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Material Teórico
Migrações
Revisão Textual:
Prof . Esp. Vera Lídia de Sá Cicarone
a
Migrações
• Introdução
• Migrações Internacionais
• Os movimentos pendulares
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Unidade: Migrações
Contextualização
Leia com atenção este trecho de uma matéria jornalística sobre migrantes no mundo.
Fonte: Trecho literal extraído da matéria de Fernanda Simas - O Estado de S.Paulo. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tragedia-em-lampedusa-obriga-italia-debater-veto-a-
imigracao,1085123,0.htm
Este texto traz alguns elementos importantes sobre migração no mundo. Quem migra nem
sempre é bem aceito em outro país; por outro lado, há aqueles que exploram a mão de obra
de migrantes ilegais. Há também outros casos, como este que torna crime uma migração ilegal.
Logo, é importante buscar sempre entender o contexto em que ocorrem as migrações, sejam
nacionais ou internacionais.
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Introdução
Esse exemplo do autor é comum em vários países, sobretudo quando se formam “colônias”
de imigrantes num determinado bairro ou cidade. Assim há vários exemplos de bairros
de chineses, judeus, italianos, bolivianos, brasileiros etc., em diferentes países, nos quais
percebemos a presença do imigrante por meio de algumas mudanças nas formas espaciais
(tipos de construção etc.), em serviços específicos para tais grupos ou em negócios que foram
abertos onde tais imigrantes trabalham, entre outras situações.
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Unidade: Migrações
Migrações Internacionais
Os motivos e condições que levam as pessoas a migrarem podem ser os mais variados, entre eles,
pobreza e busca de uma vida melhor, desesperança, guerras, perseguições religiosas ou políticas,
desemprego, busca de um emprego mais bem remunerado etc. Nesse sentido, os migrantes são
mobilizados à mudança tanto por acontecimentos, situações, condições existentes nos lugares em
que vivem quanto porque há lugares que se tornam mais atrativos num determinado momento.
Essa decisão pode ser individual, familiar ou de grupos de um mesmo país, mas sempre há
fatores conjunturais e estruturais que os mobilizam a migrar. Os fatores conjunturais referem-se
a motivos que podem ocasionar, num determinado momento ou contexto, situações que levem
as pessoas a migrarem. Pode ser uma guerra civil, por exemplo, como a que recentemente
(2013) levou muitos sírios a migrarem para outros países, ou, ainda, uma crise econômica que
leva certos grupos a migrarem para países onde há maior oportunidade de emprego naquele
momento. Isso, então, é conjuntural, é uma situação do momento, de um período.
Já os fatores estruturais são mais permanentes, caso, por exemplo, de problemas fundiários e
de disputas territoriais, que levam as pessoas a migrarem tanto dentro de um mesmo país como
para outros países, em uma migração internacional, ou, ainda, de uma pobreza mais contínua
ou de fatores políticos de longo tempo. Essas questões conjunturais e estruturais podem, em
alguns casos, se imbricarem; não são, portanto, excludentes.
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Segundo estudiosos da migração internacional, os indivíduos muito pobres, geralmente, não
migram para outros países, pois, neste caso, são necessários recursos financeiros e materiais
para a viagem e certa organização e apoio que permitam o estabelecimento em outro país. Mas
isso pode variar, dependendo de alguns fatores, entre eles, a localização, ou seja, se o país para
onde o migrante se dirige é muito longe ou se faz fronteira com outro mais pobre, ou, ainda, a
rede de relações que leva as pessoas ou grupos a migrarem.
Neste atual processo de globalização, criam-se ou complexificam-se as figuras que fazem a
intermediação entre o migrante e o país de destino. Há muitas migrações irregulares ou ilegais,
segundo os padrões formais. Por isso, há inúmeras figuras que intermedeiam esse processo,
promovendo desde o transporte ilegal do migrante até a preparação da documentação falsa,
entre outras coisas.
Importante ressaltar que muitos trabalhadores pobres são cooptados por esse mercado ilegal e
transferem-se, muitas vezes, para países desenvolvidos de forma irregular. Alguns são submetidos
a condições de trabalho em situação análoga à de escravidão ou a trabalhos temporários e
degradantes. O próprio processo capitalista apropria-se dessa mão de obra barata ou coloca
esses migrantes para assumirem uma condição de trabalho que não interessa à população local,
seja porque esta população tem maior nível de escolaridade e não quer empregos mais pesados
ou que requeiram menor escolaridade, seja porque esses empregos disponibilizados fazem parte
da ilegalidade.
