Você está na página 1de 16

290

Avaliação de desempenho de sistemas de saúde


e gerencialismo na gestão pública brasileira
Perfomance evaluation of health systems and
management in the Brazilian public administration

Leonardo Carnut Resumo


Universidade de Pernambuco. Arcoverde, PE, Brasil.
E-mail: leonardo.carnut@upe.br Em saúde, a lógica da nova gestão pública considera
Paulo Capel Narvai
os serviços sanitários como atividades públicas não-
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. São -estatais, portanto executáveis por entes privados.
Paulo, SP, Brasil. Nesse cenário, a função de controle alcança o pros-
E-mail: pcnarvai@usp.br cênio na discussão sobre a consolidação do Estado
Regulador. Assim, este estudo se utilizou da técnica
da revisão narrativa descrita por Rothers para tecer
uma crítica inicial ao conteúdo em que o controle
administrativo do Estado vem delineando no setor
saúde. O foco recaiu sobre a forma direta como a
contratualização de resultados vem sendo expressa
em avaliações de desempenho dos sistemas de saú-
de. Como contra-argumento, reforça-se a atenção à
complexidade do campo tanto do ponto de vista do
intenso dissenso sobre termos fundamentais como
dos problemas metodológicos no estudo dos siste-
mas de saúde. Além disso, foram emitidos comen-
tários sobre as perspectivas de atuação para além
da função controle e a necessidade de a comunidade
científica reorientar o tema.
Palavras-chave: Sistema de Saúde; Avaliação em
Saúde; Estado; Saúde Pública; Sistema Único de
Saúde.

Correspondência
Leonardo Carnut
Rua Gumercindo Cavalcanti, s/n. São Cristóvão, Arcoverde, PE,
Brasil. CEP 56512-600.

290 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 DOI 10.1590/S0104-12902016144614
Abstract Introdução
The logic of the new public administration considers As transformações no Estado contemporâneo
health services as non-state activities, and therefore têm levado, no Ocidente, à hegemonia do deno-
executable by private entities. In this scenario, the minado Estado Regulador, cuja influência vem se
control function reaches the proscenium in the dis- espalhando por todo o mundo, no contexto histórico
cussion about the consolidation of the Regulatory da globalização. Com a notável exceção de Cuba, o
State. Thus, this study used the narrative review predomínio desse tipo de Estado, moldado pelas
technique, described by Rothers, to create the web relações de produção capitalistas, consolida-se no
of an initial critique regarding the content that período histórico de crise profunda (primeiras déca-
the administrative control of the State has been das do século XXI) do modelo de Estado neoliberal
outlining in the health sector. The focus was on nos Estados Unidos e na Europa, e produz efeitos até
the direct way of contracting results, expressed in mesmo na China – que, sob regime político de parti-
the performance evaluation of health systems. As do único, vem lenta, gradativa e firmemente abrindo
a counterargument, we turned our attention to the a segmentos empresariais privados a possibilidade
complexity of the field, both from the point of view de empreender e produzir sob controle estatal. No
of the intense disagreement regarding key terms, Brasil, essa característica do Estado (ademais dos
as well as the methodological problems in the study seus efeitos sobre a área econômica) repercute de
of health systems. Furthermore, we have comments modo importante também sobre os processos de
about the acting perspective that goes beyond the definição e implementação de políticas sociais, in-
control function and the need for the scientific com- cluindo a saúde pública (Cherchiglia, Dallari, 1999).
munity to refocus on the topic. O pressuposto, nesse tipo de Estado Regulador, é
Keywords: Health System; Health Evaluation; State; de que às instituições públicas incumbe, essencial-
Public Health; Unified Health System. mente, tomar as decisões sobre as políticas e progra-
mas de saúde e executar as ações pertinentes apenas
em áreas de atuação nas quais sejam indelegáveis,
como as de vigilância epidemiológica e sanitária. O
instrumento geral criado pelo Estado para regular
as ações desenvolvidas por particulares, com ou
sem finalidade lucrativa, é a agência reguladora.
No âmbito do sistema público de saúde brasileiro,
o Sistema Único de Saúde (SUS) convive com duas
agências reguladoras, a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) e a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), e com 27 secretarias estaduais
e cerca de 5.600 secretarias e departamentos mu-
nicipais de saúde, que operam no setor saúde como
agências reguladoras, uma vez que, ao executarem
parte dos serviços sob administração direta, man-
têm e ampliam – em ritmo acelerado – parcerias
sob formatos variados com organizações sociais e
empresas privadas para a prestação de ações e ser-
viços de saúde, buscando atribuir-se papel apenas
regulador na institucionalidade da saúde no País.
Nesse contexto, volta a ganhar destaque, no
Brasil e no exterior, o papel que o processo de

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 291


planejamento (incluindo as funções de controle e de Futebol, por ocasião da realização no Brasil da
avaliação) deve ter no exercício das atividades do Copa do Mundo de futebol, em 2014).
Estado, de modo geral, e da saúde em particular. Em resposta a essas expectativas, um novo pa-
Admitindo-se a tese, vitoriosa na maioria dos pa- radigma de gerenciamento dos recursos públicos
íses ocidentais, de que não cabe ao Estado prover emergiu nos anos 1990 (Behn, 1998), no qual a
diretamente assistência à saúde das pessoas, mas questão dos “resultados” aparece como forma de
que deve financiá-la e fixar normas e condições para solucionar o “problema” de uma máquina pública
que sejam executadas por particulares, resultam complexa, burocrática e processualista (Garces,
de importância estratégica as definições sobre os Silveira, 2002): trata-se da nova gestão pública,
recursos para executar essas ações, o modo como administração pública gerencial ou paradigma ge-
devem ser alocados, quem pode se habilitar a sua rencialista. Embora haja questionamentos quanto
gestão, como os trabalhadores do setor podem parti- à potência do paradigma gerencialista para asse-
cipar da gestão dos processos de trabalho nos quais gurar uma prestação a contento (Secchi, 2009), a
são sujeitos protagônicos e, ainda, como definir o nova administração pública vem se consolidando
que se deve fazer – ou não fazer – em saúde, como no Brasil e no exterior. Com essa consolidação,
realizar o controle público desses recursos, entre amplia-se a importância da avaliação de desempe-
outros aspectos decisivos sobre sistemas de saúde, nho como instrumento indispensável ao exercício
em regimes democráticos como o brasileiro. O Bra- da função controle por parte das instituições do
sil dispõe, a propósito, de legislação específica (Lei Estado.
8.142/1990) sobre o controle que a sociedade deve Atribui-se a Jules Henri Fayol, considerado o
fazer sobre as políticas públicas de saúde, por meio fundador da Teoria Clássica da Administração, a
de conferências e conselhos de saúde, dentre outros. identificação das cinco funções típicas do adminis-
Em cenários como o do Brasil, em que no setor trador de qualquer nível, em qualquer organização,
saúde o Estado se incumbe da execução de certas quais sejam: prever e planejar; organizar; comandar;
ações e serviços, mas convive com ações realizadas coordenar; controlar, sendo esta definida como a ve-
por particulares com (saúde suplementar) e sem rificação permanente do cumprimento das normas
(saúde complementar) fins lucrativos, a necessidade e regras estabelecidas (Fayol, 1990). Neste artigo
de o Estado controlar os investimentos realizados o foco está direcionado para a função controle, no
e a eficiência no uso desses recursos ganha desta- contexto específico do desempenho de sistemas
que. O exercício dessa atribuição (função controle) de saúde, pois o setor saúde vem reproduzindo a
pelo Estado implica, entre outros aspectos, avaliar tendência geral, na administração gerencial, de
o desempenho do conjunto das organizações que se materializar em indicadores de gestão, índices
constituem o sistema de saúde, além das próprias de desempenho e programas de mensuração de
instituições estatais. No caso brasileiro, não qualidade (Andrade, 2012; Brasil, 2011) (ainda que
obstante o consenso entre os analistas quanto ao alguns estudos venham considerando a polissemia
crônico subfinanciamento do sistema, é recorrente desses termos e os obstáculos de natureza metodo-
a afirmação de que não faltam recursos, e que o lógica em captá-los) (Samico et al., 2010). Busca-se,
problema seria a má gestão no uso desses recursos nesse cenário organizacional, conferir ao respecti-
(Nishijima, Biasoto-Júnior, 2013). A opinião pública, vo modelo avaliativo do desempenho as condições
os movimentos sociais, as lideranças políticas e que o tornem apto a captar a complexidade desses
sindicais vêm pressionando o Estado para que “o serviços, uma vez que a avaliação é indispensável
governo” “avalie o desempenho” do sistema de saúde à função de controle, mas avaliar a produção de pa-
e “tome as medidas necessárias para melhorar as rafusos é bem diferente de avaliar desempenho de
coisas”, exigindo-se “hospitais padrão-Fifa” (por sistemas de serviços, como saúde e educação, para
analogia à qualidade de estádios de futebol impostas ficar em apenas dois exemplos relativos ao exercício
ao governo brasileiro pela Federação Internacional de direitos sociais.

