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05 de dezembro de 2019
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: MINISTERIO DA JUSTICA
Unidade Examinada: Departamento Penitenciário Nacional
Município/UF: Brasília/Distrito Federal
Ordem de Serviço: 201902308
Missão
Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a
prevenção e o combate à corrupção, com participação social, por meio da
avaliação e controle das políticas públicas e da qualidade do gasto.
1. CAPACIDADE GOVERNAMENTAL 10
1.1 INSTITUCIONALIZAÇÃO 10
1.1.1 EDUCAÇÃO 11
1.1.2 SAÚDE 15
1.1.3 TRABALHO 18
1.2 IMPLEMENTAÇÃO 24
1.2.1 EDUCAÇÃO 24
1.2.2 SAÚDE 26
1.2.3 TRABALHO 30
1.3 CONCLUSÕES PARCIAIS: Capacidade governamental 34
2. CAPACIDADE RELACIONAL 37
2.1 COORDENAÇÃO 37
2.1.1 EDUCAÇÃO 37
2.1.2 SAÚDE 40
2.1.3 TRABALHO 42
2.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL 45
2.2.1 EDUCAÇÃO 45
2.2.2 SAÚDE 47
2.2.3 TRABALHO 48
2.3 CONCLUSÕES PARCIAIS: Capacidade relacional 50
ANEXOS 58
I – METODOLOGIA 58
II – REFERENCIAIS 62
INTRODUÇÃO
O presente relatório apresenta os resultados da terceira etapa de uma auditoria da CGU
que tem por objetivo avaliar as governanças e as capacidades estatais das políticas
públicas de promoção da cidadania no sistema prisional.
Nesta terceira etapa, foram avaliadas as governanças das políticas públicas de saúde,
educação e trabalho no sistema prisional implementadas por alguns estados e pelo
Distrito Federal. Trata-se de auditoria que tem o objetivo de analisar as variedades de
governança e dos arranjos institucionais das políticas públicas de cidadania no sistema
prisional das Unidades Federativas, bem como as relações entre esses aspectos e as
entregas públicas ofertadas pelos órgãos competentes.
O escopo temporal de análise, referente ao período entre 2016 e 2019, está relacionado
com a vigência do Plano Plurianual da União – PPA, aprovado pela Lei 13.249, de 13 de
janeiro de 2016, que previu, entre seus objetivos, a promoção de um sistema penal justo
e que viabilize a reintegração social. As seguintes metas relativas à inserção de pessoas
privadas de liberdade em ações de saúde, educação e trabalho estão previstas no PPA
2016-2019:
• 0457 - Ampliar de 86 mil para 100 mil o número de pessoas privadas de liberdade
que participam de atividades educacionais. Órgão responsável: Ministério da Educação.
• 0459 - Ampliar a cobertura da atenção básica à saúde das pessoas privadas de
liberdade no sistema prisional. Órgão responsável: Ministério da Saúde.
• 045B - Aumentar de 130 mil para 250 mil o número de pessoas presas que participam
de atividades laborais, incluindo a inserção laboral em cooperativas sociais. Órgão
responsável: Ministério da Segurança Pública.
No que diz respeito ao fundamento legal para a prestação de serviços públicos nas áreas
avaliadas, destaca-se que a Lei de Execução Penal – LEP, instituída pela Lei nº 7.210, de
11 de junho de 1984, estabelece o dever do Estado de garantir diversas assistências e
direitos às pessoas privadas de liberdade, incluindo os relativos às áreas de educação,
saúde e trabalho. As assistências, conforme a LEP, tem a finalidade de “prevenir o crime
e orientar o retorno à sociedade”.
O apoio técnico e financeiro do Governo Federal às UFs que executam políticas sociais
no sistema prisional, para além da LEP e das competências regimentais dos Ministérios,
é também fundamentado por outros normativos, entre os quais podem ser destacados
6
os que estabelecem planos e políticas nacionais para as áreas avaliadas nesta auditoria,
citados a seguir:
No que diz respeito à educação, os dados do Infopen 2017 apontam que 10,58% da
população privada de liberdade está inserida em atividades educacionais (76.813
pessoas). Entre essas pessoas, 9,6% estão ligadas às atividades do ensino escolar e 1,04%
em atividades complementares (remição pela leitura ou pelo esporte e outras
atividades). Por último, no que diz respeito à área do trabalho, o Infopen 2017 registra
que 17,54% da população prisional está envolvida em atividade laboral (127.514
1
Informações extraídas das seguintes fontes: BARRETO, 2017.; SOUSA et ali, 2019.; MACEDO et ali, 2017.;
DUAILIBI et ali, 2008.; PLATONOW, 2018.; CIEGLINSKI, 2019.; e dos seguintes portais:
http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/43456-populacao-carceraria-e-foco-de-projeto-
contra-a-tuberculose-2 e <https://www.apa.org/research/action/aftercare>. Acesso em: 03/12/2019.
7
pessoas). Salienta-se ainda que os relatórios das etapas anteriores de auditoria
apontaram o baixo alcance das metas previstas pelos órgãos do Poder Executivo Federal
nas três áreas avaliadas.
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Para obter informações e documentos, os seguintes procedimentos de auditoria foram
utilizados: indagação escrita (solicitação de auditoria), direcionada aos gestores; e, em
seguida, análise dos documentos encaminhados. Além disso, foram realizadas reuniões
com os gestores para esclarecimentos adicionais sobre as informações e documentos
encaminhados. A seleção das Unidades Federativas avaliadas foi realizada com
fundamento em dados do Infopen 2016, conforme exposto no anexo I.
Os resultados dos exames estão expostos neste Relatório por dimensão e componente,
conforme o modelo analítico de avaliação (quadro 01). Assim, em cada componente,
são evidenciados os achados de auditoria de cada política social (educação, saúde e
trabalho). Ao final de cada capacidade, foram elaboradas as conclusões parciais de cada
setor avaliado. Por fim, a conclusão geral deste Relatório apresenta uma avaliação
comparativa de cada capacidade entre as diferentes políticas sociais.
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RESULTADOS DOS EXAMES
A avaliação das governanças das políticas públicas das áreas de educação, saúde e
trabalho no sistema prisional foi realizada a partir de ações de controle executadas em
quinze Unidades Federativas2. A exposição dos achados de auditoria será realizada a
partir das duas dimensões analíticas selecionadas para a avaliação: capacidade
governamental e capacidade relacional, cujos conceitos estão expostos no anexo I.
1. CAPACIDADE GOVERNAMENTAL
1.1 INSTITUCIONALIZAÇÃO
Outro componente relacionado com a institucionalização que contribui para uma boa
governança diz respeito ao planejamento da política pública. Trata-se do
estabelecimento de objetivos e metas objetivamente caracterizados e coerentes entre
si, os quais possam apontar as formas de medição do estágio da política e os resultados
esperados (BRASIL, 2014b, p. 45-47).
2
Segue, por área avaliada, as UFs que tiveram informações e avaliações consolidadas neste Relatório:
Trabalho (MS, DF, GO, PA, PE, RN, RS, SC e MG); Saúde (MS, DF, GO, AP, PE, BA, PR, SC, SP e RJ); e Educação
(DF, GO, AP, PE, RN, RS, PR, ES e RJ). O anexo I apresenta os critérios de seleção.
10
definição normativa das atribuições dos atores; utilização de manuais ou outros
documentos que apresentem, de forma sintética, as atribuições, rotinas administrativas
e fluxos organizacionais; utilização de instrumentos de planejamento que estejam
alinhados às boas práticas de governança.
1.1.1 EDUCAÇÃO
Apesar das múltiplas situações encontradas nas UFs que possuem normativos conjuntos
aprovados pelas Secretarias envolvidas, em termos de data de aprovação e de
detalhamento de conteúdo, verificou-se que a presença de marcos regulatórios
11
conjuntos resultou em um maior grau de institucionalização de atribuições em
consonância com os normativos federais.
