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COMO ELABORAR UM ORÇAMENTO EMPRESARIAL?

Júlio César Zanluca 


A maioria dos orçamentos preocupa-se em antever as receitas e despesas da entidade.
Quando escreve-se despesas, leia-se todos os custos e despesas. 
Qualquer orçamento, salvo os orçamentos iniciais de uma entidade (quando meras
projeções de um negócio ou atividade futura) baseia-se em dados históricos, fatos
ocorridos no passado que permitem um mínimo de previsibilidade. 
Como a contabilidade é o registro histórico das operações econômicas e financeiras,
obviamente que é o principal elemento na formação de premissas orçamentárias. 
PREVISÃO DE VENDAS 
Para previsão de vendas, se utilizará a contabilidade como indicativo: 
1.      Qual o nível histórico de vendas (valores nominais, em R$)?
2.      Qual a sazonalidade do negócio?
3.      Qual a representatividade dos novos negócios (ou produtos) já concretizados?
4.      Etc.
PREVISÃO DE COMPRAS 
Uma vez definido o nível de vendas orçado, estima-se o nível de compras necessário
para a tal volume de negócios. 
NÍVEL DE COMPRAS 
Assim como as vendas, as compras sofrerão influências, tais como: 
1.      Nível de preços decorrentes dos ajustes de tabela dos fornecedores.
2.      Variação de volume, em função de variação de volume de vendas físicas
(unidades).
3.      Variação de volume, em função de maior/menor estocagem. 
Comecemos pelo ajustes de preços de compras. 
VARIAÇÃO DE PREÇOS NAS COMPRAS 
A inflação interna da empresa é diferente da inflação oficial (medida por índices como o
IGP-M da Fundação Getúlio Vargas, INPC do IBGE, etc.). 
Alguns preços podem ser indexados ao câmbio (dólar, euro), pois correspondem a
produtos importados ou cotados em bolsa de mercadorias internacionais (como soja). 
Outros preços são decorrentes de contratos com fornecedores, onde fixa-se
periodicamente o reajuste de acordo com a inflação ou outro indicador. 
Então, para se ter uma previsibilidade mínima do valor de compra dos estoques, temos
que estimar a “inflação dos produtos” da empresa.
VARIAÇÃO DE VOLUME 
O próximo passo é ajustar o volume (físico) de compras ao volume (físico) de vendas
projetadas. 
Deve-se levar em conta, neste cálculo, o lançamento de novos produtos. A engenharia
de produção pode estimar, com base na planilha técnica dos produtos a serem lançados,
quais as unidades de compras adicionais necessárias.
CUSTO DOS PRODUTOS E MERCADORIAS VENDIDAS 
Uma vez determinado o volume de compras, por dedução, se apurará o custo dos
produtos e mercadorias vendidas. 
A fórmula de apuração do CPV ou CMV é: 
CPV ou CMV = Ei + C – Ef 
Onde: 
CPV = Custo dos Produtos Vendidos
CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
Ei = Estoques Iniciais
C = Custo das Compras
Ef = Estoques Finais
Nota: nesta terminologia, CPV relaciona-se aos produtos fabricados (atividade
industrial), e CMV ás mercadorias adquiridas para revenda (atividade comercial).
CUSTOS E DESPESAS OPERACIONAIS 
Na orçamentação de custos e despesas operacionais, a contabilidade terá relevância,
pois apresentará os valores históricos, relacionando o nível de operações com os
correspondentes desembolsos, tais como: tributos sobre vendas, folha de pagamento,
despesas gerais de produção, despesas administrativas e de vendas, despesas
financeiras, etc.
A contabilidade, como fornecedora de informações regulares e acumuladas sobre
desembolsos relativos a custos e despesas operacionais, será uma grande fonte histórica
de dados para a projeção orçamentária de tais despesas.
Com base no valor acumulado anual de tais desembolsos, pode-se prever a dinâmica
futura de tais gastos, incluindo: 
1.      Os efeitos da variação de preços sobre produtos e serviços consumidos na
atividade operacional.
