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Confssões de um cético rancóflo

Roger S CRUTON

$oi #uando desco"ri a leitura de livros, os #uais me ensinaram #ue h%


mist&rios escondidos na sociedade humana, na consci'ncia e no pr(prio ser,
#ue pela primeira ve), no começo dos anos sessenta, me interessei por
*loso*a Atrav&s da leitura de +a-a, Ril-e, e TS .liot cheguei / conclusão,
ainda adolescente, de #ue a literatura não tinha outra tarea senão a de
explorar e decirar esses mist&rios e de #ue a "ele)a liter%ria era apenas um
outro nome #ue se dava para o tipo de revelação #ue a#ueles autores
prometiam 0e certa maneira procurava na literatura a resposta para uma
necessidade religiosa e não era surpresa #ue a maioria dos autores #ue me
impressionavam ossem de srcem continental, escrevendo em alemão ou
ranc's O ato de #ue o meu autor avorito de lngua inglesa, TS .liot,
dedicasse tantos dos seus ensaios / literatura rancesea e italiana e tantos
dos seus versos a cit%2las endossava a minha atitude avor%vel a tudo #ue
vinha sendo escrito do outro lado do Canal da 3ancha Al&m disso, o
entusiasmo pelo existencialismo, o #ual, graças / colet4nea de 5alter
+aumann, inclua 0ostoi&vs-i e +ier-egaard entre os eleitos, apenas veio a
con*rmar2me na visão de #ue a *loso*a e a literatura são dois componentes
complementares de uma empreitada 6nica cu7o prop(sito & entender o
mundo
O tipo de *loso*a acad'mica #ue mais tarde viriam a ensinar2me em
Cam"ridge era c&tica em relação a essas tentativas de entender as coisas e
de condu)ir o pensamento a"strato na direção delineada pela arte e pela
poesia A *loso*a analtica, na medida em #ue tem uma imagem de si
mesma, v'2se como um prel6dio / ci'ncia 0%, assim, continuidade / grande
tradição dos empiristas dos s&culos de)essete e de)oito e adota como seu o
programa #ue 8ohn Stuart 3ill nos apresentou no s&culo de)enove no seu
Sistema de Lógica e #ue seria mais tarde retomado por Russell, 3oore e
9

5ittgestein no s&culo vinte1 Talve) eu devesse ter aceitado h% muito tempo


#ue todas as tentativas de colocar em palavras as :verdades; pelas #uais
ansiava são destitudas de sentido e #ue no *nal das contas & at& mesmo
errado cham%2las de verdades No entanto, *co chocado com a *sionomia
ran)ina e sem vida #ue a *loso*a rapidamente assume #uando vagueia para
longe da arte e da literatura e não consigo a"rir uma revista como Mind ou
The Philosophical Review sem experimentar um des4nimo imediato, como se
entrasse pela porta de um necrot&rio
Assim, não & nenhuma surpresa #ue no incio de minha carreira *los(*ca
osse atrado mais por Sartre do #ue por #ual#uer outro *l(soo .sse era
um autor #ue representava o ideal liter%rio Na sua o"ra estão, lado a lado,
tra"alhos de argumentação a"strata, romances, contos, peças de teatro e
a#ueles "elos ragmentos de auto"iogra*a tais como Les Mots #ue
descrevem não apenas o #ue & escrever como Sartre mas tam"&m o #ue &
ser Sartre .sse era um intelectual #ue não estava simplesmente consciente
da vida moderna e dos seus mist&rios, mas #ue tinha conseguido transcrev'2
la com sucesso .ncontrara palavras, re#<entemente "elas palavras, #ue
lhe permitiam reconhecer e dramati)ar a elusiva heceidade da vida
moderna, mostrar o #ue & viver no nosso tempo e atrav&s disso = e de uma
maneira #ue tornava dicil expressar em outras palavras >as #uais não eram
de maneira alguma necess%rias 7% #ue ele as legara em n6mero su*ciente?
= captar e compreender a extraordin%ria solidão metasica #ue nos
assom"ra neste mundo em #ue vivemos
Não perdi a rever'ncia por Sartre durante meus anos na universidade
Ad#uiri, no entanto, um treinamento em *loso*a analtica #ue tornou dicil
com"inar os lados *los(*cos e artsticos dos meus pr(prios interesses
liter%rios Considero os aspectos *los(*cos e liter%rios da minha escrita
como aspectos de uma tentativa 6nica de di)er as coisas como elas são
desde o meuv%lido
argumento pontoacima
de vista 3as uma
da verdade daeducação *los(*ca
vida na lista #ue colocava
das virtudes o
intelectuais
tanto serviu de apoio como de o"st%culo a essa minha tentativa Sartre
pertencia a uma outra tradição, #ue s( conhecemos ho7e por meio de suas
ormas degeneradas Neste artigo, #uero di)er algumas coisas so"re essa
tradição e, em especial, #uero explicar por #ue & #ue sua in@u'ncia se a)
sentir ho7e mais pela sua degeneração do #ue pelo seu @orescimento
saud%vel

1
Nem essa tradição est% morta !ara uma particularmente l6cida adaptação
dela para pro"lemas modernos, ve7a Timoth 5illiamson, The Philosophy o
Philosophy, !ord, "lac#well, $%%&'
B

Assim #ue terminei a graduação em 1DE ui direto para a $rança, pas
#ue era para mim a eptome do esorço de uni*cação das vidas intelectual e
artstica 0ois anos depois, voltei a Cam"ridge, mas mantive a minha
conexão com !aris, #ue visitaria constantemente durante a#ueles anos
tur"ulentos e, ao testemunhar os (v(nements de mai, dos #uais nunca me
recuperei de verdade, passei por uma extraordin%ria experi'ncia de
conversão
0e repente me vi *car nas "arricadas do lado oposto da#uele dos meus
conhecidos Não entendia direito o sentido de tudo a#uilo, mas #uando vi
adolescentes mimados de classe2m&dia "otar ogo nos carros comprados a
duras penas pelos seus ineriores na escala social, meu instinto era *car do
lado dos donos dos carros !erguntava aos meus colegas estudantes #ual era
o o"7etivo #ue pretendiam alcançar e em reposta todos me asseguravam #ue
a $rança havia entrado numa situação revolucion%ria e #ue a hora de
derru"ar a "urguesia e colocar o proletariado em seu lugar havia chegado
Fsso não se encaixava "em com a minha an%lise a respeito das classes
sociais a #ue eles ou suas vtimas pertenciam, no entanto, reconheci a
linguagem e pus2me a ler, com toda a dilig'ncia, todos os textos #ue me
deram como explicaçGes da agitação revolucion%ria
Os textos eram de tr's tipos !rimeiro, havia os ensaios #ue Sartre
escrevera no p(s2guerra, notavelmente a )riti*+e de la raison dialecti*+e e
Sit+ations 7unto com o amoso Le de+!ime se!e, de Simone de Heauvoir,
sua eterna alma g'mea >ou melhor, talve), soi-camarade? A )riti*+e me deu
a impressão de ser intelectualmente mori"unda .ra uma tentativa triste
#ue um homem #ue havia desistido de pensar *)era para retraçar a senda
longamente a"andonada dos argumentos es#uecidos Sua deesa da#uilo
#ue chamava de :totalisation; era apresentada numa prosa totalit%ria de
rigide) cadav&rica, não muito dierente dos slogans do !artido Comunista, e
assom"rava2me o ato
usar palavras desse de #ue
modo, um se
como grande escritor
ossem contasse re"aixasse
num %"aco e anão
ponto deem
"olas
um campo O Seg+ndo Se!o & um livro engenhoso, mas a visão das
mulheres #ue nele se apresentava era tão radicalmente enganosa #ue
ouscava todos os pan@etos eministas #ue 7% havia lido e, pensando "em,
todos os #ue viriam a ser escritos, pelo menos at& Le rire de la m(d+se de
I&lJne Cixous Contudo, assim como os ensaios de Sartre, o livro de
Simone de Heauvoir não passava de uma tentativa de argumentação, #ue se
esorçava para delinear os contornos de uma lastim%vel condição poltica,
apresentar ra)Ges para mud%2la e sugerir o #ue poderia vir em seu lugar
K

