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PREFÁCIO DO EDITOR

CONFORTO PARA AS ORAÇÕES FRACAS


EIS QUE ELE ESTÁ ORANDO
HUMILDADE, A AMIGA DA ORAÇÃO.
IMPEDIMENTOS À ORAÇÃO
ORAÇÃO, A PROVA DA SANTIDADE
OS DOIS GUARDAS: ORAR E VIGIAR
PEDIDO E ARGUMENTAÇÃO
QUANDO DEVEMOS ORAR?
PREFÁCIO DO EDITOR
Não existe nenhuma outra atividade mais difícil,
mais intensa e mais necessária que a oração, o entrar
em contato com o Senhor com palavras, lágrimas e
até mesmo o silêncio. A oração é, de longe, o maior
desafio para a alma. A oração em público é fácil de
ser feita, comparada à oração particular. Ali está o
maior indicador da saúde da sua vida espiritual, ou
você ora ou você não ora. Não existe meio termo.
De acordo com a Lei do Antigo Testamento, os
sacrifícios poderiam ser de animais puros, mas o
coração do homem sempre foi levado em
consideração. Na verdade, o coração do homem é
determinante na aceitação do sacrifício oferecido.
Vemos logo em Gênesis que Deus se agradou de
Abel e depois de seu sacrifício, e se desagradou de
Caim e, consequentemente, do seu sacrifício. Que
você tenha em mente aqui que os sacrifícios não
determinaram nada na aceitação de Deus, mas o que
foi principal no aceitar ou não foi o coração daquele
que oferecia.
Vemos no Salmo 51, que o rei Davi escreve algo
interessantíssimo. “Não te deleitas em sacrifícios
nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria”
(verso 16). Olhe bem para o que Davi fala, que
Deus não se agrada do simples sacrifício, como se
fosse uma conta a se pagar e que depois de paga, a
consciência do pecador estaria limpa. Se fosse
assim, Davi não teria que se preocupar, ele era rei
em Israel, possuía mais bens que a grande maioria
da população, se Deus pedisse um boi ou mil bois,
Davi poderia trazer e sacrificar. Mas ele entendia
algo essencial, Deus não aceita sacrifícios vazios,
Deus não aceita formalidades sem arrependimento;
se Deus fosse como homem, Davi poderia trazer
seus sacrifícios e seria perdoado. Mas Davi conhecia
o Deus que adorava. “Os sacrifícios que agradam a
Deus são um espírito quebrantado; um coração
quebrantado e contrito” (verso 17). Ele sabia que o
que agradaria a seu Senhor, era um coração
arrependido pelo pecado.
Suas orações são sacrifícios a Deus, como você as
tem feito? Você tem buscado a formalidade sem
fervor? Você tem levantado as mãos para cima e
agradecido por ser um ótimo homem e um ótimo
crente? Ou entra diante de Deus de cabeça baixa,
bate no peito e clama por misericórdia? Isso vai
definir toda a sua vida, a vida nesta terra e a vida
eterna, seja no inferno, seja à direita de Deus.

Augusto César Cutrim Magalhães,


23 de Julho de 2017.
CONFORTO PARA AS
ORAÇÕES FRACAS
Sermão de Número 3083
“Ouviste a minha voz; não escondas o
teu ouvido ao meu suspiro, ao meu
clamor.”
Lamentações 3:56
JOVENS iniciantes na Graça são muito aptos a se
compararem com discípulos avançados e assim se
tornam desencorajados. E santos atribulados caem
no mesmo hábito. Eles olham para aqueles do povo
de Deus que estão no topo da montanha apreciando
a luz do Semblante do seu Redentor, e comparando
sua própria condição com a alegria dos santos, eles
escrevem coisas amargas sobre si mesmos e
concluem que, certamente, eles não são povo de
Deus! Este caminho é tão tolo quanto alguns
carneirinhos pensarem que eles não fazem parte do
rebanho por não serem carneiros adultos, ou tão tolo
quanto um homem doente duvidar de sua existência
porque ele não é capaz de andar ou correr como um
homem de boa saúde. Mas já que este mau hábito é
muito comum, é nosso dever ir atrás dos
desanimados e cabisbaixos e confortá-los. Esta é
nossa incumbência neste curto discurso. Nós
ouvimos as palavras do Mestre, “Consolai, consolai
o meu povo” (Is 40:1), e nós vamos nos esforçar
para obedecê-las com a ajuda do Seu Espírito.
Sobre o assunto da oração, muitos são desanimados
porque eles ainda não podem orar como crentes
maduros oram, ou porque, durante alguma crise
peculiar de sua história espiritual, suas orações não
lhes aparentam serem muito ardentes e aceitáveis
como é o caso de outros cristãos. Talvez Deus tenha
uma mensagem para alguns atribulados neste
presente endereço e que o Espírito Santo a aplique
com poder sobre eles!
“Não escondas o teu ouvido ao meu suspiro”. Esta é
uma maravilhosa descrição de oração, não é?
Frequentemente, é dito que a oração tem uma voz –
assim é neste verso – “Ouviste minha voz”. A oração
tem uma voz melodiosa no ouvido do nosso Pai
Celestial. Frequentemente a oração é expressa por
um clamor. Assim é neste verso – “Não escondas o
teu ouvido... ao meu clamor”. O clamor é o
pronunciamento natural e lamentoso da tristeza e
tem tanto poder para mover o coração de Deus
como o choro de um bebê tem para tocar a ternura
da mãe. Mas existem vezes quando nós não
podemos falar com a voz, nem mesmo clamar. E
então a oração pode ser expressa por um gemido, ou
um lamento, ou uma lágrima – “o elevar de um
suspiro, o cair de uma lágrima”. Mas possivelmente
nós não poderíamos nem chegar a isso e você pode
falar, como um do passado, “Como o grou, ou a
andorinha, assim eu chilreava” (Is 38:14). Nossa
oração, ao ser ouvida por outros, pode ser um tipo
de expressão irracional. Nós podemos ainda cair
abaixo disso, pois no texto nos temos um tipo de
oração a qual é menos que um gemido ou uma
lamentação. Esta é chamada de suspiro – “Não
escondas o teu ouvido ao meu suspiro”. O homem
está muito longe para se ver a olho nu, ou para o
gemido do coração – ele mal respira, mas aquele
fraco fôlego é uma oração! Apesar de não dito e não
expresso por algum som que poderia chegar aos
ouvidos humanos, ainda assim Deus escuta o
suspirar da alma de Seu servo e não esconde o Seu
ouvido dele.
Nós devemos ensinar três ou quatro lições do
presente uso da expressão “suspiro”.
1. QUANDO NÓS NÃO PODEMOS ORAR
COMO DEVERÍAMOS, É BOM ORAR
COMO CONSEGUIMOS.
Fraqueza corporal nunca deveria ser argumentada
por nós como uma razão para parar de orar. De
fato, nenhum filho Deus pensaria tal coisa como
esta. Se não posso dobrar os joelhos de meu corpo
por estar muito fraco, minhas orações que faço de
minha cama devem estar em seus joelhos – meu
coração deve estar em seus joelhos e orar tão
aceitavelmente como antigamente. Em vez de
relaxar nas orações pelo fato de nosso corpo sofrer,
corações verdadeiros, em tempos como esse,
geralmente dobram suas petições. Como Ezequias,
eles viram seus rostos para a parede para que eles
não vejam nenhum objeto terreno e então olham
para as coisas invisíveis e falam com o Altíssimo.
Sim, e frequentemente em uma maneira mais doce e
familiar do que eles faziam nos dias de sua saúde e
força; Se nós estamos tão fracos que só podemos
nos deitar parados e respirar, façamos com que cada
respiração seja uma oração!
Nem deveria um cristão relaxar nas suas orações por
dificuldades mentais. Quero dizer daquelas
perturbações que distraem a mente e impedem a
concentração dos nossos pensamentos. Tais males
acontecerão conosco. Alguns de nós estão
frequentemente deprimidos e muitas vezes são
jogados para lá e para cá em sua mente, de forma
que se a oração fosse uma operação que requeresse
que as faculdades estivessem todas em dia, como no
resolver problemas matemáticos difíceis, nós não
poderíamos, nesses momentos, orar de forma
nenhuma. Mas, irmãos e irmãs, quando a mente está
muito pesada, então não é a hora de desistir de orar,
mas em vez disso, redobrar nossas súplicas! Nosso
abençoado Senhor e Mestre foi levado por angustias
da mente para a mais triste condição – Ele disse, “A
minha alma está cheia de tristeza até a morte” – e
mesmo por essa razão Ele não disse, “Eu não posso
orar”, mas, pelo contrário, Ele buscou as bem
conhecidas sombras do olival e lá descarregou Seu
pesado coração e derramou Sua alma como água
perante o Senhor! Que nunca nos consideremos tão
doentes ou distraídos para orar. Um cristão nunca
deve estar em tal estado de mente em que ele deva
se sentir obrigado a falar “Eu não sinto que consigo
orar”, ou se ele o fizer, que ele ore até que ele sinta
que ele pode orar. Não orar porque você não se
sente apto a orar é como dizer, “Eu não tomarei o
remédio porque estou muito doente”. Ore para orar!
Ore por você mesmo, através da assistência do
Espírito, para que você consiga orar! É bom
martelar o ferro quando ele está quente, mas alguns
fazem o ferro frio se esquentar por martelar ele!
Nós, às vezes, comemos até que tivéssemos apetite,
então oremos até que possamos orar. Deus irá te
ajudar na procura do seu dever, não na negligência
dele.
O mesmo é o caso com relação às doenças
espirituais. Algumas vezes não é meramente o
corpo ou a mente que estão afetados, mas nossa
natureza interior é tediosa, estúpida, letárgica, de
forma que quando é o tempo de orar, nós não
sentimos o espírito da oração. Além disso, talvez
nossa fé esteja tombando e como nós podemos orar
quando nossa fé está tão fraca? Possivelmente nós
suspeitamos de que sejamos realmente povo de
Deus e somos molestados pela coleção de nossas
quedas. Agora o tentador irá sussurrar, “Não precisa
orar agora – seu coração não está numa boa
condição para isso”. Meus queridos irmãos e irmãs,
você não se tornará apto para orar por se manter
longe do Trono da Misericórdia! Mas se deitar
gemendo e suspirando aos pés do Trono é a melhor
preparação para suplicar ao Senhor. Nós não
devemos almejar uma autopreparação do nosso
coração para que possamos nos achegar a Deus
corretamente, mas “as preparações do coração no
homem e a resposta da língua são do Senhor”
(Provérbios 16:1 – Versão King James). Se eu me
sinto desinclinado a orar, então este é o tempo em
que preciso orar mais do que nunca! Possivelmente
quando a alma pula e exulta em comunhão com
Deus, deve ser mais seguro se refrear de orar do que
aqueles momentos quando a alma se arrasta
pesadamente à devoção. Ai de mim, meu Senhor,
será que minha alma anda errante longe do Senhor?
Então volte, meu coração! Irei te arrastar de volta
pela força da Graça Divina! Não irei parar de clamar
até que o Espírito de Deus te faça voltar para a
obediência. O que? Meu irmão cristão, por você se
sentir negligente, esta é a razão pela qual você
deveria guardar sua mãe e não servir seu Deus?
Não, fora com sua negligência e dobre sua alma
resolutamente ao serviço! Então, ao sentir uma
sensação de não querer orar, seja mais aplicado na
oração! Arrependa-se por não querer se arrepender,
lamente por que você não consegue se lamentar e
ore até que você consiga orar – fazendo isto, Deus
irá te ajudar.
Mas, pode surgir uma objeção, de que algumas
vezes nós somos colocados em grandes dificuldades
por tais circunstâncias que nós podemos ser
dispensados de orar. Irmãos e irmãs, não existem
circunstâncias nas quais nos deveríamos parar de
orar de forma alguma. “Mas eu tenho tantas
necessidades”. Quem de nós não as tem? Se nós
estamos dispensados de orar até que nossas
necessidades acabem, certamente nunca
chegaríamos a orar, ou oraríamos quando não mais
precisássemos de oração! O que Abraão fez quando
ele ofereceu sacrifícios ao Senhor? Quando o
patriarca sacrificou as criaturas determinadas e as
deitou no altar, alguns abutres e pássaros vieram
prontos para arrancar pedaços da carne consagrada.
O que o patriarca fez? “E as aves desciam sobre os
cadáveres; Abrão, porém, as enxotava.” (Gn 15:11).
Assim devemos pedir para que a Graça enxote
nossas necessidades das nossas devoções.
Aquela foi uma sábia instrução que o profeta deu à
pobre mulher quando o Senhor estava prestes a
multiplicar seu azeite. “Vá, pegue a botija” ele disse,
“derrame o azeite e encha as vasilhas emprestadas”.
Mas o que mais ele disse? “E fecha a porta sobre ti”
(2 Rs 4:4). Se a porta estivesse aberta, alguns de
seus vizinhos bisbilhoteiros teriam olhado aquilo e
dito, “O que você está fazendo? Você realmente
espera encher todos esses jarros com essa pequena
botija de azeite? Por que, mulher? Você deve estar
louca!”. Temo que ela não fosse capaz de realizar
aquele ato de fé se os seus objetores não estivessem
sido trancados fora da casa. É uma grande coisa
quando a alma pode fechar com ferrolho as portas
contra as distrações e manter fora os intrusos – pois
então é que a oração e a fé irão realizar o seu
milagre e nossa alma deve ser cheia com as bênçãos
do Senhor! Ó, que a Graça vença as circunstâncias e
ao menos nos faça suspirar nossas orações se não
podemos alcançar a forma mais poderosa de oração!
Talvez, contudo, você declare que suas
circunstâncias são mais difíceis do que posso
imaginar, pois você esta cercado daqueles que
zombam e, além disso, o próprio satanás lhe
molesta. Ah, querido irmão ou irmã, debaixo de tais
circunstâncias, em vez de restringir a oração, seja
dez vezes mais diligente! Sua posição é
preeminentemente perigosa – você não pode se
permitir de viver longe do Trono da Graça –
portanto, não tente isto. Sobre a perseguição e
ameaça, ore provocando-as. Lembre-se de como
Daniel abriu sua janela e orou ao seu Deus como ele
tinha feito em outros dias? Deixe que o Deus de
Daniel seja seu Deus no seu quarto de oração e Ele
será seu Deus na cova dos leões! Sobre o demônio,
tenha certa que nada o expulsará como a oração.
Esse par de versos é correto quando declara que –
“Satanás irá tremer quando olhar
O mais fraco santo orar!”
Qualquer que seja sua posição, se você não pode
falar, chore. Se não pode chorar, comece a gemer.
Se não pode gemer, deixe que falem os “gemidos
inexprimíveis”. E se você nem mesmo pode chegar a
isso, deixa que suas orações sejam ao menos
respirações – um desejo vital e sincero – o
transbordar-se de sua vida interior na mais simples e
fraca forma, e Deus irá aceitar isso. Em uma
palavra, quando você não consegue orar como
deve, cuide para orar como você pode!
2. Agora, uma segunda palavra de instrução. É
claro neste texto, de muitas outras passagens da
Escritura e de observações gerais que: OS
MELHORES HOMENS GERALMENTE
ACHAVAM AS MAIORES FALTAS NAS
SUAS PRÓPRIAS ORAÇÕES.
Isso vem do fato que eles apresentaram orações
verdadeiras e ainda assim sentiam muito mais do que
podiam expressar. Um mero formalista sempre pode
orar assim que desejar. O que ele deve fazer além de
abrir seu manual e ler as palavras prescritas, ou
dobrar seus joelhos e repetir certas frases sugeridas
por sua memória ou por sua imaginação? Como a
Máquina de Oração do Tártaro[1], tendo vento e a
roda, toda a oração é realizada! Todo esse dobrar de
joelhos, falar e orar já estão feitos! As orações do
formalista sempre são igualmente boas, ou melhor,
sempre igualmente más. Porém o verdadeiro filho
vivo de Deus nunca oferece uma oração que o
satisfaz – seus padrões estão acima de suas
capacidades. Ele se maravilha na forma de que Deus
o escuta, e mesmo que ela saiba que será ouvido por
amor de Deus à Cristo, ainda assim ele considera
isso um maravilhoso fato de misericórdia
condescendente, a saber, que tão pobres orações
como as suas devem chegar aos ouvidos do Senhor
dos Exércitos!
Se fosse perguntado em qual ponto os homens
santos acham faltas em suas orações, nós
responderíamos, que eles reclamam da pequenez de
seus desejos. Ó Deus, Tu me convidas a abrir minha
boca bem aberta e que o Senhor vai enchê-la de
palavras, mas eu não abro minha boca! Tu estás
pronto para me conceder grandes coisas, mas eu não
estou pronto para receber grandes coisas! Eu sou
limitado, mas não no Senhor – eu sou limitado nos
meus próprios desejos! Queridos irmãos e irmãs,
quando nós lemos sobre Hugh Latimer[2] que ficava
de joelhos perpetuamente clamando “Ó, Deus, dê de
volta o Evangelho para Inglaterra”, e que algumas
vezes orava por tanto tempo que não conseguia se
levantar, sendo um homem de idade – e eles tinham
que levantá-lo do chão da prisão – e ele continuava
a clamar “Ó, Deus, dê de volta o Evangelho para a
pobre Inglaterra”; nós devemos bem nos
surpreender pelo fato de alguns de nós não orarem
desse jeito! Os tempos são maus como os de
Latimer e nós temos uma grande necessidade de
orar como ele orou “Ó, Deus, expulse estes papas
mais uma vez daqui e dê de volta o Evangelho para
a Inglaterra”. Pense, então, em John Knox[3]. As
orações daquele homem eram como exércitos
poderosos e ele lutava durante toda a noite com
Deus para que ele incendiasse a luz do Evangelho na
Escócia. Ele declarou que lhe foi concedido este seu
desejo e creio que realmente o foi, e que a Luz de
Deus que queima tão fortemente da Escócia deve
ser muito atribuída às orações daquele homem. Nós
não oramos como esses homens. Nós não temos
coração para pedir grandes coisas. Um avivamento
está esperando, a nuvem está passando por cima da
Inglaterra, mas nós não sabemos como trazê-la para
baixo! Ó, que Deus ache alguns espíritos
verdadeiros que possam ser os condutores a trazer
para baixo o Fogo Divino! Nós precisamos muito
disso, mas nossos pobres suspiros – eles não são
muito mais que isso – não têm força, nem
expansividade, nem coração e nem preponderância
em si mesmos!
Então, quão grave nós caímos a respeito da fé!
Nós não oramos como se acreditássemos. Orar
acreditando na oração é um sofrimento e uma luta,
mas nossas orações são meros assopros e bafejos,
pequenos suspiros – nada mais que isso. Deus é
verdadeiro e nós oramos a Ele como se Ele fosse
falso. Ele quis dizer o que Ele disse, e nós tratamos
Sua Palavra como se Ela fosse falada de brincadeira.
O maior erro de nossas orações é a falta de fé.
Quão frequentemente nos falta seriedade! Tais
homens como Lutero tinham seus desejos do Céu
porque eles queriam tê-los! O Espírito de Deus os
fez resolutos em intercessão e eles não sairiam de
perto do Trono da Misericórdia até que seus apelos
fossem atendidos. Mas nós somos frios, e
consequentemente fracos, e nossas pobres, pobres
orações nos cultos, no nosso quarto em secreto e no
altar da família definham e quase morrem!
Quão mais, infelizmente, é a impureza de nossos
motivos de oração! Nós pedimos por avivamento,
mas queremos que nossa própria igreja ganhe a
bênção de ter o crédito por isso! Nós oramos a Deus
para abençoar nosso trabalho e isto porque
desejamos escutar homens dizerem que somos bons
trabalhadores. A oração é boa em si mesma, mas
nossos dedos sujos a estragam. Ó, que possamos
oferecer súplicas como elas devem ser oferecidas!
Bendito seja Deus, Aquele que é o Único que pode
lavar nossas orações por nós, mas, mais
verdadeiramente, nossas próprias lágrimas devem
ser choradas de novo e nossas orações devem ser
oradas novamente. Mesmo a melhor coisa que nós
façamos deve ser lavada na Fonte de Sangue, ou de
outra forma, Deus somente a pode olhar como um
pecado.
Outra falta que bons homens olham em suas
súplicas é que eles mantém certa distância de
Deus enquanto oram, que eles não se achegam
perto o bastante Dele. Não é verdade que alguns de
vocês são oprimidos por uma sensação de distância
que existe entre vocês e Deus? Você crê que existe
um Deus e acredita que Ele irá lhe responder, mas
não é sempre que você vem direto para Ele, até Seus
pés, e toma posse Dele e diz, “Ó, meu Pai, escuta a
voz de Seus escolhidos e deixe o clamor do sangue
de Seu Filho venha diante de Ti!”. Ó, queremos
orações que possam ir além do véu e se aproximem
do Trono da Misericórdia! Ó, queremos pessoas
suplicantes que são familiarizados com os querubins
e com o brilho que sai do meio de suas asas! Que
Deus nos ajude a orar melhor! Mas disso estou certo
– vocês que têm as melhores súplicas são
exatamente aqueles que pensam o mínimo de suas
próprias orações e que são os mais gratos a Deus
por Ele deseja escutar a vocês – e os mais ansiosos
para eu Ele os ajude a orar de uma maneira mais
nobre.
3. A terceira lição é esta – O PODER DA
ORAÇÃO NÃO É MEDIDO POR SUA
EXPRESSÃO EXTERNA.
O suspiro é uma oração da qual Deus não esconde
Seu ouvido. É, sem sombra de dúvida, uma grande
Verdade de Deus, e também cheia de conforto, de
que nossas orações não são poderosas na proporção
de suas expressões, pois, se fosse assim, o Fariseu
teria obtido sucesso já que ele tinha melhores dons
de oratória do que o Publicano tinha. (Lc 18:10-14).
Não tenho dúvida de que se houvesse um culto
normal, e o Fariseu e o Publicano estivesse lá, nós
teríamos chamado o Fariseu para orar. Não creio
que o povo de Deus teria apreciado sua oração, nem
teria sentido alguma afinidade de espírito com ele e
ainda assim, muito naturalmente, por pensar em seus
dons, ele teria se levantado e se comprometido com
a devoção pública ou, se aquele Fariseu não tivesse
feito isso, sei de outros Fariseus que o fariam. Sem
dúvida o espírito daquele homem era mau, mas sua
expressão era boa – ele podia colocar sua oração tão
ordenadamente e a proclamar muito
cuidadosamente. E que todo homem saiba que Deus
não se importa com isso! O suspiro do Publicano
alcançou Seu ouvido e ganhou a bênção, porém as
palavras orgulhosas do Fariseu foram uma
abominação para Ele!
Se nossas orações fossem eficientes na proporção de
sua expressão, então a retórica seria mais valiosa que
a Graça e a educação escolástica seria melhor que a
santificação – mas isso não é verdade. Alguns de
nós podem ser capazes de se expressar muito
fluentemente através da força de dons naturais, mas
deveria ser sempre uma pergunta inquietante para
nós se nossa oração seria uma que Deus receberia,
pois nós devemos saber, e saber de uma vez, que
nós frequentemente oramos melhor quando nós
balbuciamos e gaguejamos – e nós oramos pior
quando as palavras fluem como uma torrente, uma
atrás da outra! Deus não é movido por palavras –
elas não passam de barulhos para Ele. Ele só é
movido pelos pensamentos profundos e pelas
emoções verdadeiras que estão no mais fundo do
espírito. Seria algo ruim para você, que é
necessitado, se Deus só nos escutasse de acordo
com a beleza de nossas palavras, pois talvez seja que
sua educação foi tão negligenciada que não exista
esperança para você ser capaz de falar
gramaticalmente bem. E, além disso, poderia ser
que, por sua informação limitada, você não usasse
palavras que soassem tão bem. Mas o Senhor ouve
os pobres, os ignorantes e os necessitados! Ele ama
escutar o seu clamor. O que importa para Ele a
gramática de uma oração? É a alma que Ele quer! E
se você não consegue amarrar corretamente nem
três palavras do inglês da rainha, mesmo assim se
sua alma consegue de alguma forma suspirar a si
mesma diante do Altíssimo – se é algo quente, de
coração, sincero e sério – existe poder na sua oração
e não menos poder nela por causa de palavras
quebradas, nem seria vantagem para você, visto ao
que o Senhor se importa, se essas palavras não
fossem quebradas, mesmo que fossem bem
compostas! Isso não é um conforto para nós, então?
Mesmo que sejamos abençoados com facilidade de
se expressar, nós, algumas vezes, notamos que nosso
poder de proclamação nos falha. Debaixo de grande
pesar, um homem pode não falar como ele é
conhecido a fazer. Circunstâncias podem fazer a
língua mais eloquente se tornar pesada. Não importa
– sua oração é tão boa quanto era antes. Você clama
a Deus em adoração pública e se senta pensando
que sua confusa oração não foi de serviço para a
Igreja. Você não sabe em que balanças Deus pesa
sua oração – não em quantidade, mas em qualidade
– não por uso de vestimenta externa verbal, mas
pela alma interna e seriedade intensa que havia ali é
que Ele pesa o valor! Não é verdade que algumas
vezes quando você se levanta de seus joelhos em seu
quarto, em secreto, e diz, “Acho que não orei, não
me senti orando de verdade”? Nove de cada dez
vezes, essas orações que não achamos aceitáveis são
as mais importantes para Deus. Mas quando nós nos
gloriamos em nossa oração, Deus não irá querer
saber dela! Se você vê alguma beleza em sua própria
súplica – Deus não olha isso – pois, evidentemente,
você estava olhando para sua oração e não para Ele!
Mas quando a alma vê tanto de Sua glória que chega
clamar, “Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor,
ainda que sou pó e cinza” (Gn 18:27). Quando a
alma vê tanto de Sua Santidade que ela é dificultada
a se expressar pela profundidade de sua própria
humilhação, ó, então é quando esta é sua melhor
oração! Pode haver mais oração em um gemido do
que em uma liturgia inteira. Pode existir uma
devoção mais aceitável em uma lágrima que molha o
bando da igreja do que em todos os hinos que nos
cantamos, ou em todas as súplicas que nós fizemos!
Não é o exterior, é o interior! Não são os lábios, é o
coração que o Senhor leva em consideração! Se
você consegue somente suspirar, suas orações serão
aceitas pelo Altíssimo!
Desejo que esta verdade possa ir para casa com cada
um de nós que diz, “Eu não consigo orar”. Isso não
é verdade. Se para orar fosse necessário falar por
um quarto de hora, ou que fosse necessário
pronunciar coisas bonitas, então eu admitiria que
você não conseguiria orar! Mas se for só falar de seu
coração, “Deus, tem misericórdia de mim, um
pecador”, então consegue sim, e se oração não é
nada sobre o falar, mas sim desejar, ansiar, esperar
por misericórdia, perdão e por salvação, então
nenhum homem pode falar “Eu não consigo”, a não
ser que ele seja honesto o suficiente para completar
a frase: “Eu não consigo, porque eu não vou orar.
Amo os meus pecados demais e não tenho fé em
Cristo. Não desejo ser salvo”. Se você quer orar, Ó
meu ouvinte, então você consegue orar! Ele que dá
o querer, adiciona a habilidade para isso!
E ó, deixe-me dizer, não durma esta noite até que
você tenha tentado e experimentado o poder da
oração! Se você sente um fardo em seu coração,
diga ao Senhor! Cubra seu rosto e fale com Ele.
Nem isso acredito que você precise fazer, pois,
suponho que Ana não cobriu seu rosto quando Eli
olhou seus lábios movendo e pensou que ela estava
bêbada (1 Sm 1:9-15). Não, seus lábios nem
precisam mover! Sua alma pode agora dizer, “Salve-
me, meu Deus! Convença-me do meu pecado, me
leve até a Cruz! Salve-me esta noite! Não me deixe
terminar mais um dia como Seu inimigo! Não me
deixe ir para meus afazeres por mais uma semana
sem ser perdoado, com Sua ira suspendida sobre
mim como um relâmpago! Salve-me, salve-me, Ó
meu Deus!”. Tais orações, mesmo que sem palavras
pronunciadas, não são impotentes, mas serão
ouvidas no Céu!
4. Iremos concluir com essa quarta lição prática
– ORAÇÕES FRACAS SÃO OUVIDAS NO
CÉU.
Por que que orações fracas são entendidas e ouvidas
por Deus no Céu? Aqui estão três razões.
Primeiro, a oração mais fraca, se for sincera, foi
escrita pelo Espírito Santo no coração, e Deus
sempre reconhecerá a caligrafia do Espírito
Santo. Frequentemente, alguns caros amigos da
Escócia mandam para o Orfanato[4] algumas porções
do que um deles outro dia chamou de “dinheiro
imundo” – isto é, notas de uma libra sujas. Bem,
certamente, essas notas de uma libra parecem que
tem um pequeno valor. Mas ainda assim, elas
carregam a assinatura própria e são bem aceitas – e
sou muito grato por elas. Muitas orações que são
escritas pelo Espírito Santo no coração parecem
escritas com tinta fraca, e além disso, parecer ser
apagadas e sujas por nossas imperfeições. Mas o
Espírito Santo pode sempre ler Sua própria
caligrafia. Ele conhece Suas próprias anotações e
quando Ele emitiu uma oração, Ele não a negará.
Portanto, o suspiro ao qual o Espirito Santo
trabalhou em nós, será aceito por Deus.
Ademais, Deus, nosso sempre bendito Pai, tem um
ouvido ligeiro para o suspiro de cada um de Seus
filhos. Quando uma mão tem um filho doente, é
maravilhoso o quão ligeiro seu ouvido é o
atendendo. Que boa mulher, nós nos maravilhamos
como ela não cai no sono. Se você contratou uma
enfermeira, as chances são de dez para um que ela
dormiria. Mas o filho querido, no meio da noite, não
precisa pedir por água, ou nem mesmo falar – só um
pequeno suspiro – quem ouvirá isso? Ninguém
exceto a mãe! Mas seus ouvidos são rápidos, pois
estão no coração de seu filho. Então, se existe algum
coração no mundo que anseia por Deus, o ouvido
de Deus já está no coração daquele pobre pecador!
Ele o ouvirá. Não existe um único bom desejo no
mundo que o Senhor não tenha escutado. Lembro-
me quando, uma vez, estava um pouco temeroso de
pregar o Evangelho aos pecadores como se fossem
pecadores, e mesmo assim, eu o queria fazer, então
costumava falar, “Se você tem somente uma
milionésima parte de desejo, venha a Cristo!”. Ouso
dizer mais do que aquilo hoje, mas ainda assim
quero fazê-lo, e o farei de uma vez – se você tem
uma milionésima parte de desejo, se você tem
somente um pequeno suspiro – se você deseja ser
reconciliado, se você deseja ser perdoado, se você
deseja ser desculpado, se existe ao menos metade de
um bom pensamento formado em sua alma, não o
ponha em questão, não o sufoco e não pensei que
Deus irá rejeitá-lo!
E, então, há outra razão, a saber, que o Senhor
Jesus Cristo está sempre pronto para pegar a mais
imperfeita oração e a aperfeiçoar para nós. Se
nossas orações tiverem que subir aos Céus como
elas são, elas nunca teriam obtido sucesso. Mas elas
acham um Amigo neste caminho, e então, elas
prosperam. Um pobre homem tem uma petição para
ser mandada para alguma agência do governo. Se
ele tivesse que escrever isto por si mesmo, todos os
oficiais da rua Downing[5] ficariam confusos sobre o
que a petição significaria. Mas o pobre homem é
sábio o bastante para achar um amigo que pudesse
escrever, ou ele viria até o seu pastor e diria, “Pastor,
o senhor poderia escrever essa petição corretamente
para mim? O senhor poderia colocar em um bom
inglês, para que esta fosse apresentada?”. E então a
petição iria de uma forma diferente. Dessa forma, o
Senhor Jesus Cristo toma nossas pobres orações, as
adapta e apresenta a petição com a adição de Sua
própria Assinatura – e o Senhor nos manda uma
resposta de paz.
A mais fraca oração no mundo é ouvida quando esta
tem o selo de Cristo em si. Quero dizer que Ele
coloca Seu Sangue Precioso sobre ela. E aonde quer
que Deus veja o Sangue de Cristo, Ele deve e irá
aceitar o desejo que ela endossa. Vá a Jesus,
pecador, mesmo que você não consiga orar, e deixe
que o suspirar de sua alma seja, “Seja
misericordioso comigo, limpa-me, salva-me” e assim
será feito, pois Deus não escutará tanto sua oração
como escuta o Sangue de Seu Filho, “que fala
melhor do que o de Abel.” (Hb 12:24). Uma voz
mais alta prevalecerá sobre a sua! E seus fracos
suspiros irão até Deus cobertos com as súplicas
Onipotentes do Grande Sumo Sacerdote que nunca
apela em vão!
Tive por objetivo, desta forma, confortar os aflitos
que dizem que não pode orar, mas antes de eu
terminar, devo adicionar como indesculpáveis são
aqueles que, sabendo de tudo isto, continuam sem
orar, sem Deus e sem Cristo! Senão houvesse
nenhuma misericórdia para se obter, você não seria
culpado se não a tivesse. Se não houvesse nenhum
Salvador para os pecadores, um pecador poderia ser
desculpado por continuar no pecado. Mas existe
uma Fonte e ela está aberta – por que, então, você
não se lava nela? Misericórdia é para ser ganha “sem
dinheiro e sem preço” (Is 55:1) – é para ser ganha
por se pedir por ela. Algumas vezes, pobres homens
são amordaçados, condenados em uma cela e
sentenciados para serem enforcados. Mas suponha
que eles tivessem um perdão gratuito só por pedir
por ele, e eles não fizessem isso – quem teria pena
deles? Deus dará Suas bênçãos para todo aquele que
é movido a busca-las com sinceridade às Suas mãos
sob somente essa única condição – que a sua alma
confie em Jesus! E ainda isso não é uma condição,
pois Ele dá o arrependimento e a fé, e capacita
pecadores a crerem no Seu querido Filho! Eis Cristo
crucificado, a mais triste e, ao mesmo tempo, a mais
alegre visão debaixo do céu jamais vista! Eis o
eterno Filho de Deus feito carne e sangrando Sua
vida! Uma maravilha insuperável de aflição e amor!
Olhe para Ele que salvará você! Mesmo que estejas
aos pés da cova ou na beira do inferno, por um
olhar ao Jesus crucificado sua culpa será cancelada,
suas dívidas serão para sempre anuladas diante do
Trono de Deus e você mesmo será levado à alegria e
paz. Ó, que você dê esse olhar!
Suspire a oração, “Senhor, dê-me a fé de Seus
eleitos e salve-me com uma grande salvação!”.
Apesar de ser somente um suspiro, ainda assim,
como o antigo puritano falava, quando Deus sente o
respirar de Seu filho sobre Sua face, Ele sorri. E Ele
irá sentir o seu respirar, sorrir para você e lhe
abençoar. Que Ele assim o faça, em nome de Jesus!
Amém.
EIS QUE ELE ESTÁ ORANDO
Pregado em Setembro de 1885

“E pergunta em casa de Judas por um


homem de Tarso chamado Saulo; pois
eis que ele está orando”.
Atos 9:11

Estas palavras são a marca da conversão


genuína. “Eis que ele está orando” é uma
testemunha mais confiável da conversão de um
homem do que, “eis que ele canta”, ou “eis que ele
lê as Escrituras”, ou “eis que ele prega”. Essas coisas
podem ser admiravelmente feitas por homens que
não foram regenerados! Mas se, no sentido que
Deus tem pelo termo, um homem realmente ora,
nós podemos saber com certeza que ele passou da
morte para a vida. Oração verdadeira é uma
evidência do vivificar espiritual – o Espírito Santo
colocou vida espiritual no coração do homem que
ora, pois oração é o respirar de uma vida espiritual.
Oração é o resultado do sentimento de necessidade
que surge da nova vida – o homem não oraria a
Deus se ele não sentisse que ele tivesse uma urgente
necessidade de bênçãos que só podem ser
concedidas pelo Senhor. Enquanto expressa seu
sentimento de necessidade e apela a Deus por ajuda,
o homem que ora dá evidência de estar em paz com
seu Senhor e curado de sua alienação natural.
Aquele eu ora, crê, e assim revela a fé que salva.
Algumas formas de oração mostram uma grande fé,
mas toda verdadeira oração é obra da fé, seja
pequena ou grande. Será que um homem clamaria a
Deus por misericórdia se ele não acreditasse Nele?
Será que ele suplicaria ao Trono da Misericórdia se
ele não esperasse obter seu desejo? Assim, caros
amigos, o tipo verdadeiro de oração é um
comprovante da existência da vida espiritual na sua
consciência de necessidade, no seu se voltar a Deus
e na sua fé Nele.
Oração é o autografo do Espírito Santo
sobre o coração regenerado. Oração é, também,
uma admirável forma de comunhão com Deus e, e
como a mente carnal não pode ter comunhão com
Deus, esta se torna prova da regeneração, a
evidência da adoção! Aquele que ora tem algum
conhecimento de Deus, algum entendimento com o
Grande Invisível. O hábito de oração privada e a
constante prática do coração de comunhão com o
Altíssimo são os mais certos indicadores da obra do
Espírito Santo sobre o coração. Quando pode ser
dito de um homem, “Eis que ele está orando”, o selo
do Grande Rei está sobre ele! Ele carrega o aval do
Esquadrinhador de Corações. Assim que o Senhor
deu a Ananias esta certa indicação de que Saulo de
Tarso era um homem convertido, por dizer a ele,
“Eis que ele está orando”.
No caso de Saulo, esta indicação era
especialmente notável. “Eis que ele está orando”
tinha um significado especial em relação a este
fariseu convertido. Mostrarei isso durante o sermão.
É como se fosse uma grande maravilha que o rei
Saul, do Velho Testamento, tivesse profetizado.
Algo tão inesperado e maravilhoso que o evento se
tornou um provérbio – “Está Saul também entre os
profetas?” (1 Sm 10:12). Mas era uma maravilha
igual quando este mais moderno Saulo foi visto
orando! Está Saulo de Tarso também entre aqueles
que oram pela misericórdia de Jesus? O próprio
Senhor dos Céus menciona isto como um prodígio!
Ele aponta para isso como se fosse uma coisa a ser
contemplada e de se maravilhar, pois Ele diz ao Seu
servo Ananias, “Eis que ele está orando”.

