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Prof.

Klelton Mamed de Farias Doutrina


do Raciocínio

DOUTRINA DO RACIOCÍNIO

1. DEFINIÇÃO

Segundo Aristóteles, raciocínio é a “operação discursiva por meio da qual se


mostra que uma ou diversas proposições (premissas) implicam uma outra
proposição (conclusão) ou, pelo menos, tornam esta proposição verosimilhante”. Em
outros termos, há raciocínio toda a vez que se infere um pensamento de outro
pensamento. O produto do ato de raciocinar é denominado argumentação.

2. ESPÉCIES DE RACIOCÍNIO

Tradicionalmente, são duas as espécies de raciocínio: o raciocínio dedutivo e


o raciocínio indutivo.

Raciocínio dedutivo (também chamado silogismo) é aquele cuja conclusão


decorre da ligação de dois termos mediante um terceiro. Também se costuma definir
a dedução como a passagem do geral ao particular, porque vai um princípio até sua
conseqüência logicamente necessária.
O raciocínio indutivo se fundamenta nos princípios lógicos (de identidade, de
não contradição, do terceiro excluído, de razão suficiente, que já foram visto quando
tratamos da doutrina do juízo).

Exemplo: Todo homem é mortal;


Ora, José é homem;
Logo, José é mortal.

Raciocínio indutivo é aquele cuja conclusão resulta da ligação de dois termos


em virtude de partes subjetivas de um dos próprios termos, ou, simplesmente, a
indução é a passagem do particular ao geral.
O raciocínio indutivo se baseia no princípio de que aquilo que convém a
várias partes suficientemente enumeradas de certo universal, convém a esse sujeito
universal.

Exemplo: O ferro, o zinco, o ouro, o cobre... são condutores de


eletricidade;
Ora, O ferro, o zinco, o ouro, o cobre... são metais;
Logo, todos os metais são condutores de eletricidade.

3. OS TERMOS DO SILOGISMO

O silogismo tem três termos: o maior, o médio e o menor, os quais integram


os juízos constituintes do silogismo.
O termo maior constitui o predicado da conclusão. No raciocínio: “todo
homem é mortal; ora, Pedro é homem; logo, Pedro é mortal”. Neste último juízo, o
predicado da conclusão é o termo mortal, que, nesse caso, é o termo maior.
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O termo menor constitui o sujeito da conclusão. No exemplo citado acima,


Pedro é o sujeito da conclusão, logo Pedro é o termo menor.
O termo médio é aquele que, embora presente nas duas premissas, não
aparece na conclusão.
Assim, no silogismo se estabelece a seguinte relação: o termo maior é
atributo necessário do termo menor, porque é atributo necessário do termo médio,
que, por sua vez, é o atributo necessário do menor.

4. AS REGRAS DO SILOGISMO

1ª. Regra: todo silogismo tem somente três termos: maior, médio e menor (essa
quantidade de termos é necessária para que haja a comparação de dois termos com
um terceiro);

2ª. Regra: o termo médio não entra na conclusão;

3ª. Regra: o termo médio tem de ser tomado pelo menos uma vez em toda a sua
extensão (universal) [é o ermo médio que serve para comparar os extremos, de tal
sorte que, na conclusão, tem de aparecer o resultado da comparação, ou seja, a
relação entre os termos extremos entre si];

4ª. Regra: nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas
premissas;

5ª. Regra: nada se conclui de duas premissas negativas (se dois termos não se
identificam entre como podem ambos se identificar com um terceiro?);

6ª. Regra: de duas premissas afirmativas, não pode haver conclusão negativa (se
dois termos se identificam com um terceiro são necessariamente idênticos entre si,
não podendo, então, ser distintos entre si);

7ª. Regra: a conclusão segue sempre a parte mais fraca (denomina-se parte mais
fraca a premissa particular ou negativa. Se uma das premissas é, pois, particular ou
negativa, a conclusão tem de ser particular ou negativa);

8ª. Regra: nada se conclui de duas premissas particulares.

5. OS MODOS DA PRIMEIRA FIGURA DO SILOGISMO

Na Lógica, denominam-se figuras do silogismo as formas que o silogismo


adota segundo a posição do termo médio nas premissas maior ou menor. São
quatro as posições possíveis do termo médio na referidas premissas, o que resulta
em quatro figuras silogísticas.
No primeiro caso, o termo médio aparece como sujeito na premissa maior e
predicado na menor;

Exemplo: Todo homem é mortal;


Ora, José é homem;
Logo, José é mortal.

