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Enapg116 PDF
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Autoria: Ronan Pereira Capobiango, Aparecida de Lourdes do Nascimento, Walmer Faroni, Edson Arlindo Silva
RESUMO
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1 INTRODUÇÃO
O sistema cultural brasileiro, de acordo com Barros e Prates (1996), é formado por
quatro grandes subsistemas: institucional (macro); pessoal (micro); líderes (donos do poder) e,
liderados (subordinados ao poder). Esses subsistemas, caracterizados respectivamente pela
concentração de poder; postura de expectador; personalismo e prática de evitar conflito
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articulam-se pelos traços do formalismo, lealdade as pessoas, paternalismo e formalismo.
Essa articulação pode ser melhor visualizada na Figura 1.
concentração de
baseia-se na hierarquia/subordinação
poder
pessoal tem na atração pessoal seu mais forte elemento de coesão social sem
lealdade às pessoas
esquecer da atração pelo prestígio do grupo
personalismo valoriza mais o grupo de “pertença” do que o individualismo
Quadro 1 - Modelo para interpretação da cultura brasileira
Fonte: Barros e Prates, 1996.
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“... um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em elementos
simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a
identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso,
como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação" (FLEURY, 1990,
p.22).
Mesmo que oficialmente o aparelho estatal tenha evoluído, passando pelo modelo
burocrático, introduzido na década de 30; pelo modelo gerencial, que o Decreto 200/67 tentou
implantar, modelo este reafirmado pela reforma de 1998, as práticas da administração
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patrimonialista típica dos Estados que antecedem o avanço do capitalismo industrial ainda são
comuns no cotidiano da administração pública, em todos os três níveis de governo e poderes.
Apesar da evolução do conceito de Administração Pública no século XX, o setor
público brasileiro tem vivenciado várias iniciativas de transformação e modernização, mas a
estrutura mecanicista, rígida, inflexível tem resistido à evolução e democratização da
sociedade (TORRES, 2004).
De acordo com Bresser-Pereira (2009) à medida que o pequeno Estado liberal do
século XIX foi sendo substituído pelo grande Estado social-democrático do século XX,
assumindo novos papéis sociais (educação, saúde, transporte, seguridade social e assistência
social, cultura, pesquisa científica) e econômicos (estabilidade macroeconômica, regulação
dos serviços públicos e das atividades monopolistas, fornecimento de infra-estrutura pública,
política industrial e de comércio exterior), a administração pública burocrática não garantiu
que fossem prestados ao público serviços de boa qualidade ou de baixo custo.
A situação da administração pública no Brasil pouco se alterou apesar da realização de
todas essas reformas. Gomes (2006) apresenta como justificativa o fato da gestão pública
brasileira ter sido sempre observada, de modo abstrato, como o reflexo de modelos estanques,
que buscou a adoção de medidas importadas, inadequadas para resolver os problemas da
administração no País.
Schwartzman (1987:58) representa a trajetória da modernização da administração
pública brasileira como “um difícil dilema, que colocaria de um lado a administração racional
e técnica, associada aos regimes fortes e autoritários, e de outro a administração politizada,
deficiente e desmoralizada, que pareceria ser um atributo da democracia e da participação
social”.
Na concepção de Denhardt (1990), o pensamento da administração pública ao longo
desta trajetória tem evoluído ao passo de criar, criticar e aprimorar modelos e princípios de
mudança organizacional planejada, tanto nos níveis micro quanto macro-organizacional, de
um enfoque organizacional para um enfoque político-sociológico, tendo como ponto central a
tensão entre política e administração.
Segundo Salm e Megasso (2009b) o princípio que norteia o modelo da administração
pública convencional, aquela que possui na organização burocrática sua principal referência, é
a separação entre política e administração. A implementação desse modelo exige uma base
legal e racional que, depende ainda, de estratégias que norteiam o funcionamento interno e
das conjunturas externas que afetam e que são afetadas pela organização pública; trata-se de
um modelo que vem sofrendo críticas que em conjunto à ascensão do mercado, enquanto
principal e eficiente alocador de bens e serviços possibilitam o surgimento de uma nova
proposta de administração pública (SALM e MEGASSO, 2009b).
Neste cenário, duas vertentes se apresentam como alternativas para a gestão pública: a
administração pública gerencial, sob a égide da Nova Gestão Pública (NGP) e a administração
pública societal sob a égide do Novo Serviço Público (NSP).
Kettl (2000), Denhardt e Denhardt (2003) e Salm e Menegaso (2006) apud Salm e
Menegasso (2009b) afirmam existir três modelos relevantes em administração pública: o
modelo da administração pública convencional, aquela onde a burocracia é que produz o bem
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público ou os serviços públicos; o modelo da nova gestão pública, no qual o mercado é o
principal alocador dos serviços públicos; e, ainda, um terceiro modelo que seria o novo
serviço público, onde o bem público ou o serviço público é coproduzido com a sociedade e
pela sociedade.
