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A Ponte e A Crase PDF
A Ponte e A Crase PDF
O poeta Ferreira Gullar, um dia, disse-me que “a crase não foi feita para humilhar
ninguém”. Não sei de quem é a frase – talvez seja do próprio Gullar –, mas é lapidar.
A crase talvez não humilhe, mas causa embaraços. A coisa começa na confusão
entre o nome do acento que indica a crase e a própria crase. O acento que aparece
em “à”, “às”, por exemplo, chama-se grave.
Tome cuidado com a pronúncia, com a leitura. Muita gente, quase sempre com a
melhor das intenções, espicha essa “a” na leitura: “O livro pertence aa diretora”.
Mais caprichosos, alguns exageram e ficam uma semana com o “a” na boca
(“pertence aaaaaa diretora”). Nada disso. Lê-se esse “à” como se lê “a” ou “há”. Na
boca, o som é o mesmo.
E que relação a crase tem com a ponte? Você já deve ter visto na televisão uma
propaganda de uma empresa aérea que termina com a seguinte frase: “A ponte que
liga (ou “une” – não lembro) preço à qualidade”. Que tal o acento grave? Pense
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comigo. Parece que a ponte liga ou une x a y. Quem são x e y? Preço e qualidade,
dois substantivos, isto é, duas palavras de mesma natureza.
Moral da história: “A ponte que une o preço à qualidade” ou “A ponte que une preço
a qualidade”. É isso.
Fonte
CIPRO NETO, P. Inculta e bela. São Paulo: Publifolha, 2001.