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As Virtudes No Pensamento de Santo Tomas de Aquino PDF
As Virtudes No Pensamento de Santo Tomas de Aquino PDF
RESUMO
1677
A moral no pensamento de Tomás de Aquino é uma ciência do
ato humano, ou seja, prática. Como o fim do homem é a felicidade eterna,
Tomás propõe um estudo dos princípios gerais da moral, que poderiam
conduzir o homem a esse fim. Mas sem a liberdade não há moral, e esta
tem seu fundamento na razão. Diante dos bens particulares, nossa
vontade permanece livre, sendo ela determinada apenas pelo bem
absoluto. O que ocorre é que o homem pode errar nas escolhas concretas
em sua vida, o que poderá torná-lo apto ou não em possuir a bem-
aventurança prometida por Deus. De acordo com Tomás, o homem deve
agir em vista do fim, sendo ele racional e tendo, portanto, domínio sobre
os seus atos pela razão prática e pela vontade. Na intenção de distinguir
fim e bem, Tomás define o bem como algo “que toda coisa deseja” e este
se apresenta ao intelecto como verdadeiro e, portanto, algo desejável à
vontade. O papel da razão prática, portanto, é de suma importância, pois,
por meio dela, o homem tem a possibilidade de conhecer as realidades
contingentes, e estas ficam a mercê da vontade. A faculdade da razão e
da vontade é por ele denominada de livre-arbítrio, onde a própria vontade
com seu poder de escolha enquanto penetrada pela razão tem como
objeto próprio a escolha dos meios para alcançar o bem como um fim. A
concepção de liberdade de Santo Tomás repousa sobre uma espécie de
“colaboração harmônica” entre o Intelecto que apreende o verdadeiro e a
Vontade que tende para o bem, compondo, portanto, a ação humana.
1678
humano na ética de Tomás de Aquino? Na questão 55, ele faz a seguinte
observação:
645
Introdução da Suma Teológica das Edições Loyola sobre os Hábitos e Virtudes por Albert Plé.
1679
que orienta o homem para a bem-aventurança como também seu oposto,
o vício, que faz com que o homem se afaste dela, são hábitos. O
verdadeiro sentido do hábito, segundo Tomás, é pura e simplesmente
uma qualidade adquirida646 e livremente desenvolvida que facilita e
aperfeiçoa a ação e o próprio homem. Como o hábito é “aquilo de que
alguém se vale quando quer”, Tomás afirma na questão 50, artigo 5 que
“a própria razão de hábito revela que ele é ordenado sobretudo a
vontade”.
1680
bem; a premissa menor afirma que o adultério fere o mandamento de
Deus; com isso, a conclusão é de que o adultério é pecado e é mal. A
consciência seria responsável pela conclusão do silogismo.
650
Albertuni, Carlos Alberto. Tese: O conceito de Sindérese na moral de Tomás de Aquino. Campinas:
UNICAMP, 2006.
1681
universais, sendo a sindérese o hábito desses princípios e a consciência
aparece como certa aplicação da lei natural àquilo que se deve fazer.
Segundo Tomás:
651
Nota de rodapé da Suma, q.55, a.1. Edições Loyola, p. 94.
652
Nota de rodapé da Suma, q.58, a.1. Edições Loyola, p. 129.
1682
Portanto, segundo Tomás no artigo seguinte, enquanto as
virtudes intelectuais aperfeiçoam o intelecto especulativo e prático, as
virtudes morais aperfeiçoam a potência apetitiva. Ambas funcionam como
motores com a função de aperfeiçoar o homem (q. 58, a. 3).
Virtude moral, segundo Tomás, vem do latim “mos” que pode ter
o sentido de costume ou com o sentido de inclinação natural ou quase
natural para alguma ação. Mas ambos os significados são bem próximos,
de acordo com a concepção tomásica no artigo 2 da questão 58. Essa
espécie de inclinação para o ato convém da virtude apetitiva, pois move,
com isso, todas as outras potências para a ação. Por isso, as virtudes
morais estão presentes na faculdade apetitiva. Mas para que aja uma
ação boa é necessário que a potência apetitiva esteja bem disposta pelo
hábito das virtudes morais e este tem a razão de virtude humana, na
medida em que se conforma com a razão.
653
“Transposição operada por Tomás de Aquino do conceito de phronesis, principal virtude intelectual segundo
Aristóteles.” (Vaz, Lima. Escritos de Filosofia IV. São Paulo: Loyola, 2002.)
1683
“assim como nos dispomos a proceder
retamente em relação aos princípios
universais, pelo intelecto naturalmente, ou
pela ciência habitual, assim também, para nos
dispormos bem em relação aos princípios
particulares de nossas ações, que são os fins,
é preciso que sejamos aperfeiçoados por
certos hábitos que, de alguma forma nos
tornam conatural o correto julgamento do fim.
E isso se faz pela virtude moral, porque o
virtuoso julga retamente sobre o fim da
virtude. Logo, a razão reta do agir, ou seja, a
Prudência, exige que o homem tenha a virtude
moral”. (Aquino, Tomás de. Suma Teológica.