2.      As eventuais variações físicas/quantitativas do consumo, relacionadas á expansão
ou redução de negócios.
3.      Subsídios para despesas novas que serão exigidas em função de novos produtos ou
serviços a serem lançados.
VARIAÇÃO DE PREÇOS 
A tendência é que os preços, em mercado livre, tenham convergência para os principais
índices de inflação. Assim, um orçamento com base histórica na contabilidade precisará
estimar tais índices e aplicá-los sobre os valores nominais incorridos no exercício
anterior.
VARIAÇÕES FÍSICAS/QUANTITATIVAS 
A abertura de uma filial, a expansão (ou redução) de negócios e linhas de produtos, a
introdução de serviços ou modernização de atividades irão exigir que as projeções
orçamentárias incluam tais aspectos em sua base. 
Novamente, a contabilidade tem muito a contribuir com o gestor. Como exemplo, a
abertura de uma filial de vendas. 
Se a contabilidade é departamentalizada (registrando os centros de custos), poderá
fornecer bases para se estimar os custos de uma nova filial, com base numa filial já
instalada e operacional.
DESPESAS NOVAS 
Não somente a expansão dos negócios exigirá despesas novas. 
Boa parte dos novos custos e despesas empresariais relacionam-se com obrigatoriedade
de atendimento de legislação, reestruturação operacional, modernização ou outros itens
que não implicam, necessariamente, em novos negócios (receitas). 
Como exemplo, uma empresa que estará sujeita á regulamentação especial relativa á
Vigilância Sanitária. 
Se, no ano anterior, deixou de implementar os gastos necessários á adequação da
legislação, precisa prever tais desembolsos no orçamento corrente. 
As bases contábeis, neste caso, poderão ser insuficientes para uma correta projeção. 
Entretanto, o gestor poderá utilizar-se da contabilidade para determinar quais despesas
similares já estão presentes, e como se correlacionarão com as despesas novas.
RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 
A grande dificuldade dos gestores de empresas é prever, com antecedência, quais os
custos financeiros que serão incorridos nas atividades. 
Novamente, a contabilidade tem uma contribuição específica para tais projeções. 
Para um cálculo mais exato do montante total de despesas financeiras (ou,
contrariamente, se houver disponibilidades momentâneas de caixa, as respectivas
receitas), deve-se projetar o fluxo de caixa, visando identificar necessidades de
financiamentos e empréstimos de capital de giro e investimentos fixos (imobilizado). 
A tais valores, acrescenta-se o resultado dos encargos já contratados.
Júlio César Zanluca é contabilista e autor da obra Contabilidade Gerencial.
A influência dos custos no orçamento de uma empresa de ensino e pesquisa
1 INTRODUÇÃO
De um modo em geral, no ambiente organizacional, quando se fala em orçamento,
associa-se aos recursos financeiros, assim como a previsão e possibilidade de sua
aplicação. Na verdade, isso ocorre porque costumamos entender como previsão a
identificação pura e simples para o futuro do desempenho da empresa e, dessa forma,
vale destacar a importância do fator previsão, considerado como básico para a
concepção do orçamento, a partir da qual, diante das novas realidades, procura-se tomar
decisões no sentido de fortalecer e perpetuar a atividade empresarial.
Em geral, para elaboração do orçamento procura-se adotar um processo lógico de
planejamento, onde, além dos comportamentos no passado, são também considerados
fatores novos ainda não experimentados pela empresas que poderão influenciar de modo
decisivo o desenrolar de suas atividades no futuro. Por isso, se faz necessário evidenciar
como os custos poderão atingir ou modificar um orçamento de uma organização, já que
existem fatores que provocam mudanças esperadas ou não no mercado atendido pela
empresa, no poder de compra e venda.
