Você está na página 1de 32

PRÁTICAS DE GESTÃO EM SERVIÇOS SOCIAIS

1
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................. 2

PRIMEIRAS PROPOSTAS PARA UMA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA .................................................................................................................... 5

Abordagem gerencial na Administração pública .............................................. 8

ASSISTENTE SOCIAL NA GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS ............... 11

A intervenção profissional no campo da política social e seus desafios na


atualidade................................................................................................................. 15

GESTÃO E TRABALHO PROFISSIONAL: PLANEJAMENTO E AÇÃO


PROFISSIONAL ....................................................................................................... 22

Considerações finais ..................................................................................... 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 30

1
INTRODUÇÃO

Os Assistentes Sociais, independente dos espaços ocupacionais em que estão


inseridos, devem captar novas mediações e requalificar o fazer profissional,
atribuindo-lhe particularidades e descobrindo alternativas de ação (IAMAMOTO,
1997). Um dos maiores desafios atualmente para o Serviço Social, segundo a autora,
é o desenvolvimento da capacidade de decifrar a realidade para construir propostas
de trabalho criativas, capazes de preservar e efetivar direitos a partir da demanda
emergente do cotidiano, “ser um profissional propositivo e não só executivo.”
(IAMAMOTO, 2007, p. 20). As práticas de gestão em Serviço Social se tornam uma
ferramenta eficaz no cotidiano de trabalho, porém, compreender e assimilar tais
práticas ainda são um desafio aos profissionais. O Serviço Social na
contemporaneidade deve voltar seu fazer profissional para além de um trabalho na
esfera da execução, rompendo com uma visão endógena constituída historicamente,

2
mas atuar na formulação e gestão de políticas públicas, conforme demandas do
mercado atual.

No contexto, as práticas de gestão no âmbito da profissão, bem como, apontar


a importância deste tema na formação acadêmica dos futuros Assistentes Sociais
com enfoque nas relações humanas. Embora o Serviço Social tenha mantido um viés
conservador, de controle da classe trabalhadora até meados de 1970 no Brasil, o
mesmo experimentou novas influências ao final deste período e início dos anos 1980,
por meio da luta contra a ditadura e pelo acesso universal aos direitos sociais, civis e
políticos do proletariado (IAMAMOTO e CARVALHO, 1995; NETTO, 1992; PEREIRA,
2008).

Essa nova leitura da sociedade tem exigido dos Assistentes Sociais o


comprometimento com a afirmação de um projeto profissional que prime pela
equidade e justiça social. Entretanto, pensar nesse “novo” fazer profissional requer
o engajamento contra o conservadorismo, arraigado em práticas meramente
pontuais, imediatistas e paliativas, reduzidas a atividades administrativas. Desse
modo, a academia tem um papel fundamental na formação profissional, pois através
das características do docente, do discente, dos objetivos do ensino e dos conteúdos
apreendidos, essa nova leitura da sociedade e da práxis profissional, influenciarão a
construção de novos instrumentais de trabalho e intervenção, atribuindo um perfil
mais crítico e propositivo aos Assistentes Sociais contemporâneos.

“Foi realizada uma pesquisa qualitativa e como forma de


analisar o tema em questão foi realizada revisão de literatura a partir
do levantamento de produções científicas nacionais, consultadas
através de livros, artigos e sites de pesquisa científica (BOM
SUCESSO, 1997; IAMAMOTO, 1995, 1997, 2007; NETTO, 1992;
OLIVEIRA, 1993; QUEIROZ, 1994; SILVA, 2006), dentre outros.”

A perspectiva contemporânea sobre o estado da arte na Administração Pública


revela não só uma recorrência de temas, dilemas e paradoxos mas também uma
constante busca de relevância e de novos conhecimentos para a solução de
problemas práticos. O olhar histórico facilita a compreensão da validade e a
relevância do saber administrativo, pois, muitas vezes, só a sua aplicação delimita
seus aspectos positivos ou negativos. Assim, percebe-se uma história de ensaios,

3
acertos, erros e novas promessas de abordagens. Na perspectiva prática, há
pressões para mais e melhores serviços e uma expectativa de solução imediata de
problemas urgentes: o público espera da Administração Pública o melhor atendimento
de suas demandas sociais, pelo uso Paulo Roberto de Mendonça Motta
paulo.motta@fgv.br Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de
Empresas, Fundação Getulio Vargas – Rio de Janeiro – RJ, Brasil eficiente de
recursos e transparência dos atos.

De outra parte, o meio acadêmico, no anseio por oferecer diferentes e


melhores alternativas, desenvolve propostas teóricas distintas, que, por vezes,
rompem completamente com o passado ou representam práticas antigas com
diferentes roupagens. A introdução de uma nova dimensão teórica revela sua
potencialidade para solucionar questões específicas e contribuir para sua validade
perante a comunidade, sem possibilidade de gerar verdades absolutas, tampouco de
resolver problemas de maneira generalizada. Por causa de um crescente dinamismo,
novos problemas pressionam para novas soluções. Técnicas e processos de trabalho
recém-introduzidos tornam-se rapidamente vulneráveis: sofrem os desgastes naturais
de uma realidade mutante, mais complexa e demandante de maior eficiência. A
recorrência dos temas, em face da experimentação, sedimenta o paradoxo da dúvida
sobre relevância ou utilidade prática. Resultados negativos e inesperados, bem como
dificuldades práticas, conduzem a ciência a caminhos não trilhados com uma
renovada esperança de contribuir para a solução de problemas.

4
PRIMEIRAS PROPOSTAS PARA UMA CIÊNCIA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

As ideias sobre uma Administração Pública eficiente avançaram com a


Revolução Industrial e com o enfraquecimento dos poderes aristocratas e
absolutistas. No século XVIII, por causa de uma incipiente burocracia pública, já
havia, na Prússia, preocupações de gestão centradas no controle, nas finanças
públicas e na comunicação das ordens públicas. Nesse mesmo período, a experiência
prussiana levou não só à criação dos primeiros cursos de Administração Pública como
também à proposta de uma nova ciência do cameralismo ou da Administração
(AMATO, 1958). No século XIX, problemas sociais, políticos e econômicos
dominavam a Europa e, assim, acentuavam-se as inquietações sobre as práticas
democráticas e a eficiência no setor público.

Diferentes demandas e necessidades provocavam constantes reformas


administrativas. Por serem ainda rudimentares, os conhecimentos sistematizados

5
sobre a Administração pouco ajudavam na solução dos problemas. Nessa mesma
época, nações novas, como os Estados Unidos, buscavam nos modelos europeus
inspiração para práticas democráticas. Presumiam-se as constituições e as leis como
fundamentos lógicos e necessários para garantir a nova democracia. No entanto,
problemas administrativos e ineficiência na prestação dos serviços revelavam a
insuficiência da ordem jurídica.