292 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


Assim, quando se trata de objetos complexos forma de propriedade e a missão da organização. No
como a mensuração de desempenho de sistemas caso do Estado brasileiro, são bem conhecidos os três
de saúde (Roemer, 1991; Lobato; Giovanella, 2012) modelos de administração pública: o patrimonialista,
o problema não recai apenas na dimensão paradig- o burocrático e o gerencial. O patrimonialismo foi
mática-conceitual, mas adentra a seara metodoló- hegemônico entre nós até a Revolução de 1930 e a
gica (Hoffman, 2012). O próprio entendimento do administração burocrática predominou até o advento
que é um “sistema de saúde”, para esse propósito da Reforma Gerencial do Estado, em 1995, que buscou
avaliativo, requer a configuração de uma aborda- introduzir o paradigma gerencialista.
gem metodológica específica que deve considerar A clara separação entre o Estado e o mercado é,
a compatibilidade dos indicadores com o que se en- para analistas como Bresser-Pereira (1996), essencial
tende por sistema nesse contexto (Brouselle, 2011), para o capitalismo, uma vez que a democracia só
esperando-se que sua abrangência extrapole, por pode existir quando a sociedade civil, formada por
coerência, o próprio setor saúde. Não obstante, as cidadãos, distingue-se do Estado ao mesmo tempo
estratégias com base em incentivos ao desempenho em que o controla. Por isso, em face às exigências de
têm se ampliado. Um exemplo é o sistema de ranking novos papéis desses agentes econômicos e a impreg-
implantado na Inglaterra, a partir do ano 2000, em nação da ciência como organizadora da vida social,
que se atribui estrelas aos hospitais, tornando pú- tornou-se necessário desenvolver um tipo de admi-
blicos os resultados e estabelecendo sanções ou be- nistração que partisse não apenas da clara distinção
nefícios conforme o cumprimento de metas (Conill, entre o público e o privado, mas também gerasse a
2012). Desse modo, toda a complexidade do processo separação entre o político e o administrador público.
de avaliação em saúde fica reduzida ao desempenho Não há unanimidade, porém, em relação à tese da
e, este, a um mero ranqueamento de organizações. separação Estado-mercado. Para Mascaro (2013), sob
Neste artigo são apresentados e discutidos os re- o capitalismo não há como separar Estado e mercado,
sultados de uma revisão narrativa, tal como concei- uma vez que são os interesses deste que o moldam,
tuada por Rother (2007), em uma perspectiva crítica, pois sua forma política só pode ser compreendida
partindo-se da literatura mundial sobre avaliação de como derivação da forma mercadoria. Por essa razão,
desempenho de sistemas de saúde, tendo em vista o
caráter estratégico que tais avaliações assumem na A compreensão do Estado só pode se fundar na
gestão das políticas e programas de saúde no Estado crítica da economia política capitalista, lastreada
contemporâneo, e também o crescente interesse necessariamente na totalidade social. Não na ideo-
pelo assunto no Brasil, conforme atesta a iniciativa logia do bem comum, ou da ordem, nem do louvor ao
de criação o Índice de Desempenho do SUS (IDSUS) dado, mas no seio das explorações, das dominações
no início de 2012 e criticado por alguns analistas e das crises da reprodução do capital […]. Nesse
(Viacava, 2012). sentido, deve-se entender o Estado não como um
aparato neutro à disposição da burguesia, para
Função controle segundo os que, nele, ela exerça o poder. É preciso compreender
paradigmas burocrático e na dinâmica das próprias relações capitalistas a
razão de ser estrutural do Estado […] [sendo este]
gerencialista no setor público um derivado necessário da própria reprodução ca-
brasileiro pitalista; estas relações ensejam sua constituição
ou sua formação (Mascaro, 2013, p. 89).
Governar implica exercer a função de controlar as
ações e operações realizadas por organizações de pro-
priedade estatal ou particular, de interesse público. Na história da organização do setor público, o
Os graus que tais controles podem assumir variam paradigma racional-legal é herança intelectual de
de uma organização para outra, e de acordo com a três pensadores: Woodrow Wilson, Frederick Taylor

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 293


e Max Weber. De fato, os três construíram a base 1992). Assim, em meados dos anos 1970, as críticas
conceitual na qual a maioria dos Estados até então relativas ao tamanho do Estado, à adoção de me-
vigentes organizaram suas administrações. Wilson canismos de regulação econômica de inspiração
(1955) afirmava que a administração deveria ser sepa- keynesiana1 e à pouca capacidade de resposta ágil
rada da política. Para ele, depois que os responsáveis e eficiente do Estado às demandas sociais emergen-
pelas políticas tomassem as decisões de Estado, sua tes se agravaram. Pari passu às críticas relativas
prática poderia ser delegada àqueles bem versados na ao papel do Estado, a crise do petróleo em 1974 e a
“ciência da administração”, que executariam a tarefa globalização da economia após a Queda do Muro de
da forma mais eficiente possível. Isso seria possível Berlim, com o fim da utopia comunista (Hobsbawm,
porque, segundo Taylor (1995), entre os vários mé- 1995) evidenciaram ainda mais a problemática de
todos e implementos utilizados em cada elemento um Estado-Interventor. Não obstante, como solução
de cada caso, existe sempre um método e um imple- à crise estrutural do capital, apostou-se no recuo do
mento mais ágil e melhor que todos os outros. Weber Estado em prol do reaquecimento econômico, como
(1988), por sua vez, afirmava que a burocracia era o elencado na maioria dos projetos políticos neolibe-
mais eficiente mecanismo organizacional; assim, a rais adotados em vários países (Laurell, 2002).
burocracia seria ideal para executar os princípios No contexto histórico aberto em nível mundial
científicos aos quais Taylor se referia (Behn, 1988). com a Queda do Muro de Berlim, e logo em seguida
O estabelecimento do paradigma burocrático com o fim da União Soviética (um típico Estado-
na organização do Estado rapidamente ganhou -Interventor), rapidamente a máquina pública
aceitação, muito motivada por um contexto sócio- adaptou-se, em muitos países, aos moldes do Estado
-histórico no qual se apontava a necessidade de Regulador. Não foi diferente no Brasil, com a redefi-
combate ao patrimonialismo oriundo da formação nição de regras que passaram a reger a administra-
do Estado brasileiro. Como afirma Gilberto Freyre ção pública. Para Bresser-Pereira (1996) essas novas
(1998), a origem do Estado Patrimonial brasileiro regras se apoiam “na proposta de administração pú-
se localiza na vinculação entre “unidade familiar” e blica gerencial, como uma resposta à grande crise do
“unidade de produção”, que se confundiam na Casa Estado dos anos 1980 e à globalização da economia”
Grande, e que se consolidou ao longo dos séculos. (p.1). Para o autor, os dois fenômenos supracitados
Por isso, no período pós-Revolução de 1930 (“ge- impuseram, em todo o mundo, a redefinição das
tulista”), racionalizar a gestão era uma forma de funções do Estado e da sua burocracia, com vistas
reafirmação dos valores propriamente burocráticos a atribuir-lhe como missão principal a ênfase nos
na administração pública (Bresser-Pereira, 1996) resultados. A despeito dos diferentes significados
visando extirpar qualquer tipo de manifestação do suscitados pela nova gestão pública, Bresser-Pereira
patrimonialismo fortemente entranhado na tessi- (1996) argumenta com o fato de que a necessidade
tura social brasileira. desse modelo decorria não só da diferenciação de
Contudo, no decorrer da consolidação do “modelo estruturas e da complexidade crescente da pauta
burocrático” no âmbito da administração pública de problemas a serem enfrentados pelo Estado, mas
brasileira, muitas mudanças significativas foram também de legitimação da burocracia perante as
ocorrendo, em particular as relacionadas ao ques- demandas da cidadania. Behn (1998) assinala que
tionamento da eficiência das ações públicas diante a nova gestão pública é uma nova conceituação da
das novas necessidades advindas do avanço das administração pública que “consiste de vários com-
sociedades capitalistas, da agudização das relações ponentes inter-relacionados”, buscando
conflituosas entre Estado-mercado e da ressignifi-
cação do papel dos Estados Nacionais na proteção Fornecer serviços de alta qualidade que os cidadãos
da vida dos cidadãos (Bresser-Pereira, 1996; Fiori, valorizem; aumentar a autonomia dos gestores

