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A base moral do vegetarianismo

M. K. Gandhi

Tradutor: Hugo Ramírez

Primeira publicação: abril/1959


Edição: Templo
Publicação: agosto/2019
Índice
01. Valores Alimentares
Leite
Cereais
Grãos de leguminosas
Vegetais
Frutas
Ghee e óleo
Com que frequência e quanto comer
02. Alimentos não-cozidos
03. Necessidade vital de pesquisas
04. Vegetarianismo
05. Não um fim em si
06. A base moral do vegetarianismo
07. Nossa dieta diária
Arroz
Trigo
Cereais
Leite
Mel
Jagra
Frutas
Vegetais crus
Condimentos
08. Dieta mínima
01. Valores Alimentares

AINDA QUE SEJA VERDADE QUE O HOMEM NÃO POSSA VIVER


sem ar e sem água, aquilo que nutre o corpo é a comida. Daí o ditado, comida
é vida.

A comida pode ser dividida em três categorias: vegetariana, carne e mista.


Alimentos de carne incluem aves e peixes. O leite é um produto de origem
animal e não pode de forma alguma ser incluído numa dieta estritamente
vegetariana. Em grande medida, ele serve o mesmo propósito que a carne.
Em linguagem médica, é classificado como alimento de origem animal. Um
leigo não considera o leite um alimento de origem animal. Por outro lado,
ovos são considerados pelo leigo como um alimento animal. Na realidade,
não são. Hoje em dia, ovos estéreis também são produzidos. Não se permite
que a galinha veja o galo e, contudo, ela põe ovos. Um ovo estéril jamais se
transforma em um pintinho. Portanto, aquele que pode consumir leite não
deve apresentar objeção a consumir ovos estéreis.

A opinião médica é, em sua maioria, favorável a uma dieta mista, embora


haja uma escola em crescimento com forte opinião de que evidências
anatômicas e fisiológicas são favoráveis a que o homem seja vegetariano.
Seus dentes, seu estômago, intestinos, etc., parecem provar que a vontade da
natureza era que o homem fosse vegetariano.

A dieta vegetariana, além de grãos, leguminosas, raízes comestíveis,


tubérculos e folhas, inclui frutas, tanto frescas quanto secas. Frutas secas
incluem nozes como amêndoas, pistache, nozes, etc.
Leite

EU SEMPRE FUI A FAVOR DA DIETA VEGETARIANA PURA. MAS a


experiência me ensinou que, para me manter em perfeita forma, a dieta
vegetariana deve incluir leite e produtos lácteos, como coalhadas, manteiga,
ghee,[1] etc. Trata-se de um desvio significativo da minha ideia original.
Excluí o leite da minha dieta por seis anos. Naquela época, não senti qualquer
efeito negativo por conta da restrição. Mas no ano de 1917, como resultado
da minha própria ignorância, fiquei prostrado com grave disenteria. Fui
reduzido a um esqueleto, mas teimosamente me recusei a tomar leite ou
leitelho.[2] Não conseguia fazer meu corpo ganhar massa e força o suficiente
para sair da cama. Eu havia professado um voto de não consumir leite. Um
amigo médico sugeriu que, no momento de professar o voto, talvez eu tivesse
pensado apenas no leite da vaca e no de búfalo; por que o voto deveria me
impedir de consumir leite de cabra? Minha esposa o apoiou e eu cedi.
Falando sinceramente, para quem abriu mão do leite, ainda que no momento
de professar o voto estivesse pensando apenas na vaca e no búfalo, o leite
deveria ser tabu. Todos os leites de animais têm praticamente a mesma
composição, embora a proporção dos componentes varie em cada caso.
Assim, pode-se dizer que guardei apenas a letra, não o espírito do voto. Seja
como for, providenciou-se imediatamente o leite de cabra e eu o bebi.
Pareceu me trazer uma nova vida. Eu me recuperei rapidamente e logo fui
capaz de sair da cama. Por conta de várias experiências semelhantes, fui
forçado a admitir a necessidade de acrescentar leite à dieta vegetariana estrita.
Mas estou convencido de que, no vasto reino vegetal, deve haver algum tipo
de alimento que, ao passo que supra as substâncias necessárias que obtemos
do leite e da carne, esteja livre de suas desvantagens, éticas entre outras.

Na minha opinião, há desvantagens claras em consumir leite ou carne. Para


conseguir carne, temos que matar. E certamente não temos direito a nenhum
outro leite, exceto o leite materno em nossa infância. Acima e além da
desvantagem moral, existem outras, puramente do ponto de vista da saúde.
Tanto o leite quanto a carne trazem consigo os defeitos do animal de que são
derivados. O gado domesticado quase nunca é perfeitamente saudável. Assim
como o homem, o gado sofre de inúmeras doenças. Várias destas são
negligenciadas, mesmo quando o gado é submetido a exames médicos
periódicos. Além disso, o exame médico de todo o gado na Índia parece ser
um feito impossível, pelo menos no presente. O que se aplica ao gado
leiteiro, aplica-se em extensão muito maior aos animais abatidos em troca da
carne. Como regra geral, o homem depende apenas da sorte para escapar de
tais riscos. Ele não parece se preocupar muito com sua saúde. Considera-se
bastante seguro em sua fortaleza médica na forma de médicos, vaids e
hakims.[3] Sua principal angústia e preocupação é como obter riqueza e
posição na sociedade. Essa preocupação obscurece todo o resto. Portanto,
enquanto algum cientista altruísta não descobrir, como resultado de um
trabalho paciente de pesquisa, um substituto vegetal para o leite e para a
carne, o homem continuará consumindo a carne e o leite.

Agora, vamos considerar a dieta mista. O homem necessita de alimentos que


possam fornecer substâncias de construção de tecidos para alimentar o
crescimento do corpo, bem como para compensar seu desgaste diário.
Também deve conter algo que possa fornecer energia, gordura, certas ripas e
fibras para ajudar na excreção de resíduos. As substâncias de construção de
tecidos são conhecidas como proteínas. Elas são obtidas do leite, da carne,
dos ovos, dos grãos de leguminosas e das nozes. As proteínas contidas no
leite e na carne, em outras palavras, as proteínas de origem animal, sendo
mais facilmente digeríveis e atacáveis, são muito mais valiosas do que as
proteínas vegetais. O leite é superior à carne. Os médicos nos dizem que em
casos onde a carne não pode ser digerida, o leite é digerido facilmente. Para o
vegetariano, por ser a única fonte de proteínas animais, o leite é um item
muito importante da dieta. As proteínas, nos ovos crus, são consideradas as
mais facilmente digeríveis de todas as proteínas.

Mas nem todo mundo tem dinheiro para consumir leite. E o leite não está
disponível em todo lugar. Gostaria de mencionar aqui um fato muito
importante no que diz respeito ao leite. Contrariamente à crença popular, o
leite desnatado é um item muito valioso para a dieta. Há momentos em que se
mostra ainda mais útil que o leite integral. A principal função do leite é
fornecer proteínas animais para a construção e reparação de tecidos.
Instrumentos que desnatam para remover as gorduras não afetam nem um
pouco as proteínas. Além disso, os instrumentos que desnatam disponíveis
não conseguem remover toda a gordura do leite. Tampouco existe qualquer
probabilidade de tal instrumento ser construído.
Cereais

O CORPO REQUER OUTRAS COISAS ALÉM DO LEITE, INTEGRAL


OU DESNATADO. Eu dou o segundo lugar para cereais: trigo, arroz, sorgo
(sowari ou jowar), milheto (bajri), etc. Estes são usados como a dieta básica.
Diferentes cereais são usados como alimento básico em diferentes províncias
da Índia. Em muitos lugares, mais de um tipo de cereais é consumido ao
mesmo tempo, por exemplo, pequenas quantidades de trigo, milheto e arroz
são frequentemente servidos em conjunto. Esta mistura não é necessária para
a nutrição do corpo. Ela torna difícil regular a quantidade de ingestão
alimentar e coloca uma pressão adicional sobre a digestão. Como todas estas
variedades fornecem principalmente amido, é melhor consumir uma só de
cada vez. O trigo pode bem ser descrito como o rei entre os cereais. Se
olharmos para o mapa do mundo, descobriremos que o trigo ocupa o primeiro
lugar. Do ponto de vista da saúde, se conseguirmos trigo, o arroz e outros
cereais se tornam desnecessários. Se o trigo não estiver disponível e o sorgo,
etc. não puder ser consumido por conta de antipatia ou dificuldade em digeri-
los, deve-se recorrer ao arroz.