Constatou-se ser a criação de instituições políticas sólidas e responsáveis


incapaz por si só para apoiar a ação efetiva do Estado. Mesmo tendo sido a Europa
pioneira em propor uma ciência da Administração pública, lá, de início, a ideia pouco
progrediu, nem mesmo quanto da separação entre as atividades da política e da
Administração. Os europeus, a prevalência da dimensão constitucional legal sobre as
ações administrativas seria uma garantia de eficiência e de eficácia na gestão pública.
O direito público e, sobretudo, o direito administrativo, aliados à disciplina e a
obediência às normas, forneceriam os padrões necessários e suficientes para uma
boa gestão.

Ademais, o sistema parlamentarista criara uma separação legal entre política


e Administração. A ênfase no legalismo inibia ou tornava o debate, pelo menos no
seu início, algo inócuo. Nota-se que, na época da criação do Estado moderno, não se
visualizava a Administração Pública como uma vasta prestadora de serviço, e sim
como uma forma de ordenar o mundo democrático. Assumindo dimensões de
prestação de serviços, a eficiência da Administração Pública passou a ser um estágio
importante para assegurar a democracia. Surgiam propostas para uma Administração
independente da política e fundamentada em um campo de estudos e de
conhecimentos próprios, como uma ciência. Apareciam os primeiros sinais de
incentivo para o desenvolvimento dessa área do conhecimento. Inspirado em Joseph
Wharton, que proclamava a necessidade do ensino universitário em Administração
para superar a gestão autocrática e baseada na família, em 1881, é criado o primeiro
curso de graduação em Administração que sobreviveu às dificuldades e descrenças
da época (SASS, 1983).

Os movimentos para uma nova ciência e o ensino da Administração parecem


ter incentivado Woodrow Wilson, jurista e estudioso da Administração Pública que
chegou à presidência dos EUA. Em 1887, Wilson fez uma proclamação sólida para o
estudo e novas práticas da Administração pública: lembrava ser mais fácil fazer uma

6
constituição e definir posturas democráticas do que aplicá-las. Admirador das práticas
europeias e consciente da ineficiência crônica da Administração pública, Wilson
preconizou a dicotomia – política e Administração – e a introdução do estilo privado
na gestão pública. Pregava, ainda, a necessidade dos estudos sistematizados de
Administração e a revisão geral da organização e dos métodos de trabalho no
governo (WILSON, 1955). Quando Wilson e Wharton propuseram uma nova ciência
e uma nova prática administrativa, estavam conscientes de que a gestão pelos donos
do poder, ou por leis, seria insuficiente para a gestão mais eficaz. O esforço para o
ensino independente da Administração facilitava uma ciência da Administração
Pública separada da política. Porem separadas, as semelhanças com a gestão
privada eram mais nítidas, e a gestão privada seria uma inspiração para a gestão
pública.

Ao contemplar a Administração Pública fora da política, incluindo a


neutralidade do servidor, facilmente se justificava a gestão pública semelhante à de
uma empresa privada. A separação de política e Administração favorecia a visão
gerencialista na Administração pública. Posteriormente, no início do século XX, houve
uma busca de princípios universais de Administração. No entanto, o avanço dos
princípios administrativos foi concomitante às frustrações e decepções com a
ineficiência da Administração pública. Tentativas de implantar neutralidade política e
profissionalização da gestão pública enfrentavam imensos obstáculos políticos.
Ademais, as práticas administrativas em vários países revelavam os limites da
universalidade dos ainda incipientes princípios administrativos.

Devagar, foi desenvolvendo a crença de que a ciência da Administração


Pública não progride independentemente de fortes laços políticos, do meio cultural,
nem divorciada dos ditames de uma época. O estudo da Administração Pública
deveria considerar peculiaridades e contexto, logo uma visão mais abrangente e
holística. O modelo até então predominante era caracterizado pelo foco excessivo em
mecanismos de controle, tendo como resultado a redução da eficiência, de
mecanismos de transparência e da objetividade da Administração; daí a morosidade
e o privilégio de interesses de grupos específicos. Admitindo-se como impossíveis a
neutralidade da gestão pública, seu distanciamento da política e a universalidade de
princípios práticos, a melhor proposta seria comprometer os gestores públicos com
valores essenciais.

7
Assim, os valores serviram de base quase como uma ética universal de gestão,
em que equidade, eficiência e eficácia condicionariam comportamentos
administrativos, e não propostas práticas de gestão (FREDERICKSON, 1980;
DENHARDT, 2012). Surgiu, assim, nos anos 1970, o movimento da Nova
Administração Pública – de duração efêmera pela:

1. dificuldade de operacionalizar os valores em termos práticos;

2. aproximação maior com a política;

3. desconsideração inadvertida dos instrumentos práticos de gestão. A


separação entre política e Administração continuou a ser o principal objetivo. A busca
contínua de novos padrões de eficiência resultou no avanço da perspectiva
gerencialista, resultando em novo movimento de grande impacto contemporâneo.

Abordagem gerencial na Administração pública

8
Desde o século XIX, propõe-se assemelhar a Administração Pública à empresa
privada. Anunciada muitas vezes durante décadas – poucas vezes efetivada – essa
ideia espalhou-se com uma nova e promissora modalidade de gestão pública nas
últimas décadas do século XX. O New Public Management (NPM) apresentou-se com
o objetivo primordial de fazer a Administração Pública operar como uma empresa
privada e, assim, adquirir eficiência, reduzir custos e obter maior eficácia na prestação
de serviços. Como ideologia, o NPM recuperou ideal do liberalismo clássico,
sobretudo a redução do escopo e do tamanho do Estado e a inserção do espírito e
dos mecanismos de mercado no governo. Nesse sentido, a Administração Pública
deveria apenas direcionar os serviços, e não executá-los diretamente. Havia uma
preferência por terceirizar e contratar fora. Por meio de vários provedores privados,
poder-se-iam usar os benefícios da competição entre eles, evitando monopólios e
permitindo maior flexibilidade na gestão (OSBORNE e GAEBLER, 1995).

Ao pretender uma orientação mercadológica, propunha-se mais competição,


descentralização e privatização, com maior poder para os gestores dos serviços. Ao
governo, caberia executar funções que lhe seriam exclusivas e inapropriadas à
execução ou ao controle por mecanismos de mercado (OSBORNE, 2010;
DENHARDT, 2012; KETTL, 2000). Os servidores públicos desempenhariam as
atividades-fim do Estado com maior eficiência, assumindo o papel de prestadores de
serviço. Os cidadãos seriam vistos como clientes e usuários dos serviços públicos,
em vez de meros recipientes da ação do Estado.