Percebe-se que algumas UFs possuem iniciativas recentes para sistematizar as rotinas e
fluxos organizacionais da gestão administrativa. A Secretaria de Justiça do ES, por
exemplo, elaborou um manual com orientações acerca de prontuário escolar,
segurança, relatório mensal de acompanhamento, atribuição dos profissionais, etc.
Apesar de ser produzido pela Secretaria de Justiça, esse Manual menciona diretamente
os professores e atividades da Secretaria de Educação. Em PE, uma instrução normativa
recente, assinada conjuntamente pelas Secretarias de Educação e de Justiça e Direitos
Humanos, regulamentou assuntos referentes à segurança, documentação escolar,
material didático, horários e outros temas.
Por sua vez, algumas UFs mencionaram a utilização dos Planos de Educação nas Prisões,
os quais estão desatualizados, ou encaminharam documentos genéricos relativos à
Educação de Jovens e Adultos que não são direcionados especificamente à educação
prisional.
Assim, apesar das iniciativas pontuais existentes em algumas UFs, observou-se que, de
forma geral, as Unidades Auditadas apresentam fragilidades relativas à utilização de
documentos que demonstrem, de forma sintética e detalhada, as atribuições, os fluxos
organizacionais e as rotinas dos atores envolvidos na gestão da educação no sistema
prisional.
12
O modelo dos Planos Estaduais de Educação nas Prisões utilizado para orientar as UFs
contemplava a previsão de itens que estão em conformidade com as boas práticas de
governança, como a presença de dados sobre a escolaridade dos presos, a previsão de
metas quantificáveis para acompanhar e aferir os resultados, a descrição dos fluxos e
rotinas administrativas para a oferta, entre outras informações.
Em diversas UFs, o Plano Estadual de Educação – PEE segue o modelo do Plano Nacional
de Educação – PNE no que diz respeito à previsão de metas e estratégias relativas à
educação no sistema prisional. No PNE constam metas quantificáveis da área de
educação que são acompanhadas por estratégias mais gerais, sem que essas últimas
estejam necessariamente acompanhadas por medidas para aferir o progresso da
política. Assim, a educação nas prisões não consta como meta específica do PNE, e sim
como estratégia, ou seja, sem previsão de medida quantificável, conforme transcrição
abaixo da meta 10 do PNE:
Meta 10 - Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas
de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma
integrada à educação profissional.
(...)
Estratégia 10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jovens e
adultos articulada à educação profissional, de modo a atender às pessoas
privadas de liberdade nos estabelecimentos penais, assegurando-se formação
13
específica dos professores e das professoras e implementação de diretrizes
nacionais em regime de colaboração.3
Destaca-se ainda que a desatualização dos Planos de Educação nas Prisões das UFs não
foi acompanhada pela utilização de outros instrumentos formais que demonstrem a
predominância de um planejamento estruturado para a política pública de educação
prisional. Tal situação reforça a necessidade de uma atuação dos órgãos federais no
papel de fomento e de orientação nessa área.
3
Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-
educacao-lei-n-13-005-2014 . Acesso em: 30/10/2019.
4
Enquanto o PPA, na Meta 05, do Objetivo 02, do Programa Temático 6221, trata de uma ampliação geral
das vagas, a Meta 10 do PDE prevê que a ampliação da oferta esteja integrada à educação profissional,
conforme trechos a seguir: PPA 2016-2019; Meta 05 - "Ampliar para, no mínimo, 30% a oferta de vagas
para atendimento às pessoas em cumprimento de medida judicial de restrição de liberdade no sistema
prisional do Distrito Federal". PDE 2015-2024: Meta 10 - "Garantir, na rede pública de ensino do Distrito
Federal, a oferta de escolarização às pessoas jovens, adultas e idosas em cumprimento de pena judicial
de privação de liberdade no sistema prisional do Distrito Federal, de modo que, até o último ano de
vigência deste Plano, no mínimo 50% dessa população esteja atendida em um dos segmentos da educação
de jovens, adultos e idosos – EJAIT na forma integrada à educação profissional."
14
d) Ausência de instrumentos de planejamento que estejam fundamentados por dados
atualizados acerca das condições de oferta e do nível de escolaridade da população
privada de liberdade.
Verifica-se que a desatualização dos Planos de Educação nas Prisões, tratado no item
“b”, resultou também em prejuízo à orientação das ações com base em dados
atualizados. Os diagnósticos existentes nesses Planos foram desenvolvidos, em
diferentes níveis de detalhamento, a partir de dados e informações sobre as demandas
e as condições de oferta de educação nos estabelecimentos penais, inclusive com a
presença de informações sobre as salas de aulas e as bibliotecas disponíveis. Contudo,
esses registros estão desatualizados, tendo sido levantados entre 2014 e 2016.
1.1.2 SAÚDE
15
A finalidade desta verificação foi avaliar se as Unidades Federadas selecionadas
normatizaram localmente a PNAISP de forma complementar, mediante definição de
norma contendo a divisão de atribuições entre os atores governamentais, bem como
estabelecendo diretrizes para a atuação conjunta, necessárias para institucionalização e
orientação da implementação das ações de saúde no sistema prisional.
Assim, foi verificado que apenas o Estado de São Paulo instituiu diretrizes para a Atenção
à Saúde da População Privada de Liberdade, as quais compreendem orientação para o
estabelecimento de parcerias entre estado e municípios, termo de compromisso entre
os gestores e elenco mínimo de ações de saúde da atenção básica, com previsão de
incentivo financeiro estadual.
Por fim, oportuno registrar que os instrumentos normativos utilizados para instituir
esses aspectos operacionais alternavam entre Portarias da Secretaria de Saúde ou
Resoluções da Comissão Intergestores Bipartite.
16
c) Desatualização dos Planos de Ação para implementação da PNAISP, embora
constem instrumentos de planejamento com indicadores de incentivo financeiro.
A finalidade desta verificação foi avaliar se a PNAISP, no âmbito das UFs selecionadas,
apresenta instrumentos de planejamento adequados, ou seja, se houve adequada
elaboração ou formalização dos instrumentos de planejamento pelo gestor estadual
(Plano Plurianual e Planejamento Estratégico), para o setor saúde (Plano de Saúde e
Programação Anual de Saúde) e para a saúde prisional em específico (Plano de Ação
Estadual para Atenção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade), que contemplassem,
enquanto objetivo ou indicador específico, as ações de saúde no sistema prisional.
Com isso, em relação ao planejamento geral, verificou-se que normalmente o PPA não
apresentava qualquer indicação à saúde prisional ou apresentava ação e indicador
relacionados ao incentivo financeiro estadual para repasse aos municípios com unidades
prisionais ou equipes de saúde prisionais. Por sua vez, em relação ao planejamento do
setor saúde em específico (PES e PAS), observou-se que a maioria desses instrumentos
possuem um ou mais indicadores de disponibilização de recursos financeiros para as
ações de saúde prisional.
17
Nesse sentido, buscou-se verificar a boa prática de solidez na “lógica de intervenção da
política, alinhando insumos, atividades, produtos, efeitos e impactos em função dos
problemas a serem atacados e das correspondentes causas identificadas na formulação
da política pública” (BRASIL, 2014, p. 47).
1.1.3 TRABALHO
Embora as regras que disciplinam o exercício do trabalho por parte de pessoas privadas
de liberdade estejam estabelecidas há muitos anos na legislação penal brasileira –
precisamente no Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940) e na Lei de Execução Penal
(Lei nº 7.210/1984) – somente em 2018 criou-se uma política nacional voltada à
ampliação e qualificação da oferta de vagas de trabalho, ao empreendedorismo e à
formação profissional das pessoas presas e egressas do sistema prisional, denominada
Política Nacional de Trabalho no âmbito do Sistema Prisional (Pnat) e instituída pelo
Decreto nº 9.450, de 24 de julho de 2018.
18
A partir dessas considerações, passa-se à apresentação dos resultados da avaliação
realizada sobre o nível de institucionalização das políticas estaduais de trabalho no
sistema prisional.