1 Referente à teoria econômica baseada nas ideias de John Maynard Keynes.

294 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


públicos, especialmente dos controles da agência Claramente identificada com a primeira pro-
central; medir e premiar organizações e indivíduos posta de contratualização, a administração pública
com base no cumprimento das metas exigidas de brasileira vem desenvolvendo uma gestão na qual
performance; tornar disponível recursos humanos o alcance dos resultados vem acompanhado de me-
e tecnológicos que os gestores necessitam para de- canismos de ganhos/perdas de incentivos. Mesmo
sempenharem bem suas tarefas; e, reconhecendo as sabendo-se que a maior restrição da administração
virtudes da competição, manter uma atitude aberta pública brasileira é a rigidez de procedimentos
a respeito de quais propósitos públicos devem ser administrativos e uma execução orçamentária
desempenhados pelo setor privado, e não pelo setor legalmente difícil (ao qual se aplicaria a segunda
público (p. 39, grifo nosso). proposta), a aposta da vertente brasileira repousa
na modificação do estilo de trabalho do servidor;
Trata-se, em suma, de uma reestruturação das ou seja, na aquisição de um comportamento em-
organizações públicas para atribuir-lhes flexibili- preendedor dos gerentes públicos, inseridos em um
dade administrativa e responsabilização (Garces, ambiente organizacional tradicionalmente burocrá-
Silveira, 2002). Para materialização dessa proposta, tico (Garces; Silveira, 2002) de modelagem clássica.
a “contratualização de resultados” é uma das ferra- Pode-se reiterar, portanto, que o objetivo geral
mentas mais utilizadas, tornando-se, portanto, um da reforma administrativa conduzida em âmbi-
mecanismo cada vez mais incorporado às políticas to brasileiro foi fomentar a passagem de uma
públicas. Daí então, os resultados se tornam o alvo administração pública burocrática para uma ad-
em potencial das organizações públicas que passam ministração pública gerencial. As características
a focar na melhoria de seus desempenhos, para isso da administração gerencial podem ser elencadas
tentando equacionar adequadamente os requisitos como: (1) descentralização do ponto de vista político,
de autonomia (de gestão) e controle (de resultados) transferindo recursos e atribuições para os níveis
(Pacheco, 2009). políticos regionais e locais; (2) descentralização
No decorrer da implantação do paradigma administrativa, por meio da delegação de autoridade
gerencial, a contratualização de resultados foi to- para os administradores públicos transformados
mando distintos significados nas administrações em gerentes crescentemente autônomos; (3) orga-
públicas, o que Kettl (1997) identificou como duas nizações com poucos níveis hierárquicos, em vez de
correntes de contratualização diferentes. Por um piramidal, (4) pressuposto da confiança limitada e
lado, tem-se a corrente chamada make managers não da desconfiança total; (5) administração voltada
manage, reunindo países que criaram incentivos para o atendimento do cidadão, ao invés de autorre-
visando influenciar comportamentos e, por outro, ferida; (6) controle por resultados, a posteriori, em
let managers manage, expressando a visão de que vez do controle rígido, passo a passo, dos processos
há inúmeras barreiras a serem removidas, regras, administrativos (Bresser-Pereira, 1996).
procedimentos e estruturas rígidas que impedem o Devido à forte ênfase na execução orçamentária
administrador público de administrar. No primeiro e financeira orientada pelos resultados obtidos (Gar-
caso, a contratualização de resultados representa ces, Silveira, 2002) é que o paradigma gerencialista
uma nova forma de controle e vem acompanhada do recomenda atenção ao planejamento e à gestão
estabelecimento de sanções positivas e negativas; o estratégica. A estratégia, entendida como uma for-
país que levou mais longe tal perspectiva foi a Nova ma de sobrevivência contemporânea a um mercado
Zelândia, com a primeira geração de reformadores. cada vez mais competitivo (Touraine, 2000), invade
No segundo caso, o acordo de resultados é visto como o espaço público gerando concorrência pública entre
instrumento de coordenação, ajuste e aprendizado seus entes. A estratégia se torna a pedra fundamen-
organizacional. A experimentação, e não o controle, tal para o alcance dos resultados e muitas vezes
é a aposta para a melhoria do desempenho. Essa tem obriga a gestão, em nome de um desempenho, a
sido a marca das reformas na Austrália e Suécia. lançar mão da seletividade e da focalização. Nessa

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 295


perspectiva, a introdução de “programas” e um pro- O vocábulo “desempenho” apresenta diversas
cesso de gerenciamento cada vez mais orientado por significações a depender do autor e da seara cien-
“pacotes programáticos” adentram o ambiente atual tífica na qual se localiza o termo. No sentido lato,
da administração pública engendrando progressi- pode-se dizer que desempenho (ou performance) é
vamente novos valores e atitudes empreendedoras um conjunto de características ou capacidades de
características da administração orientada para comportamento e rendimento de um indivíduo2, de
resultados (Garces; Silveira, 2002), o que faz com uma organização (Corrêa; Horneaux Júnior, 2005)
que alguns autores (Smith, 2002; Matias-Pereira, ou grupo ou de seres humanos (Reifschneider,
2008) batizem a administração gerencial como um 2008), de animais3 ou de outros seres vivos (Ling,
2

