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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


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Periódico do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício
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ANÁLISE COMPARATIVA DO CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO E DA PRESCRIÇÃO DE


INTENSIDADE DE TREINAMENTO AERÓBIO: ERGOESPIROMETRIA VERSUS TESTE
ERGOMÉTRICO CONVENCIONAL

COMPARATIVE ANALYSIS OF MAXIMUM CONSUME OF OXYGEN AND THE LAPSING OF


INTENSITY OF AEROBIC TRAINING: ERGOESPIROMETRIC VERSUS CONVENTIONAL
ERGOMETRIC TEST

Francisco Carlos Costa 1,2, Marco Paulo Chagas Garcia1,2, Diogo Daniel de Almeida 1, Eduardo
Caldas Costa2,3,4, Newton Nunes 1,4,5, Francisco Navarro1

RESUMO ABSTRACT

O estudo tem o objetivo de comparar o consu- Compare the maximum consumption of


mo máximo de oxigênio estimado (VO2máxE) oxygen estimated (VO2maxE) by the formula of
pela fórmula do ACSM (2000) a partir de um ACSM (2000) in a conventional ergometric test
teste ergométrico convencional, com o consu- with the maximum consumption of oxygen
mo máximo de oxigênio medido na ergoespiro- obtained in an ergoespirometric test, as well as
metria, bem como, os limites inferiores e compare the inferior and superior limits of
superiores de prescrição de intensidade de lapsing of aerobic training intensity determined
treinamento aeróbio determinado pelo teste by the ergometric test (50% and 85% VO2maxE)
ergométrico convencional (50% e 85% with of lapsing of aerobic training intensity
VO2máxE) com a prescrição de intensidade de obtained by the ergoespirometric test:
treinamento aeróbio obtida pelo teste anaerobic limit and respiratory compensation
ergoespirométrico: limiar anaeróbio e ponto de point, in young sedentary adults. 11 individuals
compensação respiratória, em adultos jovens (24 years) were submitted to gradual
sedentários. Realizaram o teste 11 indivíduos ergoespirometric test until the exhaustion so
com 24 anos e foi medido o VO2máx, VO2 no VO2max, VO2 in anaerobic limit and VO2 in
limiar anaeróbio e VO2 no ponto de respiratory compensation point were
compensação respiratória, além de coletada a measured, apart from measuring the speed
velocidade e inclinação encontradas ao final and inclination obtained at the end of each test
de cada teste para determinar a intensidade in order to determine the lapsing of aerobic
de prescrição de 50% do VO2máxE e 85% do training intensity of 50% VO2maxE and 85%
VO2máxE. O VO2máxE obtido no teste VO2maxE. The VO2maxE obtained at the
ergométrico convencional foi de 52,31 ergometric test was 52.31 ml/Kg/min and the
ml/Kg/min e o VO2máx medido na VO2max measured at the ergoespirometric test
ergoespirometria foi de 43,18 ml/Kg/min. O was 43.18 ml/Kg/min. The superior limit of
limite superior de intensidade de exercício exercise intensity (85% VO2maxE = 44.46
(85% do VO2máxE= 44,46 ml/Kg/min) proposto ml/Kg/min) proposed by the ACSM (2000),
pelo ACSM (2000), quando comparado ao da when compared to the ergoespirometric test
ergoespirometria (VO2PCR= 34,31 ml/Kg/min) (VO2PCR = 34.31 ml/Kg/min) revealed a
apresentou diferença significante. O VO2máxE significant difference. The VO2maxE over
superestimou o medido na ergoespirometria. O estimated the measure obtained by the
limite inferior de VO2 através da prescrição ergoespirometric test. The inferior limit of VO2
indireta de treinamento aeróbio se assemelha through the indirect lapsing of aerobic training
com o limiar anaeróbio, enquanto o limite is similar with the anaerobic limit, while the
superior superestima o ponto de compensação superior limit overestimates the respiratory
respiratória (p-<0,05). compensation point (p-<0.05).