Entende-se então a palavra "planejamento" como um conjunto de decisões cujos efeitos
se farão sentir no futuro e afetará diretamente os "planos" de uma organização. Em
outras palavras, diz-se que o "plano" é o documento formal do processo de
planejamento, onde são descritos não apenas os objetivos que a empresa pretende
alcançar, mas também nele são detalhados todos os meios necessários ao alcance desses
objetivos. Por exemplo, o plano de vendas apresenta os produtos a serem negociados,
além dos custos prováveis para a realização das vendas e a apuração de quanto essa
organização irá ter de lucro.
Assim, o orçamento é traduzido como expressão monetária dos planos operacionais e de
investimentos que, além das informações já citadas, passam a apresentar valores
monetários. Tomando-se o exemplo acima, o «plano de vendas» recebe informações
acerca dos preços projetados para os produtos e dos respectivos valores de vendas,
transformando-se em orçamento de vendas. O Plano de Produção recebe informações
sobre os custos de produção projetados, transformando-se então em Orçamento de
Produção em Valores Monetários etc.
O orçamento, deste modo, constitui-se num instrumento de planejamento e controle das
atividades empresariais tendo em vista o principal objetivo da atividade privada que é o
lucro. Por conseguinte, o orçamento estará traduzindo a escolha da melhor alternativa
ou grupo de alternativas de ação que, pela mais eficiente administração dos escassos
recursos disponíveis, concorrerá para a obtenção do maior lucro possível, bem como
para que a situação seja duradoura.
Considerando que o orçamento representa as escolhas e a tomada de decisão de uma
organização, com base na margem de lucro e nos custos que representam
adequadamente a realidade organizacional, o presente estudo busca responder a seguinte
problemática: Como os custos podem interferir em um orçamento de uma empresa de
Ensino e Pesquisa?
Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo geral analisar como os custos
interferem no orçamento de uma empresa de ensino e pesquisa, e como objetivos
específicos, verificar se as práticas contábeis estão de acordo com as Normas Brasileiras
de Contabilidade (NBC); identificar os custos fixos e custos variáveis utilizados para a
obtenção da eficiência e eficácia da organização; e verificar o modelo de orçamento
utilizado pela empresa.
2 IMPORTÂNCIA DO ORÇAMENTO NA ATIVIDADE EMPRESARIAL
Orçamento pode ser definido como um conjunto global, sincronizado e integrado de
programas de ação que quantificam, física e monetariamente, as alternativas planejadas
(objetivos e meios) para maximizar os lucros empresariais num dado período, sem
perder de vista os riscos assumidos, de tal sorte a também maximizar a riqueza dos
acionistas residuais.  Nas organizações, os orçamentos podem ser de desempenho, caso
em que as previsões e estimativas se referem a objetivos de lucros, receitas e despesas;
ou de recursos, indicando as fontes e as épocas em que os meios necessários poderão ser
obtidos ou não.
Na verdade, o orçamento na atividade empresarial traduz a adoção da melhor alternativa
de ação. Assim, e como ele é voltado para o futuro, permite ao empresário uma visão
antecipada dos possíveis custos e dos resultados a serem alcançados pela organização,
caso prevaleçam às circunstâncias e tendências sobre as quais ele foi concebido. Implica
que todo esforço será empregado para que esses resultados sejam efetivamente atingidos
ou, até mesmo, superados, na hipótese da empresa se defrontar com condições mais
favoráveis de atuação (BRAGA, 1995).
Sem o orçamento, não se teria como saber se as atividades programadas estariam ou não
sendo desenvolvidas e, portanto, os tomados de decisões corretivas estariam totalmente
prejudicados, uma vez que não teria condições de detectar falhas de execução, pela
ausência de um parâmetro de confronto. Enfim, sem o orçamento, a empresa atua à
deriva, sem saber, ao certo, o rumo assumido.
Justamente por isso o orçamento tem uma grande importância para as empresas, uma
vez que tem a finalidade de auxiliar os gestores no sentido de orientar as ações e
esforços dos líderes das áreas em uma organização e, também, é uma ferramenta que
procura mensurar os objetivos adequados para a empresa.