O governo concentraria seus esforços nas suas atividades essenciais e


exclusivas, direcionando e garantindo o suprimento das necessidades básicas (e
direitos) da sociedade por meio de transferências para o setor privado e o terceiro
setor. Por princípio, a Administração Pública desempenha algumas atividades melhor
que as empresas e vice-versa (OSBORNE e GAEBLER, 1995). O NPM viria a
apresentar uma abordagem gerencial distinta, tendo focos no cliente, no gestor, no
resultado e no desempenho. O foco no cliente viria a considerar o cidadão um cliente
e incorporar singularidades das demandas individuais. O foco no gestor
proporcionaria maior autonomia e flexibilidade para favorecer ajustes na linha de
frente, fixar resultados, firmar contratos e controlar o desempenho organizacional; o
intuito era de, possivelmente, criar uma cultura organizacional com valores
empresariais. O foco no resultado traria, para a Administração pública, por meio do

9
planejamento estratégico do tipo empresarial, as metas e os indicadores de
desempenho.

O foco no desempenho viria a substituir, em parte, as tradicionais avaliações


por competições de mercado. Sugeriu-se que, pelo foco no produto, na eficiência e
no resultado, as organizações públicas poderiam ter flexibilidade e autonomia para
introduzir bônus pelo desempenho. Para avaliar, passariam a ser introduzidos
orçamentos indicativos centrados em resultados que, como na empresa privada,
facilitariam a flexibilidade da gestão. No sentido social, o NPM chegou a ser visto
como um fator de legitimação política do estado social, que neutraliza a tentativa
neoliberal de reduzir os serviços sociais e científicos prestados pelo Estado.

O estado do bem-estar implicaria dualmente, o grande aumento da


organização estatal e da gestão mais eficiente e redução de custos, paralela à oferta
de serviços de consumo coletivo (BRESSER PEREIRA, 2010). As propostas do NPM
avançaram rapidamente em época de nova ascensão das ideologias liberais, pois
gastos e deficits públicos já assustavam governos. Promessas de reinvenção da
Administração Pública eram bem-vindas pela população, pois trouxeram um novo
otimismo na gestão pública por sucessivas idealizações de maior qualidade e
eficiência.

A crença em um mundo contemporâneo de mudanças rápidas e exigentes de


novas soluções favorecia a proposição de inserção de práticas flexíveis de gestão
privada no setor público. As reformas associadas ao NPM encontraram entusiastas
(HUGHES, 2003), críticos severos (FLYNN, 2012) e muitas análises sobre benefícios
e consequências negativas (POLLITT e BOUCKAERT, 2004; PETERS, 2010;
CHRISTENSEN e LAEGREID, 2007). Políticas públicas, estruturas, processos de
trabalho e instrumentos gerenciais foram analisados, reacendendo os debates sobre
os limites das teorias e práticas administrativas. Entre as críticas mais enfáticas ao
NPM, vale mencionar.

10
ASSISTENTE SOCIAL NA GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

A gestão das politicas sociais significa a gerência e direção da coisa pública,


este exercício de administrar e conduzir deve garantir o acesso da sociedade a
benefícios e serviços de natureza pública. Para tanto analisar a gestão das politicas
sociais sugere referenciar à gestão de ações públicas como resposta, as
necessidades sociais que tem origem na sociedade e são incorporadas e
processadas pelo Estado em diferentes esferas de poder. Portanto, se faz necessário
analisar a gestão como fenômeno sócio histórico, ou seja, compreendê-la como
expressão de uma totalidade social, observando suas possibilidades e limites. Em
outros termos, a gestão das políticas, programas e projetos sociais não se
autonomizam dos contextos históricos em que se realizam (BARBOSA, 2004 apud
BORDIN 2013).

11
Em termos gerais, a complexidade dos problemas sociais se torna necessária
à integração dos diversos atores na gestão das politicas sociais com já afirmada. A
sua execução se expressa na parceria entre o Estado, sociedade civil e demais
organizações, possuindo na intersetorialidade um fator de inovação na gestão da
politica, que possibilita a articulação com as diversas organizações que atuam com
politicas sociais. De acordo com Junqueira (2004, p.9) a intersetorialidade constitui
uma concepção que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e
controlar a prestação de serviços como forma a garantir um acesso igual dos
desiguais. Nesse contexto, apresentam-se, então novas tendências na gestão das
políticas sociais, sendo uma delas a gestão compartilhada, na qual:

“Há uma clara percepção de que os atores sociais e sujeitos


coletivos presentes na arena política são corresponsáveis na
implementação de decisões e respostas às necessidades sociais. Não
é que o Estado perca a centralidade na gestão do social, ou deixe de
ser o responsável na garantia de oferta de bens e serviços de direito
dos cidadãos; o que se altera é o modo de processar esta
responsabilidade”. (CARVALHO, 1999, p.25).

Segue afirmando que nesse contexto a descentralização, a participação, o


fortalecimento da sociedade civil pressionam por decisões negociadas, por políticas
e programas controlados por fóruns públicos não estatais, em uma execução em
parceria (CARVALHO, 1999). Aliado a isso, os gestores assistentes sociais deverão
ser lideranças capazes de atuar na gestão pública como agentes potencializadores
na adesão do projeto democrático de sociedade e de gestão que se pretende o gestor
público devendo ter competência teórico-metodológica, ético-política e técnico-
operacional tanto para analisar os movimentos da economia, da política, da sociedade
e de seus grupos e indivíduos (FILHO, 2013 p.225). Para tanto Mioto (2001 apud
Lima, 2004 p. 61) chama atenção para o projeto etico politico dos assistentes sociais
que:

[...] contém tanto uma dimensão operativa quanto uma


dimensão ética, e expressa no momento em que se realiza o processo
de apropriação que os profissionais fazem dos fundamentos teórico-
metodológico e ético-políticos da profissão em determinado momento
histórico. São as ações profissionais que colocam em movimento, no
âmbito da realidade social, determinados projetos de profissão. Estes,

12
por sua vez, implicam diferentes concepções de homem, de sociedade
e de relações sociais (MIOTO, 2001 apud LIMA, 2004 p. 61)

Dessa forma Torres e Lanza (2013, p.207 ) considera a gestão das politicas
sociais como sendo um dos principais campos de trabalho do assistente social, os
autores destacam ainda dois pontos considerados importantes: a Lei de
regulamentação da profissão a as discursões sobre a origem da profissão no Brasil.
De acordo os incisos dispostos na lei, esse profissional deve realizar ações
características do planejamento e da gestão de serviços vinculados as politicas
públicas, ao estabelecer como competência:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da


administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações
populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que


sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993, p. 36-37). De acordo
Iamamoto, (2011 p.425) historicamente a atuação dos profissionais assistentes
sociais se consolida em espaços de instituições públicas, privadas, entidades
socioassistenciais. Espaços esses reconhecidos por possibilitar a universalização de
direitos sobre uma gestão democrática.

A gestão social é como um processo social permeado por contradições e


disputas oriundas das expressões das desigualdades sociais geradas por uma
sociedade capitalista madura, que demandam e pressionam as instâncias que
compõem a sociedade e os projetos societários que representam, a um processo de
construção e implementação de ações e estratégias, firmados por pactos sociais
formais e/ou informais, que visem o desenvolvimento social num determinado
território. (SILVA 2014 APUD BORDIN 2013 P.45): Dessa forma Cardoso e Fagundes
(2013) concluem que: os profissionais assistentes sociais gestores devem aliar seus
princípios éticos profissionais aos princípios éticos norteadores dos trabalhadores.