Palavras-Chave: Ergoespirometria. Teste Keywords: Conventional Ergometrics Test,


ergométrico convencional. Prescrição de Exercise prescription, Ergoespirometrics Test,
exercício.
1- Programa de Pós-Graduação Lato Sensu Endereço para corespondência: Av. Rui
em Fisiologia do Exercício: Prescrição de Barbosa 1100 – CEP – 59056-300, Natal RN.
Exercício da Universidade Gama Filho – UGF. cacausports@hotmail.com.br

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INTRODUÇÃO 1956, que o teste de esforço evoluiu em


conceitos e na prática clínica, foi introduzida a
As doenças do aparelho circulatório esteira rolante e o respectivo protocolo para
nas últimas décadas se constituem na utilização desse novo equipamento (Godoy,
principal causa de morte nos paises Moffa, 2004).
desenvolvidos, além disso, vem se tornando O teste ergométrico convencional
nos paises em desenvolvimento um problema desde que foi introduzido no Brasil em 1972
de saúde pública com maior participação de experimentou extraordinário crescimento na
mortalidade e morbidade World Health sua aplicação. Como importante método de
Organization (WHO, 2005). No Brasil em 2003, diagnóstico, passou a ser utilizado na rotina de
o número de óbitos por doenças diagnóstico de diversos serviços em todo o
cardiovasculares foi de 274.068 (Souza, país. Em 1978, foi publicado primeiro livro
Rocha, Malta e colaboradores, 2006; Rego, texto pelo professor Gilberto Marcondes e
Berardo, Rodrigues e colaboradores, (1990) colaboradores. O teste ergométrico
ao publicarem o primeiro estudo nacional convencional tem por objetivo submeter o
sobre risco cardiovascular, revelou que na individuo a estresse físico programado e
cidade de São Paulo o fator de risco com personalizado, com finalidade de avaliar a
maior prevalência foi o sedentarismo, seguido resposta clínica, hemodinâmica,
do tabagismo, hipertensão arterial, obesidade eletrocardiográfica e metabólica ao esforço
e alcoolismo. (Andrade, Brito, Vilas-Boas e colaboradores,
O sedentarismo se constitui em um 2002).
dos mais importantes fatores de risco para a O teste ergométrico convencional se
saúde cardiovascular da população (Nobre, constitui em um dos exames complementares
Santos, Fonseca, 2005). Metanálise de mais solicitados em Medicina. Estatísticas
estudos observacionais constatou o dobro de americanas mostram que, em 8,2% das
risco para desenvolver evento coronariano em consultas cardiológicas e 0,55% do total de
sedentários comparados aos indivíduos consultas médicas em geral, é solicitado ao
fisicamente ativos (Powell, Thompson, paciente que se submeta a esse procedimento
Caspersen e colaboradores, 1987). Além (Cohen, Sttaford, Misra 1999). Dados não
disso, entre os fatores relacionados com a publicados e baseados em levantamentos
morbimortalidade cardiovascular, o internos de grandes laboratórios prestadores
sedentarismo também se associa à de serviços nesta área sugerem que a sua
mortalidade por todas as causas maior utilização em nosso meio representado
(Paffenbarger, Hyde, Wiing e colaboradores, pela maioria dos exames, é na avaliação de
1986). No entanto, Lee e Skerrett (2001) indivíduos assintomáticos (Araújo, 2000).
afirmam haver uma relação inversa bem Na atualidade, os testes de aptidão
consistente entre volume de atividade física e física apresentam alguns objetivos, dentre
mortalidade por todas as causas. O binômio esses estão: fornecimento de dados
exercício físico versus saúde é reportado importantes no processo da prescrição de
desde a antiguidade por médicos como exercício, coleta de dados que permitem a
Hipócrates e Galeno (Berryman, 1989). avaliação do progresso dos participantes em
O primeiro trabalho abordando o teste programas de exercício, motivação dos
ergométrico foi publicado por Master e indivíduos, estabelecendo objetivos de aptidão
Oppenheimer, em 1929, utilizando a escada física a serem alcançados, orientação aos
de dois degraus (Tebexreni, Lima, Tambeiro e participantes sobre os conceitos de aptidão
colaboradores, 2001). física e nível de aptidão individual, além de
As bases da moderna estratificação de risco American College
eletrocardiografia de esforço foram Sports Medicine (ACSM, 2000). Além disso, o
estabelecidas nos anos cinqüenta. Em 1954, exercício físico é um esforço fisiológico de
Astrand e Rhyming estabeleceram as bases grande valia para evidenciar alterações
fisiológicas para o método, correlacionando o cardiovasculares ausentes em situação de
consumo de oxigênio (VO2) com freqüência repouso (Negrão e Barreto, 2005).
cardíaca em níveis submáximos de exercício O consumo máximo de oxigênio
(Tebexreni, Lima, Tambeiro e colaboradores, (VO2máx) é um índice objetivo do grau de
2001). No entanto, foi com Robert Bruce em esforço realizado e de funcionalidade, mesmo

