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A Artigo de Revisão

Castinheiras Neto & Farinatti PTV

Efeito da manipulação das variáveis do treinamento de força sobre o


consumo de oxigênio pós-exercício (EPOC)
Effect of strength training variables on excess post-exercise oxygen consumption (EPOC)

Antonio Gil Castinheiras Neto1


Paulo de Tarso Veras Farinatti1,2

Unitermos: Resumo
Consumo de oxigênio. Metabolismo. Exercício. Aptidão Os exercícios contra-resistência (ECR) podem contribuir para o aumento da taxa metabólica
física.
de repouso. É consenso que o volume da sessão de ECR pode repercutir em maior gasto
Key-words: energético e que, após o exercício, o consumo de oxigênio em excesso (EPOC) pode variar
Oxygen consumption. Metabolism. Exercise. Physical de acordo com a característica do programa de exercício. Contudo, ainda não é possível
fitness. definir quais variáveis de prescrição têm maior impacto sobre o EPOC em sessões de
ECR. O objetivo do estudo foi efetuar uma revisão da literatura sobre os estudos que se
Endereço para correspondência:
propuseram a investigar as relações entre o EPOC e variáveis de treinamento em ECR.
Paulo T. V. Farinatti
Mestrado em Ciências da Atividade Física, Os 12 estudos selecionados foram agrupados por similaridade de tratamento (número de
Universidade Salgado de Oliveira, Rua Marechal séries, intensidade, intervalos de recuperação, velocidade da contração muscular e ordem
Deodoro 211, dos exercícios). De todas as variáveis analisadas, o curto intervalo de recuperação e o
Bloco C, 1º andar - Centro - Niterói, RJ, Brasil - CEP modo de prescrição no formato em circuito foram aquelas com maior impacto provável sobre
24030-060.
a magnitude do EPOC. O número de séries parece não influenciar o EPOC. Quanto às
E-mail: pfarinatti@gmail.com
demais variáveis (intensidade, ordem dos exercícios e velocidade de contração muscular),
Submissão limitações metodológicas, principalmente no tocante à duração da medida do EPOC, não
26 de novembro de 2008 permitem estabelecer tendências.
Aceito para publicação
Abstract
6 de janeiro de 2010
The resistive exercises (RE) may increase the resting metabolic rate. There is a consensus
that the RT volume may influence the caloric expenditure, and that the excess post-exercise
oxygen consumption (EPOC) may vary accordingly the purposes of the exercise program.
1. Mestrando em Ciências da Atividade Física, However, it is not yet possible to define which prescription variables have greater impact
Programa de Pós-Graduação em Ciências da on the EPOC. The aim of the present study was to review the studies that investigated the
Atividade Física – Universidade Salgado de relationship between the EPOC and RE variables. A total of 12 studies were selected, being
Oliveira, Niterói, RJ, Brasil.
2. Doutor em Educação Física, Programa de Pós- organized according to treatment similarity (number of sets, intensity, rest interval, speed
Graduação em Ciências da Atividade Física – of muscle contraction and exercise order). The available evidence suggested that a short
Universidade Salgado de Oliveira. Niterói. Brasil. rest interval and the circuit training prescription mode had the greater impact on the EPOC
Laboratório de Atividade Física e Promoção
da Saúde – Universidade do estado do Rio de magnitude. As for the other variables, it was not possible to establish any tendencies due
Janeiro. Rio de Janeiro. Brasil. to methodological limitations, especially concerning EPOC assessment duration.

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Efeito da manipulação das variáveis do treinamento de força sobre o consumo de oxigênio pós-exercício