1. Nós começaremos nosso discurso


com a seguinte observação – Esta expressão a
respeito de Saulo de Tarso é notável, pois ELA
IMPLICA QUE ELE NUNCA HAVIA
ORANDO ANTERIORMENTE. “Eis que ele
ora” não poderia ser falado a respeito de um
homem que já orava em situações anteriores.
Isto é muito arrebatador, pois Saulo era um
fariseu e, portanto, um homem que habitualmente
repetia orações. Fariseus se orgulhavam da
regularidade, do número e da duração de suas
orações. Talvez não houvesse nenhum dia da vida
de Saulo em que ele se não tivesse orado, segundo
sua própria percepção. Muitos judeus devotos
passavam nove horas por dia em oração, pois eles
ocupavam uma hora com reais súplicas, mas antes
disso se sentavam durante uma hora antes e uma
hora depois de fazer essas súplicas – e isto era feito
três vezes ao dia! Fariseus geralmente ofereciam
orações não somente no templo o nas sinagogas,
mas até nas esquinas das ruas onde poderiam ser
vistos por outros homens. Qualquer que fosse a
qualidade de suas orações, elas muitas em
quantidade. Se algum fato público fosse tão
evidenciado de forma que ninguém pudesse negá-lo,
tal fato era que Saulo de Tarso passava muito tempo
orando e, portanto, é mais surpreendente que o
próprio Senhor disse a Ananias à respeito deste
constante e devoto fariseu, “Eis que ele está
orando”.
Veja como o Senhor examina os
julgamentos dos homens! Na opinião de todos os
que conheciam Saulo de Tarso, o discípulo de
Gamaliel, ele era muito doado à oração. Mas Aquele
que examina os corações e conhecia bem Saulo – e
sabia verdadeiramente o que oração é – Ele aqui
declara que agora sim, finalmente, Paulo começa a
orar! Apesar de todo seu anterior excesso e
ostentação de devoção, Saulo, em toda sua vida,
nunca tinha orado de forma alguma! O que os seus
amigos considerariam como uma grande quantidade
de oração, o Senhor não considera nada daquilo!
Até que a primeira quebrantada confissão de pecado
viesse do pobre cego perseguidor de Jesus, o Senhor
considerava que ele nunca tinha orado! Quero
empurrar esse fato para a casa de alguns que aqui
estão presentes conosco, esta manhã. Me refiro
àqueles que, de uma maneira formal, tem sempre
orando e apesar disso nunca oraram espiritualmente.
Sua mãe lhe ensinou uma forma de oração – você
repetiu esta forma por toda sua meninice e
juventude. Neste momento você está bem regular
em dobrar seus joelhos, tanto de manhã quanto de
noite, e ainda sim, nenhuma oração jamais saiu de
seu coração ao coração de Deus!
Você vai constantemente ao lugar de
adoração; você é diligente em observar cada
ordenança cristã; você se junta àqueles que
respondem a pregação, ou você abaixa sua cabeça e
escuta em silêncio à proclamação extemporânea do
seu pastor e, portanto, você supõe que ora – e
mesmo assim esta é uma suposição vã! Se alguém
fosse falar que você não ora, você ficaria muito
zangado! E mesmo assim é possível que esta
afirmação seja totalmente verdadeira. Espero tanto
que hoje, pela primeira vez, você em uma seriedade
verdadeira possa clamar ao Senhor Deus e faça com
que Ele testemunhe que agora, de fato, você ora!
Você irá então ter em pouca estima todas as suas
repetições sem coração de orações e irá clamar a
Deus, o Espírito Santo, que nos ajuda nas nossas
enfermidades, já que nós sabemos que não oramos
como devemos orar.
Já lhes disse que os fariseus eram notados
por suas orações e, portanto, parece mais
maravilhoso ainda o fato de que o Senhor tenha
anunciado que Saulo de Tarso tinha então começado
a orar. Porém, isto foi verdade – ele agora estava
oferecendo pela primeira vez uma oração
verdadeira. Aquela oração do fariseu da qual lemos
do capítulo dezoito de Lucas era para ser uma
oração, mas não havia nenhuma partícula de oração
nela! Ele não pediu por nada. Ele não confessou
nenhuma necessidade, nem suplicou por uma
promessa. Ele não procurou por misericórdia, nem
mencionou expiação pelos pecados. Sua ação de
graças formal era manchada de uma autoestima
orgulhosa e era mais a ostentação da vaidade do que
um pedido em humildade! Muito do que é chamado
de oração é uma casca e não o interior de uma
oração. Suponha que você pegue a melhor forma do
que um dia já foi escrito e vai lendo através daquilo
da forma mais ordenada possível – você pode fazer
isso e continuar a fazer isso durante uma vida de
setenta anos – e ainda assim você nunca terá
buscado a Deus com verdadeira diligência!
Se você preferir compor suas próprias
orações, você pode fazer isso durante toda a sua
vida e faça orações que podem ser excelentes em
linguagem. Você pode ainda fazer uma nova oração
toda manhã e toda noite – e ainda assim pode não
existir um único átomo de verdadeira oração em
todo esse derramamento de piedade! E se sua
primeira oração ainda deve ser feita? Que solene
sugestão para você que foi criado no colo da
piedade e vestido nas roupas da religião! Não me
admiro que isso lhe ofenda tão rapidamente. Esse
exame de coração não pode ser colocado de lado
como se eu não estivesse falando com você. A não
ser que seu coração fale com Deus; a não ser que
sua alma venha a um contato espiritual com o
Grande Pai dos espíritos, sua forma de oração, não
me importa se é litúrgica ou extemporânea, de nada
vale! Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos
– e isto se aplica as orações tanto quanto aos
homens –
“Deus abomina o sacrifício
Onde um coração não possa ser achado”
Uma única frase de um verdadeiro coração
suplicante, como, “Ó Deus, tem misericórdia de
mim, pecador!”, vale mais do que grandes trabalhos
dos lábios!
Oração verdadeira deve ser espiritual e as
orações de Saulo nunca havia sido isso antes.
Palavras são somente o corpo da devoção – a
confissão do pecado, a ansiedade pela misericórdia,
o gemer pela Graça – estas são a alma e o espírito
da oração! Um homem pode ter repetido as palavras
mais seletas e estas podem ter sido o corpo externo
de uma verdadeira oração, pois seu coração as
seguiu de verdade – mas, por outro lado, nós
podemos usar as mesmas excelentes expressões e
não termos orado coisa alguma – pois pode não
existir nenhuma inclinação do coração a Deus. Um
homem pode não pronunciar nenhuma palavra. Ele
pode sentar-se em absoluto silêncio e mesmo assim
pode estar orando o mais eficientemente possível.
Moisés clamou a plena voz quando não disse sequer
uma palavra e Ana foi ouvida no templo quando não
emitira nenhum som, mas somente os seus lábios se
moviam! Eu considero que aquelas orações que não
podem ser expressas pela linguagem são,
frequentemente, as mais profundas e fervorosas.
Quando os desejos são tão pesados que colocam
fardos em nossas palavras e chegam mesmo a
esmagá-las, então eles são os mais prevalentes para
Deus. Existe poder naquele solene silêncio o qual é
“a geada na boca, mas o fogo da mente”, quando a
alma flui como uma corrente forte em um leito tão
profundo e escondido até que alcance o coração de
Deus e triunfa Nele.
De qualquer maneira, a oração que não é
espiritual não é considerada pelo Senhor nem como
uma oração, pois “Deus é Espírito, e importa que os
que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
(Jo 4:24). Você pode, se quiser, adorar a Deus com
órgãos como os ingleses fazem, ou você pode orar
com moinhos de vento, como fazem os tártaros[6] -
ambas são muito parecidas ao meu ver – mas a sua
adoração e a sua oração não serão medidas pelos
assopros dos foles, nem pelas voltas das pás ou
velas. Elas serão medidas somente pelo trabalho do
coração que foi feito nelas. Se o espírito não tem
união com Deus, não houve oração. Pode ser que
haja música e oratória, mas não haverá oração se a
natureza espiritual não houver falado com o Pai dos
espíritos. Perceba, então, que nós só começamos a
orar quando começamos a viver vidas espirituais.
Seguinte a isso, Saulo nunca orou uma
única correta oração do tipo do qual o Senhor pode
aceitar. Saulo, até então, não conhecia o Senhor
Jesus e, portanto, ele não conhecia o caminho de
acesso ao Pai através do Seu Filho, a quem Ele
apontara como Mediador. Saulo conhecia a letra da
Verdade de Deus de acordo com a Lei Cerimonial,
mas ele não conhecia o espírito da Lei que é
incorporado por Jesus. Ele tinha buscado estabelecer
sua justiça própria, mas ele não havia se submetido à
justiça de Cristo e, desta forma, em suas orações ele
não estava atravessando a estrada que leva ao
coração de Deus. Se um homem, usando um rifle
em Wimbledon[7] em uma competição por prêmio,
fosse avisado, “Não é o alvo à direita, mas é o alvo à
esquerda que deve ser acertado”, e se ele
continuasse a atirar para a direita, mesmo que ele
acertasse bem no centro do alvo, ainda assim ele não
tinha marcado nenhum ponto! Dessa forma, como
aquele não era o alvo determinado na competição,
seus melhores tiros não contavam para nada.
Quando um homem não ora pelo caminho
apontado pelo Senhor, nem através de Jesus Cristo,
nem em dependência do Espírito Santo, ele não ora
de forma nenhuma! Por mais bela que seja sua
oração, é somente um pecado esplêndido. Se você
contrata um empregado para fazer um trabalho e ele
obstinadamente persiste em fazer uma outra coisa,
ele não ganhará seu salário. Por mais que ele
trabalhe diligentemente naquilo que você nunca
determinou que ele tivesse trabalhado, ele não
receberá nada de suas mãos. Dessa forma se você
orar a Deus de uma maneira que Deus nunca
ordenou; se você se recusa a usar o nome que Ele
apontou; se você negligencia o cultivo o único, santo
e humilde espírito que o Senhor aceita, você poderá
orar até que sua língua atravesse o céu de sua boca,
mas no julgamento de Deus, você não orou de
forma nenhuma e não receberá nada do Senhor!
É certo, também, que Saulo de Tarso nunca
tinha mencionado o nome de Jesus em suas orações
e, portanto, Deus considerava que ele não havia
orado. Saulo havia ouvido sobre Jesus, mas ele
rejeitou Suas afirmações e odiou Seu povo. Nosso
Pai Celeste nunca esconde os ouvidos ao nome de
Jesus quando este é honestamente suplicado. Mas
Ele não irá nos ouvir se nós desprezarmos aquele
Nome abençoado. “Porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo
qual devamos ser salvos.” (At 4:12). Não há
nenhum outro nome pelo qual podemos nos
aproximar com esperança do Trono da Misericórdia!
Saulo havia rejeitado aquele Nome e tinha se
baseado em seu próprio nome e, por esse motivo,
ele nunca havia orado. Suponha que um rei faça
uma lei ordenando que toda petição que for
apresentada a ele deve conter um determinado selo
que seus representantes colocaram de graça em cada
petição. Então se um homem negligenciasse ou se
recusasse a ter sua petição assim sancionada, ele não
podia se espantar que suas petições fossem tratadas
como insolências e que não fossem respondidas! Na
prática, tal homem nunca havia mandado nenhuma
petição, desde que ele tinha recusado a cumprir com
a regulação sem a qual nenhuma petição seria
recebida! Amigos, que nós possamos entender que
nós devemos nos humilhar e com todo o coração
clamar ao precioso sangue do Senhor Jesus Cristo
em oração, pois a força da oração está
primariamente em nossa súplica pelo Nome e pela
Obra de nosso Bem-Amado Filho de Deus! Nós
devemos nos colocar de um lado e nos escondermos
atrás do Senhor Jesus – pois nós e nossas orações só
podem ser aceitas no Amado, através da Pessoa, do
mérito, do sacrifício, da intercessão eterna do
Senhor Jesus Cristo! Se nós não oramos no nome de
Jesus, nós não oramos de forma alguma!
Além disso, gostaria que vocês notassem
que a verdadeira oração não pode vir de homens
cujo caráter é contrário à mente de Deus. Aquele
que contradiz sua oração, não orou. Sua vida tem,
com efeito, suplicado contra seus lábios. Saulo de
Tarso se opôs ao Filho de Deus – como ele poderia
estar no favor de Deus? Ele não acreditava no
Evangelho, mesmo que o selo de Deus estivesse nele
– como, então, Deus iria receber sua oração? Como
o Senhor ouviria a ele, se ele não ouvia ao Senhor?
Como Deus nos aceitará se não aceitarmos o Seu
Filho? Se nós nos colocarmos em oposição ao Seu
Evangelho, não teremos nós fechado a porta da
misericórdia em nós mesmos? Enquanto nós
fingimos que batemos no portão dos Céus, estamos
virando a chave para nos trancarmos fora de lá!
Saulo era muito mais que um opositor, ele havia se
tornado um perseguidor – podem perseguidores
experimentar o favor de Deus? Podemos esperar
receber uma bênção de Deus quando estamos
amaldiçoando o Seu povo? Como pode um
perseguidor orar?
Saulo de Tarso era, evidentemente, cheio de
ódio e crueldade – como ele poderia orar? O amor é
a matéria-prima dos filhos de Deus! “Qualquer que
ama é nascido de Deus” (1 Jo 4:7) - mas Saulo tinha
concebido um nojo intenso contra os seguidores do
Crucificado, que ele os arrastava para prisão e
consentia com a sua morte! Irmãos e irmãs, nós não
temos o direito de perseguir nenhum homem por sua
religião ou irreligião – seja ele católico, judeu,
mulçumano ou infiel, nós não devemos fazer nada
de ruim para ele, nem roubá-lo de nenhum de seus
direitos, por mais errada que seja sua visão de
mundo. Nós somos obrigados a sermos justos e
corretos a todos os homens, qualquer que seja suas
convicções religiosas, ou noções irreligiosas.
Injustiça não é amiga da Verdade de Deus! Nós não
devemos lutar as batalhas de Deus com as armas de
nossa vontade doente. Pois o fato de nós odiarmos
aqueles que estão em erro, falarmos deles com
desprezo, lhes desejarmos fazer mal ou os machucá-
los não é de acordo com o Espírito de Cristo. Você
não pode expulsar satanás pelo nome de satanás,
nem corrigir um erro com violência, nem superar o
ódio com ódio. A arma de conquista do cristão é o
amor e se Paulo tivesse buscado derrubar aquilo que
ele considerava como erro usando o amor, ele não
seria considerado tão culpado.
Quem quer que eles sejam, justos ou
ímpios, homem ou mulher, ele os obrigava a
blasfemar o nome de Jesus, aquele a quem ele
considerava ser um impostor. Ele buscava dominar
sobre suas consciências e os oprimir por suas
crenças. Como, então, Deus ouviria sua oração? Se
você tem o espírito de ódio em você, este torna nula
sua devoção e faz com que sua oração não seja uma
oração. No amor está a essência da oração e a
oração deve ser a flor e a coroa do amor. Se eu
atravessar o mundo odiando meus semelhantes pelo
fato de eles serem diferentes de mim; se estou
determinado a forçar minhas doutrinas sobre outros
com mão de ferro, eu não posso levantar essa
mesma mão para orar! Um coração malicioso polui
o sacrifício que ele mesmo oferece. Quando vou a
Deus em oração, posso estar ofendendo Ele quando
suponho que O estou agradando. Amigo, se você
esta vivendo uma vida ímpia, não me importa com
qual regularidade você dobra seus joelhos em
aparente devoção, não existe nada nisso! Se você
não está vivendo como um cristão deveria, suas
orações não provam nada – suas preces da manhã
ou da noite, suas orações em família e seus cultos de
oração são apenas a imitação da verdadeira oração e
nada mais.
Você pode ter sido batizado e pode ter
participado da Ceia do Senhor, mas tudo isso foi
zombaria – uma caricatura de santidade e nada além
disso – a não ser que você se esforce através da
santidade e trabalhe para conformar sua vida com a
vontade de Deus. Deus irá nos ouvir quando nós O
ouvirmos – Ele irá fazer nossa vontade quando
fizermos a Dele. Mas a persistência em experimentar
o pecado, especialmente a satisfação na inimizade e
o ódio são destrutivos à oração, até que sejamos
livres dessas coisas, nós não estaremos orando!
Esteja em paz com todos os homens ou não me fale
de oração! Deixe de lado toda oposição ao
Evangelho do Senhor Jesus ou você não pode orar
mais do que um demônio do Abismo!
Novamente – Saulo, com todas suas
orações, nunca tinha verdadeiramente orado porque
a humildade estava ausente de suas devoções. Que
teste este é! Saulo andava pelo mundo crendo que
ele era um homem justo. Ele não usava textos das
Escrituras entre seus olhos[8]? Que homem piedoso
ele era! Ele não tinha barras nas suas roupas – barras
azuis? Que santo ele era! Será que ele não jejuava
três vezes por semana e pagava os dízimos da
menta, das ervas e do cominho? Não existia um
homem melhor em todos os domínios de César do
que Saulo, isto em seu próprio julgamento! Quando
ele orava, existia um grande sabor de justiça própria
em seu exercício religioso e isso fazia o Altíssimo se
enojar. O Senhor se deleita em espíritos humildes e
contritos, mas os orgulhosos, Ele rejeita. Não havia
confissão de pecado, nem choro por misericórdia
através da propiciação – sua oração era a expressão
da gratidão de que Saulo era o Hebreu dos Hebreus,
com relação à Lei, irrepreensível!
Nas cortes mais altas, onde a aparência
exterior não é nada e Deus enxerga o coração, seus
discursos piedosos não eram contados como orações
de forma alguma. Se você se sente satisfeito com
suas próprias orações, permita-me sugerir que você
não ora, pois são poucos aqueles que oram
corretamente e estão satisfeitos com suas próprias
petições. Aqueles que supõem que pertencem à
“família boa o suficiente” irão se descobrir ruins o
bastante, e aqueles que se consideram
suficientemente bons serão trancados fora do Céu!
Se você tem uma justiça própria fabricada em suas
orações, jogue-a aos cachorros! Justiça própria é o
fermento que o Senhor nos manda jogarmos fora,
pois Ele abomina isso e considera-o como poluidor
de Sua Páscoa. Se você ora como uma pessoa
merecedora, apelando para suas próprias boas obras,
existe uma enorme mentira no fundo de suas
orações e isto mostra que você nunca orou na vida!
Digo novamente, isto mostra que é terrível
o trabalho de muitas pessoas que se baseiam em
uma religião exterior. Querido amigo, não fique
contrariado ou com raiva se isto for com você para
casa. Se, diante dos seus olhos, toda a montanha de
“trigo” de seu celeiro foi levada pelo vento como se
fosse palha, graças a Deus que isto foi levado agora,
pois ainda há tempo para recolher o verdadeiro
trigo! É melhor para você fazer esta descoberta triste
agora do que a fazer quando chegar à morte, e
acordar em outro mundo onde não haverá esperança
de corrigir o erro! Que este pensamento chegue a
cada professor de religião esta manhã – que você
que foi um homem ou uma mulher que orou por
tantos anos, assim como Saulo de Tarso, ao máximo
de seus anos e que abundou na aparência exterior da
devoção – venha a orar a Deus pela primeira vez!

2. Isto nos traz à minha segunda


reflexão, e está é, É MOSTRADO NO TEXTO
QUE ERA UMA COISA
EXTRAORDINÁRIA PARA TAL PESSOA
COMEÇAR A ORAR DAQUELA FORMA.
É colocado com um “eis”, uma marca de
admiração, “Eis que ele está orando!”. É uma
coisa muito difícil, algo muito maravilhoso, para
um homem verdadeiramente orar, um homem
que durante toda sua vida orava de uma maneira
falsa! É um milagre da Graça trazer um Fariseus
para clamar por misericórdia da mesma forma
que um penitente publicano! Não chega a ser
nem a metade da maravilha que um homem sem
religião começasse a orar, comparado a um
professor presunçoso orando. A mais
extraordinária conversão que poderia ocorrer
aqui hoje, não seria a de Elimas, o mágico, (Atos
13:8), mas sim a de Saulo, o Fariseu! A mais
extraordinária conversão na era apostólica foi de
um homem que, desde sua tenra idade, foi
mergulhado em justiça e satisfação próprias que
vem da atenção ao ritual, à cerimônia e à forma
de piedade. “Eis que ele está orando”.
É difícil para ele orar, pois ele foi um
formalista por um longo tempo. Ele esteva tão
enraizado ao hábito de devoção formal e tão
satisfeito com isto que é extremamente difícil trazê-
lo a enxergar coisas espirituais. A letra mata em mais
sentidos que um só – e um homem tão morto não
tem vida para as coisas espirituais. Se ele vai para o
seu quarto na hora da oração, ele percorre os
mesmos velhos trilhos sem o mínimo de sentimento
e coração. Ele repete palavras, mas é o mesmo para
ele do que ler em uma língua desconhecida. A
tendência é dizer a mesma coisa vez após vez até
que os lábios se movam mecanicamente e a alma
durma profundamente. A Bíblia é lida, mas a mente
está cochilando. O sermão é ouvido, mas o coração
está vagando. Qual é o bem disso? Mesmo assim,
quão difícil é para os homens saírem disto! É mais
fácil comparecer a milhares de assembleias, ou ir
à igreja todos os dias da semana do que oferecer
uma única oração verdadeira!
É muito difícil para você que é rico em
devoção falsa[9] entrar no Reino dos Céus. É difícil
colocar o Manto da Justiça de Cristo nas costas
daquele homem que acredita que seu próprio manto
é tão bom e tão necessário quanto o de Cristo – ele
vestem seus próprios trapos a tanto tempo que se
unirão a ele! Ele é muito orgulhoso para mendigar,
pois ele tem vivido com um cavalheiro em seus
próprios ganhos. Ele tem sido rico e grande em bens
por tanto tempo – e não necessita de nada – que ele
cresceu tão acostumado à sua forma de religião
externa e superficial, que você não consegue o fazer,
a não ser que haja um milagre da Graça, buscar
aquilo que é verdadeiro e profundo.
Novamente, a justiça própria é um grande
impedimento para vir a Cristo em oração. Nos dias
de Cristo, os publicanos e as prostitutas entraram no
Reino antes mesmo que os Fariseus que se
consideravam justos! É uma grande coisa conquistar
o “eu” pecaminoso, mas é uma coisa ainda maior
derrotar a natureza “justa”. O homem que é
completamente mal e sente isto, pede por
misericórdia, mas aqueles outros são maus no seu
coração e não se sentem assim e, portanto, não
buscarão o Senhor. Eles acreditam que fizeram tudo
que deveriam ter feito – enrolando-se nos seus
farrapos de justiça, eles imaginam que são aptos o
suficiente para entrar no Banquete Real sem colocar
as vestes nupciais que o Rei providenciou (Mt 22:1-
14). Custa, para um homem que considera a si
mesmo justo, um grande esforço para se colocar
para orar. Se ele soubesse somente que sua justiça
própria é só uma parte de sua imundície, ele
mudaria isto. A Escritura diz “Mas todos nós somos
como o imundo, e todas as nossas justiças como
trapo da imundícia” (Is 64:6). Quando nós vemos
nossas justiças assim, ficamos felizes em nos livrar
delas, pois elas são repugnantes e si mesmas e a tola
doença do orgulho envenena cada parte delas!
O homem que é acostumado a orar sem seu
coração e a ser religioso sem ser convertido é difícil
de ser posto para orar, pois ele é preconceituoso
com o caminho da Graça. Ele arquitetou sua mente
de tal maneira que não verá a Luz de Deus porque
acredita em sua própria luz. Você fala com ele sobre
a salvação pela Graça, redenção pelo sangue
precioso e justificação somente pela fé, mas ele não
suporta essas conversas – elas podem servir para os
ímpios, mas ele é de outra raça! Ele está encoberto
pelas glórias de si mesmo e, portanto, ele não pode
ver a Glória de Deus na face de Jesus Cristo. O
hábito da religião superficial e externa, sendo uma
vez formado, é tão difícil para ser quebrado quanto
para o etíope mudar a sua cor de pele. Um homem
abraça sua justiça própria como se abraça à sua vida.
Pele por pele, sim, tudo que um homem tem, ele irá
dar por sua vida legalista, a vida do seu eu.
Apesar disso, um homem que se considera
justo sabe que todos pensam que ele é justo e,
assim, ele não pode se humilhar por tais orações e
confissões como cabem aos pecadores comuns. Se
você fala para ele sobre se converter; por que falar,
senhor? Ele não precisa de conversão! Ele nasceu
bom! Ele sempre foi um cristão! Ele não precisa de
nenhuma mudança – você não sabe quão bom
cavalheiro ele é! Ele nunca chora no amargor de sua
alma, “Deus, tem misericórdia de mim, um
pecador”. Por que ele deveria? Sua mãe e pai foram
pessoas extremamente boas e ele “nasceu de novo”
no batismo e até então foi confirmado! O que mais
você precisa? Se lavar no sangue de Jesus? Bem,
talvez ele precise disso como os outros também, mas
não há um pecado grande nele, certamente, nada
pelo que ele deveria ser condenado. Pessoas desse
tipo são raramente levadas a orar. Elas podem ser
chamadas de prata reprovada, pois o Senhor as
rejeitou. Se tais pessoas um dia serão salvas, isso irá
maravilhar homens e anjos – e o próprio Senhor irá
clamar, “Eis que ele está orando!”.
Até mesmo a intensidade e o fervor
religiosos podem se tornar impedimentos para a
conversão de um homem quando o ardor é pela
falsa fé. O mais sério formalista está envolto em aço
e as flechas do Evangelho ricocheteiam nele. Alguns
adoram cada prego da porta da igreja e cada azulejo
da capela; se um padre atravessasse a rua, eles
estariam prontos para beijar o chão em que ele pisa!
Como estes podem ser trazidos à simplicidade da fé?
Entre os inconformados não existem pessoas que
são obcecados com insignificâncias, conservadores
com velhos métodos, inflexíveis nos hábitos, ferozes
por formas exteriores e ainda assim vazios de vida
espiritual? Aqueles que não têm nada dentro de si ou
da Graça espiritual são frequentemente os mais
ardentes pelos sinais exteriores e visíveis. O homem
que não tem nenhum centavo é o mais obcecado por
uma aparência respeitável, ele crê que se não
mantém uma boa aparência, logo sairá nos jornais.
Um sincero e gracioso cristão é tentando, pelo
contrário, a pensar tão pouco da sua “fachada” do
que a ter em boa estima. Ele valoriza ao máximo sua
vida e fé interiores no Senhor Jesus. Falo
novamente, irmãos e irmãs, é uma coisa tão
maravilhosa que um homem externamente religioso
venha um dia a começar a orar com sinceridade que
isto é considerado como um prodígio! “Eis que ele
está orando”.
Veja o que foi necessário no caso de Saulo
para fazer com que ele orasse – o próprio Senhor
Jesus teve que aparecer e o trazer aos seus joelhos!
Nada menos que uma Luz brilhando do Céu poderia
lhe mostrar sua maldade! Ó, que tal Luz possa
brilhar sobre as almas dos “justos”! O homem
orgulhoso caindo ao chão, empurrado de seus altos
lugares! Até que ele esteja ao chão, ainda haverá
glória em sua carne. Ele teve ser atacado com
cegueira, para que ele esteja pronto para aceitar a
enxergar pela fé. Por três dias ele não deve comer
ou beber, para fazer com que ele largue o vício desta
terra e o faça se alimentar do Pão do Céu. Grande
deve ser a agonia do seu espírito, pois ele, que era
tão intensamente justo aos seus próprios olhos, não
podia ser trazido a Cristo sem ser grandemente
machucado. Ele, que havia confiado em si tão
completamente e por tanto tempo, devia ser
arrancado pelas raízes antes que ele pudesse largar
suas confianças carnais. É necessária, assim como
foi, uma especial intervenção da Graça para trazer
um professor religioso a orar em espírito e verdade!
3. E agora quero que você perceba, em
terceiro lugar, que embora fosse uma grande
maravilha que Saulo tenha orado, ainda assim É
DIVINAMENETE DECRETADO NO
TEXTO QUE ELE O FIZESSE.
Algum de vocês poderia gostar de ter
ouvido a oração de Saulo de Tarso. Olhe pare ele
agora! Este bom homem! Quão humilhado, quão
modesto ele é! Sua oração começou com uma
completa e dolorosa confissão de pecados. Ele não
ofereceu nenhuma desculpa ou diminuição dos seus
erros. Saulo olhou para Ele, que fora traspassado
por ele e chorou por Ele. Ele reconheceu que era o
principal dos pecadores – “Pois que persegui a igreja
de Deus”. A única coisa que ele poderia ter falado
com uma forma de pedido de desculpas era, “o fiz
ignorantemente, na incredulidade.” Olhe para ele lá,
sozinho em um quarto, com seus olhos abertos mas
ainda assim cego, ele chora copiosamente, clama e
se humilha diante do Senhor. De fato, ele está
orando! No outro dia, enquanto ele estava pela
estrada de Damasco, todos o olhavam como um
santo, mas agora, por sua própria confissão, ele é
um pecador do mais alto nível! Escute como ele
difama a si mesmo! Ele se arrepende no pó e nas
cinzas! Ele ora por misericórdia. Ele implora para
que seja perdoado por seus vermelhos pecados. Ele
reconhece que se fosse mandado para o inferno, isso
seria mais do que justo, mas ele implora para que
pelo nome do Salvador, ele seja poupado e
permitido que veja a Luz do Rosto de Deus. Quase
consigo ouvi-lo fazendo esta triste confissão. Eis que
ele está orando!
Agora você o encontrará reconhecendo sua
enorme necessidade. Ele diz, “Senhor, eu necessito
de tudo! Não é somente uma coisa que me falta,
mas não tenho nada do que é digno de se ter.
Preciso de um novo coração e um espírito certo.
Preciso da Verdade de Deus nos meus lugares mais
escondidos e que, no meu interior, eu possa
conhecer a sabedoria”. Ele não tinha nada para se
orgulhar – ele saiu de um orgulhoso milionário para
um mendigo! Ele deve ter chorado, “Senhor,
recobre a minha visão novamente, mas
especialmente me forneça a visão espiritual. Tire
todas as escamas do meu coração assim como dos
meus olhos! Ajude-me a ver Jesus como meu
Salvador! Ajude-me a viver para Sua Glória, como
antes eu vivia para prossegui-lo”. Desta vez ele
estava orando – e ninguém tinha dúvida disso!
Posso vê-lo misturando com essa oração, o
mais humilde tipo de adoração. Como ele iria adorar
Jesus de Nazaré como seu Deus, agora que ele foi
conquistado por Ele?! Como ele choraria, “Meu
Senhor, meu Senhor, eu estava perseguindo a Ti?
Tu és o Messias O qual todas as 12 tribos
esperavam, e eu O rejeitei? Não fui eu quem me
sentei para ver Teu servo, Estevão, ser apedrejado e
guardei os mantos daqueles que atiraram pedras
nele, e eu que respirava ameaças contra Ti, meu
Senhor?”. Certamente a mais profunda reverência
de seu espírito castigado devem ter sido um aromo
doce ao Senhor, à medida que Saulo se prostrava no
pó diante Dele, e vez por vez falava, “Mas longe
esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo”. “Eis que ele está orando”.
Perceba que súplicas ele fez. Nunca lhe
surpreendeu a maneira como Saulo deve ter
suplicado ao Senhor? Suplicar é a parte mais
verdadeira e mais forte da oração. Agora, como
Saulo de Tarso suplicou? Sem dúvida nenhuma ele
implorou pela promessa, “Deixe o ímpio o seu
caminho, e o homem maligno os seus pensamentos,
e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele;
torne para o nosso Deus, porque grandioso é em
perdoar.” (Is 55:7). Ele conhecia as Escrituras do
Velho Testamento melhor do que nós conhecemos e
é certo que ele as usaria em sua oração. Eu o escuto
chorar, “Ó Senhor, Tu disseste: ‘Vinde então, e
argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados
sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos
como a neve; ainda que sejam vermelhos como o
carmesim, se tornarão como a branca lã.’” (Is 1:18).
É certo que ele percorreu cada letra do Salmo 51 –
pois este se encaixava a ele exatamente. “Livra-me
dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha
salvação, e a minha língua louvará altamente a tua
justiça.” (Sl 51:14).
Você não acha que depois de que ele tivesse
buscado todas essas promessas, ele iria, então,
considerar todas as características da Lei Cerimonial
que apontavam para Cristo? Como o capítulo 53 de
Isaías deve ter resplandecido em sua mente! Ele
estava cego, mas que luz deve ter flamejando em
seu espírito à medida que ele via o Homem de
Dores, que sabia o que era sofrer, e que escutava o
profeta dizer, “Verdadeiramente Ele tomou sobre si
as nossas enfermidades, e as nossas dores levou
sobre si... o castigo que nos traz a paz estava sobre
Ele”. Como Saulo deve ter começado a chorar a
Jesus, “Ó, Filho de Deus, seja minha Expiação, seja
minha Oferta pelo Pecado, seja meu Sacrifício da
manhã e da tarde! Seja para mim o aspergir do
sangue do Cordeiro Pascal!”. Sabendo, como ele
sabia, todos os modelos da Lei Judaica, ele deve ter
encontrado neles rico conforto, agora que,
contemplando Jesus, ele achou a Chave de cada um
desses modelos!
E, amados, tudo isto deve ter sido levado
em um maravilhoso fervor. Se nós pudéssemos ter
ficado à porta e escutado, teríamos entendido
porque o Senhor disse, “Eis que ele está orando”.
Antes, você deveria ouvi-lo repetindo palavras, mas
agora ele gemia, chorava, soluçava e derramava
lágrimas! Antes, você teria dito para si mesmo, “Ele
está dizendo suas preces”, mas desta vez era como
se um homem lutasse por sua vida ou estivesse em
amargor pela morte de seu único filho! Todas as
orações anteriores eram falsidades, mas esta era
verdadeira! Todo o resto era somente uma
performance, mas agora ele realmente se relacionou
com o Altíssimo! “Eis que ele está orando”. Agora
sim ele era um verdadeiro israelita, e eis que ele sai
mais do que vencedor através Daquele que o
ensinou a orar!