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No segundo, como predicado em ambas as premissas.

Exemplo: Todo homem é racional;


Ora, nenhum mineral é racional;
Logo, nenhum mineral é homem.

No terceiro, como sujeito em ambas as premissas.

Exemplo: Algum homem é filósofo;


Ora, todo homem é corpo;
Logo, algum corpo é filósofo.

No quarto, como predicado na premissa maior e sujeito na menor.

Exemplo: Todo homem é mortal;


Ora, todo mortal é animal;
Logo, algum animal é homem.

5.1. Modos válidos da 1ª. Figura do silogismo

Na 1ª figura, o termo médio é sujeito na premissa maior e predicado na


premissa menor.
O primeiro modo recebe a denominação latina clássica de Barbara, porque é
constituído de três proposições universais afirmativas (A, A e A).

Exemplo: Todo metal é corpo;


Ora, todo cobre é metal;
Logo, todo cobre é corpo.

O segundo modo recebe a denominação latina clássica de Celarent, porque


apresenta a seguinte constituição: a premissa maior é uma proposição universal
negativa; a premissa menor, uma universal afirmativa e a conclusão, uma universal
negativa (E, A e E).

Exemplo: Nenhum mineral é vegetal;


Ora, todo cobre é metal;
Logo, nenhum cobre é vegetal.

O terceiro modo recebe a denominação latina clássica de Darii, porque


apresenta a seguinte constituição: a premissa maior é uma proposição universal
afirmativa, e as outras duas, a menor e a conclusão, são duas proposições
particulares afirmativas (A, I e I).

Exemplo: Todo metal é corpo;


Ora, algum mineral é metal;
Logo, algum mineral é corpo.

O quarto modo recebe a denominação latina clássica de Ferio, porque


apresenta a seguinte constituição: a premissa maior é uma proposição universal

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negativa; a premissa menor, uma particular afirmativa e a conclusão, uma particular


negativa (E, I e O).

Exemplo: Nenhum mineral é vegetal;


Ora, algum corpo é mineral;
Logo, algum corpo não é vegetal.

6. ARGUMENTAÇÃO VICIOSA

Todo raciocínio que infringe as regras da lógica são raciocínios viciosos. A


argumentação viciosa é aquela em que o raciocínio se encontra eivado de
incorreção, resultante da boa fé ou da malícia de quem está raciocinando. Não
obstante seja um raciocínio incorreto, a argumentação viciosa se apresenta com a
aparência de raciocínio correto, mas que, tão logo seja submetido à análise
cuidadosa, revela todo o seu equívoco.
Chama-se paralogismo o raciocínio incorreto quando há boa fé, porque quem
raciocina pode errar por causa de inadvertência ou falta de atenção ou por ser
iludido por uma ambigüidade na linguagem.
São várias as espécies de paralogismos, como, por exemplo, o paralogismo
da ignorância do assunto (ignoratio elenchi) em que se responde a outra coisa
diversa da que está em questão ou se procura provar o que não precisava ser
provado, porque não fora solicitada sua prova.

Exemplo: Por ocasião da discussão, na Câmara dos Deputados, de um


projeto de lei relacionado com a política habitacional, um deputado federal pede a
palavra, mas passa apenas a dizer que é desejável proporcionar moradia decente a
todas as pessoas, sem tocar de leve que seja na eficácia das medidas propostas,
nem sequer se elas seriam mais eficazes do que outras alternativas.

A petição de princípio (petitio principii) também é um paralogismo e ocorre


quando é suposto aquilo mesmo que se pretende provar, ou seja, o que se pretende
provar é justamente aquilo que se utiliza como prova. Embora esse raciocínio, em
alguns casos, seja completamente válido, é incapaz de estabelecer a verdade da
conclusão.

Exemplo: A fumaça sobe porque é mais leve que o ar,


e é mais leve que o ar porque é um dos corpos leves.

Outra espécie de argumentação viciosa é o sofisma no qual há malícia, má fé,


porque aquele que raciocina, nesse caso, raciocina equivocadamente para enganar
seu interlocutor.

Exemplo: Todos os cães são mamíferos;


Todos os gatos são mamíferos;
Logo, todos os gatos são cães.

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Leituras sugeridas:

COPI, Irving M. Introdução à lógica. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou,
1964.
SANTOS, Mário Ferreira dos. Lógica e dialética. 3ª ed. São Paulo: Logos, 1957.
______. Dicionário de filosofia e ciências culturais. 2ª ed. São Paulo: Matese,
1964.

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