Contudo, é importante ressaltar que quem migra não são apenas os pobres. Há também
migrantes com maior escolaridade e em condições socioeconômicas de migrar em busca de
oportunidades dentro dos processos formais de imigração.
A maioria das pessoas migra, temporária ou permanentemente, em busca de novas
oportunidades, principalmente para os países desenvolvidos, com a finalidade de obter
mais dinheiro e ampliar seus horizontes de trabalho e/ou de vida. Com o atual processo de
globalização econômica, há maior flexibilidade na produção e também na circulação de mão
de obra, geralmente com precarização do trabalho.
De acordo com o geógrafo David Harvey, com a acumulação flexível nas formas de produção
e nas relações de trabalho, cria-se uma rotatividade da força de trabalho, que migra atrás de
trabalho seja permamente seja temporário. O autor define a “acumulação flexível”:
Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,
dos produtos e padrões de consumo. Caracterizam-se pelo surgimento de setores
de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas
de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível
envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto
em setores quanto em regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto
movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos
industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas
(HARVEY, 1992, p. 140).
Tal flexibilidade ocorre, por exemplo, por formas de trabalho mais flexíveis, sem muita
regulamentação, com flexibilização nos contratos de trabalho, com trabalho em horários
variados, com subcontratações ou com terceirização de mão de obra, ou seja, o empregado
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Unidade: Migrações
trabalha em uma empresa, mas é funcionário de outra. A localização das empresas também é
flexível, pois, nesse contexto, as empresas ou partes delas também migram de um território a
outro com mais facilidade.
Assim, há muito trabalho temporário em territórios globalizados, inclusive em países
subdesenvolvidos, caso do Brasil, por exemplo, ou mesmo em países africanos como Angola.
Parte desse trabalho requer mão de obra especializada e algumas com nível superior, como
de engenharia, entre outras. À medida que há necessidade de criação de infraestrutura, por
exemplo, deslocam-se muitos trabalhadores para esses países, tanto os que representam mão
de obra menos qualificada como também os que são mais qualificados, para trabalhos técnicos
e de gerência.
O capitalismo, atualmente, é muito fluido, conforme os interesses dos setores produtivos e
da conjuntura do momento. Então, quando há alguma mudança econômica que melhora as
condições gerais de um determinado território, com a criação de novos empregos, os empregados
são mobilizados a migrar. Num determinado momento, o foco pode ser uma metrópole do
Sudeste do Brasil, em outro pode ser uma cidade do Sul da China ou uma região mais remota
do mundo, devido à criação de infraestrutura, principalmente com grandes obras de sistemas de
engenharia, tais como hidrelétricas, portos, ferrovias etc.
Foi o que ocorreu, recentemente, no Catar, onde inúmeros imigrantes do Sul-Sudeste Asiático
foram trabalhar para construir a infraestrutura para a Copa do Mundo (2022), e, segundo alguns
jornais, foram vítimas de trabalhos degradantes, em situação análoga à de escravidão, com
confisco de passaportes etc. Consta que, nos dois últimos anos anteriores a 2014, mais de 380
trabalhadores já teriam morrido nessas obras.
Assim, tornam-se migrantes temporários, conforme obras de novos empreendimentos, safras
agrícolas etc.
Há casos de movimentos migrátorios que são mais permanentes, sobretudo quando há
fronteira entre países cujas condições socioeconômicas são muito desiguais. Um exemplo típico
ocorre na fronteira entre México e EUA, onde milhares de migrantes, principalmente do próprio
México ou de outras nacionalidades latino-americanas, aventuram-se a entrar nos EUA pela
fronteira de forma ilegal. O mesmo ocorre com os migrantes do Leste Europeu que se dirigem
para os países ocidentais da Europa, sobretudo a partir da desintegração do bloco socialista.
Segundo dados das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2013), em 2013, contaram-se
232 milhões de migrantes internacionais e, certamente, nesses dados ainda faltaram muitos
imigrantes ilegais, que nem sempre são contados. Destes, a maioria (59%) estava vivendo em
países desenvolvidos e saiu de países subdesenvolvidos (60%). Conforme diz o relatório das
Nações Unidas, entre 1990-2013 houve um crescimento de 69% de novos imigrantes nos países
desenvolvidos. Observe a gráfico 1 a seguir:
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Gráfico 1: Número de migrações internacionais (por origem e destino) - 1990-2013
90
80
70
60
Milhões
50
40
30
20
10
0
1990 1995 2000 2005 2010 2015
Conforme gráfico 1, observa-se o número de imigrantes, entre 1990-2013, por localização dos
países. O fluxo que teve maior crescimento foi o do sentido Sul-Norte (mundo). O Sul é formado,
principalmente, por países subdesenvolvidos (embora haja exceções, caso da Austrália, por exemplo).