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assim só foi utilizado nos protocolos de teste treinamento aeróbio entre a ergoespirometria e
de esforço a partir de 1955, quando as o teste ergométrico convencional.
técnicas de medidas de gases tornaram-se
disponíveis. A introdução do termo “limiar MATERIAIS E MÉTODOS
anaeróbio ventilatório” surgiu em 1964 por
Wasserman e Mcllroy (Braga e Nunes 2005). Fizeram parte do presente estudo
A medida direta do VO2máx é feita onze universitários saudáveis, voluntários do
submetendo o indivíduo a um teste genero masculino, com idade de 24 ± 1,8
ergoespirométrico com cargas crescentes e anos, peso de 78,44 ± 10,82 Kg, estatura de
analisando as frações expiradas de oxigênio 174 cm ± 8,2 cm e IMC de 26 ± 3,8, não
(O2) e dióxido de carbono (CO2) durante o inseridos em nenhum programa de exercício
esforço, além da ventilação pulmonar. Esse físico regular.
tipo de procedimento é o mais fidedigno e Os indivíduos foram submetidos a
considerado padrão ouro para esses fins teste ergoespirométrico em esteira rolante da
(Diaz, Montano, Melchor e colaboradores, marca Inbrasport, modelo ATL, seguindo o
2000). Para Powers e Howley (2000), O limiar protocolo de rampa com intensidade
anaeróbio (LA) representa o ponto onde a progressiva adaptado de Tebexreni e
produção de lactato no exercício é aumentada, colaboradores (2001). Inicialmente foi
mais ainda existe um equilíbrio entre a realizado um aquecimento com os indivíduos
produção e a remoção. As fontes aeróbias de 3 minutos com velocidade de 2,5 Km/h sem
são predominantes no fornecimento de inclinação. Após esse período, o teste foi
energia para a atividade. Já o ponto de iniciado com velocidade de 3 Km/h sem
compensação respiratória (PCR) representa o inclinação, onde a partir de então, houve
ponto onde a produção de lactato é incremento de carga (velocidade e inclinação)
aumentada desproporcionalmente em relação a cada seis segundos até que os indivíduos
ao que vinha acontecendo nas intensidades atingissem a exaustão. A velocidade final
inferiores do exercício, e a fonte de energia prevista para o teste foi de 12 km/h, com
aeróbia não consegue mais ser predominante, duração de 10 minutos e inclinação de 5%.
passando a necessitar de ajuda das fontes A recuperação teve início
anaeróbias, que acentuam o acúmulo de imediatamente após os indivíduos atingirem o
lactato, induzindo à fadiga precocemente pico de esforço sendo realizado no primeiro
(Powers e Howley, 2000). minuto a uma velocidade de 50% da final
Todavia, a ergoespirometria tem um atingida no teste, sem inclinação, e no
custo alto, são necessários equipamentos segundo minuto a 25%.
sofisticados, mão-de-obra especializada para Durante o teste o ar expirado foi
a execução dos testes, maior quantidade de coletado por analisador de gases metabólicos
tempo com cada indivíduo avaliado e ainda de marca Medgraphics, modelo VO 2000
maior motivação por ser geralmente realizada registrado através de um software de marca
em ambiente de laboratório (ACSM, 2000). micromed, modelo elite.
Para Rondon, Forjaz, Nunes e O VO2máx medido diretamente no teste
colaboradores, (1998) os custos elevados do ergoespirométrico foi considerado como sendo
teste ergoespirométrico, tornam o teste o valor obtido no pico do exercício quando o
ergométrico convencional mais utilizado que a indivíduo atingiu a exaustão. Já o VO2maxE foi
ergoespirometria na avaliação da capacidade calculado indiretamente a partir da velocidade
funcional dos indivíduos. No entanto, a e da inclinação máxima atingida no teste
determinação do consumo máximo de ergométrico convencional, utilizando-se a
oxigênio e, consequentemente a prescrição de equação de corrida proposta pelo ACSM,
intensidade de exercício a ser desenvolvida (2000) (5mph): VO2 (mlO2) = [Velocidade
em programa de condicionamento físico são (ml/min) x 0,2] + [velocidade (ml/min) x
realizados por métodos indiretos, normalmente %inclinação x 1,8 x 0,5] + 3,5 mlO2/Kg/min.
baseados nas recomendações do ACSM Com os resultados obtidos na
(2000). ergoespirometria foram determinados os
Nesse sentido, o objetivo do presente Limiares Ventilatórios (LV): Limiar Anaeróbio e
estudo é verificar se há diferença na medida Ponto de Compensação Respiratória (PCR). O
do VO2máx e prescrição de intensidade de limiar anaeróbio foi considerado no minuto de