processo de “gestão por resultados” de forma mer- 1977), de máquinas ou equipamentos (Porto; Creppe,
cantilizada. A especificidade do resultado como pro- 2002), de produtos4, sistemas5, empreendimentos
duto máximo dessa filosofia de gestão deposita nas (Lourenzani; Quieroz; Souza Filho, 2008) ou proces-
metas a redução do escopo administrativo, sendo sos6, em especial quando comparados com metas,
estas representativas de toda cadeia de intangíveis requisitos ou expectativas previamente definidos.
intrínseca aos processos organizacionais, como a Em sentido mais estrito, Bergamini e Beraldo (1988)
qualidade por exemplo. Nessa conjuntura, como definem desempenho como uma ação, atuação,
refere Busanelo (2011), as metas organizacionais ou comportamento qualificados a partir de uma
se resumem a um sistema de controle típico que expectativa. Para Siqueira (2002), o desempenho
envolve quatro passos essenciais: “(i) estabelecer pa- é uma defasagem a ser mensurada a partir de uma
râmetros de desempenho; (ii) medir o desempenho; expectativa criada sobre determinado comporta-
(iii) comparar o desempenho com os parâmetros e mento. Misoczky e Vieira (2001) identificam alguns
determinar desvios; e (iv) tomar medidas corretivas significados para o termo desempenho, presentes na
(na maior parte das vezes, nos comportamentos dos literatura sobre organizações: a) como desempenho
indivíduos)” (p. 2, grifo nosso). “dramático” e “cultural” na interação entre gerentes
e outros membros da organização no processo de
Lógica meritocrática e função construir o sentido da identidade organizacional;
controle: resultado, desempenho e b) como resultado de atividades quantificáveis por
meio de medidas como o lucro contábil ou o retorno
premiação do investimento, por exemplo, sendo sinônimo de
eficiência; c) como o que é atingido dos objetivos
No senso comum, o desempenho do ente que se formais. Como se vê, é consenso que o desempenho
pretende avaliar goza de certo consenso. Contudo, está relacionado a uma expectativa de cumprimento
do ponto de vista científico, o termo detém diversos comportamental previamente estabelecido.
sentidos e formas de aplicação que se diferenciam, O desempenho está relacionado à lógica de supe-
basicamente, a partir ou do que está sendo avaliado ração de expectativas que atribuem um mérito fun-
ou da ênfase no processo que está sob avaliação cional àquele que executou algo além do esperado.
(Irwin, 2010). Não obstante, desempenho pode ser entendido como

2 PROCÓPIO, M. L. Reflexões sobre a avaliação individual de desempenho. Portal Guia RH. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/
Desempenho/Artigo/3163/reflexoes-sobre-aavaliacao-individual-de-desempenho.html>.Acesso em: 10 nov. 2010.
3 RINK, B. Equitação e liderança. Palestra de Bjarke Rink para os alunos do Curso de Instrutor de Equitação/2004 na Escola de Equitação
do Exército, em 16/03/2004. Disponível em: <http://www.desempenho.esp.br/noticia/get_noticia.cfm?id=1176>. Acesso em: 10 nov. 2010.
4 CROW, K. Product development metrics. DRM Associates. Disponível em: <http://www.npdsolutions.com/pdmetrics.html>. Acesso em:
10 nov. 2010.
5 HILL, J. System performance management moving from chaos to value. Disponível em: <http://www.walker-institute.ac.uk/~swsellis/
tech/solaris/performance/doc/blueprints/0701/SysPerfMgmt.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2016.
6 JESUS, L. Medição de desempenho de processos. Disponível em: <http://blog.bpmglobaltrends. com.br/download/abpmp_medicao_de-
sempenho_processos_v060808.pdf >. Acesso em: 24 mar. 2016.

296 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


uma gradação de resultados conceitualmente rela- organizacionais. Esse modelo da aquisição dos
cionados à busca de um prêmio por mérito atingido recursos representa, para vários gestores, a de-
e, portanto, compõe a lógica da meritocracia. Con- finição operacional do objeto da organização,
tudo, no paradigma gerencial, o desempenho ficou sugerindo que o sucesso reside na aquisição de
associado apenas à produtividade e à quantidade de recursos, no crescimento e na adaptação. Mesmo
trabalho (Barbosa, 1996). Contudo, toda organização sob o surgimento de ideias mais avançadas como
necessita ser avaliada por meio de um sistema que a de condição traçadora que considera, além dos
possibilite, por processos de retroalimentação, rever procedimentos, os resultados, desfechos e efeitos
suas estratégias e métodos de trabalho. Assim ela terapêuticos (Tanaka; Espírito Santo, 2008), esse
se recicla, oxigena-se e torna-se capaz de sobreviver modelo defende que a capacidade para uma orga-
em ambientes turbulentos e mutáveis (Souza, 2002). nização de se apossar dos recursos necessários ao
Bons desempenhos, sob a lógica meritocrática, são seu bom funcionamento e a sua sobrevivência no
incentivados pela premiação. O foco de abordagem ambiente são, em absoluto, critérios importantes
de um processo que avalia o desempenho de deter- para avaliar seu desempenho (Sicotte; Champag-
minado ente é a relação entre contribuição versus ne; Contandriopoulos, 1998).
retribuição. Constata-se que, dependendo da época, No modelo das relações humanas (que está
do tipo e da forma pela qual foi conduzida a ava- baseado numa visão orgânica ou natural das orga-
liação, a relação contribuição-retribuição sofrerá nizações), coloca-se a ênfase nas atividades neces-
alterações (Neto; Gomes, 2003). sárias à manutenção de um clima satisfatório de
O desempenho, ainda assim, pode ser entendido colaboração dentro da organização e na satisfação
de diversas formas a depender do suporte teórico das necessidades das pessoas que nela trabalham.
em que a avaliação organizacional repousa. No Isso sugere que uma organização com alto desem-
modelo do alcance das metas (mais utilizado pelos penho é aquela que consegue funcionar enquanto
analistas e pelos técnicos em organizações) corres- ambiente de trabalho saudável. A estabilidade, o
ponde à conceituação funcionalista, racional, da consenso, a motivação, o ambiente de trabalho são
organização, que foi e continua sendo a perspectiva valores fundamentais.
dominante na teoria das organizações. Segundo Um quinto modelo que conforma a ideia de
essa abordagem, uma organização existe para desempenho organizacional é o modelo político
cumprir objetivos específicos e a avaliação do seu (strategic constituencies model) segundo o qual
desempenho consiste então em avaliar em que me- uma organização com alto desempenho é aquela
dida a organização atinge seus objetivos (Sicotte; que consegue satisfazer os objetivos internos e
Champagne; Contandriopoulos, 1998). externos. Esse modelo está fundamentado numa
Um segundo modelo frequentemente utilizado visão política ou estratégica segundo a qual as or-
é o modelo dos processos internos segundo o qual ganizações constituem arenas políticas nas quais
uma organização com alto desempenho é aquela que os atores interagem em função dos seus próprios
funciona sem solavancos, de acordo com as normas interesses estratégicos. Aqui, a ênfase está colocada
estabelecidas, sem tensões excessivas. Valoriza-se na negociação e no compromisso.
então a estabilidade e o controle. Esse modelo coloca O modelo da legitimidade social (social legi-
a medida do desempenho organizacional ao nível timacy model), que se insere numa perspectiva
dos processos internos de produção. ecológica do funcionamento das organizações,
Quando as organizações são trabalhadas no considera que uma organização é eficiente na me-
modelo de sistemas abertos, dá-se uma grande dida em que ela se mantém e sobrevive conciliando
importância às relações estabelecidas entre os processos e os resultados com valores sociais,
a organização e seu ambiente. A aquisição e a normas e objetivos. Reputação, prestígio e imagem
manutenção de um nível de recursos adequado constituem, então, os indicadores de desempenho
tornam-se então alguns dos principais desafios (Lobato; Giovanella, 2012).

