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ARTIGO
http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.178
Organizações sociais e a
gestão dos serviços do SUS
Social organizations and the
management of SUS services
Camila Reisa
https://orcid.org/0000-0001-9793-8641
Introdução
P
ara identificar e analisar os modelos de gestão dos serviços do Sis-
tema Único de Saúde (SUS) por organização social (OS) nos Planos
Estaduais Plurianuais de Saúde, tivemos como pressuposto tratar do
SUS como um grande projeto nacional de política pública estatal, universal
a
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, Brasil.
Recebido: 30/5/2018 Aprovado: 20/2/2019
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Pesquisa intitulada “Os modelos de gestão dos serviços de saúde: como se apresentam nos
Planos Estaduais Plurianuais de Saúde”, através do Programa Institucional de Bolsas de Ini-
ciação Científica PIBIC/CNPq — PIBIC-Af/CNPq — BIPI/UFSC, edições 2015/2016, 2016/2017,
e que contou também com a participação dos estudantes: Leonardo Moura da Silva e Maria
Fernanda Schmitt Bunn. A pesquisa faz parte de um projeto guarda-chuva, intitulado “Saúde
e Serviço Social: planejamento, gestão, participação e exercício profissional”. As atividades
de desenvolvimento do projeto estão vinculadas ao Núcleo de Estudos em Serviço Social e
Organização Popular — NESSOP/DSS/UFSC.
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Quadro 1. Gestão por organização social na análise situacional dos serviços estaduais de média
e alta complexidade por estado e quadriênio dos PES
Fonte: PES 2012-5 e 2016-9 dos onze estados listados. Elaboração das autoras.
Quanto à gestão de serviços por OS nos PES 2012-5, seis estados não
fizeram nenhuma referência sobre essa modalidade de gestão. São Paulo,
Bahia, Santa Catarina e Pernambuco eram os estados que estavam com
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Quadro 2. Os objetivos, ações e metas dos PES por estado e quadriênio sobre a gestão por
organização social na média e alta complexidade
Estado PES 2012-5 2016-9
Não há referência às OS. Propõe-se
promover modelos públicos de gestão,
fortalecer a gestão estatal e direta
Santa Catarina
do estado contra todas as formas de
privatização e parcerias público-pri-
vadas e/ou estrangeiras
Aos hospitais com gestão de OS refe-
re-se o controle da taxa de ocupação
São Paulo e que 100% deles sejam avaliados.
Propõe-se construir cinco hospitais
com o apoio da iniciativa privada
Pará
Ampliar os contratos de gerencia- Uma das ações é a gestão dar trans-
mento via as OS. Institucionalizar parência ao controle social dos
Pernambuco
planejamento e avaliação nos ser- serviços geridos por OS. Enfatiza-se
viços próprios e gerenciados por OS ampliar serviços na rede pública
Propõe-se a utilização de diferentes
Implantar os contratos de gerencia- modalidades de parceria com a inicia-
Distrito Federal
mento dos hospitais via OS tiva privada e apresenta a legislação
que ampara essas ações
Manter as PPP e apoiar novos convê- Manter três contratos com OS para
Amazonas
nios e parcerias com o Estado gestão de quatro unidades
Implantar os contratos via OS.
Aperfeiçoar a fiscalização e o moni-
Goiás Institucionalizar planejamento e toramento das unidades com gestão
avaliação nos serviços próprios e nos por OS
gerenciados por OS
Ampliar os contratos com o setor
Rio Grande do Sul
privado sem fazer referência à OS
Ampliar os contratos com o setor sem
Rio de Janeiro
fazer referência à OS
Ampliar os contratos com o setor Gerenciar e contratualizar unidades
Bahia
privado sem fazer referência à OS com administração indireta — PPP
Paraíba PES 2016-9 até 1/2018 não localizado
Fonte: PES 2012-5 e 2016-9 dos onze estados listados. Elaboração das autoras.
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Sobre os debates internos do Conselho em relação aos instrumentos de gestão e as OS, ver
Krüger, 2017, p. 77-109.
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Ver Souza, 2016.
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ampliação para o estado de São Paulo, já com serviços de OS, agora que
propõe construir hospitais em parceria com o setor privado.
De maneira geral, o uso de termos mais condizentes com os modelos
de gestão gerencialista identificados no diagnóstico se repete nas propostas,
pois a busca de novos modelos organizativos não é qualificada ou conceituada
em termos de direção teórica, política e técnica para gestão do SUS. Também
não são conceituados os termos densamente usados como: eficiência, regu-
lação, qualificação, qualidade, controle, monitoramento, foco em resultados,
ganhos de produtividade, modernização e financiamento estável.
Avaliando as metas e indicadores dos PES, ficou claro a naturaliza-
ção das OS no sistema de saúde, pois se fala em gerenciar e avaliar as OS
(São Paulo e Goiás), implantar uma nova política de cofinanciamento para
os prestadores de serviços ao SUS e manter contratos através de parceria
público-privada.
Notas conclusivas
Nos Planos Estaduais de Saúde Quadrienais estudados há inúmeras
referências sobre as dificuldades da gestão quanto a falta de autonomia
orçamentária, financeira e técnico-administrativa; limitações de ordem
fiscal para admissão e expansão de recursos humanos; falta de agilidade
nos processos licitatórios; gestão burocrática e centralizada que provoca a
elevação dos custos e dificulta o planejamento.
Concluímos que essas afirmações abrem caminho para a perspectiva
gerencialista, aos despolitizarem e sufocarem o modelo de gestão pública
estatal. Como isso não queremos dizer que o setor público não tenha que
ser mais ágil e eficiente, pois as necessidades sociais e de saúde reclamam
essa agilidade e eficiência. A lógica gerencialista de gestão vem revestida de
uma série de novas terminologias que têm mascarado os fundamentos do
SUS e submete as necessidades de saúde a questões técnicas de eficiência
e modernização.
Quanto à gestão dos serviços de média e alta complexidade, observa-
mos que são marcadas por expressões que se repetem: garantir qualidade,
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Sobre as autoras
Tânia Regina Krüger – Docente. Integrante do Núcleo de Estudos em Serviço
Social e Organização Popular (Nessop).
E-mail: tania.kruger@ufsc.br
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