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ARTIGOS

A modernidade
das cinco leis de
Ranganathan
de desenvolvimento. Durante essas visi-
Nice Menezes de Figueiredo INTRODUÇÃO
tas, Ranganathan observou que o trabalho
nessas bibliotecas era realizado como "um
Na nossa carreira, 40 anos de exercício
agregado de diversas práticas sem uma
profissional, tivemos oportunidade de "ou-
relação integral"1. Essas atividades exer-
vir falar" de Shiyali Ramamritam Rangana-
cidas na base da tentativa/erro, ou a
than desde quando cursamos a graduação
adoção de regras costumeiras profunda-
em Biblioteconomia, nos idos da década
mente empíricas o levaram a buscar um fio
de 50; este "ouvir falar" estendeu-se por
condutor para as várias práticas, e o resul-
duas décadas, aproximadamente. O perío-
tado foi a formulação das cinco leis. Es-
do áureo do reconhecimento da importân-
sas leis forneceram-lhe a moldura concei-
cia de Ranganathan no Brasil coincidiu
tuai para desenvolver diversos princípios
com a época em que trabalhamos como
normativos, cânones, técnicas, práticas
bibliotecária e docente na Universidade de
etc., essenciais para a organização de bi-
Brasília, em nossa primeira temporada na
bliotecas e serviços, segundo linhas cien-
Capital Federal, de 1964-68. Depois da-
tíficas1.
quele período, houve em "certo silêncio"
em torno do pensador indiano, a literatura Mangla conta ainda que Sayers, especia-
já não fazia tantas menções ao trabalho de lista inglês em classificação, havia assina-
Ranganathan. Este "silêncio" se prolongou lado que "as cinco leis são um trabalho de
por uma década e meia. grande simplicidade que esconde profun-
didade e, no entanto, revelam o que pode
Entretanto, há uns 10 anos começou a ser chamado de fontes espirituais, mas, ao
surgir como que um renascimento do per- mesmo tempo, práticas da atividade de
sonagem na literatura inglesa e americana. Ranganathan"1.
Na literatura indiana, porém, o nome, o
pensamento e a influência de Ranganathan De acordo com Palmer, outro inglês espe-
sempre se mantiveram presentes, através cialista em classificação, amigo e segui-
do tempo. dor, Ranganathan considerava as cinco
leis, cuja primeira edição saiu em 1931,
Aqui, vamos tratar das cinco leis de Ran- sua obra seminal; quer dizer, como se-
ganathan como são vistas e discutidas mente dela se originaram outras obras: 60
tanto na visão conceitual, quanto e princi- livros, nas áreas de seleção, classificação,
palmente nas questões de aplicações prá- catalogação, referência, administração,
ticas pela interpretação destas leis por vá- documentação, legislação bibliotecária,
rios autores da literatura internacional. além de ensino e diversas biografias2.

Recordando as cinco leis: As cinco leis, na verdade, são apenas de-


clarações simples, ou enganosamente
1. livros são para o uso; simples, como alerta Garfield3, ou ingê-
nuas, como as classificam Rajagopolan e
Resumo 2. a cada leitor seu livro; Rajan4, ainda são consideradas como
Relata-se o desenvolvimento dos conceitos princípios por Sebastião de Souza5. Se-
filosóficos/práticos embutidos nas cinco leis de 3. a cada livro seu leitor, gundo esta colocação, Souza acrescenta
Ranganathan, desde a sua enunciação até os dias que, embora a Biblioteconomia não possua
de hoje, de acordo com um estudo comparativo da 4. economize o tempo do leitor; até hoje um corpo definido de teorias e de
interpretação de vários autores na literatura
internacional. Comprova-se a modernidade das
leis, como as demais ciências sociais, já
leis, que até hoje ainda podem servir de fonte para 5. uma biblioteca é um organismo em possui, contudo, princípios e teorias que
o estabelecimento de uma filosofia para a crescimento. fazem dela uma quase ciência. Mas, pata
Biblioteconomia, de base para uma atuação ter um corpo definido de teorias e leis –
eficiente do bibliotecário e corno elemento ASPECTOS HISTÓRICOS E como física, química ou matemática –, a
essencial para o processo de planejamento e
avaliação de serviços e sistemas de informação de CONCEITUAIS DAS LEIS Biblioteconomia teria de se consolidar, e
qualquer nível. as leis de Ranganathan poderiam propiciar
Segundo relata Mangla, professor indiano esta abordagem5.
Palavras-chave
de New Delhi, Ranganathan teve oportuni-
Ranganathan; Cinco leis da dade de visitar, em 1925, mais de 100 bi- Esta mesma posição é tomada por Gar-
Biblioteconomia/Ranganathan. bliotecas inglesas em estágio diferenciado field3, quando afirma que estas leis for-