INTRODUÇÃO um gasto energético diário importante4. Outros, porém, indicam


O gasto energético (GE) proveniente da realização de ativi- que a TMR pode permanecer aumentada em 20% por até 39
dades físicas é um componente fundamental no combate ao horas17. A grande disparidade metodológica entre os estudos parece
sobrepeso e obesidade1. Aspectos como o tipo do exercício, inten- ser a principal razão de resultados tão divergentes, principalmente
sidade, frequência semanal, duração, dentre outros, influenciam a quanto aos critérios para a quantificação de elementos importantes
magnitude do gasto energético acumulado em uma semana. Assim, para a definição do GE.
dependendo da dieta habitual, o exercício pode contribuir para o Nesse sentido, um dos aspectos consensuais sobre o EPOC
balanço energético favorável à diminuição do peso corporal, com no ECR refere-se à aceitação de que a reatividade metabólica
preservação da massa corporal magra2. pós-exercício decorre da combinação de diversas variáveis do
De forma geral, acredita-se que o exercício contra-resistência treinamento (número de séries, intensidade, intervalos entre séries
(ECR) pode favorecer a diminuição da gordura corporal e que, uma e exercícios, método de treinamento, velocidade de execução do
vez controlada a ingestão calórica, contribuiria com um balanço movimento ou modo de prescrição). As diferentes combinações
energético favorável para a manutenção ou perda de peso3-8. Por dessas variáveis podem influenciar tanto a magnitude quanto a
outro lado, alguns estudos têm demonstrado que a demanda ener- duração do EPOC, em seus componentes rápido, lento e ultra-
gética do ECR seria insuficiente para atingir os níveis mínimos lento18. Assim, o objetivo do presente estudo foi revisar os estudos
recomendados por agências normativas da área da saúde9. Philips que testaram as diversas variáveis de prescrição do ECR e analisar
e Ziuraits10 estimaram o GE de uma sessão de ECR tradicional as metodologias propostas para a medida do EPOC decorrente
[preconizada pela ACSM11 em 135 kcal. Considerando a duração desse tipo de treinamento.
da sessão de ECR estipulada pelo ACSM11 de 24 min, o exercício
aeróbio de intensidade moderada (6 METs) poderia consumir 189 MÉTODO
kcal. A característica intervalada do ECR parece estar na origem Nessa revisão sistemática a qualidade metodológica dos
da diferença do VO2 médio entre o exercício aeróbio e o ECR. artigos selecionados foi analisada de maneira independente por
Entretanto, vale ressaltar que uma sessão de ECR e exercício dois revisores. Ambos possuíam conhecimentos específicos em
aeróbio podem apresentar um mesmo gasto energético quando prescrição de exercício contra-resistência. Foram utilizadas as
pareadas pelo VO2 e duração, mas não um mesmo consumo de seguintes estratégias para a detecção e inclusão dos estudos:
oxigênio em excesso após exercício (EPOC). Burleson et al.12, 1) Foram incluídos os estudos que testaram exclusivamente
por exemplo, submeteram jovens treinados a protocolo de ECR estratégias de ECR, possibilitando a análise dos protocolos de
com duas séries de 8 exercícios em circuito, carga de 60% 1RM, ECR propostos sobre o EPOC. Foram selecionados os artigos com
encontrando VO2 médio equivalente a 44% do VO2máx em 27 experimentos randomizados e que apresentaram suas respectivas
min de treino. Após isso, os autores prescreveram uma sessão análises estáticas adequadas à explicação dos objetivos propostos.
de exercício aeróbio com mesma intensidade e duração, com o Amostras compostas por indivíduos adultos jovens, de ambos os
objetivo de comparar possíveis diferenças entre os EPOCs em sexos, aparentemente saudáveis e treinados ou moderadamente
90 min de análise. Verificou-se que a sessão de ECR ocasionou treinados em exercício contra-resistência realizados em equipa-
maior magnitude do EPOC do que o exercício aeróbio (65 kcal vs. mentos isotônicos. O método considerado para a mensuração do
33 kcal = p<0,05), pelo fato de o treinamento de força envolver consumo de oxigênio foi a calorimetria indireta.
grupamentos musculares diversos em ambos os segmentos 2) A busca pelos artigos iniciou-se após mapeamento das refe-
corporais, necessitando de maior VO2 para a restauração devida rências dos artigos de revisão publicados15,18-20, que fora comple-
ao estresse gerado. mentada por busca nas bases de dados Medline (1966-2008) e
Para Gaesser e Brooks13, a base metabólica do EPOC pode ser Bireme (LILACS [1982-2008], Biblioteca Cochrane [1993-2008]
analisada a partir dos fatores que a influenciam, como os níveis e SciELO [1997-2008]), usando as seguintes palavras-chave:
de catecolaminas, tiroxinas, glicocorticoides, metabolismo de resistance exercise and postexercise oxygen consumption or post-
ácidos graxos e temperatura corporal. No componente rápido, o exercise oxygen consumption or postexercise energy expenditure
reabastecimento dos estoques de oxihemoglobina e oximioglo- or energy expenditure or resting metabolic rate or metabolic
bina, a restauração dos fosfagênios e a energia necessária para a responses or EPOC. As mesmas possibilidades foram testadas
reconversão do lactato em glicogênio explicariam até ⅓ do EPOC utilizando outros termos designados ao treinamento de força,
em sua fase rápida14. Fatores como o aumento da temperatura quais foram: resistance training e weight training exercise. Para
corporal, da hiperemia e da ventilação elevada também poderiam o processo de seleção dos artigos, os avaliadores se reuniram para
ter relação com um maior consumo de oxigênio na primeira hora chegar a um consenso após permanecerem 17 artigos. Entretanto,
subsequente a uma sessão de treinamento com ECR15. Além disso, apenas 12 estudos foram incluídos por atenderem aos critérios
associam-se ao componente lento ou prolongado do EPOC o para inclusão.
aumento no metabolismo dos ácidos graxos, maior concentração
de catecolaminas, presença do cortisol e lesão muscular induzida RESULTADOS E DISCUSSÃO
por estratégias de treinamento, dentre outras variáveis que podem A Tabela 1 apresenta as características gerais dos 12 estudos
justificar um EPOC aumentado por vários dias16. selecionados para a análise, no tocante à amostra observada, às
Entretanto, há mais discordância do que consenso entre os características dos protocolos de treinamento e aos resultados
estudos disponíveis. Alguns deles sustentam que, mesmo após obtidos para a magnitude e duração do EPOC. As próximas
sessões extenuantes de ECR, o EPOC não seria significativo para sessões analisarão, de forma separada, os prováveis efeitos de cada
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uma das variáveis de treinamento (número de séries, intervalos do intervalo de recuperação, com o intuito de manter o mesmo
de recuperação, intensidade da carga, velocidade de execução e volume da sessão de exercícios3.
modo de prescrição). Haddock e Wilkin6 administraram dois protocolos de ECR a
mulheres jovens e treinadas, quais foram: a) série única de oito
Número de Séries repetições máximas (RM), com intervalo de recuperação entre séries
Apenas dois estudos procuraram investigar especificamente e exercícios de 90 s, em nove exercícios e duração de 21 min; b) três
o impacto do número de séries sobre o EPOC. Porém, um deles séries em circuito, mesma intensidade, intervalo de recuperação e
combinou dois métodos de ECR [série única contra trabalho em número de exercícios, mas com duração de 63 min. Os autores não
circuito]6 e outro manipulou, além do número de séries, a duração encontraram diferença significativa para o EPOC nas duas situações,

Tabela 1 – Amostra, sessão de treinamento, resultados de estudos que investigaram o EPOC em ECR e observações.