A partir das informações obtidas, verifica-se que, em seis UFs, as unidades responsáveis
pelo trabalho prisional estão vinculadas às Secretarias de Estado de Justiça e/ou
Segurança Pública, ao passo que, em três UFs, as unidades vinculam-se às Secretarias de
Administração Penitenciária.
Além disso, em três UFs, as unidades responsáveis pelo trabalho prisional integram a
administração indireta: no Distrito Federal5, a Fundação de Amparo ao Trabalhador
Preso do DF – FUNAP é uma fundação pública vinculada à Secretaria de Estado de
Segurança Pública; no Mato Grosso do Sul, a Agência Estadual de Administração do
Sistema Penitenciário – AGEPEN é uma autarquia vinculada à Secretaria de Estado de
Justiça e Segurança Pública; e no Pará, a Superintendência do Sistema Penitenciário –
SUSIPE é uma autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa
Social. Nos demais casos, as unidades encontram-se na própria estrutura organizacional
da Secretaria de Estado identificada, compondo, portanto, a administração direta.
5
No DF, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário, diretamente subordinada à Secretaria de Estado de
Segurança Pública, também executa ações relacionadas ao trabalho prisional, embora não tenha
integrado o escopo da presente auditoria.
19
Ao passo que o achado anterior teve como objetivo identificar o grau de
institucionalização das competências relacionadas à gestão do trabalho prisional no
âmbito das unidades federativas – ou seja, se existe indicação normativa expressa
acerca dos atores que se responsabilizam pela referida gestão –, o presente achado
segue no desdobramento das competências com vistas a identificar o grau de
institucionalização de atribuições, fluxos organizacionais e/ou rotinas administrativas
das ações finalísticas realizadas.
Em relação à definição dos atores responsáveis, verificou-se que, em três UFs avaliadas,
existem normativos que tratam tanto do gerenciamento das vagas de trabalho quanto
da seleção dos presos aptos ao trabalho. Em outras quatro UFs, há normativos tratando
somente da seleção dos presos e, em uma UF, há normativo que trata somente do
gerenciamento de vagas. Ademais, em uma UF não se identificou nenhum normativo
com a identificação dos atores responsáveis.
20
UFs há regras relativas à seleção dos presos aptos ao trabalho. Neste último caso, os
dispositivos tratam somente de critérios gerais que devem ser observados no processo
seletivo dos presos, de teor genérico, exceto no caso do Distrito Federal, onde vigora a
Portaria da Vara de Execuções Penais nº 003, de 03 de abril de 2018, a qual estabelece
critérios objetivos para a classificação e desclassificação dos presos. Por fim, não houve
identificação de nenhum regramento quanto ao tema em análise para somente uma UF.
Das nove UFs avaliadas, verificou-se que seis (DF, GO, MG, MS, PA e SC) possuem
normativos com a identificação expressa de atribuições relacionadas ao gerenciamento
da produção do trabalho prisional. Já em relação à procedimentalização, somente MG e
PA apresentaram algum tipo de regramento relacionado ao tema. Cabe destacar que a
Secretaria de Estado de Administração Prisional de Minas Gerais regulamentou, por
meio de resolução, os procedimentos necessários para a produção, fiscalização,
apuração de frequência e destinação do artesanato produzido pelos presos dentro das
unidades prisionais do Estado. Já a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado
do Pará possui uma portaria que define os procedimentos e diretrizes concernentes a
toda a cadeia produtiva da marcenaria.
Em sete UFs, verificou-se que existe definição normativa dos atores responsáveis pelo
gerenciamento da remuneração dos presos inseridos em atividades laborais. Além disso,
oito UFs possuem algum nível de regramento sobre o tema. Contudo, somente em
quatro UFs foram identificados normativos que estabelecem os percentuais de
repartição da remuneração, em atendimento ao art. 29 da Lei nº 7.210/1984. Além
disso, destaca-se que Minas Gerais dispõe de um procedimento operacional padrão, em
seu Regulamento e Normas de Procedimentos do Sistema Prisional (ReNP), que trata
sobre “controle de frequência e pagamento de preso”.
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avaliações periódicas, controle de frequência, entre outros instrumentos. Verificou-se
que todas as nove UFs avaliadas apresentam previsão normativa dos atores que devem
executar algum tipo de acompanhamento e/ou controle dos presos em situação laboral.
Por outro lado, em somente quatro UFs identificou-se algum tipo de regramento quanto
ao tema. Dessas UFs, destaca-se o Estado de Pernambuco, que dispõe de um Manual de
Laborterapia, no qual consta a sistemática de fiscalização que deve ser realizada sobre
os sentenciados que executam trabalho externo. Minas Gerais, por sua vez, possui um
procedimento operacional padrão que trata do controle de frequência dos presos em
situação laboral.
Conclusão
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Como resultado, verificou-se que cinco das nove UFs avaliadas (DF, MS, GO, PE e SC)
possuem, em seus respectivos PPAs 2016-2019, ações ou indicadores específicos para o
tema de trabalho prisional, com metas correspondentes definidas, excetuado o MS,
cujas metas não foram identificadas. Embora a ação finalística do PPA do MS não
apresente meta associada, cabe registrar que esse Estado possui um indicador
específico para o trabalho prisional no âmbito dos contratos de gestão firmados entre a
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e o Governo de Estado, nos
exercícios de 2016 a 2018.
Além disso, outros dois estados (MG e PA) contam com ações de caráter mais genérico
no PPA 2016-2019, que visam à ressocialização ou assistência aos presos, não tendo sido
possível identificar se abrangem, de fato, iniciativas relativas ao trabalho prisional.
Por fim, somente o RS apresentou o Plano Estadual pelo Trabalho e Renda no âmbito do
Sistema Prisional, de dezembro de 2017 (anterior ao Decreto nº 9.450/2018, que
instituiu o Plano Estadual da Pnat). Verificou-se que o Plano do RS atende ao conteúdo
exigido pelo citado Decreto (art. 8º, §2º), à exceção dos itens “diagnósticos das
demandas de qualificação profissional nos estabelecimentos penais” e “identificação
dos normativos existentes”, além de que constam fragilidades em seu “Plano de Metas
2018-2019”, relativamente à concepção das metas e indicadores. Ademais, os gestores
dos Estados de MS e PE informaram que os seus Planos Estaduais estão em elaboração.
23
1.2 IMPLEMENTAÇÃO
1.2.1 EDUCAÇÃO
Salienta-se que os guias utilizados pelo Depen e pelo MEC para orientar e analisar o
conteúdo dos Planos de Educação nas Prisões, utilizados durante o período em que
esses órgãos fomentaram a elaboração dos Planos, recomendavam que esses
instrumentos apresentassem uma previsão das estratégias de acompanhamento,
monitoramento e avaliação que seriam realizadas.
24
de metas e indicadores direcionados à educação no sistema prisional, principalmente
para o período de 2017 a 2019. No que diz respeito às metas previstas para o ano de
2016, e mesmo nos casos excepcionais das UFs que apresentaram metas para os anos
posteriores, as Unidades Auditadas não apresentaram evidências acerca da realização
de atividades de monitoramento.
Ainda no que diz respeito à Secretaria de Educação do DF, salienta-se que também não
houve o monitoramento das metas do Plano Distrital de Educação no Sistema Prisional,
em contrariedade ao normativo distrital que previu o monitoramento contínuo e a
divulgação dos resultados desse acompanhamento.
25
Em sete UFs, verificou-se a presença de evidências acerca da existência do recebimento
de gratificação ou vantagem pecuniária complementar decorrente da atuação em
estabelecimento penal. Em algumas UFs (DF, AP, PE e RS), a gratificação é prevista em
normativo que menciona diretamente os professores, como Estatutos de Magistério ou
outras normas específicas. Em duas UFs (GO e PR), a previsão normativa é destinada aos
profissionais que atuam em estabelecimentos penais, sendo aplicada aos professores
por analogia. Em uma das UFs, a gratificação estaria sendo concedida com fundamento
em processo administrativo.