Os cereais devem ser devidamente limpos, moídos em uma pedra de moagem


e a farinha resultante deve ser usada como está. O peneiramento da farinha
deve ser evitado. É provável que remova o bhushi ou o pericarpo, que é uma
rica fonte de sais e vitaminas, ambos sendo muito valiosos do ponto de vista
da nutrição. O pericarpo também fornece fibras, o que ajuda na ação dos
intestinos. Sendo o grão de arroz muito delicado, a natureza proporcionou um
revestimento externo ou epicarpo. Ele não é comestível. A fim de remover
esta parte não comestível, o arroz tem que ser batido não apenas para remover
a pele exterior, mas também polir o grão de arroz. Mas o processo artificial
também termina removendo seu pericarpo. A explicação da popularidade
ajuda na preservação. O pericarpo é muito doce e, a menos que seja
removido, o arroz é facilmente atacado por certos organismos. Arroz e trigo
polidos, sem seu pericarpo, nos fornecem quase amido puro. Componentes
importantes dos cereais são perdidos com a remoção do pericarpo. O
pericarpo de arroz é vendido como polimento de arroz. Assim como o
pericarpo de trigo, podem ser cozidos e comidos por si mesmos. Também
podem ser transformados em chapattis[4] ou bolos. É possível que os chapattis
de arroz sejam mais facilmente digeridos do que o arroz integral e, nessa
forma, uma quantidade menor pode resultar em plena satisfação.

Temos o hábito de mergulhar cada pedaço do chapatti em molho de vegetais


ou dal[5] antes de comê-lo. O resultado é que a maioria das pessoas engole sua
comida sem a devida mastigação. A mastigação é um passo importante no
processo de digestão, especialmente do amido. A digestão do amido começa
ao entrar em contato com a saliva na boca. A mastigação garante que os
alimentos devam ser ingeridos de forma relativamente seca, o que resulta em
um fluxo maior de saliva e também requer sua mastigação completa.
Grãos de leguminosas

APÓS OS CEREAIS QUE FORNECEM AMIDO VÊM OS GRÃOS DE


leguminosas que fornecem proteínas: feijões, lentilhas, etc. Quase todo
mundo parece pensar que os grãos de leguminosas são uma parte essencial da
dieta. Até comedores de carne consomem grãos de leguminosas. É fácil
entender que aqueles que têm que realizar trabalho manual pesado e que não
conseguem comprar leite, não conseguem ficar sem grãos de leguminosas.
Mas posso dizer, sem qualquer hesitação, que aqueles que seguem ocupações
sedentárias como, por exemplo, funcionários de escritório, empresários,
advogados, médicos, professores e aqueles que não são pobres demais para
comprar leite, não precisam de grãos de leguminosas. Grãos de leguminosas
são geralmente considerados difíceis de digerir e são comidos em
quantidades muito menores que os cereais. Das variedades de grãos de
leguminosas, ervilhas, grãos-de-bico e feijões brancos são considerados os
mais difíceis de digerir, enquanto feijões mungu e lentilhas (masoor), os
menos difíceis de digerir.
Vegetais

VEGETAIS E FRUTAS DEVEM FICAR EM TERCEIRO LUGAR NA


NOSSA lista. Seria de esperar que fossem baratos e facilmente disponíveis na
Índia. Mas não é assim. Geralmente, são considerados iguarias destinadas a
quem mora nas cidades. Na aldeia, os legumes frescos são uma raridade, e na
maioria dos lugares, a fruta também não está disponível. Esta escassez de
verduras e frutas é um insulto à administração da Índia; os aldeões podem
cultivar muitos vegetais verdes se assim desejarem. A questão da fruta não
pode ser resolvida tão facilmente. A legislação de terras é ruim do ponto de
vista do aldeão. Mas estou divagando.

Entre vegetais frescos, uma boa quantidade de batatas, batatas-doce,


mandioca, etc., que fornecem principalmente amido, entre os vegetais, devem
ser colocados na mesma categoria que os cereais que fornecem amido. Uma
boa porção de vegetais frescos comuns é aconselhável. Certas variedades,
como pepino, tomate, mostarda e agrião e outras folhas tenras, não precisam
ser cozidas. Elas devem ser lavadas adequadamente e consumidas cruas em
pequenas quantidades.
Frutas

QUANTO A FRUTAS, NOSSA DIETA DIÁRIA DEVE INCLUIR OS


FRUTOS disponíveis da estação, por exemplo, mangas, jambus, goiabas,
uvas, mamões, limas doces ou azedas, laranjas, mousambis, etc. devem ser
usados em suas estações. A melhor hora para consumir frutas é de manhã
cedo. Um desjejum com frutas e leite deve proporcionar plena satisfação.
Aqueles que almoçam cedo podem muito bem comer apenas frutas no
desjejum.
Ghee e óleo

UMA CERTA QUANTIDADE DE GORDURA TAMBÉM É


NECESSÁRIA. ELA PODE ser obtida na forma de ghee ou óleo. Se for
possível consumir ghee, o óleo se torna desnecessário. Ele é difícil de digerir
e não é tão nutritivo quanto o ghee puro. Quarenta e cinco gramas de ghee
por pessoa a cada dia deve ser considerado mais que suficiente para suprir as
necessidades do corpo. O leite integral também é fonte de ghee. Aqueles que
não tiverem dinheiro para o ghee podem consumir óleo o bastante para suprir
a necessidade de gordura. Entre os óleos, o azeite de oliva, o óleo de
amendoim e o óleo de coco devem ter preferência. O óleo deve estar fresco.
Se disponível, é melhor usar óleo prensado manualmente. O óleo e o ghee
vendidos no bazar geralmente são inúteis. É uma questão de grande tristeza e
vergonha. Mas enquanto a honestidade não se tornar parte integral da moral
dos negócios, seja por meio de legislação ou por meio da educação, o
indivíduo terá de obter o item puro com paciência e diligência. Nunca se deve
ficar satisfeito em aceitar o que se pode obter, independentemente da sua
qualidade. É muito melhor ficar tanto sem ghee quanto sem óleo do que
consumir óleo rançoso e ghee adulterado. Como no caso das gorduras, uma
certa quantidade de açúcar também é necessária. Embora frutas doces
forneçam bastante açúcar, não há mal algum em tomar de trinta a quarenta e
cinco gramas de açúcar, mascavo ou refinado, durante o dia. Se não for
possível obter frutas doces, o açúcar pode se tornar uma necessidade. Mas a
proeminência indevida dada às coisas doces hoje em dia está errada. As
pessoas da cidade comem coisas doces demais. Pudins de leite, doces de leite
e doces de outros tipos são consumidos em grandes quantidades. Eles são
todos desnecessários e prejudiciais, exceto quando consumidos em
quantidades muito pequenas. Pode-se dizer, sem qualquer medo de exagero,
que gozar de doces e outras iguarias, num país onde milhões nem recebem
sequer uma refeição completa comum, equivale a um roubo.