Observe, no gráfico, que as migrações do Norte para o Sul são bem menores, mas o movimento
de um país do Sul para outro também do Sul é bastante grande, havendo um incremento de 40%
nesse movimento de 1990-2013, alcançando 82 milhões de migrantes em 2013.
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Unidade: Migrações
[...] Dos três corredores de migração bilaterais que tiveram como destino um país
no Norte, dois foram entre países na Europa: Romênia-Itália e Polônia-Reino Unido.
Apenas um dos dez maiores corredores de migração bilaterais durante o período
2010-2013 foi entre um país no Sul e um país no Norte, nomeadamente México-
Estados Unidos. Dos sete maiores corredores de migração que tinham como destino
um país no Sul, cinco eram entre países da Ásia, incluindo a corredores China-
República da Coreia e Camboja -Tailândia, enquanto dois foram entre países da
África, especialmente do Sudão do Sul- Sudão e Somália-Quênia. Tanto o corredor
Sudão-Sudão do Sul quanto o corredor da Somália no Quênia envolveram um
grande número de refugiados.
Fonte: Trecho literal extraído, traduzido e adaptado por Vivian Fiori de UNITED
NATIONS. International migration report 2013. Department of Economic and
Social Affairs, Population Division, New York, dez. de 2013, p. 6-7.
No século XIX, houve as primeiras grandes levas de imigração para o Brasil. Vieram para o
território brasileiro, principalmente, imigrantes europeus: italianos, suíços, alemães, espanhóis
etc., mas também sírio-libaneses (denominados, na época, de turcos). Anteriormente ao século
XIX, vieram estrangeiros, mas, devido ao fato de o Brasil ainda não ser independente formalmente
antes de 1822, esses estrangeiros são denominados, comumente, de colonizadores, embora o
movimento tenha sido migratório.
Esse processo intensificou-se nos anos de 1850, devido à Lei de Terras no Brasil (1850) e
ao fim do tráfico de escravos, imposto pela Inglaterra. Desse modo, houve um interesse pela
mão de obra imigrante em substituição à dos escravos, que se tornaram mais difíceis de serem
adquiridos. Assim, o governo brasileiro ou também empreendedores que buscavam mão de
obra passaram a fazer propagandas externas tentando atrair estrangeiros.
Para o “empreendimento” capitalista do café, por exemplo, era interessante ter trabalhador
imigrante. Por uma questão racial, optou-se, principalmente, por imigrantes europeus, que eram
brancos. Alguns autores dizem que essa questão serviu, então, para branquear a população
brasileira que, de certo modo, era bastante miscigenada e com cor da pele mais escura. Ou seja,
imperou também o preconceito racial e cultural nesse caso.
Desse modo, para São Paulo vieram muitos imigrantes alemães e italianos principalmente,
que foram trabalhar nas fazendas de café situadas no interior paulista, sobretudo na região que
ficou conhecida como Oeste Paulista.
No Sul do Brasil, havia outros interesses do governo brasileiro por se tratar de região que,
historicamente, era alvo de disputa entre portugueses e espanhóis (castelhanos) e também devido
ao sentimento separatista existente desde a Guerra dos Farrapos (1835-45), na qual chegaram
a declarar independência do Brasil, fundando a República de Piratini (1836). Em geral, no Sul,
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houve um processo de migração com doações de pequenas propriedades, geralmente rurais,
num processo que alguns denominam de imigração de povoamento. Em cidades da Serra
Gaúcha, caso de Caxias do Sul, Gramado, Canela e Flores da Cunha, houve formação de
colônias alemãs e italianas.
Já no século XX, novas ondas de migrações de estrangeiros aconteceram no Brasil. Primeiro
de japoneses para o estado de São Paulo, na região Oeste - região de Marília e em cidades como
Tupã e Bastos – e, posteriomente, deslocando-se também para o Norte do Paraná e para o Pará.
Devido à forma como alguns imigrantes europeus eram tratados, os governos da Itália e França,
por exemplo, proibiram que seus cidadãos migrassem para o Brasil. Então o governo brasileiro
buscou também manter relações com o governo japonês para que se efetivassem os processos
de migração Japão-Brasil.