O segundo tipo de texto era tipi*cado por $oucault, notavelmente por


Les Mots et les )hoses e pelos ensaios espirituosos so"re a srcem das
prisGes e dos hospcios .sses textos eram exu"erantes exerccios de
ret(rica, com toda a "ravata de um 7ovem Sartre e repletos de paradoxos
e alsi*caçGes hist(ricas ultra7antes, mas arre"atavam o leitor atrav&s de
uma esp&cie de indierença irreverente em relação /s exig'ncias da
argumentação racional ou aos direitos da verdade .m ve) de
argumentação, $oucault
guia do pensamento enxergava
humano, :discurso;,
$oucault e no
enxergava lugar daNa
:poder; verdade
visão como
oulcaultiana das coisas, todo discurso ganha aceitação atrav&s da
expressão, reorço e ocultação do poder da#ueles #ue o deendemL e a#ueles
#ue, de tempos em tempos, perce"em esse ato são invariavelmente >na
sociedade "urguesa? encarcerados como criminosos ou tranca*ados como
loucos = um destino #ue $oucault evitou, inexplicavelmente

O terceiro tipo de texto consistia de teorias emprestadas dos grandes


su"versivos = em especial, 3arx e $reud = dissolvidas numa prosa tão
o"scura e auto2reerente #ue se tornava mais ou menos incompreensvel

.xemplos
$&lix impressionantes
uattari desse
e 8ac#ues Macan, estilo
#ue são Mouis
pairava Althusser,
no segundo illes
plano, uma0eleu)e,
presença maca"ra #ue se a)ia conhecer so"retudo pelos relat(rios so"re
seus semin%rios e pelos rumores acerca dos eeitos de suas seduçGes
terap'uticas O livro de Althusser Po+r Mar! pretendia ser uma deesa do
:materialismo hist(rico; de 3arx na sua versão pura e srcinal e oi
rece"ido como prova de #ue o marxismo era o verdadeiro guia pra os
acontecimentos de 1D No entanto, não consegui desco"rir um s(
argumento, no livro inteiro, #ue osse convincente Po+r Mar! consistia de
sentenças >como as #ue virão a seguir? #ue se repetiam sem variação at& o
momento em #ue a colisão entre o livro e a parede >ou, em 1D, entre o
livro e o estudante revolucion%rio? não pudesse mais ser proteladoP

:.sta não & apenas sua situação em princpio >a#uela #ue ela ocupa na
hierar#uia das inst4ncias em relação / inst4ncia determinanteP na
sociedade, a inst4ncia econQmica? nem apenas sua situação de ato >se, na
ase em consideração, ela & dominante ou su"ordinada?, mas a relação dessa
situação de ato com essa situação em princpio, isto &, a relação mesma #ue
a) dessa situação de ato uma variante da estrutura invariante, em
dominação, da totalidade;

.ssa era a vo) do marxismo de rua de 1DP cada sentença curvava2se


so"re si como a unha de um dedo do p&, dura e eia, #ue crescesse para
E

dentro apontando sempre para si mesma9 illes 0eleu)e e $&lix uattari,


*l(soo e psicanalista respectivamente, eram mais competentes do ponto de
vista ret(rico, e o livro mais in@uente da dupla, L.anti edipe, #ue consistia
de extravagantes vQos da imaginação, oi mais in@uenciado por 3archel
0uchamp e Andr& Hreton do #ue por $reud 0eleu)e e uattari decrevem o
ser humano como uma :m%#uina dese7ante;, um corpo esva)iado dos seus
orgãos, e convocam 3arx e $reud como testemunhas da conclusão de #ue
essa & a verdadeira
poderiam explicação
ser dierentes, 7% #ueda es#ui)orenia
o :corpo e de #ue
sem (rgãos; as coisas
& apenas umanão
outra
maneira de chamar o capitalismoP isso & o #ue acontece aos seres humanos
#uando a :edipani)ação; imposta pelo regime consumista esva)ia o
recept%culo "iol(gico no #ual o ser humano est% contidoB uanto a Macan,
permitam2me apenas di)er #ue Ramond Tallis, ao cham%2lo de :psi#uiatra
do inerno;, orneceu2nos uma descrição "astante apropriada para retratar a
presença sinistra e ameaçadora de Macan na prosa de 1DK Os 7ovens
intelectuais com #uem conversei entendiam a revolução como uma esp&cie
de psican%lise violenta imposta / sociedade rancesa, um processo no #ual
o povo ranc's era orçado a passar pela :ase2espelho; da consci'ncia, tal

como
incluaMacan a descreveu,
revelaçGes e a conrontar
tão pertur"adoras coma averdade
de #ue,da sua
so" condição, o #ue
a condição
"urguesa, o p'nis ereto era o aparecimento, na hierar#uia dos signi*cantes,
da#uilo #ue, no mundo dos signi*cados, ocorre como a rai) #uadrada de
menos 1E

Mia os livros #ue eram colocados diante de mim com um sentimento de


intensa gratidão pelo meu treinamento em *loso*a analtica, #ue me
ensinou a reconhecer "esteira e a sa"er #uando ela estava sendo usada para
propor como conclusGes o #ue na realidade eram premissas ocultas Nem
por um segundo pensei #ue esse tipo de literatura osse durar, e #uando ela
2
 claro, seria um insulto grosseiro ao marxismo em geral e a 3arx em
particular supor #ue essa a 6nica orma disponvel #ue o marxismo do nosso
tempo pode assumir Ve7a a re7eição impec%vel de Althusser por 8err Cohen
>A Cohen, /arl Mar!0s Theory o 1istory, !rinceton, !rinceton Universit
!ress, 1W, !reace? e tam"&m a de . ! Thompson emThe Poverty o
Theory, Mondon, Verso, 1W
3
illes 0eleu)e X $&lix uattari, L02nti-edipe3 )apitalisme et
Schi4ophr(nie, !aris, ditions de 3inuit, 1WE, ch 9
4
:The Shrin- rom Iell,;em 3ichael rant ed, The Raymond Tallis Reader,
Mondon, !algrave, 9YYY
5
A prova ocorre em 5critsL ver minha an%lise em The Politics o )+lt+re,
3anchester, Carcanet !ress, 11, p1Y1
D

começou a pu"licar2se em revistas = das #uais Tel 6+el & o exemplo mais
proeminente = e a recrutar uma nova geração de produtores de "esteira,
incluindo rec&m2chegados como 8ac#ues 0errida, I&lJne Cixous e 8ac#ues
Attali, da Arg&lia, como 8ulia +risteva, da Hulg%ria, e, como Muce Fragara,
da H&lgica, encarei tudo isso como uma moda passageira #ue em seu devido
tempo morreria a morte / #ual toda escrita ruim est% condenada !arecia2
me, então, #ue era apenas uma #uestão de tempo para o #ue o alto padrão
#ue Sartre Camus,
por Al"ert *xara nos seus anos
Vladimir de 7uventude
8an-&l&vitch = o #ual
e 3ichel Meiristinha sido
e #ue mantido
a"riu espaço,
na perieria, at& mesmo para conservadores como Alain Hesançon e Ren&
irard=retornasse logo e "anisse todos os charlatães dos seus castelos em
!aris