Portanto no processo de gestão o papel de politizar e dar visibilidade aos


interesses da população usuária no país, sabendo que não basta tão somente a alta
qualidade técnica de nosso trabalho, pois corremos o risco de sermos bons gestores

13
despolitizados (YAZBEK 2008). PEntretanto, o exercício da profissão requer um
profissional informado, crítico, culto e atento ao mundo contemporâneo, competente
na gestão e elaboração de projetos, avaliação de programas e projetos sociais,
capacitação de recursos, gestão de pessoas, socializando informações e
conhecimentos, propondo novos serviços e ampliando o espaço do Serviço Social
(PEREIRA E BENETTI, 2014, p.7).

No entanto para Trindade (2012) tais atribuições exigem do profissional a


necessidade de elaborar procedimentos e lidar com instrumentos que possuem um
perfil diferenciado daqueles utilizados no relacionamento direto com os usuários.
Dessa maneira, os assistentes sociais na gestão de politica pública atuam como
articuladores e negociadores dos interesses das classes subalternas por intermédio
do Estado para atender e responder de maneira efetiva as condições essenciais ao
exercício da cidadania (GIMENEZ E ALBANESE, 2015). Assim, o trabalho
desenvolvido pelos profissionais nas esferas de formulação, gestão e execução da
política social é, indiscutivelmente, peça importante para o processo de
institucionalização das políticas públicas, tanto para a afirmação da lógica da garantia
dos direitos sociais, como para a consolidação do projeto éticopolítico da profissão.

Para tanto o enfrentamento dos desafios nesta área torna-se uma questão
fundamental para a legitimidade ética, teórica e técnica da profissão (MIOTO E
NOGUEIRA 2013 p.65). Neste aspecto Souza (2012, p.12) aponta que ao
compreendermos que o Serviço Social é uma profissão historicamente constituída,
percebemos também que ela é mutável e, portanto, suas determinações estão dadas
na realidade. A autora segue, afirmando que compreender a realidade em toda a sua
complexidade é um desafio apresentado ao assistente social, que tem sido
convocado a dar novas respostas no âmbito do exercício profissional, não apenas na
execução, mas também na formulação e gestão das políticas públicas (SILVA 2014
APUD BORDIN 2013 p.45), assim como na formulação de novas elaborações
teóricas, compreendendo que:

[...] o esforço está, portanto, em romper qualquer relação de


exterioridade entre profissão e realidade, atribuindo-lhe a centralidade que
deve ter no exercício profissional [...] e o reconhecimento das atividades de
pesquisa e o espírito indagativo como condições essenciais ao exercício
profissional. (IAMAMOTO, 2001, p.55-56).

14
Note-se que “novas possibilidades de trabalho se apresentam e necessitam
ser apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem,
outros o farão absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a eles
reservados” (IAMAMOTO, 2001, p. 48). A própria compreensão da função do
assistente social nesses novos espaços já se configura como um desafio para a
profissão, de forma que os mesmos sejam conscientemente ocupados e sirvam de
instrumentos de consolidação dos princípios da ética profissional e de superação da
ordem social do capital.

A intervenção profissional no campo da política social e seus


desafios na atualidade

O trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de formulação, gestão


e execução da política social é, indiscutivelmente, peça importante para o processo
de institucionalização das políticas públicas, tanto para a afirmação da lógica da

15
garantia dos direitos sociais, como para a consolidação do projeto ético-político da
profissão. Portanto, o enfrentamento dos desafios nesta área torna-se uma questão
fundamental para a legitimidade ética, teórica e técnica da profissão. Sobre isso, a
leitura de resultados de pesquisas, que versam sobre a prática profissional em
diferentes políticas setoriais, e o contato sistemático com assistentes sociais,
inseridos nessas políticas, tem indica necessidade de aprofundar o conhecimento
acerca da intervenção profissional, contextualizado-a no campo da política social.
Porem, ao se introduzirem nos inúmeros espaços sócio-ocupacionais, é exigido dos
assistentes sociais a apropriação do debate sobre intervenção profissional travado na
sua área de conhecimento, e a necessidade de colocá-lo em movimento.

Em movimento em um campo extremamente tensionado por projetos


profissionais e societários em disputa, em uma dinâmica que expressa as
contradições e os interesses sociais públicos e privados no contexto de processos
coletivos de trabalho. Nessas circunstâncias, os assistentes sociais se deparam com
duas questões cruciais: a autonomia e a especificidade profissional. Em tese, significa
enfrentar os dilemas que ainda persistem no debate sobre a prática profissional no
Serviço Social e que no novo cenário brasileiro se reatualizam. Sobre a autonomia
profissional, o desenvolvimento do pensamento social crítico e a postulação de que a
profissão se insere na divisão sociotécnica permitiram o avanço no debate
relacionado à condição do assistente social como trabalhador assalariado.

Considerada condição impõe limites à condução de seu trabalho e,


consequentemente, à implementação do projeto profissional, confirmando sua
relativa autonomia, que é condicionada pelas lutas travadas na sociedade entre os
diferentes projetos societários. Ou seja, tal autonomia pode ser dilatada ou
comprimida, dependendo das bases sociais que sustentam a direção social projetada
pelo profissional nas suas ações (IAMAMOTO, 2003, 2007). Nesse debate, Iamamoto
(2007) assinala que a tensão gerada entre o projeto profissional, que designa o
assistente social como ser dotado de liberdade e teleologia, e a sua situação de
trabalhador assalariado, ao serem apreendidas subjetivamente, expressam-se
através de reclamações acerca do distanciamento entre o projeto profissional e a
realidade, ou sobre a discrepância entre teoria e prática. Nessa análise da autora,
merece destaque o chamamento que faz sobre as questões decorrentes dessas
expressões, ou dessas “denúncias”, que são:

16
(a) a existência de um campo de mediações que necessita ser considerado
para realizar o trânsito da análise da profissão ao seu exercício efetivo na diversidade
dos espaços ocupacionais em que ele se inscreve;

(b) a exigência de ruptura de análises unilaterais, que enfatizam um dos polos


daquela tensão transversal ao trabalho do assistente social, destituindo as relações
sociais de suas contradições (IAMAMOTO, 2007, p. 9). Seguindo o pensamento da
autora, é possível afirmar que o processo de intervenção profissional particulariza-se
no campo setorial da política social, com implicação imediata na reconstrução do
objeto a partir de tal particularidade. Afirmam Wellen e Carli (2010, p. 127) ser
“peculiar ao marxismo que cada circunstância concreta demande uma
modalidade de análise particular”. Portanto, compreender como o objeto de
intervenção particulariza-se nos diferentes contextos da política social e quais as
matrizes teóricas que sustentam as diferentes práticas incidentes nesses contextos,
constitui-se a primeira das mediações necessárias ao campo contraditório em que se
formulam e implementam as políticas sociais.