O que se aplica aos doces, aplica-se com igual força ao ghee e ao óleo. Não
há necessidade de comer alimentos fritos em ghee ou óleo. Usar o ghee para
fazer puris[6] e laddus[7] é uma extravagância irrefletida. Aqueles que não
estão acostumados com tais alimentos não conseguem nem comê-los. Por
exemplo, os ingleses, quando chegam pela primeira vez ao nosso país, não
conseguem comer nossas comidas doces e fritas. Aqueles que as comem,
frequentemente vi adoecer. Gosto é adquirido, não nasce conosco. Todas as
iguarias do mundo não podem se equiparar ao prazer que a fome dá à comida.
Um homem faminto comerá um pedaço de pão seco com o maior prazer,
enquanto quem não está com fome dá nenhum valor à comida. Um homem
faminto comerá um pedaço de pão seco com o maior prazer, enquanto quem
não está com fome recusará o melhor dos doces.
Com que frequência e quanto comer

AGORA, VAMOS CONSIDERAR QUANTO SE DEVE COMER. A


COMIDA DEVE ser consumida como uma questão de dever, mais ainda,
como um remédio, para sustentar o corpo, jamais para a satisfação do
paladar. Assim, o sentimento prazeroso vem da satisfação da fome
verdadeira. Portanto, podemos dizer que o prazer depende da fome e não
existe fora dela. Por causa de nossos hábitos errados e estilo de vida artificial,
pouquíssimas pessoas conhecem o que o seu sistema exige. Nossos pais que
nos trazem a este mundo, em geral, não cultivam o autocontrole. Seus hábitos
e seu modo de viver influenciam as crianças até certo ponto. A comida da
mãe durante a infância, a mãe mima a criança com todos os tipos de
alimentos saborosos. Ela dá à criança um pouquinho do que ela mesma está
comendo e o sistema digestivo da criança recebe um treinamento errado
desde a infância. Uma vez formados, é difícil se livrar dos hábitos. Quando o
homem alcança a consciência de que é guardião do próprio corpo, e seu
corpo foi dedicado ao serviço, ele deseja aprender a lei de manter seu corpo
em uma condição adequada e se esforça para segui-la.

Chegamos agora a um ponto em que podemos estabelecer a quantidade de


vários alimentos exigidos por um homem de hábitos sedentários, o que a
maioria dos homens e mulheres que lerão essas páginas é.

Leite de vaca: 900 ml


Cereais (trigo, arroz, milheto, total somado): 170 g
Vegetais folhosos: 85 g
Outros vegetais: 140 g
Vegetais crus: 30 g
Ghee: 45 g
Manteiga: 55 g
Jagra (gur) ou açúcar refinado: 45 g
Frutas frescas de acordo com o gosto e o bolso de cada um. De qualquer
forma, é bom consumir ao menos uma lima azeda por dia. O suco deve ser
espremido e tomado com vegetais ou com água, tanto fria quanto quente.

Todos os pesos são dos alimentos crus. Eu não coloquei a quantidade de sal.
Este deve ser adicionado depois de acordo com o gosto.

Agora, com que frequência se deve comer? Muitas pessoas fazem duas
refeições por dia. A regra geral é fazer três refeições: desjejum de manhã
cedo e antes de sair para o trabalho, almoço ao meio-dia e jantar no começo
da noite ou mais tarde. Não há necessidade de fazer mais do que três
refeições. Nas cidades, algumas pessoas continuam mordiscando de tempos
em tempos. Este hábito é prejudicial. O aparelho digestivo requer descanso.

Key to Health, pp. 13-27. Ed. 1956


02. Alimentos não-cozidos

(Ao longo de uma carta escrita em Coonoor,[8] datada de 26/07/1929,


endereçada a Gandhiji, ligada a seus experimentos em dietética, o Dr. R.
McCarrison escreveu o seguinte:)

“UMA DAS GRANDES FALHAS DAS DIETAS INDIANAS DOS DIAS


DE hoje é a deficiência em vitamina A, em proteínas adequadas e em certos
sais; e a maior necessidade nutricional da Índia é o uso mais livre de bom
leite e seus derivados que suprem esses fatores. Não pode haver dúvida na
mente daqueles de nós que dedicaram uma vida ao estudo da nutrição que o
leite é uma das maiores bençãos dadas à humanidade. E para alguém como
eu, cujo trabalho é aprender a verdade e difundi-la, a escassez desse alimento
na Índia e a falta de apreço por seu valor são assuntos de grave preocupação.
Eu lhe imploro, não o condene; pois um litro de leite por dia vai fazer mais
pela Jovem Índia do que a maioria das coisas que conheço. É, por exemplo, à
deficiência de vitamina A que devemos tanta doença dos intestinos e dos
pulmões, tanta doença da bexiga (como a "pedra") e tanta anemia neste país.

Fico feliz que você esteja se interessando na questão da comida e concordo


com muito do que você diz. Mas deixe-me assegurar-lhe que um pouco mais
de 'fortíssimo' sobre o tema 'leite' e 'derivados lácteos 'fará um bem enorme
quando você estiver liderando a orquestra da Verdade.

P.S.: Quando você fizer uma turnê por Andhra, evite "a fraqueza extrema",
que o sobrepujou da última vez, tomando um litro de leite por dia![9]

(Comentando a carta do Dr. McCarrison, Gandhiji escreveu o seguinte:)

Eu publico esta carta com gratidão e desejo que outros homens versados em
ciência médica também me guiem. Ao experimentar, posso tentar descobrir a
verdade sobre a comida na medida em que seja possível para um leigo fazê-
lo.

Quanto ao argumento do Dr. McCarrison sobre a necessidade de comida


animal. Não me atrevo, como leigo, a combatê-lo, mas posso afirmar que há
médicos que decididamente opinam que a alimentação animal, incluindo o
leite, não é instinto, mas modo de criação. Pessoalmente, sou a favor de uma
dieta puramente vegetariana e há anos venho experimentando para encontrar
uma combinação vegetariana adequada. Mas não há risco de que eu condene
o leite até que obtenha provas esmagadoras em apoio a uma dieta sem leite. É
uma das muitas inconsistências da minha vida que, embora eu esteja em
minha própria pessoa evitando o leite, estou conduzindo uma leiteria modelo
que já está produzindo leite de vaca que pode competir com sucesso contra
qualquer leite similar produzido na Índia em pureza e teor de gordura.

Não obstante a alegação do Dr. McCarrison em nome da ciência médica, eu


submeto que os cientistas ainda não exploraram as possibilidades ocultas das
inumeráveis sementes, folhas e frutos para fornecer a nutrição mais completa
possível à humanidade. Por um lado, os tremendos interesses investidos que
cresceram em torno da crença na comida animal impedem que a profissão
médica se aproxime da questão com completo distanciamento. Quase me
parece que é reservado aos entusiastas leigos abrir caminho através de uma
montanha de dificuldades, até mesmo sob risco de suas vidas, para encontrar
a verdade. Eu ficaria satisfeito se os cientistas prestassem assistência a esses
humildes buscadores.

Young India, 15/08/1929

Como buscador da Verdade, considero necessário encontrar a comida perfeita


para que um homem mantenha corpo, mente e alma em boas condições.
Acredito que a busca só pode ser bem-sucedida com comida não cozida, e
que no ilimitado reino vegetal há um substituto efetivo para o leite, que todo
médico admite ter suas desvantagens e que é projetado pela natureza não para
o homem, mas para bebês e jovens de animais inferiores. Eu não deveria
considerar nenhum custo caro demais para fazer uma busca que, na minha
opinião, é tão necessária de mais pontos de vista do que um. Eu, portanto,
ainda busco informação e orientação de espíritos afins.