Fsso, no entanto, não aconteceuL não na#uela &poca, pelo menos Ao


re@etir so"re essa ato, notei certas caractersticas recorrentes e distintivas
de toda a literatura #ue mencionei .m primeiro lugar, & literatura
direcionada contra um inimigo Toda ela & dedicada a descrever os ardis e
ma#uinaçGes #ue mant'm a ordem existente de p& e a retrat%2la como

opressiva,
em"ora ma#uinal
não possa sere, intelectualmente
num sentido proundo, estranha
decirado Segundo,
em termos o a"surdo,
de verdade ou
alsidade ou de validade ou invalidade, pode ser decirado do ponto de vista
poltico uer di)er, não & simplesmente a"surdo, & a"surdo direcionado
contra um inimigo, e não & simplesmente a exist'ncia do inimigo #ue est%
sendo atacada A investida visa a atingir primeiramente a linguagem atrav&s
da #ual o inimigo reivindica o mundo, a linguagem #ue conhecemos como
argumentação racional e "usca da verdade :O amor / verdade;, declara
8ac#ues Macan, :& o amor por essa ra#ue)a cu7o v&u aca"amos de levantarL
& o amor pelo #ue a verdade esconde, #ue & chamado de castração;D O
amor / verdade, portanto, não tem validade independente, não sendo nada
mais do #ue um disarce usado pela parte mais raca Não h% outra
mercadoria em disputa a não ser o poderP o inimigo dispara palavras e n(s
revidamos A vit(ria & con#uistada pela varinha m%gica, a rai) #uadrada de
menos um #ue, "randida na cara do inimigo, revela #ue ele não tem "olas

0uas outras caractersticas da literatura de D são dignas de nota


!rimeiro, havia uma extraordin%ria concord4ncia entre todos os escritores
#uanto / nature)a do inimigo O inimigo era a "urguesia, a classe #ue tinha
>de acordo com a caricatura marxista da hist(ria? monopoli)ado as
instituiçGes da sociedade rancesa desde a Revolução de 1W e cu7a
6
8ac#ues Macan, The Seminar o 7ac*+es Lacan, ed 8ac#ues2Alain 3iller,
Hoo- ZVFF, Ne[ \or-, Norton, 9YYW, p E9
W

:ideologia; havia se espalhado por todos os canais de comunicação desde


a#uela &poca !or tr%s da amlia patriarcal excoriada por Heauvoir, das
instituiçGes da prisão e do hospcio desacreditadas por $oucault, da
:m%#uina dese7ante; de 0eleu)e e uattari e das normas de respeita"ilidade
heterosexual ridiculari)das por Sartre in Saint 8enet estava a mesma orça
= de nature)a tanto espiritual #uanto econQmica e demasiado pervasiva e
vasta para ser identi*cada com um mero grupo humano =, a orça da
"urguesia
geral, muitoOsclaros
revolucion%rios amadores
#uanto ao #ue com #uem
esperavam pQr noeu alava
lugar do não eram, eem
:sistema;
das :estruturas; #ue estavam determinados a destruir 3as estavam unidos
na concepção #ue tinham do inimigo e na determinação #ue nutriam de
destru2lo A "urguesia era uma a"stração onipresente cu7a exist'ncia era
provada 7ustamente pela repentina erupção, na consci'ncia, do dese7o
implac%vel de atac%2la Se surgisse o impulso de virar um carro e atear ogo
nele & por#ue o carro era um sm"olo e uma possessão da "urguesia Se
voc' *casse com raiva de um casal vestido respeitavelmente andando de
mãos dadas na rua, então isso era prova de #ue eram mem"ros da
"urguesia Se ao avistar um policial voc' osse levado a pegar uma pedra

para atirareram
particular, nele, agentes
então era
dapor#ue policiais,
"urguesia Se um emlivro,
geral, e a#uele
uma imagememou uma
m6sica o oendia, então era prova su*ciente de suas srcens "urguesas, e se
voc' não pudesse passar por um padre sem ridiculari)%2lo e insult%2lo, isso
era um sinal claro de #ue a religião era uma instituição "urguesa Na &poca
da Rainha Ana, 0eoe escreveu #ue as ruas de Mondres :estavam repletas de
camaradas corpulentos preparados para lutar at& a morte contra o !apado,
sem sa"er se ele era um homem ou um cavalo; . isso era igualmente
verdade a respeito da !aris da minha 7uventudeP suas ruas estavam repletas
de 7ovens preparados para lutar at& a morte contra a "urguesia, sem sa"er
se ela era uma id&ia ou um uniorme, e certamente sem sa"er #ue, segundo

#ual#uer entendimento ra)o%vel do termo, eles pr(prios eram ela


I% uma outra caracterstica da literatura de D #ue merece ser
mencionada por#ue est% relacionada com a in@u'ncia duradoura #ue essa
literatura exerceu, especialmente nas disciplinas acad'micas nos .stados
Unidos !or tr%s de todo o @oreio e a"surdidade era possvel discernir
vestgios de id&ias de um perodo anterior = id&ias #ue estiveram vivas no
*m da guerra, #uando !aris era um centro de de"ate intelectual s&rio e
#uando a geração p(s2guerra tentava livrar2se da mem(ria da ocupação e
traição e esconder o mal #ue ela tinha eito e sorido As discussGes da
escola de ling<stica de !raga, cu7os mem"ros haviam "uscado re6gio em
!aris na d&cada de BY e sido inspirados pelo tra"alho de Saussure, oram

a"sorvidas pelo marxismo acad'mico e reudismo liter%rio, produ)indo a


sntese caracterstica #ue encontramos na o"ra de Roland Harthes As
distinçGes entre :signi*cado e signi*cante;, entre lang+e e parole, entre
onema e morema, penetraram na nova linguagem 7unto com as teorias
so"re a inra2estrutura e a super2estrutura, valor de uso e valor de troca,
produção e exploração, tomadas de 3arx, e as teorias so"re repressão e
li"ido emprestadas de $reud As distinçGes e teorias eram misturadas 7untas
no caldeirãoresultados
re#<'ncia, #ue co)inhava no ogo revolucion%rio
empolgantes e produ)iam,
e extraordin%rios, tais comocom
a prova de
Macan de #ue a :es#ui)orenia; 22estou citando de um dos seguidores
da#uele grande homem 22 :designa uma orma de dese7o puramente
metonmica #ue & li"erado por associaçGes meta(ricas de e#uival'ncia e
signi*cado impostas so"re o dese7o por c(digos lingusticos e]ou sociais #ue
operam em nome do pai;W Ou a prova de uattari de #ue, atrav&s da
superação das semiologias signi*cativas #ue at& agora nos destinaram a
tornarmo2nos :m%#uinas semi(ticas não2signi*cativas;, iremos :li"erar a
produção do dese7o, as singularidades do dese7o, das amarras dos
signi*cantes dos valores nacionais, amiliares, pessoais, raciais, humanistas

e transcendentes
mundo >incluindo
pr&2signi*cativo o mito de um
de codi*caçGes retorno / nature)a?
a2semi(ticas;  e entrar
Os monstros deno
inintelig'ncia #ue assomam nessa prosa atraem nossa atenção por#ue estão
vestidos com pedaços de teorias coletados entre os resultados de "atalhas 7%
es#uecidas = a teoria marxista da produção, a teoria saussureana do
signi*cado, a teoria reudiana do complexo de dipo Todas elas, devo di)er,
oram completamente reutadas pela ci'ncia posterior, mas recuperadas, de
um 7eito ou de outro, pelos carniceiros parisienses #ue lhes deram uma vida
antasmal no vapor #ue su"ia do caldeirão revolucion%rio