Para Braga (1995) são muitas as vantagens que o orçamento podem oferecer, entretanto,
cabe destacar que esta atividade obriga as análises antecipadas das políticas básicas da
empresa; força a administração a expressar, em termos numéricos e quantitativos, o que
é necessário fazer para alcançar resultados satisfatórios e desejados; obriga a
administração a planejar mais economicamente a utilização de determinados recursos,
tais como mão-de-obra, matéria-prima, recursos de capital, contribuindo dessa forma,
para a minimização dos custos e otimização das decisões.
Além dessas, outras vantagens se referem ao fato de que a partir de políticas pré-
determinadas, os executivos são liberados de muitos processos decisórios, propiciando
maior tempo para que desenvolvam a sua criatividade; verifica o progresso ou
retrocesso no sentido da realização dos objetivos prioritários determinados pela
organização; exerce influência notável no uso mais econômico do Capital de Giro;
facilita a coordenação obrigando todos os departamentos a cooperar para alcançar os
resultados fixados no orçamento; atua como sinal de segurança para a alta
administração, pois indica a diferença entre o previsto e os resultados reais obtidos
(BRAGA, 1995).
Finalmente, vale ressaltar que o orçamento é o único meio de predeterminar quando e
quanto será preciso obter um financiamento e é uma estratégia que obriga a Direção a
fortalecer-se com uma Contabilidade de Custos, uma Contabilidade Geral, e registros
financeiros adequados.
2.1 QUEM FAZ O ORÇAMENTO NA EMPRESA?
O orçamento pressupõe, para sua adequada elaboração, a existência de um trabalho de
equipe, com a participação de todos os responsáveis pelos diversos setores da empresa.
Significa que o orçamento não deve ser elaborado entre poucos funcionários de um
gabinete de trabalho para, depois, ser imposto a quem irá executá-lo. É necessário que,
diante dos objetivos maiores da organização, propostos pela alta direção, ele seja
concebido a partir das pessoas que detenham os cargos mais elevados dentro da
empresa, as quais devem ser ouvidas e incentivadas a apresentar sugestões.
Dessa maneira, pessoas estarão contribuindo diretamente para a preparação de uma peça
maior, onde seu ponto de vista estará registrado. Como conseqüência, além de motivar e
comprometer o pessoal, o orçamento acaba se transformando num verdadeiro
compromisso de trabalho em torno do qual estarão reunidos todos os responsáveis por
setores mais importantes dentro da empresa. Por isso mesmo, é lógico se afirmar que se
alguém ajuda a fixar objetivos e meios de ação, automaticamente se compromete a
contribuir para a realização desses objetivos, sem utilizar meios daqueles que ele
também ajudou a definir.
Assim, embora na empresa exista uma Gerência Financeira, ou mesmo uma Divisão de
Orçamento, não pode imaginar que são esses setores que "fazem" o orçamento. O
orçamento deve ser feito por todos e para todos, isto é, ele é elaborado por todos os
diferentes setores da empresa, à vista dos objetivos maiores da organização e os seus
resultados também deverão premiar a todos os que dele participam.
2.2 O PAPEL DA GERÊNCIA FINANCEIRA NO PROCESSO
ORÇAMENTÁRIO
O gerente financeiro ou da divisão orçamentária assume a responsabilidade pela
administração do orçamento, isto é, coordena a preparação dos chamados "Planos
Operacionais", por parte dos diversos setores da empresa, em "Orçamentos
Operacionais", ganhando a expressão monetária. São, assim, traduzidos em unidade
monetária, no caso real (R$), permitindo que sejam feitas as comparações necessárias à
tomada de decisões. Cabe, também ao gerente financeiro a responsabilidade pela
avaliação econômico-financeira dos projetos de investimento constantes do orçamento,
no que tange à viabilidade ou não de sua implementação.
Finalmente, é tarefa inerente a sua função, a consolidação de todos os itens monetários,
constantes das diversas peças orçamentárias, numa única peça denominada "Orçamento
de Caixa", cuja importância maior reside no fato de se poder aferir, antecipadamente, o
grau de liquidez da empresa diante das atividades para ela programadas.