Young India, 22/08/1929

Se uma pessoa pode consumir frutas maduras sem cozinhar, não vejo razão
para que uma pessoa não possa consumir vegetais também em um estado cru,
desde que se possa digeri-los adequadamente. Dietistas são da opinião que a
inclusão de uma pequena quantidade de vegetais crus, como pepino,
abobrinha, abóbora, cabaça, etc em um menu é mais benéfica para a saúde do
que a ingestão de grandes quantidades dos mesmos cozidos. Mas as digestões
da maioria das pessoas são muitas vezes tão prejudicadas por excesso de
comida cozida que não se deve ser surpreendido se, a princípio, elas não
fizerem justiça a verduras cruas, embora eu possa dizer por experiência
própria que nenhum efeito nocivo se segue quando se consome dez ou vinte
gramas de verduras cruas a cada refeição, desde que sejam mastigados
completamente. É um fato bem estabelecido que se pode obter uma
quantidade muito maior de nutrição com a mesma qualidade de alimento se
for bem mastigado. O hábito de mastigação adequada dos alimentos
inculcado pelo uso de verduras não cozidas, portanto, se não tiver qualquer
outro benefício, pelo menos possibilitará a pessoa a viver com menor
quantidade de alimento e, portanto, não apenas contribuirá para a economia
no consumo, mas também reduzirá automaticamente o himsa[10] dietético que
se comete para manter a vida.

Portanto, seja considerado do ponto de vista da dietética ou da Ahimsa, o uso


de vegetais não-cozidos não apenas torna-se livre de qualquer objeção, mas
deve ser altamente recomendado. Naturalmente, não é preciso dizer que, se os
vegetais forem consumidos crus, um cuidado extra terá que ser exercido para
verificar que não estejam velhos, maduros demais ou podres, ou ainda sujos.

Young India, 15/11/1928


03. Necessidade vital de pesquisas

A CAPACIDADE ILIMITADA DO MUNDO DAS PLANTAS DE


SUSTENTAR O HOMEM no seu mais alto nível é uma região ainda
inexplorada pela ciência médica moderna que, pela força do hábito, fixa sua
fé nos matadouros ou, pelo menos, no leite e seus derivados. É um dever que
aguarda o cumprimento por parte dos médicos indianos cuja tradição é
vegetariana. O rápido desenvolvimento de pesquisas sobre vitaminas e a
possibilidade de obter a mais importante delas diretamente do sol podem
revolucionar muitas das teorias aceitas e crenças propostas pela ciência
médica sobre a comida.

Young India, 18/07/1929

Descobri, após experimento prolongado e observação, que não existe uma


regra dietética fixa para todas as constituições físicas. Tudo o que os médicos
mais sábios alegam em favor de seus conselhos é que é provável que sejam
benéficos em um dado caso, já que na maioria dos casos eles observaram
respostas razoavelmente boas. Em nenhum ramo da ciência é o cientista tão
dificultado em sua pesquisa como no médico. Ele não ousa falar com certeza
do efeito de uma única droga ou alimento ou das reações dos corpos
humanos. É e sempre permanecerá empírico. O ditado popular de que o
alimento de um homem pode ser o veneno de outro é baseado na vasta
experiência que encontra confirmação diária. Sendo esse o caso, o campo de
experimentação por parte de homens e mulheres inteligentes é ilimitado.
Leigos devem adquirir um conhecimento funcional do corpo que desempenha
um papel tão importante na evolução da alma interior. E, no entanto, sobre
nada somos tão negligentes ou ignorantes quanto a nossos corpos. Em vez de
usar o corpo como templo de Deus, nós o usamos como um veículo para a
indulgência, e não nos envergonhamos de buscar os médicos para nos ajudar
em nossos esforços para aumentá-las e abusar do tabernáculo terrestre.

Young India, 08/08/1929

Pegue qualquer livro-texto moderno sobre comida ou vitaminas, e você


encontraria nele uma forte recomendação para consumir algumas folhas
verdes comestíveis cruas em cada refeição. Claro, estas devem sempre ser
bem lavadas meia dúzia de vezes para remover toda a sujeira. Estas folhas
podem ser encontradas em cada aldeia, bastando o trabalho de colhê-las. E
contudo verduras supostamente são iguarias apenas das cidades. Aldeões em
muitas partes da Índia vivem de dal e arroz e roti e muito chili, que
prejudicam o sistema. Visto que a reorganização econômica das aldeias
começou com a reforma da alimentação, é necessário descobrir os alimentos
mais simples e baratos que permitiriam que os aldeões recuperassem a saúde
perdida. A adição de folhas verdes às refeições deles permitirá que os
moradores evitem muitas doenças das quais estão sofrendo. A comida dos
aldeões é deficiente em vitaminas; muitos delas podendo ser fornecidas por
folhas verdes frescas.

Isso, é claro, significa pesquisas elaboradas e exames detalhados das


propriedades nutritivas das inúmeras folhas que podem ser encontradas
escondidas entre as gramíneas que crescem selvagens na Índia.

Harijan, 15/02/1935
04. Vegetarianismo

UM CORRESPONDENTE NASCEU EM UMA FAMÍLIA QUE COME


CARNE. ELE conseguiu resistir à pressão de seus pais para retornar ao pote
de carne. “Mas”, diz ele, “em um livro que tenho diante de mim, leio a
opinião do Swami Vivekanand[11] sobre o assunto e me sinto bastante abalado
em minha crença. O Swami sustenta que para os indianos em seu estado atual
a dieta da carne é uma necessidade e aconselha seus amigos a comer carne
livremente. Ele chega a ponto de dizer: 'se vocês incorrerem em algum
pecado, então joguem-no sobre mim; eu o suportarei.' Agora estou indeciso
sobre comer carne ou não."

Essa adoração cega à autoridade é um sinal de fraqueza mental. Se o


correspondente tem uma convicção profundamente enraizada de que comer
carne não está certo, por que ele deveria ser movido pela opinião em
contrário do mundo inteiro? É preciso ser lento para formar convicções, mas
uma vez formadas, elas devem ser defendidas nas circunstâncias mais
desfavoráveis.

Quanto à opinião do grande Swami, não vi a escrita em si, mas temo que o
correspondente o tenha citado corretamente. Minha opinião é bem conhecida.
Eu não considero a comida de carne como necessária para nós em qualquer
estágio e sob qualquer clima no qual é possível que os seres humanos
habitualmente vivam. Eu considero a comida de carne inadequada para nossa
espécie. Erramos em copiar o mundo animal inferior se somos superiores a
ele. A experiência ensina que a comida animal é inadequada àqueles que
desejam conter suas paixões.

Mas é errado superestimar a importância da comida na formação do caráter


ou na subjugação da carne. A dieta é um fator poderoso que não deve ser
negligenciado. Mas resumir toda a religião em termos de dieta, como muitas
vezes é feito na Índia, é tão errado quanto desconsiderar toda restrição em
relação à dieta e dar rédeas plenas ao apetite. Desiste-se levianamente do
vegetarianismo. É necessário, portanto, corrigir o erro de que o
vegetarianismo nos tornou fracos em mente ou corpo, ou passivos ou inertes
em ação. Os maiores hindus foram invariavelmente vegetarianos. Quem
poderia mostrar maior atividade do que, digamos, Shankara[12] ou
Dayanand[13] em seus tempos?