I% ainda uma outra id&ia ad#uirida durante o perdo de auto2exame do


p(s2guerra #ue não perdeu credi"ilidade, uma id&ia #ue resiste ao tempo
por#ue não & uma hip(tese cient*ca #ue, mais dia menos dia, ser% reutada,
mas & uma re@exão *los(*ca so"re a nature)a da consci'ncia Trata2se da
id&ia do Outro A dial&tica do .u e do Outro & o grande presente da *loso*a
idealista alemã para a cultura europ&ia moderna 0e $ichte at& Ieidegger,
essa mesma tese oi explicada de centenas de maneiras dierentes e nunca
sem um #u' de o"scuridade digni*cadaP & pelo caminho da alienação #ue
7
.ugene 5 Iolland, :$rom Schi)ophrenia to Social Control,; in .leanor
+auman and +evin 8on Ieller, eds, 9ele+4e and 8+attari3 :ew Mappings in
Politics, Philosophy and )+lt+re, 3inneapolis and Mondon, U 3inn !ress,
1
8

ar enos-o, :uattaris Schi)oanaltic semiotics; in i;id


chegamos / nossa li"erdade e auto2consci'ncia, & na conrontação com o


outro #ue nasce o eu, e & na nossa recusa de sucum"ir ao outro e de sermos
a"sorvidos por ele #ue reconhecemos a verdade da nossa condição = a
verdade de #ue tam"&m somos o outro e #ue tam"&m somos limitados por
outros #ue são como n(s Agora, essa hist(ria, contada muitas ve)es, entrou
na cultura rancesa por uma estrada muito dierente, nomeadamente,
atrav&s das palestras p6"licas so"re a Fenomenologia de Iegel #ue
Alexandre +o7Jve,
p6"lico ranc's, um imigrante
proeriu na 5colerusso #ue ocupava
Prati*+e um 5t+des
des 1a+tes alto cargo noos
entre serviço
anos
de 1BB e 1B Io7e, essas palestras são amplamente distri"udas graças /
edição #ue delas e) Ramond uenau, #ue as presenciou . se voc' se
surpreende com o ato de #ue o autor de <a4ie dans le m(tro pudesse ter
tido, na &poca, um interesse proundo por Iegel, então & "om #ue sai"a #ue
todos os mem"ros da#uela geração #ue viriam a a)er uma contri"uição,
depois da guerra, / emergente cultura liter%ria de uma $rança dominada
pela culpa estiveram presentes na#uelas preleçGes Sartre, de Heauvoir,
3arcel, Macan, Hachelard, Mevinas, Hataille, Aron, 3erleau2!ont = e
muitos outros = estavam l% Cada um saiu das palestras com sua pr(pria

versão
atrav&sdo
de:Outro;,
par%"olase com sua pr(pria
reveladoras !araam"ição de descrever
de Heauvoir, o homemo :Outro;
transormou a
mulher no Outro e era pelo conronto com sua :alterit(; #ue a mulher
poderia reapropriar2se de sua li"erdade rou"ada !ara o humano Mevinas, o
Outro & o rosto humano, em #ue encontro minha pr(pria ace re@etida e #ue
tanto esconde #uanto revela a lu) da personalidade !ara 3erleau2!ont o
Outro est% tanto ora #uanto dentro de mim, revelado na enomenologia da
minha pr(pria corpori*cação !ara Sartre o Outro & a intrusão estranha, a
#ual 7amais consigo con#uistar ou possuir, mas #ue escarnece de mim com
sua li"erdade inapreensvel, de maneira #ue, na#uela amosa sentença de
1+is )los, :o inerno são os outros;

.ssa maravilhosa id&ia liter%ria, #ue +o7Jve resgatou de um "a6 de


manuscritos antigos em #ue os alemães a puseram para "em guard%2la, &
respons%vel por muito da#uilo #ue & interessante e "onito na literatura da
$rança do p(s2guerraP voc' a encontra no elogio de eorges Hataille ao
er(tico, no 7o+rnal d+ vole+r de 8ean enet, em  ser e o nada de Sartre, no
existencialismo cat(lico de a"riel 3arcel e no no+vea+ roman de Ro""e2
rillet e 0uras Voc' a encontra mesmo em 0eleu)e e uattari, #ue adaptam
o Outro / sua pr(pria loucura em uma prosa #ue seria dicil de caricaturarP

:A Outra !essoa & su*ciente para transormar #ual#uer extensão


espacial em uma possvel proundidade e vice2versa, de maneira #ue se esse
1Y

conceito não uncionasse no campo perceptivo, transiçGes e inversGes se


tornariam incompreensveis e n(s sempre estaramos indo de encontro /s
coisas, 7% #ue o possvel desaparecera >No? conceito da outra pessoa, o
mundo possvel não existe ora da ace #ue o expressa, em"ora ele se7a
dierente dela como o expressado e a expressão são dierentesL e a ace, por
sua ve), & a vi)inhança das palavras para as #uais ela 7% & o megaone;

O tratamento
recrutamento #ue +o7Jve
do !artido deu ao na
Comunista Outro in@uenciou
medida em #ue odeu
programa de
/ elite liter%ria
rancesa uma linguagem e um h%"ito de pensamento #ue poderiam
acilmente ser adaptados / guerra contra a sociedade "urguesa >Não nos
es#ueçamos de #ue oi a versão hegeliana dessa id&ia #ue serviu de
inspiração para o 7ovem 3arx desenvolver suas teorias so"re a alienação e
propriedade privada? Se +o7Jve tinha isso em mente ou não nunca
sa"eremosL1Y mas uma coisa & certa, #ue & o ato de #ue a id&ia do Outro se
tornou parte de um recrutamento em massa da intelligentsia rancesa para
as causas da es#uerda e de #ue, #uando essa id&ia oi ervida com
lng<stica saussureana, an%lise reudiana e economia marxista para ormar

a poção m%gica
literatura do deixou
#ue não Tel 6+el e do descontrucionismo,
espaço para nenhuma outraela deupoltica
visão srcem a#ue
umanão
osse o socialismo revolucion%rio 8% era ("vio na geração do p(s2guerra
#ue a literatura rancesa estava se alinhando politicamente e #ue isso era
uma esp&cie de su"stituto para o enga7amento #ue Sartre recomendou do
alto de seu trono em Les 9e+! Magots' A#ueles #ue não se adaptaram /s
ortodoxias de es#uerda não oram simplesmente relegados ao ostracismo,
mas oram ameaçados e perseguidos pelas patotas es#uerdistas, e nas
p%ginas de La no+velle rev+e ran=aise, esse tratamento levou /