Tempo de medida Duração Magnitude do


Estudos Amostra Sessão de ECR
EPOC do EPOC EPOC
4 séries (C) de 15 rep a 50% 1RM, int. 30 seg
49±2 kcal e
Elliot et al.21 4H-T e 5M-T (25,5) e 3 séries (S) 5 rep a 85% 1RM, int. 90 seg (8 90 min 30 min
51±3 kcal
exercícios)
3 séries (C) 50% de 1RM, int. 30 seg e 20 min e 25 kcal e
Murphy e Schwarzkopf 22 10M-T (22±2) 20 min
3 séries(S) 80% de 1RM, int. 2 min (6 exercícios) 15 min 13,5 kcal
15 h= 113
6 séries (S) 70%1RM, int. 3 min e
Melby et al.3 7H-T (30±8) 15 h 15 h kcal e
5 séries (S) 70%1RM, int. 4 min (10 exercícios)
114 kcal
2 séries (S) 75% 1RM, int. 3,5 min e 41,1±4 kcal e
Olds e Abenerthy23 7H-T (34±14) 5h 60 min
2 séries (S) 60% 1RM, int. 3,5 min (7 exercícios) 32,5±3 kcal
2 séries (C) de 20 rep a 75% de 20RM, int. 20 s e
51±2 kcal e
Haltom et al.24 7H-T (27±1) 2 séries (C) de 20 rep a 75% de 20RM, int. 60 s (8 60 min 60 min
37± 2 kcal
exercícios)
2 séries (S) de 8 rep a 85% 1RM, int. 1 min e
11,0±1,9 kcal e
Thornton e Potteiger5 14M-T (27±5) 2 séries (S) de 15 rep a 45% 1RM, int. 1 min (9 120 min 20 min
5,5±1,3
exercícios)
2 séries (S) de 8 rep a 65% 1RM, 1 s conc./1 s
exc., int. 1 min e 41 kcal e
Hunter et al. 25
7H-T (24±3) 22 h 15 min
2 séries (S) de 8 rep a 25% 1 RM, 10 s conc./5 s 33,5 kcal
exc., int. 1 min (10 exercícios)
4 séries (S) à 60% de 1RM, int. 3 min 24 kcal
Kang et al.26 11H-MT (21±2) 4 séries (S) à 75% de 1RM, int. 3 min 40 min 10 min 27 kcal e
4 séries (S) à 90% de 1RM, int. 3 min (1 exercício) 14 kcal
3 séries (S) 8RM, int. 1,5 min e 22,5 ±8 kcal e
Haddock e Wilkin6 15M-T (24,2) 120 min 120 min
1 série (S) 8RM, int. 1,5 min (9 exercícios) 22,3±5 kcal
51,8 a 44,5
5 séries (S) 75% 1RM (10 rep), int. 0,5 a 5 min e
kcal
Ratamess et al. 8
8H-T (21±2) 5 séries 85% 1RM (5 rep), int. 0,5 a 5 min (1 exer- 30 min 30 min
e 55,9 a 46,4
cício)
kcal
4séries (S) 60% 1RM, int 90 s, 2 seg conc e exc;
49,2 kcal,
4séries (S) 60% 1RM, int 90 s, 2 s conc e 1 s exc e
Mazzetti et al.27 9H-T (20±2) 60 min 45 min 58,4 kcal e
6 séries (S) 80% 1 RM, int 90 seg, 2 s conc e 1 s
39 kcal
exc (1 exercício)
3 séries (S) de 10RM, int. 3 min (exercícios= supi-
no, desenvolvimento e tríceps) e 60±3 kcal e
Farinatti et al. 28
10M-T (22±2) 20 min 20 min
3 séries (S) de 10RM, int. 3 min (exercícios= trí- 57±1 kcal
ceps, desenvolvimento e supino)
H: homens; M: mulheres; T: treinados; NT: não-treinado; MT: moderadamente treinado; (Idade): média±desvpad; 1RM: uma repetição máxima; RM: repetições máximas; int.: intervalo de recuperação;
C: séries em circuito; S: séries consecutivas; conc.: fase concêntrica; exc.: fase excêntrica; s: segundos.