Considera-se, portanto, que a maioria das UFs atendem aos aspectos previstos na
referida recomendação do CNPCP, com a ressalva de que, em dois estados (RN e ES),
não constam evidências de que os professores recebem gratificação ou vantagem
pecuniária decorrente da atuação no sistema prisional.
A finalidade desta verificação foi analisar o grau de execução financeira das ações
orçamentárias e de repasses federais específicos relativos às políticas de educação
prisional implementadas pelas Secretarias de Educação no período avaliado.
Por sua vez, o inciso II do art. 3ºA da Resolução CBE/CEB nº 2, de 19 de maio de 2010,
dispõe que a oferta de educação para jovens e adultos em estabelecimentos penais será
financiada com as fontes de recursos públicos vinculados à manutenção e
desenvolvimento do ensino, entre as quais o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB),
destinados à modalidade de Educação de Jovens e Adultos e, de forma complementar,
com outras fontes estaduais e federais.
26
parceria entre o Depen e o MEC, os estados e o Distrito Federal recebessem recursos
para ofertar cursos de qualificação profissional no sistema prisional no âmbito do
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec.
Verificou-se que, em geral, as UFs não executaram os recursos das subações do PAR ou
apresentaram um grau de execução abaixo de 30%, com exceção da subação pactuada
com o estado de Pernambuco, que foi executada em 2014 e 2015, ou seja, em período
anterior ao avaliado neste relatório. Entre as UFs avaliadas, observa-se que o Estado do
RN foi o único que não pactuou subações referente à educação prisional no PAR 2011-
2014.
1.2.2 SAÚDE
27
a) Fragilidades na institucionalização e no controle de informações gerenciais
necessárias à retroalimentação da gestão no âmbito do monitoramento local da
PNAISP.
Todavia, destaca-se que essa atuação se caracteriza por estar dissociada de indicador de
progresso de política pública específico, o que prejudica a efetividade do diagnóstico
para reorientar a implementação. Além disso, verificou-se a ausência de regramento
que disciplinasse a atividade de monitoramento quanto à periodicidade, responsáveis,
escopo, registro, dentre outros aspectos, em especial a forma de colaboração dos
municípios no repasse de informações. Por fim, registra-se que foi evidenciada apenas
no DF a existência de Manual e sistema informatizado que permitia a realização do
monitoramento específico.
28
a própria Secretaria Estadual de Saúde, ou a Secretária de Administração Penitenciária
ou a Secretaria Municipal de Saúde, a depender do arranjo organizacional presente em
cada UF e se houve adesão de municípios à PNAISP. Dessa forma, verificou-se que a
maioria das UFs apresentou o cadastramento dessas equipes no SCNES (seja nos casos
de responsabilidade estadual ou municipal); porém, em outra parte foram evidenciadas
ausências, ou seja, nem todas as equipes estavam cadastradas.
Por sua vez, sobre o registro da produção das equipes de saúde prisional no e-SUS AB,
foi verificado que, em geral, as UFs têm dificuldades na realização desses registros (seja
nos casos de responsabilidade estadual ou municipal), isto é, não demonstraram a
regularidade do registro da produção realizada nas Unidades Prisionais, salvo os casos
de PE e PR, nos quais houve demonstração acerca desses registro de produção. Enfim,
aponta-se que alguns gestores informam a dificuldade de utilização ou de
monitoramento desses sistemas de informação do SUS por limitações de acesso.
Assim, a partir da análise do cadastro das equipes informadas no SCNES, foi verificado
que, na maioria das UFs avaliadas, existiam equipes de saúde prisional incompletas (seja
nos casos de responsabilidade estadual ou municipal), o que se deve à ausência de
profissionais, mormente na especialidade de saúde mental, apesar da informação da
existência de concursos ou seleções temporárias em andamento. Em complemento,
verificou-se incompatibilidade no cotejamento entre o cadastro dessas equipes no
SCNES e a documentação disponibilizada, o que revela a existência de desatualização
desse cadastro.
Por seu turno, a verificação sobre o cumprimento de carga horária dessas equipes de
saúde prisional foi bastante prejudicada, tendo em vista a ausência de disponibilização
de documentação comprobatória. Nesse caso, o gestor da saúde informava que a
responsabilidade por essa disponibilização seria de outra secretaria estadual ou de
municípios, apesar de instados a se manifestar. Em casos pontuais, nos quais foi possível
29
realizar a análise, foi observado que a documentação estava incompleta e apresentando
também incompatibilidade com o cadastro do SCNES.
Somado a esses achados sobre as equipes de saúde, foi verificado que a assistência
farmacêutica no sistema prisional apresenta igualmente diferentes configurações na
gestão, pois há variações quanto ao responsável pelo controle das etapas de aquisição,
de distribuição, de estoque e de dispensação. Inicialmente, existem casos de aquisição
centralizada pelo Estado: a Secretaria de Saúde é responsável pela aquisição e
distribuição, e a Secretaria de Administração Prisional ou a própria Unidade Prisional é
responsável pelo estoque e dispensação. Também existem casos de controle municipal
a partir da distribuição da aquisição estadual. Ainda, foi observada, em algumas das
Unidades Federativas, a utilização de sistema informatizado próprio para controle de
medicamentos.
Por fim, outro objetivo foi avaliar a execução físico-financeira das ações orçamentárias
vinculadas à saúde prisional, de forma a verificar se essa execução foi compatível com o
planejado. Assim, com base nas informações disponibilizadas nos Relatórios Anuais de
Gestão e em extrações de Portais da Transparência, considerando que não há evidências
de que eventuais incentivos financeiros estaduais (MS e PR) ou pagamento de servidores
(DF) tenham sido contingenciados, verifica-se que as UFs (exceto AP e RJ por falta de
informações), em média, executaram moderadamente o orçamento disponível (cerca
de 80%), com atendimento equivalente das metas previstas, ressalvando as diversas
naturezas de indicadores, pois, conforme informado anteriormente, os indicadores
estabelecidos normalmente eram relacionados ao incentivo financeiro estadual para os
municípios para fins de implementação da PNAISP. No entanto, destacam-se também
outros indicadores como realização de reuniões técnicas, visitas técnicas, eventos e
capacitações.
1.2.3 TRABALHO
Como resultado, verificou-se que, das nove UFs avaliadas, seis (DF, GO, MS, PE, RS e SC)
dispõem de indicadores e metas relacionados ao trabalho prisional no âmbito de
instrumentos formais de planejamento, como o Plano Plurianual, planejamento
estratégico e contrato de gestão com o Governo Estadual. Vale destacar que, dessas
UFs, cinco (DF, GO, MS, RS e SC) utilizam o indicador de resultado referente à proporção
ou número de presos inseridos em atividades laborais, dentre outros indicadores.
Somente o DF, GO, MS e RS demonstraram a apuração de seus indicadores para
determinados exercícios, no entanto, sem avaliações críticas quanto aos valores
30
alcançados. Vale observar que o RS, embora possua o Plano Estadual pelo Trabalho e
Renda no âmbito do Sistema Prisional, no qual constam metas e indicadores, apresentou
a apuração somente do indicador pactuado no âmbito do Acordo de Resultados6 que
vigora no Estado.
Verifica-se que o monitoramento demonstrado pela maioria das UFs – ou seja, aquele
realizado por meio de planilhas ou sistema informatizado – permite ter o
acompanhamento contínuo e atualizado da quantidade de presos que se encontram em
atividades laborais, sendo este um dos principais indicadores de resultado para a política
de fomento ao trabalho prisional. Ainda assim, nenhuma UF demonstrou ter realizado
qualquer tipo de avaliação crítica quanto aos dados acompanhados, sobretudo perante
as metas definidas, quando existentes. Nesse sentido, não se evidenciou que o
monitoramento realizado tenha sido utilizado para retroalimentar os processos
decisórios e melhorar o alcance dos resultados.