4. Em último lugar, nós vemos que tão


logo que ele orou, ERA MAIS DO QUE
EVIDENTE DE QUE O SENHOR HAVIA
ACEITADO A SUA ORAÇÃO. Como sei por
este texto que, “Eis que ele está orando”? Bem,
sei isso do texto, primeiramente, porque Deus
está aqui testemunhando que ele tinha orado.
Não deveria o Senhor está em uma reunião de
oração e escutar uma dúzia de nós falarmos
nossas preces e ainda assim não falar “Eis que ele
está orando”? Mas se uma voz do Céu falasse à
respeito de alguém, “Eis que ele está orando”,
nós saberíamos que aquele homem fora aceito
pelo Senhor. Assim aconteceu com Saulo. A
primeira vez que ele orou, Deus o ouviu. Tente
isto, meu amigo, tente! Se esta vai ser sua
primeira oração esta manhã, suspire ela a Deus
com uma fé humilde e Ele irá te ouvir!
Sabemos que Deus aceitou a sua primeira
oração, pois Deus estava prestes a respondê-la!
Ele estava aprontando Ananias para ir e confortar o
pobre arrependido e cego. Deus está prestes a
responder sua oração, meu querido irmão, esta
manhã, se você chorar a Ele. Talvez esteja presente
aqui no Tabernáculo o homem que irá falar com
você depois que você deixar essas paredes, ou
alguém logo irá lhe chamar para dizer-lhe o caminho
da paz mais perfeitamente. Se você largar hoje o
caminho da justiça própria e devoção formal, e
começar a chorar ao Deus Vivo, Deus irá se
encontrar com você!
Além disso, nós temos certeza que Deus
aceitou sua primeira oração, pois Ele chamou
atenção para ela com um “Eis”. Nós já ouvimos
falar das sete maravilhas do mundo e sobre outras
maravilhas a respeito das quais os homens clamam,
“Eis”, mas o que mais “surpreende” Deus é um
homem orando, um pecador orando! Deus não diz,
“Eis Herodes em seu trono” ou “Eis César em seu
palácio”, mas Ele diz, “Eis que ele está orando”,
como se Ele fizesse a oração do homem o centro da
observação, o foco da atenção! “Eis que ele está
orando”. O coração de Deus se deleita com orações
verdadeiras. O maior inimigo percebe a verdadeira
oração e treme quando um homem cai em seus
joelhos. E Deus chamou para que todos os Seus
santos na terra e Seus santos no Céu olhassem para
um homem em oração. Para o grande coração do
Pai, é um pródigo retornando! Ele clama, “Eis que
Ele está orando”, mas Ele quer dizer “Eis que ele
está voltando para casa! Eis que ele busca o rosto de
seu Pai! Eis que Eu achei meu filho que havia
perdido!” A oração é o prazer de Deus, a admiração
de Deus!
Amado, será que isso já passou pela sua
cabeça, que você poderia chamar a atenção do
Grande Deus para si? Temo que existam muitos de
quem poderia ser falado, “Eis que ele nunca ora!”.
Que coisa sobre a terra – um homem feito pelo seu
Criador que nunca adora seu Autor – um homem
que é diariamente alimentado pelas dádivas de Deus,
mas nunca O adora! Cavalheiro, você é um
monstro, você é a criatura mais nojenta dentre os
homens! Um homem que vive sem oração não
deveria viver! É uma maravilha que a terra não abra
sua boca e engula este miserável! E, apesar disso,
quando ele, de fato, ora, Deus faz disto uma
maravilha!
É sua primeira oração esta manhã. Eu o vejo
– o sermão acabou e ele chegou em casa. Ele sobe
para seu quarto. Ele tem medo que alguém entre e o
atrapalhe – ele está virando a chave. Ele está se
ajoelhando ao lado da cama na qual ele já dormiu
tantas vezes sem orar e ele clama, “Ó, Deus, eu não
sei o que falar, mas seja misericordioso comigo, um
pecador, e perdoe meus pecados!”. Escuto o barulho
das asas dos anjos à medida que eles se reúnem
neste local sagrado! Logo eles irão voar para cima
clamando, “Eis que ele está orando!”. Anos passarão
por você, jovem rapaz, e você pode chegar ao meio
de sua vida e ser exposto a mais aguda tentação – o
que você fará então? Bons espíritos irão olhar você,
temendo para que você não se perca, e demônios
olharão para sua indecisão. Você se lembrará
daquele dia no meio de Setembro em que você orou
pela primeira vez – e você dirá para si mesmo,
“Clamarei novamente a Deus, como eu tenho feito
frequentemente”. Você vai para o quarto e diz,
“Senhor, muitos dias se passaram desde a primeira
vez em que clamei a Ti e eu não parei de clamar,
mas agora eu estou em uma grave tribulação. Eu Te
imploro, proteja-me!”. Deus te ajudará. A grande
roda da Providência irá se mover por você.
Enquanto isso, ambos os anjos e demônios têm
espiado você – os anjos cantam e os demônios
resmungam: “Eis que ele está orando”.
Alguns anos passaram. O jovem rapaz
envelheceu e o tempo em que ele deve morrer
chegou. Ele sobe para o mesmo quarto da última
vez e lá estão aqueles que choram e o olham.
Perceba a serenidade da alma que está partindo! Ele
está olhando para a eternidade sem medo. Ele
conhece Aquele em que ele crê e está pronto para
partir. O que ele está fazendo em seus últimos
momentos? “Eis que ele está orando”. A oração, que
por muito tempo foi seu respirar vital e seu ar nativo
é agora –
“Sua senha de entrada aos portões da
morte
Ele entra no Céu orando!”.
Demônios que se reúnem em nossas últimas
horas fugirão como morcegos fogem da caverna
assustados por uma tocha! Eles fugirão quando
ouvirem a voz, “Eis que ele ora”. Os espíritos
iluminados encontrarão, felizes, a alma que está na
margem do Jordão quando escutarem a voz “Eis que
ele está orando”. Eles irão encontrar o espírito que
ora do outro lado das águas e sorrirão enquanto a
oração terrena se transforma em uma oração
Celestial! Logo estaremos para sempre com o
Senhor! Que Deus nos conceda isso, no Seu Santo
Nome. Amém.
HUMILDADE, A AMIGA DA
ORAÇÃO.
Pregado em Junho de 1884

“Não sou digno da mínima de todas as


Tuas misericórdias, e de toda a
verdade que Tu mostraste ao Teu
servo, porque com meu cajado passei
este Jordão, e agora me tornei em dois
bandos.”
Gênesis 32:10 (Versão King James[ 1 0 ] )
O caráter de Jacó está longe de ser
impecável, mas igualmente sem ser desprezível. Ele
possuía uma grande força de caráter e de
julgamento, mas isso de alguma forma se tornou
uma armadilha para ele, pois ele nem sempre se
moveu pela vida com a tranquilidade infantil de
Isaque, ou com a serenidade real de Abraão, mas
era, às vezes, astuto e crítico como os parentes de
parte de sua mãe. Mesmo assim, confronto a
depreciação ao caráter de Jacó a qual é muito
comum em alguns lugares, pelo fato de ele usar os
meios necessários, assim como orar. Nosso Deus é
o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó – e, muito
frequentemente, Ele é chamado do Deus de Israel –
e até mesmo de o Deus de Jacó. “Por isso também
Deus não se envergonha deles, de se chamar seu
Deus” (Hb 11:16). E se Ele não se envergonha de
ser chamado do Deus de Jacó, nenhum crente tem
algum direito de ter vergonha de Jacó! Com todas
suas imperfeições – e certamente ele as tinha – ele
era um nobre homem.
Algumas boas pessoas são construídas em
uma escala tão pequena para mostrar boas ou más
qualidades em medidas grandes – que tal frase não
seja usada com Jacó! Ele imprimiu seu caráter sobre
uma multidão de gerações e nações inteiras
carregam seus traços. Ele era um homem cheio de
energia, ativo, sofredor, resoluto e, portanto, suas
fraquezas se tornaram mais notáveis do que seriam
se estivessem em uma natureza mais quieta e calma.
Diga o que quiser dele, mas ele foi um mestre na
arte de orar – e aquele que bem pode orar é um
homem da altura de um príncipe! Aquele que pode
prevalecer com Deus irá certamente prevalecer
sobre os homens! Parece-me que quando um
homem é ensinado pelo Senhor a orar, ele é do
tamanho de qualquer emergência que,
possivelmente, pode surgir. Dependa disso, será
duro para qualquer um que luta contra um homem
de oração! Todas as outras armas podem ser
colocadas de lado, mas a arma da Oração, invisível
como é, e desprezada pelos mundanos, tem em si o
poder e a majestade que irão garantir a vitória! A
espada da oração tem tal gume que cortará através
de muitas armaduras de couraça. Jacó foi um
dominante príncipe quando ele estava ajoelhado.
Dr. Ditto em sua obra admirável, Ilustrações
Bíblicas, tem um capítulo sobre este texto o qual é
intitulado, “A Primeira Oração”. Eu difiro um pouco
deste título. Esta mal pode ser dita que fora a
primeira oração registrada na Escritura. Admito que
aquele excelente escritor excluiu a oração de Abraão
por Sodoma por se tratar de uma oração
intercessória, mas existem outras orações de Abraão
e outros casos de súplica. Ainda assim, é verdade
que seja dito que esta é a primeira oração na Bíblia
de um homem que ora por si mesmo e que é
registrada por completo. E, sendo a primeira, pode
ser vista em alguma medida como um padrão para
os suplicantes bem sucedidos.
Se você a examinar cuidadosamente,
perceberá que é um modelo que pode ser copiado
por qualquer filho de Deus em seus dias de
tribulação. Jacó inicia por apelar pela Promessa –
“Deus de meu pai Abraão, e Deus de meu pai
Isaque, o Senhor” (Gn 32:9a) – que melhor apelo
podemos ter do que a Promessa de um Deus fiel que
já a cumpriu para os nossos pais? Ele em seguida
apela por uma promessa especial que fora feita para
ele mesmo. Esta promessa estava envolvida em um
mandamento o qual ele estava obedecendo –
“Torna-te à tua terra, e a tua parentela, e far-te-ei
bem” (Gn 32:9b). Enquanto nós apelamos à Aliança
geral feita com todos os crentes em Cristo, nós
podemos também apelar particularmente e
especialmente a toda aliança que tem sido feita com
nossa própria alma pelo Espírito do bendito Deus.
Após isso, ele continua a apelar para sua
própria indignidade. Pela fé, ele tornou até mesmo
suas falhas em argumentos, como eu deverei
mostrar-lhe – “Não sou digno da mínima de todas as
Tuas misericórdias”. Ademais, ele foi apelar a Deus,
expondo seu perigo específico – “Livrame, peço-te,
da mão de meu irmão, da mão de Esaú” (Gn
32:11a). Ele também especifica seus filhos e seu
perigo diante de Deus – um apelo forte para um
Deus de Amor como O que temos – “porque eu o
temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com
os filhos.” (Gn 32:11b). Então ele conclui com
aquilo que sempre deve permanecer como um
potente apelo a Deus – “E tu o disseste” (Gn 32:12).
Ele insistiu na promessa de Deus e praticamente
clamou, “Faça como disseste”. É sábio divulgar a
promessa diante Dele que a fez e implorar por sua
execução! Nós devemos apelar à fidelidade de Deus
e clamar, “Lembra-te da palavra dada ao teu servo,
na qual me fizeste esperar” (Sl 119:49).
A primeira frase da oração de Jacó tem esta
peculiaridade, a saber, tem por base a humildade,
pois ele não se dirige ao Senhor como seu próprio
Deus, mas como o Deus de Abraão e Isaque. A
oração em si, apesar de ser urgente, nunca é
presunçosa. É tão humilde quanto deve ser séria!
Tomo para mim que mesmo quando Jacó, em seu
desespero, agarrou o Anjo e disse, “Não te deixarei
ir, se não me abençoares”, não havia ali intimidade
indevida em sua audácia santa. Havia uma coragem
extraordinária e uma determinação invencível – mas
era do tipo que Deus aprova – de outra forma Ele
não teria o abençoado ali. Nenhum homem ganha
uma bênção através de um ato pecaminoso
direcionado a Deus!
Por toda essa oração vejo, com toda sua
intensidade, uma lembrança amorosa de quem Jacó
é, e quem Jeová é – e o suplicante fala com termos
adequados para serem usados por um homem de
coração humilde para com o Deus três vezes Santo.
Este é o assunto de nosso discurso – humildade é a
atitude adequada para a oração. Nós iremos
começar com isso – “Não sou digno da mínima de
todas as Tuas misericórdias, e de toda a verdade que
Tu mostraste ao Teu servo”. Então avançaremos, em
segundo lugar, para a observação: a humildade é
promovida pelas mesmas convicções que
encorajam a oração – isto lhe mostrarei pelo texto.
E em terceiro, a humildade sugere e fornece
muitos argumentos que podem ser usados na
oração. Um homem orgulhoso tem poucas coisas a
trazer diante de Deus – mas quanto mais humilde
um homem é, mais numerosos são seus dominantes
apelos. Oração é uma ocupação adequada para um
pecador – e um pecador é a melhor pessoa para
exercer a oração.

1. Nossa primeira observação é que A


HUMILDADE É A ATITUDE ADEQUADA
PARA A ORAÇÃO. Não penso que Jacó
poderia ter orado a não ser que tivesse rasgado as
vestes da justiça própria às quais ele usou na sua
contenda com Labão – e ele permaneceu sem
estas vestes diante da infinita majestade do
Altíssimo. Observe que aqui ele não fala diante
de um homem, mas diante de Deus, pois ele
clama, “Não sou digno da mínima de todas as
Tuas misericórdias”. Ele tinha falado com Labão
– Labão que havia feito dele um escravo, que o
usou da maneira mais mercenária – e que o havia
perseguido em fúria feroz porque ele tinha
abandonado o serviço com suas esposas e filhos
para que ele pudesse voltar para seu país nativo.
Para Labão ele não diz, “Sou indigno do que
possuo”, pois, até onde o grosseiro Labão sabia,
Jacó era digno de muito mais do que ele havia
recebido em forma de salários.
Para Labão ele usa muitas verdadeiras
frases de auto vindicação e justificação. As posses
de Labão cresceram bastante sobre o incessante
cuidado de Jacó. Ele cuidou dos rebanhos de Labão
com constante diligência e, ele diz, “De dia me
consumia o calor, e de noite a geada; e o meu sono
fugiu dos meus olhos” (Gn 31:40). Ele declarou que
nunca tomou um carneiro do rebanho com o qual
devia alimentar sua própria família; que ele, de fato,
havia trabalho sem nenhum salário exceto as filhas
(de Labão) que se tornaram suas mulheres. E ele vai
até o fim dizendo, “Se o Deus de meu pai, o Deus
de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por
certo me despedirias agora vazio”. O mesmo
homem que fala daquela maneira com Labão, se
vira e confessa ao seu Deus, “Não sou digno da
mínima de todas as Tuas misericórdias”. Isto é
perfeitamente consistente e verdadeiro. Humildade
não é dizer coisas falsas contra você mesmo –
humildade é formar uma estimativa correta de si
mesmo. Direcionado a Labão, foi uma correta
estimativa por um homem que trabalhou tão duro
para ganhar tão pouco, reivindicar que ele tinha um
direito o qual Deus o havia dado. E ainda assim,
diante de Deus, era perfeitamente honesto e sincero
de Jacó dizer, “Não sou digno da mínima de todas
as Tuas misericórdias, e de toda a verdade que Tu
mostraste ao Teu servo”.
Agora, sempre que você for orar, se você
foi anteriormente compelido a dizer algo muito duro
sobre sua própria integridade ou seus negócios, ou
se você ouviu outros falando em seu louvor, esqueça
tudo isto – pois você não pode orar se isto tiver
algum efeito sobre você. Um homem não pode orar
com uma boa opinião de si mesmo – tudo o que ele
poderá fazer é resmungar, “Ó Deus, graças te dou
porque não sou como os demais homens” (Lc
18:11), e isso não é oração de maneira nenhuma!
Uma visão elevada sobre sua própria excelência irá
lhe tentar a olhar para baixo com desprezo para o
seu próximo – e isto é a morte para a oração. Deus
expulsa de Seu templo todas as orações orgulhosas!
Ele não pode suportar tais provocações! Você deve
tirar seus sapatos quando fica de pé em solo santo –
estes mesmos calçados que são bem leves para se
usar quando você tem que pisar sobre o leão e o
dragão – estes mesmos sapatos que o servem bem e
são adequados para serem usados quando viajar
através desse grande e terrível deserto. Tire-os,
quando diante de seu Deus, mesmo aqueles sapatos
que você é forçado a usar diante de vilões!
Quando nós vemos Jesus, dizemos Dele,
“eu não sou digno de desatar a correia da sua
sandália”. “Senhor, eu não sou digno” é nosso
clamor. Como Abraão, nós reconhecemos que
somos nada além de pó e cinzas – menor que o
menor dos santos – honrados somente por ser-nos
permitido executar qualquer função servil na casa de
nosso Mestre! Perceba, então, que isto foi essencial
para Jacó se colocar na atitude certa depois de ter
disputado com Labão. Foi adequado que em
levantando seus olhos para o Céu, ele deveria usar a
mais humilde linguagem e de maneira alguma
demonstrar ter algum mérito na presença do Deus
três vezes Santo. Irmãos e irmãs, seria doentio para
nós usarmos alguma linguagem de mérito diante
de Deus, pois nós não temos mérito nenhum! E se
nós tivéssemos algum mérito, não necessitaríamos
orar!
Foi bem observado por um velho teólogo
que o homem que reivindica ao seu próprio mérito
não ora, mas exige sua dívida. Se peço a um homem
para me pagar uma dívida, não sou suplicante, mas
estou reivindicando queixosamente os meus direitos.
A oração de um homem que pensa que tem mérito é
como servir ao Senhor com um decreto – não é
direcionar um pedido – é a emissão de uma
exigência. O mérito, com efeito, diz, “Paga-me o
que Tu me deve”. Pouco tal homem terá com Deus,
pois se o Senhor somente nos paga o que Ele nos
deve, um lugar no além do tormento rapidamente
será nosso pagamento! Se, enquanto vivermos aqui,
nós não recebemos nada além do que merecemos,
deveremos ser reprovados e exilados! O mais vil dos
mendigos obtém mais do que merece. Até mesmo a
vida, em si mesma, é um presente do Criador! “De
que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se
cada um dos seus pecados” (Lm 3:39). E mesmo
que sejamos trazidos humilhados como devemos,
ainda assim devemos admitir que “As misericórdias
do Senhor são a causa de não sermos consumidos,
porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm
3:22). Qualquer outra atitude que não seja a de
humildade deve ser a mais imprópria e presunçosa
na Presença do Altíssimo.
Deixe-me adicionar, também, que em
tempos de grandes pesos sobre o coração, não há
uma quantia de justiça própria ali se
intrometendo. Jacó estava muito apavorado e
extremamente angustiado. E quando um homem é
trazido a tal estado, a linguagem mais humilde o
satisfaz. Aqueles que estão fartos de pão podem se
gabar, mas os famintos imploram. Que os
orgulhosos tomem cuidado para que enquanto o pão
ainda esteja em suas bocas, a ira de Deus não venha
até eles. Aquele que é trazido à pobreza; aquele que
é afligido no espírito; aquele que jaz às portas da
morte não é um homem que mostra as penas do
pavão e esbanja seus enfeites! Ele busca para si a
bondade amorosa do Senhor e implora por
misericórdia. Este é o seu clamor – “Misericórdia!
Misericórdia!”. Ele percebe que não consegue orar
até que ele tenha chegado à sua verdadeira postura
que é a de um indigno. E, tendo chegado a isso, ele
tem o pé bem firmado, pois ele implora à absoluta
soberania da Graça Divina e ao amor sem limites do
coração Divino como argumentos substanciais para
misericórdia!
Estou convencido que falhamos em nossas
orações, em certas vezes, porque não nos
humilhamos o suficiente. Somente se você estiver
sobre o seu rosto é que prevalecerá ao Trono. Se
você tem alguma justiça de si mesmo, você nunca
deverá ter a retidão de Cristo. Se você não tem
nenhum pecado, você não se lavará no sangue
precioso! Se você é forte, você será deixado em sua
própria fraqueza. Se você é rico e grande em bens,
você será mandado para fora de mãos vazias. Mas
quando você pode verdadeiramente confessar sua
insignificância e se prostrar diante de Deus, Ele
terá que lhe ouvir. “Das profundezas a ti clamo, ó
SENHOR” (Sl 130:1). Nenhuma oração chega mais
rápido às alturas do que aquela que é feita nas
profundezas! Quando você está nu, o Senhor irá te
vestir. Quando você está faminto, Ele te alimentará.
Quando você é um nada, Ele será o seu Tudo em
Todos, pois é assim que Ele ganhará a glória para Si
Mesmo e Suas misericórdias não serão pervertidas
para alimentar o seu orgulho. Quando nossas
misericórdias magnificam o Senhor, nós teremos
muitas delas, mas quando nós as usamos para
magnificar a nós mesmos, elas irão se separar de
nós. Veja, então, caro amigo, o quão necessário é
para que nós nos aproximemos do Senhor em uma
atitude de humildade.
Chamo sua atenção para a presente frase
assim como é usada no texto – Jacó não diz, como
nós pensaríamos que ele fosse falar, “Eu não era da
mínima de todas as Tuas misericórdias, e de toda a
verdade que Tu mostraste ao Teu servo”, mas ele
diz “Eu não sou digno”. Ele não apenas menciona à
sua insignificância quando cruzava o Jordão com
um cajado na mão – um pobre e solitário exilado –
ele crê que era insignificante naquele tempo, e até
mesmo agora, olhando para seus rebanhos, manadas
e sua grande família, e para tudo o que ele sofreu e
fez, ele clama “Eu não sou digno!” O que? Todas as
misericórdias de Deus não lhe fizeram digno, Jacó?
Irmãos e irmãs, a Graça não é nem o filho e nem o
pai da dignidade humana! Se nós tomarmos toda
Graça que pudermos, nunca seremos dignos daquela
Graça, pois a Graça, assim como entra onde não
existe dignidade, também não nos dá merecimento
quando somos julgados por Deus! Quando tivermos
feito tudo, somos servos inúteis – nós somente
fizemos o que era nosso dever!
Não consigo suportar o homem que, em
sua tola murmuração sobre sua própria perfeição,
fala como se ele tivesse se tornado merecedor da
Graça. O Senhor tenha misericórdia de tais
ostentadores e os traga ao seu verdadeiro
ancoradouro, para que eles possam admitir que não
são merecedores! Quando você e eu chegarmos ao
Céu, apesar de que Deus possa dizer, “Comigo
andarão de branco; porquanto são dignas disso” (Ap
3:4), ainda assim, nunca será correto que nenhum
de nós diga que somos dignos de qualquer coisa que
Deus nos conceder! Nossa canção deverá ser, Non
nobis Domine[11] – “Não a nós, SENHOR, não a
nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua
benignidade e da tua verdade” (Sl 115:1).
Tocar na glória que vem a nós através das
operações da Graça Divina, mesmo que com nosso
dedo mindinho, significaria traição contra o
Altíssimo! Assumir, por um momento, que nós
merecemos alguma coisa do Senhor Deus, é uma
glória tão vã, tão falsa, tão injusta que nós devemos
abominar até mesmo o pensamento sobre isso, e
chorar como Jacó, “Eu não sou digno!”. Jó, que se
defendeu com todo vigor e possivelmente com
amargura, não demorou para ouvir Deus falando
com ele no redemoinho e clamar, “Com o ouvir dos
meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus
olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e
na cinza” (Jó 42:5,6). Se prostrar diante do Trone é
a atitude adequada para a oração – na humildade
está nossa força para suplicar.

2. Em segundo lugar, o mesmo


pensamento será mantido, mas colocado sob
uma luz um pouco diferente, enquanto nós
percebemos que ESTAS CONSIDERAÇÕES
QUE NOS LEVAM NA DIREÇÃO DA
HUMILDADE SÃO A FORÇA DA NOSSA
ORAÇÃO. Observe, primeiramente, que Jacó,
nesta oração, mostrou sua humildade através da
confissão da obra do Senhor em toda sua
prosperidade. Ele diz com um coração cheio,
“todas as Tuas misericórdias, e de toda a verdade
que Tu mostraste ao Teu servo”. Bem, mas Jacó,
você tem rebanhos imensos de ovelhas e você os
adquiriu. E através do seu cuidado, eles
cresceram muito – você não considera que esses
rebanhos são inteiramente do seu próprio
trabalho? Certamente você deve perceber que
você foi altamente diligente, prudente e
cuidadoso e assim você se tornou rico, não é
mesmo?
Não! Ele avalia seu grande estado e fala de
tudo isto como misericórdias – misericórdias as
quais o Senhor mostrou ao Seu servo! Não faço
objeções a livros de homens que se fizeram[12], mas
temo que todos estes homens tenham uma tendência
grande de adorar àqueles que os fizeram. É muito
natural que eles façam isto. Mas, irmãos e irmãs, se
nós nos fizermos, tenho certeza que temos um
criador muito ruim e que devem existir muitas falhas
em nós! Seria melhor se nos colocássemos no pó e
fossemos refeitos para que nos tornemos homens
feitos por Deus! Escute, ó orgulhoso independente
mortal! E que importa se você ganhou tudo – quem
lhe deu a força para ganhar isto? Que importa se seu
sucesso veio de sua sagacidade – quem lhe deu a
habilidade e a capacidade de previsão? Que importa
que você tenha sido sóbrio e trabalhador, por qual
razão você não é gastador como outros e por que
você não gasta em farras tudo aquilo que Deus lhe
concedeu? Ó, senhor, se você é levantado um
centímetro acima da imundície, você deveria
agradecer a Deus por isto, pois é da imundície que
você veio!
Deus ajuda Seus servos quando eles estão
fracos. Mas quando eles se imaginam fortes, Ele
frequentemente os humilha. Quando nós clamamos,
“Não é esta a grande babilônia que eu edifiquei para
a casa real, com a força do meu poder, e para glória
da minha magnificência? (Dn 4:30), Deus pode até
não nos lançar para fora, mas Ele irá nos lançar para
baixo. Ele não lançou fora Nabucodonosor, mas Ele
permitiu que ele perdesse sua razão e que se
misturasse com as feras do campo. Se nós agimos
com brutalidade, o Senhor pode permitir que nos
tornemos como feras em outras situações. O uso de
nossos poderes racionais é um presente de caridade
celestial que deveria nos guiar a uma profunda
gratidão – mas nunca nos induzir ao orgulho pelas
nossas habilidades superiores! Se nós estamos fora
do hospício, devemos abençoar o Senhor da forma
mais humilde possível. Será que ousaremos nos
gloriar de nossos talentos? Será que o machado deve
ser orgulhar contra aquele que o usa para cortar?
Será que a rede deve exaltar a si mesma contra o
pescador que a arrasta pelo mar? Isto seria, de fato,
uma loucura – uma loucura que provoca a Deus!
Enquanto Deus faz tanto por nós, nós deveríamos
ser humilhados pelo peso da obrigação que esse
amor nos acumula.
Isto deve, também, produzir em nós um
apego a Deus em oração, pois agora podemos dizer,
“Senhor, Tu fizestes tudo isto para mim! É claro que
Sua mão tem estado em todas as felicidades de Teu
servo – que ela continue comigo então”. Ó, homem
que se fez, quando você se realiza, será que você
pode se manter e se preservar no que quer? E você
espera chegar ao Céu e tirar sua capa e dizer,
“Hosana para mim mesmo”? Você se baseia em
tamanha vangloria? Se você busca sua própria
glória, você não terá lugar naquela cidade em que a
Glória de Deus é a felicidade que a tudo permeia.
Então, aquilo que nos tenciona a ser humildes,
também se torna uma assistência para nossas
orações.
O próximo ponto é uma consideração das
misericórdias de Deus. Em meu caso, nada me faz
mais humilde do que a misericórdia de Deus. E, em
sequência a isto, sou prontamente subjugado pela
bondade de alguns homens. Quando a trombeta
chama para batalha, estarei passo a passo contra
aquele que duela comigo – e tudo o que há de
homem em mim está desperto para o conflito – mas
quando tudo é paz e quietude, e todos desejam o
meu bem, me maravilho com sua bondade, e afundo
em meus sapatos com temor para que não aja de
nenhuma forma indigna. O homem que possui a
devida percepção de sua personalidade será
humilhado por palavras de elogio. Quando nos
lembramos do carinhoso amor do Senhor para nós,
não podemos fazer nada a não ser contrastar nossa
pequenez com a grandiosidade de Seu amor, e ter
uma sensação de auto humilhação. Está escrito,
“Espantar-se-ão e perturbar-se-ão por causa de todo
o bem, e por causa de toda a paz que eu lhe dou.”
(Jr 33:9). Estas palavras não poderiam ser mais
verdadeiras.
Tome um caso – Pedro foi pescar e se ele
houvesse capturado alguns peixes, seu barco teria
flutuado bem alto no lago. Mas quando o Mestre
entrou no barco e disse-o para jogar a rede para que
ele a puxasse com uma multidão de peixes, então o
pequeno barco começou a afundar! Para baixo e
para baixo este foi e o pobre Pedro desceu também
até que caiu aos pés de Deus e chorou, “Senhor,
ausenta-te de mim, que sou um homem pecador”
(Lc 5:8). Ele estava confuso e rendido, ou ele nunca
teria pedido para que o bendito Mestre o deixasse –
a bondade de Cristo o espancou com delicadeza
até que ele temesse o seu Benfeitor! Você não sabe
o que é ser levado abaixo pela bondade infinita,
oprimido pela misericórdia, varrido por uma
avalanche de amor? Eu, pelo menos, conheço tal
coisa e não conheço nenhuma outra experiência que
já me tenha feito tão pequeno aos meus próprios
olhos! Sinto-me indigno da menor de Suas
misericórdias! Encolho-me e tremo na presença de
Sua ajuda! Se alguma vez a bondade providencial
fizer isto, tenha certeza que o amor redentor será
muito mais efetivo!
Aqui está um pecador orgulhoso, se
gabando de sua própria justiça. Você não pode tirar
dele o seu louvor ao próprio ego, mas, pouco a
pouco, ele aprende que o Filho de Deus deu Sua
vida para redimi-lo, derramou Seu coração na Cruz
do Calvário, o Justo pelo injusto, para trazê-lo a
Deus – e agora ele tem outro pensamento! Nenhum
homem poderia pensar que ele merecia que o Filho
de Deus deveria morrer por ele! Se um homem
pensa assim, deve estar insano! O amor que morre
toca o coração e o homem clama, “Senhor, não sou
digno de uma gota de Seu precioso sangue! Não sou
digno de um suspiro de Seu sagrado coração! Não
sou digno que Tu tenhas vivido na Terra por mim,
muito menos que Tu tenhas morrido por mim”. Um
sentimento dessa maravilhosa bondade a qual é o
maior louvor do amor de Deus, isto é, que no
devido tempo Cristo morreu pelos ímpios, traz o
homem aos seus joelhos, derrotado pelas
misericórdias de Deus!
Agora, se houver algum homem aqui que
tem uma boa esperança através da Graça de que,
pouco a pouco, ele estará no Céu com Deus – se ele
meditar nesta visão alegre, se ele se imaginar com
uma coroa sobre sua cabeça e o ramo de palmeira
em sua mão, se ele se imaginar desfrutando de
infinitas Aleluias – “Longe do mundo de tristeza e
pecado,
Com Deus eternamente selado”
A próxima coisa que ele deverá fazer é se
sentar e chorar para que isto se torne realidade! Tal
pobre, inútil e pecadora alma como a minha – será
que posso ser glorificado, e será que Jesus preparará
um lugar para mim? Será que Ele me dá Sua própria
certeza que Ele voltará e me receberá Nele? Sou eu
um coerdeiro com Cristo e um favorecido filho de
Deus? Isto faz com que nos perdamos em adoração
de gratidão. Ó, senhores, nós nunca poderemos mais
abrir nossa boca com ostentação! Nosso orgulho é
afogado neste mar de misericórdia!
Se nós tivéssemos um pequeno Salvador, e
um pequeno Céu, uma pequena misericórdia,
poderíamos levantar nossas bandeiras. Mas com um
grande Salvador, e uma grande misericórdia, e um
grande Céu, nós podemos somente entrar, como
Davi, e sentar diante do Senhor e falar, “Por que
tudo isto para mim?”. Tenho um querido irmão em
Cristo que agora está extremamente doente, o
Reverendo Curme, o vicário de Sandford em
Oxfordshire, que tem sido um caro amigo por
muitos anos. Ele reflete humildade e divide seu
nome em duas palavras Cur me? Que significa “Por
que eu?”. Geralmente ele diz, “Por que eu, Senhor?
Por que eu?” Verdadeiramente posso falar o mesmo,
por que eu? – “Por que fui eu feito para ouvir Tua
voz
E entrar onde há lugar para mim
Enquanto milhares fazem uma escolha
miserável E preferem morrer de fome do que
vir?”
Toda esta excedente bondade do Senhor
tende a promover humildade e, ao mesmo tempo,
nos ajudar em oração, pois se o Senhor é tão
enormemente bom, nós devemos adotar a linguagem
da mulher fenícia quando o Mestre lhe disse, “Não é
bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos
cachorrinhos”. E ela respondeu, “Sim, Senhor, mas
também os cachorrinhos comem das migalhas que
caem da mesa dos seus senhores” (Mt 15:27).
Então nós iremos pedir ao nosso Senhor que
nos dê migalhas de misericórdia – e elas serão
suficiente para nós, pobres cachorrinhos. As
migalhas de Deus são maiores que os pães dos
homens e se Ele nos der o que para Ele é uma
migalha, isto nos será uma refeição. Ó, Ele é um
Grande Doador! Ele é um Glorioso Doador! Nós
não somos dignos dos menores de Seus presentes!
Não podemos estimar Sua menor misericórdia, nem
descrevê-la completamente, nem O louvar por ela
suficientemente! Seu raso é muito profundo para
nós! Seu montinho de terra de misericórdias irão se
elevar muito acima de nós! O que diremos da Sua
montanha de misericórdia?
Ademais, uma comparação do nosso
passado com nosso presente irá nós levar a
humildade e, também, será uma ajuda em oração.
Jacó, primeiramente, se descreve assim, “com meu
cajado passei este Jordão”. Ele está completamente
sozinho, nenhum servo o auxilia. Ele não tem
nenhum bem, nem mesmo um pouco de alguma
parcela – nada além de um cajado para andar.
Agora, depois de alguns anos, aqui está Jacó
voltando, atravessando o rio na direção oposta. E ele
tem consigo dois bandos. Ele é um grande criador
de gado, com grande riqueza em todo tipo de
rebanho. Que mudança! Digo sempre para aqueles
homens que Deus fez prosperar que eles nunca
devem se envergonhar do que eles eram – eles
nunca deveriam se esquecer do cajado com o qual
eles atravessaram este Jordão! Tenho um bom amigo
que preservou o eixo de madeira do carrinho no
qual ele trouxe seus bens quando veio, pela primeira
vez, para Londres. Este era colocado em cima de
sua porta da frente e ele nunca se envergonhava de
dizer sobre como ele veio do interior, trabalhou duro
e fez seu caminho pelo mundo.
Gosto muito mais disso do que da nobreza
rebuscada que se esquece da solitária moedinha que
trazia nos bolsos quando entraram nesta cidade. Eles
ficam indignados se você os lembrar do seu velho e
pobre pai que está no interior, pois eles descobriram
que sua família é muito mais antiga e honrada! De
fato, um de seus ancestrais veio junto com
Conquistador! Nunca senti nenhum desejo de ser
aparentado com aquele grupo de vadios, mas os
gostos mudam, e existem alguns que pensam que
eles devem ser seres superiores, pois são
descendentes dos piratas das ilhas Norman.
Ninguém se enche de si tão rapidamente como eles!
Observe que Jacó não diz, “Anos atrás eu estava em
casa com meu pai, Isaque, um homem de grande
patrimônio”. Nem mesmo ele fala de seu avô,
Abraão, como um nobre de uma antiga família em
Ur dos Caldeus, aquele que foi recebido por
monarcas.
Não, ele não é tão estúpido para se
vangloriar de aristocracia ou de riqueza, mas ele
francamente admite sua pobreza inicial – “Com meu
cajado, um pobre, solitário e sem amigos, eu
atravessei este Jordão, e agora eu me tornei dois
bandos”. O humilha pensar no que ele era, mas, ao
mesmo tempo, isto o fortalece em oração, pois, com
efeito, ele suplica, “Senhor, Tu fizeste dois bandos
de mim para que Esaú tenha mais o que destruir? O
Senhor me deu essas crianças para que elas pereçam
pela espada?”. Então, novamente eu digo – aquilo
que o humilhou também o encorajou – ele
encontrou força para a oração naquelas mesmas
coisas que forneciam-lhe motivo para ser
humilhado!