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 297


Esses modelos de avaliação do desempenho uniformes e o ambiente estável (Champagne, 2003;
organizacional são baseados em diversas repre- Klazinga, 2010).
sentações conceituais do desempenho. Outros Contudo, considerando apenas o serviço de
autores escolheram renunciar a definir (no nível saúde como foco de mensuração, a medição do
conceitual) o desempenho e propuseram modelos desempenho já necessita levar em consideração
que se poderia qualificar de “metodológicos” da diversos atributos. A natureza do trabalho em
avaliação do desempenho. O modelo zero defeito saúde já lhe confere, por si só, características que
(fault-driven model) estima que uma organização não cotejam com a noção de controle característica
seja considerada de alto desempenho se ela não co- dos processos industriais. O trabalho em saúde é
meter erros ou se não existir sinais de ineficiência. essencialmente: a) coletivo; b) compartimentaliza-
Em vez de definir o que poderia ser o desempenho, do; c) interdependente e d) marcado pela incerteza
trata-se aqui de avaliá-lo identificando os momen- da demanda (Ribeiro; Pires; Blank, 2004). Uma vez
tos de mau desempenho. O modelo comparativo de que o serviço é um processo de trabalho (Meirelles,
desempenho (comparative high performance mode) é 2006), os serviços de saúde podem ser considerados
um outro modelo metodológico, segundo o qual uma como um trabalho em saúde em processo.
organização é avaliada em comparação com outras Segundo as características elencadas por Mei-
organizações semelhantes. Geralmente, o critério de relles (2006), os serviços em geral têm algumas
desempenho é então escolhido em função dos dados características que são: (1) intangibilidade: ele não
disponíveis para as diversas organizações que estão pode ser tocado, ou seja, não é dotado de base ma-
sendo comparadas. Finalmente, o modelo metodoló- terial; (2) inestocabilidade: não pode ser estocável,
gico mais popular da avaliação do desempenho das ou seja, não possui uma base material que possa
organizações de serviços de saúde é o modelo nor- fazer que seja guardado na espera do seu consumo;
mativo do sistema de ação racional. Inspirando-se (3) irreversibilidade: o serviço uma vez iniciado não
nas teorias da ação em sociologia (Weber, Parsons, pode ser desfeito – ele pode até parar no meio de sua
Simon e outros), Donabedian (1996) propôs que a execução, mas não pode ser retroagido, ou ainda,
qualidade dos cuidados ou, mais geralmente, o de- ele não pode retroceder; (4) ele é dependente de
sempenho pode ser avaliado utilizando normas não recursos humanos: não há como prestar um serviço
apenas de resultados, mas também, de processo e de sem pessoas que o executem; (5) é dependente de
estrutura conforme os cuidados relacionados em informação: devido à interface prestador-usuário,
determinada rede regional em construção. a informação é fundamental para que haja enten-
dimento sobre o serviço que se está prestando; (6)
Função controle e dificuldades em indistinguibilidade: o processo e o produto são
avaliar o desempenho de sistemas indistinguíveis, ou seja, o produto é consumido no
ato de sua execução.
de saúde como objeto complexo Os serviços de saúde, além de todas essas ca-
racterísticas (apenas por serem serviços) ainda
Na indústria, a aferição do desempenho é possí- possuem mais quatro (próprias do fato de serem
vel uma vez que há um produto concreto derivado de saúde): (1) não são passíveis de padronização:
do processo de trabalho. A avaliação do desem- mesmo com uso de protocolos que guiam as ações,
penho do sistema é feita sob duas circunstâncias os serviços de saúde são praticamente incapazes de
basicamente: quando a produção de uma dada or- serem replicados identicamente (Spiller et al., 2009;
ganização é orientada pelo produto ou quando há Nogueira, 1997); (2) são altamente dependentes das
um processo de produção de um determinado bem, relações interpessoais: vínculo, escuta, paciência,
de modo isolado de outros processos. Nesse tipo de tolerância e outros atributos próprios da psicolo-
arranjo, a causalidade é conhecida, o desempenho gia humana no tratamento do outro; (3) dependem
pode ser definido em indicadores, os produtos são de recursos humanos muito qualificados: todos os

298 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


profissionais de saúde requerem no mínimo segun- res e ações de diversos sistemas sociais. Os sistemas
do grau completo e ainda dois anos (no mínimo) de saúde incluem o conjunto das intervenções que
de formação na área específica de saúde (Mendes, têm como meta problemas específicos, sociais ou
2011); (4) apresenta fragmentação organizacional: de saúde; cobrem toda a gama das intervenções,
um paciente muitas vezes depende da prestação de dos serviços preventivos aos serviços paliativos,
vários serviços em organizações diferentes para passando pelos serviços de diagnósticos e curativos.
resolver seu problema de saúde, pois nem todas Compreendem as grandes funções da saúde pública
as organizações possuem os recursos suficientes (vigilância, proteção e promoção da saúde, preven-
para resolver todos os problemas de um usuário ção das doenças, avaliação do sistema dos serviços
(Nusbaumer, 1984). de saúde, desenvolvimento das competências em
Para os autores contemporâneos os serviços de saúde pública) (Levesque, Bergeron, 2003), mas
saúde podem ser classificados como: a) serviços fi- os sistemas de saúde não têm responsabilidades
nais, relacionados ao bem estar e à qualidade de vida diretas, ou governabilidade, sobre o conjunto das
dos consumidores (Marshall, 1988); b) serviços de condições sociais, econômicas, culturais, demográ-
suporte às necessidades pessoais (Walker, 1985); c) ficas que afetam a capacidade das pessoas de viver
serviços governamentais devido ao fato de o Estado bem e por muito tempo.
promover esses serviços, visto que não tem valor Assim, a compreensão do desempenho nos es-
agregado (Conill, 2006); d) serviço do tipo puro, ou tudos de sistemas de saúde tem recebido muitas
seja, aquele que é único e exclusivo – o resultado críticas negativas pelas suas deficiências. Muitos
do processo de trabalho é o próprio trabalho sem sistemas de desempenho sofrem de incompletude,
necessariamente um produto resultante (Meirelles, no entanto é inevitável que alguns aspectos da pres-
2006), sendo este externo ao processo. tação do serviço sejam omitidos nas medidas de de-
Logo, comparada às condições industriais e to- sempenho. A implicação disso é que alguns aspectos
dos os aspectos relativos à especificidade da saúde medidos ganham prioridade e os não-medidos são
como serviço, fica evidente a complexidade do tema negligenciados, ou seja, o velho ditado de que “o que
quando se trata de sistemas de saúde. Estes lidam é medido, é feito” (Exworthy, 2010). Há pelo menos
com organizações que tem obrigações centradas três problemas centrais relativos à mensuração de
nos usuários com a produção de múltiplos “pro- desempenho de sistemas de saúde: em primeiro lu-
dutos”, têm uma orientação fortemente focada no gar, a consistência ao longo do tempo é importante
processo e sua produção é geralmente confundida em medidas de desempenho, consistência na visão,
com a de outros coprodutores de saúde. Ainda, os na regulação e no uso dos incentivos de mercado.
produtos dos sistemas de saúde são entrelaçados Em segundo lugar, as tensões se encontram entre
de causalidades desconhecidas. Há dificuldades a automelhora, a autorregulação e as pressões ex-
em definir padrões de qualidade nos indicadores de ternas. Onde se verificar melhor equilíbrio entre
desempenho e os desafios aumentam à medida do essas formas de regulação haverá margem para
aumento dos serviços e pela dinâmica do ambiente outras considerações como o papel dos gerentes,
(Klazinga, 2010). a avaliação pelos pares e os reguladores externos.
Fora isso, como afirma Conill (2006), quando se Em terceiro lugar, há a preocupação de que o uso
busca analisar comparativamente os sistemas de de metas tende a concentrar-se sobre as áreas que
saúde, o foco tende a recair sobre os “sistemas de são medidas, enquanto as que não o são tendem a
serviços e cuidados”. Entretanto reduzir os sistemas ser negligenciadas, de modo que o que é medido é
de saúde aos sistemas de serviços e cuidados em saú- gerenciado, mas permanecem dúvidas sobre aquilo
de é um dos problemas mais grosseiros da área. Os que não é medido (Smith, 2002). Assim, avaliar o
primeiros são muito mais abrangentes e se referem desempenho de sistemas de saúde requer um mo-
à saúde em um sentido ampliado a qual é resultado delo conceitual claro, no qual se explicite o que se
de uma interação complexa de um conjunto de fato- considera desempenho do sistema de saúde, que se