2.3 ORÇAMENTO, CUSTOS E ORGANIZAÇÃO DA EMPRESA.
O orçamento não termina com sua preparação. É estritamente necessário que o mesmo
seja acompanhado sistematicamente, possibilitando a determinação de desvios e a
tomada de decisões que procurem corrigi-los. Porém, como o orçamento apresenta
apenas os registros de estimativas, torna-se indispensável à utilização da Contabilidade,
já que esta é uma ciência que estuda e controla o patrimônio em seus aspectos
quantitativos e qualitativos, com a finalidade de fornecer informações aos seus usuários
(IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2003).
Assim, o orçamento registra as "estimativas" enquanto a Contabilidade registra as
"realizações" e, é exatamente a partir da comparação de estimado com o realizado que
se verifica o real cumprimento ou não das atividades programadas.
 
Braga (1995) e Robles Jr (2003) afirmam inclusive que o "orçamento deve traduzir a
Contabilidade do futuro" mostrando todas as modificações nos bens, direitos e
obrigações de uma empresa, chamando a atenção para o realismo e a seriedade que
devem envolver a sua preparação no sentido de se evitar, quando de sua execução, a
ocorrência de desvios de grande relevância. Em outras palavras, o que for indicado pela
Contabilidade, em termos de efetivas realizações, deve estar bem próximo do que foi
estimado por parte da empresa.
Por essas razões é comum encontrar as representações gráficas das projeções
orçamentárias anexadas ao plano de contas da contabilidade empresarial, o que favorece
todo o trabalho de acompanhamento do orçamento. Da mesma forma, é imperativo
adaptar-se os formulários de relatórios contábeis periódicos, de tal sorte que eles
permitam a inclusão dos valores orçamentários planejados, com vista à comparação
imediata entre a situação efetiva, constatada pela Contabilidade e a situação projetada
constante do orçamento.
Robles Jr (2003) considerada que o aspecto custos é reconhecido como um dos fatores
preponderantes na tomada de decisão empresarial e, por isso, procedimentos idênticos
devem ser adotados no que se concerne ao sistema de custos da empresa, ou seja, os
mesmos critérios de apropriação utilizados pelo sistema de custos devem ser
considerados na preparação do orçamento. Também os relatórios de custos devem ser
adequados no sentido de identificar a parcela dos custos no faturamento total e, ainda
tem como finalidade facilitar a determinação de desvios e permitir, se for o caso, uma
imediata tomada de decisão corretiva.
Apesar da importância e necessidade do orçamento para a saúde financeira de uma
organização, o orçamento não funciona em qualquer tipo de empresa e, para que ele
ocorra é indispensável que esta possua um mínimo de organização, uma vez que o
orçamento deve refletir todas as operações da empresa através dos seus diversos setores
e funções, tal como definido no organograma que, por seu turno, traduz os aspectos de
hierarquia, subordinação, autoridade e responsabilidade. Tais aspectos devem ser
respeitados durante a preparação do orçamento, para se evitar os naturais conflitos entre
as responsabilidades atribuídas pelo planejamento e a conferida ao executante da tarefa.
Como já abordado anteriormente, é absolutamente imprescindível que o orçamento seja
elaborado com a participação de quem vai executá-lo. Imprescindível é, também, que
cada responsável só atue no campo estrito de sua competência e responsabilidade,
porém, sem perder de vista os objetivos globais da empresa.
Em empresas sem qualquer organização, o orçamento perde totalmente o seu valor, em
virtude, principalmente dos constantes conflitos de autoridade e responsabilidade, o que,
não raro, implica numa total ausência do que chamamos "consciência orçamentária".
2.4 IMPLEMENTANDO O ORÇAMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
De acordo com Santos, Vasconcelos e Reis de Macedo (2003) o processo orçamentário
requer um minucioso estudo das necessidades e disponibilidades organizacionais e, por
isso, não pode ser feito de forma rápida e sem critérios definidos pelas pessoas que
fazem parte da empresa.
