Resumo do livro ‘O que é Semiótica’ de Lúcia Santaella. Brasiliense: São Paulo, 2012. Por: Clóvis Cézar Pedrini Jr.
I. Primeiros passos para a semiótica
O nome Semiótica vem do grego semeion, que quer dizer signo. É a ciência geral de todas as linguagens que está em processo e crescendo. Ela está se desenvolvendo em todo o mundo. Já a Linguística é a ciência da linguagem verbal. Há diferença entre língua e linguagem e entre linguagem verbal e não verbal. Utilizamos de língua que falamos, com a qual escrevemos e nos fazemos entender, e as imagens, gráficos, sinais, etc…, o que nos faz seres de linguagem. Desde as grutas de Lascaux, as danças, hieróglifos, pictogramas, desenhos, músicas, jogos, arquitetura, poesia etc., são feitos de linguagem. O alfabeto surge no Ocidente com os gregos. Assim, existe uma linguagem verbal e de sons com tradução visual alfabética e outras linguagens que constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo. Linguagem é, portanto, todos os sistemas de produção de sentido e é o que possibilita toda forma de manifestação cultural, simbólica e significações. Com a pós-revolução industrial e com a indústria cultural se aumentou o número de mensagens e informações. A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas a linguagens possíveis que produzem de significação e de sentido. Sem informação não há mensagem, não há planejamento, não há reprodução, não há processo e mecanismo de controle e comando. A Semiótica busca divisar e deslindar seu ser de linguagem, isto é, sua ação de signo. II. O legado de C. S. Peirce A Semiótica teve três origens simultâneas: nos Estados Unidos, na União Soviética e na Europa Ocidental. Isso deve-se à proliferação das linguagens e códigos, dos meios de reprodução e difusão de informações e mensagens a partir da Revolução Industrial, criando uma ‘consciência semiótica’. Charles Sanders Peirce (1839–1914) era um cientista estadunidense que possuía uma vasta diversidade de campos e interesses. Ele concebeu o livro Um Sistema e Lógica, considerada como Semiótica. A Semiótica peirceana é uma Filosofia científica da linguagem. III. Para se ler o mundo como linguagem Pierce considerava toda produção, realização e expressão humana como uma questão Semiótica, sendo ela explicável e definível dentro de um conjunto filosófico. Ela se enquadra ao que se chama ‘ciência especiais’, que se divide em ‘ciência física’ e ‘ciência psíquica’, ou seja, ‘ciências humanas’, lugar ocupado pela Semiótica. Os métodos de investigação que a Semiótica utiliza são importados dos princípios matemáticos e filosóficos, especialmente lógicos. Para Pierce, um idealista objetivo, “materialismo sem idealismo é cego: idealismo sem materialismo é vazio”. As leis da natureza são evolutivas. Ele dividiu sua filosofia da seguinte maneira: Fenomenologia; Ciências Normática (Estética, Ética, Semiótica ou lógica [Gramática pura, Lógica Crítica, Retórica Pura]); Metafísica. Sob a Ética e Estética estrutura-se em três ramos a ciência Semiótica, teoria dos signos e do pensamento. A Semiótica ou a Lógica tem por função classificar e descrever todos os signos logicamente possíveis. IV. Abrir as janelas: olhar para o mundo Os fenômenos — qualquer coisa ou ação presente na mente — estão abertos à observação. Dividimos em falsou ou verdadeiros, reais ou ilusórios, certos ou errados. Para tanto utilizamos da 1) capacidade contemplativa, 2) distinção de diferenças e 3) generalizações em categorias. Pierce crias as categorias segundo 1) Qualidade, 2) Reação e 3) Mediação que cientificamente recebem a terminologia de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Essas categorias universalizaram-se e adquiriram matizes na teoria do protoplasma, na teoria da evolução, na fisiologia e na física. A 1ª corresponde ao acaso, originalidade irresponsável e livre, variação espontânea; a 2ª corresponde à ação e reação dos fatos concretos, existentes e reais e a 3ª diz respeito à medicação ou processo, crescimento contínuo e devir sempre possível pela aquisição de novos hábitos. Para Pierce consciência não é razão e sim um lago sem fundo onde estão as ideias. A razão é apenas sua camada mais superficial. Primeiridade: trata-se de uma consciência imediata tal qual é, a pura qualidade de ser e de sentir, sentimento in totum, indivisível não analisável, inocente e frágil, aquilo que está na mente no instante presente, consciência imediata, de modo a não ser segundo para uma representação, precede toda síntese, original, espontâneo, livre, vívido, qualquer sensação já é secundidade. Secundidade: mundo real, reativo, sensual, independente do pensamento, pensável, sentir a ação de fatos externos, resistir, reagir, ocupar espaço, factualidade do existir, qualquer sensação já é secundidade, relação de dependência ente o sentimento e a força da inércia desse sentimento em um sujeito, excitações, imagens mentais, impressões, reações e conflitos. Terceiridade: aproxima um primeiro e um segundo numa síntese intelectual, intangível, pensamentos ou signos por meio dos quais representamos e interpretamos o mundo, generalidade, infinitude, continuidade, decisão, crescimento, inteligência, somos seres simbólicos, percepção, camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido, elaboração cognitiva, mediação sígnica. V. Para se tecer a malha dos signos O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só funciona como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. O signo não é o objeto, ele apenas está no lugar do objeto. Ele pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade. O signo só pode representar seu objeto para um intérprete e produz na mente alguma outra coisa que também está relacionada ao objeto pela mediação do signo. Na mente interpretadora se produz o significado do primeiro — interpretante do primeiro -, portanto o significado é um outro signo — tradução do primeiro. O objeto imediato está representado no signo. O interpretante imediato consiste naquilo que o signo está apto a produzir numa mente interpretadora. O interpretante dinâmico é aquilo que o signo efetivamente produz na mente. Peirce dividiu em ‘signo consigo mesmo’ — 1º quali-signo, 2º sin-signo, 3º legi- signo –; a ‘relação do signo com seu objeto dinâmico’ — ícone, índice, símbolo — e a relação do ‘signo com seu interpretante’ — rema, dicente, argumento. Todo índice está habilitado de ícones, de quali-signos. O objeto de uma palavra não é coisa existente, mas uma ideia abstrata, são símbolos indiciais. Os símbolos são signos triádicos genuínos, pois produzirão como interpretante um outro tipo geral para ser interpretado. Símbolos trazem caracteres icônicos e indiciais. O ícone tende a romper a continuidade do processo abstrativo, pois mantém o interpretante em nível de primeiridade. O índice faz parar o processo interpretativo no nível energético de uma ação como resposta ou de um pensamento puramente constatativo. O símbolo deslancha a remessa de signo a signo. VI. Outras fontes e caminhos Outra corrente da semiótica surgiu na URSS, no século XVIII com A. N. Viesse- Lovski e A.A. Potiebniá. Depois com Sausurre, em Genebra no século XIX. L. Hjelmslev e J, Derrida ampliaram os conceitos linguísticos. Para Sausurre, a língua é um sistema de valores diferenciais, isto é, a língua é uma forma na qual cada elemento só existe e adquire valor e função por oposição a todos os outros. Cada elemento só é o que é por diferença em relação àquilo que os outros não são. A língua é um fenômeno social e é um sistema abstrato formal de regras arbitrárias socialmente aceitas que constitui, daí a diferença entre língua e fala.