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exercício em que se observou um incremento como limite superior 85% do consumo máximo
não linear da razão de troca respiratória de oxigênio estimado (85% do VO2maxE) de
(VCO2/VO2), os menores valores do acordo com as recomendações do ACSM
equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) e (2000).
da pressão parcial final de oxigênio (PetO2), Para caracterização da amostra e
isto é, antes do início do aumento progressivo disposição dos resultados foi utilizada a
dessas respostas. estatística descritiva (média; desvio-padrão): o
O ponto de compensação respiratório teste não-paramétrico U de Mann-Whitney (5%
foi considerado no minuto de exercício em que de significância) foi determinado para a
se observou o menor valor do equivalente verificação da presença ou não de diferença
ventilatório de dióxido de carbono (VE/VCO2), significante para os aspectos abordados. O
ou seja, antes do inicio do seu aumento pacote estatístico usado para esses fins foi o
progressivo, e o maior valor da pressão parcial ESTATÍSTICA 99 versão 6.1.
final de dióxido de carbono (PetCO2).
Para a prescrição de intensidade de
treinamento aeróbio, baseada no teste RESULTADOS
ergoespirométrico, foi utilizado como limite
inferior da prescrição o valor de VO2 medido A tabela 1 mostra as variáveis e
no limiar anaeróbio e como limite superior da valores pertinentes à caracterização da
prescrição o valor de VO2 medido no ponto de amostra enquanto a tabela 2 apresenta os
compensação respiratório. valores obtidos na ergoespirometria (VO2máx;
Para a prescrição indireta da limiar anaeróbio; ponto de compensação
intensidade de treinamento aeróbio, baseado respiratório) e no teste ergométrico
no teste ergométrico convencional, foi utilizado convencional (VO2máxE; 50% VO2máxE; 85%
como limite inferior 50% do consumo máximo VO2máxE).
de oxigênio estimado (50% do VO2máxE) e

Tabela 1- Caracterização da amostra

Variáveis N Média Desvio-padrão


Idade (anos) 11 24,45 1,81
Massa (Kg) 11 78,44 10,82
Estatura (cm) 11 174 8,21
IMC 11 25,88 3,71
PAS (mmHg) 11 121,82 10,07
PAD (mmHg) 11 71,36 5,52
FCrep (bpm) 11 72,91 10,12
FCmax (bpm) 11 194,18 7,21
Fonte: Dados da pesquisa.
IMC- Índice de massa corpórea PAS- Pressão arterial sistólica PAD- Pressão arterial diastólica
FCrep- Frequencia cardiaca de repouso FCmáx- Frequencia cardiaca máxima

Tabela 2- Resultados obtidos na avaliação: Ergoespirométria e TE

Variáveis N Média Desvio-padrão

VO2 máx (ml/Kg/min) Ergoespirometria 11 43,18 3,7


VO2 máxE (ml/Kg/min) TE 11 52,31 3,63

VO2 LA (ml/Kg/min) 11 24,96 2,89


50% VO2 máxE (ml/Kg/min) 11 26,15 1,82

VO2 PCR (ml/Kg/min) 11 34,31 3,4


85% VO2máxE (ml/Kg/min) 11 44,46 3,09

Fonte: Dados da pesquisa.

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A tabela 3 e 4 apresentam (p<0,05) entre o VO2máx medido na


respectivamente os dados referentes às ergoespirometria e o VO2máxE, obtido no teste
diferenças percentuais e o p-valor (nível de ergométrico convencional, bem como, entre o
significância 5%) existentes entre valor de VO2 medido no ponto de
ergoespirometria e teste ergométrico compensação respiratório através da
convencional no que diz respeito ao VO2máx, ergoespirometria comparado ao valor de VO2
limite inferior e superior para a prescrição de encontrado a 85% do VO2máxE pelo teste
intensidade de treinamento aeróbio. Após a ergométrico convencional.
análise estatística é possível afirmar que
houve diferença estatisticamente significante

Tabela 3- Diferença do VO2 máx, limite inferior e superior para a prescrição de treinamento aeróbio: Medida direta e indireta