3. E agora, já que o tempo voa,


devemos acolher o terceiro ponto, ainda batendo
no mesmo prego – A VERDADEIRA
HUMILDADE NOS DÁ ARGUMENTOS
NA ORAÇÃO. Olhe para o primeiro
argumento, “Não sou digno de todas as Tuas
misericórdias”. Não, “Não sou digno da mínima
de todas as misericórdias que Tu mostraste ao
Teu servo. Tu guardaste Tua Palavra e foste
verdadeiro para comigo, mas isto não foi porque
eu fui verdadeiro para Contigo. Não sou digno
da verdade que Tu mostraste ao Teu servo”. Não
existe poder em tal oração? Não é a misericórdia
garantida por uma confissão de indignidade? O
homem mais elogiado por Cristo, até onde me
lembro, usou essa mesma linguagem. O
centurião veio à Cristo e disse, “Senhor, não sou
digno de que entres debaixo do meu telhado” –
ainda assim, este foi o homem sobre quem o
Senhor disse, “Em verdade vos digo que nem
mesmo em Israel encontrei tanta fé” (Mt 8:10).
Dependa disto se você quer o elogio de
Cristo, você deve ser humilde em sua própria
estima, pois Ele nunca elogia o orgulhoso! Mas Ele,
sim, honra o humilde. Já que o Senhor fora tão
gracioso com ele, quando este era indigno, Jacó não
teria assim um esplêndido argumento para se basear
enquanto ele lutava com Deus e dizia, “Livrame de
Esaú, meu irmão, apesar de que o mal que o tenha
feito me faz indigno de tal livramento”? Sempre
temos medo de que, em nosso tempo de tribulação,
Deus nos trate de acordo com nossa indignidade –
mas Ele não fará isto. Dizemos a nós mesmos,
“Enfim, os pecados de minha mocidade me
alcançaram. Agora eu serei tratado de acordo com
minhas iniquidades!”.
Mas Jacó praticamente disse, “Senhor,
nunca fui digno da menor das coisas que Tu fizeste
por mim. E todos os Seus tratamentos comigo são
em pura Graça. Permaneço aqui onde sempre
permaneci – como um devedor de Teu imerecido e
soberano favor! E apelo a Ti – já que fizestes isto
tudo por mim, um indigno, eu imploro a Ti, faça
ainda mais! Eu não mudei, pois sou tão indigno
como sempre fui, e Tu não mudaste, pois Tu és bom
como sempre foi. Desta maneira, continue por
salvar Teu servo”. Isto é apelar poderosamente com
o Altíssimo!
Então, por favor, note que enquanto Jacó
assim apelava por sua própria indignidade, ele não é
lento em apelar para a bondade de Deus. Ele fala
com as mais expressivas palavras, com as mais
amplas e cheias de significado. “Não sou digno da
mínima de todas as Tuas misericórdias. Não posso
enumerá-las, a lista seria longa demais! Parece-me
que Tu me deste todos os tipos de misericórdias,
todo tipo de bênçãos. Sua misericórdia dura para
sempre e Tu me deste todas elas”. Como ele
engrandece a Deus de boca cheia quando diz,
“Todas as Tuas misericórdias”. Ele não diz, “toda a
Tua misericórdia” – a palavra está no plural – “da
mínima de todas as Tuas misericórdias”. Deus tem
muitos conjuntos de misericórdias – os favores
nunca vêm sozinhos – eles nos visitam em tropas!
Todas as árvores na videira de Deus são cheias de
ramos e cada ramo é carregado de fruto! Todas as
flores no jardim de Deus florescem duplamente – e
algumas delas florescem até sete vezes mais!
Nós não temos somente misericórdia, mas
misericórdias tão numerosas como a areia!
Misericórdia para o passado, presente e futuro!
Misericórdia para acalmar aflições, misericórdia para
purificar alegrias! Misericórdia por nossos pecados,
misericórdia por nossas coisas sagradas. “Todas as
Tuas misericórdias” – a expressão tem um vasto
campo de significado! Ele não sabe como expressar
seu senso de compromisso exceto com plurais e
universais! A linguagem é tão cheia, que eu não
consigo exibir todo o seu significado! Ele parece
dizer ao Senhor, “Por causa de toda essa grandiosa
bondade, eu oro a Ti que vá e permaneça com Teu
servo. Salva-me de Esaú, ou todas as Tuas
misericórdias serão perdidas! Não foi o Senhor que,
em Seu amor passado, me deu a garantia de que
continuaria comigo até o fim?”. Misericórdia e
verdade estão continuamente entrelaçadas por toda a
Bíblia – “Todas as veredas do Senhor são
misericórdia e verdade” (Sl 25:10). “Deus enviará a
sua misericórdia e a sua verdade.” (Sl 57:3). Essas
duas graciosidades dão as mãos na oração de Jacó –
“Todas as Tuas misericórdias e toda Tua verdade!”.
Ó, irmãos e irmãs, se você gostaria de lutar com
Deus e prevalecer, use o máximo que puder desses
dois argumentos mestres – misericórdias e verdade!
Estas são duas chaves que abriram todos os tesouros
de Deus! Estes são dois escudos atrás dos quais você
se protegerá do alcance de todo dardo de chamas!
Aquilo que fez Jacó se humilhar também o fez
poderoso em oração. A gratidão pelas misericórdias
o fez se prostrar diante de Deus, mas isso também o
permitiu se agarrar ao Anjo com a mão da
persistência da fé!
Note, em seguida, como ele fala “Teu
servo”. Um apelo está oculto nesta palavra. Jacó
poderia ter se chamado por outro nome nesta
ocasião. Ele poderia ter dito, “Não sou digno da
mínima de todas as Tuas misericórdias, e de toda a
verdade que Tu mostraste ao Teu filho”. Isto seria
verdade. Mas não seria adequado. Suponha que
tenha ocorrido assim – “Ao Teu escolhido”? Isto
teria sido verdade, mas não seria tão humilde. Ou,
“ao homem do Teu pacto” – isto teria sido correto,
mas não uma expressão tão humilde como a qual
Jacó se sentiu obrigado em usar no tempo de sua
angústia, quando os pecados de sua juventude foram
trazidos à sua mente. Ele parecia dizer, “Senhor, sou
Teu servo. O Senhor me trouxe até aqui e aqui estou
por causa desse chamado – portanto, me proteja”.
Certamente um rei não irá se recusar ao ver seu
servo engajado em um serviço real!
Jacó estava no caminho do dever e Deus
iria fazer deste, um caminho de segurança. Se
fizermos de Deus nosso Guia, Ele irá nos guardar.
Se Ele é nosso Comandante, Ele será nosso
Defensor. Ele não permitirá que nenhum Esaú
esmague à espada nenhum de Seus Jacós! Quando
nos atiramos completamente ao Senhor através de
uma obediência de fé, nós podemos depender de
que Ele irá nos levantar e nos carregar por todo o
caminho! Mestres são mandados a dar aos seus
servos o que é justo e correto – e nós podemos ter
certeza de que nosso Mestre Celestial fará o mesmo
para cada um de nós que O serve. Jacó estava em
perigo ao obedecer a seu serviço e, portanto, a
honra do Senhor haveria de garantir que ele seria
salvo. Pode parecer algo pequeno ser um servo, mas
é algo grandioso clamar por isso em nossa hora de
necessidade! Assim Davi o fez – “Faze resplandecer
o teu rosto sobre o teu servo” (Sl 31:16). “E não
escondas o teu rosto do teu servo, porque estou
angustiado” (Sl 69:17). “Ó Deus meu, salva o teu
servo, que em ti confia” (Sl 86:2). Estes são nada
mais do que exemplos de maneiras nas quais
homens de Deus usam sua posição como servos
para um argumento para atingir a misericórdia.
Jacó tinha ainda outro apelo que mostrou
sua humildade e que foi um argumento feito de
fatos. “Com meu cajado”, ele disse, “passei este
Jordão”. “Este Jordão” que corria forte e que
recebia o Jaboque. Isso trazia milhares de coisas à
sua mente, estar naquele velho lugar mais uma vez.
Quando ele o atravessara anteriormente, ele estava
caminhando para o exílio. Mas agora ele está
voltando como um filho para tomar seu lugar com a
amada Rebeca e seu (falecido) pai Isaque – e ele
sentia que isto era uma grande misericórdia, o fato
de que ele estava agora indo a uma direção mais
feliz que a anterior. Ele olhou para o seu cajado e
lembrou como, em medo e tremor, se apoiou nele
enquanto percorria sua apressada e solitária marcha.
“Com este cajado – isto era tudo o que eu tinha”.
Ele olha isto e compara sua presente condição e seus
dois bandos com aquele dia de pobreza, aquela hora
de fuga apressada!
Essa retrospectiva o humilhou, mas também
o fortaleceu em oração. “Ó, Deus, se Tu me
ajudaste desde minha miserável pobreza até toda
esta riqueza, Tu podes, certamente, me preservar
deste presente perigo. Aquele que tem feito tanto,
ainda é capaz de me abençoar e assim Ele o fará” –
“Pode Ele, que me ensinou a confiar em Seu
Nome E tão longe assim me trazer, me entregar à
vergonha?”.
Será que Deus zomba de todos os homens?
Será que Ele encoraja a fé deles e depois os
abandona? Não, o Deus que começa a abençoar,
nos preserva em bênção e, até om fim, continua a
amar os Seus escolhidos!
Concluindo, penso que descobri um
poderoso argumento aqui na oração de Jacó. Será
que ele não quis dizer que apesar de Deus ter o
enriquecido tão grandemente, veio com isto toda
uma grande responsabilidade? Ele tinha mais do
que cuidar do que quando possuía pouco. O dever
aumentou com o aumento das posses. Ele parece
dizer, “Senhor, quando eu vim por este caminho,
antes, eu não tinha nada – somente um cajado – isto
era tudo o que eu deveria cuidar. E se eu perdesse
aquele cajado, poderia ter encontrado outro. Então
eu tive a Sua querida e doce proteção, que foi
melhor para mim do que as riquezas. Não a terei
agora mesmo? Quando eu era só um homem com
um cajado, Tu me guardaste. E agora que estou
rodeado por essa numerosa família de filhos e
servos, não estenderás Tu as Tuas asas sobre mim?
Senhor, as dádivas de Sua bondade aumentaram
minha necessidade – dê-me proporcionalmente Sua
bênção! Eu poderia, anteriormente, correr e escapar
de meu furioso irmão – mas agora as mães e as
crianças estão ligadas a mim e devo permanecer com
eles e morrer com eles a não ser que Tu me
preserves”.
Meus irmãos e irmãs, neste momento sei
como usar o mesmo apelo! Para mim, toda posição
de avanço dentre os homens significa mais
obrigação para servir meu Senhor e abençoar minha
geração! Necessito de mais Graça Divina ou minha
queda será a mais vergonhosa possível! Indignos
como somos para toda esta benção, ainda assim nós
não ousamos desperdiça-la e recusar a servir nosso
Deus com todas as nossas forças. Quanto mais bois
– mais arados devem ser feitos! Quanto mais largos
os campos – mais laboriosamente devemos semear.
Quanto maior a colheita – mais diligentemente
devemos ceifar! E para tudo isto precisamos de
muito mais força. Se Deus abençoa e nos aumenta o
talento, ou a substância, ou qualquer outra coisa,
não deveríamos nós concluir que maior confiança
envolve maior responsabilidade? Assim quanto mais
dura nossa tarefa de vida se torna, quanto mais
dificuldade houver, mais do que nunca somos
direcionados ao nosso Deus!
Este é nosso argumento – “Ó, Senhor, Tu
me impuseste um maior serviço! Dê-me mais Graça!
Em Tua bondade, Tu conferiste mais talentos para
aquele que tinha dez talentos – será que Tu não irás
me ajudar a colocar tudo em ordem por amor ao
Teu Nome?” Sim, irmãos, à medida que Deus lhes
levanta, tomem cuidado para sempre se prostrar
mais e mais baixo aos Seus pés. Consagre mais
inteiramente o teu completo ser a Deus! Seja
agradecido se sua moeda ganhou outra moeda e, se
Ele fizer mais por você, seja incansável até que suas
cinco libras ganhem mais cinco. Permaneça na
bondade de Deus, em vez de fazer uma capa para
seu orgulho, ou um mestre para sua preguiça, seja
um incentivo para seu empreendimento, um
estímulo para seu zelo! Que isto o ajude em sua
humildade, mas, ao mesmo tempo, que isto encoraje
sua confiança quando você se aproximar de Deus
em oração, que o faça sentir o quão largamente você
é obrigado a servir ao Senhor.
Venham, caros amigos, o Senhor cuida de
nós como Igreja e Ele irá nos abençoar! Nós
obtivemos, através de nosso Senhor Jesus e Seu
Espírito, bênçãos tão grandes que posso falar em seu
nome que você não é digno da menor de todas essas
misericórdias! Será que não as usaremos para a
Glória de Deus? Sim, mais do que nunca – pois
estamos determinados a orar mais, crer mais e
trabalhar mais – e sermos mais cheios de coragem e
intrepidez para que o nome e a verdade de Jesus
sejam conhecidos onde quer que nossa voz seja
ouvida! Enquanto línguas puderem falar e corações
bater, Deus estará nos ajudando, e nós viveremos
por Jesus, nosso Senhor! Nós somos o que
Rutherford chamaria de “devedores afogados” – que
vivamos como amantes vivos! Nossos navios têm
afundado em um oceano de amor até que a
misericórdia passe sobre nossos mais altos mastros.
Que assim seja! Que assim seja! Nós somos
engolidos em um abismo de amor! Minha ilustração
nos descreve como afundando, mas, na mais plena
verdade, estamos sendo levantados com todas as
plenitudes de Deus! Com um coração cheio eu oro
por você, amado. Deus te abençoe, no nome de
Jesus. Amém.
IMPEDIMENTOS À ORAÇÃO
Sermão de Número 3083
Pregado em Setembro de 1874

“Para que não sejam impedidas as


vossas orações.”

1 Pedro 3:7
Para muitas pessoas este discurso terá
somente um pouco de importância, pois estas
pessoas não oram. Temo, também, que existam
outros cujas orações são tão inúteis que, se elas
fossem impedidas, não haveria muita diferença
material; ainda é possível que se essas pessoas forem
impedidas de orar, este fato pode acordá-las de uma
letargia gerada de sua justiça própria. Meramente
dobrar os joelhos em formalidade, realizar uma
forma de devoção de uma maneira descuidada ou
não colocar o coração inteiro naquilo é zombar de
Deus em vez de louvá-Lo! Seria um tema terrível
para se contemplar a quantidade de vãs repetições e
orações sem coração que enfadam o Senhor
diariamente. Gostaria de solenemente lembrar,
contudo, que aqueles que não oram verdadeiramente
têm a Ira de Deus permanecendo neles! Aquele que
nunca busca a Misericórdia de Deus, com certeza
nunca a achou; a consciência considera que é algo
justo que Deus não deva dar para aqueles que não
pedem. A mínima coisa que deveria ser esperada de
nós é que deveríamos humildemente pedir pelos
favores que necessitamos, e se nós nos recusamos a
fazer isto, é nada mais que justo que a porta da
Divina Graça deva permanecer fechada até que os
homens se recusem a bater nela. Orar não é uma
exigência dura – e o dever natural da criatura para
com o seu Criador – a mais simples obediência que
a necessidade humana deve pagar para a
Generosidade Divina. Aqueles que se recusam a
rendê-la podem muito bem esperar que em um dia
desses, quando uma terrível e extrema necessidade
surgir, e quando eles começarem a lamentar por sua
tolice, que eles escutem a voz do seu insultado
Deus, dizendo: “Entretanto, porque eu clamei e
recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem
desse atenção, Antes rejeitastes todo o meu
conselho, e não quisestes a minha repreensão,
Também de minha parte eu me rirei na vossa
perdição e zombarei, em vindo o vosso temor”. (Pv
1:24-26).
Uma antiga estória fala sobre uma monarca
que deu um anel ao seu cortesão favorito, o qual ele
deveria devolver caso o mesmo estivesse debaixo do
desprazer da monarca, onde esta prometeu que ao
olhar aquele anel, o cortesão seria restaurado ao
favor dela. Mais tarde, quando o cortesão foi
envolvido em traição, a rainha ansiosamente esperou
por aquele anel, mas o anel nunca foi mostrado, e
apesar de muito esperar, não foi surpresa concluir
que o ofensor era teimosamente rebelde, e, assim,
uma ordem de execução foi emitida. Se um pecador
não clamar pelo nome de Jesus, para qual a
Promessa de perdão é dirigida; se ele não dobrar seu
joelho em oração penitencial, e pedir o perdão da
mão de Deus, ninguém se espante ao saber que este
irá perecer em sua tolice! Nenhum de nós será capaz
de acusar o Senhor de grande severidade quando
Ele expulsar eternamente as almas que não oram! Ó,
você que nunca ora, eu tremo por você! Deus
quisera que você também tremesse por si mesmo,
pois existe razão suficiente para isto! Para aqueles
que oram, a oração é a coisa mais preciosa, pois é
por esta forma que bênçãos incalculáveis vêm para
eles, a janela pela qual suas grandes necessidades
são supridas pelo Deus gracioso.
Para os crentes, a oração é o maior meio de
enriquecimento da alma; é a embarcação que faz
comércio com o Céu, e volta para casa vinda do
País Celestial cheia de tesouros muito maus valiosos
do que qualquer galeão espanhol já trouxe da terra
do ouro! De fato, para os verdadeiros crentes, a
oração é tão incalculável, que o perigo de tê-la
impedida é usado por Pedro como um motivo pelo
qual os crentes deveriam se comportar com muita
sabedoria no ambiente do casamento e da casa! Ele
ordena que os maridos coabitem com suas esposas
“com entendimento”, e que rendam honras
amorosas a elas, para que todas suas orações não
sejam impedidas! Tudo aquilo que impede a oração
tem de ser errado; se alguma administração da
família, ou falta de administração, está injuriando
nosso poder em oração, existe uma demanda
urgente para mudança; marido e mulher devem orar
juntos, como coerdeiros da Graça Divina, e
qualquer temperamento ou hábito que impede isso é
perverso. O texto poderia ser usado com mais
propriedade para estimular os cristãos a serem
diligentes a orar em família, e apesar de que eu não
o vá usar nesta ocasião, não é porque eu desmereço
esta instituição, pois a estimo tão grandemente que
nenhuma palavra minha pode adequadamente
expressar meu senso desse valor. A casa na qual não
tem um altar familiar mal pode esperar por uma
bênção divina; se o Senhor não cobre nossa
habitação com Suas Asas, nossa família é como uma
casa sem teto! Se não buscamos a orientação do
Senhor, nossa casa é como um navio sem capitão, e
a não ser que esta seja guardada pela devoção, nossa
família estará num campo sem nenhuma cerca. O
triste comportamento de muitas crianças de pais
professos é devido à negligência ou à frieza da
adoração familiar; e, não duvido que, muitos juízos
têm caído sobre lares, pois o Senhor não é
devidamente honrado ali.
O pecado de Eli ainda traz consigo as
visitações de um Deus Ciumento. Aquela palavra de
Jeremias carrega severidade para famílias que não
oram, “Derrama a tua indignação sobre as nações
que não te conhecem, e sobre as famílias que não
invocam o teu nome” (Jr 10:25). Sua Misericórdia
visita cada família onde os votos noturnos e
matutinos são prestados, mas onde estes são
negligenciados, as famílias ficam expostas aos
pecados. No bom tempo dos Puritanos, dizem que
se andasse pela Rua Cheapside[13], você ouviria em
cada uma das casas a voz de um Salmo em uma
determinada hora da manhã e da noite, pois não
havia casa onde haviam cristãos professos onde não
houvesse oração em família! Acredito que o baluarte
do Protestantismo contra o Papado é a adoração em
família; tire isto, e a instrução das crianças no temor
do Senhor, e você deixa este país aberto,
novamente, à teoria de que orações são mais bem
aceitas dentro de uma igreja católica. E então você
entra na questão da sacralidade de lugares! Assim,
tirando o sacerdócio do pai da família – que deveria
ser um sacerdote em sua própria casa, você cria uma
abertura para um sacerdócio supersticioso, e
deixando o ensino com esses fingidores, inúmeros
estragos são introduzidos! Se a negligência da
oração familiar se tornasse comum em todas nossas
igrejas, seria um dia obscuro para a Inglaterra!
Crianças que observam que seus pais praticamente
não oram em casa irão crescer indiferentes à religião
– e em muitos casos se tornarão mundanos, se não
ateus! Este é um assunto sobre o qual a igreja não
pode fazer perguntas acusatórias – isto deve ser
deixado para o bom senso e para o espírito cristão
dos cabeças das famílias! Eu, portanto, falo o mais
enfaticamente possível, e oro para que você coloque
ordem em sua casa para que suas orações familiares
não sejam impedidas.
Neste tempo, contudo, devo usar o texto
para outro propósito, e o aplico para os
impedimentos que assaltam as orações privadas.
Nossas orações podem ser impedidas desta forma –
primeiramente, podemos ser impedidos de orar;
segundo, podemos ser impedidos na oração; e,
terceiro, nós podemos ser impedidos de que nossas
orações sejam efetivas com Deus.

1. Primeiramente, existe tal coisa como


ser IMPEDIDO DE ORAR – e isto pode ser
feito por cair em geral frouxidão e condição
indiferente em referências às coisas de Deus.
Quando um homem se torna frio, indiferente e
descuidado, uma das primeiras coisas que irão
sofrer é a sua devoção. Quando um homem
doente está em declínio, seus pulmões sofrem, e
assim sua voz; e quando o cristão está em um
declínio espiritual, o fôlego da oração é afetado,
e o clamor da súplica se torna fraco. A oração é
o verdadeiro indicador de poder espiritual!
Segurar orações é perigoso, e de uma tendência
mortal; você deve depender disto, tome isto
como a coisa mais importante, que quando você
está de joelhos é quando você está diante do seu
Deus! O que o Fariseu era e o que o Publicano
era em oração foi o verdadeiro critério de seu
estado espiritual. Você pode manter uma
reputação decente diante dos homens, mas é
inútil ser julgado pelo julgamento dos homens;
homens veem somente a superfície; enquanto os
olhos do Senhor esquadrinham os recantos mais
profundos da alma! Se Ele vê que você não ora,
Ele faz pouco caso de sua frequência nas
reuniões religiosas, de sua confissão em voz alta
da sua conversão; mas se você é um homem
diligente na oração, e se, especialmente, o
espírito de oração está em você, e em adição à
isto, em algumas épocas de súplica o seu coração
fala habitualmente com Deus, as coisas estão
corretas com você! Mas este não é o caso
quando nossas orações estão “impedidas”, existe
algo em seu organismo espiritual que necessita
ser expulso, ou alguma coisa está fazendo falta e
que isto necessita ser resolvido de uma vez por
todas! “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda
o teu coração, porque dele procedem as fontes
da vida.” (Pv 4:23), e as orações verdadeiras são
uma dessas fontes de vida.
Orações podem ser impedidas, em seguida,
por ter muitas coisas para fazer. Nesta era, isto é
algo muito corriqueiro. Nós, homens, temos muitos
negócios a fazer; os dias quietos dos nossos
contentados antepassados passaram, e os homens
atribuem a si mesmos muita labuta. Não contentados
a ganhar o suficiente para si e para suas famílias,
eles devem ter muito mais do que podem
possivelmente usar consigo mesmos, ou que podem
usar proveitosamente para com os outros; a
sabedoria aparenta dizer que um cajado é o
suficiente para um homem andar, mas ambição não
pode ser satisfeita a não ser que carregue um lote de
cajados nas costas! “O suficiente é tão bom quanto
um banquete”[14], diz o antigo provérbio, mas hoje
me dia nem o suficiente e nem um banquete
satisfará os homens! Eles devem acumular mais do
que pode alimentar milhares de famílias antes que
estejam satisfeitos – não, eles nem mesmo estão
contentados desta forma! Muitos homens que
poderiam prestar um ótimo serviço à Igreja de Deus
se tornam inúteis, pois eles quiseram caminhar por
uma nova direção nos negócios que tomou todo o
seu tempo livre. Em vez de pensar que seu primeiro
cuidado deveria ser, “Como posso melhor glorificar
Deus?”, seu objetivo que a tudo consome é
“estender os braços como mares e agarrar tudo o
que há nos litorais”. Milhares, centenas de milhares
e até mesmo milhões de libras não podem silenciar a
ambiciosa sanguessuga que os homens engoliram, a
qual continuamente clama “Dá-me! Dá-me!”.
Muitos adicionam casas à casas, terrenos à terrenos,
como se fosse para que eles morassem sozinhos na
terra! Ai daqueles cristãos que são infectados por
esta mesma febre! O homem rico na parábola não
tinha nenhum tempo para oração, pois ele estava
muito ocupado planejando os novos celeiros para
abrigar seus bens – mas ele teve que arranjar tempo
para morrer quando o Senhor disse, “Louco! esta
noite te pedirão a tua alma” (Lc 12:20). Tome
cuidado, eu te imploro, com “as ambições de outras
coisas” (Mc 4:19), com a úlcera das riquezas, com a
insaciável ganância que leva os homens ao mesmo
engano do diabo, pois se isto não lhe traz maldade
maior, irá te trazer prejuízos suficientes, e suas
orações serão impedidas.
Nós ainda podemos ter muitas coisas para
fazer na Casa de Deus, e então ter nossas orações
impedidas como Marta, amontoada com tanto
serviço. Nunca ouvi ninguém que esteve tão
atarefado com oração! Quanto mais nós
trabalhamos, mais deveríamos orar, e a oração
deveria equilibrar nosso serviço, ou melhor, esta
devia ser o sangue de toda nossa ação, e saturar
nossa vida completamente, assim como o orvalho
dos Céus encharcou a lã de Gideão. Nós não
podemos trabalhar tanto se a oração for
proporcional ao trabalho, mas temo que alguns de
nós fariam muito mais se tentassem menos e
orassem mais. Temo ainda que alguns permitem
compromissos religiosos públicos se sobreporem à
comunhão privada com Deus – eles participam de
muitos sermões, muitas conferências, muitos estudos
bíblicos, muitos ajuntamentos; e sim, a muitas
reuniões de oração! Todas essas coisas são boas em
si, mas todas elas se tornam nocivas quando limitam
nossas orações secretas e privadas. A senhora Row
disse que se os Apóstolos estivessem pregando no
momento de sua comunhão privada com Deus, ela
não iria deixar seu quarto para ir e os escutar! É
melhor estar com Deus do que com Pedro ou Paulo!
A oração é o objetivo da pregação, e ai daquele
homem que, valorizando mais os meios do que o
fim, permite que qualquer outra forma de culto
empurre suas orações para o canto!
Não pode haver dúvida de que, também, as
orações são impedidas por haver muito pouco a se
fazer. Se você quer uma coisa bem feita, você deve
ir ao homem que tem muitas coisas para fazer, pois
ele é o homem que fará isso para você! Pessoas que
não têm nada para fazer, geralmente, fazem as
coisas com uma grande quantidade de confusão; de
manhã até de noite eles desperdiçam o tempo das
outras pessoas; eles são os visitantes, os
entrevistadores, as pessoas que escrevem parágrafos
atraentes sobre homens públicos; muito
frequentemente, coisas inventadas em seus próprios
tolos cérebros. Estes são os propagadores da calúnia,
que em muita malícia, cospem no caráter de bons
homens; não tendo nada para fazer, eles são
contratados por satanás para impedir e injuriar
outros. Se tais pessoas oram, tenho certeza que sua
preguiça deve os impedir bastante. O homem que
tem que ensinar nas escolas carentes percebe que ele
tem que clamar por ajuda para dominar aquelas
naturezas jovens e selvagens; a senhorita que tem ao
seu redor dúzias de meninas as quais ela deseja levar
ao Salvador, sente que é obrigada a orar por Jane e
Helen, para que elas sejam convertidas a Deus. O
ministro, cujas mãos estão cheias de santo trabalho,
e cujos olhos chegam a falhar com vigia sagrada,
percebe que ele não pode fazer nada sem estar perto
de seu Deus! Se estes servos de Jesus tivessem
menos o que fazer, eles orariam menos, mas a
indústria santa é o berçário da devoção!
Eu disse que nós devemos fazer muito, e
não poderia deixar de equilibrar essa verdade a não
ser que adicionasse que uma grande proporção de
cristãos faz muito pouco! Deus os deu riqueza o
suficiente para que eles fossem capazes de se
aposentar dos negócios; eles tem tempo em suas
mãos e ainda têm que inventar coisas para gastar
este tempo – e ainda assim, os ignorantes precisam
de instrução, os doentes precisam ser visitados, os
pobres precisam de ajuda; não deveriam eles deixar
seu lazer abundante e servir a Deus? Não deveriam
eles, então, se apressarem para orar? Gostaria que
todos pudessem dizer como um dos santos do
Senhor, “Oração é meu negócio, meu louvor e meu
prazer” – mas estou certo de que eles nunca farão
isso até que o zelo pela Casa do Senhor os consuma
completamente. Algumas pessoas impedem suas
orações, novamente, por falta de ordem. Eles
acordam um pouco mais tarde, e têm que correr
atrás do seu trabalho durante o dia todo, e nunca o
alcançam. Eles estão sempre em uma agitação, um
dever tropeçando no outro. Eles não tem tempo
determinado para se retirar, um pequeno espaço
cercado para sua comunhão com Deus, e
consequentemente, alguma coisa ou outra aparece, e
a oração é esquecida – não, acho que nem tanto
esquecida, mas sim, arrastada e apressada a uma
pequena quantidade, e isto não os traz nenhuma
bênção. Gostaria que cada um de vocês mantivesse
um diário de como vocês irão orar na semana que
vem, e assim verão o quão pouco de tempo que
vocês passam com Deus das 24 horas! Muito tempo
é gasto em uma mesa, quanto de tempo é gasto no
Trono da Misericórdia? Muitas horas são gastas com
homens, quantas horas são gastas com seu Criador?
Você tem tempo para os amigos da Terra, mas
quantos minutos você tem com o seu Amigo no
Céu? Você se permite um tempo para recreação; o
que você separa para aqueles exercícios nos quais
verdadeiramente sua alma é recriada? “Um lugar
para tudo, e tudo tem seu lugar”, é uma boa regra
para escolas e casas de negócios, e isto será
igualmente útil em questões espirituais! Outros
deveres devem ser feitos, mas a oração não pode ser
deixada de ser realizada – esta deve ter o seu próprio
lugar e tempo suficiente para si. Deve ser tomado
cuidado para que nossas orações não sejam
impedidas, para que nós não haja omissão ou
encurtamento delas. O tempo me obriga a deixar
este grande assunto e continuar.

2. Em segundo lugar, nós devemos vigiar


para que não sejamos IMPEDIDOS NA
ORAÇÃO, quando nós estamos comprometidos
com esse santo trabalho. Aqui eu irei pelo
mesmo solo de antes, e observar que alguns são
impedidos enquanto estão em sua oração por
serem frouxos e indiferentes – um grande
impedimento; outros por ter muito ou por ter
pouco o que fazer, e outra classe por estar
naquela apressada condição de coração a qual é
resultado de falta de ordem. Mas não preciso
repetir quando vocês estão tão diligentemente
bebendo minhas palavras! Notemos que alguns
são impedidos na oração por selecionar um
tempo e lugar inapropriados. Existem tempos em
que você espera por uma batida em sua porta;
então não bata ainda na porta de Deus! Existem
horas em que cartas chegam, quando clientes
ligam, quando mercadores precisam de atenção,
quando trabalhadores precisam de ordens; seria
tolice ir para o seu quarto nestes momentos!
Se você é empregado por outros, você não
deve apresentar para Deus aquelas horas em que
você pertence ao seu patrão! Você honrará mais ao
Senhor com a diligência de seu ofício. Existem
tempos que demandam você para as necessidades da
família, e para o seu chamado obrigatório; estes já
são do Senhor de qualquer forma – deixe que eles
sejam usados para os seus devidos propósitos.
Nunca corrompa um dever com o sangue de outro;
dê a Deus e ore naqueles momentos adequados nos
quais você espera estar sozinho. Claro que você
pode orar em seu trabalho com gemidos silenciosos
– e você deve permanecer no espírito de súplica
durante o dia todo; mas estou me referindo agora a
tempos que são especialmente devotos à súplica, e
digo para encontrar um tempo e um local onde você
pode estar livre de interrupção. Um garoto piedoso
que não tinha lugar em casa para orar, foi para o
estábulo e subiu no palheiro, mas em breve veio
alguém que subiu a escada e o interrompeu. Na
próxima vez, ele cuidou de puxar a escada para cima
logo depois que subiu – uma dica muito útil para
nós! Seria bom se você, de fato, pudesse puxar
completamente a escada para cima de forma que
nem o diabo e nem o mundo pudessem invadir sua
privacidade secreta. “Mas tu, quando orares, entra
no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu
Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará publicamente.” (Mt 6:6).
Escolha, então, o melhor tempo e lugar para que
suas orações não sejam impedidas.
Cuidados mundanos são frequentes e os
mais perniciosos impedimentos à oração. Um cristão
deveria ser o homem mais cuidadoso do mundo, e
mesmo assim não ser ansioso. Você entende este
paradoxo? Ele deveria ser cuidadoso para não pecar,
mas para com outros assuntos, ele deveria colocar
sua ansiedade “porque ele tem cuidado de vós.” (1
Pe 5:7). Receber tudo das mãos de Deus, e confiar
tudo nas mãos de Deus é um caminho feliz de se
viver, e muito útil à oração. Será que seu Mestre não
lhe contou dos pássaros e dos lírios? Seu Pai
Celestial os alimenta e os veste – não irá Ele te
vestir? “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça” (Mt 6:33). A fé dá paz e a paz deixa a alma
pura para a oração – mas quando a ansiedade vem,
esta confunde a mente, e tira o coração das súplicas.
Um coração entupido de ansiedade é como um
homem tentando nadar com roupas pesadas – ele
deve tirá-las se espera nadar até à praia. Muitos
marinheiros cortaram suas roupas aos pedaços
porque eles pensavam que iriam afundar se não as
cortassem. Desejaria que muitos cristãos se
rasgassem dos excessivos compromissos mundanos;
pois eles tem uma tal massa de ansiedade sobre si
que mal conseguem manter suas cabeças sobre a
superfície da água! Ó, por mais Graça e menos
preocupação; mais oração e menos fardos; mais
intercessão e menos especulação! Dessa maneira,
orações são tristemente impedidas.
Prazeres terrenos, especialmente aqueles de
tipo duvidoso, são o pior tipo de impedimentos.
Alguns adeptos toleram entretenimentos os quais
não tenho certeza que são consistentes com a
oração. Eles lembram às moscas que mergulham no
mel até que grudem suas asas e pernas e não
conseguem mais voar. Lembro-me uma vez de ler
“uma oração para ser feita pelo cristão que chega em
casa depois do teatro”, “uma prece para o santo ao
retornar das corridas” e “uma oração para uma
moça cristã depois de retornar do baile”. Claro que
estas foram escritas sarcasticamente e eram, de fato,
uma farsa desmedida. Como você pode chegar em
casa de uma frivolidade e pecado, e então olhar para
a face de Jesus? Como podem as modas do mundo
serem seguidas e a comunhão com Deus ser
mantida? Você não pode rolar no lamaçal e depois
se aproximar com roupas limpas ao Trono da
Misericórdia! Como você pode vir diante do Trono
de Deus com petições quando você acabou de
desonrar o nome do Altíssimo? Ó cristãos, guardem-
se de tudo que é duvidoso quanto a sua pureza ou
mesmo sua conveniência; tudo aquilo que não é da
fé é pecado (Rm 14:23) e irá impedir suas orações!
Além disso, orações podem ser impedidas
igualmente por tristezas mundanas. Alguns dão lugar
à tristeza tão extremamente que não podem orar; as
lágrimas do lamento rebelde molham o pó da oração
de forma que um cristão não pode enviar seus
desejos em direção ao céu como ele deveria. A
tristeza que impede a oração de um homem é uma
ampla rebelião contra a Vontade de Deus!
Nosso Senhor estava cheio “de tristeza até a
morte”, mas então Ele orou – não – por isso “Ele
orou”. É correto ficar triste, pois Deus planeja que a
aflição seja algo pesaroso e não alegre; mas quando
a tristeza é justa, esta irá nos levar à oração – não
nos expulsar dela! E quando nós encontramos a
tristeza na perda de um filho amado, ou na ruína de
nossa propriedade, impedindo nossas orações, penso
que deveríamos dizer a nós mesmos, “Agora eu
tenho que orar, pois é errado que eu seja tão rebelde
contra meu Pai para recusar pedir todas as coisas de
Suas mãos”. Você acharia que seu filho teria um
comportamento muito mal se, porque ele não teve as
coisas do jeito que queria, ele se recusasse a lhe
pedir qualquer coisa, e andasse pela casa fazendo
cara feia. Porém muitos prateadores agem dessa
maneira. Nós poderíamos nos simpatizar
profundamente com sua tristeza, mas nós não
devemos deixar passar seus resmungos, pois “a
tristeza do mundo opera a morte” (2 Co 7:10), e isto
é inadequado para um filho de Deus. Com toda sua
dor dobrada ao pó pela aflição, ainda assim, como
seu Senhor e Mestre, clame, “não seja como eu
quero, mas como tu queres”. (Mt 26:39), e então
suas orações serão ajudadas e não impedidas!
Existem casos onde a oração é grandemente
impedida por um mau temperamento. Não sei onde
isto será aplicado, mas onde quer que o seja,
acredito que isso será fixado em você. Você não
pode habitualmente falar com grosseria com servos
e crianças; você não pode se unir em uma grande
contenda ou em pequenas discussões e então ir e
orar com poder! Não posso ser efetivo em oração se
eu sinto ódio no meu coração, e acredito que nem
você pode fazer isso também! Levante-se e vá
resolver a situação antes que você tente falar com
Deus, pois a oração de homens irados faz Deus se
irar; você não pode lutar com o Anjo enquanto você
está sob o poder do demônio. Apelo para suas
próprias consciências – vocês deverão ser juízes –
não é mesmo? Este foi um bom conselho da parte
do nosso Senhor: “Deixa ali diante do altar a tua
oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e,
depois, vem e apresenta a tua oferta” (Mt 5:24). Se
isso não for feito, o sacrifício não pode ser aceito,
nem vejo como você pode ousar oferecê-lo!
Ouvi falar de dois bons homens que tinham
uma afiada divergência entre si nos negócios. Não
sei quem foi o culpado; talvez nem um dos dois,
pois eles deve ter se desentendido. Um deles, ao
caminhar para casa muito contrariado, viu o sol se
pondo, e a passagem veio a ele, “não se ponha o sol
sobre a vossa ira”. Ele pensou, “Voltarei e pedirei
desculpas, pois acredito que falei muito fortemente”.
Ele começou a voltar ao escritório de seu amigo, e
no meio do caminho este homem o encontrou
fazendo a mesma coisa! Felizes crentes esses por
serem tão atentos ao ensino do Espírito Santo, e do
Senhor Jesus! É certo que a ofensa virá, mas
benditos são aqueles que são os primeiros a removê-
la! Ai daqueles homens de tal maneira que não
podem fazer isso, mas guardam rancor até que este
apodreça e encha toda sua vil natureza com os seus
odores! Certamente eles não podem esperar serem
ouvidos em oração enquanto hostilidades não
sepultadas poluem suas almas! Esforcem-se,
queridos amigos cristãos, o mais que puderem, para
sempre que estiverem irados, não pecarem; isto é
possível, pois está escrito: “Irai-vos, e não pequeis”
(Ef 4:26). Um homem que não tem ira dentro de si
mal pode ser um homem, e certamente não é um
bom homem, pois ele não pode estar irado contra o
pecado, não está apaixonado pela bondade! Dizem
de alguns que eles são macios como um sapato
velho, e, geralmente, eles não valem mais do que
este objeto. A ira contra a injustiça é correta, mas a
ira contra a pessoa que se degenera em desejar que
esta seja machucada é ira pecaminosa e apaga, com
efeito, os fogos da oração. Nós não podemos orar
por perdão a não ser que perdoemos as ofensas que
outros cometeram contra nós!
A oração pode ser impedida – terrivelmente
impedida – de três formas. Se nós desonrarmos ao
Pai ao qual nos oramos, ou ao Filho através do qual
nós oramos, ou ao Espírito Santo pelo qual nós
oramos. Digo que nós podemos desonrar ao Pai.
Isto pode ser feito pela inconsistência do viver – se
os filhos de Deus não são obedientes à vontade do
Pai, eles não podem se surpreender se encontrarem
dificuldades ao orar. Você não pode derramar o seu
coração adequadamente a não ser que acredite em
seu Pai Celestial; se você tem pensamentos
desagradáveis sobre Ele; se você tem um coração
frio à Ele, e falta de reverência pelo Seu Nome; se
você não acredita que naquele grandioso e disposto
coração o qual está pronto para abençoar você, a
sua falta de amor, fé e reverência irão estrangular
suas orações. Ó, quando um homem está
completamente em união com o grande Pai; quando
“Aba, Pai” é o espírito de sua alma; quando ele fala
com Deus como o único no qual ele coloca sua
confiança, e cuja Vontade ele se submete
perfeitamente; quando a Glória de Deus é o prazer
de sua alma – então ele está em um terreno
vantajoso para a oração, e ele irá ganhar o que
deseja de Deus; mas se ele não é assim com Deus,
suas orações irão cambalear muito dolorosamente!
E, irmãos e irmãs, se estamos em uma
posição errada com Jesus, através de quem
devemos orar; se nós temos alguma medida de
justiça própria; se sentimos prazer em nós mesmos e
esquecemos de nosso Amado; se pensamos que
podemos triunfar sem o Salvador, e se, portanto,
nós oramos como Fariseus satisfeitos em si mesmos,
nossas oração serão impedidas! Se nós não somos
como o Salvador; se não fazemos Dele nosso
Exemplo; se não tivermos nada de Seu Espírito
amoroso; se, acima de tudo, nós O crucificamos
novamente, e O envergonhamos abertamente, e se
nós somos ingratos pelas bênçãos que já recebemos
– nossas orações serão impedidas. Você não pode
apelar na corte se você brigar com seu Advogado; se
suas orações não forem tomadas pelas mãos pelo
Grande Intercessor, e oferecidas por Ele em seu
lugar, você não terá chances para o exercício
sagrado. Então, novamente, sem Espírito Santo
não existe uma única oração que Deus aceite,
somente aquelas que o Espírito primeiramente
escreve dentro de nossos corações. Oração
verdadeira não é tanto nossa intercessão como é o
fato de o Espírito de Deus criar intercessões em nós!
Agora, se nós entristecemos o Espírito, Ele não nos
ajudará a orar, e se nós tentarmos orar por algo que
é contrário a santa, graciosa e amorosa natureza do
Espírito, não podemos esperar que Ele nos
possibilite a orar em contradição à mente de Deus!
Tome cuidado para que você não aborreça o
Espírito de Deus de nenhuma forma, especialmente
por fechar os ouvidos para Suas advertências gentis,
Seus chamados amorosos, Suas diligentes súplicas,
Seus tenros requerimentos – pois se você é surdo
para o Confortador Divino, Ele irá ser mudo para
com você! Ele não irá ajudá-lo a orar se você não se
render a Ele em outras áreas.
Então, queridos amigos, estabeleci para
vocês de uma maneira rápida algumas das formas
nas quais a oração pode ser impedida. Que Deus
conceda que nenhum de nós possa ser derrotado por
elas, mas que nós possamos ser guardados de tudo
aquilo que pode arruinar nossas petições!