Mas meu correspondente não deve me aceitar como sua autoridade. A


escolha da dieta não é uma coisa a ser baseada na fé. É uma questão para
cada um raciocinar por si mesmo. Desenvolveu-se especialmente no Ocidente
uma quantidade de literatura sobre vegetarianismo que qualquer buscador da
verdade pode estudar com proveito. Muitos médicos eminentes contribuíram
para essa literatura. Aqui, na Índia, não temos precisado de qualquer
encorajamento para o vegetarianismo. Pois até o momento tem sido aceito
como a coisa mais desejável e mais respeitável. Aqueles, no entanto, que
sentem-se como o correspondente, podem observar a produção sobre o
vegetarianismo no Ocidente.

Young India, 07/10/1926

Não se deve comer para agradar ao paladar, mas apenas para manter o corpo
funcionando. Quando cada órgão dos sentidos serve ao corpo e, através do
corpo, à alma, seu deleite especial desaparece, e só então começa a funcionar
da maneira que a natureza pretendia que fizesse.

Qualquer número de experimentos é muito pequeno e nenhum sacrifício é


grande demais para alcançar essa sinfonia com a natureza. Mas infelizmente a
corrente hoje em dia está fluindo fortemente na direção oposta. Não nos
envergonhamos de sacrificar uma multitude de outras vidas ao decorar o
corpo perecível e tentar prolongar sua existência por alguns momentos
fugazes, com o resultado de que nos matamos, damos origem a cem novos;
ao tentar desfrutar dos prazeres dos sentidos, perdemos no final até nossa
capacidade de prazer. Tudo isso está se passando diante de nossos próprios
olhos, mas não há ninguém tão cego quanto aqueles que não querem
enxergar.

Autobiografia, p. 237, Ed. 1958

Há muita verdade no ditado de que o homem se torna o que ele come. Quanto
mais grosseira a comida, mais grosseiro é o corpo.

Harijan, 05/08/1933

Sinto que o progresso espiritual exige, em algum momento, que deixemos de


matar nossas criaturas semelhantes para a satisfação de nossas necessidades
corporais. As belas linhas de Goldsmith[14] me ocorrem enquanto lhes conto
sobre minha moda vegetariana:
Nenhum rebanho que vaga pelo vale sem fim
Para o abate minha mão condena;
Ensinado pelo Poder que tem pena de mim
Eu aprendo a deles ter pena[15]

India's Case for Swaraj, p. 402, Ed. 1932


05. Não um fim em si

A ABSTINÊNCIA DE BEBIDAS E DROGAS INTOXICANTES, E DE


TODOS os tipos de alimentos, especialmente carne, é sem dúvida uma
grande ajuda para a evolução do espírito, mas não é de modo algum um fim
em si mesmo. Muitos homens que comem carne e vivem com todos, no temor
de Deus, estão mais próximos de sua liberdade do que um homem se
abstendo religiosamente de comer carne e muitas outras coisas, mas
blasfemando contra Deus em cada um de seus atos.

Young India, 06/10/1921

Sinta-se livre para abjurar berinjelas ou batatas, se você quiser, mas pelo
amor de Deus não comece a se sentir dominado pela ideia de estar agindo de
forma correta ou se lisonjeie que você está praticando Ahimsa por causa
dessa ação. A própria ideia é o suficiente para corar. Ahimsa não é uma mera
questão de dietética, ela a transcende. O que um homem come ou bebe pouco
importa; é a autonegação, o autocontrole por trás que importa. Sinta-se livre
para praticar tanta restrição na escolha dos itens da sua dieta quanto desejar.
A restrição é louvável, até necessária, mas toca ampla latitude na questão de
dieta e ainda pode ser uma personificação de Ahimsa e compelir nossa
homenagem, se seu coração transborda de amor e se derrete na miséria de
outro, e foi expurgado de todas as paixões. Por outro lado, um homem
sempre escrupuloso em demasia na dieta é um completo estranho perante
Ahimsa e um miserável que inspira piedade, se é um escravo do egoísmo e
das paixões e é duro de coração.
Young India, 06/09/1928

Estou dolorosamente consciente do fato de que meu desejo de continuar a


vida no corpo me envolve em constante himsa. É por isso que estou ficando
cada vez mais indiferente a esse corpo físico meu. Por exemplo, sei que no
ato da respiração destruo inumeráveis germes invisíveis flutuando no ar. Mas
eu não paro de respirar. O consumo de vegetais envolve himsa, mas percebo
que não posso desistir dele. Mais uma vez, há himsa no uso de antissépticos,
mas não posso me levar a descartar o uso de desinfetantes, como querosene,
etc., para me livrar da praga do mosquito e afins. Eu suporto que cobras
sejam mortas no Ashram quando é impossível capturá-las e colocá-las fora de
perigo. Eu até tolero o uso do bastão para conduzir os bois no Ashram.
Assim, não há fim para a himsa que eu direta e indiretamente cometo. Se,
como resultado desta humilde confissão minha, os amigos escolherem
desistir de mim como perdido, eu lamentaria, mas nada me induzirá a tentar
esconder minha imperfeição na prática de Ahimsa. Tudo o que reivindico
para mim é que estou incessantemente tentando entender as implicações de
grandes ideais como Ahimsa e praticá-los em pensamento, palavra e ação, e
não sem uma certa medida de sucesso, penso. Mas sei que ainda tenho longa
distância para vencer nessa direção.

Young India, 01/11/1928


06. A base moral do vegetarianismo

(Discurso para a London Vegetarian Society[16] em 20 de novembro de 1931)

QUANDO RECEBI O CONVITE PARA ESTAR PRESENTE NESTA


REUNIÃO, NÃO preciso lhes dizer o quanto me agradou, porque reviveu
velhas lembranças e recordações de amizades agradáveis formadas com
vegetarianos. Sinto-me especialmente honrado em encontrar à minha direita o
Sr. Henry Salt.[17] Foi o livro do Sr. Salt, A Plea for Vegetarianism, que me
mostrou por que, além de um hábito hereditário e parte de minha adesão a um
voto que me foi ministrado por minha mãe, era correto ser vegetariano. Ele
me mostrou por que era um dever moral dos vegetarianos não viver dos
outros animais. É, portanto, uma questão de deleite adicional para mim
encontrar o Sr. Salt em nosso meio.

Não me proponho a tomar seu tempo relatando-lhes minhas várias


experiências com o vegetarianismo, nem quero dizer-lhes algo sobre a grande
dificuldade que encontrei na própria Londres para me manter firme no
vegetarianismo, mas gostaria de compartilhar com vocês alguns dos
pensamentos que se desenvolveram em mim ligados aos vegetarianismos.
Quarenta anos atrás, eu costumava me misturar livremente com vegetarianos.
Naquele tempo, dificilmente havia um restaurante vegetariano em Londres
que eu não tinha visitado. Fiz questão, por curiosidade e para estudá-los, de
visitar cada um deles. Naturalmente, portanto, entrei em contato próximo
com muitos vegetarianos. Eu percebi que nas mesas, em grande parte a
conversa girava em torno de comida e doença. Também descobri que os
vegetarianos que estavam lutando para se ater ao vegetarianismo estavam
achando difícil do ponto de vista da saúde. Eu não sei se, hoje em dia, vocês
têm esses debates que ocorriam entre vegetarianos e vegetarianos e entre
vegetarianos e não-vegetarianos. Lembro-me de um desses debates, entre o
Dr. Densmore e o falecido Dr. T. R. Allinson.[18] Então os vegetarianos
tinham o hábito de falar sobre nada além de comida e nada além de doença.
Eu sinto que essa é a pior maneira de tratar do assunto. Percebo também que
estas são aquelas pessoas que se tornam vegetarianas porque estão sofrendo
de alguma doença ou de outra, puramente do ponto de vista da saúde. São
essas pessoas que em grande parte recuam. Descobri que, para permanecer
firme no vegetarianismo, a pessoa requer uma base moral.

