor. Ele se preocupou com a Albert Cohen sobre os jovens delinqüentes. Embora
precocidade dos jovens de seu tempo, os quais lhe pare- Cohen repetidamente afirmasse que sua analise
ciam chegar cedo demais às ruas, às fábricas, aos braços concernia só a garotos de classe operária e membros
78 A adolescê11CÍa Pequena bíblíografía comentada 79

de gangues, a idéia da adolescência como opos1çao Depois da Segunda Guerra Mundial, a figura do
delinqüente contra a cultura e o mundo adulto se ins- adolescente perdido e transgressor assume dignidade
talou desde então. Cohen é crucial na constituição do literária com The Catcher in the Rye de J.D. Salinger
pesadelo do adolescente delinqüente. em 19 51 (O Apanha dor no Campo de Centeio. Rio de
• Daniel Offer (com Melvin Sabshin e Judith Janeiro: Autor, 1999).
L. Offer), The Psychological World of the Teenager: a Desde essa época, a vasta produção cultural que
Study of Normal Adolescent Boys. New York: Basic idealiza a adolescência é constantemente acompanha-
Books, 1969. da pelo tema narrativo do adulto insatisfeito, queren-
Em contraponto a Cohen, embora tarde demais do voltar a uma adolescência idealizada, feita de
para corrigir seus efeitos de desconfiança, Daniel Offer liberdade e de crises salutares.
veio lembrar que os adolescentes reais são mais nor- Um dos maiores romances americanos do pós-
mais do que a "adolescência".A produção de Offer se guerra é Revolutionary Road, de Richard Yates (1961),
estende até os anos 80. em que a monotonia da vida suburbana se torna in-
• Erik Erikson, Identidade,]uventude e Crise. Rio tolerável, por causa da urgência de interromper a
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987 (original 1968). rotina adulta para poder (sonho adolescente) "se
Enfim, Erikson entende a crise da adolescên- achar". Querendo dispensar a leitura de Yates (que
cia como efeito dos nossos tempos. Para ele, a ra- não foi traduzido para o português), é possível re-
pidez das mudanças na modernidade torna correr ao filme American Beauty, de Sam Mendes
problemática a transmissão de uma tradição de pais (1999), em que a personagem principal é um her-
para filhos adolescentes. Estes devem portanto se deiro direto do herói de Yates.
constituir, se inventar, sem referências estáveis. Essa nostalgia adulta da adolescência, que atra-
Erikson foi o primeiro a usar o termo "moratória" vessa a segunda metade do século, é a força atrás das
para falar da adolescência. Também foi um dos ra- mãos que nesse período desenham uma série de re-
ros a perceber que a crise da adolescência se tor- tratos ideais de adolescentes. O cinema, pretendendo
nava muito dificil de administrar,já que o mesmo apresentar ou explicar o que seria a adolescência, ilus-
tipo de crise começava a assolar os adultos mo- tra de fato os sonhos adultos sobre a adolescência. Ele
dernos. nos conta qual adolescente os adultos gostariam de
voltar a ser, de ter sido ou de continuar sendo.
II. O segundo caminho é o das produções cultu- A série começa com Rebel Without a Cause
rais que instituem a adolescência como ideal social. A Uuventude Transviada), de Nicholas Ray (1955), com
• idealização da adolescência é preparada pela idealização James Dean no papel de um jovem sedento de uma
da infància insubordinada. O exemplo mais famoso, vida mais intensa e verdadeira do que a intolerável
ainda do século 19, é o Huckleberry Finn de Mark fraqueza pequeno-burguesa do pai. Em contraponto,
Twain (há várias edições portuguesas disponíveis de Pícnic (Férias de Amor), de Joshua Logan (1955), nos
As Aventuras de Huckleberry Finn). fala de uma menina, Kim Novak, que, na sua escolha
Pequena biblíografía comentada 81
8o A adolescêncía
Philippe Aries, História Social da Criança e da Fa-
amorosa, é mais sincera do que a mãe interesseira. O
mília. Rio de Janeiro: LTC, 1981 (original 1960).
estereótipo do adulto hipócrita que tudo sacrifica a
Philippe Aries, Homem Perante a Morte, 2 vol. Lis-
falsos valores é pintado por adultos e para adultos.
boa: Europa-América, s/ d.
Em suma, os adultos adoram se ver e julgar pelos
olhos do adolescente ideal que eles imaginam nos-
talgicamente.
Os filmes com Elvis Presley insistem no charme
inquietante do adolescente pouco recomendável. O
herói de Jailhouse Rock (O Prisioneiro do Rock), de
Richard Thorpe (19 57), se torna cantor na cadeia;
verifiquem a cara dos pais da moça que se apaixona
por ele. ···TREM
::r L::~ I .
É impossível oferecer aqui uma filmografia da .>lDiioreca José de Akm-:flt
adolescência.Apenas podemos indicar que, depois desse
começo, ela poderia terminar com dois filmes. Kids,
-
de Leo Fitzpatrick (1995), seria exemplo do ideal de
transgressão e de gozo heróico do adolescente. Do
outro lado, estaria American Pie, de Paul Weitz (1999),
como exemplo de uma visão da adolescência engra-
çada e mais próxima da realidade. É instrutivo consi-
derar que Kids fez sucesso com adolescentes e adultos.
American Pie seduziu apenas os adolescentes.
Sobre a constituição do ideal adolescente nos
Estados Unidos dos anos 50, vale conferir (no míni-
mo em sua segunda parte):
Luisa Passerini, A Juventude, Metáfora da Mudança
Social. Dois Debates Sobre os Jovens: a Itália Fascista e os
Estados Unidos da Década de 50, em: História dos Jovens,
vol. 12, "A Época Contemporânea". São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1996.

III. O terceiro caminho é o da história da infàn-


cia e da mudança cultural que levou o Ocidente a
amar as crianças de uma maneira tão especial. No tex-
to é feita referência a:
SOBRE O AUTOR

Contardo Calligaris é psicanalista, doutor em psico-


logia clínica (Université de Provence) e colunista da
Folha de S.Paulo. Italiano, hoje clinica e vive entre
Boston e São Paulo. Ensinou estudos culturais na N ew
School de Nova York e foi professor convidado de
antropologia médica na Universidade da Califórnia
em Berkeley.
Seus livros mais recentes em português são Crôni-
cas do Individualismo Cotidiano (Ática) e Helio Brasil! No-
tas de um Psicanalista Europeu Viajando ao Brasil (Escuta).
FOLHA
EXPLICA

Folha Explica é uma série de livros breves, MACACOS Drauzio Varella


abrangendo todas as áreas do conhecimento e cada
um resumindo, em linguagem acessível, o que de 2 OS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS Marcelo leite
mais importante se sabe hoje sobre deternünado
assunto.
3 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Francisco Achcar
Como o nome indica, a série ambiciona expli-
car os assuntos tratados. E fazê-lo num contexto bra- 4 A ADOLESCÊNCIA Contardo Calligaris
sileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só
para que fique bem informado, mas para que possa s NIETZSCHE Oswaldo Giacoia Junior
refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e
consciente das circunstâncias do país. 6 O NARCOTRÁFICO Mário Magalhães
Voltada para o leitor geral, a série serve também
a quem domina os assuntos, mas tem aqui uma chance
de se atualizar. Cada volume é escrito por um autor
reconhecido na área, que fala com seu próprio estilo.
Essa enciclopédia de temas é, assim, uma enciclopédia
de vozes também: as vozes que pensam, hoje, temas de
todo o mundo e de todos os tempos, neste momento
do Brasil.

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