3. Agora necessito de sua mais


diligente atenção para a parte mais
importante de todas, na qual devo me esforçar
para ser breve. Nós podemos ser
IMPEDIDOS NA EFETIVIADE DE
NOSSAS ORAÇÕES. Nós podemos orar, mas
mesmo assim nossas orações podem não ser
ouvidas! E deixe-me aqui introduzir uma nota: O
Senhor ouvirá a oração de qualquer um que
pedir por Sua Misericórdia através da mediação
do Senhor Jesus Cristo! Ele nunca despreza o
choro do contrito; Ele é um Deus pronto para
ouvir todos aqueles que buscam reconciliação.
Mas à respeito de outros quesitos, é verdade que
Deus não ouve os pecadores – isto é, enquanto
eles permanecem pecadores, Ele não irá
conceder seus pedidos; de fato, se fosse assim,
isto os encorajaria a continuar em seus pecados!
Se eles se arrependerem e clamar por
Misericórdia através de Jesus Cristo, Ele ouvirá
seu clamor e os salvará; mas se eles não forem
primeiramente reconciliados com Ele, suas
orações são sopros vazios.
Um homem concederá o pedido de seu
filho, mas ele não escuta a estranhos. Ele irá escutar
seus amigos, mas não seus inimigos. Não é correto
que a chave dourada que abre os baús dos Céus
deva ser encontrada nos cintos do rebelde! Mais
ainda, Deus não escuta a todos os Seus filhos
igualmente, ou em todo o tempo. Não é todo crente
que é poderoso em oração. Leia o Salmo 99, e se
lembro-me bem, você encontrará palavras como
essas – “Moisés e Arão, entre os seus sacerdotes, e
Samuel entre os que invocam o seu nome,
clamavam ao Senhor, e Ele lhes respondia. Na
coluna de nuvem lhes falava; eles guardaram os seus
testemunhos, e os estatutos que lhes dera.” (Sl
99:6,7). Sim, Ele os respondeu – Moisés, Arão,
Samuel – Ele os respondeu, pois eles guardaram
Seus testemunhos. Quando filhos de Deus percebem
que suas orações não obtém sucesso, eles deveriam
buscar – e logo descobririam uma razão pela qual
suas orações foram impedidas!
Primeiro, deve haver um viver santo no
crente se suas orações obtiverem um grande sucesso
com Deus. Escutem – “A oração feita por um justo
pode muito em seus efeitos” (Tg 5:16). Note as
características de um homem justo. Ouça o nosso
Salvador em João 15:17 – “Se vós estiverdes em
mim, e as minhas palavras estiverem em vós,
pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”.
Existe um se ali! Se você não faz a vontade de
Cristo, Ele não irá fazer a sua vontade. Isto não tem
relação com a Lei! Não tem nada relacionado com a
Lei, mas é a regra do Evangelho de Cristo de que a
obediência tenha por recompensa o poder na
oração! Assim como você faz com seus filhos; você
tem uma disciplina sobre eles; você não os expulsa
ou os dá a polícia por eles agirem mal; mas você tem
formas de castigar os teimosos e recompensar os
obedientes! Você não se apressa para conceder os
pedidos daquele menino intratável; de fato, você
nega seus pedidos; mas aquela outra querida, gentil
e amorosa criança só tem que pedir para receber!
Esta é a disciplina correta, esta é tal como a que
Deus exercita conosco. Ele não joga fora seus filhos
quando estes pecam e os nega completamente, mas
Ele os castiga em Seu Amor; e um de Seus castigos
é desconsiderar suas orações. Se nós comparamos o
orar com o atirar com arco e flecha, você deve
limpar suas mãos ou não conseguirá atirar, pois este
arco se recusa a ser dominado por mãos poluídas
por pecados não arrependidos! A bênção geral é
descrita – “o desejo dos justos será concedido” (Pv
10:24) – não o desejo dos ímpios. Primeiramente,
lave-se na Fonte da Graça da Reconciliação, e tenha
seu coração purificado pelo Espírito Santo, ou então
você não terá sucesso na oração! Se alguém me
falasse de um homem que Deus responde
grandemente pela oração, e então me informasse
que ele vive em pecado grosseiro, eu não acreditaria
em tal coisa! É impossível para Deus auxiliar um
criminoso professo da religião garantindo a ele
sucesso em oração! O cego que Jesus curou disse
verdadeiramente, “Ora, nós sabemos que Deus não
ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus,
e faz a sua vontade, a esse ouve” (Jo 9:31).
Em adição à obediência, deve haver fé.
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é
necessário que aquele que se aproxima de Deus
creia que ele existe, e que é galardoador dos que o
buscam” (Hb 11:6). “Peça-a, porém, com fé, em
nada duvidando; porque o que duvida é semelhante
à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada
de uma para outra parte.” (Tg 1:6). A fé obtém
promessas, incredulidade vai de mãos vazias. O
Senhor pode dar uma bênção para aquele que
duvida, mas a promessa é mais do que isso, e o
incrédulo não tem direitos de esperá-la! A oração
que tem mais proveito com Deus é a oração daquele
que crê que Deus o ouvirá, e daquele que, portanto,
pede com confiança. Em uma palavra, a fé é o arco
da oração; você deve tomar posse do arco ou não
pode atirar, e quanto mais forte é o arco, mais longe
você pode atirar a flecha – e maior a realização que
você pode fazer com isto. Sem fé é impossível
agradar a Deus em oração ou em qualquer outra
coisa! Fé é a própria coluna vertebral, tendão e
músculo da intercessão.
Em terceiro lugar, deve haver desejos
santos, ou então a oração será um fracasso. E estes
desejos devem estar fundamentados na Promessa; se
você não encontrou que Deus prometeu uma
bênção, você não tem o direito de pedir por isso, e
não possui nenhuma razão para esperar por isso!
Não tem valia pedir dinheiro para um banqueiro sem
possuir um cheque – no caixa eles não te conhecem;
eles conhecem a promessa de pagar em troca do
cheque, e se você o apresentar, receberá a quantia.
Você deve trazer as próprias promessas de Deus ao
Trono de Misericórdia, o qual é o balcão do Banco
Divino, e você obterá o que precisa, mas somente
deste jeito! Observe então que a fé é o arco, e o
desejo forte é como a corda em qual a flecha será
lançada para cima. Nenhuma flecha é lançada para o
Céu a não ser aquela que desceu do Céu; cristãos
tomam suas flechas da aljava de Deus, e quando eles
as atiram, o fazem com isto em seus lábios:
“Lembra-te da palavra dada ao teu servo, na qual
me fizeste esperar” (Sl 119:49). Então a oração bem
sucedida é o desejo de um santo coração,
sancionado pela Promessa! Orações verdadeiras são
como aqueles pombos-correios que acham seu
caminho de volta tão bem; elas não podem falhar
em ir ao Céu, pois do Céu elas vieram; elas só estão
voltando para Casa!
Além disso, se a oração é para ser efetiva,
deve haver fervor e urgência. Está escrito, “A
oração fervorosa de um justo pode muito em seus
efeitos” (Tg 5:16 – Versão King James[15]). Não a
oração meio viva e meio morta do mero cristão
nominal; não a oração daqueles que não se
importam se recebem a resposta ou não; deve haver
diligência, intensidade, o derramar do coração diante
de Deus! A flecha deve ser colocada na corda do
arco, e o arco deve ser puxado com toda a nossa
força. O melhor arco não tem serventia nenhuma se
não for puxado, e se você puxar o arco da fé, e
atirar no alvo que está lá no Céu, você obterá o que
deseja – você só tem que se decidir se realmente
quer tal coisa, mas com um único limite – “Faça-se a
vontade do Senhor” (At 21:14) – e você terá
sucesso! Deve haver, em seguida, um desejo pela
Glória de Deus – pois este é o próprio alvo, e se
nós não atiramos na direção disso, a flecha não
acertará coisa alguma. Nós devemos diligentemente
desejar o que nós buscamos, porque cremos que o
que pedimos irá glorificar a Deus! Se nós vivermos
completamente para Deus, nossas orações irão andar
lado a lado com Seus Propósitos, e nenhum delas irá
cair no chão. “Deleita-te também no Senhor, e te
concederá os desejos do teu coração” (Sl 37:4). Nós
devemos também ter uma esperança santa ou
iremos impedir nossas orações. Aquele que atira
deve observar para enxergar aonde sua flecha vai;
nós devemos direcionar nossas orações a Deus e
olhar para cima! Com os olhos fitos no Senhor Jesus
em todas as coisas, nós devemos olhar para ter
sucesso através dos méritos do Redentor. “E, se
sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos,
sabemos que alcançamos as petições que lhe
fizemos” (1 Jo 5:15). A presunção na oração atira
com o arco da autoestima, não pela Glória de Deus,
mas pela gratificação do ego, e assim ela falha!
Alguns têm a ideia de que se eles pedirem aquilo
que gostam para Deus, têm a certeza de que irão
receber. Mas, primeiramente, eu perguntaria “Quem
é você?”. Segundo, “O que é que você almeja
alcançar?”. E, terceiro, “Que direito você tem de
esperar isto?”. Estas perguntas devem ser claramente
respondidas; ou de outra forma, a oração será um
insulto a Deus!
Gostaria que alguns crentes que oram sobre
coisas temporais fossem um pouco mais cuidadosos
na forma como agem. Quando eles entram em
dificuldade e confusão por suas extravagâncias, será
que eles esperam que Deus os tire de lá? Lembro-
me de escutar a uma observação feita pelo bom
senhor Muller, de Bristol. Em uma Reunião de
Oração ele leu uma carta de um irmão que o
agradecia por um presente de 20 libras o qual havia
chegado providencialmente, pois ele devia o aluguel
de metade do ano. O senhor Muller fez a
observação, “Sim, nosso irmão deveria estar grato;
mas eu irei escrever-lhe e lhe dizer que ele não
deveria dever a metade de um ano em aluguel sem
estar preparado para pagar; e que ele está agindo
com tolice e sem justiça por não ir até o dono e
resolver a situação. Quando aluguei minha casa,
disse ‘Está é a casa de outra pessoa. Sou obrigado a
pagar o aluguel’, e então, semana após semana, à
medida que usava a casa, eu separava a porção
semanal que deveria pagar. Eu não gastava este
dinheiro, e no fim de um trimestre esperava que o
Pai Celestial me enviasse mais”. Isto é moralidade
sadia e senso comum, e oro para que vocês tenham
isto! Ore, de todas as formas, mas não deva nada a
ninguém. O pão de cada dia é para ser orado, mas
especulações que podem lhe envolver em ruína ou
fazer-lhe ganhar uma fortuna não foram
mencionadas! Se você vai para jogatina, desista
logo de orar! Sobre transações honestas, você pode
orar, mas não misture o Senhor com suas
empreitadas! Foi pedido a mim que orasse por um
jovem homem que perdeu seu emprego durante uma
fraude para que ele arranjasse outro lugar para
trabalhar. Mas em vez de fazer isto, eu sugeri que
ele deveria, por si mesmo, orar para que ele fosse
mais honesto. Outro que está em uma incrível dívida
quer que eu ore para que ele obtenha ajuda, mas eu
sugeri que ele deveria deixar que seus credores
recebessem uma parte do que tinha até que não lhe
sobrasse mais nada. Não irei pedir para o meu Deus
o que não pediria para nenhum homem!
O se aproximar ao Trono da Misericórdia é
um terreno santo, não brinque com isso ou não faça
disso uma oportunidade para pecar! “Pedis, e não
recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em
vossos deleites” (Tg 4:3). Se nós andamos na
contramão com o Senhor, Ele irá andar contra nós!
E digo a todo homem e mulher aqui que está em
apuros e que são cristãos, tome o caminho certo
nisto – faça a coisa certa, e se isto o trouxer aflição,
suporte isto como homem, e então vá ao Senhor e
diga, “Senhor, eu escolhi, por Sua Graça, um
caminho correto e honesto, agora ajude-me”, e Ele
irá! Deus nos conceda Graça, como Cristãos, a
andar com Deus no Poder de Seu Espírito,
descansando somente em Jesus, e que Ele faça cada
um de nós poderoso em oração! Um homem a
quem Deus ensinou a orar poderosamente é um
homem que possui a mente do Senhor, e é a Mão de
Deus movendo-se no meio dos homens! Quando ele
age, Deus age nele. Ele deve, contudo, ser
cuidadoso e vigilante, pois o Senhor é um Deus
ciumento – e mais ciumento com aqueles que Ele
mais ama!
Deus lhes conceda, irmãos e irmãs, andarem
humildemente com Ele, e a viver perto de Si, “para
que suas orações não sejam impedidas. Amém.
ORAÇÃO, A PROVA DA
SANTIDADE
Sermão de Número 2437
S ERMÃO ENTREG U E NA NO I TE D E Q U I NTA- FEI RA,
2 7 D E O U TU BRO D E 1 8 8 7 .
“Por isso, todo aquele que é santo
orará a Ti, a tempo de Te poder
achar.”
Salmos 32:6
Nem TODOS os homens são santos. Oxalá, os
ímpios são a grande maioria da raça humana! E
todos os homens que são, até certo ponto, santos,
não são igualmente santos. O homem que teme a
Deus e deseja verdadeiramente conhecê-Lo tem
alguma pouca medida de santidade. O homem que
tem começado a confiar no Salvador, o qual Deus
colocou como a grande Propiciação pelo pecado tem
uma abençoada quantidade de santidade. O homem
cuja comunhão com Deus é constante, cujas sérias
orações e lágrimas penitenciais são frequentemente
observadas pelo grande Pai, e o qual suspira por um
mais completo e mais profundo conhecimento do
Senhor – este homem é santo em um sentido mais
alto. E aquele que, por uma companhia contínua
com Deus tem se tornado como Ele, sobre quem a
imagem de Cristo foi fotografada, pois ele olhou
para Ele por tanto tempo e se alegrou Nele tão
intensamente – ele é um homem santo! O homem
que acha seu Deus em todo lugar, que vê Ele em
todos os trabalhos de suas mãos. O homem que leva
tudo a Deus – quer que seja algo feliz ou calamitoso
– este é o homem santo. O homem que procura à
Deus por tudo, toma cada pedido para o Trono da
Graça e toda petição para o Assento da Misericórdia
– o homem que não poderia viver sem seu Deus,
para quem Deus é sua alegria excelente, a ajuda e a
saúde de seu semblante, o homem que permanece
em Deus – este é o homem santo. Este é o homem
que deverá habitar eternamente com Deus, pois ele
teve a santidade dada para si e, no bom tempo do
Senhor, ele deverá ser convocado para aquele
abençoado lugar onde ele deverá ver Deus e se
alegrará diante Dele por toda eternidade!
Julguem-se a si mesmos, queridos ouvintes, por
estes testes, se você é santo ou não. Deixe que a
consciência faça um trabalho correto neste assunto.
Possivelmente, enquanto estou pregando, você pode
ser ajudado a realizar este muito necessário trabalho
de autoexame. O texto, em si mesmo, é um teste
pelo qual nós podemos dizer se estamos entre os
santos – “Por isso, todo aquele que é santo orará a
Ti, a tempo de Te poder achar.”
Nestas palavras nós temos, em primeiro lugar, a
marca universal dos homens santos. Eles oram a
Deus. Então nós temos, em segundo lugar, um
motivo poderoso para orar – “Por isso, todo
aquele que é santo orará a Ti.” E em seguida, em
terceiro, nós temos a ocasião especial onde a
oração é mais útil, a ocasião na qual os santos se
beneficiam abundantemente – eles deverão orar” “a
Ti, a tempo de Te poder achar.” Todos estes pontos
são muito dignos da nossa mais séria consideração.
1. O primeiro ponto é, A MARCA
UNIVERSAL DA SANTIDADE – “Por isso,
todo aquele que é santo orará a Ti”
Quando um homem está começando a ser santo,
este é o primeiro sinal de mudança que está sendo
trabalhado nele, “Pois eis que ele está orando” (Atos
9.11) Oração é a marca da santidade em sua
infância. Até que ele tenha chegado aos pedidos e
às petições, não podemos ter certeza alguma de que
a vida Divina está nele. Podem existir desejos, mas
se eles nunca se tornam em orações, nós podemos
temer que eles sejam como a nuvem da manhã e
como orvalho da madrugada – que logo passam.
Podem existir alguns sinais de pensamentos santos
no homem, mas se esses pensamentos nunca se
aprofundam em oração, nós podemos temer que os
pensamentos sejam como a semente jogada sobre a
dura estrada, a qual os pássaros do ar irão em breve
devorar. Mas quando o homem vem a um real
acordo de súplica com Deus – quando ele não pode
descansar sem derramar seu coração ao Trono da
Misericórdia – você começa a ter esperanças que
agora ele é, de fato, um homem santo! A oração é o
suspiro de vida no crente recém-nascido! A oração é
o primeiro choro pelo qual é reconhecido que a
criança recém-nascida realmente vive! Se ele não
ora, você pode suspeitar que ele tem somente um
nome pelo qual viver – e que ele não possui
verdadeira vida espiritual.
E como a oração é a marca da santidade em sua
infância, é igualmente a marca da santidade em
todos os estágios de seu crescimento. O homem
que tem mais da Graça, orará mais. Tome minha
palavra como certa quando falo que quando vocês e
eu temos mais da Graça, nós podemos julgar isso
pelo fato de que existe mais oração e louvor em nós
do que existia antes. Se você ora menos do que uma
vez já orou, então julgue-se como menos piedoso,
como tendo menos comunhão com Deus, como
menos, de fato, santo! Não conheço melhor
termômetro para a temperatura espiritual que este –
a medida da intensidade da sua oração. Não estou
falando sobre a quantidade dela, pois existem alguns
que, por serem pretensiosos, fazem longas orações.
Estou falando sobre a realidade dela, a intensidade
dela. Oração é mais bem medida por seu peso do
que por seu tamanho e largura e, na proporção que
você cresce na Graça, você irá crescer em oração;
dependa dela! Quando o filho de Deus alcança a
medida da estatura completa de um homem em
Cristo, então ele se torna como Elias, um poderoso
homem em oração. Um homem como esse na igreja
pode salvá-la da ruína! Vou ainda mais adiante e
digo que tal homem em uma nação, pode trazer
bênçãos indizíveis sobre esta! Ele é um homem mais
santo enquanto obtiver mais poder com Deus em
suas petições secretas – e aquele que tem mais poder
com Deus em suas petições secretas tem isto, pois
ele abunda em santidade! Todo aquele que é santo
orará ao Senhor, seja ele um bebe na Graça que
balbucia algumas frases quebradas, ou um forte
homem em Cristo que lança mão sobre o Anjo da
Aliança com a poderosa determinação de Jacó,
“Não te deixarei ir, se não me abençoares.” As
orações podem varia a medida que o grau de
santidade difere, mas todo homem santo tem, do
começo ao fim de sua vida espiritual, esta marca
distintiva, “Eis que ele ora”.
Adiante, caros amigos, a oração verdadeira é uma
marca infalível de santidade. Se você não ora,
lembrem-se daquele velho ditado, “Uma alma sem
oração é uma alma sem Cristo”. Você sabe o quão
frequentemente tem sido o caso das maiores
confissões de santidade terem sido algumas vezes
acompanhadas pela prática dos mais mortais vícios.
Por exemplo, onde quer que a doutrina da perfeição
humana seja guardada, ali tem sido quase sempre
produzidas horríveis devassidões, desesperadas
imundícies da carne que são desconhecidas a todas
outras doutrinas menos nessa! De forma semelhante,
tenho conhecido pessoas que se tornaram, como elas
mesmas dizem, tão conformadas à mente de Deus,
tão perfeitamente em acordo com a Vontade Divina
que elas não sentem a necessidade de orar. Isto é o
diabo de branco – nada além disso – e o diabo de
branco é mais diabólico do que quando ele está
vestido de preto! Se alguma coisa levar-lhe ao
enfraquecimento na oração, ou a se abster
completamente da oração, é uma coisa perversa, não
importa o disfarce que coloque nela!
Porém, onde quer que exista a real oração na alma,
tome como certo que o desejo santo e persistente no
espírito comprova que ainda há vida no espírito. Se
o Senhor permite a você orar, peço-lhe, não se
desespere. Se você tem que orar com muitos
gemidos, suspiros e lágrimas, não pense menos de
suas orações por essa razão! Ou, se você pensar
menos delas, o dia virá quando você vai considerar
como melhores suas orações quebradas do que de
quaisquer outras. Tenho conhecido o que vem do
Trono da Graça quando sinto que não orei em nada!
Tenho desprezado minha oração e chorado por cima
disso, e ainda assim, algum tempo depois, olhando
para trás, tenho pensado “Desejaria orar como orei
quando eu pensei que eu não tivesse orado em
nada”. Nós, geralmente, somos pobres juízes de
nossas próprias orações! Mas este julgamento
devemos fazer – se o coração suspira, chora, anseia
e apela a Deus, tais suspiros e sinais nunca estiveram
em um coração não-regenerado! Estas flores são
exóticas – a semente na qual elas crescem deve vir
dos Céus! Se você ora uma verdadeira oração
espiritual, isto deve ser, de fato, uma certa marca de
que o Espírito de Deus está empenhando-Se em
você e que você já é um filho de Deus!
Mais uma vez, amados amigos, a oração é natural ao
homem santo. Penso que é uma boa coisa ter
horários certos para oração, mas estou certo de que
seria uma terrível coisa confinar a oração a algum
tempo ou estação, pois para o homem santo, a
oração vem como o respirar, como o suspirar, como
o chorar. Você tem, talvez, ouvido do pregador que
costumava colocar na margem dos manuscritos dos
seus sermões, “Clame aqui”. Este é um tipo muito
pobre de clamor que pode ser feito a pedido, dessa
forma, você não pode produzir a intensidade da
oração a um pedido – isso deve ser uma emanação
natural do coração renovado! Jacó não podia sempre
ir e passar a noite em oração. É possível que ele
nunca tenha passado uma outra noite inteira em
oração em toda sua vida depois daquela memorável
noite! Mas quando ele passou aquela noite ao ribeiro
Jaboque, ele não podia fazer outro tipo de oração,
como Lutero disse. Oração bombeada de algum
lugar é um pouco melhor do que a água bombeada
dos porões de um navio! O que você necessita é a
oração que flui livremente de você, como uma fonte
que jorra de uma rocha quebrada. Oração deveria
ser o desabafo natural da alma – você deveria orar
porque você deve orar, não porque o tempo
determinado para oração chegou – mas porque seu
coração deve clamar ao Senhor.
“Mas”, diz um, “algumas vezes eu não sinto que eu
consigo orar”. Ah, neste momento, de fato, é que
você mais precisa orar! Este é o tempo quando você
deve insistir na oração, pois há algo infelizmente
errado com você. Se, quando o tempo chega para
você se aproximar para perto de Deus – você tem a
oportunidade e o tempo livre para isto, mas você
não sente nenhuma inclinação para o exercício santo
– dependa no fato de que tem algo radicalmente
errado com você! Existe uma doença mortal no seu
sistema e você deveria, de uma vez, clamar ao
Médico celestial. Você tem necessidade de clamar
“Deus, eu não consigo orar. Tem algo estragado e
misterioso em mim. Existe algo que me aflige! Vem,
Ó Senhor, e me corrige, pois eu não posso continuar
a permanecer em uma condição sem oração!”.
Um estado sem oração deveria ser uma condição
infeliz e miserável para um filho de Deus – e este
não deveria descansar até que achasse mais uma vez
aquele espírito que pode verdadeiramente se
derramar diante do Deus vivo! Quando você está em
um estado correto de coração, orar é tão simples
quanto respirar. Lembro-me de estar na capela do
senhor Rowland Hill*[16] em Wotton-Under-Edge e
parar na casa onde ele costumava morar. Eu disse a
um amigo que conhecera o bom homem, “Onde o
Sr. Hill costumava orar?”. Ele respondeu, “Bom,
meu caro senhor, não sei se posso lhe dizer isto. E
se você me perguntasse, ‘Onde ele não orava?’ ou
‘Quando ele não orava?’ Estaria impossibilitado de
lhe falar. O querido e velho cavalheiro costumava
andar para cima e para baixo daquela cerca dourada
e se alguém estivesse fora da cerca, ouviria ele
orando enquanto caminhava. Em seguida, ele subia
a rua e continuava orando todo o tempo. Depois que
ele tivesse feito isso, ele voltaria, novamente, orando
todo o tempo. E se ele fosse para dentro de casa e
sentasse na sua escrivaninha, ele não era muito um
homem de ler, mas você o encontraria repetindo
algum verso de um hino, ou ele estava orando por
Sarah Jones que estava doente, ou ele clamaria por
Tom Brown que estava recaindo no erro.”
Quando o velho homem estava em Londres, ele
subia e descia a Rua Blackfriars, parava e olhava
para uma janela de loja. E se alguém estivesse ao
seu lado, encontraria que ele ainda estava orando,
pois ele não conseguia viver sem oração! Isto é
como um homem santo se torna, no fim – começa a
ser natural para ele orar assim como é respirar! Você
não nota o dia inteiro quantas vezes você respira.
Quando você chega em casa à noite, você não diz,
“Eu respirei tantas vezes hoje”. Não, claro que você
não percebe a sua respiração, a não ser que tenha
asma! E quando um homem tem asma em oração,
ele começa a notar a sua oração! Mas aquele que
está em boa saúde espiritual respira livremente,
como uma alma viva diante do Deus vivo – e sua
vida se torna uma sessão continua de oração.
Para tal homem, a oração é um exercício muito
feliz e consolador. Não é uma tarefa, nem esforço.
Sua oração, quando ele é verdadeiramente santo e
vive perto de Deus, é um prazer intenso! Quando ele
pode se afastar dos negócios por alguns silenciosos
minutos de comunhão com Deus, quando ele pode
mover-se em segredo do barulho do mundo e ter um
pouco de tempo sozinho – estes são os prazeres de
sua vida! Estes são os prazeres que nos ajudam a
esperar com paciência através dos longos dias de
nosso exílio até que o Rei deva voltar e nos levar
para casa para habitar com Ele eternamente!
Essas orações dos santos, contudo, podem se
apresentar de muitas formas. Algumas orações tem a
boa forma da ação – e um ato pode ser uma oração.
Amar nossos companheiros e desejar o seu bem é
um tipo de prática consolidada de oração. Existe
alguma verdade naquele par de versos muito citados
por Coleridge[17] -
“Aquele que melhor ora, melhor ama
À todas as coisas, pequenas e grandes”
Chega a ser uma oração a Deus dar esmolas, pregar
o Evangelho, tentar ganhar um errante ou colocar
uma criança em seus joelhos e falar-lhe sobre o
Salvador. Tais atos são frequentemente as mais
aceitadas orações, mas quando você não pode agir
assim, é bom derramar seu coração diante do
Senhor em palavras. E quando você não pode fazer
isso, é doce sentar bem parado e olhar para Ele e,
assim como os lírios derramam sua fragrância diante
Dele que os fez, assim você fazer, mesmo sem falar
– adorar Deus naquela adoração profunda que é
muito eloquente para a linguagem – aquela santa
proximidade a qual, por ser tão próxima, não ousa
pronunciar algum som para que não quebre o
encanto do silêncio Divino que ela carrega!
Congelamento da boca, mas fluidez da alma, é
geralmente uma boa combinação na oração. É uma
abençoada oração se deitar em seu rosto em silêncio
diante de Deus, ou suspirar e chorar, gemer e
lamentar, à medida que o Espírito Santo lhe mover.
Isto tudo é oração, não importa a forma que assuma,
e é o sinal e a prova da verdadeira vida de um
crente.
Penso que já disse o suficiente sobre aquele primeiro
ponto – a marca universal de santidade é a oração.
2. Em segundo lugar, existe, no texto, UM
PODEROSO MOTIVO PARA A ORAÇÃO –
“Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti,
a tempo de Te poder achar”.
O motivo parece ser, primeiramente, porque Deus
escutou tão grande pecador como Davi era.
Possivelmente você sabe que esta passagem é muito
difícil de interpretar. Parece ser simples o bastante,
porém existem muitas interpretações sobre ela. Na
Versão Revisada você irá achar na nota de rodapé
“A tempo de descobrir pecados”. Deixe-me ler o
contexto – “Confessei-te o meu pecado, e a minha
maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao
Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a
maldade do meu pecado. Por isso, todo aquele que é
santo orará a ti, a tempo de descobrir pecados”.
Tudo corre bem e o contexto parece garantir essa
interpretação. Não estou certo de que esta seja a
tradução correta, mas o sentido harmoniza com a
tradução, então que aprendamos disto esta lição, que
Deus escutou a oração de um grande pecador!
Pode existir, nesta Casa de Oração, alguém que
penetrou em pecado grosseiro e grave – e esta
leitura da passagem pode ser uma mensagem do
Senhor para esta pessoa. Davi pecou muito
tolamente e adicionou a este pecado o engano. Suas
obras maléficas fazem os ímpios criticarem a
piedade até o dia presente, dessa forma os infiéis
perguntam em desprezo “Este é o homem segundo o
coração de Deus?”. Foi um pecado horrível que ele
cometeu, mas veio a ele um tempo de se deparar
com seu pecado. Seu coração foi quebrantado em
penitência e então ele foi à Deus, achou misericórdia
e disse, com efeito, que era tão maravilhoso que um
desgraçado como ele poderia ser perdoado, que todo
homem santo, por todo tempo enquanto o mundo
existir, poderia acreditar na confissão de pecados ao
Senhor e no poder da oração para obtenção de
perdão para a culpa! Gosto deste significado do
texto, pois ele é algumas vezes necessário para nós,
quando nós estamos debaixo da convicção do
pecado, para que pensemos sobre tais pecadores
como Manassés, Madalena, o ladrão crucificado e
Saulo de Tarso. Existem ocasiões, mesmo para
aqueles que são grandemente abençoados por Deus,
quando nada a não ser o Salvador do pecador pode
fazer algo para eles. E quando eles sentem que se
não existisse salvação para o mais vil dos vis, não
haveria salvação para eles mesmos.
Então Deus nos dá um caso como o de Davi, que
todos que são santos devem orar a Ele em tempo de
achar o seu pecado. Nós devíamos ficar com medo
se Davi não tivesse trilhado este caminho antes de
nós! “Venha,” ele diz para o de coração
quebrantado, ele que escreveu o Salmo 51, “Deus
me perdoou e Ele o fez para que Ele mostrasse em
mim toda a longanimidade, como por um padrão
para que aqueles que viessem depois pudessem se
arrepender e crer”.
Outro motivo para a oração o qual eu penso que o
texto nos traz é que, todos nós precisamos de
perdão diário – “Por isso, todo aquele que é santo
orará a Ti”. “Por isso” – pelo cobrir dos pecados,
por este apagar das iniquidades. Queridos amigos,
espero que todos vocês orem a Deus diariamente
pelo perdão dos pecados. Estou certo de que todos
os santos entre vocês o fazem. Se você não comete
nenhum pecado, então o Salvador cometeu um
grande pecado quando Ele nos deixou a oração
“Perdoai as nossas ofensas”. Qual é a necessidade
dessa petição se nós não tivéssemos ofensas para
serem perdoadas? Mas para isto, ou seja, o perdão
dos seus pecados, todo aquele que é santo deve orar
ao Senhor.
E todo aquele que é santo orará a Deus por esta
razão, também, a saber, porque este recebeu o
perdão dos pecados. Você se lembra de quando fez
sua confissão ao Juiz de Tudo e recebeu absolvição
Dele? Você se lembra de quando, com coração
quebrantado e olhos cabisbaixos, você reconheceu
seu pecado a Ele e Ele lhe tirou suas transgressões?
Muito bem, esta é a razão pela qual você deveria
sempre orar! Aquele que lhe escutou naquele tempo,
ainda irá te escutar! Aquele que tirou seus pecados
naquele tempo, por aquele grande lavar na Fonte de
sangue, continuará a tirar seus pecados por aquela
lavagem de pés que Ele continuamente nós dá, sobre
a qual Jesus disse; “Aquele que está lavado não
necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo
está limpo”. Bendito seja Deus, nós não devemos
parar de orar por perdão por mais que já tenhamos
recebido perdão! Nós iremos suplicar pela
renovação diária do símbolo Divino da
reconciliação. Se nós o recebemos quando ainda
éramos pecadores, quanto mais devemos o receber
agora que somos reconciliados com Deus pela morte
de Seu Filho! Se nós O recebemos quando ainda
éramos exilados, quanto mais agora devemos
receber já que somos Seus queridos filhos!
Novamente, “Por isso, todo aquele que é santo orará
a Ti”, isto é para dizer que, tribulações vêm, pois o
contexto nos ensina esta lição. “Até no transbordar
de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o
lugar em que me escondo; tu me preservas da
angústia”. Irmãos, o Senhor cuida para nos manter
orando, não é verdade que Ele o faz, por nos dar
necessidades constantes? Suponha que eu tenha um
amigo no qual eu era dependente e cuja associação
eu amava muito, e ele falasse a mim: “Eu vou te dar,
de uma vez, dinheiro o bastante para que lhe durasse
até essa mesma época do ano que vem, e então você
pode vir me ver e receber outra porção anual. Ou,
como você gosta de vir à minha casa, você preferiria
receber essa quantia de três em três meses?”. Eu
responderia: “Eu escolho a última opção, pois assim
eu poderia vir até você quatro vezes ao ano e poder
jantar quatro vezes com você”.
“Bem, então, você gostaria que fosse
mensalmente?”. “Ó, sim! Eu gostaria de vir
mensalmente e passar o dia com você a cada mês”.
“Talvez”, ele diria, “Você não gostaria de vir todos
os dias?”. “Ó, sim! Eu preferiria assim! Eu gostaria
de ter um lugar na sua mesa diariamente”. “Ou
talvez você gostaria de ficar comigo para sempre,
assim como o Dr. Watts[18] fez quando ele foi até a
casa do senhor Thomas Abney, para passar uma
semana, e acredito que essa ‘semana’ durou 28
anos, pois ele nunca saiu de lá até sua morte. Talvez
você gostaria de receber tudo de minha mão e não
ter nada além daquilo que eu te der”. “Ó, sim, meu
amigo, essa dívida contínua, essa constante
dependência me daria tantas oportunidades de
melhor lhe conhecer, alguém que eu amo tanto, que
eu gostaria que fosse dessa maneira”.
Vocês ouviram falar de “porção do cesto[19]”. Existe
uma donzela prestes a se casar e seu pai diz-lhe
“Aqui, minha menina, vou lhe dar, de uma vez,
várias centenas de libras. Use da melhor forma, pois
é tudo o que lhe darei”. Outra moça se casa e seu
pai diz, “Te mandarei uma cesta cheia de coisas em
tal dia” e então, toda semana, um presente chega até
ela. É uma cesta cheia de presentes e está sempre
vindo! Nunca chega a um fim e esta recebe uma
quantia maior do seu velho pai do que a outra
recebe, aquela que recebeu sua fortuna de uma vez
só. De qualquer forma, a cesta vem, todas as vezes
“com o amor de seu pai”. Se isto fosse dado uma
vez só e com um sentimento, talvez, ruim, a
inimizade poderia surgir. Mas se isto vem “com o
amor de seu pai”, 50 ou 100 vezes por ano, olhe
como a afeição aumentaria entre pai e filha! Dê-me
a “porção do cesto”!
Você que gostaria de ir e pegar maná suficiente para
uma semana – irá criar cheiro antes do fim da
semana! Eu gosto de ter o meu maná fresco todos os
dias, assim como vem aquecido dos fornos do Céu e
pronto para o apetite celestial daquele que aprende a
viver das dádivas diárias de Deus! Por isso, todo
aquele que é santo orará a Deus. Ele terá problemas
para levar, ele terá a Graça para o chamar, ele terá
pesos para o elevarem e estes pesos serão tão
ajustados que em vez de ameaçar colocar o homem
para baixo, eles irão, na verdade, levantá-lo!
Mais uma vez, penso que, falando amplamente, as
palavras “Por isso”, aqui significam “Porque Deus
escuta as orações, por isso, todo aquele que é santo
orará a Ele”. Agora, queridos amigos, sempre
existirá uma disputa entre o verdadeiro crente e o
mero professor sobre o assunto de Deus escutar
orações. É obvio que o mundo irá sempre zombar à
ideia de Deus ouvindo orações! Um homem disse
uma vez para mim, “Você diz que Deus escuta suas
orações?”. “Sim, eu digo isso”. Disse ele: “Eu não
acredito nisso”. “Não,” eu disse, “eu nunca disse
que você acreditava nisso. E se você tivesse
acreditado, eu pensaria que havia ocorrido um
engano! Não espero que uma mente carnal receba a
Verdade de Deus”. “Ó,” ele disse, “não existe tal
coisa como oração!”. Então lhe perguntei, “Você já
orou, meu amigo? Você alguma vez já orou a
Deus?” Não, ele nunca tinha orado. “Muito bem,
então,” eu disse, “não fale nada sobre aquilo que
você não conhece! Se você não sabe nada sobre
oração, guarde sua língua até que você saiba – e
deixe que aqueles de nós que a experimentam falem
do que nós conhecemos”.
Se eu fosse colocado na cadeira de testemunhas
amanhã, qualquer advogado em Londres gostaria de
me ter como testemunha. Então, quando eu me
levanto aqui e declaro solenemente que centenas e
mesmo milhares de vezes Deus respondeu às
minhas orações, imploro que seja aceito como uma
testemunha honesta como se fosse colocado na mais
alta corte de justiça. E eu posso levar adiante, não eu
mesmo, somente, mas muitos e centenas de vocês!
Irmãos, me digam, Deus ouve orações? [Vozes da
igreja: “Sim! Sim”]. Eu sei que Ele o faz e vocês,
povo santo, podem testemunhar disso também!
Calmamente e deliberadamente, vocês poderiam me
contar de tantas vezes nas quais vocês clamaram ao
Senhor e Ele lhes respondeu. Eu desprezo
argumentar neste quesito, pois não é algo que
deveria ser discutido. Se um homem diz que eu não
tenho nenhum dos meus dois olhos, mesmo ele
falando isso, meus olhos piscariam enquanto eu o
escutasse. E se qualquer um falar, “Deus não ouve
orações”, eu sinto muito pela pobre alma que faz
uma afirmativa sobre algo que ela nunca testou ou
experimentou!
Deus ouve orações e porque Ele as escuta, nós
iremos clamar a Ele enquanto tivermos vida! “Por
isso, todo aquele que é santo orará a Ti” – porque
existe realidade nisto e também gera um resultado
abençoado! A oração move o braço que move o
mundo, apesar de que nada é posto fora do seu
devido lugar por nossa oração. O Deus que ordenou
os efeitos que seguem as orações, ordenou que as
próprias orações fossem feitas – é uma parte do
grande maquinário pelo qual o mundo gira em seus
eixos!
3. Não tenho mais tempo para falar sobre aquela
parte de meu discurso, apesar de que exista
muito mais a ser dito. O último ponto é um no
qual gostaria de chamar sua mais séria atenção –
isto é, A OCASIÃO ESPECIAL ONDE
ORAÇÃO É MAIS EFICIENTE. “Por isso,
todo aquele que é santo orará a Ti, a tempo de
Te poder achar”. Existe algum momento
determinado onde Deus pode ser achado?
Bem, em geral, é no momento desta vida mortal.
Enquanto você estiver vivo, aqui, e orar a Deus, Ele
tem prometido responder sua oração. Mesmo que
seja a última hora, nem hesite em orar! As palavras
de Cristo são, “Aquele que buscar, achará”. Existe
uma promessa especial para aqueles que buscam ao
Senhor bem cedo, mas isso não exclui aqueles que
O buscam tardiamente. Se você verdadeiramente O
procura, Ele irá ser achado por você.
Penso, também, que o tempo de achar está debaixo
desta dispensação do Evangelho. Deus sempre
escutou orações, mas parece existir uma maior
liberdade fornecida a nós em oração, agora. O
Trono da Misericórdia está descoberto e o véu está
partido ao meio para que nós possamos vir com
santa ousadia. Mas, além disso, existem tempos
especiais para encontrar a Deus, isto é, nas
visitações de Seu Espírito. Tempos de avivamento
são grandes tempos de oração! Quantos são aqueles
que são colocados em harmonia com Deus porque
se sentiram movidos a isso por um impulso celestial!
Existe “um ruído de marcha pelas copas das
amoreiras” (1 Cr 14:15), assim como houve com
Davi, e eles começam a se agitar.
Concluindo, permanecerei somente neste único
ponto – existem momentos especiais para o
encontro e um desses é o momento onde o pecado
é encontrado. Volte para a tradução que lhe dei
anteriormente. O momento quando você encontra
seu pecado é o momento em que você encontrará
Deus. “Por que”, você diz, “é uma coisa horrível
para mim o fato de encontrar meus pecados”. Sim,
é, em si mesmo, mas é o melhor momento para se
encontrar Deus! Quando seus olhos estão cegos com
as lágrimas do quebrantamento, você pode olhar
melhor para o Salvador. Não diga, “Eu me encontro
tão culpado e, por isso, não tenho esperanças”. Não,
em vez disso, porque você se achou tão culpado,
por isso mesmo, tenha esperança, pois o Salvador
veio buscar e salvar tais pecadores como você é! O
momento, eu digo, quando o pecado nos encontra, e
quando estamos humilhados e envergonhados, é o
tempo em que nós podemos encontrar nosso Deus
através de Jesus Cristo.
Dessa forma, também, o tempo de decisão é um
tempo para encontrar Deus. Alguns permanecem
indecisos – eles não decidiram se irão viver para o
mundo e perecer, ou buscar a Cristo e viver
eternamente. Mas quando o Espírito de Deus vem
sobre você e você diz a si mesmo, “Eu devo
encontrar Jesus Cristo, eu devo buscar perdão e
tomar posse da vida eterna. Dê-me Cristo, ou eu
morrerei”, você poderá tê-Lo! Deus prometeu que
se nós O buscarmos de todo nosso coração, Ele será
encontrado por nós. Quando você está decidido por
Deus completamente e intensamente, este será para
você um momento de encontro com Ele.
Assim será quando você vir até Deus em total
submissão. Alguns de vocês ainda não abaixaram
suas armas de rebelião. Vocês não podem se
reconciliar com Deus enquanto sua espada ainda
está em sua mão – abaixe isto, homem! Alguns de
vocês têm finas penas em seus capacetes e vocês
vêm até Deus como grandes capitães – tirem essas
penas! Ele irá te aceitar em trapos, mas não em belas
roupas! Ele irá te receber se você vier confessando
seu pecado, mas não se vangloriando de seus
supostos méritos. Abaixe-se ao próprio pó! Se renda
a Deus! Ó, que Sua misericórdia faça a todos nós
flexíveis como o salgueiro diante de Seu Majestoso
Poder! Então assim teremos paz com Cristo.
Acredito que é um tempo de encontro quando você
vem a se concentrar. Tenho conhecido homes, às
vezes, que dizem com santa determinação, “Estou
resoluto que encontrarei Cristo. Encontrarei salvação
e tudo pode acabar-se até que eu encontre salvação.
Subirei para meu quarto, fecharei a porta e só sairei
de novo, quando houver encontrado o Senhor”.
Quando toda alma é dobrada para encontrar Cristo,
então o Senhor aparecerá rapidamente, e este será
um tempo de encontro com Ele!
Mas, especialmente, é um tempo de encontro
quando o coração, enfim, confia completamente e
implicitamente ao Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo. Você descobrirá que Deus te
encontrou quando você estiver acabado consigo
mesmo e tomado o sangue e a justiça de Cristo para
ser a única esperança de sua alma! Deus os guie a
isso, queridos ouvintes, neste exato momento!
Sei que existem alguns de vocês que estão buscando
o Senhor. Existem alguns que ultimamente
começaram a se encontrar com grande ansiedade.
Espero que você não demore neste estado ansioso,
mas que você o ultrapasse por confiar-se em Cristo!
É um fim maravilhoso para a ansiedade quando
você tem Alguém para confiar e quando sua
confiança está em Alguém. Agora, confie em Jesus!
Ele irá salvar-te! Sim, Ele te salva no mesmo
momento em que você crer Nele, e Ele nunca te
deixará ir, mas irá te trazer para Sua Alta Glória!
OS DOIS GUARDAS: ORAR E
VIGIAR