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 299


disponha de bancos de dados que disponibilizem saúde são muito raramente reformados em grande
os dados necessários à construção dos indicadores escala (e estão ainda constantemente experimen-
e de uma política e um sistema de gestão que use tando pequenas mudanças); c) Aplicabilidade e
constantemente as informações produzidas nas ava- transferência: a pesquisa de sistemas de saúde é
liações, nas tomadas de decisões (Klazinga, 2010). altamente contexto-específica, isso significa que
As pequisas sobre sistemas de saúde apresentam estudos realizados em uma jurisdição não podem
uma ampla gama de delineamentos e métodos. O ser aplicáveis ou transferíveis ipsis litteris a outra
The Methodological Reader publicado pela Alliance jurisdição; d) Padronização: como visto há uma
for Health Policy and Systems Research em 2012 falta de concordância conceitual em termos-chaves,
classifica os desenhos de pesquisa nessa área em uma diversidade de quadros teóricos e de paradig-
duas principais estratégias de pesquisa: desenhos mas e discordância quanto ao modo como métodos
fixos que são estabelecidos antes da coleta de da- diferentes dialogam e as circunstâncias nas quais
dos, e desenhos flexíveis que evoluem durante o eles podem ser úteis em responder diferentes
processo de estudo. Estratégias fixas normalmente tipos de questões; e) Priorização: a comunidade
usam abordagens mais positivistas no desenho do de pesquisadores de sistemas de saúde também
estudo, os dados são geralmente quantitativos e os carece de um processo de consenso amplo sobre as
investigadores procuram principalmente medir o prioridades que dinamicamente são identificadas
impacto de um fenômeno em condições altamente e o tipo de pesquisa que deveria ser conduzida e
específicas e controladas. Projetos experimentais e financiada. Dado o contexto específico da pesquisa
modelagens são acoplados com análise estatística de sistemas de saúde, esse desafio é agravado pela
geral. Dentre as técnicas comuns incluem a coleta possibilidade de transferência limitada de definição
de dados tipo surveys, entrevistas estruturadas, de prioridades de uma jurisdição a outra e, portanto,
semiestruturadas e pesquisas de opinião. Desenhos requer a capacidade supranacional de priorização; f)
flexíveis, por outro lado, são mais de natureza Diversidade comunitária: na pesquisa em sistemas
interpretativa e lidam com dados qualitativos de saúde a comunidade não é na realidade uma
primordialmente. Projetos globais incluem estudo comunidade. Como um campo de investigação que
de caso, grounded theory, etnografias, histórias de está devotado ao fortalecimento dos sistemas de
vida e métodos fenomenológicos. Entrevistas, gru- saúde e entendimento do contexto nos quais eles
pos focais, diversas modalidades de observação e funcionam (particularmente avançando no debate
revisão de documentos são comumente as fontes de sobre os aspectos teóricos e desenvolvimento de
dados. Os dados são analisados de forma interativa métodos particulares), os pesquisadores de sistemas
por processos interpretativos (Hoffman et al., 2012). de saúde vêm de diferentes lugares, foram treinados
Para Hoffman et al. (2012) os desafios na men- em diferentes disciplinas, trazem diferentes tradi-
suração do desempenho de sistemas de saúde estão ções, falam línguas diferentes, preferem diferentes
relacionados à: a) Generalização: os achados de métodos e focam em diferentes questões.
pesquisas muitas vezes dependem do contexto em
particular em que os estudos foram conduzidos, Desempenho de sistemas de saúde
o que torna difícil generalizá-los. Além disso, os para além da função controle:
métodos para alcançar validade externa e promo-
ver a generalização estão sujeitos ao escrutínio de avaliar com quem e para quem?
diferentes tradições de pesquisa com diferentes
orientações metodológicas; b) Comparabilidade: Construir um quadro teórico de desempenho de
o número reduzido de sistemas de saúde em todo sistemas de saúde não é uma atividade simples nem
o mundo (pouco mais de 200) é um problema um exercício acadêmico neutro, mas deve capturar
para o uso de certos métodos empíricos como as tanto noções administrativas quanto políticas. Por
análises transversais, além disso, os sistemas de isso, a construção de muitos quadros de desempe-

300 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


nho baseia-se em processos de desenvolvimento mesmo tempo influenciadas pelas estruturas do
que incluem os principais grupos de interessados sistema e as constituem processualmente.
(stakeholders) (Klazinga, 2010). As práticas dos atores organizam os processos
A medição do desempenho, entendida como um por meio dos quais os recursos do sistema são mo-
insumo para avaliação na gestão, deve ter por fina- bilizados e utilizados para produzir os bens e servi-
lidade propiciar um processo de decisão oportuno ços necessários para alcançar as metas almejadas
no tempo, com confiabilidade e abrangência de in- (organizacionais, pessoais, de grupo). Os atores são,
formações, segundo objetivos dos distintos atores portanto, interdependentes (Brouselle et al., 2011), e
(Tanaka; Melo, 2008). Em Avaliações para Gestão se poderia dizer que essa interdependência é a base
de Serviços de Saúde (AGSS) é importante que to- da dinamicidade dos sistemas de saúde. A dinâmica
dos aqueles que participam ou que serão afetados dos sistemas de saúde pode ser caracterizada por
pelas ações desencadeadas pela tomada e prática da funções e relações que se estabelecem entre seus
decisão, tornem-se partícipes e interessados pelos componentes. Resultam em políticas, ações e servi-
resultados da avaliação. A avaliação tem que con- ços, contribuem para os resultados – negativos ou
vergir para as necessidades dos atores da avaliação, positivos – e determinam o desempenho dos siste-
ou seja, não só aqueles que são responsáveis pela mas de saúde (Lobato; Giovanella, 2012).
tomada de decisão, mas também aqueles que serão A dinâmica dos sistemas de saúde pode ser en-
responsáveis pela implementação das ações decor- tendida como um sistema de ação organizado. Como
rentes da decisão tomada. Pelo fato de constituir todo sistema de ação organizado, o sistema dos
uma cadeia de eventos, se um deles não executar serviços de saúde está situado num contexto con-
a tarefa que lhe é devida, a ação não será concre- creto, num determinado momento. Sua estrutura é
tizada. Por isso é fundamental ter aceitabilidade constituída pela interação de uma estrutura física
pelos atores a fim de que os seus resultados sejam particular (prédios, arquitetura, níveis técnicos,
legitimados e utilizados pelos gestores e técnicos orçamentos), uma estrutura organizacional (gover-
envolvidos na ação (Tanaka; Tamaki, 2012). nança) e uma estrutura simbólica específica (repre-
Com fins de caracterizar os atores dos processos sentações, valores, normas coletivas). Ela delimita
de avaliação de desempenho de sistemas de saúde, um espaço social no qual interagem quatro grandes
Andrade (2012) afirma que, nesse sentido, há pelo grupos de atores (profissionais, gestores, mundo
menos cinco cenários nos quais se localizam os ato- mercantil e mundo político), num jogo permanente
res interessados na tomada de decisão: 1) o cidadão- de concorrência e de cooperação, orientado ao mes-
-usuário; 2) a família; 3) a sociedade; 4) os técnicos mo tempo pelas finalidades do sistema, no intuito
e administradores; 5) os gestores. Para Brouselle de conseguir ou de controlar os recursos. O próprio
et al. (2011) os atores envolvidos com o processo de sistema dos serviços de saúde, enquanto sistema de
avaliação podem ser indivíduos ou grupos organi- ação organizado, está formado por vários subsiste-
zados de agentes (organizações, grupos de pressão, mas de ação organizados e interdependentes, cada
sindicatos etc.). Os atores caracterizam-se por: 1) qual com certo grau de autonomia (Hoffman et al.,
seus valores, suas convicções, seus conhecimentos; 2012), especialmente no Brasil onde subsistemas
2) seus projetos, suas intenções; 3) pelos recursos regionais são ordenados legalmente pela diretriz da
que possuem ou que controlam; 4) por suas dispo- regionalização e são empiricamente determinados
sições para a ação. Os atores interagem num jogo pela articulação entre decisões políticas e nível de
permanente de cooperação e de competições para institucionalidade das ações (Lima et al., 2012).
melhorar sua posição, para ter ou controlar os re- Reconhecer a existência dessas relações políti-
cursos críticos do sistema de ação (dinheiro, poder, cas e incorporá-las ao estudo dos sistemas é identi-
influência, compromissos em função das normas ficar quem são os atores importantes no processo de
sociais). As práticas dos atores (gestores, médicos, decisão ou realização de uma determinada diretriz
pessoal para os cuidados, dentre outros) ficam ao do sistema; o que pensam, quais seus projetos, que