Condição indispensável para, por um lado, desvencilhar-se de “análises


unilaterais” que bloqueiam a interlocução com os gestores (federais, estaduais,
municipais) das políticas e dos serviços sociais e com outros profissionais.
Interlocução que se realiza no âmbito de “complexos processos de negociação e luta
política que da lugar a gestão de Políticas Social, das quais nenhum campo
professional, na arena da política, sem adjetivos” (GONZÁLES; AQUIN, 1992, p. 6).
Por outro lado, considerar que, mesmo sob determinadas condições objetivas, o
assistente social exercita sua relativa autonomia teórica, política, ética e técnica
(MOTA; AMARAL, 1998). Tal particularização torna-se fundamental para que ele
possa visualizar e se posicionar diante dos processos em curso e não se reduzir, nos
termos de Aqui (2009, p. 156), a “mero braço instrumental” da política social.

Esses processos buscam romper com a tendência, ainda persistente da


relação mimética entre Serviço Social e política social. Um mimetismo que se traduz
em ações rotineiras, prescritivas e burocratizadas, fomentado não só pela
permanência de uma perspectiva tecnicista da profissão, mas também estimulado
pelos redesenhos e pelas formas de gestão da política social, a partir dos anos 1990.
Essas formas, embora gestadas no bojo da lógica republicana, com o compromisso
do Estado de ampliação do direito de proteção social, através de políticas e

17
programas abrangentes, com fontes de financiamento abrangentes e com a previsão
de recursos humanos (RIZZOTTI, 2010), têm sido também redefinidas. Redefinidas
na lógica da eficácia e da eficiência com redução de custos e, consequentemente,
com intensificação do trabalho no âmbito dos serviços sociais (BRITOS, 2006). A
utilização massiva da tecnologia, a padronização de procedimentos e controle da
produtividade nos serviços através de ações pré-determinadas, mesmo advogadas
em nome da transparência e da qualidade da oferta de serviços (RIZZOTTI, 2010),
parecem ter aumentado as dificuldades para o exercício da autonomia profissional.

Cada vez mais se observa os assistentes sociais envoltos nas tarefas de


alimentação dos sistemas de informações e no desenvolvimento de ações prescritas
no nível da administração central e menos concentrados na realização de um
processo interventivo que busque responder às necessidades postas pelos seus
usuários no contexto das realidades locais. Dessa forma, as características
centralizadoras das políticas sociais vêm condicionando a intervenção profissional, a
seleção de alternativas de solução e as possibilidades de definir os próprios usuários.
O fortalecimento da estratégia de focalização no campo da política social também
imprime na intervenção profissional a dinâmica da emergência e da conjuntura,
estabelecendo prioridades para as ações dos assistentes sociais (MONIEC;
GONZÁLES, 2009). Ao tratar da realidade argentina, Malacalza (2009, p. 191) afirma
que a despolitização das demandas sociais em direção à culpabilização dos
indivíduos foi um dos principais triunfos do neoliberalismo. Para a autora, o Serviço
Social não está alheio a essa lógica, pois parte importante da categoria profissional
“la incorpora de una manera casi fatalista, configurando una tendência que redujo a
las políticas sociales, y por lo tanto a su própria intervención, a un tecnicismo
aggiornado que pretende autonomizar-se de la dimension política constitutiva de
ambas.”

Raichelis (2010), ao discutir a questão do assistente social – enquanto


trabalhador – na organização do trabalho no Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), chama a atenção para a qualificação do exercício profissional. Afirma que
não se pode desvincular tal exercício da dinâmica macrossocietária, e que a
qualificação dos profissionais passa, por um lado, pela superação de uma cultura
histórica do pragmatismo, da naturalização e da criminalização da pobreza, bem
como das ações improvisadas. Por outro, pela crítica e resistência ao produtivismo

18
quantitativo, medido pelo número de reuniões, visitas domiciliares, dentre outros, sem
a clareza necessária da direção ético-política quanto à ação realizada. Para complicar
ainda mais o exercício da autonomia profissional, não se pode esquecer outra
injunção da atual política social brasileira que é o aumento significativo da
participação das entidades de cunho privado e filantrópico na prestação de serviços
sociais, financiadas pelo Estado.

Assim, expõe os profissionais a operarem em lógicas bastante contraditórias.


Ao mesmo tempo em que se colocam diretrizes, guias e parâmetros, emanados a
partir da “garantia de direitos sociais” pautada pelo Estado, as referidas entidades
buscam também atender às respectivas lógicas que sustentam a sua existência,
exigindo um processo de acomodação de interesses por parte dos profissionais. Ou,
tendem a um forte apego a documentos e legislações emanados do Estado,
consoantes ao projeto profissional. Isso tanto obscurece o caráter contraditório,
imanente ao campo da política social, como dificulta o rompimento da relação
mimética entre a profissão e a política social, tornando mais distante as possibilidades
de exercício de uma possível autonomia.

Entretanto, mais uma vez reitera-se que uma das mediações fundamentais
para desenvolvimento do processo interventivo consiste na particularização do
debate do marco teórico-metodológico da profissão e das matrizes teóricas da área
disciplinar nos respectivos campos setoriais da política social. A partir dessa
particularização, será possível debruçar-se sobre um velho problema da profissão: a
recorrente indistinção entre objetivos institucionais e objetivos profissionais no âmbito
dos serviços sociais. Os primeiros, mesmo quando caudatários dos objetivos
expressos nas legislações que pautam a execução da política social, não deixam de
expressar sua filiação a determinados valores e concepções que direcionam
decisivamente a organização do processo de trabalho.

Numa análise mais acurada pode não haver uma real sinergia entre os
objetivos profissionais e os institucionais com as proposições constitucionais,
marcadas pela lógica da cidadania, e nem com o projeto defendido pelo conjunto
profissional, expresso no seu código de ética. São os antagonismos entre as
demandas institucionais e as demandas dos usuários que levam os profissionais a
estabelecerem tensão com o instituído através de seus processos de trabalho. Como
consequência, a análise dos processos institucionais que caracterizam os diferentes

19
espaços sócio-ocupacionais, constitui uma segunda ordem de mediações
necessárias para a intervenção profissional. Apropriar-se dos processos
institucionais em curso é condição fundamental para planejar e decidir sobre ações
profissionais e movimentar-se no apertado campo da autonomia profissional.
Paradoxalmente, quanto mais se estreita o círculo da autonomia profissional, dado
pelos diferentes fatores elencados, maior é a exigência de conhecimento dos limites
impostos para o exercício dessa autonomia.