Pregado em Julho de 1890

“Porém nós oramos ao nosso Deus e


pusemos uma guarda contra eles, de
dia e de noite, por causa deles.”
Neemias 4:9

Neemias e os judeus estavam reconstruindo


os muros de Jerusalém. Sambalate e outros estavam
furiosos com eles e tentaram parar o seu trabalho.
Eles determinaram a se aproximar do povo e de
repente os assassinar – e assim colocar um fim
naquilo que eles estavam fazendo. Nosso texto nos
diz o que Neemias e seus companheiros fizeram
nesta emergência – “Porém nós oramos ao nosso
Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de
noite, por causa deles”.
Estas pessoas teriam não só que construir os
muros de Jerusalém, mas vigiar contra os seus
inimigos ao mesmo tempo. O caso deles é o mesmo
do nosso. Nós temos que trabalhar para Cristo.
Espero que todos nós que O amamos estejamos
fazendo tudo o que podemos para construir Seu
Reino – mas nós também necessitamos vigiar contra
nossos inimigos mortais. Se eles podem nos destruir,
claro que eles também destruirão nosso trabalho.
Eles irão fazer os dois se for possível. Os poderes do
mal estão furiosos contra o povo de Deus. Se eles
podem, de alguma maneira, nos injuriar ou nos
importunar, você pode ter certeza que eles o farão.
Eles não irão deixar nenhuma pedra desvirada se isto
puder servir ao seu propósito. Nenhuma flecha
sobrará nas aljavas do inferno enquanto existirem
homens e mulheres santos os quais puderem ser
atingidos. Satanás e seus aliados mirarão aos nossos
corações todos os dardos envenenados que eles
tiverem.
Neemias foi avisado do ataque que estava
para ser realizado à cidade. Os judeus que viviam
perto dos samaritanos escutaram sua conversa sobre
o que eles pretendiam fazer e forma contar a
Neemias os planos de seus adversários. Nós também
somos avisados. Como nosso Senhor disse a Pedro:
“Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos
cirandar como trigo” (Lc 22:31), da mesma forma,
Ele, em Sua Palavra, nos disse que existe um grande
e terrível poder maléfico que está buscando nossa
destruição. Se Satanás puder assim fazer, ele não vai
somente nos cirandar como trigo, mas irá nos lançar
ao fogo para que sejamos destruídos. Irmãos, “não
ignoramos os seus ardís” (2 Co 2:11). Vocês não são
deixados em um paraíso de tolos para sonhar com a
segurança das tribulações e sonhar ter o luxo de
estar fora de tentações.
Era bem conhecido para estas pessoas,
também, que estando em perigo e alertados sobre a
malícia de seus inimigos, que eles tinham um nobre
líder para estimulá-los ao caminho certo a ser
seguido. Neemias estava bem qualificado para esta
obra. Ele deu aos judeus conselhos muito astutos,
sensíveis e espirituais – e isto foi uma grande ajuda
para eles na hora da necessidade. Amados, nós
temos um Líder melhor que Neemias. Nós temos
nosso Senhor Jesus Cristo e nós temos Seu Espírito
Santo que habita em nós e que permanecerá dentro
de nós. Imploro que você escute ao Seu sábio e bom
conselho. Penso que Ele o dará à medida que
continuamos com a explicação do texto. Ele dirá a
você o que Neemias, de fato, disse a aquelas pessoas
– Orem e vigiem. Mesmo que os adversários dos
judeus conspirassem juntos – e viessem lutar contra
Jerusalém e impedir o trabalho de reconstrução dos
muros – Neemias diz, “Porém nós oramos ao nosso
Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de
noite, por causa deles”.

No texto, vejo dois guardas. Primeiro, a


oração – “nós oramos ao nosso Deus”. O segundo
guarda é a vigia – “pusemos uma guarda”. Quando
eu houver falado desses dois assuntos, deverei
pegar, como meu terceiro tópico, os dois guardas
juntos. “Nós oramos e pusemos uma guarda”. Nós
devemos ter os dois se quisermos derrotar o inimigo.
1. Primeiro então, caros amigos,
pensem no PRIMEIRO GUARDA – “nós
oramos ao nosso Deus”.
Falando desta oração, eu a tomaria como
padrão para nossas orações quando estivermos em
condições semelhantes. Foi uma oração que
pretendia um objetivo. Algumas quando nós
oramos, temo que não estejamos transferindo um
objetivo ao Trono da Graça. Mas Neemias era tão
prático em sua oração quanto era em sua vigília.
Alguns irmãos vêm para nossas reuniões de oração e
dizem coisas muito boas – mas o que eles realmente
buscam, eu realmente não sei. Tenho ouvido
orações às quais tenho dito, quando elas são
terminadas, “Bem, se Deus responder essa oração,
eu não faço a mínima ideia do que Ele nos dará”.
Era uma oração muito bonita e nela havia uma
grande quantidade de explicação doutrinária e de
experiência, mas eu não creio que Deus precisa que
Lhe sejam explicadas doutrinas ou experiências. A
falha nessa oração era que nada foi pedido nela.
Gosto quando irmãos estão orando como se eles
tivessem um objetivo assim como um carpinteiro
quando está trabalhando. Não há necessidade de
usar um martelo de marfim se você não deseja
acertar a cabeça do prego. E se este é seu objetivo,
um martelo comum o fará tão bem quanto um
maravilhoso martelo – talvez o faça até melhor.
Bem, as orações de Neemias e dos judeus eram
petições para proteção divina. Eles sabiam o que
queria e eles pediram por isso de forma completa.
Ó, por mais orações definidas! Temo que nossas
orações sejam, frequentemente, nuvens e que nós
recebemos névoas por respostas. A oração de
Neemias tinha objetivos. Desejaria que nós
pudéssemos sempre orar desta maneira. Quando eu
oro, gosto de ir a Deus da mesma forma como vou a
um banqueiro quanto preciso sacar um cheque.
Entro, coloco o cheque sobre a mesa, o balconista
me dá o dinheiro e eu sigo para minhas tarefas. Não
sei se já parei em um banco cinco minutos para
conversar com o balconista – assim que recebo
minha quantia, vou embora cuidar de outras coisas.
Assim é como gosto de orar. Mas existe uma forma
de oração que parece ser como se estivesse se
espreguiçando perto do Trono da Misericórdia,
como se este alguém não tivesse nenhuma razão em
especial de estar ali. Que não seja assim com vocês,
irmãos. Apele para a promessa, creia nela, receba as
bênçãos que o Bendito Deus está desejoso de lhe
dar, e continue sua obra. A oração de Neemias e de
seus companheiros tinha um objetivo.
No próximo lugar, era uma oração que
superava dificuldades. O texto começa com a
seguinte palavra, “Porém”. Se observarmos bem,
quando certas coisas acontecem, nós oramos muito
pouco. Quando, pelo contrário, deveríamos clamar
ao nosso Senhor o máximo que pudermos.
Sambalate zombava, porém nós oramos ao máximo
por suas zombarias. Tobias pronunciou um escárnio
cortante, porém nós oramos ao máximo por seus
gracejos. Se homens fazem piada de sua religião,
ore mais ainda. Se eles se tornam violentos e cruéis,
ore mais ainda. Nada a menos, nem uma palavra a
menos, nem uma sílaba a menos, nem um desejo a
menos, nem um pouco de fé a menos. Quais são
suas dificuldades, querido amigo, em vir ao Trono
da Misericórdia? Quais impedimentos estão em seu
caminho? Não deixe que nada obstrua sua
aproximação ao Trono da Graça. Torne todas as
pedras de tropeço em pedras de apoio e venha, com
coragem santa, e ore, não importando toda
oposição. “Porém nós oramos ao nosso Deus”. A
oração de Neemias buscava objetivos e superava
dificuldades.
Note, em seguida, que era uma oração que
foi feita antes de qualquer outra coisa. O texto não
fala que Neemias pôs uma guarda e depois orou,
mas, “nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma
guarda”. A oração deve ser o cavalo dianteiro de um
grupo. Faça o que quer que seja sábio, mas só
depois que você tiver orado. Vá ao médico se você
está doente, mas primeiro ore. Tome o remédio se
você acredita que vai lhe fazer bem, mas primeiro
ore. Vá falar com o homem que lhe caluniou, se
você acha que deve fazê-lo, mas primeiro ore.
“Bem, eu farei isto e aquilo”, diz um, “e depois
orarei para uma bênção para meus objetivos”. Não
comece nada até que você tenha orado. Comece,
continue e termine tudo com oração, mas
especialmente comece com oração. Algumas
pessoas nunca começam o que irão fazer se tivessem
orado primeiro, pois elas não poderiam para Deus
abençoar tal ação. Há alguém neste tabernáculo que
ao sair daqui irá a um lugar ao qual não deveria ir?
Será que este alguém irá orar primeiro? Ele sabe que
não pedir uma bênção, pois ele sabe o mau lugar
onde estará indo. Não vá a nenhum lugar onde você
não pode ir depois de orar; isto seria um bom guia
em sua escolha de lugares para ir. Neemias primeiro
orou e depois vigiou.
Mais uma vez, foi uma oração que teve
continuidade. Se nós lermos a passagem
corretamente, “Porém nós oramos ao nosso Deus e
pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite”,
isso significa que à medida que eles vigiavam, eles
oravam. Eles não oraram e então a abandonaram e
foram embora, como garotos teimosos fazem
quando saem para tocar campainhas e correr. Tendo
começado a orar, eles continuaram orando.
Enquanto houvesse inimigos ao redor, a oração e a
guarda nunca pararam. Eles continuaram clamando
a Aquele que guarda Israel enquanto colocavam os
guardas para adverti-los dos inimigos.
Quando nós devemos largar a oração,
irmãos e irmãs? Bem, dizem que nós devemos fazer
isso quando chegarmos ao Céu. Não estou certo
disso. Não acredito que os santos já mortos fazem
intercessões por nós, mas lembro-me do que está
escrito no livro de Apocalipse, de que as almas
debaixo do altar clamavam, “Até quando, ó
verdadeiro e santo Dominador” (Ap 6:10). As almas
estavam esperando pela Ressurreição, esperando
pela vinda de Cristo, esperando pelo triunfo de Seu
Reino, e não consigo imaginar a sua espera lá sem
um clamor frequente “Até quando, ó Senhor?
Lembre-se do Seu Filho, glorifique Seu Nome,
complete o número dos Seus eleitos”. Mas
certamente, enquanto nós estivermos aqui, devemos
orar. Uma senhorita, que dizia que já fazia tempo
que ela alcançara a perfeição, disse que sua mente
estava em tão completa conformidade com a mente
de Deus que ela não precisava mais orar. Pobre
criatura! O que ela sabe da verdade? Ele precisava
primeiramente começar no ABC da salvação e orar,
“Deus, tem misericórdia de mim, uma pecadora!”.
Quando as pessoas pensam que não precisam orar,
que o Senhor tenha misericórdia delas! –
“Enquanto eles viverem, os cristãos
devem orar,
Pois somente enquanto oram é que eles
podem viver”
A oração que Neemias ofereceu era, em
seguida, uma oração caseira. Podem existir alguns
de vocês que gostam de orações já feitas e pode ser
que, se toda a congregação se unir na súplica e toda
voz falar ao mesmo tempo, a oração deve ser
preparada como um hino. Mas orações pré-prontas
sempre me parecem como roupas pré-prontas – elas
são feitas para servir em todo mundo e é muito raro
que sirva para alguma pessoa. Para um objetivo real
ao Trono da Misericórdia, dê-me uma oração feita
em casa, uma oração que vem das profundezas do
coração, não porque eu a inventei, mas porque Deus
o Espírito Santo colocou lá e a deu uma força
vivente tão forte que eu não podia impedir que ela
saísse. Mesmo que suas palavras sejam quebradas e
que suas frases sejam desconexas, se seus desejos
são sinceros, se eles são como carvões, queimando
com uma chama violenta, Deus não se importará
como você se expressa. Se você não tem palavras
talvez ore melhor sem elas. Existem orações que
quebram as costas das palavras – elas são muito
pesadas para que qualquer linguagem humana
consiga carregar.
Esta oração, então, qualquer que tenha sido
em relação às suas palavras, foi uma que os homens
fizeram – “nós oramos ao nosso Deus”.
É muito importante notar que era uma
oração que se direcionou para A Casa da Oração
(isto é, o Céu. N.E.) – “nós oramos ao nosso Deus”.
Vocês ouviram falar do homem que orou em
Boston, “o centro do universo”, e a notícia no jornal
do dia seguinte foi, “O Reverendo Fulano orou a
mais excelente oração que já foi dirigida à audiência
de Boston”. Temo que existam orações desse tipo
que são oradas para a congregação. Este não é o
tipo de oração que Deus ama. Esqueça que existe
alguém presente. Esqueça que o ouvido humano
está escutando ao seu sotaque e deixe que seja dito
da sua oração, “Porém nós oramos ao nosso Deus”.
É algo muito comum lembrar que a oração
deve ir a Deus se existir alguma utilidade nela, mas
isto é algo necessário de se fazer. Quando a oração
não vai a Deus, qual é o bem nela? Quando você sai
de seu quarto e sente que você somente
desempenhou uma forma exterior, quão beneficiado
é você? Faça suas orações a Deus. Fale em seu
ouvido, sabendo que Ele está lá, e saia sabendo que
Ele te respondeu, que Ele levantou a luz de Seu
semblante sobre você. Este é o tipo de oração que
nós precisamos para nossa proteção contra os
inimigos tanto de dia quanto de noite.
Somente mais uma vez sobre este ponto,
entendo pelas palavras que são colocadas diante de
mim que foi uma oração saturada de fé. “Nós
fizemos nossa oração a Deus?” Não, o texto diz, “ao
nosso Deus”. Eles tomaram Jeová como seu Deus e
oraram a Ele como seu Deus. Eles tinham uma
segurança completa que, apesar de Ele ser o Deus
de toda a terra, mesmo assim, Ele era especialmente
o Deus deles – e então eles fizeram sua oração ao
Deus que havia Se dado a eles e ao qual eles
pertenciam pelo relacionamento da promessa. “Nós
oramos ao nosso Deus”. Essas duas palavras
parecem carregar um vasto peso de significado. A
porta da oração parece se virar nessas duas
dobradiças douradas – “nosso Deus”. Se você e eu
seremos livres do mal que está no mundo – se nós
seremos guardados enquanto construímos a Igreja
de Deus – nós devemos ter nossa primeira guarda
poderosa, a oração confiante, tal qual a de Neemias
e de seus companheiros judeus apresentaram ao
Senhor.
2. Agora devo falar-lhe sobre O
SEGUNDO GUARDA – “Pusemos uma
guarda contra eles, de dia e de noite, por
causa deles”.
A colocação da guarda foi um trabalho
determinado. “Pusemos uma guarda”. Neemias não
disse, “Agora, alguns de vocês vão e vigiem”,
deixando o posto de vigia para qualquer um que
quisesse o adquirir, mas eles puseram “uma guarda”.
Um certo número de homens tinham que ficar de
plantão em um determinado lugar, em uma
determinada hora, permanecer uma certa quantia de
tempo e ficar de guarda contra o adversário.
“Pusemos uma guarda”. Irmãos, se nós formos
vigiar a nós mesmos – e nós devemos fazer isso –
nós devemos fazer isso com um propósito definido.
Nós não devemos dizer, “Eu devo tentar vigiar”.
Não, não. Você deve vigiar e sua guarda deve ser
um ato tão distinto e definido como sua oração.
“Pusemos uma guarda”. Alguns de vocês já viram
soldados trocar a guarda no quartel – existe um
momento especial para cada companhia montar a
guarda. Quando você vai para cama a noite, ore ao
Senhor que o guarde durante as trevas; pela manhã,
coloque uma guarda quando você for trabalhar.
Coloque uma guarda quando você for à mesa de
jantar. Coloque uma guarda quando você retornar
para casa. Ó, quão rápido seremos tragados para o
mal se não pusermos uma guarda!
Foi um trabalho feito com muito cuidado,
pois Neemias disse, “pusemos uma guarda contra
eles, de dia e de noite, por causa deles”. Essas três
últimas palavras podiam significar melhor como
“contra eles”, isto é, onde quer que exista um
inimigo, ali deve haver uma guarda. É mais provável
que eles venham por esse caminho. Muito bem,
coloque uma guarda lá. Talvez eles possam mudar e
vir por esse outro caminho. Justo, coloque uma
guarda lá. Possivelmente eles podem vir subir o
muro neste ponto. Certo, coloque uma guarda lá.
“Pusemos uma guarda contra eles”. Um irmão tem
um temperamento muito difícil. Meu irmão, coloque
uma guarda lá. Outro irmão é muito rabugento,
crítico, acha defeito na vida dos outros. Irmão,
coloque uma guarda aí. Um amigo tem a tendência
ao orgulho, outro para a incredulidade. Coloque
uma guarda onde quer que o inimigo tenha mais
probabilidade de vir. “Pusemos uma guarda contra
eles, de dia e de noite, por causa deles”.
Foi um trabalho contínuo. Neemias disse,
“Pusemos uma guarda contra eles, de dia e de
noite”. O que?! Há alguém lá sentado durante a
noite toda? Claro que há. Se Sambalate houvesse
falado sobre quando pretendia atacá-los, eles
poderiam dormir em outras horas, mas como ele não
deu tal informação, eles tiveram que pôr uma guarda
“de dia e de noite”. O demônio não informou a hora
em que ele irá tentar você – ele gosta de pegar os
homens de surpresa – portanto, coloque uma guarda
de dia e de noite.
Foi um trabalho estimulado pelo
conhecimento. Eles sabiam que Sambalate pode vir
se ele quisesse, então eles puseram uma guarda.
Quanto mais você souber da praga de seu próprio
coração, melhor você colocará uma guarda contra
ele. Quanto mais você souber das tentações e das
concupiscências do mundo, melhor você poderá
colocar uma guarda. Quanto mais velho você for,
mais deve colocar guardas. “Ó” disse um idoso
amigo meu, “você não deveria dizer isso – são os
jovens que mais cometem erros”. São? No Velho
Testamento e no Novo, você sabe de algum caso de
um jovem que se perdeu? A Bíblia nos conta de
muitos velhos que tropeçaram por ação de Satanás
quando eles não estavam vigiando. Então você deve
colocar uma guarda até mesmo quando seus cabelos
ficarem grisalhos, para que você não seja atingido
pelo demônio até que tenha passado pelos portões
de pérolas até as ruas de ouro da Nova Jerusalém.
Você e eu, caros amigos, temos a necessidade
de colocar guarda contra os inimigos da santa fé.
Algumas pessoas me perguntam, “Porque você fala
tanto sobre o declínio do Cristianismo? Deixe que os
homens acreditem no que querem. Continue com
sua obra para Deus e ore a Ele que os homens
encontrem o caminho correto”. Eu creio em orar e
vigiar. Nós temos que guardar com cuidado íntimo
da “fé que de uma vez por todas foi entregue aos
santos”. Quando você encontrar, como acontece
hoje, cristãos professos e pastores negando cada
artigo da fé, ou colocando outro significado em
todas as palavras que deveriam ser entendidas, e
pregando mentiras no Nome do Altíssimo, é
chegada a hora de alguém colocar uma guarda
contra eles. O cargo de um vigia noturno não é uma
profissão fácil, mas estou desejoso em tomar este
posto por amor do meu bendito Mestre. Os
professos servos de Cristo que entram em uma
profana aliança com homens que negam a fé,
deverão responder por isto naquele grande último
dia. Quanto a nós, irmãos, quando nosso Senhor
vier, que Ele nos encontre tanto vigiando quanto
orando.
Mas, caros amigos, que fique claro para
vocês, nós devemos colocar uma guarda contra
nossos adversários pessoais. Espero que, em certo
sentido, vocês não tenham nenhum inimigo pessoal,
que você não deva rancor a ninguém, mas que você
viva em paz e ame a todos. Mas existem cristãos
aqui que irão para suas casas onde todos naquela
casa são contra eles. Muitas mulheres santas saem
do santuário e vão para um marido bêbado. Muitas
crianças, convertidas ao Senhor, não veem nada de
agradável em suas casas. Coloque uma guarda.
Querida mulher, você não sabe que pode ser o meio
pelo qual o seu marido pode ser salvo? Se souber
disso, coloque uma guarda – não seja influenciada
nem mesmo um pouco por ele – você não vai
convertê-lo assim. E vocês, queridas crianças, que
vieram a Cristo e entraram na igreja, perceba que
você deve ser respeitosa e obediente, pois de outra
forma você destruirá toda a esperança de trazer seus
pais ao Salvador. Coloque uma guarda. “Ó”, você
diz, “se eu cometo um pequeno erro, eles o
aumentam”. Eu sei que eles fazem isso e, por isso,
coloque uma guarda – seja mais cuidadoso. Coloque
uma guarda sobre seu temperamento, coloque uma
guarda sobre sua língua, coloque uma guarda sobre
suas ações. Seja paciente, seja gentil, seja amável.
Que o Espírito de Deus trabalhe em tudo isto dentro
de você.
Mas existe um outro grupo de inimigos muito
mais perigosos que estes adversários que ficam do
lado de fora de nós mesmos – existem os inimigos
internos – as tendências malignas de nossa natureza
corrupta, contra quem nós sempre devemos colocar
uma guarda. Talvez você diga, “Como eu posso
fazer isso?”. Bem, primeiramente, saiba que
inimigos são esses. As pessoas que estão começando
na vida cristã deveriam procurar saber onde estão
seus pontos fracos. Não me admiro, caro amigo, se
seu ponto fraco é que você se considera forte.
Quando você pensa, “Ó, eu nunca cometerei aquele
tipo de pecado!” – este é o local mais provável de
sua queda. Coloque uma guarda onde quer que
fraquezas apareçam e se no passado você entristeceu
o Espírito Santo por algum ato errado, coloque uma
guarda dupla ali. No lugar onde você tropeçou uma
vez, você pode tropeçar de novo, pois você ainda é
o mesmo homem. Coloque uma guarda também,
caro amigo, onde quer que você se sinta seguro.
Sempre que você tiver certeza que não pode ser
tentado em uma direção especial, isto prova que
você é tão orgulhoso quanto Lúcifer. Coloque uma
guarda, coloque uma guarda e coloque uma guarda.
Evite qualquer ocasião de pecado. Se qualquer
caminho ou conduta poderia lhe dirigir ao pecado,
não vá nesta direção. Ouvi um homem falar,
argumentando que não poderia beber, “Veja, se eu
algum dia tomar um copo de cerveja, parece que me
perco e preciso tomar mais dois ou três copos”.
Muito bem, então se este é o seu caso, não tome
nenhum copo de cerveja. “Mas”, diz um, “se me
junto com minhas velhas amizades, eu esqueço de
mim mesmo”. Então não se junte com essas
pessoas. Melhor ir para o Céu como um solitário do
que ir para o inferno com uma multidão. Arranque
fora o olho direito e corte fora sua mão direita antes
que estes lhe causem cometer um pecado. Não vá
para onde é provável que você seja tentado. “Certo”,
diz outro, “mas é que meu trabalho me chama para
o meio da tentação”. Eu lhe garanto que seu
trabalho pode lhe levar aonde existem homens
ímpios, pois como é que você poderia viver sem ter
que entrar em contato com os ímpios? – você teria
que estar fora do mundo. Bem, então, se este é o
seu caso, coloque toda a armadura de Deus e não vá
despreparado para lutar o bom combate da fé.
Coloque guarda, coloque guarda e coloque guarda.
Vigie contra os inícios do pecado. Lembre-se,
Satanás nunca começa no lugar em que ele quer
terminar – ele começa com um pequeno pecado e
então continua isso até chegar a um grande pecado.
Quando ele primeiramente tenta os homens, ele não
atira aonde ele espera atingir – ele faz com que os
homens saiam do caminho de pouco a pouco – e ele
trabalha com degraus para levar ao grande pecado
que ele quer que você cometa. Não creio que hoje
em dia um cristão seja um homem muito preciso.
Nós servimos a um Deus muito preciso – “o Senhor
é um Deus zeloso”. Se distancie de muitas coisas
onde outros cristãos hoje se satisfazem. A questão é:
será que eles realmente são cristãos? Se nós não
devemos julgá-los em nenhuma medida – que nós
julguemos a nós mesmos e que possamos decidir de
uma vez por todas de não ir para onde eles tem ido
– de fato, que não tenhamos nenhuma vontade de ir.
Vigie para o que Deus tem a dizer a você. Na
sua leitura da Bíblia, se o Espírito Santo aplicar um
texto da Escritura a você com uma força especial,
considere isto como um conselho de seu Pai
Celestial que aquilo é uma lição para você.
Surpreendo-me frequentemente como o texto que
leio pela manhã geralmente me instrui pelo dia
inteiro. Pessoas que veem ouvir a Palavra de Deus
ser pregada percebem que, em dois ou três dias,
existe uma razão para que o pregador tivesse
pregado tal sermão – e uma razão pela qual elas
foram levadas a ouvir aquilo.
Sempre que você olhar um cristão professo se
desviar do caminho da santidade, não fale sobre isso
com outros para não aumentar o pecado. “Um
pouco de fermento leveda a massa toda”. Em vez de
falar sobre a queda de outro, coloque uma guarda
em você mesmo e diga, “Ali foi onde ele caiu, e é ali
que eu vou tropeçar se a Graça de Deus não me
guardar”. Lembre-se das palavras de nosso Salvador
para os três discípulos com Ele no Getsêmani,
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt
26:41).

3. Termino por colocar OS DOIS


GUARDAS JUNTOS. “nós oramos ao nosso
Deus e pusemos uma guarda contra eles”.
Queridos amigos, nenhum desses dois
guardas é suficiente por si mesmo. Somente a
oração não terá sucesso. Orar e não vigiar é
arrogância. Você finge confiar em Deus, mas
continua se atirando no perigo, como o demônio
queria que Cristo fizesse, quando ele O tentou a Se
jogar de cima do pináculo do templo. Se você ora
para ser guardado, então mantenha a vigília.
Oração sem vigiar é hipocrisia. Um homem
ora para ser guardado do pecado e então vai e entra
em tentação – sua oração é um evidente pedaço de
zombaria, pois ele não a toma e a pratica.
Algumas vezes, contudo, a ignorância pode
nos levar a orar sem vigiar. Existem outras coisas
que não podem ser omitidas. Deixe-me contar uma
história simples. Havia uma pequena estudante que,
frequentemente, não conhecia suas lições. E havia
outra garota que sentava perto dela, que sempre
respondia em voz alta suas lições corretamente. Suas
companheiras diziam a ela, “Jane, como você
sempre sabe todas as suas lições?”. E Jane
respondia, “Eu oro a Deus que me ajude e então eu
as aprendo”. No dia seguinte, a outra pequena
estudante se levantou, mas não soube dizer suas
lições – e depois disso ela disse para sua amiga, “Eu
orei a Deus sobre minha lição, mas eu não sabia
nada além do que sabia ontem”. Jane disse: “Mas
você tentou aprender a lição?” “Não”, respondeu a
outra, “eu orei sobre ela e pensei que isto era o
suficiente”. Claro que ela não saberia sua lição sem
aprendê-la. Da mesma forma, você deve vigiar e
também orar. Deve haver uma guarda diária
colocada sobre sua língua, pensamento e mãos, ou
qualquer tipo de oração será em vão.
Sei de pessoas que correm grandes riscos e
ainda disse que oraram para que o Senhor os
proteja. Já ouvi, dezenas de vezes, estas palavras,
“Eu entrei em oração por isso”, e tenho me irado
rapidamente com aquele que me fala essas palavras.
Ele fez algo errado e tenta se desculpar porque
afirma que entrou em oração por aquilo! Uma cristã
casou com um homem mundano e quando alguém a
culpava por desobedecer a Palavra de Deus, ela
falava que havia entrado em oração pelo casamento.
Se você realmente tivesse buscado aconselhamento
divino, você não teria ousado em fazer aquilo que a
Escritura proíbe expressamente de que um filho de
Deus faça. Orar sem vigiar não é suficiente para nos
preservar do mal.
Por outro lado, caros amigos, vigiar sem orar
é igualmente inútil. Dizer “eu irei me corrigir”, e
nunca orar a Deus para lhe guardar é autoconfiança
que levará ao mal. Se você tentar vigiar sem orar,
você irá dormir e sua vigília chegará ao fim. É
somente por orar e vigiar que você será capaz de se
manter em guarda. Além disso, vigiar sem orar se
torna um cansaço, e nós logo desistimos a não ser
que tenhamos o doce intervalo destinado à oração
para que tenhamos descanso e possamos ser
ajudados a continuar vigiando.
Não vou me prolongar quando tiver dito isto,
coloque os dois juntos. “Vigie e Ore”, ou como o
meu texto diz “Ore e Vigie”. Um ajudará o outro. A
oração irá chamar o vigia, a oração irá estimulá-lo a
manter seus olhos abertos, a oração será a comida
para sustentá-lo durante a noite, a oração será o
fogo para o aquecer. Por outro lado, vigiar irá ajudar
a oração, pois o vigiar mostra que a oração é
verdadeira. Vigiar provoca a oração, pois todos os
inimigos que nós olharmos nos farão orar com mais
diligência. Além de que, vigiar é uma oração. Se
existe uma verdadeira vigília, a vigília em si é uma
oração. Os dois se misturam em um. Amados
amigos, eu os despeço com meu texto soando em
seus ouvidos, “Porém nós oramos ao nosso Deus e
pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite”.
Mas eu não estou falando para todos que
estão aqui. Alguns de vocês não oram. Alguns de
vocês não conseguem vigiar. A mensagem para você
é a seguinte, “Você deve nascer de novo”. Você não
pode experimentar os deveres cristãos até que tenha
uma vida cristã, e a única forma para ter uma vida
cristã é ter fé no Senhor Jesus Cristo. Venha para a
fonte a qual Ele encheu com Seu Precioso Sangue.
Lave-se lá e seja limpo. E então, impulsionado pelo
Seu Espírito, vigie. Estou ansiando ver algumas
pessoas serem trazidas a Cristo neste culto, pois
apesar de eu estar pregando para o povo de Deus, se
eles vigiarem e orarem por você, uma bênção virá
até você através desta vigília e oração. Que o Senhor
permita que assim aconteça com muitos de vocês!
“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-
o enquanto está perto.” (Is 55:6). Que muitos de
vocês busquem e achem o Senhor nesta noite – e
que muitos possam clamar a Ele verdadeiramente!
“Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.” (Rm 10:13). Deus conceda que assim
seja com todos aqui, no nome de Jesus! Amém!
PEDIDO E ARGUMENTAÇÃO
Sermão pregado em 15 de Julho de
1866

“Ah, se eu soubesse onde O poderia


achar! Então me chegaria ao seu
tribunal.
Exporia ante ele a minha causa, e a
minha boca encheria de argumentos.”
Jó 23:3,4

No mais extremo limite de Jó, ele clamou


pelo Senhor. O desejo mais ardente de um afligido
filho de Deus é, mais uma vez, ver a face do seu
Pai. Sua primeira oração não é, “Ah, se eu pudesse
ver meus filhos restaurados das presas do túmulo, e
que minha propriedade fosse trazida de volta das
mãos do ímpio!”. Não, o primeiro e mais alto
clamor é, “Ah, se eu soubesse onde O poderia achar
– Aquele que é o meu Deus! Que eu pudesse chegar
ao Seu tribunal!”. Os filhos de Deus correm para
casa quando a tempestade chega. É o instinto
adquirido do céu o fato de que uma alma graciosa
busque abrigo de todas as suas enfermidades
debaixo das asas de Jeová. “Aquele que fez de Deus
o seu refúgio”, deve servir com o título de um
verdadeiro crente. Um hipócrita, quando sente que
foi atingido por Deus, ofende-se com a aflição e,
como um escravo, foge de seu mestre que o açoitou;
mas não é assim com o verdadeiro herdeiro do Céu,
ele beija a mão que o esmagou, e busca abrigo da
vara no peito do próprio Deus que se zangou com
ele. Você observará que o desejo de ter comunhão
com Deus é intensificado pela falha de todas as
outras formas de consolação. Quando Jó,
primeiramente, viu seus amigos à distância, ele pode
ter produzido uma esperança em seu conselho gentil
e na sua sensibilidade compassiva, em que eles
poderiam reduzir o espinho de sua tristeza; mas eles
não demoraram muito falando e ele já havia chorado
em amargura, “Miseráveis consoladores são todos
vocês!” (Jó 16:2 – King James). Eles colocaram sal
em suas feridas; atiraram combustível nas chamas de
sua tristeza; adicionaram o fel da sua repreensão no
absinto de suas aflições. Nos raios de sol de seu
sorriso, eles já haviam se aquecido anteriormente, e
agora eles ousam lançar trevas sobre sua reputação –
coisa muito desprezível e imerecida. Ai do homem
cujo vinho o engana com vinagre, e seu travesseiro
zomba dele com espinhos! O patriarca deu as costas
aos seus desgostosos amigos e olhar para cima ao
trono celestial, assim como um viajante dá as costas
para seu odre e se dirige com toda velocidade ao
poço. Ele se despede das esperanças terrenas e
clama, “Ah, se eu soubesse onde achar o meu
Deus!”. Meus irmãos e irmãs, nada nos ensina mais
da preciosidade do Criador do que quando nós
aprendemos sobre o vazio de todas as outras coisas.
Quando você for atravessado pela frase, “Maldito o
homem que confia no homem, e faz da carne o seu
braço” (Jr 17:5), então irá beber indizíveis doçuras
vindas da segurança divina, “Bendito o homem que
confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor.” (Jr
17:7). Dar as costas com desprezo amargo às
colmeias terrenas, onde não se acha nenhum mel,
mas sim afiados ferrões, te fará regozijar-te Nele
cuja Palavra fiel é mais doce que o mel e o favo.
Além disso, observa-se que apesar de um
homem se apressar a buscar a Deus em sua
tribulação, e correr com toda velocidade por causa
da falta de gentileza de seus companheiros, ainda
assim a graciosa alma é deixada sem a confortável
presença de Deus. Esta é a pior de todas as tristezas;
o texto é um dos mais profundos gemidos de Jó,
mais profundo do que qualquer um que ele teve
relacionado com a perda de seus filhos e sua
propriedade: “Ah, se eu soubesse onde O poderia
achar!”. A pior de todas as perdas é perder o sorriso
de Deus. Ele agora teve um antegosto da amargura
do choro de seu Redentor, “Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?”. A presença de Deus é
sempre com o Seu povo em um sentido, até onde
Ele almeja sustentá-los secretamente, mas nem
sempre eles desfrutam da manifestação da Sua
presença. Como a noiva em Cantares, eles buscam o
seu amado por toda a noite sobre a cama, eles O
buscam mas não O encontram; e apesar de eles
acordarem e procurarem por toda cidade, eles não O
descobrirão, e a pergunta será repetida vez após vez,
“Vistes aquele a quem ama a minha alma?” (Ct 3:3).
Você pode ser um amado de Deus, e ainda assim
não ter nenhuma consciência desse amor em sua
alma. Você pode ser precioso ao Seu coração como
o próprio Jesus Cristo, e mesmo assim por um
pequeno momento Ele o desamparará – e em uma
pequena ira Ele pode Se esconder de você. Mas,
caros amigos, em tempos assim o desejo das almas
dos crentes reúne mais intensidade do fato da luz de
Deus ser retida. Em vez de dizer com orgulhosos
lábios, “Bem, se Ele me abandonar, eu seguirei sem
Ele; se eu não posso ter Sua confortável presença,
eu lutarei o melhor que puder para seguir em
frente”, a alma diz, “Não, Ele é minha própria vida;
eu tenho que ter meu Deus. Vou morrer, vou
afundar em profundo lamaçal onde não há fundo, e
nada a não ser o braço de Deus pode me salvar”. A
alma graciosa se direciona com um zelo dobrado
para achar o seu Deus, e envia seus gemidos, suas
súplicas, seus soluços e suspiros para o Céu mais
frequentemente e fervorosamente, “Ah, se eu
soubesse onde O poderia achar!”. Distância ou
trabalho são como o nada; se a alma somente
soubesse para onde ir, brevemente ela atravessaria
tal distância. Ela não faz nenhum cálculo sobre
montanhas ou rios, mas, sim, votos de que se ela
soubesse aonde, ela iria até o Seu trono. Minha
alma, em sua fome, quebraria muralhas de pedra, ou
escalaria todos os parapeitos do Céu para alcançar o
seu Deus, e mesmo que houvesse sete infernos entre
eu e Ele, ainda assim eu enfrentaria as chamas se
pudesse alcançá-Lo – nada me assustaria se eu
tivesse uma probabilidade de uma última vez em
Sua presença sentindo o prazer de Seu amor. Este,
parece-me, ser estado mental no qual Jó pronunciou
estas palavras que estão diante de nós.
Mas nós não podemos parar neste ponto,
pois o objeto do discurso desta manhã nos direciona
a irmos além. Parece que o objetivo de Jó,
desejando a presença de seu Deus, é que ele pudesse
orar a Ele. Ele havia orado, mas ele gostaria de orar
como se estivesse na presença de Deus. Ele deseja
apelar como se estivesse diante de alguém que
poderia o ouvir e ajudar. Ele ansiava expor seu
próprio caso diante do trono do Juiz Imparcial,
diante da própria face do Todo Sábio Deus; ele
apelaria desde as cortes menores, onde seus amigos
julgavam um julgamento incorreto, até ao Tribunal
do Rei – a mais alta Corte do Céu – lá, disse ele,
“Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca
encheria de argumentos”.
Neste último verso Jó nos ensina como ele
pretendia apelar e interceder a Deus. Ele iria, se
fosse possível, revelar os segredos de sua câmara
privada, e desvendar a arte da oração. Aqui nos
somos admitidos na associação dos suplicantes; à
nós é mostrada a arte e o mistério da apelação; nós
somos aqui ensinados a bendita produção artesanal e
científica da oração, e se nós podemos nos colocar
como aprendizes de Jó nesta manhã, pela próxima
hora, e pudermos receber uma lição do Mestre de
Jó, podemos adquirir grande habilidade na
intercessão para com Deus.
Existem duas coisas aqui apresentadas como
sendo necessárias em oração – expor nossa causa, e
encher nossa boca de argumentos. Nós deveremos
falar destas duas cosias e então se nós tivermos
aprendido a lição, um resultado abençoador irá ser
produzido.