Esses mesmos autores defendem que para garantir o sucesso na implementação de um
orçamento se faz necessário a utilização de cinco etapas. A primeira etapa envolve o
reconhecimento do clima organizacional e o diagnóstico da realidade econômico-
financeira, a qual é composta pelas seguintes atividades: realização de visitas para
entendimento do ciclo operacional e realidades funcionais; compreensão da missão,
objetivos da empresa e estratégia; identificação da ênfase desejada para o planejamento
e controle; conhecimento da expectativa dos gestores; descrição da estrutura de controle
existente; percepção da cultura organizacional; reconhecimento da posição de mercado
atual e esperada assim como da estratégia corporativa e; projeção de cenário.
Na segunda etapa existe a elaboração do planejamento da prática orçamentária que
prevê a coleta de informações específicas junto aos setores da empresa; discussão com
os gerentes acerca das diretrizes que nortearão os trabalhos; levantamento do material a
ser utilizado e seus respectivos custos; escolha das pessoas que implementarão o
planejamento e discussão sobre a forma de fazê-lo (análise crítica da técnica).
 
A terceira etapa mostra a organização da infra-estrutura e ambiente para a construção do
orçamento, definição da equipe a ser envolvida com base em estudo preliminar acerca
do perfil profissional qualificado para a tarefa; identificação dos responsáveis setoriais;
discussão sobre as formas de treinamentos necessários e construção de um cronograma
para reuniões.
A quarta etapa é a elaboração do orçamento propriamente dito com a definição do
alcance orçamentário; identificação das fontes de receitas que financiarão as despesas e
custos da empresa e a definição das fontes alternativas de recursos. E, a quinta e última
etapa está relacionada com o acompanhamento orçamentário pela gestão e tem por
finalidade a avaliação dos resultados obtidos comparando os números estimados com os
valores efetivamente realizados; a descoberta e correção das falhas no processo e o
redimensionamento de novas diretrizes a partir dos resultados obtidos.
Como pode ser visto a elaboração do orçamento organizacional é um processo criterioso
de definição de necessidades, atividades e prioridades que garantam responder e atender
aos objetivos da empresa. Deve estar fortemente articulado a missão da empresa e ser
compreendido por todos os que dela fazem parte.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A empresa pesquisada atua na área de ensino de pós-graduação e de prestação de
serviços, através de consultoria e pesquisa. Pode ser caracterizada como uma sociedade
civil por cotas de responsabilidades limitadas, pessoa jurídica de direito privado, com
autonomia administrativa, técnica e financeira, com sede e foro na cidade de João
Pessoa, estado da Paraíba (RELATÓRIO DE GESTÃO, 2005). Tem como missão
“contribuir para melhoria individual e institucional, através do desenvolvimento das
pessoas e das organizações”. Os principais processos na área acadêmica estão
relacionados com os planejamentos dos cursos; aprovação dos cursos e execução dos
cursos. Na área administrativo-mercadológica estão os diagnósticos da demanda; a
divulgação de produtos; o atendimento aos clientes; e os serviços gerais. Na área
financeira estão os recebimentos; o pagamento; a gestão financeira (RELATÓRIO DE
GESTÃO, 2005).
O estudo, de abordagem qualitativa, foi caracterizado como uma pesquisa documental,
uma vez que, segundo Vergara (2004), foi realizado a partir de documentos conservados
no interior de uma organização privada e, também como estudo de caso, pois se limita a
profundidade e detalhamento de aspectos relativos ao orçamento e custos a uma
determinada organização.
 
O universo da pesquisa correspondeu a todos os relatórios anuais de gestão existentes na
organização desde sua fundação, porém, para amostra foi considerado o período de
2003 a 2005 e, portanto, esses relatórios foram os instrumentos fundamentais para a
realização do estudo, assim como a observação simples e entrevista.
A entrevista, realizada com os gestores da organização, se baseou em um formulário
composto por duas questões objetivas e, a observação ocorreu durante visitas realizadas
à empresa.
