Você está na página 1de 2

CAPÍTULO 1 – O legado da escravatura: bases para uma nova natureza feminina

CAPÍTULO 3 – Classe e raça no início da campanha das mulheres


No CAPÍTULO 11, de seu livro “Sexo, raça e classe”, intitulado “Violação, racismo e o mito
do violador negro”, Angela Davis argumentará sobre como a crescente culpabilização dos homens
negros nos Estados Unidos por crimes sexuais foi uma arma política e econômica, que serviu para
justificar o racismo. A autora inicia com a constatação de que os crimes sexuais estão sendo cada
vez mais levados a público, se tornando notáveis.
> A autora aponta que as mulheres negras não se fazem muito presentes nos comitês ‘anti-
violação’ existentes, pois não concordam com o que o movimento tenta negar. Seria,
especificamente, a construção racista em torno da construção do mito do violador negro;
> Sua argumentação se posiciona à autoras como Brownmiller, MacKellar e Diana Russel,
que reproduzem, ingenuamente, o mito de que os negros são os maiores realizadores de assaltos
sexuais devido à fatores pseudo-biológicos;
> Alinhando, por outro lado, sua argumentação com o autor Frederick Douglass.“eu não
pretendo que os negros sejam santos ou anjos. Eu não nego que eles são capazes de cometer os
crimes que lhes são imputados, mas nego absolutamente que eles são mais dependentes da comissão
desse crime do que outra variedade de família humana… Não sou defensor de nenhum homem
culpado de tal crime atroz, mas um defensor das pessoas negras como uma classe.” (1984)
> Dupla vantagem com a condenação dos corpos negros pelos crimes sexuais, em sua forma
construída pelo “mito do violador negro”: desvalorização do trabalho de mão-de-obra negra e
solidariedade racial entre os setores de homens brancos que consentiam com os abusos dos patrões.
Na base da licença para violar as mulheres negras durante a
escravatura estava o poder económico dos esclavagistas, por isso a classe
estruturada pela sociedade capitalista também abriga um incentivo para violar. Parece,
de facto, que o homem da classe capitalista e os seus companheiros de classe média
são imunes à ação judicial porque eles cometem os seus assaltos sexuais com a
mesma autoridade não desafiada que legitima os seus assaltos diários no trabalho
sobre a dignidade do povo trabalhador. (p. 42)

CAPÍTULO 12 – Racismo, controle de natalidade e direitos reprodutivos

CAPÍTULO 13 – A aproximação da obsolescência do trabalho doméstico: a perspectiva da


classe trabalhadora
> Adjetivos dados à atividade doméstica: invisível, reprodutivo, exaustivo, improdutivo, não
criativo, etc.
“[…] a dessexualização do trabalho doméstico não alteraria a natureza opressiva do trabalho
em si. Na análise final nem homem nem mulher deveriam perder as suas horas preciosas de vida no
trabalho que não é nem criativo nem produtivo.” (p. 59)
> A autora recorre a uma argumentação que resgata o marxista Frederich Engels, quando diz
em seu clássico “A origem da família, propriedade privada e o Estado”, que a desigualdade sexual
como conhecemos hoje não opera da mesma forma que operava nas sociedades pré-capitalistas.
Nessas, o papel da mulher era igualmente relevante ao do homem. Em uma incursão a suas
memórias, a autora aponta o papel das mulheres na sociedade Masai, quando lembra a cena de
mulheres movimentando placas acima da cabeça. Notadas de longe, em seu Jipe turístico, a autora
recebe a informação de que as placas são na verdade telhas, que serão postas nas casas construídas
numa aldeia próxima. As mulheres, nessa situação, operam uma atividade relevante e respeitável
como a dos homens.
Seguindo ainda, uma incursão histórica, demonstra que as mulheres da economia agrária pré-
industrial dos Estados Unidos não empenhavam as atividades domésticas que são atribuídas hoje ao
papel que a mulher contemporânea deve desempenhar. Antes, as mulheres produziam queijo,
fabricavam as roupas dos familiares, plantavam insumos, etc. Eram alfaiates, “fazedoras de queijo”,
agricultoras. As atividades de limpeza eram feitas uma vez ao mês ou até num período específico,
como cita a autora sobre a primavera. Isso se devia a dificuldade de carregar baldes de água dos
As mulheres coloniais não eram “limpadoras de casa”, não eram “governantas”
mas trabalhadoras realizadas de plenos direitos na economia doméstica. Não
apenas manufaturavam a maior parte dos produtos necessários à família, como
eram as guardiãs das suas famílias e da saúde da sua comunidade. (p. 161)
Segundo a autora, ainda,
Conforme avançou a industrialização, mudando a forma de produzir da casa
para as fabricas, a importância dos trabalhos domésticos das mulheres sofreu uma
erosão. As mulheres eram duplamente perdedoras: Como os seus trabalhos foram
usurpados pelas fábricas em expansão, a economia mudou-se completamente para
fora de casa, deixando as mulheres despidas do seu papel económico. A meio do
século XIX as fábricas providenciavam têxteis, velas, sabonetes. Até manteiga, pão
e outros alimentos começaram a ser produzidos em massa. (p. 162)
A autora delineia de forma excepcional toda a transferência do trabalho manual capaz de gerar
lucro, realizado nas atividades mais artesanais das mulheres dessa “economia agrária pré-industrial”
para a realização da indústria em contraposição a maior subordinação desses processos não lucrosos
de cuidados com a higiene da casa às mulheres. Entretanto, às vezes por se apegar tanto a processos
macroeconômicos e mecanismos de argumentação há muito conhecido no campo teórico do
marxismo, a autora acaba por me causar um estranhamento.
A assunção das exigências de salário das donas de casa assenta no facto que
produzem uma comodidade tão importante e valiosa como as comodidades que os
seus maridos produzem no trabalho. Adotando a lógica de Dalla Costa, o
movimento de salário para as donas de casa definem as donas de casa como
criadoras de uma força laboral vendida pelos membros familiares como
comodidades no mercado capitalista. (p. 165)
Tal argumentação vai no sentido de defender uma espécie de classe especial explorada pelo
capitalismo, denominada “donas de casa”.
> Esse fenômeno que a Angela Davis está descrevendo é uma separação, no seio do sistema
capitalista, entre economia pública e economia familiar;
Quando as mulheres tiverem ganho o direito de serem pagas poderão exigir
melhorias de salários, e por conseguinte o capitalismo industrializará o trabalho
doméstico. Será isto uma estratégia de libertação das mulheres ou um sonho
inconcretizável?
Como deverão as mulheres conduzir a luta por salários? Dallas defende em
“Housewifes strikes” (greves de donas de casa):
“Nós devemos rejeitar a casa, porque queremos unir-nos a outras mulheres que
lutam contra todas as situações que presumem que as mulheres ficarão em casa…
Abandonar a casa é já uma forma de luta, uma vez que os serviços sociais que
realizamos lá, deixariam de ser executados nessas condições.” (p. 169)

Você também pode gostar