1. Primeiro, É NECESSÁRIO QUE


NOSSO CASO SEJA EXPOSTO PERANTE
DEUS.
Existe um entendimento vulgar de que a
oração é algo muito fácil, que é uma atividade
comum que pode ser feita em qualquer lugar, sem
nenhum cuidado ou esforço. Alguns pensam que
você só tem que pegar um bom livro e passar por
algumas excelentes palavras, e que você orou e já
pode colocar o livro novamente na estante. Outros
supõem que usar um livro é superstição e que você
deve, em vez disso, repetir frases extemporâneas,
frases que vêm a sua mente com agitação, como um
rebanho de porcos ou um bando de cães de caça, e
que quando você as repetido com alguma pequena
atenção para o que elas dizem, você já orou. Bem,
nenhum desses modos de oração foi adotado pelos
antigos santos. Eles parecem ter tido um pensamento
muito mais sério sobre oração que muito hoje em
dia. Parece que era algo muito poderoso para eles,
um exercício longamente praticado no qual alguns
deles ganharam grande eminência, e eram, portanto,
singularmente felizes. Eles ceifavam grandes
colheitas no campo da oração, e descobriram que o
Trono da Misericórdia era uma mina de tesouros
inconcebíveis.
Os santos antigos eram acostumados, como
Jó, a expor suas causas perante Deus; isto é, como
um suplicante que ao entrar na Corte não vem
despreparado para expor seu caso no impulso do
momento, mas que entra na câmara de audiências
com sua causa bem preparada, tendo, além disso,
aprendido como ele deve se comportar na presença
do Grande ao qual ele estaria apelando. É correto se
aproximar do Trono do Rei dos reis com máximo
possível de meditação prévia e preparação, sabendo
tudo o que nós podemos saber, onde nos
posicionarmos, e o que é aquilo que desejamos
obter. Em tempos de perigo e tribulação, devemos ir
a Deus justamente como estamos, como pombas
entram nas fendas das rochas, mesmo que suas
plumas estejam amarrotadas; mas em tempos
comuns nós não deveríamos vir com um espírito
despreparado, da mesma forma que uma criança
não vem até o seu pai de manhã sem ter lavado seu
rosto. Veja aquele sacerdote, ele tem um sacrifício a
oferecer, mas ele não se apressa a entrar na corte
dos sacerdotes e parte o bezerro com o primeiro
machado que ele consegue pôr nas mãos, mas
quando ele se levanta, ele lava seus pés na pia de
bronze, coloca suas vestes e se adorna com suas
vestes sacerdotais – então ele vem ao altar com sua
vítima devidamente dividida de acordo com a lei de
Deus, e é cuidadoso a realizar tudo de acordo com o
mandamento, até mesmo ao simples local de onde
colocar a gordura, o fígado e os rins, ele tira o
sangue em uma tigela e o derrama no local
apropriado ao pé do altar, não derramando como ele
quiser, e nem fazendo o fogo com chama comum,
mas com o fogo sagrado do altar. Hoje este ritual foi
completamente substituído, mas a verdade que este
ensina continua a mesma; nossos sacrifícios
espirituais devem ser oferecidos com um cuidado
santo. Deus nos proíba de que nossas orações sejam
somente um pular da cama para os joelhos e um
dizer de qualquer coisa que venha à nós; pelo
contrário, que nós dependamos do Senhor com
temor santo e sagrada reverência. Veja como Davi
orou quando Deus o abençoara – ele foi diante do
Senhor. Entenda que; ele não ficou do lado de fora à
uma distância, mas quando ele foi diante do Senhor
e se sentou – pois sentar-se não é uma má postura
para oração (isto é para aqueles que falam contra
isto) – e sentando-se calmamente e com quietude
diante do Senhor, ele, então, começou a orar, mas
não antes que houvesse pensado sobre a bondade
divina e assim adquirira o espírito de oração. E
então, pela ajuda do Espírito Santo, ele abriu sua
boca.
Ó que nós mais frequentemente
buscássemos ao Senhor dessa maneira! Abraão pode
nos servir de um padrão. Ele se levantou cedo – aqui
está sua vontade; foi em uma jornada de três dias –
aqui está seu zelo; deixou seus servos ao pé do
monte – aqui está sua privacidade; carregou a
madeira e o fogo consigo – aqui está sua
preparação; e, por último, ele construiu o altar o
deitou a lenha organizadamente e então pegou a faca
– aqui está o cuidado devoto de sua adoração. Davi
coloca desta maneira, “Pela manhã ouvirás a minha
voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha
oração, e vigiarei” (Sl 5:3), o que expliquei
frequentemente para vocês que significa que ele
organizava seus pensamentos como um homem de
guerra, ou que ele mirava suas orações como
flechas. Ele não pegava a flecha, colocava na corda
e atirava, atirava e atirava para qualquer lugar; mas
depois que ele havia pegado a seta escolhida e a
colocado na corda, ele mirava cuidadosamente. Ele
olhava – olhava bem – para o centro do alvo;
mantinha seus olhos fixos nele, direcionando suas
orações, e então puxava seu arco com toda sua força
e deixava a flecha voar; e então, quando a seta saía
de suas mãos, o que ele diz? “Vigiarei”. Ele vigiava
para ver aonde a flecha iria, para ver o efeito que
esta causou; pois ele esperava uma resposta às suas
orações, e não é como muitos que mal pensam em
suas orações depois que eles as pronunciaram. Davi
sabia que ele tinha um compromisso diante de si que
requeria todos os seus poderes mentais; ele
organizava suas faculdades e ia para o serviço de
uma maneira bem determinada, como um que
acreditava naquilo e que desejava ter sucesso. Nós
devemos arar e orar cuidadosamente. Quanto
melhor o trabalho, mais atenção este merece. Ser
ansioso no mercado e de mente vazia no quarto de
oração é um pouco menos que blasfêmia, pois é
uma insinuação de que qualquer coisa serve para
Deus, mas que o mundo merece o nosso melhor.
Se alguém perguntar que ordem deve ser
observada na oração, não irei dar-lhe um esquema
como muitos já desenharam, no qual adoração,
confissão, petição, intercessão e imputação são
colocadas em sucessão. Não estou convencido de
que qualquer ordem é de alguma autoridade divina.
Não é de ordem mecânica que estou me referindo,
pois nossas orações serão igualmente aceitas, e
talvez igualmente adequadas, em qualquer ordem;
pois existem tipos de orações, de todas as formas,
tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. A
verdadeira ordem espiritual das orações parece-me
consistir em algo mais do que mero arranjo. É mais
adequado para nós sentirmos que estamos fazendo
algo que é verdadeiro; que nós estamos prestes a nos
dirigir a Deus, O qual não podemos ver, mas que
está verdadeiramente presente; a quem nós não
podemos tocar ou ouvir, e nem nossos sentidos
podem perceber, mas a quem, apesar de tudo, está
verdadeiramente conosco como se nós estivéssemos
falando para um amigo de carne e osso como nós.
Sentindo a realidade da presença de Deus, nossa
mente será levada pela Divina Graça para um estado
humilde; nós devemos sentir como Abraão, quando
ele disse, “Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor,
ainda que sou pó e cinza” (Gn 18:27).
Consequentemente nós não devemos fazer nossas
orações como meninos repetindo suas lições, como
uma mera questão de rito, muito menos devemos
falar como se fôssemos coelhos ensinando seus
filhotes, ou como ouvi alguns fazerem, com a
grosseria de um ladrão de estradas que captura
pessoas e exige que entreguem suas bolsas; mas nós
devemos ser humildes, porém suplicantes corajosos,
humildemente importunando e pedindo misericórdia
através do sangue do Salvador. Não devemos ter a
restrição de um escravo, mas a amável reverência de
um filho, contudo não um filho imprudente e
impertinente, mas um filho ensinável e obediente,
honrando seu Pai, e portanto pedindo seriamente,
mas com a submissão devida à vontade de seu Pai.
Quando sinto que estou na presença de Deus, e
tomo uma posição correta naquela presença, a
próxima coisa que desejo reconhecer é que não
tenho nenhum direito de ter aquilo que estou
buscando, e não posso esperar obter nada que não
seja um presente da Divina Graça, e devo lembrar
que Deus determina o canal pelo qual Ele me dará
misericórdia – Ele me dará isto através de Seu
querido Filho, e somente através de Seu Filho,
Jesus Cristo. Deixo-me colocar, então, debaixo do
auxílio do grande Redentor; deixo-me sentir que
agora não sou eu quem falo, mas Cristo que fala
comigo, e enquanto eu apelo, eu apelo a Suas
Feridas, Sua Vida, Sua Morte, Seu Sangue – por
Ele todo. Isto é verdadeira organização.
A próxima coisa a ser considerada é sobre o
que estou prestes a pedir. É mais adequado na
oração, almejar grande clareza na súplica. Existe
muita razão para reclamar de algumas orações
públicas, pois aqueles que fazem essas orações, na
verdade, acabam não pedindo nada a Deus. Devo
reconhecer que temo que eu mesmo já tenha orado
assim, e certamente que já ouvi muitas orações deste
tipo, nas quais eu não sinto que algo tenha sido
buscado em Deus – uma grande quantidade de
excelentíssima doutrina e grande experiência foram
faladas, mas pouca petição verdadeira, e este pouco
dentro de um estado de mente nebuloso, caótico e
informe. Mas, parece-me, que a oração deve ser
clara, deve ser definido e claro aquilo que é pedido,
pois a mente reconheceu sua necessidade nítida de
tal coisa, e, portanto, deve ser pedido aquilo. Não é
bom ficar dando voltas na oração, mas vir
diretamente ao ponto. Gosto daquela oração de
Abraão, “Quem dera que viva Ismael diante de teu
rosto!” (Gn 17:18). Ali está o nome da pessoa que
foi orada, e a bênção desejada, tudo colocado em
poucas palavras – “Que viva Ismael diante do teu
rosto!”. Muitas pessoas teriam usado expressões
indiretas deste tipo, “Ó, que nossa maravilhosa prole
seja considerada como favor com que Tu guardas
para aqueles que...” etc. Diga “Ismael”, se você
quiser dizer Ismael. Coloque em palavras simples
perante o Senhor. Algumas pessoas não conseguem
nem orar pelo pastor sem usar tais descrições
circulares que fazem você pensar que elas foram
direcionadas ao zelador da igreja, ou alguém que a
oração não mencionou particularmente. Por que não
ser claro, e dizer o que nós desejamos e também
desejar o que dizemos? Expor nossa causa nos traria
a uma grande clareza de mente. Não é necessário,
meus queridos irmãos e irmãs, no seu quarto em
privado, pedir por toda coisa supostamente boa; não
é necessário repassar o catálogo de todas as
necessidades que você tem, que teve, que pode ter
ou que terá. Peça pelo que você precisa agora, e,
como uma regra, mantenha isso as suas necessidades
presentes; peça por seu pão de cada dia – o que
você precisa agora – peça por isto. Peça claramente,
como se estivesse diante de Deus, que não liga para
suas expressões rebuscadas, e para quem sua
eloquência e oratória serão menos do que nada e só
vaidade. Você está diante do Senhor; deixe que suas
palavras sejam poucas, mas que seu coração seja
fervoroso.
Você não vai quase não terá completado a
oração enquanto você não tiver pedido o que
necessita através de Jesus Cristo. Deveria haver uma
percepção sobre a bênção que você deseja, para ver
se é algo adequado a se pedir; pois algumas orações
não seriam feitas se os homens ao menos
pensassem. Uma pequena reflexão nos mostraria
que algumas coisas que nós desejamos deveriam ser
deixadas de lado. Nós podemos, além disso, ter um
motivo no fundo de nossos desejos que não é de
acordo com Cristo – um motivo egoísta que se
esquece da Glória de Deus, e que liga somente para
nosso caso e conforto. Agora, apesar de que
peçamos coisas que são para nosso benefício, ainda
assim não podemos nunca deixar que nosso
benefício interfira de nenhuma forma com a Glória
de Deus. Deve haver misturado com a oração
aceitável o santo sal da submissão à vontade divina.
Gosto do ditado de Lutero, “Senhor, terei minha
vontade dada pelo Senhor neste momento”. “O
que?”, você pergunta, “Você gosta de uma expressão
como esta?”. Sim, gosto, por causa da próxima
cláusula, a saber, “Terei a minha vontade, pois a
minha vontade é a Sua vontade”. Bem dito,
Lutero! Mas sem estas últimas palavras seria uma
presunção ímpia. Quando estamos certos de que o
que pedimos é para a Glória de Deus, então, se nós
temos poder em oração, nós poderemos dizer, “Não
Te deixarei ir se não me abençoares”. Nós podemos
ter um relacionamento próximo com Deus, e como
Jacó com o Anjo, nós podemos ainda lutar, e buscar
dar dificuldades ao Anjo do que deixar que vá sem a
bênção. Mas nós devemos ser muito claros, antes de
chegar até estes termos, que nós estamos buscando é
verdadeiramente a honra do Mestre.
Coloque essas três coisas juntas, a
espiritualidade profunda que reconhece a oração
como sendo uma real conversa com o Deus invisível
– muita clareza que é a realidade da oração, pedindo
por aquilo que sabemos que necessitamos – e com
muito fervor, acredito que tal coisa é necessária, e,
portanto, se decidindo em obtê-la se for adequado
pedir isso em oração, e sobre tudo isto, a completa
submissão, deixando plenamente com a vontade do
Mestre – junte todas essas e tenha uma ideia clara
do que é apresentar sua causa diante do Senhor.
Oração contínua, por si só, é uma arte que
só pode ser ensinada pelo Espírito Santo. Ele é o
doador de toda oração. Ore para orar – ore até que
consiga orar; ore para ser ajudado a orar, e não
desista de orar porque você não consegue orar, pois
é quando você pensa que não consegue orar que é
mais necessário que ore; e algumas vezes quando
você não tem nenhum tipo de conforto em suas
súplicas, é então que seu coração, totalmente
quebrantando e caído, está verdadeiramente lutando
e, de fato, prevalecendo com o Altíssimo.

2. A segunda parte da oração é


ENCHER A BOCA COM ARGUMENTOS –
não encher a boca com muitas palavras nem boas
frases, nem expressões bonitas, mas encher a
boca com argumentos. Os antigos santos eram
conhecidos por arrazoar em oração. Quando
chegamos aos portões da misericórdia,
argumentos convincentes são as batidas no
batente pelo qual o portão será aberto.
Por que, afinal, argumentos devem ser
usados, é a primeira pergunta; certamente não
porque Deus é vagaroso em dar, nem porque nós
podemos mudar o propósito divino, nem porque
Deus precisa ser informado de qualquer
circunstancia a respeito de nós ou de nada em
conexão com a misericórdia pedida; os argumentos
devem ser usados para nosso próprio benefício, não
para o Dele. Ele requer que nós apelemos com Ele,
e que tragamos adiante fortes razões, como Isaías
disse, porque este sentimento mostra que nós
reconhecemos o valor da misericórdia. Quando um
homem busca por argumentos para algo é porque
ele atribui importância para aquilo que ele busca.
Novamente, nosso uso de argumentos nos ensina a
base na qual devemos obter a bênção. Se um
homem vir com o argumento de seu próprio mérito,
ele nunca terá sucesso; mas o argumento bem
sucedido é sempre baseado sobre a Graça Divina, e
por isso a alma que pede é obrigada a entender
intensamente que é pela Graça e somente pela Graça
que um pecador obtém qualquer coisa do Senhor.
Ademais, o uso de argumentos é intencionado para
estimular nosso fervor. O homem que usa um
argumento com Deus terá mais força em usar o
próximo argumento, e usará o consequente
argumento com mais grandiosa força, e o outro com
mais força ainda. As melhores orações que já ouvi
em reuniões têm sido aquelas com mais argumentos.
Algumas vezes minha alma tem-se desmanchado
verdadeiramente quando escuto irmãos e irmãs que
vieram diante de Deus sentindo que a misericórdia é
realmente necessária, e que eles têm que tê-la, pois
eles primeiramente pediram a Deus por esta razão, e
depois por uma segunda, depois por uma terceira, e
uma quarta e uma quinta, até que eles tenham
despertado o fervor de toda a igreja!
Meus amados, não existe nenhuma
necessidade de oração por causa de Deus, mas a
necessidade existente é para nosso próprio bem! Se
nós não fôssemos compelidos a orar, questiono-me
se poderíamos ao menos viver como cristãos. Se as
misericórdias de Deus viessem a nós sem que as
pedíssemos, elas não teriam nem metade da utilidade
que agora têm, quando temos que buscar por elas;
pois assim temos uma bênção em dobro, a bênção
de obter e a bênção de buscar. O ato em si de orar já
é uma bênção. Orar é como se fosse alguém se
banhando em uma correnteza gentil e fria,
escapando assim do calor excessivo do sol desta
terra. Orar é montar nas asas da águia sobre as
nuvens e entrar no claro Céu onde Deus habita.
Orar é entrar no tesouro da casa de Deus e
enriquecer-se de uma fonte inesgotável. Orar é
agarrar o Céu com os braços, abraçar com a alma a
Divindade e sentir o corpo como o templo do
Espírito Santo. Separada da resposta, a oração, por
si só, é uma bênção. Orar, meus irmãos e irmãs, é
jogar nossos fardos para longe, é rasgar nossos
trapos, é sacudir nossas doenças, é ser cheio com
vigor espiritual, é alcançar o ponto mais alto da
saúde cristã. Deus nos dá muito na arte sagrada de
argumentar com Deus em oração.
A parte que mais importa em nossas
orações permanece; é um sumário bem rápido e um
catálogo de alguns dos argumentos que têm sido
mais bem sucedidos para com Deus. Não posso lhe
dar uma lista completa; isto iria requerer um tratado
tal quais aqueles produzidos pelo mestre John
Owen[20]. É bom que na oração sejam feitos apelos
aos atributos de Jeová. Abraão fez assim quando
ele tomou posse da Justiça de Deus. Uma oração
seria feita por Sodoma, e Abraão começa, “Se
porventura houver cinquenta justos na cidade,
destruirás também, e não pouparás o lugar por causa
dos cinquenta justos que estão dentro dela? Longe
de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o
ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti.
Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn
18:24,25). Aqui a luta começa. É um argumento
poderoso pelo qual o patriarca se agarrava à mão
esquerda do Senhor, e a parou quando o relâmpago
estava prestes a cair. Mas veio uma resposta para
isso. Era notório para ele que isto não iria poupar a
cidade, e você nota como o bom homem, quando
extremamente pressionado, recuou centímetros; e
por fim, quando ele não poderia mais segurar a
justiça, ele se agarrou à mão direita de Deus por
misericórdia, e isto o deu uma maravilhosa posição
quando este pediu que se houvessem somente dez
justos então a cidade seria poupada. Então, eu e
você, devemos nos posicionar à qualquer hora sobre
a justiça, a misericórdia, a fidelidade, a sabedoria, a
longanimidade, a ternura de Deus, e acharíamos
cada atributo do Altíssimo como sendo um aríete
com o qual podemos abrir as portas do Céu.
Outra poderosa parte da ordenança na
batalha da oração é a promessa de Deus. Quando
Jacó esteve do outro lado do Jaboque, e seu irmão,
Esaú, estava vindo com homens armados, ele apelou
com Deus para não permitir que Esaú destruísse a
sua mulher e filhos, e como uma razão principal ele
apelou, “E Tu o disseste: Certamente te farei bem, e
farei a tua descendência como a areia do mar, que
pela multidão não se pode contar.” (Gn 32:12). Ó,
que força de apelo – ele estava segurando Deus à
Sua Palavra: “Tu o disseste”. O atributo (de Deus) é
um esplêndido chifre do altar onde é possível
segurar-se, mas a promessa, a qual possui o atributo
e algo a mais, é mais ainda poderosa. “Tu o
disseste”. Lembre-se como Davi fez isso. Depois
que Natã proclamara a promessa, Davi disse no final
de sua oração, “faze como falaste.” (1 Cr 17:23).
Este é um argumento legítimo para todo homem
honesto. Será que Deus dizendo, Ele não fará?
“Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem
mentiroso” (Rm 3:4). Será que Ele não é
verdadeiro? Será que Ele não manterá Sua Palavra?
Será que todas as palavras de Sua boca não serão
firmes e serão cumpridas? Salomão, na abertura do
tempo, usou esse mesmo poderoso apelo. Ele apela
a Deus para que lembre a palavra que Ele falou
através de seu pai Davi, e que abençoasse aquele
lugar. Quando um homem dá uma nota promissória,
sua honra é envolvida. Ele aperta a mão e deve
quitar aquilo quando o devido tempo chegar, ou
então ele perde crédito. Nunca deve ser dito que
Deus desonra Seus negócios. O crédito do Altíssimo
nunca é impedido, e nunca será. Ele é pontual aos
segundos; Ele nunca está atrasado, Ele nunca está
adiantado. Você deve procurar por todo este Livro
(Bíblia), e você deve comparar com a experiência do
povo de Deus, tudo bate do início até o final; e
muitos patriarcas grisalhos falaram como Josué em
sua velhice, “Palavra alguma falhou de todas as boas
coisas que o Senhor falou à casa de Israel; tudo se
cumpriu” (Js 21:45). Meus irmãos e irmãs, se você
tem uma promessa divina, você não precisa apelar a
ela com um “se”; você deve apelar com certeza. Se
para a misericórdia que você está agora pedindo,
você tem a solenemente prometida palavra de Deus,
mal haverá espaço para o cuidado com a submissão
à Sua vontade. Você conhece a vontade Dele – esta
vontade está na promessa – apele a isto. Não O dê
descanso até que Ele a cumpra. Ele deseja cumpri-la
ou então Ele não haveria dado tal promessa. Deus
não dá Sua palavra meramente para aquietar nossos
barulhos, e para nos manter esperançosos por um
pouco, com a intenção de nos deixar de fora no fim
de tudo; mas quando Ele fala, Ele fala porque Ele
deseja agir.
Um terceiro argumento para ser usado é
aquele empregado por Moisés – o grande nome de
Deus. Quão poderosamente ele argumentou com
Deus em uma ocasião sobre este terreno! “O que
farás ao Teu Grande Nome? O egípcios falaram,
porque Deus não pode os levar até a terra, Ele os
assassinou no deserto”. Existem algumas ocasiões
quando o nome de Deus é muito bem amarrado
com a história de Seu povo. Algumas vezes, em
confiança à uma promessa divina, um crente será
levado a tomar determinadas atitudes. Agora, se o
Senhor não fosse tão bom quanto Suas promessas,
não somente o crente seria enganado, mas o ímpio
mundano olharia e falaria, “Aha! Aha! Cadê o seu
Deus?”. Tome o caso do nosso respeitado irmão,
senhor Muller, de Bristol. Nesses muitos anos ele
tem declarado que Deus ouve orações, e é firme na
convicção de que ele foi mandado construir casa
atrás de casa para cuidar dos órfãos. Agora, posso
conceber muito bem que, se ele fosse levado a um
ponto onde necessitaria de meios para manter
aquelas duas mil crianças, ele com toda certeza
usaria o apelo, “O que Tu farás pelo Teu Grande
Nome?”. E você, em severas tribulações, quando
você recebeu verdadeiramente a promessa, deve
dizer, “Senhor, tu disseste: ‘Em seis angústias te
livrará; e na sétima o mal não te tocará’ (Jó 5:19).
Disse aos meus amigos e vizinhos que eu coloquei
minha confiança em Ti, e se Tu não me salvares
agora, onde estará Teu Nome? Levanta-Te, Ó Deus,
e faça isto, para que Sua honra não seja jogada ao
pó”. Acompanhado disto, nós devemos empregar o
próximo argumento, as coisas ruins ditas pelos
maldizentes. Foi muito bem o que foi feito por
Ezequias, quando ele tomou a carta de Rabsaqué (Is
37:8) e a abriu diante do Senhor. Aquilo o ajudaria?
Aquilo estava cheio de blasfêmia, aquilo o ajudaria?
“Onde estão os deuses de Arpade e Serfavaim?
Onde estão os deuses das cidades que destruí? Não
deixem que Ezequias os engane, dizendo que Jeová
os livrará”. Será que isto tem efeito? Ó, sim! Foi
algo abençoado que Rabsaqué tenha escrito aquela
carta, pois esta provocou o Senhor a ajudar Seu
povo. Algumas vezes o filho de Deus pode se
alegrar quando vê seus inimigos explodirem em seu
temperamento e começar a maldizer. “Agora”, diz
ele, “Eles blasfemaram o próprio Senhor, não
somente eu eles atacaram, mas ao próprio
Altíssimo”. Agora, não é o pobre e insignificante
Ezequias com seu pequeno bando de soldados, mas
é Jeová, o Rei dos anjos, que veio para lutar contra
Rabsaqué. Agora o que você fará, Ó orgulhoso
soldado de Senaqueribe? Não será você
completamente destruído, já que o próprio Jeová
chegou para o combate? Todo o progresso que é
realizado pelo Papado, todas as coisas erradas dita
pelos ateus especuladores e assim por diante,
deveriam ser usados por cristãos como um
argumento com Deus para que Ele ajude o
Evangelho. “Senhor, veja a reprovação ao evangelho
de Jesus! Tire Sua mão direita do seu colo! Ó Deus,
eles O provocam! O Anticristo se joga no lugar onde
o Seu Filho uma vez foi honrado, e dos mesmos
púlpitos que o Evangelho uma vez fora pregado, o
Papado agora é declarado. Levanta-Te, Ó Deus,
desperte o Seu zelo, que Suas sagradas paixões
queimem! Seu antigo inimigo novamente prevalece!
Eis a carruagem da Babilônia, mais uma vez sobre
suas bestas vestidas de escarlate, que corre para o
triunfo! Venha, Jeová! Venha, Jeová, e mais uma fez
mostre o que Seu braço nu pode fazer!”. Esta é uma
maneira legítima de apelar a Deus, por amor a Seu
Grande Nome.
Nós também devemos apelar pelos
sofrimentos de Seu povo. Isto é feito
frequentemente. Jeremias é o grande mestre desta
arte. “Os seus nobres eram mais puros do que a
neve, mais brancos do que o leite, mais vermelhos
de corpo do que os rubis, e mais polidos do que a
safira. Mas agora escureceu-se o seu aspecto mais
do que o negrume” (Lm 4:7,8). “Os preciosos filhos
de Sião, avaliados a puro ouro, como são agora
reputados por vasos de barro, obra das mãos do
oleiro!” (Lm 4:2). Ele fala de todos os sofrimentos
deles (do povo de Deus) e de todas suas
necessidades quando estes estiveram no cerco. Ele
invoca o Senhor para olhar Seu Sião sofredor; e
pouco tempo depois seus queixosos choros são
ouvidos. Nada é tão eloquente para o pai como o
choro de seus filhos, mas ainda uma coisa é maior, e
isto é um gemido. Quando o filho está tão doente
que já está além do choro e permanece deitado
gemendo com aquele tipo de gemido que indica
extremo sofrimento, e intensa fraqueza, quem pode
resistir a este gemido? Ah, quando a Israel de Deus
é trazida ao pó de maneira que ela mal pode chorar,
mas somente seus gemidos são ouvidos, então vem
o tempo de salvação do Senhor, e Ele é firme em
mostrar que ama o Seu povo. Queridos amigos,
sempre que você, também, for trazido a esta mesma
condição, você pode apelar com seus gemidos, e
quando você vê uma igreja ser trazida ao pó, você
pode usar suas aflições como um argumento pelo
qual Deus deveria retornar e salvar o remanescente
de Seu povo.
Irmãos e irmãs, é bom apelar com o
passado para Deus. Ah, você já experimentou isso,
povo de Deus, você sabe como fazer isso. Aqui está
um exemplo de Davi sobre isso: “Tu foste a minha
ajuda, não me deixes nem me desampares, ó Deus
da minha salvação” (Sl 27:9). Ele apela pela
misericórdia de Deus a ele em sua juventude. Ele
fala de ser lançado sobre seu Deus desde seu
nascimento, e então ele apela, “Agora também,
quando estou velho e de cabelos brancos, não me
desampares, ó Deus” (Sl 71:18). Moisés também,
falando com Deus, diz, “Tu tiraste este povo do
Egito”. Como se ele dissesse, “Não deixe Teu
trabalho inacabado; Tu começaste a construir,
termine-o. Tu lutaste a primeira batalha, Senhor,
termine a guerra! Vá até que Tu tenhas a completa
vitória”. Quão frequente nós choramos em nossas
tribulações, “Senhor, Tu já me livraste de tal e tal
tribulação, quando parecia que nenhuma ajuda
estava por perto; Tu nunca me desamparaste ainda.
Construí meu altar Ebenézer em Teu Nome. Se Tu
tens intenção de me deixar, porque Tu me mostraste
tais coisas? Tu trouxeste teus servos para esse lugar
para nos envergonhar?”. Irmãos e irmãs, nós temos
que lidar com um Deus imutável, que irá fazer no
futuro o que Ele tem feito no passado, porque Ele
nunca se arrepende de Seu propósito, e não pode ser
frustrado em Seu desígnio. O passado assim se torna
uma forma muito poderosa de ganhar bênçãos Dele.
Nós podemos ainda usar nossa própria
indignidade como um argumento para com Deus.
Davi em um lugar clama assim, “Senhor, tenha
misericórdia da minha iniquidade, pois ela é imensa”
[21]
. Esta é uma forma muito especial de raciocínio,
mas pode ser interpretada desta forma, “Senhor, por
que Tu te importarias em fazer coisas pequenas? Tu
és um Grande Deus, e aqui está um grande pecador;
aqui está uma oportunidade em mim para a
demonstração da Tua Graça. A grandeza do meu
pecado faz de mim uma plataforma para a Grandeza
de Tua misericórdia. Deixe que a grandeza de Seu
amor seja vista em mim”. Moisés parece ter o
mesmo em sua mente quando ele pede a Deus que
este mostre Seu grande poder em poupar Seu povo
pecador. O poder com o qual Deus se contém é
grande de fato. Ó irmãos e irmãs, existe tal coisa
como se rastejar para os pés do Trono, se encolher e
chorar, “Ó Deus, não me quebre – sou um caniço
ferido. Ó! Não pise em minha pequena vida, está é
como um pavio fumegante. Vais Tu me caçar? Irás
Tu atrás de, como Davi disse, ‘um cão morto? Uma
pulga?’ (1 Sm 24:14) ? Perseguirás Tu a mim como
uma folha é arrebatada na tempestade? Vigiarás Tu
a mim, como Jó disse, como se eu fosse o mar ou
uma baleira (Jó 7:12)? Não, mas porque sou tão
pequeno e porque a grandeza de Sua misericórdia
pode ser mostrada em um ser tão insignificante
(porém vil), então, Ó Deus, tenha misericórdia de
mim”.
Houve uma vez uma ocasião quando a
própria Divindade de Jeová fez um triunfante apelo
para o profeta Elias. Naquela ocasião magnífica
quando ele convidou seus adversários para ver se o
deus deles poderia respondê-los com fogo, você mal
pode imaginar a excitação que deveria haver naquele
dia na mente do profeta. Com um firme sarcasmo
ele disse, “Clamai em altas vozes, porque ele é um
deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha
alguma coisa que fazer, ou que intente alguma
viagem; talvez esteja dormindo, e despertará” (1 Rs
18:27). E enquanto eles se cortavam com facas, e
pulavam sobre o altar, ó que escárnio aquele homem
de Deus deve ter olhado para aqueles impotentes
esforços, e aos seus diligentes, porém inúteis
clamores! Mas pense em como seu coração deve ter
palpitado, se não fosse pela força de sua fé, quando
ele reparou o altar de Deus que estava quebrado, e
deitou a madeira em ordem, matou o sacrifício.
Escute ele clamar, “Derrame água no altar. Vocês
não irão suspeitar que eu esteja escondendo fogo;
derrame água no sacrifício.” Quando fora feito isto,
ele os convida, “Derramem uma segunda vez”. E
quando eles fizeram pela segunda vez, ele então diz,
“Façam isto uma terceira vez”. E quando tudo
estivera completamente coberto de água, encharcado
e totalmente saturado, ele então se levanta e clama a
Deus, “Ó Deus, que seja conhecido que somente Tu
és Deus”. Aqui tudo havia sido posto à prova. E
quão bem o profeta foi ouvido! Desceu fogo do alto
e devorou não só o sacrifício, mas até a madeira e as
pedras, e até mesmo a água que estava na vala, pois
o Deus Jeová respondeu a oração de Seu servo.
Nós, algumas vezes, devemos fazer o mesmo, e
dizer para Ele, “Ó, pela Tua Divindade, pela Tua
existência, e se de fato Tu és Deus, mostre-Se para a
ajuda do Seu povo!”.
Por ultimo, o grande argumento cristão é o
sofrimento, a morte, o mérito e a intercessão de
Cristo Jesus. Amados, temo que nós não
entendemos o que é termos em nossas mãos o fato
de nos ser permitido apelar a Deus por amor a
Cristo. Peguei-me pensando nisto um outro dia: foi
de alguma maneira novo para mim, mas creio que
não deveria ter sido. Quando nós pedimos para
Deus nos ouvir, apelando ao nome de Cristo, nós
geralmente queremos dizer, “Ó Senhor, Teu querido
Filho merece isso vindo do Senhor; faça isto para
mim por causa dos méritos Dele”. Mas se
soubéssemos que poderíamos ir além. Suponha que
você me dissesse, você que possui um armazém na
cidade, “Senhor, liga para minha loja, e use meu
nome, e diga que eles devem lhe mandar tal coisa”.
Eu iria e usaria seu nome, e obteria meu pedido,
desde que este fosse justo e uma questão de
necessidade [22]. Isto é virtualmente o que Jesus
Cristo nos disse. “Se você necessitar de alguma coisa
de Deus, tudo o que o Pai tem pertence a mim; vá e
use Meu Nome”. Suponha que você desse a um
homem seu talão de cheques, todo assinado com seu
nome e deixado o valor em branco, para ser
preenchido como ele desejasse – isto seria muito
próximo ao que Jesus fez nestas palavras, “Se
pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo
14:14). Se eu tivesse um bom nome no fim do
cheque, teria certeza que este seria creditado quando
eu fosse ao bancário com ele; então quando você
tem o nome de Cristo, com o qual a própria Justiça
de Deus foi paga, e com um mérito que pode apelar
ao Altíssimo, quando você tem o nome de Cristo
não há necessidade de falar com medo, tremendo e
com o fôlego suspenso. Ó, não hesite e não deixe a
fé vacilar! Quando você apela ao nome de Cristo,
você apela àquilo que treme os portões do inferno,
Àquele a quem todas as hostes celestiais obedecem,
e o próprio Deus sente o poder sagrado deste
abençoado apelo!
Irmãos e irmãs, vocês fariam melhor se por
vezes pensassem mais em suas orações sobre as
aflições e os gemidos de Cristo. Traga diante do
Senhor Suas chagas, lembre o Senhor de Seus
clamores, faça com que os gemidos de Cristo sejam
ouvidos mais uma vez do Getsêmani, e que Seu
sangue fale de novo daquele congelante Calvário.
Fale e diga ao Senhor que com tais aflições,
clamores e gemidos você irá apelar, e não será
negado. Tais argumentos como estes honram a
Deus.