Para mim, essa foi uma grande descoberta em minha busca pela verdade. Em
tenra idade, no curso de meus experimentos, descobri que uma base egoísta
não serviria ao propósito de levar um homem cada vez mais alto ao longo dos
caminhos da evolução. O que era necessário era um propósito altruísta.
Descobri também que a saúde não era de forma alguma monopólio dos
vegetarianos. Encontrei muitas pessoas sem viés para um lado ou para o
outro, e que os não-vegetarianos eram capazes de mostrar, falando de modo
geral, boa saúde. Eu também descobri que vários vegetarianos achavam
impossível permanecer vegetarianos porque tinham feito da comida um
fetiche e porque achavam que, ao se tornarem vegetarianos, podiam comer
tanta lentilha, feijão branco e queijo quanto quisessem. Claro que essas
pessoas não poderiam manter sua saúde. Observando ao longo destas linhas,
vi que um homem deve comer com moderação e de vez em quando jejuar.
Nenhum homem ou mulher realmente comeu com parcimônia ou consumiu
apenas aquela quantidade de que o corpo necessita e nada mais. Nós
facilmente somos presas das tentações do paladar e, portanto, quando
provamos algo delicioso, não nos importamos de consumir um bocado ou
dois a mais. Mas não dá para manter a saúde nessas circunstâncias. Por isso,
descobri que, para manter a saúde, não importa o que comesse, era necessário
reduzir a quantidade da sua comida e reduzir o número de refeições. Tornar-
se moderado; errar para menos, ao invés de para mais. Quando convido
amigos para compartilharem suas refeições comigo, eu jamais os pressiono a
consumir qualquer coisa, exceto apenas pelo que pedem. Pelo contrário, digo-
lhes que não consumam coisa alguma se não quiserem.

O que eu quero levar à sua atenção é que os vegetarianos precisam ser


tolerantes se quiserem converter os outros ao vegetarianismo. Adote um
pouco de humildade. Devemos apelar ao senso moral das pessoas que não
vêem do mesmo modo que nós. Se um vegetariano adoecesse e um médico
prescrevesse chá de vaca, então eu não o chamaria de vegetariano. Um
vegetariano é feito de matéria mais firme. Por quê? Porque é para a
edificação do espírito, não do corpo. O homem é mais que carne. É o espírito
no homem com que nos preocupamos. Portanto os vegetarianos deveriam ter
essa base moral de que o homem não nasceu animal carnívoro, mas nasceu
para viver dos frutos e ervas que a terra gera. Eu sei que devemos todos errar.
Eu abdicaria do leite se pudesse, mas não posso. Fiz esse experimento vezes
sem número. Não consegui, depois de uma doença grave, recuperar a minha
força a menos que eu voltasse ao leite. Essa tem sido a tragédia da minha
vida. Mas a base do meu vegetarianismo não é física, mas moral; se alguém
dissesse que eu morreria se não tomasse chá de carne de carneiro, mesmo sob
orientação médica, eu preferiria a morte. Essa é a base do meu
vegetarianismo. Eu adoraria pensar que todos nós, que nos chamamos
vegetarianos, temos essa base. Existiram milhares de comedores de carne que
não permaneceram comedores de carne. Deve haver uma razão clara para que
tenhamos realizado essa mudança em nossas vidas, para que tenhamos
adotado hábitos e costumes diferentes da sociedade, mesmo que às vezes essa
mudança possa ofender os mais próximos e queridos para nós. Por nada no
mundo você deve sacrificar um princípio moral. Portanto, a única base para
ter uma sociedade vegetariana e proclamar um princípio vegetariano é, e deve
ser, moral. Não tenho como dizer a vocês, vendo e vagando pelo mundo, que
os vegetarianos, em geral, desfrutem de uma saúde muito melhor do que os
comedores de carne. Eu pertenço a um país que é predominantemente
vegetariano por hábito ou necessidade. Portanto, não posso testemunhar que
isso resulta em uma resistência muito maior, uma coragem muito maior ou
uma isenção muito maior de doenças. Porque é uma coisa peculiar e pessoal.
Requer obediência, e obediência escrupulosa, a todas as leis da higiene.

Portanto, penso que o que os vegetarianos devem fazer é não enfatizar as


consequências físicas do vegetarianismo, mas explorar as consequências
morais. Embora ainda não tenhamos esquecido que compartilhamos muitas
coisas em comum com a fera, não percebemos suficientemente que existem
certas coisas que nos diferenciam da fera. Claro, temos vegetarianos na vaca
e no touro que são melhores vegetarianos do que nós, mas há algo muito
maior que nos chama ao vegetarianismo. Portanto, pensei que, durante os
poucos minutos que me dou o privilégio de me dirigir a vocês, eu apenas
enfatizaria a base moral do vegetarianismo. E eu diria que descobri, por
experiência própria e pela experiência de milhares de amigos e
companheiros, que eles encontram satisfação, no que se refere ao
vegetarianismo, na base moral que escolheram para sustentar o
vegetarianismo.

Concluindo, agradeço a todos vocês por virem aqui e me permitirem ver


vegetarianos cara a cara. Não posso dizer que costumava encontrá-los
quarenta ou quarenta e dois anos atrás. Suponho que os rostos da London
Vegetarian Society tenham mudado. Há muitos poucos membros que, como o
Sr. Salt, podem reivindicar associação com a Sociedade que se estenda por
mais de quarenta anos. Por fim, gostaria que vocês, se desejarem, me
fizessem qualquer pergunta, pois estou à sua disposição por alguns minutos.

(Gandhiji foi então solicitado a dar suas razões para limitar sua dieta diária
a apenas cinco itens, e ele respondeu:)

Esse fato não está ligado ao vegetarianismo. Havia um outro motivo. Fui um
filho mimado da natureza. Naquela época, eu tinha adquirido aquela
notoriedade de tal maneira que, quando convidado a visitar os amigos,
colocavam diante de mim amplos pratos de comida. Eu dizia a eles que tinha
ido lá para servir e, pessoalmente, me veria morrendo lentamente se me
permitisse ser mimado assim. Então, limitando-me a cinco ingredientes de
comida, servi a um duplo propósito. E devo terminar todas as minhas
refeições antes do pôr do sol. Fui salvo de muitas armadilhas por esse
comportamento. Há muitas descobertas sobre isso em relação a razões de
saúde. Os dietistas estão dizendo que estamos cada vez mais tendendo a
simplificar a dieta, e que, se alguém precisa viver para a saúde, é preciso
consumir uma coisa de cada vez e evitar combinações prejudiciais. Eu gosto
mais do processo de exclusão do que o de inclusão, porque não há dois
médicos com a mesma opinião.

Então, acho que a restrição a cinco itens de comida me ajudou moral e


materialmente porque, em um país pobre como a Índia, nem sempre é
possível obter leite de cabra, e é difícil produzir frutas e uvas. Então, vou
visitar pessoas pobres e, se esperasse uvas de estufa, elas me baniriam.
Assim, restringindo-me a cinco itens de alimentos, também sirvo à lei da
economia.

Harijan, 20/02/1919
07. Nossa dieta diária
Arroz

ARROZ INTEGRAL NÃO POLIDO É IMPOSSÍVEL DE OBTER NOS


BAZARES. É lindo de se ver e rico e doce ao paladar. Os moinhos jamais
podem competir com este arroz não polido. É descascado de uma maneira
simples. A maior parte do arroz pode ser descascada em um chakki[19] leve
sem dificuldade. Existem algumas variedades cuja casca não é separada por
moagem. A melhor maneira de tratar esse arroz com casca é fervê-lo primeiro
e depois separar o joio do grão. Esse arroz, diz-se, é mais nutritivo e,
naturalmente, o mais barato. Nas aldeias, se descascarem o seu próprio arroz,
deve ser sempre mais barato para os camponeses que o arroz descascado do
moinho correspondente, seja polido ou não polido. A maioria do arroz
encontrada normalmente nos bazares é sempre mais ou menos polida, seja
descascada à mão ou no moinho. O arroz integral não polido sempre é
descascado manualmente e sempre é mais barato que o arroz descascado no
moinho, a variedade sendo a mesma.