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Efeito da manipulação das variáveis do treinamento de força sobre o consumo de oxigênio pós-exercício

mesmo a duração da sessão no trabalho em circuito ter sido três vezes medida em razão de fatores extrínsecos ao treinamento. Porém,
maior (22,3 vs. 22,5 kcal em 60 min de duração). Com isso, concluiu- essa informação deve ser mais bem explorada, uma vez que dos
se que essa variável não influenciaria na magnitude do EPOC. 12 estudos que determinaram um período de observação para o
Os resultados de Melby et al.3 corroboram a opinião de que o EPOC, seis aferiram-no por um período de tempo equivalente à
número de séries não influencia o EPOC. Observando homens jovens sua duração relatada. Ou seja, em 50% dos estudos o EPOC foi
e treinados em dois experimentos com séries múltiplas [6 séries de interrompido sem que os seus valores retornassem à linha de base.
10 exercícios com 70% de 1RM, com intervalo de recuperação de Nos demais, o EPOC retornou à linha de base antes do término
3 min e duração de 90 min vs. 5 séries de 10 exercícios com 70% do período determinado para a coleta.
1RM, intervalo de recuperação de 4 min e duração total de 90 min], os Pode-se afirmar, então, que curtos intervalos de recuperação
autores verificaram que o EPOC permaneceu aumentado até o final da podem estar associados a uma repercussão importante no EPOC,
coleta (15 horas) em aproximadamente 8%, em ambas as estratégias. principalmente em sua magnitude. Já a repercussão dessa variável
A magnitude do EPOC após duas horas de coleta foi de 35±1 kcal vs. sobre a duração do EPOC necessita ser mais bem investigada.
36±5 kcal ou 113 kcal/15 h vs. 114 kcal/15 h. Esses resultados sugerem
que a alteração do número de séries combinada à manipulação do Intensidade da carga
intervalo de recuperação, sem aumento na duração ou intensidade do A intensidade da carga no treinamento de força, representada
treino, parece não influenciar significativamente o EPOC. pelo percentual da força voluntária máxima (%1RM) ou pelo
A interpretação da influência do número de séries a partir de número de repetições máximas que o indivíduo executa em cada
estudos que não a examinaram de forma específica torna-se difícil, série, é a variável que mais se destaca no cenário dos estudos sobre
uma vez que é preciso considerar a interação das demais variáveis o EPOC, quando comparada às demais.
que compõe um programa de exercício. Isso abre perspectivas Murphy e Schwarzkopf22 compararam dois diferentes protocolos
para novos estudos envolvendo o número de séries e o EPOC. de ECR, com o objetivo de verificar a influência da carga mobilizada
sobre o EPOC [3 séries consecutivas com 80% de 1RM, intervalo de
Intervalo de recuperação recuperação de 2 min em 6 exercícios vs. 3 séries em circuito com
A influência do intervalo de recuperação sobre a fadiga 50% de 1RM, intervalo de recuperação de 30 s em 6 exercícios]. É
muscular tem sido alvo de muitas pesquisas29. No entanto, poucos válido ressaltar que a duração total da sessão diferiu, sendo menor
foram os estudos que investigaram seu efeito sobre o EPOC. Na no trabalho em circuito. A estratégia de ECR com menor intensidade
verdade, foram localizados apenas dois estudos com esse objetivo relativa e duração promoveu maior magnitude do EPOC (4,9L O2
específico. vs. 2,7L O2), enquanto sua duração foi de apenas 20 min.
Haltom et al.24 analisaram o efeito do intervalo de recuperação Hunter et al.25 também trabalharam com dois protocolos [2
(20 vs. 60 s) em dois protocolos envolvendo duas séries de oito séries de 8 repetições a 65% de 1RM, controlando a velocidade de
exercícios realizados a 75% de 20RM. Os resultados revelaram execução de 1 s nas fases concêntrica e excêntrica de contração,
que a magnitude do EPOC foi significativamente maior no proto- intervalos de recuperação de 1 min em 10 exercícios vs. 2 séries de
colo com menor intervalo de recuperação (51 vs. 37 kcal), mas 8 repetições a 25% de 1RM, velocidade de execução de 10 s para a
a duração em ambos os casos ficou em torno de 60 min. Vale fase concêntrica e 5 s para a fase excêntrica, mesmo intervalo entre
destacar que os autores limitaram-se em medir o EPOC por tempo séries e número de exercícios]. Contrariamente aos resultados de
determinado em 60 min. Assim, pode-se cogitar que, se houvesse Murphy e Schwarzkopf22, contudo, identificou-se uma magnitude
continuidade da medida, a magnitude e duração do EPOC pode- do EPOC significativamente maior para o protocolo de maior
riam ter sido maiores. intensidade (41 kcal vs. 33,5 kcal), mas duração equivalente (15
Ratamess et al.8 testaram diferentes intervalos de recuperação min). Esses resultados foram similares aos relatados por Thornton