Com os imigrantes europeus que trabalhavam no interior paulista assim como com outros
imigrantes, ocorria que nem sempre o que constava nos contratos de trabalho era cumprido,
além de que muitas propagandas que os empreendedores do café faziam na Europa e no Japão
não condiziam com a realidade local. Por exemplo, dizia-se que o café era uma árvore de “ouro”
que possibilitava muitos ganhos, mas a realidade era de condições insalubres de moradias,
já que cabia ao contratator dar moradia a cada família de migrantes. Além disso, embora a
alimentação ficasse a cargo de cada família de imigrantes, os contratadores, muitas vezes,
induziam os imigrantes a comprarem em seus próprios armazéns, o que criava um processo de
endividamento do imigrante.
Você Sabia ?
A imigração japonesa para o Brasil é posterior às imigrações europeias do século XIX. Iniciou-
se, no século XX, com o primeiro navio vindo em 1908, cujos trabalhadores foram trabalhar,
principalmente, nas lavouras do café e de algodão no Oeste Paulista, por meio de contratos. A
reestruturação proposta pelo imperador japonês Meiji (1868-1912), reestruturando a sociedade e
o território japonês, modernizando o país e buscando industrializá-lo, ocasionou problemas sociais
que levaram pequenos agricultores, comerciantes e artesãos a tentarem a vida no Brasil. Ao longo
dos anos 1920-30, vieram grupos maiores, que foram para cidades do Oeste Paulista e também
para o Norte do Paraná.
Aos poucos, além das fazendas de café, os japoneses passaram a ter pequenas propriedades e
a criar colônias (shokuminchi) japonesas, conforme diz site especializado em migração japonesa:
A primeira colônia foi a Colônia Monção, fundada em 1911 na região da
estação Cerqueira César da linha férrea Sorocabana, interior de São Paulo,
mas logo surgiram várias outras shokuminchi. Este sistema deu origem a várias
cidades no Brasil, como os municípios paulistas de Aliança, Bastos, Iguape,
Registro, Suzano, e as cidades de Assaí no Paraná e de Tomé-Açú no Pará,
que começaram como colônias de pequenos produtores rurais japoneses. Os
produtos cultivados nas colônias passaram a variar da pimenta-do-reino em
Tomé-Açú, ao chá em Registro, e à atividade granjeira em Bastos (IMIGRAÇÃO
JAPONESA, s/d).
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Unidade: Migrações
Houve também migrações para as grandes cidades, sobretudo para São Paulo, também no
período entreguerras, com imigrantes europeus, japoneses, libaneses e judeus. Mais recentemente,
na década de 1980-1990, muitos imigrantes coreanos chegaram a São Paulo, seguidos dos
bolivianos, que foram trabalhar nas oficinas de roupas, cujos donos, numa primeira fase, eram
os coreanos. Já no século XXI, houve casos de migrações de haitianos para o Brasil.
Assim como chegam estrangeiros ao Brasil, há também uma forte emigração de brasileiros
para o exterior. Um desses movimentos é o dos dekaseguis a partir da década de 1980. Dekasegui
é um expressão japonesa que significa trabalhar fora de casa com remuneração (BOMTEMPO,
SPOSITO, 2010).
Essa migração refere-se, sobretudo, aos descendentes de japoneses que vivem no Brasil,
geralmente de classe média, e que migram para as cidades japonesas para trabalhar e alcançar
um melhor padrão de vida, guardar dinheiro, remetê-lo em parte para o Brasil e, quase sempre,
voltar com o dinheiro ganho e adquirir um negócio próprio ou comprar uma moradia etc.
Conforme apontam os pesquisadores sobre migração japonesa:
Os brasileiros descendentes de japoneses que migraram para o Japão foram
para desempenhar atividades nas empresas que não necessitam de mao de
obra qualificada. Os trabalhadores são horistas, contratados na maioria das
vezes por empreiteiras, ou seja, não têm vínculo direto com a empresa e a
remuneração é paga somente pela hora trabalhada. Eles não têm direito a férias
[...] (BOMTEMPO, SPOSITO, 2010, p. 79).
Esse é um exemplo inserido no atual processo de globalização do mundo, em que se usa uma
mão de obra itinerante, que migra conforme as possibilidades de emprego dos lugares. Mas,
quase sempre, não são os mais pobres que migram nesse caso, pois isso requer um investimento
na própria viagem e na manutenção inicial. No caso dos dekaseguis, ainda há o fator racial e
cultural, ou seja, são descendentes de japoneses e que, em alguns casos, falam ou entendem
um pouco a língua japonesa e a sua cultura. Contudo, lá não são vistos como japoneses, nem
do ponto de vista das leis trabalhistas nem culturalmente.