Iª IIªe, v.IV, Q. 58, a. 5. São Paulo: Loyola,
2004)
654
A virtude humana e humanizante, levada a perfeição, habilita o homem a agir com todo o seu ser em
conformidade com sua natureza racional. É dessa forma que ela assegura, de uma vez só, tanto o bem da obra
cumprida quanto o do sujeito que age. Já as virtudes da inteligência e da arte não tornam moralmente bom o
sujeito. Elas são, portanto imperfeitas quanto à total realização do homem; falta-lhes, tomadas em si mesmas,
retificar o apetite, o que justamente realizam as virtudes morais. (Nota de rodapé da Suma Teológica. Iª IIªe,
v.IV, Q. 61, a. 1, p. 162. São Paulo: Loyola, 2004)
1684
nos firma inarredavelmente no que é racional quando a paixão tende a
nos afastar das normas da razão como o temor do perigo ou do
sofrimento. Em relação ao sujeito, Tomás afirma que chegamos ao mesmo
número de virtudes:
1685
distinção das atividades da inteligência em três categorias 655: a sabedoria
onde temos o desenvolvimento da inteligência, capacitando o sujeito em
emitir um julgamento definitivo e universal sobre todas as coisas e dois
outros hábitos considerados como partes potenciais da sabedoria, a
ciência que tem a função de aperfeiçoar os múltiplos processos da
inteligência e o intelecto que habilita o sujeito a fazer um bom uso dos
primeiros princípios. A distinção das virtudes intelectuais práticas das
intelectuais está justamente no seu objeto, ou seja, no contingente, e são
elas: a arte enquanto se ocupa do contingente no domínio da produção e
a prudência, que se ocupa do contingente no domínio da ação. No artigo
3, Tomás classifica a arte como “a razão reta de fazer algumas obras”, ou
seja, um hábito operativo e se identifica como um hábito especulativo pois
esta também torna a obra boa a partir da faculdade de bem agir e não
pelo aperfeiçoamento do apetite. Mas a arte se distingue da prudência,
pois esta se ocupa do contingente da ação e, como vimos acima, é uma
virtude especial, justamente por ter como objeto “a totalidade da conduta
da vida e o fim último da vida humana”, e é considerada tanto uma
virtude intelectual como moral, pois “não faz somente essa faculdade agir
bem, como também o exercício, já que diz respeito ao apetite, por lhe
pressupor a retidão” (a.4).
655
Nota de rodapé da Suma, v. IV, q.57, a.2. Edições Loyola, p. 117.
1686
primeiro por terem Deus como objeto, no
sentido que nos orientam retamente para ele;
depois por serem infundidos só por Deus; e,
finalmente, porque essas virtudes são
transmitidas unicamente pela revelação divina,
na sagrada escritura”. (Aquino, Tomás de.
Suma Teológica. Iª IIªe, v.IV, Q. 62, a. 1. São
Paulo: Loyola, 2004)
1687
essencial: só se deve crer em Deus. Os nove outros: como Deus se deu a
crer.”656 No artigo 1 da questão 4, Tomás relaciona os dois elementos que
compõem a fé, a saber, a inteligência e a afetividade. “A fé reside
essencialmente na inteligência, mas ela começa na afeição que inclina o
espírito a assentir e o fixa; e termina na afeição, pois só a caridade 657 faz
dela de fato uma virtude”658. Assim, Tomás define no artigo 1 da questão
4 que: “o ato de fé é crer; é um ato do intelecto que se define por um
objeto, por ordem da vontade”.
656
Nota de rodapé da Suma, v. V, q.1, a.1. Edições Loyola, p. 47.
657
É importante ressaltar que Tomás destaca no artigo 3 da questão 4 que o ato de fé ordena-se ao objeto da
vontade, que é o bem, como a um fim. Este bem, que é o fim da fé, isto é, o bem divino, é o objeto próprio da
caridade.
658
Nota de rodapé da Suma, v. V, q.4, a.1. Edições Loyola, p. 96.
1688
como uma espécie de amizade do homem para com Deus que nos torna
participantes de sua bem-aventurança. E o amor, palavra que se identifica
mais com a definição tomásica de Caridade, é o que se funda nessa
comunhão de Deus e o homem. Assim como as demais virtudes teologais,
a caridade é uma virtude, pois está relacionada a Deus, e uma virtude
especial, sendo que o objeto próprio do amor de caridade é o bem divino,
e, por isso, um amor especial. Segundo Tomás no artigo 7, não pode
haver verdadeira virtude sem a caridade, pois ela é considerada uma
virtude absolutamente verdadeira enquanto ordenada ao bem principal do
homem, que é Deus. No artigo anterior, Tomás define assim a caridade:
“...entre as virtudes teologais, será mais excelente aquela que mais
alcançar a Deus. Ora, a fé e a esperança alcançam Deus na medida em
que recebemos dele ou o conhecimento da verdade ou a posse do bem.
Mas a caridade alcança Deus para que nele permaneça e não para que
dele recebamos algo.” (Aquino, Tomás de. Suma Teológica. IIª IIªe, v.V,
Q. 23, a. 6. São Paulo: Loyola, 2004)
1689
Teológica. IIª IIªe, v.V, Q. 23, a. 6. São Paulo:
Loyola, 2004)
Revista Síntese Nova fase. Belo Horizonte, v.20 n. 62, PP. 365-385, 1993.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências utilizadas
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª Seção da IIª Parte, Introdução
e notas das virtudes teologais por Antonin-Marcel Henri e da prudência
por Albert Raulin. São Paulo: Loyola, 2004.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Volume I, III e IV. São Paulo:
Loyola, 2004
Referências consultadas
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