sobre o gasto energético após o ECR em duas intensidades de treina- e Potteiger5, os quais encontraram EPOC de maior magnitude do
mento (75% e 85% de 1RM). Os intervalos de recuperação testados EPOC para protocolo de exercício mais intenso (11 vs. 5,5 kcal),
foram: 30 s, 1 min, 2 min, 3 min e 5 min para cada intensidade, no mas sem diferenças para sua duração (20 min) [2 séries de 8 repeti-
exercício supino reto. A combinação de 85% de 1RM e intervalo de ções a 85% ou 45% de 1RM, em 9 exercícios e intervalos de 1 min].
30 s produziu a maior magnitude do EPOC (55,9 kcal), em compa- Olds e Abenerthy23 também compararam protocolos que
ração com os intervalos de recuperação maiores (2 min: 41,3 kcal; diferiam apenas em relação à intensidade do ECR [2 séries de 7
5 min: 46,7 kcal; p<0,05). A mesma tendência foi observada para o exercícios com 75% ou 60% de 1RM, intervalos de recuperação
exercício realizado com 75% de 1RM (30 s: 51,8 kcal; 3 min: 45,8 de 120 s]. No entanto, não foi possível constatar diferença esta-
kcal; 5 min: 44,5 kcal; p<0,05). Ratamess et al.8 também utilizaram tisticamente significativa na magnitude (41 kcal vs. 32 kcal) e
tempo fixo para o observar o EPOC (30 min), interrompendo a duração (60 min) do EPOC. Da mesma forma, Ratamess et al.8
medida antes que seus valores retornassem à linha de base. não encontraram diferença significativa para o EPOC decorrente
Assim, pouco se sabe a respeito da influência do intervalo de da manipulação da intensidade do ECR [5 séries de um único
recuperação sobre a duração do EPOC. Os dois únicos estudos exercício com 85% ou 75% de 1RM, 30 s de intervalo entre séries].
que investigaram a influência dessa variável de prescrição Os resultados para magnitude do EPOC foram de 55,9 kcal vs.
acompanharam-na por tempo fixo e determinado, provavelmente 51,8 kcal, respectivamente, com duração de 30 min.
insuficiente para analisar o retorno do consumo de oxigênio à linha Kang et al.26 testaram três intensidades distintas (60, 75 e 90%
de base. Períodos muito breves de observação tendem a subestimar de 1RM), com intervalo fixo em 3 min no exercício de agacha-
o EPOC, ao passo que longos períodos podem superestimar a mento, encontrando EPOC com maior magnitude para o protocolo
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de moderada intensidade (75% 1RM = 27 kcal), seguido por baixa Na verdade, não é possível indicar uma intensidade ótima para
intensidade (60% 1RM = 24 kcal) e alta intensidade (90% 1RM = 14 a obtenção de um maior EPOC, nem que intensidades baixas e
kcal). Kang et al.26 foram os únicos autores a encontrar diferença para moderadas podem sobrepor-se a altas intensidades ou vice-versa.
a duração do EPOC. No protocolo de alta intensidade, a diferença Aliás, as evidências acumuladas permitem questionar as proposi-
entre a magnitude do EPOC em relação à linha de base só pôde ser ções de alguns artigos de revisão, que sugerem maior intensidade
visualizada quando, imediatamente ao término do exercício, o VO2 foi de trabalho para um maior impacto sobre o EPOC15,20.
medido, desaparecendo a diferença já no décimo minuto. Já as sessões
de intensidades mais baixas parecem afetar mais a duração do EPOC, Velocidade da contração
o que é ratificado pelo retorno à linha de base nas duas sessões (60 e A manipulação da velocidade de execução ou velocidade
75% 1RM) ter ocorrido aparentemente entre o décimo e o vigésimo de contração muscular no ECR é uma das estratégias aplicadas
minutos. Os autores concluíram que o impacto das estratégias de para modificar a intensidade no treinamento da força30. Porém,
ECR sobre o EPOC seria consequência do volume da sessão de ECR poucos são os trabalhos que estudaram a influência dessa variável
e que a intensidade de 75% foi considerada ótima para um maior no EPOC. Somente um estudo25 investigou a interferência dessa
EPOC. Entretanto, essa informação deve ser analisada com cautela, variável sobre o EPOC, enquanto apenas outros dois, dentre os 12
já que diversos estudos preconizam uma maior intensidade para um selecionados, divulgaram a velocidade de execução do movimento
maior EPOC4,5,8,24,25. Pode-se cogitar que, em um maior número de em seus protocolos experimentais. Isso dificulta inferências sobre
exercícios, o comportamento da cinética do EPOC poderia ser dife- a influência dessa variável no EPOC.
rente. Isso porque, com um volume de trabalho muito baixo (90% Hunter et al.25 compararam a resposta metabólica do ECR
1RM), o tempo de tensão muscular talvez não tenha sido suficiente realizado em velocidade de contração tradicional [2 séries de
para causar reatividade cardiorrespiratória significativa ao exercício. 8 repetições de 10 exercícios com 65% 1RM, velocidade de
Essa possibilidade é reforçada pela maior concentração sanguínea de execução de 1 s para a fase concêntrica e excêntrica, intervalo de
