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CIDADANIA ITALIANA
Copyright © 2020 Fátima CR Caldeira, Neiva Ap. Ranaldo, Antonio Ranaldo Filho
Todos os direitos reservados
Americana/Piracicaba
2020
Dedicamos ao nosso pai, Antonio Ranaldo
(in memorian),
de quem, além da integridade de caráter,
herdamos a cidadania italiana.
Sumário
PREFÁCIO
Capítulo I
INTRODUÇÃO
Capítulo II
MIGRAÇÃO
Imigração italiana no Brasil
Como viviam os imigrantes italianos no Brasil
Capítulo III
NACIONALIDADE E CIDADANIA
Espécies de nacionalidade
Importância da nacionalidade
Critérios do ius sanguinis e ius solis
Evolução dos critérios para definir a nacionalidade
Critérios adotados pela Itália e pelo Brasil para definir os seus nacionais
DUPLA NACIONALIDADE
Cidadania italiana e União Europeia
DESCENDENTES QUE TÊM DIREITO À CIDADANIA ITALIANA
Capítulo VI
REQUERIMENTO DO RECONHECIMENTO DA CIDADANIA ITALIANA
Requerimento administrativo
Requerimento judicial
Capítulo VII
CERTIDÕES BRASILEIRAS E ITALIANAS
Localização dos registros no Brasil
Registro de nascimento tardio de pessoas falecidas
Localização de registros na Itália
Capítulo VIII
RETIFICAÇÃO DE REGISTRO
Capítulo IX
NOSSO PASSO A PASSO NA BUSCA PELA CIDADANIA ITALIANA
Museu de Imigração e Ministério da Justiça
Localização da certidão de nascimento na Itália
Necessidade de retificação dos nossos registros brasileiros
Apresentação dos documentos ao Consulado, transcrição das certidões na Itália e
expedição do passaporte
Reescrevendo a história
CONCLUSÃO
Capítulo XI
SOBRE OS AUTORES
REFERÊNCIAS
PREFÁCIO
Brindam-nos os irmãos Ranaldo – herdeiros de sanguis notariorum
– com este interessante estudo Cidadania italiana. Estudo que, nada
obstante seus pilares teóricos, é calcado também na experiência vivida
pelos autores, exatamente por isto adquirindo um atrativo matiz
prático.
O tema de fundo é o da nacionalidade italiana adquirida. O
conceito de nacionalidade anda e muito baralhado com o de cidadania,
[1] o que legitima o título da obra dos Ranaldos. Com efeito, apesar de
umas tantas prescrições de organismos internacionais (valham aqui, à
conta de ilustração, o art. 15 da Declaração universal dos direitos
humanos,[2] expedida pela Organização das Nações Unidas (ONU), e o
art. 20 da Convenção americana de direitos humanos[3] – Pacto de São
José da Costa Rica), a nacionalidade é, no plano prático, algo que
menos soa como direito da pessoa humana, do que como instrumento
dos estados. Prevalece, de fato, a ideia de nacionalidade como liame
jurídico-político[4] entre, sobretudo,[5] indivíduos e o estado, liame
cujo reconhecimento se tem atribuído soberanamente[6] ao estado.
[7]
Todavia, a preponderância da dimensão jurídico-política do
conceito de nacionalidade não deve implicar desprezo de sua dimensão
moral, é dizer, de seu significado axiológico. Essa dimensão moral
pode considerar-se e reconhecer-se de dois modos. Um, pela
efetividade dos vínculos sociais entre o indivíduo e o estado;[8] outro,
pela distinção entre, de um lado e com anterioridade, a pátria, e, de
outro lado, a nação.