Assim, o atual processo de globalização da economia, de flexibilidade das normas trabalhistas
atinge imigrantes desse tipo pelo mundo.
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Os nordestinos representam uma corrente migratória relevante, com várias
ramificações pelo território brasileiro. Essa corrente inicia-se com a decadência
do ciclo da cana-de-açúcar, em meados do século XVIII, quando fortalece o
movimento para fora de seus limites regionais; mas foi no século XX que se
torna força-de-trabalho fundamental para a economia do Sudeste, sobretudo
de São Paulo. Desde 1920 o governo paulista reordenou paulatinamente sua
política de atração de mão-de-obra, visando substituir, nas lavouras de café, os
trabalhadores estrangeiros (os quais não interessavam mais para a valorização
do capital de cafeicultores paulistas) pelos nacionais, principalmente nordestinos
e mineiros [...] São esses migrantes, predominantemente camponeses, os que, a
partir de então, se tornarão referências dos grupos econômicos, inicialmente os
cafeicultores e, posteriormente, os industriais do Sudeste (ALVES, 2005, p. 43).
Você Sabia ?
A migração sulista tornou-se comum na década de 1980 para as frentes ou fronteiras de
expansão agrícolas, como ocorreu com a ocupação de Rondônia. Tal movimento para o campo
induziu um processo de urbanização do campo para a cidade, ou seja, como afirma Milton
Santos, houve uma “ruralização” da cidade, por conta de novos serviços que foram criados na
cidade em decorrência das necessidades do campo. Um fator que contribuiu para esse processo
de urbanização foi a construção e, posteriormente, o asfaltamento da Br- 364, em 1983, cujo
trecho, na região, liga Porto Velho (Rondônia) a Cuiabá (Mato Grosso). No entorno da rodovia
surgiram várias cidades, tais como: Ji-Paraná, Vilhena, entre outras.
Ocorreram também fluxos de migrantes sulistas para o Oeste da Bahia, nas regiões de agricultura
moderna, caso do município de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, que, recentemente, se tornou
independente de Barreiras (2000), dentro da lógica de cidades que vão surgindo por meio desse
empeendimento agrário capitalista que denominamos de agronegócio, principalmente vinculada
à agroindústria da soja.
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Unidade: Migrações
Contudo, esse processo de migração interna no Brasil, após 1980-1990, ganhou novas
características, rompendo com as tradicionais migrações Nordeste-Sudeste e Sul-Amazônia
apenas. Embora ainda exista um fluxo importante de migrantes no sentido Nordeste-Sudeste,
há outros processos ocorrendo, conforme afirma Antonio Tadeu Ribeiro de Oliveira:
De modo que surgem novos eixos de deslocamentos envolvendo expressivos
contingentes populacionais, onde se destacam: i) a inversão nas correntes principais
nos Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro; ii) a redução da atratividade
migratória exercida pelo Estado de São Paulo; iii) o aumento da retenção de
população na Região Nordeste; iv) os novos eixos de deslocamentos populacionais
em direção às cidades médias no interior do País; v) o aumento da importância dos
deslocamentos pendulares; vi) o esgotamento da expansão da fronteira agrícola; e
vii) a migração de retorno para o Paraná (OLIVEIRA, 2011, p. 11-12).
Há também movimentos de volta aos seus estados de origem, conforme apontam pesquisas
do IBGE, de paranaenses, gaúchos e, principalmente, de nordestinos de todos os estados, com
exceção de Sergipe e Rio Grande do Norte. Isso demonstra um movimento mais recente em
decorrência de algumas melhorias da condições sociais no Brasil, após o Plano Real (1994) e o
crescimento econômico mais recente, e em decorrência também dos projetos de infraestrutura
que geraram empregos em algumas regiões do Nordeste, tais como: a Transposição do São
Francisco; a construção da ferrovia Transnordestina, que vai ligar o Porto de Pecém, na região de
Fortaleza, ao Porto de Suape, em Pernambuco; e do complexo industrial e de serviços próximos
ao porto de Suape (PE), entre outros.