lactato nas sessões de baixa e moderada intensidades, em comparação recuperação de 1 min] e super slow [2 séries de 8 repetições com
com a de alta intensidade (15,3 mmol e 13,9 mmol vs. 9,7 mmol)26. 25% 1RM, velocidade de execução de 10 s para a fase concên-
Percebe-se, assim, que os resultados acerca da influência da trica e 5 s para a fase excêntrica, com mesmo intervalo e número
intensidade do ECR sobre o EPOC são dissonantes. Dos seis de exercícios]. Verificou-se que o EPOC foi significativamente
estudos que se dedicaram especificamente a essa questão, dois maior para a sessão envolvendo velocidade tradicional (41 kcal
encontraram diferença significativa para a magnitude do EPOC vs. 33,5 kcal em 15 min de duração). Esses valores podem ter
em sessões de maior intensidade5,25, dois obtiveram resultado sido motivados pela baixa intensidade no ECR feito em super
inverso22,26 e outros dois não constataram diferenças entre os proto- slow (25% 1RM), o que corroboraria a hipótese de a intensidade
colos8,23. Por outro lado, apenas um estudo indicou haver relação ser fator determinante do EPOC.
entre a intensidade do ECR e a duração do EPOC, mesmo que Entretanto, alguns autores analisaram a manipulação da velo-
de forma limitada, pois, o período de observação do EPOC não cidade de execução de forma combinada a outras variáveis de
permitiu analisar de maneira clara a cinética do EPOC. prescrição. Mazzetti et al.27 prescreveram três protocolos de ECR
Certamente, disparidades metodológicas entre os estudos podem caracterizados pela interação entre diferentes intensidades e velo-
estar na origem desses resultados dissonantes. Nesse contexto, cidades de execução, em sequências ditas lenta, explosiva e ultra-
algumas considerações sobre a medida do EPOC merecem destaque. explosiva. Nas duas primeiras estratégias (lenta e explosiva), a inten-
No estudo de Thornton e Potteiger5, a medida do EPOC iniciou-se sidade foi equivalente a 60% 1RM, em 4 séries e 90 s de intervalo
após 20 min do final do exercício, o que pode ter subestimado os de recuperação, a velocidade de execução tendo sido padronizada
valores do gasto energético. A medida da TMR controle com duração no protocolo lento em 2 s para a fase concêntrica e excêntrica. No
inferior a 30 min também pode acarretar viés, uma vez que a TMR protocolo explosivo, a velocidade programada foi de 2 s para a fase
superestimada, quando confrontada com os valores pós-exercício, excêntrica e 1 s para a fase concêntrica. No protocolo ultra-explosivo,
pode interferir, principalmente, nos resultados referentes à duração a intensidade foi de 80% 1 RM, em 6 séries e 90 s de intervalo de
do EPOC. Isso poderia explicar os resultados do estudo de Murphy e recuperação, enquanto a velocidade preconizada foi de 2 s para a fase
Schwarzkopf22, que mediu a TMR por apenas 5 min e de Kang et al.26, excêntrica e 1 s para a fase concêntrica. Todos os experimentos foram
os quais não descreveram os critérios para aferição da TMR. Outro realizados no exercício de agachamento. A magnitude do EPOC foi
problema para a comparação entre os estudos advém da ausência de estatisticamente diferente entre as condições lenta e explosiva até 15
padronização para a descrição dos resultados, já que nem sempre há min do EPOC e ultra-explosiva e explosiva até 30 min do EPOC. A
uma estimativa do gasto energético líquido da sessão. magnitude para 60 min de EPOC no protocolo explosivo foi de 58,4
Hunter et al.25 aplicaram sessões com 25% e 65% de 1RM, kcal, seguida do protocolo lento (49,2 kcal) e do ultra-explosivo (39
encontrando EPOC com magnitude 97,5% maior para a segunda kcal). Apesar do período de observação do EPOC ser delimitado em
estratégia. Thornton e Potteiger5 testaram protocolos de ECR com 60 min, sua duração foi de 45 min. Mazzetti et al.27 afirmaram que o
85% e 45% de 1RM, também encontrando magnitude 13,7% maior protocolo explosivo, apesar de envolver menor intensidade relativa
para a sessão de maior intensidade. Isso poderia sugerir, de certa que o ultra-explosivo, obteve maior EPOC pelo maior volume da
forma, que para a intensidade ter impacto diferenciado sobre o EPOC sessão. O mesmo pressuposto foi utilizado para justificar os achados
as diferenças de sobrecarga nos protocolos experimentais deveriam da diferença entre o protocolo ultra-explosivo e lento.
ser de pelo menos 30% da força máxima voluntária. No entanto, Dois outros estudos trabalharam com velocidades de execução
evidentemente, essa possibilidade necessita de confirmação futura. padronizadas. Entretanto, por não atendem aos critérios de inclusão,
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Efeito da manipulação das variáveis do treinamento de força sobre o consumo de oxigênio pós-exercício