4 ANALISANDO O ORÇAMENTO E COMO OS CUSTOS INFLUENCIAM NA
EMPRESA PESQUISADA
A empresa estudada apresenta-se bem organizada e têm em sua estrutura organizacional
quatro diretorias (financeira gestão e educacional e marketing). Quanto ao porte, a
empresa também pode ser classificada como pequena empresa, com faturamento anual
de cerca de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais) e tem um número médio de clientes/
mês na ordem de 350.
Regularmente, mantém duas estratégias de avaliação: a avaliação acadêmica e avaliação
econômico-financeira. A avaliação acadêmica tem dois objetivos: verificar o acerto
estratégico da organização com a adoção de determinado produto e avaliar a qualidade
do produto, sob ótica do cliente. Já a avaliação econômico-financeira, relacionadas com
as práticas contábeis, tem sido mensalmente realizada com o objetivo de manter e
ampliar a viabilidade do negócio, através da análise do retorno sobre o investimento
(ROI), posicionamento mercadológico e de diversos indicadores financeiros que
possibilitam uma avaliação retrospectiva e prospectiva de desempenho e resultados.
 A organização em estudo utiliza controles internos para acompanhar o desempenho de
todas as suas áreas, o que pode ser destacado na fala de um dos entrevistados:
“Comparar o extrato bancário com o que foi lançado no fluxo de caixa e orçamentos,
analisando toda a documentação, controle de inadimplência e controles financeiros
como: recebimentos, pagamentos, despesas, cursos etc”.
Quanto à existência de controles econômico-financeiros utilizados pela empresa foi
verificado o uso do fluxo de caixa e orçamentos mensais para controle dos resultados
econômico-financeiros envolvendo as entradas (mensalidades recebidas); saídas
(aluguel de sala de aula, locação de datashow, divulgação, ajuda de custo, material de
expediente, coffee-break e folha de pagamento).
Para a obtenção da sua eficiência e eficácia a empresa estudada tem previsto em seu
orçamento custos fixos destinados a pagamento de professores, aluguel de
equipamentos e, custos variáveis, como material de expediente. Na verdade, nessa
empresa existe um estudo e acompanhamento das Despesas fixas versus custos fixos;
custos variáveis, lucros, despesas diversas, investimentos, depreciação etc. e, a
responsabilidade por essa operação é da competência do diretor financeiro. Esse
acompanhamento é realizado mensalmente, através de uma planilha que evidencia 05
aspectos: Salários e Encargos (áreas financeira, gestão e educacional) ; Impostos e
Taxas (ISS, INSS, IRPF, IPTU IRRF); Despesas Operacionais (cursos, treinamentos,
eventos diversos); Despesas Administrativas (energia, água, telefone, aluguel…);
Custos de Serviços (assessoria jurídica, contábil e contratação de professores).
Finalmente, é importante ressaltar que a análise do orçamento permitiu verificar que os
custos variáveis apresentam crescimento nos três anos estudados, o que está associado
ao aumento gradativo no faturamento nesse período, com a manutenção relativa dos
custos fixos. A empresa apresentou uma evolução de 266,16% e 131,39% de
crescimento no lucro líquido quando comparados os exercícios de 2003/2004 e
2004/2005, da mesma forma o patrimônio líquido da organização evoluiu 294,06%
comparando 2003/2004, e 224,39% quando se compara o ano de 2004/2005.
Percebe-se, portanto, que esta organização tende a crescer cada vez mais no mercado de
ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A influência dos custos no orçamento de uma empresa está diretamente ligada à
quantidade produzida pela empresa visto que, isso é de fundamental importância para
fazer uma análise dos dados.O processo orçamentário de uma empresa é uma estratégia
de suma importância para garantir a competitividade das organizações, uma vez que
assume papel de relevância, ajudando a prever desperdícios, apoiar a gestão e transmitir
informações aos administradores sobre o planejamento e acompanhamento das
atividades executadas. Assim, muitas organizações têm investindo em técnicas de
orçamento para controle dos custos e dessa forma garantir a sobrevivência financeira,
através do que é possível eliminar de custos e despesas.