6
Conforme o Decreto Estadual nº 52.514, de 14 de agosto de 2015, “Acordo de Resultados” são
instrumentos de gestão que se materializam nos documentos assinados, anualmente, pelo Governador
do Estado, pelo Secretário Geral de Governo, pelo Procurador Geral do Estado, pelos Secretários de
Estado e Dirigentes da Administração Indireta, no qual constam os compromissos assumidos no
cumprimento dos indicadores, das suas metas, de suas ações e de seus projetos para o período.
31
Um serviço de intermediação de mão de obra tem como finalidade inserir trabalhadores
no mercado de trabalho, por meio de vagas captadas junto a empregadores, de modo a
agilizar o encontro da oferta e da demanda de trabalho. As principais etapas da execução
desse serviço são: inscrição do trabalhador; registro do empregador; captação e registro
de vagas de trabalho; cruzamento de perfil dos trabalhadores cadastrados com o perfil
das vagas captadas; convocação de trabalhadores conforme pesquisa de perfil e
encaminhamento para entrevista de emprego; e registro do resultado do
encaminhamento7.
Como resultado dos exames, verificou-se que nenhuma UF faz uso de sistema de
intermediação de mão de obra, seja aquele gerenciado pelo SINE, seja qualquer outro
sistema que possua as mesmas características e finalidade. Importa esclarecer que a
atuação dos órgãos estaduais responsáveis pela gestão do trabalho prisional na busca
de vagas de trabalho para os presos, que resulta na formalização de parcerias com
diversas instituições públicas e privadas, não se enquadra no formato de intermediação
de mão de obra a que se refere o art. 4º da Portaria Interministerial MSP/GM nº 3/2018,
o qual pressupõe a existência de um sistema informatizado que permita gerenciar, de
forma mais eficiente e otimizada, a oferta e a demanda de trabalho existentes.
Do total de nove UFs avaliadas, verificou-se que cinco (DF, GO, MS, PE e SC)
apresentaram uma ou mais ações orçamentárias específicas para o trabalho prisional.
Os Estados de MG e PA indicaram ações orçamentárias de caráter genérico, as quais se
referem a “assistência integrada” ou “ressocialização”, não tendo sido possível segregar
as quantias porventura relativas ao trabalho prisional.
7
Informações disponíveis em https://empregabrasil.mte.gov.br/84/imo/. Acesso em 04/12/2019.
8
Informações disponíveis em https://www.gov.br/pt-br/servicos/encontrar-emprego-no-servico-de-
intermediacao-de-mao-de-obra-do-sine. Acesso em 04/12/2019.
32
Em relação às dotações, os valores alocados para o trabalho prisional foram variados.
Para o período de 2016 a 2019, por exemplo, MS contou com 163 mil reais vinculados a
uma ação orçamentária, enquanto PE contou com 60 milhões, distribuídos entre três
ações, das quais uma, referente ao pagamento dos salários dos apenados, concentrou a
maior parte dos recursos (59,7 milhões).
No que tange ao PROCAP, verificou-se que, das nove UFs avaliadas, somente PE e RN
não aderiram ao Programa. O quadro a seguir apresenta os convênios firmados pelos
UFs participantes:
9
Cabe registrar que o Depen manifestou formalmente apoio a esse modelo de gestão, comprometendo-
se com sua divulgação e disseminação, conforme a Nota Técnica nº
28/2019/COATR/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ, de 06 de junho de 2019 (disponível em
http://depen.gov.br/DEPEN/politica-nacional-de-trabalho-prisional/politica-nacional-de-
trabalho/copy2_of_NotaTcnica28.pdf; acesso em 06/12/2019).
33
Observa-se que todos os convênios, à exceção de um (774574), encontram-se vigentes,
embora tenham sido iniciados entre quatro e oito anos atrás, aproximadamente.
Verificou-se que essa situação é resultado de várias prorrogações aplicadas aos
convênios, visto que as vigências pactuadas inicialmente sempre foram de dois anos.
Esse fato, somado à baixa execução financeira observada para vários convênios, sugere
a existência de dificuldades no âmbito operacional da gestão das UFs.
Diante de todo o exposto, verifica-se que a maioria das UFs dispõe de instrumentos para
a previsão de recursos orçamentários para a execução de ações de fomento ao trabalho
prisional, os quais consistem em ações orçamentárias e, no caso de SC, fundos rotativos.
Além disso, todas as UFs, com exceção de PE e RN, contam com repasses advindos de
convênios celebrados com a União, os quais possuem, em geral, baixo nível de execução
financeira.
1.3.1 EDUCAÇÃO
Diante disso, conclui-se que, considerando os critérios e boas práticas selecionadas para
análise, a capacidade governamental, resultante dos arranjos institucionais das UFs
avaliadas, é pouco adequada, o que pode gerar prejuízo às entregas públicas de
interesse dos atores envolvidos.
1.3.2 SAÚDE
34
institucionalização de diretrizes e atribuições dos atores governamentais;
desatualização dos Planos de Ação para implementação da PNAISP, embora constem
instrumentos de planejamento com indicadores de incentivo financeiro; perda de
alinhamento entre os diferentes instrumentos de planejamento existentes; fragilidades
na institucionalização e no controle de informações gerenciais necessárias à
retroalimentação da gestão no âmbito do monitoramento local da PNAISP; e
disponibilização parcial de recursos humanos e financeiros, com falhas na comprovação
do cumprimento de carga horárias das equipes.
Por último, conclui-se que, tendo em vista os critérios e as boas práticas considerados
para análise, a capacidade governamental da política pública setorial, resultante dos
arranjos institucionais das UFs avaliadas, é pouco adequada, o que pode gerar prejuízo
às entregas públicas de interesse dos atores envolvidos.
1.3.3 TRABALHO
35
no âmbito da gestão governamental. Essas fragilidades de governança expõem os atores
envolvidos ao risco de que as ações implementadas não sejam suficientes para atingir o
objetivo de ampliar o número de pessoas privadas de liberdade inseridas em atividades
de trabalho.
Diante disso, conclui-se que, no que diz respeito aos critérios e boas práticas
selecionadas para análise, a capacidade governamental, resultante dos arranjos
institucionais das UFs avaliadas, é pouco adequada, o que pode gerar prejuízo às
entregas públicas de interesse dos atores envolvidos.
36
2. CAPACIDADE RELACIONAL
2.1 COORDENAÇÃO
Nesse contexto, faz-se oportuno analisar o grau de integração entre os diferentes atores
de uma política pública em observância à boa prática de governança de estabelecer
“mecanismos de articulação, comunicação e colaboração que permitam alinhar
estratégias e operações das organizações envolvidas em políticas transversais e
descentralizadas, para alcançar o resultado comum” (BRASIL, 2014, p. 59). Considera-se
a coordenação como um dos componentes da capacidade estatal com potencialidade
para influenciar o desempenho e os resultados das políticas públicas (GOMIDE; PIRES,
2016).
2.1.1 EDUCAÇÃO
37
a) Fragilidades na formalização e periodicidade das articulações realizadas entre as
Secretarias de Educação e outros órgãos do Poder Executivo.
Verificou-se que, em geral, apesar de afirmarem pela atuação articulada com os atores
que atuam no âmbito do Judiciário, principalmente com as Varas de Execuções Penais,
as Secretarias de Educação avaliadas não apresentaram evidências suficientes para
demonstrar a ocorrência de articulações periódicas e os resultados efetivos advindos
dessa atuação integrada. A fragilidade das evidências foi em maior grau do que aquela
referente às articulações existentes entre as Secretarias de Educação e os órgãos
responsáveis pela administração prisional.
38
leitura10. Em GO, inclusive, esse programa foi regulamentado por Portaria
Interinstitucional aprovada pelo Tribunal de Justiça, pelo Ministério Público11, pela
Diretoria-Geral de Administração Penitenciária e pela Secretaria de Educação, Cultura e
Esporte, os quais devem compor a Comissão Estadual para Acompanhamento e
Monitoramento do Programa de Remição da Pena pela Leitura.