3. Se o Espírito Santo nos ensinar a


apresentar nossa causa, e como encher nossas
bocas com argumentos, o resultado será tal que
NÓS TEREMOS NOSSAS BOCAS CHEIAS
DE LOUVORES. O homem que tem sua boca
cheia de argumentos em oração, logo terá sua
boca cheia de bendizeres pelas respostas das
orações. Querido amigo, você tem sua boca
cheia esta manhã, não tem? Cheia de que? Cheia
de reclamações? Ore ao Senhor para que limpe
sua boca destas coisas escuras, pois pouco
proveito terá disso, e será amargo o seu coração
em um dia desses. Ó, tenha sua boca cheia de
oração, cheia, cheia de argumentos para que não
haja lugar para mais nada. Então venha com essa
bendita boca, e você em breve irá com o que
quer que tenha pedido a Deus. Somente se
regozije Nele, e Ele irá dar-lhe o desejo de seu
coração.
É dito que – não sei o quão
verdadeiramente – que a explicação do texto, “Abre
bem a tua boca, e ta encherei” (Sl 81:10), pode ser
encontrado em um costumo oriental muito singular.
É dito que não muitos anos atrás – lembro-me da
circunstância sendo reportada – o rei da Pérsia
ordenou que o chefe de sua nobreza, que havia lhe
feito algo que grandemente o gratificou, abrisse sua
boca e então ele poderia colocar pérolas, diamantes,
rubis e esmeraldas, até que ele houvesse enchido a
boca o máximo possível, e então ele foi mandado ir
para casa. É afirmado que isto é feito
ocasionalmente em Cortes Orientais direcionado a
grandes favorecidos. Agora, certamente, que esta
seja a explicação do texto ou não, é uma ilustração
deste. Deus diz, “Abra sua boca com argumentos”, e
então Ele irá enchê-la com misericórdias
inestimáveis, gemas de valor incalculável. Não
abriria um homem sua boca se ela fosse cheia desta
maneira? Certamente o mais simples de espírito
entre nós seria sábio o suficiente para isto. Ó, então
nos deixe abrir bem nossas bocas quando formes
apelar ao nosso Deus. Nossas necessidades são
grandiosas, deixe que nossos apelos sejam
grandiosos, e o sustento também será grandioso.
Você não é impedido a Ele; você está impedido no
seu próprio coração. Que o Senhor os dê grande
bocas em oração, grande potência, não em uso de
linguagem, mas em emprego de argumentos.
O que eu tenho falado para os cristãos é
aplicável em grande medida aos não convertidos
também. Que Deus lhe dê a força para isto, e para
correr em oração humilde para o Senhor Jesus
Cristo e para achar vida eterna Nele.
QUANDO DEVEMOS ORAR?
Sermão de Número 2519
Pregado em Outubro de 1885

“Os homens devem sempre orar, e


nunca desfalecer”.
Lucas 18:1
(Versão Inglesa da Bíblia King James)
Minha mente sempre é iluminada com
grande alegria sobre a simples Verdade de Deus que
brilha na superfície de nosso texto – a saber, que
homens podem orar! Se homens devem orar, eles
podem orar. Qualquer coisa que um homem deve
fazer, é certo de que ele tem o direito e o privilégio
de fazer – e apesar disso parecer uma verdade
simples para aqueles de nós cujos coração estão em
paz através da fé em Jesus e que aproveitam de uma
comunhão diária com Cristo através da oração –
ainda assim existe uma doçura sobre este fato para o
homem que tem medo de que ele não possa orar.
Satanás o afirma que a porta da misericórdia está
fechada contra ele, que o seu dia da Graça acabou e
que o tempo de esperança para ele já acabou e
passou. Mas nosso texto diz, “os homens devem
sempre orar”. Então, os homens podem sempre
orar!

Seus joelhos podem ser dobrados diante do


altar de Deus, mesmo que eles estejam calejados de
tantas quedas no pecado. Apesar de que faça muitos
anos desde que você ao menos tenha pensado em
orar, ainda assim você pode orar! Embora, talvez,
você tenha negado que exista um Deus, ainda você
pode orar! Apesar de que você tenha ridicularizado
a própria ideia de orar, você pode orar – Deus não
recusa dar a você a permissão de vir até Seu Trono
de Misericórdia. Mesmo que você tenha cometido
todos os crimes no manual do pecado, você pode
orar. E mesmo que você tenha ido longe nesses
crimes e se envolvido profundamente em iniquidade,
você deve orar! Embora você esteja à alguns dias da
morte e condenação a não ser que a Graça de Deus
o visite, ainda assim você pode orar! É claro que
você pode orar porque os homens sempre devem
orar, e tudo aquilo que eles têm fazer, eles podem
fazer! Se agarre nesta Verdade de Deus, Ó
desesperado, e se agarre rápido, e diga para o seu
desespero, “Me abandone! Não é possível que eu
tenha negado o direito de orar enquanto este texto
continua na Santa Escritura, ‘Os homens devem
sempre orar’”.

Agora olhe para o texto novamente, e insista


nas primeiras palavras – “Os homens devem sempre
orar.” Me sinto muito grato à Escritura Sagrada
porque este texto não fala que “Os santos devem
sempre orar”, porque eu deveria me perguntar,
“Será que sou um santo?”. E talvez, eu houvesse
que responder “Não, estou longe disso”. Mas o texto
não diz “santos”, e mesmo não diz “os de coração
manso, pessoas penitentes que estão sempre em um
estado muito gracioso devem sempre orar”. Não,
não existe nenhuma descrição do caráter dado no
texto – por isso sou profundamente grato. Essas
exortações que deixam o sujeito mais aberto possível
são as mais cheias de Graça e amor condescendente!

Quem deve sempre orar então? “Os


homens”. E a palavra “homens”, é genérica e inclui
a raça humana. Isto é, homens, mulheres e crianças
– velhos homens e pais, jovens rapazes e donzelas –
todos que pertencem a raça humana devem sempre
orar! Talvez você diga, “Fulano não é um bom
homem”. Sim, mas ele é um homem, e os homens
devem sempre orar. “Ele está longe de ser um
louvável, um homem distinto, um homem de ser
observado, um nobre em seu mais verdadeiro
interior”. Ah, mas ele é um homem, e os homens
devem sempre orar! Desça as ruas e entre nos
escuros becos onde existem homens que mal podem
ser chamados de homens, e mulheres que mal são
mulheres, e diga, mesmo a eles, que eles estão
incluídos nesta afirmação, “Os homens devem
sempre orar”. Suba e fica de pé diante da cama
onde a Morte agarra sua vítima pela garganta – um
homem que ainda vive ainda é um homem – a
pobre criatura vivente ainda não é um cadáver, mas
ainda é um homem! Diga a ele, “Os homens devem
sempre orar”. Aqueles que amaldiçoam e falam
palavrões devem sempre orar. Aqueles que vivem
sem nenhum respeito por Deus, ou que, ainda, não
acreditam na Sua existência, e que detestam o
Evangelho, ainda assim, eles devem sempre orar! E,
como disse no início, o “devem” implica uma
permissão, pois, o que um homem deve fazer, ele
pode fazer e, portanto, quem quer que você seja, se
você se encaixa como um ser humano, você deve
orar!

Se você tem uma cabeça sobre seus


ombros, e pulmões que respirar, e um coração que
palpita – se você ainda está na terra dos viventes e
pode ser contado dentre os filhos dos homens – esse
texto mostra a você um grande e glorioso
Evangelho! Apesar de que pareça ser colocado com
uma forma da Lei de Deus pelo uso daquela severa
palavra, “devem”, mesmo assim é colocada na
forma do Evangelho – você pode orar se você é
homem ou mulher, se você é da raça humana, pois
“os homens devem sempre orar”.
Ó, que algum pobre coração possa se
apegar a esta doce Palavra de Deus! Aquela mulher
que falou em se jogar da Ponte de Londres – até ela
deve orar! Aquele homem atravessando o Atlântico
e se escondendo do seu povo, deixando seus amigos
e parentes para fugir do local onde ele desonrou seu
nome. Não pense em tal coisa, meu caro senhor,
mas ore, porque você deve orar! Não existe nada na
terra ou no Céu que o proíba de orar! Existe um
decreto de anistia e esquecimento na corte de Deus e
você não está excluído desta! Não existe nenhum
Livro Inspirado por Ele que nega a você um lugar
no Trono da Misericórdia! Não existe nenhum
mensageiro mandado por Deus que irá dizer-lhe
“Assim diz o Senhor, você não deve orar”, mas pelo
contrário, trazendo diante de você a viva e Inspirada
Palavra do Vivo Cristo de Deus, nós lhe dizemos,
“Os homens devem sempre orar!”. Portanto você
deve orar, e assim, você pode orar!
Agora viremos o texto um pouco e
coloquemos a ênfase em outra palavra, “Os homens
devem sempre orar”. Portanto, os homens podem
orar agora! Se eles devem sempre orar, eles devem
orar agora, e se eles devem orar agora, eles podem
orar agora! Esta não é uma preciosa e abençoada
Verdade de Deus? Ai você está sentado, pobre
pecador, e estou falando com você. Não se importe
com essa pessoa muito respeitada ao seu lado. Não
estou, por enquanto, pensando ou falando com ela –
Eu estou falando de você pobre, triste e culpado!
Talvez você diga: “Não me sinto em um estado
mental em que consiga orar. Mal sei porque vim
aqui. Estou muito triste, muito afligido, sou muito
pecaminoso e tenho um muito duro coração”. Mas,
meu caro amigo, você pode orar! Deixe-me parar
por um minuto. Neste silêncio solene, você pode
suspirar sua primeira oração a Deus. Que Deus o
ajude, meu pobre irmão, a dizer pela primeira vez,
“Deus, tem misericórdia de mim que sou pecador!”.
Que Ele o ajude, minha querida irmão, que já viveu
tanto sem orar, a dizer agora, “Senhor, me receba,
me perdoe, deixe com que eu seja Sua filha, Sua
criança, de hoje em diante e para sempre!”.
Você não vê isto? Se os homens – e você
está nesta categoria – se seres humanos sempre
devem orar, então eles sempre podem orar! E,
“sempre”, inclui este presente momento! Então você
pode orar agora! Você deve orar agora, pois você
está na lista dos humanos! Portanto, ore agora, pois
“agora” está incluído na palavra “sempre”. “Bem”,
alguém pode dizer, “me apressarei a chegar em casa
e lá irei orar”. Não faça isto! Sente aonde você está
agora e deixe sua alma derramar-se a Deus. “Mas eu
gostaria de me ajoelhar”. Sim, eu gostaria que você
se ajoelhasse se isto fosse possível e próprio, mas
não existe necessidade disso. Coloque sua alma em
seus joelhos! Muitas vezes, quando o corpo está
ajoelhado, a alma não está orando de verdade – e
existe uma forma na qual a alma pode ser prostrada
diante de Deus por mais que o corpo esteja de pé.
Mesmo agora, no pó eu atiro meu próprio espírito
diante do três vezes Santo Deus, e prostrado diante
Dele, oro, “Senhor, ajude alguns aqui a orar a Ti
agora mesmo! Pela primeira vez em suas vidas,
neste exato momento, enquanto estas palavras fluem
por meus lábios, que seus corações confessem seus
pecados e clamem a Ti, Grande Pai, pela ação da
Tua infinita misericórdia!”. Por que não fazer isso?
Acredito que o Espírito de Deus está a trabalhar
aqui neste momento e está levando alguns de vocês
neste abençoado ato de oração. Se assim for, que
Seu Nome seja louvado por isso!
Existe mais uma coisa a ser notada
enquanto me lanço neste texto e esta é, “Os homens
devem sempre orar, e nunca desfalecer”. Então é
claro que a oração é sempre – se for uma oração
verdadeira – um efetivo e proveitoso exercício para
qualquer homem que ora, pois, se os homens devem
orar, é simples que existe algo na oração que é útil
ao espírito, pois os homens não devem fazer aquela
coisa que é meramente vã e vazia. Deus não pode
exigir que façamos aquilo que terminará em fumaça,
ou que será somente um nada! Deus não pede que
nenhum de nós vá e fale com os ventos e assobie às
ondas! Deve existir alguma realidade na oração –
deve ser Sua intenção escutar e responder as orações
ou não estaria escrito assim – “Os homens devem
sempre orar”.
Será que Ele nos daria permissão de fazer
algo que não teria valor nenhum em si? Não. Será
que Ele nos exortaria a fazer algo, será que Ele nos
mandaria fazer algo quando Ele saberia que, se nós
o fizéssemos, seria somente uma mera formalidade?
Será que Deus nos manda a agir como as filhas de
Danaus[23], que deveriam encher uma vasilha sem
fundo com vasos furados? Será que Ele nos diz,
como Sísifo[24], para passar toda a nossa vida a
empurrar uma pedra enorme montanha acima na
qual a pedra rolará para baixo de novo sobre nós?
Será que Ele faz de nós tolos? Será que Ele falou
em segredo e disse para a semente de Jacó “Busque
Minha Face em vão”? Não pode ser! Afirmo que se
Deus não escuta e nem responde orações, então isto
é um bocado de tolice! Não posso conceber que
Deus colocaria nenhum de nós para fazer algo que
fosse insanidade, ou no mínimo algo que fosse
idiota. Não, se os homens devem sempre orar, existe
algo real na oração e, quando o Senhor diz que nós
devemos orar, é porque Ele é pronto para garantir o
desejo de nossos corações e nos mandar uma
bênção.

1. Com este prefácio, queridos amigos,


nós chegamos ao nosso texto, e notei que a
respeito dele, primeiramente, existe UM
PERPÉTUO DEVER, OU PRIVILÉGIO,
OU AMBOS. “Os homens devem sempre orar”.
Isto significa que, em suma, e em primeiro
lugar, que os homens devem orar habitualmente.
Deve existir – e onde quer que a Graça de Deus
esteja, haverá – um hábito de oração. Existirão
orações em tempos determinados. É necessário
marcar as extremidades do jardim, para guardá-los
do caminho por onde você anda, para que as plantas
que crescem não sejam pisadas pelos pés ocupados
do trabalho. Nós precisamos de alguns horários
determinados, algumas cercas, alguns horários e
períodos reservados à oração. Esses deveriam ser
regularmente frequentados. Nossas orações privadas
– é uma grande perda para nossas almas quando
estas são negligenciadas. Nossas orações familiares –
estou certo de que é uma ofensa grave para um lar
cristão se este não se reúne regularmente para orar.
Nossas orações na Casa de Deus, entre nossos
irmãos e irmãs, não devem ser esquecidas também.
Nós amamos reuniões para orar – nós temos dado
atenção à determinação apostólica, “Não deixando a
nossa congregação, como é costume de alguns” (Hb
10:25). Todas essas coisas nós devemos fazer, mas
ainda existe um hábito de oração que é superior a
tudo isto! Os judeus oravam três vezes ao dia.
Houve alguns santos homens que oravam pelo
menos sete vezes ao dia, mas creio que o homem
que vive perto de Deus não poderia dizer quantas
vezes por dia ele ora, pois, para cada vez que ele
tenha três ou sete períodos de oração especiais e
notáveis, ele terá setenta vezes sete vezes por dia em
que seu coração fala com Deus sobre tudo o que
acontece com ele. Penso que é bom antes de toda
ação, fazer uma oração; que durante cada ação,
fazer uma oração e depois de toda ação, fazer outra
oração.
“Sal”, diz o Velho Testamento, “à vontade”
(Esdras 7:22). Assim deve ser com a oração, orar,
sem prescrição de quanto. Você nunca pode
exagerar nisso. Possivelmente aquelas questões que
parecem requerer um pouco de oração são as pro
´rias coisas que requerem o máximo de oração. “Os
homens devem sempre orar”. Você não tem que
deixar seus negócios para orar, ou deixar de lado
trabalhos domésticos ou serviços públicos – todos
aqueles que devem ser realizados. Você pode fazê-
los e orar o mesmo tanto – e esta é a forma como os
cristãos deveriam sempre orar.
Mas eu não penso que este texto busque
tanto ensinar a continuidade da oração quanto à
pertinência da oração. Quero dizer que não tanto o
sempre orar quanto o continuar a orar por algo
em particular que você tenha pedido. Você deve
continuar a orar! Deixe-me testar e abrir um pouco
mais isso. “Os homens devem sempre orar”, isto é,
orar em todas as circunstâncias. Qualquer que seja a
dificuldade ou tribulação ore por ela. Se for uma
tribulação no lar – ore por ela. Se for uma tribulação
nos negócios – ore por ela. Se for uma dificuldade
na Igreja – ore por isso. Quero trazer meu
testemunho pessoal sobre isso. Tenho tido e
continuo a ter, mais fardos para carregar, penso, do
que qualquer outro homem que vive – fardos
pesados, não meus, mas dos outros e pela Glória de
Deus – os quais, diariamente vêm até mim, o
cuidado não só por esta enorme igreja, mas por
tantas outras igrejas também. E tenho percebido
nunca tive um fardo de nenhum tipo que não
pudesse ser indicado pela minha sabedoria para ser –
“Levado ao Senhor em oração”.
Já tive fardos que me atribularam tanto ao
ponto de estar muito desnorteado. Meditei e agi o
melhor que pude, mas a aflição continuava e, ao
final, eu a levava pessoalmente e a colocava na
estante. E dizia ao Senhor, “Nunca tocarei nesta
aflição novamente, deixarei em Tuas Mãos, meu
Abençoado Mestre”. Acredito que, por via de regra,
este foi o melhor modo de lidar com essas coisas,
colocá-las inteiramente nas mãos Dele. Existem
certas coisas que, depois de termos feito tudo o que
podíamos, o único remédio é a oração.
Que seja definitivamente aceito entre nós,
cristãos, que qualquer dificuldade que seja, qualquer
forma que ela tenha, secular ou sagrada, que, “Os
homens devem sempre orar”, isto é, eles devem orar
por todas as coisas. Este é o remédio que irá curar
todas as doenças. Esta é a espada que cortará o Nó
Górdio[25] que não pode ser desatado. Esta é a chave
que irá destrancar cada cela da prisão de sua tristeza.
Nós iremos nos libertar se soubermos somente usar
a chave da oração! “Os homens devem sempre
orar”. Pode existir um irmão que é suscetível a
realizar discórdia – devo eu ir e batalhar com ele?
Não, eu irei falar dele para o Senhor – Ele irá lidar
com ele melhor do que eu poderia. Ó, mas o que
aquele homem começou a pregar é completa
heresia! Devo eu lutar contra ele? Bem, posso
contradizê-lo se eu for levado a isso, mas irei,
primeiramente, falar para o Senhor sobre ele. O
Senhor pode derrota-lo melhor do que eu. “A menor
distância entre dois pontos é uma reta.” Em vez de
desviarmos e irmos para o servo, tentando arranjar
algum favor com ele, vá diretamente ao Mestre! Vá
de uma vez ao quartel-general por todas as coisas.
“Os homens devem sempre orar”. Ó, que
aprendamos bem esta lição!
E, caros amigos, nós devemos orar diante
de toda oposição à oração. Algumas vezes dizemos
a nós mesmos, “Realmente, eu não consegui orar
sobre aquele assunto”. Bem, então se você não
consegue orar por aquilo, não se envolva com essa
coisa – é um sinal definitivo de que existe lepra nesta
coisa, então não toque nela! O verme devorador do
inferno esta em algo se você não consegue orar por
aquilo. Fuja disso como se estivesse fugindo do
próprio inferno. Deve ser algo tolo e sujo se você
não consegue orar por isso. Não, amados, não pode
existir tal coisa, mas tudo aquilo que parece estar no
caminho da sua oração, acredite que sempre quando
é mais difícil orar, esse é o tempo mais necessário
para fazer suas orações! Sempre quando parecer que
você não consegue orar, então você deve falar,
“Agora eu tenho sete vezes mais necessidade de orar
por esta coisa do que quando tive outros assuntos
nos quais a oração vinha mais facilmente a mim”. É
um sinal de perigo quando você não consegue orar.
O fato de você não conseguir orar é como o
chocalho da cascavel – deve haver algum dano
mortal prestes a surgir. Qualquer que seja a
dificuldade na oração, você deve, pela ajuda do
Espírito Divino, quebrar todas as barreiras, pois
você deve orar.
“Os homens devem sempre orar”. Então
eles devem orar mesmo quando há um grande atraso
nas respostas às suas orações. Oponho-me
grandemente à prática de alguns que tenho lido, os
quais dão a Deus um determinado limite de tempo
no qual eles irão orar. Ouvi uma mulher que disse
que ela orou por seu marido durante vinte anos e, de
acordo com a estória, no fim dos vinte anos, ele se
convertera, mas se ele não tivesse se convertido até
então, teria sido perigoso para ela desistir dessa
oração, mesmo após vinte anos orando por aquilo!
Nosso querido irmão, senhor George Muller[26],
tinha em seu “livro de oração” o nome de um irmão
por quem ele orava, acredito que tenha escutado ele
dizer por trinta e seis anos. E isto foi há alguns anos
atrás, então deve ser um tempo maior do que esse, a
não ser que a oração tenha sido respondida. Mas ele
tinha a persuasão interna de que esta pessoa seria
trazida aos pés do Salvador e, portanto, ele o
mencionava este caso diariamente ao Senhor em
oração. À propósito, ele nos conta de uma estória
muito admirável sua, na qual ele escrevia seus
pedidos de oração e os marcava à medida que estes
eram respondidos – e aqueles que não eram
respondidos, ele os deixava lá até que, passado um
tempo, percebia que não eram pedidos corretos.
Mas ele notou que Deus, sim, responde às orações e
ele gostava de manter um registro disso. Se nós
fizéssemos o mesmo, teríamos muito mais uma
digna confiança em Deus, e nossa oração seria
muito mais eficiente do que tem sido. Mas não diga
a si mesmo, “Irei orar por tanto tempo por isto”. Se
o que você está pedindo toca o Reino e a Glória de
Cristo, então persevere em oração como este texto
encoraja-nos, “Os homens devem sempre orar”.
Se for algo que diz respeito somente ao seu
próprio conforto pessoal, então o Espírito de Deus
deve lhe ensinar a limitar suas orações. “Acerca do
qual três vezes orei ao Senhor” (2 Co 12:8), disse
Paulo. Sim, e ele não teve a resposta que desejava,
mas ele teve uma com a qual ficou perfeitamente
satisfeito! O Senhor não tirou o seu espinho na
carne, o mensageiro de satanás continuou a
esbofeteá-lo, mas Ele disse, “Minha Graça é
suficiente para ti”. Paulo ainda teve que carregar a
aflição, mas ele recebeu do Senhor, a Graça que o
capacitava a suportar aquilo! Peça com a respiração
suspensa quando você estiver pedindo por algo
temporal para si, pois você nada mais é do que uma
criança boba no que se refere a si mesmo. Um
garoto pode se apaixonar pelas navalhas de seu pai
ou desejar comer alguma delícia que seria muito
perigosa para sua saúde – e você não gostaria que
seu filho persistisse pedindo por algo que os
machucaria! Você não está zangado com ele por
pedir, pois ele não sabe de quase nada, então você
diz, “Meu filho, isso não seria bom para você!”. Se
seu filho foi uma boa criança, ele não pedirá aquilo
de novo, ou se pedir, não ficará com raiva se não
receber.
E, frequentemente, você não sabe o que é
bom para você. Se Deus realmente tivesse colocado
ao nosso alcance ter tudo aquilo que escolhêssemos
pedir, isto, de fato, seria um poder muito perigoso!
Se o Senhor me falasse, “Você terá tudo aquilo que
desejar”, eu iria diretamente ao meu quarto e diria,
“Ó, meu Senhor, me livre deste perigoso privilégio!
Peço a Ti, na Sua tenra misericórdia, que nunca me
dê nada que Sua grande sabedoria não veja que seja
bom para mim mesmo. Não confie a mim um poder
tão perigoso como este! Tu és Onisciente e eu sou
estúpido. Tu és completamente Bom e Sua vontade
pra mim é melhor do que meu desejo pode ser! Não
seja, então, como eu quero, mas como Tu queres;
que assim seja feito”. Mas se é algo concernente ao
Reino de Cristo, alguma coisa pra a Glória de Deus,
continue em oração, mesmo que seja por cinquenta
anos – e deixe que esta pequena frase o anime – “Os
homens devem sempre orar”.
Continuem orando, caros amigos, apesar de
todas as tentações e dificuldades pessoais. Se você
sentir que, “Minhas orações são tediosas e fracas”,
continue orando. Quando satanás diz “Não há razão
para orar por aquela coisa”, continue orando.
Quando os outros ao seu redor falarem, “Não é algo
pelo qual se deva orar”, ainda assim ore. Quando,
finalmente, parecer ser um trabalho desesperador e
você começar a clamar, “Será que Deus se esqueceu
de ser gracioso? Será que Ele, irado, calou Seu
coração à compaixão?”, ainda assim, ore, pois “os
homens devem sempre orar.”

2. Agora devo falar algumas palavras


sobre A BASE DESSA OBRIGAÇÃO: “Os
homens devem sempre orar”.
Bem, nós devemos sempre orar porque nós
sempre temos algum pecado a confessar, nós sempre
temos alguma coisa boa para bendizer a Deus e nós
sempre temos alguma necessidade a ser suprida.
Devo admitir que eu nunca estivesse em uma
condição em que não precisei orar. Aquele que está
no fundo do vale deve orar para que ele seja capaz
de subir a montanha. Aquele que está no topo da
montanha precisa orar duas vezes mais para que sua
cabeça não se torne tonta – e para que ele não caia
de sua alta posição. Aquele que não tem deve orar
até que ele tenha e aquele que tem deve orar para
que ele seja abençoado nesta posse. Se seu copo
está vazio, ore ao Senhor para que o encha. Se seu
copo está cheio, ore ao Senhor que mantenha suas
mãos firmes para que você não derrame o que
dentro está. Se você não consegue enxergar seu
caminho, ore para que Deus lhe guie. Se você puder
olhar o seu caminho, ore a Deus para que Ele o
ajude a segui-lo. Você é jovem? Ore para que Deus
o ajude com os pecados da juventude. Você está no
meio de sua vida? Ore para que Deus o ajude no
meio do caminho, onde as tribulações são muito
numerosas. Você está quase no Céu com sua idade?
Ore para que você entre no Paraíso orando.
“Os homens devem sempre orar”. É sempre
um dever oficial por uma ou outra dessas razões.
Homens sempre devem orar porque Deus os manda
orar. “Orai sem cessar”, é um comando curto e
grosso. Não tem dar a volta por este texto, “Orai
sem cessar”. Ele está amarrado dentro do coração
do Primeiro Mandamento da Lei de Deus –
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento, e de todas as tuas forças” (Mc
12:30).
“Os homens devem sempre orar”. É sempre
a mais sábia coisa que eles podem fazer. “Os
homens devem sempre orar”. É, algumas vezes, a
única coisa que eles podem fazer. “Os homens
devem sempre orar”, ou então eles querem tirar o
assunto das mãos de Deus. “Os homens devem
sempre orar”, pois ele sempre necessitam da ajuda
de Deus, quer eles acreditem nisso ou não.

3. Não irei entrar em outras razões,


apesar de elas serem muitas para esta obrigação,
mas devo concluir notando A ALTERNATIVA
– “Os homens devem sempre orar, e nunca
desfalecer”.
Existem alguns que desfalece fatalmente.
Eles declararam a confissão cristã. Talvez haja
alguns aqui que uma vez fizeram isto. Anos atrás
você foi membro de uma igreja – onde você está
agora? Anos atrás você costumava falar, algumas
vezes, sobre o melhor do nome de Cristo – você não
faz mais isso agora. Como você se tornou o que
você é agora – sem sequer fazer uma confissão
religiosa ou certamente não servido a Cristo de
forma alguma? Não estou dando um palpite, mas
pronuncio uma certeza – você se desviou e começou
a desfalecer na caminhada espiritual porque
negligenciou a oração. Você desfaleceu porque você
não orava! Ah, a religião que não começa com
oração em secreto[27] não é digna do rótulo que você
faz dela! A religião que não é sustentada pela oração
em secreto é uma mentira! Uma religião que não
cresce através da oração em secreto é somete
orgulho; esta religião não é verdadeiramente
construída pelas mãos de Deus. Não, não, meu
jovem, se você busca ingressar em uma igreja, ser
batizado, vir à Mesa da Comunhão e, enquanto isso,
você não ora, sua religião não passa de uma
estrutura sem base e inútil que logo irá desaparecer!
Nós tínhamos muitos homens os quais eu os tinha
visto e conhecido em épocas diferentes, e que
poderiam falar muito fluentemente e trabalhavam no
serviço de Deus por um tempo, mas o grande
problema com eles era que eles não viviam para o
Senhor em secreto! Se assim é com qualquer um de
vocês, sua religião deve ser construída com muita
arrogância, como uma torre alta, mas que
rapidamente virá abaixo, pois as fundações foram
mal colocadas. Você deve orar ou irá desfalecer!
Se você é um filho de Deus, a mesma
alternativa está diante de ti. Ou você ora ou
desfalece – isto significa que às vezes, você ficará
atordoado. Eu fico assim. Desejo fazer a coisa certa,
mas raramente sei qual é a coisa correta dentre vinte.
Eu trataria este irmão com carinho, mas com
firmeza àquele outro irmão. Como consigo mesclar
firmeza com bondade? Se você é pastor de uma
igreja – ou você será, meu amigo – você sabe
quantos quebra-cabeças nós temos diante de nós,
lidando não somente com nossa própria natureza
humana, mas com a natureza humana do povo de
Deus, pois existe bastante natureza humana aonde
existe natureza espiritual – e existem muitos
caminhos ruins mesmo em bons homens! O que
você fará em tais casos? Bem, se você não conseguir
ir através do véu e falar com o Oráculo Santo, você
desfalecerá.
Já lhes disse anteriormente que quando eu
estava vindo para Londres, havia um homem velho e
estranho na Reunião de Oração que, enquanto as
pessoas estavam orando para que eu fosse
abençoado na minha vinda, ele pedia ao Senhor que
eu fosse ajudado a “engolir várias questões
atravessadas”. Isto eu fiz muitas vezes. Outro orou
para que eu fosse “protegido do balido das ovelhas”,
e, naquela época, não conseguia entender o que ele
disse. Não sei se ele entendeu o que ele mesmo
falou, mas eu entendo isso muito bem agora. Não
existe líder do rebanho que não irá ocasionalmente
desejar ser protegido do balido das ovelhas, pois elas
balem em tons tão diferentes às vezes. Você pode
escutar o balido de uma ovelha ou outra – algumas,
talvez, não estejam balindo da forma correta, mas é
uma grande coisa pensar: “Eu não serei guiado pela
forma com essas ovelhas balem. Fui colocado para
guia-las, em vez de deixar que elas me guiem, mas
eu serei guiado por vozes mais altas que os balidos
das ovelhas, a saber, a voz do Grande Pastor”. Creio
que todo homem que deseja ganhar almas – e estou
me referindo a muitos que estão liderando classes
bíblicas, ou estão em missões, ou de alguma forma
servindo ao Senhor – irá desfalecer, estou certo que
irá – na administração de seu trabalho, a não ser que
ele se retire algumas vezes e coloque tudo isto aos
pés do Senhor e espere Nele. “Os homens devem
sempre orar, e nunca desfalecer” em seu ministério a
Deus, em seu serviço par as almas de seus irmãos.
Eles irão desfalecer de muita desorientação se não
orarem.
E você certamente ira desfalecer, em certos
tempos, por cansaço e depressão de espírito, por sua
própria impotência. “Ó,” você diz, “Deus permitisse
que eu pudesse desistir de tudo! Ó, que eu tivesse as
assas de uma pomba e voasse para longe e pudesse
descansar!”. É uma grande misericórdia que as assas
não nasçam quando nós pedimos por elas, pois elas
não seriam de nenhuma serventia para nós – o que
faríamos se voássemos como pombas? Se Deus
tivesse uma mensagem para que nós a
carregássemos como um pombo, Ele nós daria as
assas e então seria correto voarmos. Mas o que nós
geralmente queremos dizer é que nós queremos nos
livrar do trabalho duro, nós estamos querendo os
sábados à noite. Quem gostaria de ter um
trabalhador que fala na Terça-Feira de manhã. “Ó,
Senhor, gostaria que fosse Sábado à noite!”. E
quando chega a Quinta-Feira, ele se encontra com
você e diz, “Bom dia, Senhor. Gostaria que fosse
Sábado à noite.” “Ó,” eu diria, “próximo Sábado
será a ultima noite em que eu te verei”. Você precisa
de um melhor trabalhador do que esse – e se nós
tivermos desfalecimentos adicionado a isso, diríamos
para nós mesmos, “Chega, assim não dá! Devo ir e
dizer ao Senhor tudo sobre minha dificuldade e
aflição”. Busque Nele por novas forças e então você
sairá como se tivesse molhado seu rosto no orvalho
do Céu, como se a Luz de Deus estivesse entrado
em seus olhos e se você estivesse voltado refrescado
de uma visão de anjos para que possa falar aos
homens com novas línguas à medida que o Espírito
lhe provesse intrepidez! “Espere no Senhor”, pois
isto é aquilo que lhe guardará de desfalecer e fará
com que você renove suas forças como a águia!
Estou lidando com o povo de Deus na
conclusão do meu assunto, mas gostaria que não
fosse assim – gostaria que eu tivesse me mantido no
primeiro grupo e falasse com aqueles que estão
começando a orar. Caros amigos, comecem esta
noite, eu os imploro, fiquem com um olho no
Senhor naquela Cruz, toda manchada com faixas de
sangue escarlate descendo de Seu precioso corpo.
Olhe para Ele! Há vida em um olhar para Ele. Olhe
para Ele enquanto Ele morria por você e você
viverá! Deus nos ajude a fazer isso, no nome de
Criso! E quando vocês houverem acreditado Nele,
venham e sejam batizados em Seu Nome, como
esses queridos amigos estão prestes a ser[28]. Deus
abençoe a todos! Amém.
[1]
Uma máquina de oração é uma roda onde símbolos de
orações são escritos ou pregados nela, e à medida que o
vento sopra, a roda gira. Os religiosos que usam tal coisa
acreditam que a cada volta que a roda dá, todas as orações ali
escritas foram realizadas aos seus ídolos.

[2]
Hugh Latimer foi um pregador inglês que se uniu aos
reformadores, até ser preso e por fim queimado na fogueira
pela igreja Católica Romana.

[3]
John Knox foi o principal reformador escocês. Enfrentava
diretamente os reis e rainhas de sua época por se ligarem a
igreja Católica Romana. A rainha da Escócia, Maria, afirmava
que tinha mais medo das orações de John Knox do que de
um exército de milhares de homens.
[4]
Spurgeon matinha um orfanato para meninos inicialmente
e depois, através de ofertas, conseguiu abrir outro orfanato
destinado à meninas.
[5]
A rua Downing é a rua onde se instalam os principais
ministros da Inglaterra.
[6]
Os tártaros usavam rodas onde colocavam símbolos ou
orações e à medida que o vento girava as pás dessas rodas ou
moinhos de vento, eles acreditavam que suas orações eram
feitas.
[7]
Wimbledon é um distrito da Grande Londres, onde
competições de tiro eram realizadas. Nos dias atuais, essas
competições ainda existem, porém as competições mais
famosas neste distrito são os campeonatos de tênis.
[8]
Uma referência aos Filactérios, pequenas caixas que
continham pequenas partes da Escritura. Os judeus
amarravam essas caixas na testa e no braço para mostrar que
guardavam a Palavra do Senhor.
[9]
O sentido da palavra é uma devoção só de nome, mas cujo
interior do homem não é verdadeiramente transformado.
[ 1 0 ] Esta versão é aquela usada por Spurgeon e a mesma
não possui tradução equivalente em português.
[11]
“Não a nós, Senhor”.
[12]
É uma expressão em inglês usada para homens que pelos
próprios esforços se fizeram homens ricos, grandes ou
famosos.
[13]
A Rua Cheapside era uma rua de comércios da cidade de
Londres.
[14]
Provérbio inglês.
[15]
Esta é a versão usada por Spurgeon, a qual não possui
uma tradução igual no português.
[16]
Rowland Hill era um famoso pregador britânico.
[17]
Samuel Coleridge foi um poeta inglês.
[18]
Issac Watts foi convidado por Thomas Abney para que
morasse nas dependências da família Abney e Watts
permaneceu morando com esta família até a sua própria
morte em 1748.
[19]
‘Porção do Cesto’ é uma expressão em inglês dada a
mulheres que recebem muitos presentes de seu pai.
[20]
Considerado um dos mais importantes teólogos puritanos
e conhecido como “teólogo do pecado”, pois expunha com
muita abrangência e profundidade sobre a questão do pecado.
É tido como um dos maiores teólogos reformados de todos
os tempos. Recomendo muito que as obras deste puritano
sejam adquiridas por você, leitor.
[21]
Possivelmente este texto só pode ser encontrado na
versão da Bíblia que era usada) por Spurgeon.
[22]
Nunca pense que pode pedir a Deus qualquer coisa só
porque acha que está usando o nome de Cristo. Nossos
pedidos para o Senhor devem ser sempre para suprir
necessidades que Ele prometeu que seriam supridas. Não
pense você que pode obter do Senhor coisas para
esbanjar em seus prazeres. Miserável o homem que
pensa assim. (Nota do Editor).
[23]
As filhas da figura mitológica Danaus, como a lenda
conta, eram em número de cinquenta e foram casar com
outros cinquenta homens, porém os mataram na noite de seus
casamentos. Dessa forma, elas foram condenadas tomar
jarros de água furados e encher um grande recipiente também
furado. Esta lenda mostra uma atividade completamente fútil
e sem fim.
[24]
Sísifo foi outro personagem da mitologia grega que por
ser um enganador, tanto de homens quanto de deuses, foi
condenado pelos deuses gregos a carregar montanha acima
uma pedra enorme de mármore e sempre que chegava perto
do topo, uma força irresistível a empurrava novamente para o
pé do monte, fazendo com que ele houvesse de realizar todo
o trabalho novamente por toda eternidade.
[25]
Nó Górdio, segundo uma lenda, era um nó impossível de
ser desatado. A lenda conta que quem desatasse o nó, iria
dominar toda a região da Ásia Menor. Alexandre, o grande,
ao se deparar com o nó, o cortou com sua espada. A
expressão em inglês significa resolver um problema de uma
forma muito simples.
[26]
George Muller foi um grande evangelista e diretor de um
orfanato onde pôde cuidar de mais de dez mil crianças.
[27]
A oração em secreto é aquela onde você está sozinho
diante de Deus, onde não há ninguém para escutar suas
palavras além do Senhor. Se alguém não ora sozinho diante
de Deus, não pode falar que conhece a Ele e nem que tem
comunhão com Ele. [N.E.]
[28]
Neste culto havia um grupo de crentes que seria batizado.

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