Assim, como o objetivo geral desta pesquisa foi analisar como os custos interferem no
orçamento de uma empresa de ensino e pesquisa, foi possível constatar que a
organização em estudo utiliza um modelo considerado básico de orçamento isso se deve
a empresa ser considerada como de pequeno porte, apesar de reconhecer que esse
procedimento é um recurso bastante adequado para que possa garantir a eficiência e
eficácia dos seus resultados.
Constatou-se ainda que a implantação de práticas de orçamento está também
relacionada ao conhecimento dos gestores sobre as vantagens e os benefícios desta
importante ferramenta, possuindo, portanto, uma visão gerencial que pode repercutir
nos resultados organizacionais.
Mas, pode-se afirmar que os mecanismos de controle econômico-financeiro usado pela
organização estão de acordo com as normas brasileiras de contabilidade.
Entretanto, é importante destacar que a prática gerencial pode ser considerada como
uma estratégia de garantir um melhor controle de suas ações, uma vez que a
organização estudada tende a crescer cada vez mais no mercado de ensino, situação esta
representada pelos fatores: lucro e patrimônio líquidos.
Diante desse cenário podemos afirmar que não seria necessária a utilização de um
sofisticado sistema orçamentário visto que essa organização é bastante nova no mercado
Paraibano. Um processo orçamentário alicerçado em um estilo de gestão permite a
todos os seus gestores contribuírem com suas habilidades e talentos, recebendo em troca
a garantia de uma maior probabilidade de certeza para o sucesso e sobrevivência,
superando a existência de forças externas que poderiam influenciar o desempenho da
empresa.
Assim, a conscientização da importância da implantação de novos instrumentos
administrativos utilizados para o controle de indicadores econômico-financeiros
utilizados através do processo orçamentário não deve passar desapercebido, muito pelo
contrário deve ser enfatizado que se fazem necessários esclarecimentos urgentes no
sentido de tentar convencer os gestores organizacionais para a importância do uso da
estratégia do orçamento, principalmente, como resposta às exigências impostas pelo
mercado de concorrência e competitividade em que vivem todas as organizações.
Nesse sentido o autor deste estudo tem a pretensão de apresentar, aos gestores da
organização pesquisada, os conhecimentos sobre sistema orçamentário, suas vantagens
e benefícios, bem como sobre técnicas de orçamento simples, mas adequadas à
realidade local e às suas possibilidades de escolha.
Assim sendo, esta pesquisa foi revestida de total importância para o aprofundamento do
conhecimento do orçamento, a qual, direta ou indiretamente, pode influenciar no
sucesso organizacional, através da veracidade das informações contábeis e da garantia
nos processos de tomada de decisão.
Por outro lado, deve-se ressaltar que apesar da importância deste estudo, ainda há muito
que se discutir sobre esse assunto, mas esperamos que este material colabore para a
compreensão do tema abordado e contribua para os aspectos relacionados ao
reconhecimento do trabalho do orçamento como forma de prever os futuros custos,
despesas operacionais, administrativas e etc.
Finalmente, cabe ressaltar que novos estudos sobre essa temática deverão ser realizados
no sentido de que seja possível responder com segurança a questão norteadora desse
estudo, a qual esteve focada em verificar o uso do orçamento em todas as empresas de
pequeno porte e na descoberta de formas como a este pode contribuir com a melhoria
dos padrões de eficiência e eficácia de uma organização.
Dessa forma, após a realização de muitos outros estudos de natureza semelhantes é que
existem possibilidades de generalização para os dados encontrados e aí sim afirmar que
as organizações de pequeno porte necessitem da utilização do sistema orçamentário.
REFERÊNCIAS
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1989.
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nas Organizações: uma abordagem prática. Anais do VI Enecon – Encontro Nordestino
De Contabilidade, Fortaleza, 2003.
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