No RJ, por sua vez, uma Resolução da Secretaria de Educação instituiu um Grupo de
Trabalho para acompanhamento, monitoramento e avaliação do Plano Estadual de
Educação nas Prisões, o qual é composto por integrantes dessa Secretaria, da Defensoria
Pública, do Ministério Público, da Vara de Execuções Penais, além do Conselho de
Comunidade e do Conselho Estadual de Educação.
As informações existentes acerca das articulações entre as UFs e o Governo Federal são
referentes, majoritariamente, até meados de 2016. As seguintes evidências podem ser
destacadas: formalização das demandas do PAR 2011-2014; articulações realizadas
10
“Remição por leitura – A possibilidade de remir a pena por meio da leitura já é realidade em diversos
presídios do país. De acordo com a Recomendação n. 44 do CNJ, deve ser estimulada a remição pela
leitura como forma de atividade complementar, especialmente para apenados aos quais não sejam
assegurados os direitos ao trabalho, educação e qualificação profissional. Para isso, há necessidade de
elaboração de um projeto por parte da autoridade penitenciária estadual ou federal visando a remição
pela leitura, assegurando, entre outros critérios, que a participação do preso seja voluntária e que exista
um acervo de livros dentro da unidade penitenciária. Segundo a norma, o preso deve ter o prazo de 22 a
30 dias para a leitura de uma obra, apresentando ao final do período uma resenha a respeito do assunto,
que deverá ser avaliada pela comissão organizadora do projeto. Cada obra lida possibilita a remição de
quatro dias de pena, com o limite de doze obras por ano, ou seja, no máximo 48 dias de remição por
leitura a cada doze meses”. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-como-funciona-a-remicao-
de-pena/ . Acesso em: 11/11/2019.
11
Salienta-se que o Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP passou a recomendar que o
Ministério Público da União e dos Estados estimulem, no âmbito das unidades prisionais estaduais e
federais, a remição pela leitura, conforme consta na Recomendação nº 69, de 07 de maio de 2019.
39
entre 2014 e 2016 para a elaboração dos Planos de Educação nas Prisões, bem como
para aprovação desses instrumentos de planejamento pelas UFs.
2.1.2 SAÚDE
A finalidade desta verificação foi avaliar se, entre os órgãos do Poder Executivo local que
atuam na implementação das ações de saúde no sistema prisional, ocorreram tratativas
formais com resultados efetivos durante o período de escopo, em particular a
formalização e funcionamento de Grupo Condutor da PNAISP, que está previsto nos
normativos como sendo o principal articulador e coordenador das ações de saúde
prisional.
O Grupo Condutor das UFs deve ser formado pela respectiva Secretaria de Saúde – que
deve fomentar e apoiar seu funcionamento –, pela respectiva Secretaria de Justiça ou
congênere, pela Administração Prisional ou congênere, pelo Conselho de Secretários
Municipais de Saúde (COSEMS) do respectivo Estado e pelo apoio institucional do
Ministério da Saúde, consoante art. 19 da Portaria Interministerial MS/MJSP nº 1/2014,
combinado com o art. 28, inc. II, do Anexo XVIII da Portaria de Consolidação GM/MS n°
2/2017.
Assim, foi verificado que praticamente todas as UFs foram capazes de apresentar
documentos que demonstraram a realização das tratativas necessárias para a
implementação da saúde prisional. Por sua vez, em cerca da metade delas, a
demonstração se efetivou mediante a apresentação de atas de reunião do Grupo
Condutor da PNAISP. Em geral, as reuniões ocorriam sem frequência definida. No
40
entanto, em dois casos (MS e PE), por meio de regimento interno do Grupo Condutor,
foi estabelecida uma periodicidade das reuniões que variou entre mensal e bimestral.
Por fim, quanto à demonstração de resultados efetivos, foi observado que existem
documentos que evidenciam alguns resultados da atuação do Grupo Condutor ou da
ação integrada dos órgãos do Poder Executivo na política. Essa atuação integrada pode
ser exemplificada pelas seguintes ações: planejamento de seleção simplificada de
pessoal ou de alocação de pessoal; discussões para definição da pactuação da
Assistência Farmacêutica e da Saúde Mental; elaboração de Notas Técnicas ou Planos
de Ação com procedimentos para implantação de rotinas de atenção à saúde nas
Unidades Prisionais; promoção de eventos e seminários; e realização de visitas à
Unidades Prisionais e de reuniões técnicas com outros atores envolvidos.
41
interfederativa como princípio orientador, consoante inc. V, art. 3º da Portaria
Interministerial MS/MJSP nº 1/2014.
Dessa forma, foi verificado que pouco mais da metade das UFs apresentaram
informações ou disponibilizaram documentos atualizados que demonstrem a ocorrência
de articulações com o Ministério da Saúde. Em alguns casos, foram apresentados, como
forma de demonstrar a articulação, os Termos de Adesão e os Planos de Aplicação
elaborados quando da adesão à PNAISP em 2014, os quais não foram considerados para
análise por estarem fora do período de escopo.
Como exemplo das tratativas recentes, cita-se que geralmente a temática esteve
relacionada a esclarecimentos quanto aos seguintes assuntos: processo de habilitação
de equipes, processo de cadastramento de equipes e utilização de sistemas de
informação do SUS. Quanto ao meio utilizado, basicamente utilizaram-se mensagens
eletrônicas; secundariamente foram utilizados contato telefônico, videoconferências,
ofícios-circular e eventos. Por último, quanto à demonstração de resultados efetivos
advindos dessa interação, as UFs apontaram a prestação dos esclarecimentos e a
publicação de portarias de habilitação.
2.1.3 TRABALHO
A avaliação sobre a integração intrafederativa revelou que grande parte das articulações
existentes entre os órgãos/entidades responsáveis pelo trabalho prisional e os demais
atores da unidade federativa ocorre visando o estabelecimento de convênios e termos
de parcerias para o emprego de mão de obra carcerária em atividades diversas. Assim,
das nove UFs avaliadas, verificou-se que: sete possuem parcerias com órgãos do
Executivo estadual e/ou prefeituras municipais; três possuem parcerias com órgãos do
Judiciário e/ou Defensoria Pública; sete possuem parcerias com empresas privadas.
42
tempo tanto em relação às populações carcerárias das unidades prisionais
individualmente, como em relação à população carcerária total estadual. Portanto,
considera-se que as UFs não demonstraram, de modo contextualizado, a influência e os
resultados advindos das parcerias firmadas com os diversos atores do ente federativo.
Nesse sentido, vale ressaltar que, conforme apontado no achado “a” do item 1.2.3, a
constatação acerca da inexistência de avaliação crítica e retroalimentação da política
também se verifica para o recorte específico do trabalho prisional proveniente de
parcerias firmadas mediante convênios e termos de parcerias.
Além das citadas parcerias efetivadas com instituições interessadas em utilizar mão de
obra carcerária, convém citar alguns projetos de fomento ao trabalho prisional que
também envolvem a atuação de instituições diversas:
• Projeto “Conquistando a Liberdade” (PA): Realizado em parceria com o Poder
Judiciário do Estado, Secretaria de Estado de Segurança Pública (SEGUP)
Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), Polícia Militar do Pará, Programa Pro
Paz e Prefeitura Municipal de Belém, consiste no comparecimento mensal de
presos às escolas da rede pública estadual ou municipal, instituições de trabalho
filantrópico ou outros prédios públicos para realizar trabalhos de recuperação e
manutenção predial.
• Projeto "Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade" (MS):
Desenvolvido desde 2013 por meio de parceria entre a Agência Estadual de
Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), a Secretaria de Estado de
Educação e o Tribunal de Justiça do MS, destina mão de obra prisional e parte
dos salários dos presos para custear a reforma de escolas públicas de Campo
Grande.
• Projetos “Fábrica da Alegria” e “Mobiliando Sorrisos” (MG): Consistem na
produção, respectivamente, de brinquedos e mobiliários a serem doados a
instituições filantrópicas, sendo desenvolvidos em sinergia com a Secretaria de
Estado de Meio Ambiente, que fornece insumos provenientes de madeiras
apreendidas, e com a Prefeitura de Contagem, que fornece podas de árvores.