Harijan, 25/01/1935
Trigo

A FARINHA TSAMPA (DE TRIGO) É TÃO RUIM QUANTO O arroz


polido segundo o testemunho universal dos médicos. Farinha de trigo integral
moída no chakki pessoal é, a qualquer hora do dia, superior e mais barata
porque economiza-se no custo da moagem. Mais uma vez, no trigo integral
não há perda de peso. Na farinha refinada há perda de trigo. A parte mais rica
do trigo está contida em seu farelo. Há uma perda terrível de nutrição quando
o farelo de trigo é removido. Os aldeões e outros que comem farinha de trigo
integral moída em seu próprio chakki economizam seu dinheiro e, o que é
mais importante, agem beneficamente para sua saúde. Uma grande parte dos
milhões que os moinhos de farinha produzem permanece e circula entre os
pobres merecedores quando a moagem da aldeia é revivida.

Harijan, 01/02/1935
Cereais

OUTRO MÉDICO CITA UM TEXTO CONTRA O USO DE SEMENTES


germinadas de leguminosas, mas ele também carece de experiência real para
apoiar seu texto. E esta tem sido minha queixa contra muitos médicos
ayurvédicos. Não tenho dúvidas de que existe abundante sabedoria antiga
enterrada nas obras médicas sânscritas. Nossos médicos parecem ser
preguiçosos demais para desencavar essa sabedoria no sentido real do termo.
Eles estão satisfeitos em simplesmente repetir a fórmula impressa. Mesmo
como leigo, sei que muitas virtudes são reivindicadas por vários preparados
ayurvédicos. Mas onde está o seu uso, se este não pode ser demonstrado
hoje? Eu imploro em nome desta antiga ciência por um espírito de busca
genuína entre nossos médicos ayurvédicos. Estou tão ansioso quanto o mais
elevado dentre eles pode estar para se libertar da tirania dos remédios
ocidentais, que são ruinosamente caros e cuja preparação não leva em
consideração as humanidades superiores.

Young India, 08/08/1929


Leite

É MINHA FIRME CONVICÇÃO DE QUE O HOMEM NÃO PRECISA


tomar leite algum, além do leite materno que toma quando bebê. Sua dieta
deve consistir em nada além de frutas e nozes queimadas pelo sol. Ele pode
garantir nutrição o suficiente tanto para os tecidos quanto para os nervos a
partir de frutas como uvas e nozes como amêndoas. Restringir as paixões
sexuais e outras mais torna-se fácil para um homem que vive de tal comida.
Meus cooperadores e eu vimos por experiência que há muita verdade no
provérbio indiano de que, do modo como um homem come, assim ele deve se
tornar.

Autobiografia, p. 200, Ed. 1958


Mel

MINHA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA DE CONSUMIR MEL MISTURADO


COM ÁGUA QUENTE se estende por mais de quatro anos. Eu não
experimentei efeito maléfico algum. Formou-se uma oposição a essa prática
que possui, admito, força considerável, embora o método ocidental de coleta
de mel seja mais limpo e exigir mais do que isso significaria que eu teria que
cortar muitas coisas que consumo ou uso. Mas a vida não é governada pela
lógica estrita. É um crescimento orgânico, aparentemente irregular, seguindo
sua própria lei e lógica. Os médicos ocidentais distribuem altos elogios a esse
método.

A maioria dos que condenam o uso de açúcar em termos desmensurados fala


muito bem do mel, que, segundo eles, não irrita como o açúcar refinado ou
mesmo jagra.

Young India, 08/08/1929


Jagra

DE ACORDO COM O TESTEMUNHO MÉDICO, A JAGRA É SEMPRE


superior ao açúcar refinado em valor alimentar, e se os aldeões deixarem de
fazer jagra, como estão começando a fazer, serão privados de um importante
adjunto alimentar para seus filhos. Eles próprios podem viver sem jagra, mas
as crianças, não, não sem minar seu vigor. A manutenção da jagra e seu uso
pelo povo em geral significam vários crores[20] de rúpias mantidos pelos
aldeões.

Harijan, 01/02/1935
Frutas

NINGUÉM, TALVEZ, ATÉ ONDE EU SAIBA, TEM COMIDO TANTO


FRUTO quanto eu, tendo vivido por seis anos inteiramente de frutas e nozes
e sempre tendo um farto suprimento de frutas como parte de minha dieta
normal. Mas eu tinha em mente, quando escrevia, as condições especiais da
Índia. Seu povo deve ter, em razão de sua extensão e variedade de clima, o
suprimento mais amplo de frutas, vegetais e leite. No entanto, é o país mais
pobre a esse respeito. Por isso, sugeri o que me pareceu viável. Mas eu
sinceramente endosso a proposição de que para manter a saúde, frutas frescas
e legumes frescos devem formar a parte principal de nossa dieta. Fica para a
profissão médica deles estudar a condição peculiar da Índia e sugerir a lista
de vegetais e aldeias para consumo local. Bagas silvestres, por exemplo, não
vendem, mas podem ser usadas para a colheita. Trata-se de um vasto campo
de pesquisa. Não pode trazer nem dinheiro nem talvez fama. Mas pode obter
a gratidão de milhões sem voz.

Harijan, 15/03/1942
Vegetais crus

FORAM-ME APRESENTADAS AS FOLHAS DE MOSTARDA


(SARSAV), ENDRO (SUWA), nabo, cenoura, rabanete e ervilha. Além destas,
dificilmente é necessário afirmar que também os tubérculos de rabanete, nabo
e cenoura são conhecidos por serem comestíveis em seu estado cru. É
desperdício de dinheiro e 'bom' gosto cozinhar estas folhas ou tubérculos. As
vitaminas contidas nesses vegetais são total ou parcialmente perdidas ao se
cozinhá-los. Chamei cozinhá-los de desperdício de "bom" gosto porque os
vegetais crus têm um bom sabor natural próprio que é destruído pelo
cozimento.

Harijan, 15/02/1935
Condimentos

O SAL COMUM PODE SER CONSIDERADO, COM RAZÃO, O REI


entre os condimentos. Muitas pessoas não conseguem comer seu alimento
sem ele. O corpo requer certos sais e o sal comum é um deles. Estes sais
ocorrem naturalmente nos vários gêneros alimentícios, mas quando o
alimento é cozido de forma não científica, por exemplo, jogando fora a água
em que o arroz, as batatas ou outros vegetais foram fervidos, o fornecimento
torna-se inadequado. A deficiência então tem que ser compensada por uma
adição separada de sais. Como o sal comum é um dos sais mais essenciais
para o corpo, este pode ser complementado em pequenas quantidades.

