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AULA
A feminização do trabalho
docente – século XIX
Meta da aula
Pensar as condições históricas que
possibilitaram a instalação do processo
de feminização do trabalho docente
no século XIX.
objetivos
Pré-requisito
Conhecer o conteúdo das Aulas 16 e 17
que versam sobre a origem da profissão
docente, para fazer uma análise do
momento em que a profissão docente
passou pelo processo de feminização.
INTRODUÇÃO Vamos prosseguir a nossa viagem para conhecer melhor como a profissão
docente foi se tornando feminina. Quando, como e por que o trabalho docente
passou a ser feminino? Olhando o nosso passado, constatamos que os primeiros
professores, no Brasil, foram os padres da Companhia de Jesus; os jesuítas
MONOPÓLIO tinham o MONOPÓLIO da educação na colônia. Era preciso ensinar os filhos dos
Controle total de uma colonos brancos, vindos de Portugal, enquanto que os índios, mestiços e negros
atividade.
deveriam ser civilizados pela catequese.
A mulher não freqüentava a escola; as meninas das famílias mais ricas tinham
PRECEPTOR
um PRECEPTOR em casa para lhes ensinar boas maneiras, um idioma, geralmente
Aquele que ministra o francês, e a leitura de obras literárias permitidas às mulheres. As meninas
instrução.
pobres sequer eram alfabetizadas. Na verdade, o destino da mulher era o das
prendas domésticas.
A partir da segunda metade do século XVIII, com a expulsão dos jesuítas,
LEIGO começaram a surgir os primeiros professores LEIGOS no Brasil, ou seja,
Que não é clérigo, professores desvinculados da Igreja Católica. Esses professores eram nomeados
ou seja, uma pessoa
que não pertence à
e, geralmente, não tinham uma formação adequada à docência. Além dos
hierarquia de uma professores leigos, outras ordens religiosas, como carmelitas, beneditinos e
determinada religião.
franciscanos, começaram a preencher o espaço dos jesuítas, o que permitia
o fortalecimento da influência religiosa na ação educacional brasileira. Assim,
LEI DE 15 DE
até o final do século XVIII não era permitido à mulher ensinar em qualquer
OUTUBRO DE 1827
nível de ensino, mesmo porque as mulheres não eram instruídas, de modo que
Primeira lei do ensino
primário promulgada pudessem exercer qualquer atividade profissional. Apenas em 1827, surgiu a
no Brasil que previa
a existência de primeira regulamentação referente à educação das mulheres, que, a partir de
professoras primárias. então, passavam a ter acesso à educação elementar e poderiam lecionar no
ensino primário. Essa lei estabelecia o seguinte:
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estudar e ter uma profissão. Apesar das restrições morais, esse foi um marco
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importante para a educação feminina no Brasil, embora existissem ainda muitas
barreiras para a sua profissionalização.
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apud Apple, 1995, pp. 59-60):
AULA
Quando começaram a se elevar os padrões de certificado
necessários, e os períodos letivos se alongaram e combinaram
num ano contínuo, os homens começaram a deixar o magistério.
Nas áreas urbanas, onde primeiro se formalizou o ensino, e mais
tarde nas rurais, a maioria dos homens acharam que o custo de
oportunidade do magistério ficou muito alto, ainda mais que os
salários anuais, embora aumentados quando aumentou o período
letivo, permaneceram inadequados para sustentar uma família.
Aos homens também não agradou perderem a autonomia de que
dispunham em sala de aula. E ao mesmo tempo abriam-se novas
oportunidades para eles nos negócios e em outras profissões.
ATIVIDADE
COMENTÁRIO
homens, estes perderam o interesse pelo magistério, além disso surgiram novas
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Inútil seria dizer que justamente os bons elementos são os que deixam
o magistério mais depressa. O número de professores tem diminuído
sensivelmente, enquanto que a quantidade de professoras aumenta
em prejuízo do ensino (DEMARTINI e ANTUNES,1993, p.7).