• Projeto “Borboleta” (DF): Uma parceria com o Ministério Público possibilitou a
arrecadação de peças de vestuário para os presos carentes que iniciam no
trabalho externo.
43
Esse Programa, cujo primeiro convênio é de dezembro de 2011, consiste no repasse de
recursos federais para a implementação de oficinas permanentes de trabalho e
oferecimento de cursos de capacitação em estabelecimentos penais de todo o Brasil.
Além dos convênios, verificou-se que o Depen empreendeu outras articulações com as
UFs voltadas ao fomento ao trabalho prisional. Cita-se, primeiramente, a realização da
2ª Mostra Laboral do Sistema Prisional Brasileiro em julho de 2018, na cidade de
Florianópolis/SC. O evento foi realizado pela Secretaria de Estado de Administração
Prisional e Socioeducativa de SC em parceria com o Depen, o qual, além de aportar uma
parte dos recursos para a efetivação do evento, se responsabilizou por efetuar a logística
dos produtos confeccionados pelos presos das unidades prisionais das demais UFs
participantes. O evento contou com palestras, debates e trocas de boas práticas sobre
trabalho no sistema prisional, envolvendo a participação de gestores estaduais,
especialistas no tema e sociedade em geral12.
Outra iniciativa diz respeito à visita técnica13 realizada pelo Depen ao Estado de SC em
março de 2019, que também contou com representantes de outras 16 UFs, para
conhecer unidades prisionais que são referências na oferta de atividade laboral. Como
resultado da visita, foi elaborada a Nota Técnica nº
14
28/2019/COATR/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ , de 06 de junho de 2019, cujo objetivo é
disseminar e fomentar junto às UFs o modelo de fundo rotativo para o sistema
penitenciário, como ferramenta estratégica para o incremento das possibilidades de
geração de vagas de trabalho nos sistemas prisionais estaduais.
12
Informações disponíveis em http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/depen-e-governo-do-
estado-de-santa-catarina-realizam-a-2a-mostra-laboral-do-sistema-prisional-brasileiro. Acesso em
11/12/2019.
13
Maiores detalhes constam na Informação nº 16/2019/COATR/CGCAP/DIRPP/DEPEN, de 29/03/2019,
disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/politica-nacional-de-trabalho-prisional/politica-nacional-de-
trabalho/Informao16.pdf. Acesso em 11/12/2019.
14
Disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/politica-nacional-de-trabalho-prisional/politica-nacional-
de-trabalho/copy2_of_NotaTcnica28.pdf. Acesso em 11/12/2019.
44
2.2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL
2.2.1 EDUCAÇÃO
45
participação dos órgãos responsáveis diretamente pela administração prisional.
Contudo, a presente análise teve por escopo as possíveis influências das demandas de
ouvidoria na gestão conduzida pelas Secretarias de Educação, considerando as
responsabilidades desses órgãos na oferta de educação nas prisões.
Mesmo que não evidenciem articulações periódicas e resultados efetivos para a gestão,
esses casos contribuem para demonstrar as oportunidades proporcionadas pela
existência e pela utilização dos canais de ouvidoria.
No que diz respeito à atuação dos Conselhos de Educação dos Estados e do Distrito
Federal, o art. 14 da Resolução CBE/CEB nº 2, de 19 de maio de 2010, que dispõe sobre
as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação de jovens e adultos em situação de
privação de liberdade nos estabelecimentos penais, prevê que essas instâncias devem
atuar na implementação e fiscalização, em articulação com os Conselhos Penitenciários
Estaduais, das diretrizes previstas.
46
No que diz respeito aos Conselhos Penitenciários e aos Conselhos de Comunidade, as
informações apresentadas pelas Secretarias de Educação apontam que não existem
articulações periódicas e resultados estruturantes advindos de uma atuação conjunta
com essas instâncias.
No RJ, por sua vez, uma Resolução da Secretaria de Educação instituiu um Grupo de
Trabalho para acompanhamento, monitoramento e avaliação do Plano Estadual de
Educação nas Prisões. Conforme já tratado anteriormente, esse Grupo é formado por
representantes do Conselho de Comunidade e do Conselho Estadual de Educação.
Contudo, considerando que ocorreram dois encontros entre agosto de 2018 e setembro
de 2019, considera-se que as reuniões não ocorreram de forma contínua.
2.2.2 SAÚDE
Por fim, registra-se que, em termos operacionais, geralmente o gestor local da saúde
informa que a Ouvidoria relacionada a administração penitenciária é a porta de entrada
de eventuais demandas oriundas das ações de saúde prisional. Contudo, a presente
análise teve por escopo as possíveis influências das demandas de ouvidoria nas gestões
15
No levantamento de informações realizado no ES, a equipe da CGU solicitou, excepcionalmente,
informações à Secretaria de Justiça para complementar as evidências encaminhadas pela Secretaria de
Educação.
47
conduzidas pela Secretarias de Saúde, considerando as responsabilidades desses órgãos
na oferta de saúde nos estabelecimentos penais.
No que diz respeito ao Conselho de Saúde, salienta-se, de forma preliminar, que essa
instância foi instituída pela Lei nº 8.142/1990 e regulamentado pela Resolução CNS nº
453/2012. Além disso, ainda no âmbito da participação social, destaca-se que a Portaria
Interministerial MS/MJSP nº 1/2014 (inc. VI, art. 3º e inc. V, art. 6º) prevê a valorização
e o fomento da participação e do controle social entre os princípios e objetivos da
PNAISP.
2.2.3 TRABALHO
48
b) Para a maioria das UFs, não há influência da atuação dos Conselhos Penitenciários
e dos Conselhos de Comunidade na gestão das ações de fomento ao trabalho no
sistema prisional.
49
2.3 CONCLUSÕES PARCIAIS: Capacidade relacional
2.3.1 EDUCAÇÃO
Em alguns casos, os critérios normativos apontam uma necessidade mais precisa quanto
à existência de articulação, principalmente diante das atribuições e competências dos
órgãos envolvidos, como no caso da atuação dos Conselhos Estaduais de Educação, das
Secretarias responsáveis pela administração penitenciária e do Governo Federal. Por sua
vez, em outros casos, a integração é recomendável pelas boas práticas de governança
e, indiretamente, pelas atribuições dos atores, como no caso dos Conselhos
Penitenciários, Conselhos de Comunidade, Ouvidorias, Varas de Execução Penal, MP e
DP.
Diante disso, conclui-se que, no que diz respeito aos critérios e boas práticas
selecionadas para análise, a capacidade relacional, resultante dos arranjos institucionais
das UFs avaliadas, é pouco adequada, o que pode gerar prejuízo às entregas públicas de
interesse dos atores envolvidos.
2.3.2 SAÚDE
50
Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; e existência de comunicações
esporádicas entre as Secretarias de Saúde e o Ministério da Saúde para tratar de
procedimentos referentes à implementação da PNAISP, em geral por iniciativa dos
gestores locais.
Por finalizar, conclui-se que, tendo em vista os critérios e as boas práticas considerados
para análise, a capacidade relacional da política pública setorial, resultante dos arranjos
institucionais das UFs avaliadas, é pouco adequada, o que pode gerar prejuízo às
entregas públicas de interesse dos atores envolvidos.
2.3.3 TRABALHO
51
Considerando as atribuições inerentes a esses dois Conselhos de realizarem visitas aos
estabelecimentos penais, sua atuação no tema do trabalho prisional é bastante salutar
para o aperfeiçoamento da gestão dessa política, existindo, portanto, bastante espaço
para que essa atuação seja fomentada no âmbito das UFs, além dos casos relatados que
demonstram oportunidades de atuação integrada.
Portanto, conclui-se que, no que tange aos critérios e boas práticas selecionadas para
análise, a capacidade relacional, resultante dos arranjos institucionais das UFs avaliadas,
é parcialmente adequada, o que pode gerar prejuízo às entregas públicas de interesse
dos atores envolvidos.