A palavra pátria vem-nos diretamente do substantivo latino patria,
patriae que tem, entre outros significados, a acepção de terra,
especialmente a de terra natal. Mas o latim patria é também a forma
feminina de um adjetivo de primeira classe (patrius, patria, patrium),
que nos conduz às ideias de pai, paternal e, figuradamente, do que é
hereditário (o que advém por legado, por herança); tem-se por notório
que o adjetivo patrius deriva do substantivo pater, patris (pai). Disto
segue compreender a noção de pátria, a terra dos pais (terra patrium);
a terra, pois, onde o filho nasce. E é, portanto, nota compreensiva da
pátria o de algo provir do passado; há uma herança, há um legado
histórico: “a pátria não se concebe sem sua tradição histórica”.[9]
Pátria, pois, diz-se “a terra onde se nasce”; é a terra dos pais, é “o
chão, o território, cenário de um desenrolar de fatos – importantes
muitos, heroicos outros – que vão enchendo de ressonâncias e história
a vida de um agrupamento humano”; “é uma terra humana, porque
ressuma gestos e gestas, fatos e feitos que contam a história de um
povo, despertando uma afetividade viva e sensível”.[10]
Espécies de nacionalidade
Importância da nacionalidade
Requerimento administrativo
Requerimento judicial
Reescrevendo a história
[1] Sobre a vagueza da noção de cidadania e seu relacionamento com a ideia de nacionalidade,
vidē, por muitos, Mazzuoli (2012, p. 680-683) e Coste (1964, p. 245-246).
[2] Art. 15 da Declaração da ONU: “1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém
será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.”
[3] Art. 20 do Pacto de São José da Costa Rica: “Direito à nacionalidade. 1. Toda pessoa tem
direito a uma nacionalidade. 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território
houver nascido, se não tiver direito a outra. 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua
nacionalidade, nem do direito de mudá-la.”
[4] Vínculo jurídico-político, diz Mazzuoli, porque “a nacionalidade, em si, não constitui mero
vínculo jurídico, pois pode o indivíduo ser nacional e um país e estar sujeito, juridicamente, à
legislação de outro, como a lex domicilii ou a lei do centro vital dos seus interesses” (o.c., p. 676).
[5] Há quem sustente ser própria a extensão da nacionalidade às pessoas jurídicas (por exemplo,
Coste, o.c., p. 247).
[6] Confira-se, neste sentido, brevitatis causa, o conceito de nacionalidade emitido por Marcelo
Varella, in Direito internacional público (3.ed.; São Paulo: Saraiva, 2011, p. 176). Em rigor, não
destoa deste entendimento, por exemplo, a lição de Hildebrando Accioly, ainda que assente ele o
conceito nas pessoas dos nacionais (a quem reporta a faculdade de escolher o estado a que ligar-se),
porque remata: “Incumbe, sem dúvida, ao direito interno da cada Estado a fixação das regras
relativas à sua nacionalidade” (Direito internacional público; São Paulo: Saraiva, 1948, p. 156-7).
Na mesma linha de Accioly, cf. Faro Júnior, Luiz (Direito internacional público. 4.ed., Rio de
Janeiro: Borsoi, 1965, p. 167) e Belfort De Mattos, José Dalmo F. (Manual de direito internacional
público; Sãpo Paulo: Educ -Saraiva, 1979, p. 145-6). Lê-se em Michael Akehurst que o perdimento
dos pilares iusnaturais, com o predomínio do positivismo a partir do século XIX, acarretou que se
passasse a considerar “os estados como únicos sujeitos de Direito Internacional” (Introdução ao
direito internacional, trad. portuguesa; Coimbra: Almedina, 1985, p. 90).
[7] Nada obstante a prevalência da vontade soberana do estado, cabem reconhecer, ao menos
numa esfera de normalidade política, as restrições impostas pelo direito internacional e a inclinação
correntia em benefício da voluntariedade das naturalizações, em que pese às hipóteses frequentes de
naturalizações ope legis, como consequentes de mudanças no status civil das pessoas (p.ex., adoção,
reconhecimento de paternidade, casamento); vidē Brownlie, Ian, Princípios de direito internacional
público (trad. portuguesa; 4.ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 413 et sqq.).
[8] Assim, Francisco Rezek reporta-se ao princípio da efetividade da “existência de laços sociais
consistentes entre o indivíduo e o Estado” (Direito internacional público; 12.ed., São Paulo: Saraiva,
2010, p. 186).
[9] CATURELLI, Alberto. La Patria y el orden temporal. Buenos Aires: Gladius, 1993, p. 134.
[10] GALVÃO DE SOUSA, José Pedro; LEMA GARCIA, Clovis; TEIXEIRA DE CARVALHO,
José Fraga. Dicionário de política. São Paulo: T.A. Queiroz, 1998, p. 408-9.
[11] SÁENZ, Alfredo. Siete virtudes olvidadas. Buenos Aires: Gladius, 1988, p. 400.