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 301


recursos detêm, que estratégias adotam (Lobato; pode-se admitir, da referida complexidade inerente
Giovanella, 2012). Em alguns sistemas, as fortes ao tema, embora não se deva subestimar o papel da
influências político-partidárias com grande rotati- dimensão política (e, portanto, ideológica) presente
vidade, descontinuidade e desqualificação técnica nessas escolhas.
da gestão são barreiras clássicas da dinâmica dos Neste ensaio, com foco na função (não exclusiva-
sistemas ao desempenho de sistemas de saúde mente) administrativa do controle, observa-se a rela-
(Conill, 2012), por isso, mais uma vez se justifica a tiva utilidade, para esse fim, dos estudos focalizados
necessidade do olhar desses atores e seus interesses e restritos a par do insuficiente desenvolvimento
intrínsecos à avaliação de desempenho desses siste- teórico-metodológico dessa área de estudos no que
mas. Para cada componente ou função dos sistemas concerne às abordagens mais inclusivas e totalizan-
de saúde, há um conjunto de relações sociais que in- tes. Configura-se, portanto, uma importante lacuna
terferem em sua dinâmica. É inegável sua presença no conhecimento científico sobre o tema, com re-
na condução dos sistemas, daí a necessidade de que flexos significativos sobre as práticas avaliativas,
os estudos passem a incorporá-los como elementos prejudicando-as. Essa constatação é relevante, uma
inerentes à emergência, desenvolvimento e por que vez que a consolidação do Estado Regulador requer
não dizer, ao desempenho dos sistemas de saúde esse desenvolvimento teórico, imprescindível para
(Lobato; Giovanella, 2012). Por isso, em estudos de dotá-lo dos instrumentos e recursos necessários
sistemas de saúde, incorporar as perspectivas dos ao cumprimento do seu papel. Fazer avançar esses
atores sociais nos processos de avaliação é de suma conhecimentos interessa a governantes, gestores,
importância. A valorização da experiência vivencial lideranças sindicais e dos movimentos sociais, entre
dos atores sociais, concebendo-os como esse “outro” outros segmentos sociais, para que possam dispor
– sujeito e protagonista de um programa ou serviço, de bases científicas sobre avaliação de desempe-
aliada à postura epistemológica de investigação nho de sistemas de saúde, para nelas apoiar suas
pautada na intersubjetividade da relação sujeito-in- ações. Pode-se afirmar, por fim, que o predomínio
vestigador contemplaria, duplamente, a exigência de abordagens seletivas, combinado com a ausência
ética da alteridade na reflexão acerca dos serviços ou insuficiência de estudos abrangentes, conforme
e ações governamentais (Uchimura, Bosi, 2002). se identifica nesta revisão, indica a necessidade
de reorientar a produção de conhecimentos sobre
Considerações finais desempenho de sistemas de saúde – e não apenas
no Brasil.
Embora recorrente entre gestores e analistas do
sistema público de saúde brasileiro, o tema da ava- Referências
liação do desempenho de sistemas de saúde, por sua
ANDRADE, L. O. M. Inteligência de governança
complexidade e forte componente político, é aborda- para apoio à tomada de decisão. Ciência & Saúde
do escassamente na literatura científica mundial, Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 829-832, 2012.
conforme se constata na revisão empreendida neste
ensaio. Há nítida opção, por parte dos estudiosos, BARBOSA, L. Meritocracia à brasileira: o que é
por temas pouco abrangentes, e são raros os artigos desempenho no Brasil? Revista do Serviço Público,
que abordam a temática do desempenho utilizando Brasília, DF, v. 120, n. 3, p. 58-102, 1996.
delineamentos compreensivos e totalizantes. A BEHN, R. D. O novo paradigma da gestão pública e
maior parte das pesquisas ocupa-se de aspectos par- a busca pela accountability democrática. Revista
ciais, seletivos e focalizados, dirigindo as análises do Serviço Público, Brasília, DF, v. 49, n. 4, p. 5-43,
para dimensões que se poderiam classificar como 1998.
secundárias, considerando-se a relevância desse
BERGAMINI, C. W.; BERALDO, D. G. R. Avaliação
tipo de estudo para as políticas públicas, em todos
de desempenho humano na empresa. 4. ed. São
os países. Tais restrições das abordagens decorrem,
Paulo: Atlas, 1988.

302 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


BRASIL. Portaria n. 1.654 de julho de 2011. FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10. ed.
Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, São Paulo: Atlas, 1990.
o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e FIORI, J. L. Para repensar o papel do Estado sem
da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) e o ser um neoliberal. Revista de Economia Política,
Incentivo Financeiro do PMAQ-AB, denominado São Paulo, v. 12, n. 45, p. 76-89, 1992.
Componente de Qualidade do Piso de Atenção
Básica Variável – PAB Variável. Diário Oficial da FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. 34. ed. Rio de
União, Brasília, DF, 19 jul. 2011. Seção 1, p. 37. Janeiro: Record, 1998.
GARCES, A.; SILVEIRA, J. P. Gestão pública
BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração
orientada por resultados no Brasil. Revista do
pública burocrática à gerencial. Revista do
Serviço Público, Brasília, DF, v. 53, n. 4, p. 53-77,
Serviço Público, Brasília, v. 47, n. 1, p. 1-28, 1996.
2002.
BROUSELLE, A. et al. (Org.) Avaliação: conceitos e
HOBSBAWM, E. O século: vista aérea: olhar
métodos. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011.
panorâmico: In: ______. Era dos extremos: o breve
BUSANELO, E. C. Um panorama dos estudos sobre século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das
avaliação de desempenho logístico Indicadores Letras, p. 11-26, 1995.
e sistemas de mensuração. In: XXXV ENANPAD HOFFMAN, S. J. et al. Background paper on
2011. Rio de Janeiro: ANPAD, 2011. v. 1. conceptual issues related to health systems
CHAMPAGNE, F. Defining a model of hospital research to inform a WHO global strategy on
performance assessment for European hospitals. health systems research. Hamilton: WHO,
Barcelone: WHO regional office for Europe, 2003. 2012.