não foram considerados para a discussão do efeito dos tratamentos no que o VO2 médio da sessão equivalia a 50% do VO2máx. Da
presente artigo, quais foram: Binzen et al.4 e Dolezal et al.16. Binzen et mesma forma, porém utilizando o método em circuito, Burleson
al.4 também utilizaram velocidades controladas em seu experimento. et al.12 submeteram jovens treinados a um protocolo de ECR com
Os autores encontraram EPOC de 31 kcal em 60 min quando o ECR 2 séries de 8 exercícios executados com 60% 1RM, encontrando
foi realizado em 3 séries de 10 RM com velocidades programadas VO2 médio equivalente a 44% do VO2máx. No que diz respeito ao
de 2 s para a fase concêntrica e 4 s para a excêntrica. Dolezal et al.16 gasto energético em longo prazo, Schuenke et al.17 investigaram o
também utilizaram 4 s para a fase excêntrica, verificando que o EPOC impacto do ECR prescrito na forma de circuito em jovens treinados,
poderia ser influenciado pela velocidade de contração. Para testar a que realizaram 4 séries de 3 exercícios com 10RM e intervalo de
hipótese de que o treinamento com ênfase na contração excêntrica recuperação de 2 min. A magnitude do EPOC foi de 775 kcal em 39
poderia predispor à lesão muscular, jovens treinados e não treinados h de duração. Já Melanson et al.32, valendo-se de séries consecutivas
realizaram a um protocolo de ECR de alta intensidade [8 séries de [4 séries de 10 exercícios com 10RM e 1 min de recuperação],
6 RM] em um único exercício (leg-press), com ênfase nessa fase da verificaram que, em 24 h, a magnitude do EPOC chegou a 70 kcal.
contração. Verificou-se um EPOC de longa duração (48 h) e grande Somente três estudos buscaram efetivamente investigar a
magnitude (768 kcal) para o grupo não treinado. Dolezal et al.16, influência do modo de prescrição sobre o EPOC, confrontando
aliás, foram os únicos a creditarem especificamente à velocidade de ambos os formatos. Murphy e Schwarzkopf22 aplicaram protocolos
execução um efeito sobre o EPOC, considerando uma associação de ECR em séries consecutivas e em circuito, tendo verificado
positiva entre esse tipo de treinamento e quantidade de CPK no que o EPOC no segundo tipo foi significativamente maior do que
sangue, adotada como marcadora de lesão tecidual. no primeiro, mesmo que a sua intensidade tenha sido menor (25
kcal vs. 13,5 kcal). Haltom et al.24 também encontraram EPOC
Modo de Prescrição significativamente maior em método circuito (51 kcal) do que
Dentre os elementos da prescrição do treinamento com ECR, em séries consecutivas (37 kcal), para uma mesma intensidade
o modo de prescrição recebeu até agora a menor atenção. Na de trabalho, mas intervalos de recuperação diferentes [2 séries 20
verdade, ainda que de forma não específica, apenas Farinatti et al.28 repetições em 8 exercícios a 75% 20RM, intervalo de 20 s para a
publicaram dados sobre a influência da ordem dos exercícios e sua forma em circuito e 60 s para as séries consecutivas]. A duração
influência sobre o EPOC. O estudo objetivava verificar a influência da sessão também diferiu (circuito: 13 min e consecutiva: 23 min).
da ordenação de exercícios para os membros superiores sobre o gasto Para controlar a limitação associada a treinamentos com
energético total e fadiga acumulada associada à sessão, para o que duração distinta, Elliot et al.21 compararam sessões em circuito e
foi considerado o consumo de oxigênio durante os exercícios, nos com séries consecutivas pareadas pela duração (40 min) [circuito
intervalos de recuperação entre séries e exercícios e em 20 min de com 4 séries de 15 repetições de 8 exercícios a 50% 1RM, com
EPOC. Os exercícios foram o supino reto, desenvolvimento sentado intervalo de recuperação de 30 s vs. séries consecutivas com 3
e tríceps no pulley, realizados em sequências que iniciavam do maior séries de 5 repetições de 8 exercícios a 85% 1RM, com intervalo de
para o menor grupamento muscular e vice-versa, sempre com 3 séries recuperação entre 1 e 2 min]. Não foi encontrada diferença signifi-
de 10RM e 3 min de intervalo de recuperação. Não houve diferença cativa entre os grupos: no ECR em circuito a magnitude do EPOC
significativa em relação ao consumo total líquido de oxigênio ou para foi de 49 kcal e no programa de séries consecutivas foi de 51 kcal.
o EPOC especificamente, tendo sido o gasto energético de 60±29 Nota-se que o método em circuito, na maioria dos estudos,
kcal para a primeira sequência e 57±15 kcal para a segunda. Cabe esteve associado a intervalos de recuperação curtos. Assim,
notar, porém, que críticas podem ser feitas à adoção de tempo de pode-se cogitar que a influência desse método de treinamento
observação do EPOC (limitado em 20 min), ainda que o propósito sobre o EPOC associar-se-ia, de alguma forma, ao aumento da
do estudo não tenha sido exatamente o de apreciá-lo. fadiga acumulada decorrente da diminuição dos intervalos de
Quanto aos outros métodos de prescrição do ECR, destacam-se recuperação8. Objetivamente, quando se comparou a influência
os modos de treinamento em circuito ou em séries consecutivas. do modo de prescrição sobre o EPOC, verificou-se em dois dos
Particularmente o trabalho em circuito tem sido muito utilizado três estudos que o treinamento em circuito induziria maior EPOC
em pesquisas, com ênfase nas respostas metabólicas após uma do que o treinamento na forma de séries consecutivas. Quando e
sessão de ECR. Para autores como Burleson et al.12) haveria alguma consideram os valores médios associados à magnitude e duração
semelhança entre o treinamento em circuito e sessões de exercício do EPOC, verifica-se que a ordenação de uma sessão de exercício
aeróbio, notadamente no que se refere à intensidade do trabalho. no formato em circuito ocasionou maior gasto energético pós-
De forma geral, acredita-se que o ECR pode favorecer a dimi- exercício do que na ordem de séries consecutivas (49 vs. 46 kcal),
nuição da gordura corporal e que, uma vez controlada a ingestão mas EPOC de menor duração (45 vs. 60 min).
calórica, contribuiria com um balanço energético favorável para a
manutenção ou perda de peso. Há evidências de que o ECR pode Classificação da qualidade dos estudos
melhorar a oxidação lipídica, independentemente da forma de Procurou-se apreciar a qualidade dos estudos, de acordo com os
treinamento3-8. Apenas os estudos de Jamurtas et al.31 e Melanson critérios pré-determinados (Tabela 2). Os itens incluídos para analisar
et al.32 não confirmaram esses achados. a qualidade dos estudos foram determinados através de discussão
Sessões de ECR parecem ser compatíveis com um gasto entre os pesquisadores quanto aos procedimentos metodológicos
energético capaz de induzir alterações favoráveis na composição que minimizariam a influência de variáveis estranhas, aumentando a
corporal. Silva33, por exemplo, submetendo idosas à sessão de ECR validade dos estudos. Nenhum estudo atendeu aos critérios de quali-
com 3 séries de 10 repetições máximas em 3 exercícios, verificou dade considerados ideais para a confiabilidade dos valores relatados.
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Castinheiras Neto & Farinatti PTV