Ainda há estados nordestinos nos quais há maior fluxo de emigrantes, caso de Alagoas e
Maranhão. Neste último, há muitos que migram para o Pará, para regiões do agronegócio e da
mineração. Há também um processo de mobilização de trabalhadores para o interior do Brasil,
induzidos por um dinâmica espacial rural-urbana, ou seja, há localidades em que, em função
da dinâmica do campo, ocorre também o crescimento das cidades, com serviços especializados
e também com a indústria. Sobre esse processo de migração e crescimento populacional no
interior do país, Oliveira afirma:
Para o interior, a partir do megaespaço urbano da metrópole paulistana, as áreas
nas rodovias em direção a Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Araçatuba
(SP) apresentaram dinamismo populacional na última década. Este dinamismo
se estende para o Triângulo Mineiro, em direção a Mato Grosso do Sul (MS), em
uma extensa região central de Mato Grosso, extremo sul de Goiás e uma área
que incorpora as aglomerações de Goiânia (GO), Brasília (DF) e municípios
na divisa com Minas Gerais. A aglomeração de Belo Horizonte configura uma
mancha de maior crescimento em Minas Gerais e representa um dos principais
focos de atração populacional no estado. As metrópoles, de uma maneira
geral, possuem grande capacidade de polarização devido às funções públicas,
econômicas e serviços em geral (OLIVEIRA, 2011, p. 43).
É importante ressaltar que os maiores fluxos migratórios no Brasil têm ocorrido para cidades
com menos de 500 mil habitantes, levando ao que alguns autores definem como desconcentração
concentrada, ou seja, de um lado, ainda há uma concentração da população no Brasil, sobretudo
nas regiões metropolitanas e grandes cidades, de outro, nas últimas décadas, os deslocamentos
maiores se dão para cidades de porte médio.
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Leia com atenção as informações da tabela 1 a seguir.
Observação: No questionário do Censo 2010 (IBGE), havia algumas perguntas sobre migração
tanto interna quanto internacional, como, por exemplo, as seguintes questões: Você nasceu neste
município? Nasceu nesta unidade da Federação? Qual sua nacionalidade? Alguma pessoa que
morava com você(s) estava morando em outro país em 31.07.2010? Ano da última partida para
morar em outro país? Tais questões, entre outras, possibilitam a elaboração de informações sobre
migrações no Brasil.
Os movimentos pendulares
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Unidade: Migrações
Neste movimento pendular, há o caso dos mais pobres que, diariamente, se deslocam das
periferias urbanas, fazendo uso do transporte público, para os centros das cidades nos quais há a
maior concentração de trabalho, mas há também alguns migrantes pendulares com maior renda,
caso de executivos que viajam a trabalho, seja utilizando rodovias ou, ainda, aeroportos do país.
Desse modo, verifica-se que as transformações espaciais provenientes do processo de
globalização têm ampliado as migrações pelo mundo e também dentro do território brasileiro,
evidenciando a importância da dinâmica socioeconômica no espaço geográfico. Contudo,
ainda existem outras velhas questões, como pobreza extrema e fome, refugiados de guerra,
perseguições político-religiosas, que também criam fluxos migratórios pelo mundo.
Cabe, portanto, sempre contextualizar os processos que levam as pessoas ou grupos a
migrarem e buscar entendê-los ao longo do tempo e no espaço geográfico.
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Material Complementar
Explore
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500 anos de
povoamento. IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro:
IBGE, 2007. http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf. Acesso em 11/05/2014.
Explore
• Entre os muros da escola (Prêmio Festival Cannes, 2008). François Marin (François Bégaudeau)
trabalha como professor de língua francesa em uma escola localizada na periferia de Paris. Há um
choque de culturas, já que há franceses e outros imigrantes provenientes de diferentes países.
• Rede Globo. Documentário mostra as motivações da migração de haitianos. Repórteres foram ao
Haiti, ao Sul do Brasil e a Miami. Disponível em: http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/02/
documentario-mostra-motivacoes-e-consequencias-da-migracao-dos-haitianos.html.
• Rede Globo. Programa Profissão Repórter, sobre imigração de bolivianos para o Brasil.
09/04/2013 HDTV. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=HAX6HYteA8w.
• Gaijin – Os caminhos da liberdade (1980, Brasil, direção: Tizuka Yamazaki) Sobre a vinda
de imigrantes japoneses para o trabalho nas fazendas de café no interior do estado de São Paulo.
Por meio de uma história de amor (entre uma imigrante japonesa e um imigrante italiano), aborda
a condição de vida desses colonos e a relação dos colonos japoneses com os italianos e nordestinos.
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Unidade: Migrações
Referências
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Revista Agrária, São Paulo, nº 2, 2005, p. 40-68. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/
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Unidade: Migrações
Anotações
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