9
illes 0eleu)e e $&lix uattari, >hat is Philosophy^, tr Iugh Tomlinson
and raham Hurchell, Ne[ \or-, Colum"ia Universit !ress, pp 121
10
+o7Jve oi postumamente identi*cado pela Fntelig'ncia $rancesa como um
agente sovi&tico No entanto, oi amigo pr(ximo de Meo Strauss, in@uente
te(rico poltico conservador >#uer di)er, in@uente nos .stados Unidos? $oi
tam"&m o propagador, atrav&s de suas palestras so"re Iegel, da id&ia do
:*m da hist(ria; #ue $rancis $u-uama depois comunicou numa orma #ue
pudesse ser mais acilmente engolida pelos conservadores li"erais
americanos !arece #ue +o7Jve usava uma m%scara me*sto&lica #ue
ningu&m 7amais decirou e o ato de #ue ele oi um dos ar#uitetos da União
.urop&ia e parte integrante das mendacidades pelas #uais ela oi inventada
e imposta so"re o continente est% pereitamente de acordo com seu car%ter
inescrut%vel
11

marginali)ação de Camus e Aron, / dispensa de 3aritain e 3arcel e /


demoni)ação de $rançois 3auriac

!or volta de 1D, um tipo de metaliteratura impenetr%vel >literatura


so"re literatura so"re literatura? tinha sido desenvolvida, incorporando as
caractersticas #ue mencionei e a respeito da #ual s( uma coisa era claraP a
#ue lado do 7ogo poltico ela pertencia Se a posição poltica osse ("via,

então a o"scuridade
circunst4ncias como de linguagem
essas, não erapoderia
a o"scuridade deeitoser
Ao lida
contr%rio, em de
como prova
uma proundidade e srcinalidade grandes demais para serem a"arcadas
por palavras comuns 0essa maneira, a o"scuridade servia para validar a
posição poltica, para mostrar #ue atirar pedras em policiais era a conclusão
de um silogismo pr%tico #ue go)ava da mais alta autoridade intelectual em
cada um dos seus passos l(gicos

Não preciso demorar2me no aspecto raudulento dessa literatura


Ningu&m #ue tenha algum respeito por honestidade intelectual pode
duvidar do veredito #ue Alan So-al e 8ean Hricmont proeriram em
?mpost+ras ?ntelect+ais, o livro deles #ue agora & amoso e #ue demole a
alsa percia de 0eleu)e, uattari, Haudrillard, Macan e muitos outros11 Se
voc' não oi convencido por So-al e Hricmont ou por Mensonge,@$ a
"rilhante s%tira de 3alcom Hrad"ur, então não h% nada #ue eu possa di)er
#ue v% convenc'2lo 3ais ainda, se voc' ainda sente #ue a #uestão não oi
encerrada, ainda não visitou a p%gina do erador !(s23oderno de Andre[
Hulha- e não teve a alegria de gerar sua pr(pria contri"uição para esse
monte de "esteira, então, eis a uma coisa #ue voc' precisa a)er O #ue
So-al e Hricmont negligenciaram, entretanto, & o signi*cado poltico da
metaliteratura p(s2moderna Fdenti*cam2se como homens da es#uerda, o
#ue & o"viamente necess%rio se eles #uiserem ter a mais remota chance de
in@uenciar a#ueles #ue são tentados a 7untar2se / de"andada em direção /
alta de sentido p(s2moderna !or&m, alham em apontar, e talve) em notar,
#ue ser de es#uerda, no *m das contas, & tudo o #ue importa para esse
movimento A violenta corrente)a do a"surdo @ui entre muradas seguras nas
#uais oram esculpidas mensagens indel&veis 3ensagens #ue nos di)em
#ue o mundo est% nas mãos do OutroL #ue esse outro & o capitalismo, a
sociedade "urguesa, o patriarcado, a amlia, em outras palavras, todo o
Alan So-al e 8ean Hricmont, ?mpost+res intellect+elles, !aris, Odile 8aco",
11

1W, pu"licado nos .stados Unidos como Fashiona;le :onsense3


Postmodern ?ntellect+als. 2;+se o Science, Mondon, !ro*le Hoo-s, 1
Mensonge3 My Strange 6+est or 1enri Mensonge, Structuralisms Iidden
12

Iero, Mondon, +ing !enguin, 1E


19

"atalhão de estruturas tradicionais de poder das #uais devemos ser


li"ertdosL #ue podemos entender e decirar os segredos pelos #uais essas
estruturas são mantidas de p&L e #ue ao entender o Outro, ortalecemos o
eu .m suma, a metaliteratura #ue surgiu como conse#<'ncia de D consiste
de eitiços com os #uais um mundo alienado & su"7ugado e se a"re o
caminho para a li"ertação . & por isso #ue essa literatura conseguiu
assegurar um s&#uito extraordin%rio

!ara mim, o ato cultural de maior import4ncia & esse, e não #ue o
a"surdo so"revivesse e se propagasse, algo #ue não & novidade nenhuma,
conorme nos ensina a hist(ria da al#uimia e da :doutrina esot&rica; = a
hist(ria da o"tusidade, como !ope a chamou numa s%tira #ue & tão
pertinente ho7e como o oi h% mais de du)entos anos 3esmo se nos alta
uma epidemiologia plausvel do a"surdo 1B, não h% mist&rio no ato de #ue o
a"surdo, uma ve) introdu)ido, tenha uma capacidade natural de reprodu)ir2
se !ois, nas circunst4ncias certas, o a"surdo & poder Nas d&cadas #ue se
seguiram ao seu nascimento, a metaliteratura de 1D oi aceita em todo o
mundo acad'mico de ala inglesa não como uma onte de conhecimento,

mas como
0errida uma arma
tomaram poltica
o lugar O"ras
#ue na comoal#umica
tradição l.2nti-edipe e 9issemination
era ocupado de
pelos livros
de encantamentos Nas mãos de uma nova casta acad'mica dominante sem
nenhuma con*ança na possi"ilidade de #ue pudesse haver outro
undamento para estudos acad'micos nas humanidades #ue não osse um
programa poltico, essas o"ras oram instrumentos de um pacto %ustico !or
meio dos livros sagrados o proessor de humanidades poderia ad#uirir poder
so"re o Outro e tomar posse da cidadela acad'mica de onde o Outro estava
sendo orçado a ugir1K Na criação e imposição de ortodoxias o a"surdo &
preervel / argumentação racional 7% #ue ele não d% a"ertura para a
oposição, não deixa nenhum lugar por onde o Outro possa voltar raste7ando
e semear disc(rdia Talve) essa se7a a ra)ão da gratidão enorme com #ue a
geração de D oi rece"ida nos departamentos de humanidades na rã2
Hretanha e nos .UA 0errida, Cixous, +risteva e outros acumularam graus
acad'micos honor%rios por todo o mundo angl(ono, e aparentemente

A teoria do meme de Richard 0a[-ins >The Selfsh 8ene? & inade#uada


13

por muitas ra)Ges, não menos por#ue não distingue sentido e a"surdoL o
mesmo se aplica a 0an Sper"er, A!plaining )+lt+re, a :at+ralistic
2pproach, Oxord, Hlac-[ell, 1D
Ver Ro"ert rant, :Fdoelog and 0econstruction;, em Anthon OIear, ed,
14

Berstehen and 1+man Cnderstanding, Mondon, Roal Fnstitute o !hilosoph,


1
1B

0eleu)e oi mais citado do #ue +ant em o"ras acad'micas de lngua inglesa
no ano de 9YYW

Ca"e, no entanto, perguntar por #ue o senso comum angl(ono provou


ser uma "arreira tão insu"stancial / torrente de m(tamerde' Crticos
respeit%veis como Stanle $ish, eo_re Iartman e 8 Iillis 3iller oram
arre"atados pela inundação, e os *l(soos analticos ou se recusaram a not%2

la, ou, como


corrente dosno caso de Richard
expoentes Rort, ual
da enxurrada a*rmaram #ue nadavam
oi o pro"lema^ na mesma
$altou2nos uma
disciplina verdadeira #ue nos pudesse guiar em solo *rme e em uma direção
clara^ Ou simplesmente o charme do a"surdo, #uando ligado a uma postura
de es#uerda, mostrou2se irresistvel^ !arece2me #ue essa #uestão di)
respeito a dierenças proundas entre nossas duas culturas = a do senso
comum de lngua inglesa e a da 7act4ncia liter%ria rancesa