A confiabilidade de uma medida é fundamental para que um intervalo de recuperação sobre o EPOC, pode-se afirmar que esta
pesquisador possa garantir a qualidade e o significado dos dados de variável possui impacto importante sobre o EPOC, uma vez que
um estudo34. Considerando que a TMR pode variar devido a diversas dos cinco estudos que utilizaram curtos intervalos de recuperação
causas35, haveria a necessidade dos estudos adotarem a realização quatro detectaram maior gasto energético pós-exercício.
de testes de reprodutibilidade da medida, o que é corroborado por As limitações desta revisão incluem: a) interpretação do gasto
Leff et al.36. Entretanto, apenas um estudo realizou tal procedimento. energético líquido, considerando a diferença entre a taxa metabólica
Da mesma forma, quanto à determinação da força máxima, de repouso e o EPOC quando eram apresentados apenas os valores
poucos estudos buscaram avaliar o nível de confiabilidade intra- brutos do EPOC; b) a não distinção entre o sexo masculino e feminino
avaliadores. Assim, os estudos podem ter subestimado os valores e a idade; c) a análise restrita a um reduzido número de estudos, com
de carga aplicados nos testes, admitindo possíveis diferenças entre diferentes modelos de desenho experimental, o que podem ter influen-
teste e reteste no ECR, devido a diversas causas37. Esta limitação ciado na comparação dos valores de duração e magnitude do EPOC.
pode ter interferido no valor de EPOC relatados. Apenas três
estudos mediram o índice de confiabilidade das medidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No tocante ao componente rápido do EPOC, o reabastecimento A análise dos estudos disponíveis sobre a influência das
dos estoques de oxihemoglobina e oximioglobina, a restauração dos variáveis de prescrição do treinamento com ECR sobre o EPOC
fosfagênios e a energia necessária para a reconversão do lactato em indica que ainda persistem muitas lacunas merecedoras de esforço
glicogênio podem explicar até ⅓ do EPOC14. A fim de não subestimar investigativo. Poucos estudos existem e limitações metodológicas
o gasto energético após o ECR, a medida deve iniciar imediatamente não permitem determinar a melhor metodologia de treinamento.
após o término da sessão para que não seja desperdiçada essa grande O efeito da manipulação do intervalo de recuperação ainda
porção do EPOC. Apenas seis estudos adotaram tal procedimento. necessita de maiores investimentos para uma determinação segura
Em relação ao efeito térmico dos alimentos, Ravussin e Swinburn38 de um tempo específico. Entretanto, protocolos envolvendo curtos
corroboram que a TMR pode ser fortemente alterada pelos processos intervalos estiveram mais associados à maior influência sobre o
de digestão e absorção dos nutrientes. O controle dietético pré-testes EPOC. No tocante à intensidade de treinamento, os estudos que a
passa a ser necessário quanto à minimização deste efeito. Outro fator testaram divergem, o que não permite determinar qual a faixa de
que pode alterar a TMR versa sobre a medida realizada após períodos intensidade ideal para produzir um maior EPOC. O número de séries
de jejum prolongado, que foge de um padrão alimentar habitual e parece não exercer influência sobre o consumo de oxigênio subse-
pode interferir na validade externa do estudo19. Mais uma vez pode-se quente ao treinamento com ECR, quando se comparam protocolos de
perceber que o controle dietético foi adotado pela minoria dos estudos. mesma intensidade e diferentes volumes. Em relação à velocidade de
Por um lado, pode-se cogitar que a pouca força de evidência contração e o modo de prescrição, estudos adicionais são certamente
dos estudos possa ser justificada pelo baixo número de estudos necessários para a determinação de sua influência sobre o EPOC.
incluídos e, pela diversidade biológica que de certa forma pode Todavia, considerando as limitações apresentadas, o método em
ter afetado a precisão do efeito dos tratamentos e, consequente- circuito pareceu associar-se a EPOCs de maior magnitude do que
mente, a consistência da relação dose-resposta. Por outro, quanto protocolos que adotaram séries consecutivas, talvez pela combinação
à aplicabilidade da evidência, aqui se referindo a influência do dessa estratégia a intervalos curtos de recuperação.

Tabela 2 – Classificação da qualidade dos estudos.

Reprodutibilidade
Estudos Reprodutibilidade do Teste de força EPOC (0-5 min) Controle da dieta
da TMR
Elliot et al.21
Murphy e Schwarzkopf 22 ■
Melby et al. 3
■ ■
Olds e Abenerthy23
Haltom et al.24 ■
Thornton e Potteiger 5

Hunter et al. 25

Kang et al. 26

Haddock e Wilkin6 ■ ■
Ratamess et al.8 ■ ■ ■
Mazzetti et al. 27
■ ■
Farinatti et al. 28
■ ■

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Local de realização do trabalho: Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE.


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