A segunda questão, colocada na ordem do dia do cotidiano dos profissionais


que trabalham no contexto da política social, é a especificidade profissional. No
debate do campo disciplinar do Serviço Social, esta questão está, pode-se dizer,
resolvida, se for entendida, de acordo com Argueta (2006, p. 220), dialéticamente
como “la perspectiva desde la cual se abordan determinados campos de lo social y
se interviene en ellos en forma fundamentada y sistemática desde una óptica
específica”. Ainda, segundo o autor, traduz uma disposição de focalizar, dentro do
social, aquilo que possa ser atendido pela profissão e também como condição de
interdisciplinaridade. Porém, a inserção dos assistentes sociais nas diferentes
políticas setoriais vem demonstrando dificuldades na definição de seu papel nas
equipes multiprofissionais. A postulação da interdisciplinaridade como diretriz dos
processos de trabalho nas políticas sociais, particularmente nos serviços sociais, tem
exigido – em tempos de acirramento de corporativismos e de busca pela expansão
dos campos disciplinares –, cada vez mais, uma definição objetiva acerca do que
compete aos diferentes profissionais.

Iamamoto (2002) é clara ao defender que a identidade das equipes


profissionais em torno de coordenadas comuns não dilui as particularidades
profissionais. Para ela o assistente social, mesmo partilhando o trabalho com os
outros profissionais, dispõe de ângulos particulares na interpretação dos mesmos
processos sociais e de uma competência distinta para a realização das ações
profissionais. Esta decorre de vários fatores, dentre eles a formação profissional, a
sua capacitação teórico-metodológica, bem como a sua competência na habilidade
para desenvolver determinadas ações. Nesse sentido, um projeto profissional crítico
vai além da postulação de um quadro de valores, implica na existência de um corpo
de conhecimentos que sustente a definição e a execução das ações profissionais
(AQUIN, 2009; CAZZANIGA, 2005).

20
Em relação ao Projeto Ético-político do Serviço Social brasileiro é importante
recordar que este contempla, tanto no âmbito da formação como no do exercício
profissional, a indissociabilidade das dimensões teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa. Netto (2005, p. 291), ao referir-se ao projeto ético-
político, lembra que “não se desenvolveram suficientemente suas possibilidades, por
exemplo, no domínio dos indicativos para a orientação de modalidades de práticas
profissionais (nesse terreno se tem muito que fazer)”. Assim reafirma o que dizia em
1996:

[...] no quadro das transformações societárias típicas do capitalismo


tardio, das demandas do mercado de trabalho e da cultura profissional, coloca-
se a necessidade de se elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista
operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopolítico) para as
questões que caem no seu âmbito de intervenção institucional (NETTO, 1996,
p. 124).

Com isso, sinaliza que “as possibilidades objetivas de ampliação e


enriquecimento do espaço profissional [...] só serão convertidas em ganhos
profissionais [...] se o Serviço Social puder antecipá-las”. E que tais possibilidades
tenderão a estar permeadas “por tensões e conflitos na definição de papéis e
atribuições com outras categorias socioprofissionais.” Estas considerações podem
ser indicativas que a especificidade da profissão – no campo das políticas sociais –
afirma-se à medida que os profissionais disponham de um campo organizado de
conhecimento em torno das ações.

Ações que estruturam a sua especificidade ao longo de sua história e que se


expressam através das atribuições e competências profissionais avalizadas
socialmente. Uma especificidade dada pelo seu objeto de intervenção profissional
são as expressões da questão social (IAMAMOTO, 2003), com ações incidindo na
articulação de recursos necessários para viabilizar a proteção social de sujeitos
singulares ou grupos de sujeitos, usuários das diferentes políticas setoriais. A
conformação da proteção social acontece condicionada pelos processos sociais em
curso num determinado momento histórico e também pela maneira como o
profissional configura e viabiliza suas ações. , depende: da matriz teórico-
metodológica, particularizada no campo específico da ação, a qual lhe dá
direcionalidade; da forma como interprete.

21
Portanto, as demandas postas pelos seus usuários, e do conhecimento
estruturado da natureza e do conteúdo das ações profissionais necessárias para a
consecução dos objetivos profissionais. São aspectos sempre vinculados, no campo
da política social, às possibilidades de conformação da proteção social, que requerem
outros desdobramentos, relacionados tanto ao conteúdo das ações como ao
conhecimento acerca do conjunto de instrumentos e técnicas necessários para a
abordagem dos sujeitos de intervenção que colocam o projeto profissional em
movimento.

GESTÃO E TRABALHO PROFISSIONAL: PLANEJAMENTO E


AÇÃO PROFISSIONAL

Na trajetória histórica da profissão, os assistentes sociais dedicaram-se à


implementação das políticas pública sociais, mantendo assim, uma intrínseca relação
com o Estado e suas demandas. Considerando que desde o surgimento da profissão,
o Serviço Social esteve presente nas diversas áreas de intervenção estatal, como
mediador e executor das políticas sociais, desenvolvidas e implementadas como
estratégia de enfrentamento e principalmente de controle as desigualdades sociais.

22
No âmbito governamental, o profissional sempre foi chamado a intervir junto às
manifestações da questão social, nas áreas da saúde, educação, assistência,
habitação entre outras políticas sociais. No enfrentamento as desigualdades
sociais, o Estado atribui legitimidade á instituições, políticas sociais e profissionais,
entre os quais o assistente social, que é requisitado e reconhecido, enquanto
profissional que intervém diretamente nas relações sociais e atua na gestão das
políticas sociais, tanto no âmbito municipal, estadual e federal. Dessa forma, o
Estado se qualificou como maior empregador de assistentes social, isto é, se
constituiu como campo privilegiado de contratação do trabalho do assistente. Para
Iamamoto, o:

“O setor público tem sido o maior empregador de assistentes sociais,


sendo a administração direta a que mais emprega, especialmente na esfera
estadual, seguida da municipal. Constata-se uma clara tendência à
municipalização da demanda o que coloca a necessidade de maior atenção à
questão regional e ao poder local (IAMAMOTO, p. 119, 1999)”.

Entretanto a interiorização das demandas se deve ao fato dos municípios


absorverem á carga maior na implementação das políticas púbicas, especialmente as
políticas sociais, e consequentemente a esfera municipal termina por contratar mais
profissionais para o planejamento, implementação e operacionalização dos serviços
públicos. A descentralização político-administrativa das políticas públicas para os
municípios, prevista pela Constituição Federal de 1988, atribuiu uma nova dimensão
ao trabalho do assistente social. Visto que, os espaços sócio-cupacionais vêm
aumentando consideravelmente em virtude da responsabilização dos municípios no
provimento dos serviços prestados a população usuário, e nessa orbita os assistentes
sociais passam a desempenhar papel fundamental no desenvolvimento e
operacionalização das politicas sociais. O trabalho do assistente social no âmbito da
gestão pública tem se mostrado importante para implantação das politicas sociais.
Contudo, a complexidade da demanda estatal requisita um profissional em que a
atuação vá além da execução terminal dos serviços públicos, mas que atue também,
na formulação, planejamento, avaliação e gestão das políticas, programas e serviços
sociais. Conforme Lewgoy, a atual conjuntura exige um profissional que:

23
[...] saiba planejar, avaliar, implantar e executar os serviços incutidos
nas políticas sociais. Que também se evidencie na esfera dos planos,
programas e projetos sociais e na prestação de serviços no âmbito de
benefícios e serviços sociais, nas habilidades de elaborar, implementar,
organizar, administrar, pesquisar, encaminhar, coordenar e assessorar
(LEWGOY, 2010, p. 198)

O desenvolvimento de competências técnicas e habilidades gerenciais


voltadas à realização do trabalho profissional na esfera da gestão pública das políticas
sociais contribuem para substituição do agente subalterno e executivo por um
profissional competente e qualificado para as novas funções requisitadas ao
assistente social. Verifica-se, que a mudança nas funções profissionais decorre de
um conjunto de novas configurações que exige dos assistentes sociais novas formas
de realizar o trabalho profissional. Considerando que, a relação estabelecida entre as
mudanças contextuais verificadas no modo de organização dos mecanismos de
produção e reprodução da vida social e material, nos meios de inserção do
profissional no mercado de trabalho e as novas situações que emergem desse
conjunto de relações, exige um profissional propositivo e articulado com as novas
formas de organização e gestão do trabalho profissional.

Neste contexto, observa-se que, apesar do crescimento dos espaços sócio-


cupacionais dentro do Estado, o trabalho do assistente social na gestão pública das
políticas sociais, se depara com os desafios apresentados pelo movimento que
propõe a reforma do Estado. Pois, enxugamento da máquina pública, tanto no que se
refere à contratação de mão-de-obra, como no enxugamento das politicas sociais
através da redução dos serviços sociais públicos prestados a população, vem
apresentando novos de desafios à profissão.

Nesse sentido, para a realização do trabalho do assistente social no âmbito da


gestão pública, torna-se indispensável, que a ação profissional fundamente-se e um
planejamento organizado, baseado nas diretrizes das políticas públicas sociais e em
conhecimento teórico-prático amplo e crítico sobre a gestão do trabalho profissional
nas políticas sociais. Que oportunamente contribuirá para direcionar a ação
profissional, para além das ações antes voltadas e limitadas à execução terminal de
políticas sociais. Para tanto, a atuação dos profissionais que operam as políticas

24
sociais, deve perpassar à apreensão das novas dinâmicas de trabalho e das
possibilidades instrumentais da gestão, que devidamente apropriadas viabilize ao
profissional a superação de práticas conservadoras e minimalistas. Para Sarmento,
as novas formas de gestão verificadas na esfera das políticas sociais:

Vem exigindo um nível de conhecimento técnico bem mais


amplo, tanto para a compreensão crítica das condições políticas em
que estas exigências são colocadas, principalmente no que se refere
ao desmonte das políticas sociais por parte do Estado – como da
fragilização dos direitos sociais (SARMENTO, 1999, p. 100).

Contudo, esse processo de apropriação implica em conhecimento sobre os


contextos de gestão e capacidade técnica do profissional em desenvolver funções
gerenciais propositivas no campo de atuação, considerando sempre a realidade
conjuntural que permeia o desenvolvimento do trabalho profissional. A função
gerencial dos profissionais inseridos no âmbito das políticas sociais, especialmente
na Política de Assistência Social, destaca-se como tendência, que precisa ser
percebidas com grande clareza pelos assistentes sociais, pois implica em novas
formas de realizar o trabalho profissional sem se abstrair dos princípios e diretrizes
que norteiam a profissão. De acordo com Paiva, o tema gestão e todo o seu aporte
teóricometodológico é revestido de detalhadas e recomendações técnicas, em virtude
de advir da área da administração, entretanto:

A conceituação de noções como eficiência, eficácia e


efetividade; o detalhamento das diferentes funções gerenciais,
planejamento, organização, direção e controle; a caracterização dos
diferentes níveis organizacionais – estratégicos, tático, operacional –
encontram na bibliografia pertinente uma série de orientações, análise
e exercícios que podem ser úteis e facilitadores da organização do
projeto de intervenção do assistente social, que desempenha a função
de gestor na área social, dependendo do uso que se faça deles
(PAIVA, 1999, p.90).

É preciso compreender que a administração se consolida como processo


intrínseco a qualquer atividade que envolva recursos e que visa atingir algum objetivo.
Portanto, compreende-se que administração ou a gestão consiste em uma atividade

25
inseparável de qualquer situação que envolve pessoas, recursos e a intenção de
desenvolver e realizar objetivos. Isto é, o processo de tomar decisões sobre os
objetivos e a utilização de recursos é entendido por administração ou gestão. Desta
forma, a administração ou a gestão constitui-se de todo processo que tem a finalidade
de garantir a eficiência e a eficácia de ações realizadas pelas organizações. Na
administração o processo administrativo compreende quatro funções básicas para
que uma organização consiga a concretização de objetivos: o planejamento, a
organização, a direção, o controle e avaliação.

 A função do planejamento conceitua-se como processo que visa


definir e estabelecer situações futuras desejadas, além de considerar
os recursos e os meios necessários para alcançar essa situação.
 A organização constitui-se como processo de definir e detalhar o
trabalho a ser realizado, as responsabilidades para a realização e
distribuir os recursos disponíveis segundo critérios racionais. A função
de direção compreende o processo de mobilizar e acionar os recursos,
especialmente as pessoas, para concretização das atividades meio e
fim.
 A função do controle volta-se a garantir a realização dos objetivos,
bem como, identificar e apontar necessidades de mudanças.
Geralmente o controle origina avaliações continuadas o que influencia
diretamente no desenvolvimento dos profissionais, das pessoas
garantindo a qualidade dos resultados das ações planejadas.

A administração é uma ciência organizada por uma série de teorias, possui


um corpo sistematizado de conhecimentos, baseados em princípios e conceitos que
tratam diretamente dos seres humanos. As teorias que fundamentam a administração
demonstram que as funções gerenciais podem ser desempenhadas por qualquer
pessoa responsável por algum tipo de atividade organizada no âmbito organizacional.
Sob esta diretriz e sendo o assistente social um agente que intervém diretamente nas
relações e na realidade social, o profissional dispõe de relativa autonomia para
formular e planejar propostas de trabalho. O assistente social demanda competência
e habilidade para construir modalidades interventivas no cotidiano de trabalho. E para
tal proposição, deve lançar mão de teorias que lhe possibilite o aperfeiçoamento do
conhecimento adquirindo, voltando-se para o desenvolvimento de competências e

26
habilidades no âmbito da gestão, enquanto instrumento de trabalho e de domínio do
assistente social.