A cultura rancesa de ho7e não &, e raramente oi, apenas uma m%#uina
para a produção de mensagens su"versivas Não o"stante, o marxismo oi
dominante entre as guerras e serviu como um oco para o tipo de anti2
patriotismo #ue @oresceu entre a elite intelecual e #ue oi assim expresso
por Andr& Hreton no seu segundo 3aniesto Surrealista em 1BYP

:Tudo est% para ser eito, vale a pena tentar todos os meios para destruir
as id&ias de amlia, pas, religião`Os surrealistas pretendem sa"orear por
completo a prounda triste)a, tão "em encenada, com #ue o p6"lico "urgu's
acolhe a necessidade *rme e inexor%vel #ue eles demonstram de rir como
selvagens na presença da "andeira rancesa, de vomitar o seu desgosto na
cara de cada padre, de apontar contra a classe dos deveres "%sicos a arma
de longo alcance do cinismo sexual;

Outros expressaram rep6dio / $rança e / cultura cat(lica rancesa de


uma maneira menos inantil 3as não resta d6vida de #ue as palestras de
+o7Jve serviram para ornecer os undamentos intelectuais e psicol(gicos ao
movimento geral de rep6dio As traiçGes e capitulaçGes da Segunda uera
3undial e a experi'ncia da ocupação na)ista aumentaram o desgosto com a
herança cultural rancesa A geração de Sartre emegiu da guerra com uma
prounda necessidade de encontrar um "ode expiat(rio #ue carregasse o
ardo de sua culpa O "ode escolhido oi a "urguesia rancesa e a teoria
marxista deu a descrição pereita dos seus pecados, os #uais deixaram de
ser nossos #uando oram atri"udos ao Outro 3uitos, como o poeta e
romancista Mouis Aragon, *liaram2se ao !artido Comunista,
convenientemente se es#uecendo do !acto Na)ista2Sovi&tico, #uando o
1K

!artido Comunista sa"otou o esorço de guerra ranc's organi)ando greves


nas %"ricas de munição e exigindo uma pa) negociada com Iitler

!or&m, en#uanto o marxismo ornecia a espinha dorsal para a @%cida


cultura do anti2patriotismo #ue se espalhou entre os pupilos de +o7Jve, a
$rança cat(lica so"revivia uando ValJr, o maior dos poetas modernos da
$rança, morreu durante a li"eração de !aris, o eneral de aulle organi)ou

um uneral o*cialalemães
rancoatiradores e liderouTanto
o corte7o, apesar
Hernanos da presença
#uanto 3auriacdos
so"reviveram /
guerra, e 3auriac ganhou um pr'mio No"el de literatura em 1E9 uatro
grandes compositores = !oulenc, 3essiaen, 0uru@& e 0utilleux =
mantiveram vivo o esprito da $rança cat(lica em uma m6sica #ue desa*a as
ortodoxias modernistas A geração de Sarte oi tam"&m a geração de Camus
e Aron e de )ommentaire = a revista #ue cora7osamente se colocou contra o
terrorismo intelectual do !artido Comunista A $rança de Claudel e !&gu
continuou viva no pensamento de 3aritain e 3arcel, nos *lmes de Tru_aut,
no humor sardQnico de 8ac#ues !r&vert e Horis Vian e nas pinturas a"stratas
de 3anessier e 8ean le 3oal . no exato momento em #ue a m(tamerde

estava começando
$oucault declaravaa#ue7orrar das revistas
o s&culo da margem
vinte seria o s&culoes#uerda e em
de 0eleu)e, #ue
Alain
Hesançon estava escrevendo Les srcines intellect+elles d+ L(ninisme,
3essiaen palestrando so"re o cantochão e o canto dos p%ssaros e Ren&
irard em"arcando numa s&rie extraordin%ria de livros >começando com La
violence e le sacr(? #ue tiveram um impacto enorme na nossa concepção do
#ue o legado cristão signi*ca ou deveria signi*car para n(s ho7e Trinta anos
depois dos (v(nements de mai, St&phane Courtois pu"licou Le livre noir d+
comm+nisme, #ue convidava os intelectuais ranceses a repudiar o
movimento comunista de uma ve) por todas, ao mesmo tempo #ue Mouis
!au[els pu"licava seu romance Les orphelins, no #ual o v%cuo espiritual de
1D & apresentado em toda a sua negatividade assustadora Io7e, muitos
intelectuais ranceses importantes = Andr& luc-sman, Alain $in-iel-raut,
Muc $err, $rançoise Thom, Chantal 0elsol = estão satiseitos com ser
contados ente os inimigos do marxismo, ainda #ue não se7am inimigos da
es#uerda intelectual 0entre les intellect+elles m(diati*+es talve) apenas
Alain Hadiou ale na velha metalinguagem, mas ragmentos de sentido
assom"ram as p%ginas de seus escritos, tra)idos pelo vento atrav&s uma
7anela a"erta tardiamente para o pensamento de 5ittgenstein Os dias da
m(tamerde são, do ponto de vista ranc's, um momento dicil no declnio de
uma visão de mundo #ue não & mais capa) de ocupar senão um canto da
cultura nacional
1E

0evemos tam"&m notar #ue, na $rança, intelectuais re#<entemente


go)am de um lugar seguro na vida p6"lica e uma parcela de in@u'ncia
poltica .les surgem e @orescem ora da academia, preerindo o manto do
proeta / "eca do acad'mico $oi isso #ue aconteceu com Sartre e sua
geração e com a maioria das *guras de 1D Suas reputaçGes oram
esta"elecidas no mercado livre das id&ias e poucos deles go)avam, no
começo, da proteção de uma instituição acad'mica  claro, #uando novas
universidades
!ompidou ansiosooram
porespalhadas por um
ser visto com todaamigo
a capital por um !residente
da intelligentsia, os gurus
es#uerdistas, como conse#<'ncia de 1D, oram capturados, recrutados
para os novos postos e desapareceram das ruas 3as uma nova mutação da
esp&cie não tardaria a aparecer nos restaurantes e "ares Tal como a
intelligentsia comunista dos anos sessenta e setenta, a intelligentsia
es#uerdista #ue a su"stituiu ocupa posiçGes sociais de desta#ue, desloca2se
livremente nos crculos polticos e seus mem"ros são *guras %ceis na vida
social, como na Fnglaterra o são os 7ogadores de ute"ol e as modelos .les
t'm s&ries de TV, colunas permanentes, a)em apariçGes p6"licas e t'm
"elas amantes Não & dicil crer #ue, #uando o !residente Sar-o) decidiu

reconhecer o governo
teleQnica com re"elde M&v,
Hernard2Ienri da M"ia,
#ue ele
poroacaso
e) depois
estavadeem
uma conversa
Hengha)i
1E
na#ueles dias A identidade social dos intelectuais ranceses signi*ca #ue a
posição deles & mais glamorosa #ue a dos acad'micos angl(onos, mas
tam"&m mais insegura Contam mais com sua cele"ridade do #ue com a
aprovação dos colegas e o privil&gio da esta"ilidade do emprego acad'mico
A ascensão e #ueda das suas estrelas segue a velocidade da poltica e não a
das revistas acad'micas = as #uais, & importante recordar, estão sempre
apresentando intelectuais e acad'micos com tr's anos de atraso,
dierentemente da poltica, #ue não tem atraso nenhum, mas uma lista
utura de competidores perigosos