O bem público abrange, segundo Meirelles (2000) tudo aquilo que tenha valor
econômico ou moral e que seja suscetível de proteção jurídica. A coprodução, por sua vez,
refere-se, de acordo com Brudney e England (1983, p. 59) “a uma mistura crítica de
atividades prestadas por agentes e cidadãos para a provisão de serviços públicos”.
Salm e Menegasso (2009b) utilizam o conceito de Novo Serviço Público, para
denominar o modelo emergente que se mostra presente sempre que a comunidade ou o
cidadão coproduz o bem público ou os serviços públicos em parceria com os agentes públicos.
O autor discute que este modelo se encontra na dependência e pressupõe a existência de
condições apropriadas para sua implementação e operacionalização, cuja produção do
desenvolvimento sustentável pressupõe a existência de capital social nas comunidades.
De acordo com Salm e Menegasso (2009a) as bases epistemológicas do modelo do
novo serviço público, elaboradas por Denhardt e Denhardt (2003), tomam por princípio que o
ser humano é, antes de tudo, um ser político que age na comunidade, ao passo que a
comunidade, politicamente articulada, requer a participação do cidadão, para a construção do
bem comum; e que o bem comum precede a busca do interesse privado.
O Novo Serviço Público surge como uma alternativa para a Nova Gestão Pública,
inspirado na teoria política democrática, visando particularmente, a conexão entre cidadãos e
seus governos, com abordagens alternativas à gestão e ao modelo organizacional sendo mais
humanística na teoria da administração pública. (DENHARDT, 2004, apud VIEIRA, 2008).
Salm e Menegasso (2009a) discutem a coprodução dos serviços públicos a partir da
complementaridade dos modelos e da proposta de administração pública. Segundo esses
autores, a complementaridade dos modelos pode ocorrer: por meio da organização burocrática
em que haja a gestão participativa obtida por meio de estruturas de consentimento; por meio
das organizações sociais com características isonômicas; por meio de comunidades engajadas
com a produção do bem público; por meio da responsabilidade social das empresas, quando
elas produzem um bem público, fato amplamente ignorado pelos estudiosos da administração
pública; e por meio do cidadão, em seu papel de ser político, produzindo o bem público.
No Brasil a administração pública societal tem sua origem, segundo Paes de Paula
(2005) nos movimentos sociais iniciados nos anos 1960 e que se desdobraram nas décadas
seguintes, apesar dos impactos sofridos no Governo Militar. A exemplos de práticas surgidas
dentro desse contexto, apresenta-se os fóruns temáticos, surgidos no final dos anos 80,
constituindo numa oportunidade para debate de problemas públicos; os conselhos gestores de
políticas públicas, também surgidos no mesmo período, durante o processo de
redemocratização brasileira, incorporadas à Constituição Federal, promulgada em 1988
(PAES DE PAULA, 2005.). Ainda como exemplos, Carvalho e Felgueiras (2000) citam os
processos de orçamentos participativos, surgido de uma experiência do conselho popular do
município de Vila Velha.
A vertente societal propõe um novo modelo de gestão pública, se opondo ao estilo
burocrático de gestão e buscando uma ampliação da democracia através de uma maior
inserção e participação da sociedade organizada na administração pública. A conquista de
Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, nas últimas eleições presidenciais,
resultou em uma expectativa de que esta vertente se tornasse a marca do governo federal. O
observado, porém, é que não houve um rompimento de fato com o modelo anterior,
verificando-se a continuidade das práticas gerencialistas nos diversos campos, até mesmo nas
políticas sociais (PAES DE PAULA, 2005).
A Administração Pública Societal é influenciada pelos seguintes elementos: “a busca
de um novo modelo de desenvolvimento, a concepção participativa e deliberativa e
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democracia, a reinvenção político-institucional, e a renovação do perfil dos administradores
públicos. (PAES DE PAULA, 2005, p. 154).
A necessidade de mudanças e modernizações no modo de gestão das organizações
públicas é senso comum, independente da corrente ideológica ou papel desempenhado,
governo ou sociedade civil. Desta forma, alguns pontos devem ser refletidos por todos os
atores que, direta ou indiretamente, são afetados pelas reformas administrativas, sendo alguns
deles levantados a seguir.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DENHARDT, R. Public Administration Theory: The State of the discipline. Compilado por
Naomi Lynn e Aaron Wildavsky. Chatham: Chatham House Publishers Inc., 1990.
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metodológica. In: FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R.M. Cultura e poder nas organizações. São
Paulo: Atlas, 1990.
GOODSELL, C.T. The concepto f public space and its democratic manifestations. American
Review of Public Administration, v. 33, n.4, p. 361-383, 2003.
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HOLANDA, N. A crise gerencial do Estado brasileiro. In: VELLOSO, J.P.R. (org.). Brasil: a
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