Variáveis N Ergoespirometria TE (ml/Kg/min) %


(ml/Kg/min)

VO2 máx (ml/Kg/min) 11 43,18 52,31 21,1


Limite inferior 11 24,96 26,15 4,8
Limite superior 11 34,31 44,46 29,6
Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 4- VO2máx, limite inferior e superior para a prescrição da intensidade de treinamento aeróbio: Ergoespirometria
versus TE

Variáveis N Ergoespirometria TE (ml/Kg/min) p-valor


(ml/Kg/min)

VO2máx (ml/Kg/min) 11 43,18 52,31 0,0002


Limite inferior 11 24,96 26,15 0,2505
Limite superior 11 34,31 44,46 0,0002
Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 1
70
65
60
5 2 ,3 1
55
50
4 3 ,1 8 4 4 ,4 6
45
40
3 4 ,3 1
ml/kg/mim

35
2 6 ,1 5
30
2 4 ,9 6
25
20
15
10
5
0
V O2 M áx V O 2 In f e r io r V O 2 S u p e r io r

T e ste E r g o m é tr i c o T e ste E r g o e sp i r o m e tr i c o

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Já os valores de VO2 medido no limiar intensidade de exercício entre o teste


anaeróbio pela ergoespirometria e 50% ergométrico convencional e a
VO2máxE obtido pelo teste ergométrico ergoespirometria. Apesar da diferença entre os
convencional não apresentaram diferença valores de VO2 encontrados para determinar o
significante (p<0,05). Os resultados estão limite inferior da prescrição de intensidade de
representados no gráfico 1. treinamento a partir do teste ergométrico
convencional e da ergoesporometria não
terem sido significativas, é preciso ressaltar
DISCUSSÃO que não é conveniente a utilização do valor
percentual de 50% VO2máxE, encontrado a
partir do teste ergométrico convencional, para
1- O VO2máxE obtido a partir da fórmula expressar o limiar anaeróbio quando o VO2máx
do ACSM, (2000) (5mph): VO2 (mlO2) = for obtido por medida direta. Isso porque os
[Velocidade (ml/min) x 0,2] + [velocidade valores percentuais de VO2 calculados a partir
(ml/min) x %inclinação x 1,8 x 0,5] + 3,5 do teste ergométrico convencional partem de
mlO2/kg/min superestimou o VO2máx medido na um valor superestimado de VO2máxE, conforme
ergoespirometria em média 21,4% (tabela 3). citado no primeiro item da discussão.
A diferença encontrada entre o 3- Os dados determinados como limite
VO2máxE pela fórmula do ACSM (2000) e o superior de prescrição de intensidade de
VO2máx medido na ergoespirometria é treinamento com base no teste ergométrico
provavelmente devido o protocolo utilizado na convencional estabelecido em 85% do
ergoespirometria. O protocolo utilizado no VO2máxE foram superiores aos valores de VO2
estudo foi o de rampa o que não permite um medido no ponto de compensação respiratório
estado de equilíbrio (steady-state) uma vez em 29,6% como mostra a (tabela 3). A
que os incrementos de carga (velocidade e diferença existente nos limites superiores
inclinação) sofrem progressões lineares. Em encontradas no teste ergométrico
contrapartida a fórmula proposta pelo ACSM convencional e ergoespirometria pode ser
(2000) pressupõe esse estado de equilíbrio influenciada pelo tipo de protocolo utilizado na
(Zhang, Johnson, Chow e colaboradores, ergoespirometria: rampa (progressão linear),
1991). Resultados semelhantes referente ao em contraposição ao baseado em fórmula a
VO2máx, medido através da ergoespirometria e partir do ritmo de trabalho (pressupondo
do VO2máxE obtido pelo teste ergométrico estado estável). Outro aspecto a ser
convencional foram encontrados por Rondon, considerado, diz respeito à influência da
Forjaz, Nunes e colaboradores, (1998), na capacidade física sobre os resultados, onde a
média de 26%, respectivamente 42,1 grandeza da diferença entre o VO2 medido e o
ml/Kg/min e de 53,0 ml/Kg/min. VO2máxE a partir do ritmo de trabalho é
2- Os dados obtidos para se inversamente proporcional à capacidade física
determinar o limite inferior da prescrição de do grupo testado como demonstrado por
intensidade de treinamento no teste Rondon, e colaboradores, (1998).
ergométrico convencional estabelecido em Subentende-se, que diante desses
50% VO2máxE comparados aos valores fatos, que indivíduos aparentemente
determinados pela ergoespirometria VO2 saudáveis podem estar tomando como a zona
medido no limiar anaeróbio, apresentaram alvo de treinamento aeróbio parâmetros
diferença de 4,8% (tabela 3), não sendo obtidos através do teste ergométrico
considerados estatisticamente significantes convencional. Segundo Araújo (1998), a
(p>0,05) (tabela 4). quantificação precisa do VO2máx através da
Yazbek Jr, Carvalho, Sabbag e ergoespirometria representa a vantagem mais
colaboradores, (1998), afirmam que o óbvia em relação ao teste ergométrico
consumo de O2 medido no limiar anaeróbio convencional na qual este parâmetro é
não é afetado pelo tipo de protocolo usado estimado a partir de equações em que o
para teste de esforço. Além disso, o VO2 trabalho máximo realizado é a principal
encontrado no limiar anaeróbio não é afetado variável.
pela duração de cada incremento de esforço, o
que pode justificar a semelhança encontrada
entre os limites inferiores da prescrição de