!ara ormular a #uestão de uma maneira mais simples, a in@u'ncia


extraordin%ria da literatura de 1D & muito menos reveladora so"re a
$rança e sua cultura do #ue so"re a academia angl(ona e so"re a cultura
na #ual essa academia oi srcinalmente construda A academia angl(ona
oi conce"ida como uma comunidade de estudiosos, e o #ue so"ra, #uando
su"tramos os resultados dos estudos do 'xito do empreendimento
15
Ver Fr+mFor+m, 9W de março de 9Y11  dicil para um leitor ingl's
acreditar em HIM #uando, em sua troca de cartas com 3ichel Iouelle"ec#,
pu"licada recentemente, ele se caracteri)a como um o+tsider perseguido e
uma vtima da multidão Ver Hernard2Ienri Mev e 3ichel Iouelle"ec#,
P+;lic Anemies, Mondon and Ne[ \or-, Random Iouse, 9Y11
1D

acad'mico, não & geralmente arte, ou literatura ou nada #ue possa elevar os
estudantes para ora das suas experi'ncias anteriores e dar2lhes uma visão
de mundo redentora, mas, com re#<'ncia, algo #ue & um pouco mais do
#ue simples senso comum Fsso não & toda a verdade, & claro Miteratura
genuna 7% surgiu da comunidade acad'mica angl(onaP ve7am, por exemplo,
Fris 3urdoch, Fsaiah Herlin e os :romancistas do campus; 0avid Modge e
3alcolm Hrad"ur . Hertrand Russell, o principal undador da *loso*a
analtica,
No entanto,com
aotoda a certe)a,
tentar mereceu
transormar ganhar
o senso o pr'mio
comum em umNo"el
ramode literatura
separado de
estudos, Russell engendrou a#ueles resultados tediosos dos #uais eu
reclamava no começo deste artigo Os departamentos de literatura, at& a
desco"erta dos soi!anteh+itards, assentavam2se na :crtica pr%tica; tal
como a conce"iam Richards e Meavis, na #ual os estudantes são convidados
a testar a#uilo #ue l'em de acordo com os decretos da consci'ncia do senso
comum Ou então eles enterravam o assunto de #ue tratavam em"aixo de
estudos acad'micos de tipo "iogr%*co e historiogr%*co, de modo #ue o seu
signi*cado, a#ui, agora, s( pode ser recuperado com di*culdade
Não duvido #ue esse tipo de estudo tenha produ)ido muitas
contri"uiçGes "oas A*nal de contas, a crtica acad'mica do perodo pr&2
"esteira exi"e uma so"revida pelo menos tão grande como as das produçGes
liter%rias da $rança do p(s2guerra Tenho em mente, por exemplo, os
crticos da escola de Chicago, $R Meavis na Fnglaterra e R! Hlac-mur e
Mionel Trilling nos .stados Unidos e o criticismo sha-esperiano de 8 0over
5ilson e MC +nights I% uma prousão de estudos acad'micos angl(onos
nas humanidades #ue podem ser lidos com pra)er e proveito e o ato de #ue
o #uociente de "esteira & de "aixo a #uase inexistente assegura #ue eles
serão lidos com pra)er e proveito por pessoas #ua ainda não nasceram 3as
h% algo #ue eles não nos deram e #ue a m(tamerde nos deu em seu lugarL
ademais, a disciplina intelectual #ue produ)iram não oi orte o su*ciente
para resistir aos charlatães #ue nos prometem a#uele algo ue &, portanto,
esse algo #ue os estudiosos angl(onos não oram capa)es de nos dar^
A resposta, acredito, & #ue eles não nos deram um grupo de reer'ncia
$alando em termos gerais, h% dois motivos para a"raçar um movimento
intelectualP um deles & o amor / verdade, o outro & a necessidade de
pertencer a um grupo de reer'ncia As religiGes *ngem dirigir2se ao
primeiro desses motivos, mas na verdade recrutam pessoas por causa do
segundo A ci'ncia ignora o segundo e promove o primeiro As humanidades,
por&m, sempre *caram presas numa posição estranha entre a ci'ncia e a
religião O currculo "aseado no senso comum molda o estudo da arte e da

literatura na linguagem da verdadeP pede #ue voc' colete dados, os avalie,


1W

extraia conclusGes deles #uanto ao seu valor 6ltimo e ao seu lugar no


es#uema geral das coisas Não promete compreender o mundo, produ)ir
ami)ade ou amor e muito menos tra) uma oerta de redenção 8ovens são
atrados para as humanidades, por&m, por#ue sentiram em si mesmos a
necessidade de algo mais do #ue a verdade nua e crua e a argumentação
racional São atrados por uma necessidade humana primordial, #ue & a
necessidade de um rito de passagem, de uma transição para a comunidade
A
daexist'ncia dessa
antropologia necessidade
rancesa primordial
da virada oiZZ
do s&culo uma.das maiores
o #ue desco"ertas
rapidamente se
tornou claro graças a pensadores como Arnold Van ennep e Claude M&vi2
Strauss & #ue as sociedades modernas não o ornecem Os ritos de
passagem, na sociedade p(s2industrial, são incompletos ou inexistentes, e
essa & uma das ra)Ges pelas #uais tantas pessoas acham tão dicil escapar
da adolesc'ncia
A nature)a pueril da arte moderna tal como a praticada por 0amien Iirst
e os irmãos Chapman, a sua alienação narcisstica e negação da vida, &, no
meu entender, um resultado disso !or&m, um outro resultado, central para
a compreensão da vida acad'mica atual, & o triuno da "esteira nas
humanidades Ningu&m, no entanto, aprende "esteiraL somos iniciados nela
Não & preciso nenhum conhecimento, nenhum dado, nenhuma investigação
racional Tudo o #ue se re#uer & a repetição de (rmulas m4ntricas :Tudo o
#ue h% & o dese7o e o social e nada mais; >0eleu)e e uattari?L :Não h%
hors-te!te; >0errida?L :.b3C ao #uadrado & uma e#uação sexuada;
>Fragara?L e assim por dianteP declaraçGes crpticas como essas são
invocaçGes com as #uais o estudante & introdu)ido no templo do a"surdo O
#ue se lhe est% oerecendo & 7ustamente a#uilo #ue a sociedade circundante
sonega, nomeadamente, um rito de passagem Ve7a2se uma sentença como
esta >de um ensaio acerca de 0eleu)e?P :A produção social não & uma
contração num contnuo hist(rico progressista ou numa linearidade
orientada para o su7eito, mas & uma resson4ncia do virtual como uma orça
de atração ractal;1D Tirada do seu contexto essa sentença & um
contrasensoL mas o seu contexto, voc' ver%, tam"&m & a"surdo !or outro
lado, & 6til reclamar di)endo #ue a sentença não signi*ca nada ou #ue não
h% maneira de reutar ou con*rmar o #ue ela a*rma !ois esse &
precisamente o o"7etivo dela Ao escrever dessa maneira a autora est%
exi"indo suas credenciais de mem"ro do clu"eP ela est% mostrando #ue
passou pelo ord%lio de iniciação no #ual a sua mente oi limpada dos