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A modernidade das cinco leis do Ranganathan

necem princípios gerais dos quais toda Assim, na interpretação de Garfield, presi- e também levar em consideração o uso
prática bibliotecária pode ser deduzida e dente do Institute of Scientific Information das coleções).
representam o primeiro passo para colocar de Filadélfia (ISl), a primeira lei – Livros
o trabalho bibliotecário em base científica. são para o uso – conduz naturalmente a Levada à sua conclusão lógica, a segunda
Palmer confirma esta interpretação, afir- um sistema de bibliotecas no qual elas se lei implica considerações de custo-eficá-
mando que as leis são declarações sim- localizam em pontos centrais, abrem por cia. Assim, US$ 30 gastos em livros com
ples, mas tão cheias de significado, que longos horários, são mobiliadas de manei- pouco ou nenhum uso são US$ 30 a me-
delas se pode deduzir tudo o que se cha- ra hospitaleira e com corpo de pessoal nos para aquisição de item em demanda
ma de Biblioteconomia. Conclui dizendo treinado, orientado à prestação de serviço (possivelmente uma cópia duplicada).
que foi o primeiro livro a tratar das razões e adequadamente assalariado. Lancaster insiste que, na operação de
fundamentais para a Biblioteconomia; serviços de informação, o "custo por uso"
atraiu 21 recensões no período de dois A segunda lei – A cada leitor seu livro – deve ser vital na decisão de quais itens
anos e na segunda edição registrou mais determina que as bibliotecas sirvam a to- acrescentar a uma coleção.
nove2. dos os leitores, não importa a classe so-
cial, sexo, idade, ou qualquer outro fator. A implicação direta desse conceito é que
Rajagopolan e Rajan, autores indianos, "propriedade" ou posse de um item biblio-
acrescentam ao aspecto conceituai a A terceira lei – A cada livro seu leitor – es- gráfico está se tornando cada vez menos
visão prática, quando dizem, que as leis, tipula que para cada livro existe um leitor e importante na avaliação dos recursos de
embora simples e ingênuas têm profundi- que os livros devem estar descritos no um serviço de informação; o critério de
dade de significado e conteúdo; nelas é catálogo, expostos de maneira a atrair os avaliação é a "acessibilidade", de acordo
proposta uma completa filosofia para a Bi- leitores e prontamente disponíveis. Esta lei com a pergunta: pode um serviço tornar
blioteconomia e são colocados objetivos leva a práticas, tais como acesso livre, ar- um item acessível ao usuário no tempo
definidos para o serviço bibliotecário4. ranjo coerente na estante, catálogo ade- adequado, de qualquer fonte e em qualquer
Lancaster, por sua vez, agrega a este as- quado e serviço de referência. formato aceitável?
pecto prático a observação de que as leis
são declarações fundamentais para as A quarta lei - Economize o tempo do leitor Na visão de Lancaster, a segunda lei é
meias que os serviços de informação de – enfatiza serviço eficiente, o que implica uma expansão lógica da primeira. Assim,
veriam perseguir6. rápido sistema de empréstimo e guias de dados sobre os livros emprestados ou
fácil entendimento nas estantes. Esta lei usados em uma biblioteca têm limitações
VISÃO EVOLUTIVA E tem como corolário – Economize o tempo óbvias: refletem apenas sucesso e nada
COMPARATIVA DAS CINCO LEIS do bibliotecário –, o que requer o uso de dizem sobre falhas, no sentido de que um
técnicas e tecnologias que permitam ao livro utilizado representa, de alguma ma-
Nas palavras de Palmer, as declarações pessoal atuar de maneira eficiente. neira, um sucesso. Mas o grau de uso é
que se constituem nas cinco leis de Ran- relativamente sem sentido, a menos que
ganathan levam às mais variadas atitudes A quinta lei – Uma biblioteca é um orga- se possa convertê-lo em "nível de satis-
e providências por parte das bibliotecas, a nismo em crescimento – reconhece que o fação". Para isto, é necessário determinar
fim de se modernizarem, ou seja, acesso crescimento que indubitavelmente ocorrerá a probabilidade de que um usuário, na
livre, arranjo classificado nas estantes, deve ser planejado sistematicamente. As- busca de um item particular, ou de mate-
catálogos, orientação interna, publicidade sim, das acomodações físicas às práticas riais sobre um certo assunto, encontre es-
das bibliotecas, disseminação da infor- administrativas, a biblioteca deve ser aber- te item ou materiais disponíveis, no tempo
mação, armazenamento e recuperação por ta, sempre pronta a se expandir3. necessário. Isto resultaria em identificar,
máquina e provisão de material não livro, para tudo que for procurado, quanto resul-
boa administração de bibliotecas e méto- Para Lancaster6, as cinco leis são tão re- tou em sucesso e quanto não foi encontra-
dos para fazer frente ao que ele chama de levantes hoje, como o foram há 60 anos; do (falha). Esta segunda lei então, confor-
"livros demais", através de esquemas de eis como ele as comenta: me Lancaster, vai além da avaliação da
cooperação, aquisição, provisão e arma- coleção para a determinação da disponibi-
zenamento2. A primeira, embora óbvia, nem sempre é lidade, pois não é bastante saber que um
seguida pelas bibliotecas, e o próprio Ran- item procurado por um usuário existe na
Palmer apresenta a interpretação prática ganathan deplorava o fato de que muitos coleção: deve estar disponível quando
das cinco leis, o que é também feito por bibliotecários pareciam mais preocupados conveniente.
Garfield ao traduzi-las como "orientadas com a preservação do que com o uso, as-
para o serviço" (service oriented laws). sim perpetuando a imagem do bibliotecário Lancaster se alonga esclarecendo que es-
Garfield comenta que hoje em dia estas como um curador, mais do que a de al- ta lei pode ser considerada como um rótulo
leis parecem evidentes, mas certamente guém treinado na exploração dos recursos genérico que na realidade significa "A cada
não o eram quando da sua enunciação. bibliográficos. A implicação clara desta lei, leitor o necessário". Acrescenta que este
Particularmente na índia, ele explica, então segundo Lancaster, é que se deve avaliar rótulo pode ser estendido a outros tipos de
uma colônia durante a vida de Rangana- coleções e serviços em termos das ne- necessidades dos usuários, por exemplo,
than, as bibliotecas não eram das mais cessidades dos usuários. Mais ainda, su- qual a probabilidade de o usuário ter
avançadas, não existindo ainda sistema de gere que investigação objetiva, empírica, questões fatuais de referência respondidas
bibliotecas públicas; as bibliotecas eram deve substituir abordagens subjetivas ou de maneira completa e correta.
geralmente ligadas a universidades e insti- puramente impressionistas. (Conhecen-
tuições de pesquisa. Com as leis, na ver- do-se a obra de Lancaster, sabe-se que A terceira lei é, então, um complemento da
dade, Ranganathan proporcionou à índia e ele está se referindo a métodos, como segunda, já que, com relação a ela, o pa-
demais países em desenvolvimento a consulta a fontes e coleções bibliográficas pel da biblioteca é. relativamente passivo,
abertura para a tradição democrática das e a especialistas, quando se refere à ava- mas as bibliotecas precisam ser insti-
bibliotecas, então privilégio dos Estados liação de coleções com abordagens im- tuições dinâmicas. Para isto, uma função
Unidos e da Inglaterra, desde a última par- pressionistas; estes métodos devem ser importante, salienta Lancaster, deve ser a
te do século XIX. utilizados juntamente com os quantitativos de tornar as pessoas cientes das novas