Mas vários condimentos não são exigidos pelo organismo como regra geral,
por exemplo, chilis frescos ou secos, pimenta, turmérico, coentro, alcaravia,
mostarda, feno-grego (methi), assafétida, etc. Estes são consumidos para a
satisfação do paladar. Minha opinião, baseada em minha experiência pessoal
de cinquenta anos, é que nenhum deles é necessário para se manter
perfeitamente saudável. Aqueles cuja digestão se tornou muito sensível
podem consumir essas coisas como remédios por um certo período de tempo,
se for considerado necessário. Mas deve-se fazer questão de evitar seu uso
para a satisfação do paladar. Todos os condimentos, até mesmo o sal,
destroem o sabor natural dos vegetais e cereais, etc. Aqueles cujo paladar não
se tornou viciado apreciam o sabor natural dos alimentos muito mais do que
após a adição de sal, o qual deve ser empregado como coadjuvante. Quanto
aos chilis, eles queimam a boca e irritam o estômago. Aqueles que não têm o
hábito de consumir chilis não conseguem suportá-los no começo. Vi vários
casos de feridas na boca causados pela ingestão de chilis. Conheço um caso
de pessoa que gostava muito de chilis, e seu uso excessivo resultou em sua
morte prematura.

Key to Health, pp. 27-29, Ed. 1956


08. Dieta mínima

USE UM GRÃO DE CADA VEZ. CHAPATI, ARROZ E GRÃOS de


leguminosas, leite, ghee, jagra e óleo são usados em lares comuns junto com
vegetais e frutas. Considero essa uma combinação insalubre. Aqueles que
recebem proteína animal na forma de leite, queijo, ovos ou carne não
precisam usar grãos de leguminosas. Os pobres obtêm apenas proteína
vegetal. Se os que vivem bem abrirem mão dos grãos de leguminosas e dos
óleos, liberam assim esses dois elementos essenciais para os pobres que não
obtêm nem proteína animal nem gordura animal. Então, o grão comido não
deve ser molhado. Basta metade da quantidade quando ele é ingerido seco,
não estando molhado. Basta metade da quantidade quando acompanha
saladas cruas, como cebola, cenoura, rabanete, folhas de salada, tomates. De
trinta a cinquenta e cinco gramas de saladas servem o propósito de duzentas e
vinte e cinco gramas de vegetais cozidos. Chapatis ou pães não devem ser
comidos com leite. Para começar, uma refeição pode ser de vegetais crus e
chapati ou pão, e a outra, de vegetais cozidos com leite ou coalhada.

Pratos doces devem ser eliminados por completo. Em vez disso, jagra em
pequenas quantidades pode ser consumido com leite ou pão ou por si só.

Fruta fresca é boa para comer, mas apenas um pouco é necessário para dar
tom ao sistema. É um artigo caro, e um excesso de indulgência por parte
daqueles bem de vida privou os pobres e os enfermos de um item de que eles
precisam muito mais do que os bem de vida.

Qualquer médico que tenha estudado a ciência da dietética garantirá que o


que eu sugeri não pode causar mal ao corpo, pelo contrário, deve levar a uma
saúde melhor.

Harijan, 25/01/1942
[1]
N.T.: Ghee é uma classe de manteiga clarificada desenvolvida na antiga Índia. A manteiga deve
alcançar o estado de fervilhamento, logo anterior ao ponto de ebulição; então, remove-se as impurezas
da superfície. A gordura líquida e translúcida é o ghee; o resíduo sólido que acumula no fundo é
descartado.
[2]
N.T.: Também conhecido pelo nome em inglês buttermilk.
[3]
N.T.: Dentro do Islã, o hakim é um sábio que domina o uso das ervas medicinas.
[4]
N.T.: Também conhecido como roti, é um pão ázimo não-fermentado.
[5]
N.T.: O dal é um dos nomes na Índia para o grão de leguminosa – como a lentilha e o feijão branco.
Por extensão, é também o nome dado na culinário indiana a sopas feitas com base nestes grãos.
[6]
N.T.: O puri é um pão não-fermentado que é frito por imersão, geralmente servido com molhos
salgados ou com pratos doces.
[7]
N.T.: O laddu é um doce esférico feito de farinha, gordura de ghee/manteiga/óleo e açúcar,
frequentemente servido em festas religiosas.
[8]
N.T.: Coonoor é um município no estado indiano de Tamil Nadu, cerca de 1850 metros acima do
nível do mar.
[9]
N.T.: O Dr. R. McCarrison faz referência ao tour que Gandhi realizou em 1929 emAndhra Pradesh,
no sudeste da Índia, então parte da província de Madras, Índia Britânica.
[10]
N.T.: Dentro do hinduísmo e do jainismo, himsa, geralmente traduzido como violência ou
ferimento, é apresentado em contraste com a virtude de ahimsa, compaixão ou não-violência,
aplicando-se a todos os seres vivos.
[11]
N.T.: O Swami Vivekananda (Kolkata, 1863 – Belur Math, 1902) foi um dos principais
responsáveis por difundir o Vedanta e o Yoga no mundo ocidental. Discípulo do místico indiano
Ramakrishna, é considerado essencial para elevar o respeito pelo Hinduísmo como religião mundial e
por estimular o sentimento nacionalista na Índia.
[12]
N.T.: Adi Shankaracharya (Shankara, 788 – Kedarnath, 820) foi um filósofo e teólogo indiano que
consolidou a doutrina monista de Advaita Vedanta, isto é, de que o verdadeiro eu, Atman, é o mesmo
que a Realidade metafísica mais elevada, Brahman. Seu trabalho unificou e estabeleceu as principais
correntes de pensamento do Hinduísmo.
[13]
N.T.: Dayanand Saraswati (Tankara, Raj da Companhia das Índias Orientais, 1824 – Ajmer, Índia
Britânica, 1883) foi o fundador da Arja Samaj, “Nobre Sociedade”, um movimento reformista que
promovia valores e práticas tendo como base a autoridade infalível dos Vedas. Ele foi o primeiro a
reclamar Swaraj, isto é, “autogoverno” para a Índia.
[14]
N.T.: Oliver Goldsmith (Irlanda, 1728 – Londres, 1774) foi um poeta e escritor irlandês, cujas obras
principais são o romance The Vicar of Wakefield (1766), o poema pastoral The Deserted Village (1770)
e a peça The Good-Natur’d Man (1768).
[15]
N.T.: Trecho do poema The Hermit (1765) que aparece como uma balada em The Vicar of
Wakefield.
[16]
Durante seus dias de estudante na Inglaterra, Gandhiji tornou-se membro dessa sociedade e
posteriormente foi eleito como seu Secretário. O Dr. Oldfield era presidente. Em 1931, quando
Gandhiji estava na Inglaterra para a Conferência de Mesa Redonda sobre a Índia, ele foi convidado a
palestrar para a Sociedade.
N.T.: A Sociedade Vegetaria de Londres foi fundada em 1888 para promover o vegetarianismo sem a
inclusão de aves ou peixes na dieta (em contraste com a Sociedade de Manchester).
[17]
N.T.: Henry Salt (Índia Britânica, 1851 – Surrey, 1939) foi um escritor inglês que desenvolveu
campanhas por reformas no sistema prisional, no sistema educacional, nas instituições econômicas e no
tratamento dos animais. Conhecido por ser um vegetariano ético, socialista e pacifista, também era
reconhecido como crítico literário, biógrafo, estudioso clássico e naturalista. Foi Salt quem apresentou
Gandhi às obras de Henry David Throreau e ao estudo do vegetarianismo.
[18]
N.T.: Thomas Richard Allinson (1858 – 1918) foi um medico e jornalista britânico que defendia o
consumo de pão integral. Por sua atitude contrária ao uso de drogas no tratamento de doentes e à
vacinação obrigatória contra a varíola, teve seu registro médico cassado em 1892. Sua defesa da
igualdade entre homens e mulheres, do direito da mulher escolher o tamanho de sua família e de
métodos anticoncepcionais resultou em processo e condenação sob o Ato de Publicações Obscenas de
1901.
[19]
N.T.: Ferramenta de moagem manual típica da Índia.
[20]
N.T.: O crore é um termo numérico tradicional indiano que equivale a dez milhões.

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