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CONCLUSÃO Brasileira de Cardiologia Sobre Teste


Ergométrico. Arq Bras Cardiol. v. 78,
Os resultados do estudo demonstram (suplemento II). 2002.
na população estudada que o VO2máxE pelo
teste ergométrico convencional superestimou 4- Berryman, J.W. The tradition of the ‘’six
os reais valores observados na things non-natural”: Exercise and Medicine
ergoespirometria (medida direta). Por essa from Hippocrates Through Ante-Bellum
razão, o teste ergométrico convencional America. Exerc Sport Sci Rev. v. 17, p. 515-9.
apresentou limitações substanciais para a 1989.
obtenção da real capacidade funcional dos
indivíduos estudados. Em relação à prescrição 5- Araújo, C.G.S; Teste de Exercício:
de intensidade de treinamento aeróbio para Terminologia e Algumas Considerações sobre
fins de condicionamento físico, o limite inferior Passado, Presente e Futuro Baseadas em
estabelecido pelo teste ergométrico Evidências. Rev. Bras Med Esporte. v. 6. no 3.
convencional (50% VO2máxE) parece se 2000.
adequar ao limite inferior obtido na
ergoespirometria (VO2 no limiar anaeróbio) 6- Araújo, C.G.S. Importância da
predispondo assim, os indivíduos a uma Ergoespirometria na Prescrição de Exercício
intensidade de exercício apropriada. ao Cardiopata. Revista da SOCERJ. v. 11. p.
Entretanto, o limite superior para prescrição 38-47. 1998.
baseada no teste ergométrico convencional,
calculada em (85%VO2máxE), superestimou o 7- Braga, A.M.F.W.; Nunes, N.
real valor do (VO2 no ponto de compensação Ergoespirometria Aplicada à Cardiologia. In:
respiratório). Esse achado predispõe os Negrão, C.E; Barretto, A.C.P. Cardiologia do
indivíduos a se exercitarem em intensidade Exercício: Do Atleta ao Cardiopata. São Paulo:
onde há acidose metabólica desconpensada, Manole. Brasil, Ministério da Saúde. Agita
limitando assim, a melhora da capacidade Brasil: guia para agentes multiplicadores.
aeróbia. Dessa forma, o presente estudo 2001.
sugere que obtenção do VO2máx e a prescrição
de intensidade de treinamento baseado no 8- Brandão, M.U.P.; Wajngarten, M.; Rondon,
limiar anaeróbio e no ponto de compensação E. e colaboradores. Left Ventricular Function
respiratório sejam as recomendadas. No During Dynamic Exercise in Untrained and
entanto o número pequeno da amostra Moderately Trained Subjects. J Appl Physiol. v.
investigada impede que afirmações mais 75. p. 1989-95. 1993
concretas, sejam realizadas. Por isso, se faz
necessário outros trabalhos semelhantes com 9- Cohen, M.C.; Attaford, R.S.; Misra, B.
amostra mais representativa no que concerne Stress Testing: national patterns and
a quantidade para esclarecer tais achados. predictors of test ordering. Am Heart J, v. 138,
p. 1019- 1024, 1999.
REFERÊNCIAS
10- Diaz, F.J.; Montano, J.G.; Melchor, M.T. e
1- American College of Sports Medicine. colaboradores. Validation and reliability of the
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