52
CONCLUSÃO GERAL: AVALIAÇÕES COMPARATIVAS
Os exames foram realizados com o objetivo de analisar as variedades de governança e
dos arranjos institucionais das políticas públicas de educação, saúde e trabalho no
sistema prisional das UFs selecionadas, bem como as eventuais relações entre esses
aspectos e as entregas públicas ofertadas pelos órgãos competentes. Com efeito, a
governança de cada UF foi analisada a partir de parâmetros extraídos das normas e de
boas práticas reconhecidas, tendo sido apresentada mediante duas dimensões de
capacidades estatais (governamentais e relacionais).
Reitera-se que este Relatório deve ser utilizado para instruir as recomendações que a
CGU deve emitir aos órgãos do Poder Executivo Federal na próxima e última etapa da
auditoria. Além disso, pode ser utilizado como subsídio pelos gestores públicos das UFs
no sentido de revisar os próprios arranjos institucionais e, por consequência, a
implementação dessas políticas sociais no sistema prisional. A presente conclusão geral
sintetiza as considerações de cada capacidade estatal avaliada de forma comparativa
entre as diferentes políticas sociais.
53
Setor Institucionalização Implementação Avaliação
• Baixa utilização de instrumentos • Utilização de instrumentos para
formais de planejamento. previsão orçamentária pela
maioria das UFs;
• Nível insatisfatório de execução
dos convênios firmados com a
União.
Fonte: Elaborado pela equipe de auditoria.
54
Setor Coordenação Participação social Avaliação
• Fragilidades na formalização e
periodicidade das articulações • Ausência de influência das
realizadas pelas Secretarias de demandas de ouvidoria e das
Pouco
Educação Educação com outros órgãos do ações dos Conselhos nas políticas
adequada
Poder Executivo, com o Governo de educação prisional conduzidas
Federal e com outros atores da pelas Secretarias de Educação.
execução penal.
• Grupo Condutor parcialmente
• Ausência de influência das
atuante e pouco institucionalizado;
demandas de ouvidoria e das
• Comunicações esporádicas com
ações dos Conselhos na PNAISP, Pouco
Saúde atores da execução penal
os quais, em regra, não são adequada
(desvinculadas do Grupo Condutor) e
integrantes formais do Grupo
com o Ministério da Saúde (por
Condutor.
iniciativa do gestor local).
• Existência de parcerias no âmbito • Ouvidorias não são demandadas
intrafederativo, embora com acerca de temas relativos ao
deficiências em termos de avaliação trabalho no sistema prisional;
dos resultados; • Para a maioria das UFs, não há Parcialmente
Trabalho
• Existência de articulação entre a influência da atuação dos adequada
maioria das UFs e o Governo Federal, Conselhos na gestão das ações de
embora constem convênios com baixa fomento ao trabalho no sistema
execução financeira. prisional.
Fonte: Elaborado pela equipe de auditoria.
55
para atingir o objetivo de ampliar e qualificar as entregas públicas a partir de processos
de revisão e de inovação.
No que diz respeito à orientação metodológica (anexo II) que considera a relação direta
entre capacidades governamentais e grau de eficácia das políticas públicas (atingimento
das metas), bem como entre capacidades relacionais e grau de inovação, as análises
qualitativas possíveis de serem realizadas apontam que a área da saúde apresenta um
56
grau de execução e de inovação acima das outras políticas, mesmo com as deficiências
expostas nos achados de auditoria. Em comparação com o Plano Estratégico de
Educação no âmbito do Sistema Prisional (PEESP) – que está praticamente sem
efetividade –, e com a Política Nacional de Trabalho no âmbito do Sistema Prisional –
Pnat – que tem caráter recente –, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) possui maior nível de
detalhamento normativo e volume mais constante de recursos federais repassados aos
entes federativos (conforme Relatório nº 201801240), para além de estar associado ao
Sistema Único de Saúde – SUS.
57
ANEXOS
I – METODOLOGIA
Para a seleção das UFs a serem avaliadas, foi utilizado o critério de relevância de cada
política, por região geográfica, a partir de dados do Infopen 201616. Assim, foram
utilizados os seguintes indicadores por Unidade Federada: a taxa de aprisionamento, a
cobertura de população prisional em saúde, a percentagem de população prisional em
atividades educacionais e a percentagem de população prisional em atividades laborais.
Para cada área, foi multiplicada a taxa de aprisionamento pelo indicador específico de
cada setor com a finalidade de evidenciar a proporção da população beneficiária em
relação à população total da UF. Para cada região geográfica do País, foram ordenadas
as UFs por esse índice obtido pela multiplicação referida acima. Assim, com o objetivo
de abranger diferentes situações, foram selecionadas, para cada setor e região
geográfica, as UFs com o maior e menor índice, ou seja, maior e menor proporção da
população beneficiária em relação à população total da Unidade. Para fins de
aprimoramento das ordens de serviço emitidas para as Superintendências Regionais da
CGU, a equipe de auditoria realizou preliminarmente a avaliação das três áreas no
Distrito Federal. Com isso, apresenta-se no quadro a seguir o resultado da utilização
desse critério na seleção:
16
Foi utilizado o Infopen – Jun/2016, pois as demais atualizações do Infopen foram publicadas em período
posterior ao planejamento da auditoria.
58
Região UF Saúde Educação Trabalho
PE X X X
Nordeste BA X
RN X X
RS X X
Sul PR X X
SC X X
MG X
SP X
Sudeste
ES X
RJ X X X***
Fonte: Elaborado pela equipe de auditoria com dados do Infopen 2016.
* Foi avaliado nas três áreas por conveniência e com a finalidade de realização de ordem de serviço piloto.
** Não foi possível concluir o levantamento de informações em Rondônia em período anterior à relatoria.
***Devido às lacunas existentes nas informações disponibilizadas na Ordem de Serviço, essa UF não foi
levada em consideração nas análises referentes ao trabalho no sistema prisional.
No que diz respeito aos órgãos competentes avaliados nas UFs, optou-se pela seleção
de uma Secretaria para cada área avaliada, considerando as atribuições finalísticas
gerais e as competências normativas previstas nas políticas nacionais de cada setor.
Dessa forma, para as áreas de educação, saúde e trabalho, foram selecionados,
respectivamente, as Secretarias de Educação, de Saúde e os órgãos competentes pela
administração prisional.
Para alcançar os resultados, a presente avaliação foi realizada a partir das seguintes
etapas: a) elaboração de matriz de planejamento e de procedimento de auditoria a
partir das informações e resultados obtidos nas etapas anteriores da auditoria; b)
execução de ordem de serviço preliminar (piloto) de levantamento de informações no
Distrito Federal; c) revisão da matriz de planejamento e dos procedimentos de auditoria;
d) execução das ordens de serviço de levantamento de informações por 15
Superintendências Regionais da CGU; e) revisão e consolidação dos resultados das
ordens de serviço pela equipe de auditoria da Coordenação-Geral de Auditorias das
áreas de Justiça e Segurança Pública – CGSEG; f) elaboração de relatório pela equipe de
auditoria da CGSEG.
59
mensagens eletrônicas, sítios eletrônicos e outros registros administrativos. Ressalta-se,
para fins de registro acerca do não-escopo de auditoria, que não foram realizadas visitas
aos estabelecimentos penais, pois as ações de controle se concentraram no âmbito da
gestão das Secretarias responsáveis.
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Dimensão Componente Aspecto avaliado
Planejamento
Monitoramento
Implementação
Recursos e resultados
Integração intrafederativa
Coordenação
Articulação interfederativa
Capacidade relacional
Ouvidorias
Participação social
Conselhos
Fonte: Elaborado pela equipe de auditoria.
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II – REFERENCIAIS
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crack users in Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, supl. 4, p.s545-s557, 2008.
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gerenciando processos. Brasília: Enap, 2014.
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CIEGLINSKI, Thaís. Sistema carcerário é doente e mata, diz Rogério Nascimento, do CNJ.
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