Sociedade onde a impossibilitava a mulher avançar em seus estudos e ampliar o seu campo
figura central é o pai, de trabalho. A princípio, o magistério apareceu como uma alternativa
ou melhor, a figura
masculina. importante de trabalho porque “com as alternativas de exploração que
existia na fábrica e do penoso trabalho doméstico pago e não pago, o
magistério deve ter aparecido como uma ocupação mais agradável a
muitas mulheres solteiras” (APPLE, 1995, p. 60).
Assim, observamos uma contradição: enquanto para os homens o
magistério era uma tarefa que estava se tornando desinteressante devido
ao aumento das exigências e da carga de trabalho, com um salário não
atraente, para as mulheres esse trabalho era visto como menos penoso
que os demais trabalhos que ela exercia cotidianamente. Essa é uma das
razões por que a partir do século XIX, em vários países, o magistério
do ensino elementar começou a tornar-se feminino.
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apontar os motivos culturais. Começou-se a identificar a profissão docente
AULA
com características que eram atribuídas culturalmente às mulheres como:
a habilidade para lidar com crianças, a sua afetividade por exercer o papel
social de mãe, a possibilidade de compatibilizar o horário do exercício
do magistério e o trabalho doméstico. Outro fator importante, no século
XIX, foi a permissão para que as mulheres estudassem nas Escolas
Normais. A partir do ingresso de mulheres nessas escolas, começou-se
a construir a imagem da mulher como a trabalhadora ideal para o ensino
primário porque ela possuía características que incentivavam a questão
da vocação para a docência.
A partir desse período, começou-se a considerar que aquela que
exercia o papel de mãe deveria ser uma ótima professora. Aliada à
questão do ser mulher ainda havia uma outra exigência: a honestidade,
ou melhor, a moral. Como vimos na Aula 19, no Brasil, a Lei Couto
Ferraz de 1854, no seu artigo 16, exigia das mulheres uma comprovação
da sua idoneidade moral para poder exercer o magistério, porque até
o final do século XIX, a principal missão do professor deveria ser a
condução moral das camadas populares. A professora deveria ser um
exemplo de moralidade para os seus alunos. Segundo Müller (1999,
p. 101), “mulheres brasileiras, honestas, com algum conhecimento e
desembaraço para submeterem-se a exames públicos, foram adentrando
o magistério primário”. Essas mulheres tinham um nível de instrução
às vezes um pouco maior do que seus alunos, porque nesse período as
mulheres não podiam cursar o ensino superior.
Mas apesar de todas as barreiras, as mulheres começaram a buscar
a Escola Normal, e, de acordo com Müller, entre 1870 e 1890, vários
intelectuais começaram a defender que o magistério primário deveria
ser exercido por mulheres. Rui Barbosa, no parecer de 1882, defendia
a presença de mulheres no ensino primário. Começou-se a construir
gradativamente a mentalidade de que a mulher tinha as características
apropriadas para ensinar no primário. Assim, o retrato da professora
ideal seria uma mulher honesta, casada, boa mãe e trabalhadora.
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AULA
Antes do aumento rápido da educação elementar de massa,
em 1870, os homens eram um pouco mais numerosos que as
mulheres. Para cada 100 homens havia 99 mulheres empregadas
como professoras. Mas essa foi a última vez em que os homens as
superaram numericamente. Dez anos mais tarde, 1880, para cada
100 homens havia 156 mulheres professoras, numa razão que
cresceu para 207 em 1890.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
RESUMO
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a) Procure saber, em sua cidade, quando as Escolas Normais foram criadas, depois
verifique a quantidade de mulheres que freqüentava essa escola e se havia ou
não predominância feminina. Caso seja possível, pesquise, também, quais eram
as exigências para o ingresso nessa escola, seus fins e objetivos.
b) Feita essa pesquisa, converse com seus colegas no Fórum de Discussão para saber
o que eles encontraram em suas cidades.
COMENTÁRIO
Provavelmente você e seus colegas constatarão que a partir do século XX, a maioria
do corpo discente da Escola Normal foi composto por mulheres e também deveria
existir alguma exigência de caráter moral para que as alunas ingressassem na
Escola Normal. Troquem informações, pois vocês podem fazer um trabalho muito
interessante de pesquisa para saber quando e como foi o processo de feminização
do magistério elementar em suas cidades.
AUTO-AVALIAÇÃO
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