Considerações finais

Assim, os instrumentos de gestão podem contribuir para o desenvolvimento de


competências e habilidades profissionais no âmbito da Assistência Social, sendo os
instrumentos que podem favorecer a construção de planos de trabalho nas diferentes
etapas da Política de Assistência Social. No entanto, o profissional deve estar aberto
às possibilidades de incorporar os princípios da gestão no cotidiano de trabalho,
agregando-os enquanto recurso legal no desenvolvimento do trabalho. Mas,
compreende-se que este processo de apropriação, perpassa pela necessária
aquisição ou aperfeiçoamento de conhecimentos sobre os conceitos e princípios que
fundamentam a gestão enquanto metodologia de realização do trabalho profissional.
Entretanto, ressalta-se que preciso competência crítica para discernir exigências
burocráticas puramente executivas de funções gerenciais que são requeridas do
profissional. Pois, as particularidades que envolvem o trabalho do assistente social
postula uma postura crítica e comprometida com a consolidação dos direitos dos
direitos sociais e não com a execução burocrática e alienada dos serviços sociais na
esfera pública. As funções gerenciais desempenhadas pelos assistentes sociais
devem estar alinhadas com os princípios e valores fixados no Projeto Ético Político
profissional e com as prerrogativas legais que regulamentam a profissão, objetivando
assim, afastar o trabalho profissional de abordagens funcionalistas e meramente
executivas.

A importância e preocupação em desenvolver um trabalho na gestão de


politicas sociais pautada no projeto ético politico da profissão, frente a um projeto
societário, levanta um indicativo de sua materialização contida no cotidiano
profissional. É preciso ainda entender esses novos espaços, sua representatividade,
suas condições de trabalho, os interesses que permeiam a reprodução das relações
sociais e até mesmo de que forma esses novos espaços propiciam um exercício
profissional tendo em vista o código de ética da profissão. Este que recomenda a
liberdade como valor ético central, o compromisso com autonomia e valores

27
emancipatórios dos indivíduos. De fato, o tema precisa ser mais bem explorado no
âmbito das políticas públicas sociais e do serviço social, de maneira a aprimorar a
atuação profissional. O que foi abordado até então, teve como intuito apontar
características das práticas dos profissionais, analisando as implicações da sua ação
profissional na garantia de direitos.

No entanto, ao longo do tempo as políticas moldaram-se às novas realidades,


criaram e recriaram suas leis, a política de social acendeu e se fortaleceu. O desafio
do assistente social na atualidade é desenvolver propostas, trabalhos criativos e
inovadores, que sejam capazes de concretizar direitos sociais previstos em lei à
população, as habilidades e competência não se adquirem somente nas cadeiras
universitárias, são características que necessitam de aprimoramento constante, quer
seja nas atividades de trabalho e/ou nas relações estabelecidas com as pessoas que
nos cercam. As práticas de gestão em Serviço Social não devem ser consideradas
como novas competências profissionais, pois estão interligadas à capacidade do
profissional em saber planejar, organizar, dirigir e controlar as ações e as relações
interpessoais em seu espaço de atuação. Tal conceito não é recente, porém em
tempos de grande concorrência, o profissional que possui as características de gestão
terá grandes oportunidades de se manter e se destacar no mercado cada vez mais
exigente.

O Assistente Social deve desempenhar seu trabalho para além de serviços


meramente administrativos permeados de protocolos, mas, construir um perfil
inovador e crítico capaz de atuar em diferentes abordagens. Portanto, ao profissional
qualificado é requisitada uma intervenção investigativa, através da análise da
realidade social, por meio de pesquisas, formulação, execução e avaliação de
serviços, programas e políticas sociais. Para empreender uma ação, é necessário
analisar as condições, as forças presentes, preparando-se para situações
imprevisíveis, que requerem estratégias, meios e recursos para produzir os efeitos
desejáveis. Somente a partir dessa percepção, é possível pensar e repensar práticas
de gestão no seio da profissão, refletindo nos espaços em que os profissionais estão
inseridos.

Considerando, o profissional deve conhecer e aprimorar suas habilidades e


competências, colocando-as em prática. Adaptar-se às novas exigências do mercado
e não recusar os desafios de trabalho também são pré-requisitos para aqueles que

28
almejam se destacar profissionalmente. A identidade profissional do Assistente Social
é um constante processo em construção, que requer resgates históricos e o
desenvolvimento de habilidades e competências que correspondam às novas
demandas do mercado e da sociedade.

29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIMENEZ, H. N.; ALBANESE, K. R.. Os dilemas ético-contemporâneos a partir


da prática de estágio. Curso de Serviço Social, 6º período. PUCPR, Curitiba, 2015
HORA, MM. C. C. A atuação do assistente social no planejamento e gestão das
políticas de assistência social e saúde no Município de Aracaju-SE. Dissertação
Mestrado em Serviço Social. São Cristovão: UFS, 2014.

FLYNN, N. Public sector management. Londres: Sage, 2012.

IAMAMOTO, Marilda V.; CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social


no Brasil. São Paulo: Celats/Cortez, 1995.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e conservadorismo no serviço social:


ensaios críticos. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1997.

__________,. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação


profissional. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: Capital


Financeiro, trabalho e questão social. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.

PAIVA, Beatriz Augusto. reflexões sobre pesquisa e processos de formulação


e gestão .In. Capacitação em Serviço Social e Política Social: Módulo 4: O trabalho
do assistente social e as Políticas Sociais. Brasília: CEAD, 1999.

PETERS, B. G. The new public governance? Emerging perspectives on the


theory and practice of public governance. Londres: Routledge, 2010.

PEREIRA, L. BENETTI, G. M. F. Janice Merigo. A importância da formação


continuada dos assistentes sociais na atuação com as políticas públicas. 2014.
Monografia (Aperfeiçoamento/Especialização em Gestão Social de Políticas
Públicas) - Universidade do Sul de Santa Catarina.

MIOTO, RC. T.; NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Política Social e Serviço
Social: os desafios da intervenção profissional. Revista Katálysis, v.16, 2013, p.61-
71.

30
YAZBEK, M. C. Fundamentos Históricos e Teórico-metodológicos do Serviço
Social, (Org.) Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais, Brasília:
CFESS/ABEPSS, 2009. p. 143-164.

NOGUEIRA. A. M. Teoria da Administração para o século XXI. São Paulo: Ática


Universidade, 2007.

TORRES, M. M.; LANZA, L. M. B.. Serviço Social: exercício profissional do


Assistente Social na gestão de políticas públicas. Argumentum, Vitória (ES), v. 5, n.1,
p. 197-215, jan./jun. 2013.

TRINDADE, RL. P. Ações Profissionais, procedimentos e instrumentos no


trabalho dos assistentes sociais nas políticas sociais. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012.

SARMENTO, Helder Boska de Moraes. Serviço Social, das tradicionais formas


de regulação sociopolítica ao redimensionamento de suas funções sociais.In.
Capacitação em Serviço Social e Política Social: Módulo 4: O trabalho do assistente
social e as Políticas Sociais. Brasília: CEAD, 1999.

SOUZA, M. R. Serviço Social e o Exercício Profissional: desafios e


perspectivas contemporâneas. Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira,
Ano V, nº7 setembro de 2012. Lagarto/SE

SOUZA FILHO, R. Gestão Pública & Democracia: A Burocracia em Questão.


2.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.

31

Você também pode gostar