CHERCHIGLIA, M. L.; DALLARI, S. G. A reforma IRWIN, R. Managing performance: an


do Estado e o setor público de saúde: governança e introduction. Eurohealth, London, v. 16, n. 3, p.
eficiência. Revista de Administração Pública, Rio 15-16, 2010.
de Janeiro, v. 33, n. 5, p. 65-84, 1999. KETTL, D. F. The global revolution in public
management: driving themes, missing links.
CONILL, E. M. Sistemas comparados de saúde. In:
Journal of Policy Analysis and Management,
CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde coletiva.
Storrs, v. 16, n. 3, p. 446-62, 1997.
São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.
p. 563-613. KLAZINGA. N. Health system performance
management: quality for better or for worse.
CONILL, E. M. Sobre os impasses dos usos da
Eurohealth, London, v. 16, n. 3, p. 26-28, 2010.
avaliação para a gestão: não é preciso inventar,
nem basta simplificar. Ciência & Saúde Coletiva, LAURELL, A. Avançando em direção ao passado: a
Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 834-836, 2012. política social no neoliberalismo. In: ______. Estado
e políticas sociais no neoliberalismo. 3. ed. São
CORRÊA, H. L.; HOURNEUAX JÚNIOR, F. A Paulo: Cortez, 2002. p. 151-178.
Evolução dos métodos de mensuração e avaliação
de desempenho. In: Anais do XXIX ENANPAD. LEVESQUE, J. F., BERGERON, P. De l’individuel
Brasília: ANPAD, 2005. v. 1. p. 1-15. au collectif: une vision décloisonnée de la
santé publique et des soins. Ruptures – Revue
DONABEDIAN, A. The effectiveness of quality transdisciplinaire en santé, Montreaux, v. 9, n. 2,
assurance. International Journal for Quality in p. 73-89, 2003.
Health Care, London, v. 8, n. 4, p. 401-407, 1996.
LIMA, L. D. et al. Regionalização da Saúde no
EXWORTHY, M. The performance paradigm in the Brasil. In: GIOVANELLA, L. (Org.). Políticas
English NHS: potential, pitfalls, and prospects. e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro:
Eurohealth, London; v. 16, n. 3, p. 16-19, 2010. Fiocruz; p. 823-852, 2012.

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 303


LING, G. N. The physical state of water and ions in NISHIJIMA, M.; BIASOTO-JUNIOR G. Análise de
living cells and a new theory of the energization eficiência técnica em saúde entre 1999 e 2006.
of biological work performance by ATP. Molecular Planejamento e Políticas Públicas, Brasília, DF, v.
and Cellular Biochemistry, Amsterdam, v. 15, n. 3, 40, p. 45-65, 2013.
p. 159-172, 1977. NOGUEIRA, R. P. O Trabalho em Serviço de
LOBATO, L. V. C.; GIOVANELLA, L. Sistemas de Saúde. In: SANTANA, J.P. et al. Desenvolvimento
saúde: origens, componentes e dinâmica. In: Gerencial de Unidades Básicas do Sistema
GIOVANELLA, L. et al. (Org). Políticas e Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Programa de
de Saúde no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; Desenvolvimento de Recursos Humanos, 1997. p.
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, 2012. p. 183-186.
89-120. NUSBAUMER, J. Les services: nouvelle donne de
LOURENZANI, W. L.; QUEIROZ, T. R.; SOUZA l’economie. Paris: Economica, 1984.
FILHO, H. M. Scorecard Sistêmico: modelo de PACHECO, R. S. Mensuração do desempenho no
gestão para empreendimentos rurais familiares. setor público: os termos do debate. Cadernos de
Organizações Rurais & Agroindustriais (UFLA), Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 14, n. 55,
Lavras, v. 10, n. 1, p. 1-15, 2008. p. 149-161, 2009.
MARSHALL, J. N. Services and uneven PORTO, L. G. C.; CREPPE, R. C. Modelo
development. Oxford: Oxford University Press, matemático para análise de desempenho de
1988. motores elétricos em máquinas de processamento
MASCARO, A. L. Estado e forma política. São de arroz. In: Anais do IV Encontro de Energia no
Paulo: Boitempo, 2013. Meio Rural, 2002.

MATIAS-PEREIRA, J. Administração pública REIFSCHNEIDER, M. B. Considerações sobre


comparada: uma avaliação das reformas avaliação de desempenho. Ensaio: avaliação e
administrativas do Brasil, EUA e União Européia. políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v.
Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 16, n. 58, p. 47-58, 2008.
v. 42, n. 1, p. 61-82, 2008. RIBEIRO, E. M.; PIRES, D.; BLANK, V. L. G. A
MEIRELLES, D. S. O conceito de serviço. Revista teorização sobre processo de trabalho em saúde
de Economia Política, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 119- como instrumental para análise do trabalho no
136, 2006. Programa Saúde da Família. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 438-446,
MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. 2004.
Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2011. ROEMER, M. National Health Systems of the
World. (Vol.1: The Countries). Oxford: Oxford
MISOCZKY, M. C.; VIEIRA, M. M. F. Desempenho University Press, 1991.
e qualidade no campo das organizações públicas:
uma reflexão sobre significados. Revista de ROTHER, E. T. Editorial: Revisão sistemática X
Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 5, revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem,
p. 163-77, 2001. São Paulo, v. 20, n. 2, p. v-vi, 2007.

NETO, A. S.; GOMES, R. M. Reflexões sobre a SAMICO, I. et al (Org.). Avaliação em Saúde: Bases
avaliação de desempenho: uma breve análise Conceituais e Operacionais. Rio de Janeiro. IMIP
MedBook. 2010.
do sistema tradicional e das novas propostas.
Revista Eletrônica de Ciência Administrativa SECCHI, L. Modelos organizacionais e
(RECADM), Campo Largo, v. 1, n. 1, p. 1-24, 2003. reformas da administração pública. Revista de

304 Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016


Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, In: ROCHA, A. M.; CESAR, C. L. M. (Ed.). Saúde
p. 347-369, 2009. pública: bases conceituais. São Paulo: Atheneu,
2008. p. 119-131.
SICOTTE, C.; CHAMPAGNE, F.;
CONTANDRIOPOULOS, A. C. La performance TANAKA, O. Y.; TAMAKI, E. M. O papel da
organisationnelle des organismes publics de avaliação para a tomada de decisão na gestão de
santé. Ruptures – Revue Transdisciplinaire en serviços de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
Santé, Montréal, 1998; v. 6, n. 1, p. 34-46, 1998. de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 821-828, 2012.
SIQUEIRA, W. Avaliação de desempenho: como TAYLOR, F. W. Princípios de Administração
romper amarras e superar modelos ultrapassados. Científica. São Paulo: Atlas S.A., 1995.
Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 2002. TOURAINE, A. Igualdad y diversidad: Las nuevas
SMITH, P. C. Performance management in tareas de la democracia. México, DF: Fondo de
British health care: will it deliver? Health Affairs, Cultura Económica, 2000.
Philadelphia, v. 21, n. 3, p. 103-15, 2002. UCHIMURA, K. Y.; BOSI, M. L. M. Qualidade
SOUZA, V. L. Gestão do desempenho: julgamento e subjetividade na avaliação de programas
ou diálogo. Rio de Janeiro: FGV, 2002. e serviços em saúde. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, p. 1561-
SPILLER, E. S. et al. Fundamentos da gestão dos 1569, 2002.
serviços em saúde. In: ______. Gestão dos serviços em
VIACAVA, Francisco et al . Avaliação de
saúde. Rio de Janeiro: FGV, 2009. p. 19-44.
Desempenho de Sistemas de Saúde: um
TANAKA, O. Y.; ESPIRITO SANTO, A. C. G. modelo de análise. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
Avaliação da qualidade da atenção de Janeiro , v. 17, n. 4, abr. 2012.
básica utilizando a doença respiratória da
WALKER, R. Is there a service economy? Science
infância como traçador, em um distrito sanitário
and Society, New York, v. 49, n. 1, p. 42-83, 1985.
do município de São Paulo. Revista Brasileira de
Saúde Materno Infantil, Recife, v. 8, n. 3, p. 325- WEBER, M. Economia e sociedade. Brasília, DF:
332, 2008. EdUNB, 1988, v. 1.

TANAKA, O. Y.; MELO, C. Avaliação de serviços WILSON, W. O estudo da administração. Rio de


e programas de saúde para a tomada de decisão. Janeiro: FGV, 1955.

Contribuição dos autores


Carnut escreveu a revisão crítica sobre o conteúdo do artigo e
Narvai fez a leitura crítica e correção dos conteúdos apresentados
pelo primeiro autor.

Recebido: 07/01/2015
Reapresentado: 30/11/2015
Aprovado: 10/12/2015

Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.290-305, 2016 305

Você também pode gostar