8ud !urdom, :!ostmodernit as a Spectre o the $uture;, em Meith Ansell


16

!earson, ed, 9ele+4e and Philosophy3 The 9iDerence Angineer, Mondon, The
!scholog !ress, 1W, p 11E
1

signi*cados antigos e opressivos e rece"eu a oerta de um modo de pensar


novo e mais puro no #ual a verdade não tem vo), assim como o pecado não
tem vo) na mente do cristão renascido
Se virmos a m(tamerde dessa maneira, duas caractersticas tornam2se
imediatamente explic%veisP o ata#ue / verdade e o"7etividade e a constante
repetição, como se osse um rerão, de um comprometimento poltico
Haudrillard >#ue tem a seu avor o ato de #ue escreve de maneira muito
mais clara do #ue seus companheiros de sacerd(cio? enuncia a doutrina
undamental do templo explicitamenteP :A ci'ncia explica coisas #ue oram
recortadas e omali)adas de antemão de modo a assugurar #ue elas irão
o"edec'2la A o"7etividade nada mais & do #ue isso e a &tica #ue vem a
sancionar esse conhecimento o"7etivo não & nada mais do #ue um sistema
de deesa e ignor4ncia imposta cu7o o"7etivo & manter esse cculo vicioso
intacto;1W Ao ler essa a*rmação o estudante ansioso por tornar2se mem"ro
do grupo sente um enorme ardo cair dos seus om"ros, como o ardo #ue cai
das costas do !eregrino na#uela grande alegoria da vida religiosa escrita
por 8ogn Hunan O estudante desco"re #ue não h% o"7etividade, não h%
verdade, não h% realidade contra a #ual as suas palavras possam ser
medidas e 7ulgadas insu*cientes Agora ele est% livre e desimpedidoP pode
adentrar a comunidade do a"surdo
3as #ual & a salvação #ue essa comunidade oerece^ A li"erdade de
:alar em lnguas; tem, seguramente, um certo valorL mas em si mesma não
& uma consolação duradoura A alma renascida exige solidariedade, imersão
em uma causa, o sentido de caminhar lado2a2lado com os companheiros
iniciados na indestrutvel alange dos salvos A poltica entra na liturgia
como a promessa uni*cadora de redenção, a#uilo #ue mant&m a
comunidade unida em desa*o ao mundo Se voc' perguntar por #ue a
orientação poltica sempre tem de ser de es#uerda e su"versiva das
:estruturas de poder; da
conce"ida, responder% ordem
a si "urguesa,
pr(pria da certamente
A condição de mem"roado
pergunta, assim
grupo #ue se
oerece ao postulante implica rep6dio = um desa*o da ordem social #ue
nunca oereceu nenhum caminho claro de inclusão e #ue não a"ra nenhum
espaço ("vio para uma classe acad'mica ociosa Iaver%, & claro, cismas e
heresias, exatamente como houve no marxismo, reudismo e em outros
movimentos su"versivos dos 6ltimos tempos 3as haver% tam"&m uma
postura comum de negação O neg(cio das academias & de*nir2se a si
mesmas como um espaço dierente da ordem :"urguesa;, um espaço onde

17
:Simulations;, em Richard +earne e 0avid Rasmussen, eds, )ontinental
2esthetics3 Romanticism to Postmodernism, Oxord, OU!,9YY1, pK1
1

as velhas hierar#uias, costumes e ritos de passagem não t'm autoridade e


para dentro do #ual os 7ovens podem ser recrutados no exato perodo das
suas vidas em #ue o recrutamento se torna uma necessidade urgente = uma
necessidade #ue vem do sangue
.ssa & s( a primeira tentativa de explicação e h%, o"viamente, outros
atores #ue in@uenciaram a politi)ação dos departamentos de humanidades
no mundo angl(ono1 3as #uero concluir num tom otimista !ois #uando
considero a hist(ria da vida intelectual na $rança e me esorço para
enxergar a degeneração dos anos sessenta dentro do seu contexto hist(rico
integral, não tardo a desco"rir uma mensagem dierente desta so"re a #ual
vim escrevendo = uma mensagem de esperança A m(tamerde triunou na
academia angl(ona, mas não na $rança, pela ra)ão mesma de #ue a vida
intelectual real rancesa & condu)ida, na sua maior parte, ora da academia
O veneno oi rapidamente expelido do sistema e seus eeitos morreram com
as pessoas #ue o produ)iram .xiste uma maneira de n(s, escritores
ingleses, lutarmos contra a "esteira #ue vem destruindo a vida intelectual e
trata2se de a)ermos tudo o #ue estiver ao nosso alcance para garantir #ue a
vida intelectual aconteça ora da academia e #ue os 7ovens aprendam na
universidade #ue não & l% #ue vão encontrar a possi"ilidade de ser
participantes de um grupo, mas em lugares onde a cultura, e não a
metacultura, prevalece
Visto numa perspectiva real, Sartre não era de modo algum anormal Nos
grandes dias #ue precederam e se seguiram / Revolução de 1W, a $rança
continha muitas *guras compar%veis a eleP escritores para #uem o
argumento *los(*co a"strato e a apresentação artstica da heceidade do
mundo andavam de mãos dadas !enso em Rousseau, agora conhecido por
seus ensaios polticos controversos e pelo livro not%vel das Con*ssGes, mas
#ue & muito mais importante por ser o autor po&tico de La :o+velle 1(loise
e #ue merece
compositor demesmo
Le 9evinumad+nota de rodap&
village' na 0iderot,
!enso em hist(ria da m6sicacu7os
o *l(soo como o
7ac*+es le ataliste e La religie+se são dois dos romances mais srcinais e
poderosos do s&culo 1 !enso em 3ontes#uieu, autor *los(*co das "elas
Lettres persanes e em Voltaire, o *l(soo #ue desa"aou sua distinta visão
de mundo em tanto em peças, poemas, romances e hist(rias como em
argumentação racional
3ais tarde, no perodo da reação, a hist(ria se repeteP escritores como
Chateau"riand e 3aistre escreveram *loso*a #ue tam"&m era literatura e
mostraram #ue se podia compreender a presença do mundo social sem
18

Ver, novamente, Ro"ert rant,op' cit'


9Y

sentir a velha necessidade de destrui2lo Nenhum desses grandes escritores


tinha muito #ue ver com a vida acad'micaL todos eles tiveram plena
participação na corrente dos eventos contempor4neos e esta"eleceram,
entre eles, o padrão para uma literatura independente #ue seria tam"&m um
espelho para o mundo
Não conseguimos reali)ar nenhum e#uivalente dessa cultura liter%ria no
mundo de ala inglesa Na Fnglaterra, o mais pr(ximo #ue chegamos a um
genuno *l(soo liter%rio & Coleridge, cu7as o"ras de argumentação são, no
entanto, claudicantes e incertas #uando comparadas com a#uelas de seus
contempor4neos ranceses tais como Toc#ueville, Chateau"riand e 3aistre
0a mesma maneira TS .liot, #ue, não o"stante ser um poeta re#uintado,
nunca teve 'xito em usar sua percepção concreta para desenvolver suas
tentativas ocasionais de argumentação *los(*ca, #ue permanecem
impereitas e cheias de incerte)a, como em :otes Towards the 9efnition o
)+lt+re !or&m, a tentativa oi eitaP na Fnglaterra, por Carlle, 5illiam
3orris, Rus-in e uns poucos outros e por .merson e Thoreau nos .stados
Unidos .sses escritores dão testemunho do ato de #ue verdadeiros
intelectuais literatos poderiam existir no mundo angl(ono e de #ue não
precisariam estar presos numa instituição acad'mica, mas poderiam
peram"ular pelas ruas, de "raços dados com suas "elssimas parceiras,
como Hernard2Ienri M&v, ou a)er uma pregação desde um trono em um
clube da moda ou restaurante como Sartre sem nunca botar os pés em uma
universidade durante toda a vida

Tradução de Alessandro Cota


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