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A modernidade das cinco leis de Ranganathan

publicações de possível interesse para acessibilidade do serviço de informação é No seu texto, Lancaster cita um artigo de
elas. Neste ponto, é introduzido o conceito a maior determinante do seu uso: muita Line, de 1979, que expressa as cinco leis
de "exposição" como paralelo ao de aces- gente pode julgar o serviço como "ina- de forma bastante pessoal, "mais ou me-
sibilidade, partindo do princípio de que o cessível", se requer muito esforço para nos diametricamente oposta como enun-
papel da biblioteca é servir de mediadora uso. É a conhecida "lei de Mooers", formu- ciadas por Ranganathan". Fazendo pleno
entre os recursos informacionais univer- lada há mais de 30 anos e aceita inteira- uso de seu humor britânico, irônico e
sais e a sua comunidade particular. Seu mente até hoje. sarcástico, Line assim formula as leis:
objetivo básico é expor aos usuários estes
recursos. Quanto maior a exposição, me- Nesta quarta lei, Lancaster argumenta que 1. livros são para colecionar;
lhor a atuação da biblioteca; novamente, é um erro dos serviços de informação
enquanto acessibilidade denota uma atitu- considerar o tempo do usuário como se 2. a alguns leitores seus livros;
de passiva, a exposição sugere alguma fosse livre ou sem ônus, porém o tempo
coisa mais dinâmica, como o fornecimento dispendido para usar material da biblioteca 3. a alguns livros seus leitores;
de serviço de disseminação seletiva da in- poderia ser utilizado de outras maneiras,
formação. Da mesma maneira, fazendo talvez até mais produtivas. Segundo ele, o 4. desperdice o tempo do leitor;
analogia com as leis de Ranganathan, a custo de se fazer uso de publicações (ler)
segunda lei denota noção passiva – forne- excede grandemente o de produzi-las; 5. a biblioteca é um mausoléu em cresci-
ce serviços sob demanda – e a terceira, analogamente, o custo de usar a biblioteca mento.
noção mais ativa, torna os recursos infor- excede grandemente o custo da coleção,
macionais conhecidos dos usuários em do pessoal, das instalações. Esta ava-
potencial. Em conseqüência, a quarta lei liação, finaliza Lancaster, é particularmente Lancaster não deixa de concordar com Li-
proporciona os recursos acessíveis da importante em análises de custo-eficácia, ne em alguns aspectos, dizendo que du-
maneira mais conveniente aos usuários, custo-benefício; não incluir o custo do rante muitos anos as bibliotecas operaram
enquanto a primeira implica o conceito da tempo do usuário em avaliações de servi- em um meio ambiente sem avaliação obje-
biblioteca como a interface entre os usuá- ços de informação pode levar a con- tiva onde se supunha que o serviço seria
rios e os recursos informacionais, de clusões bastante errôneas. satisfatório, se reclamações sérias não
acordo com a interpretação de Lancaster. fossem recebidas. Tal suposição era
A quinta lei indica, segundo Lancaster, que freqüentemente errada, mas os bibliotecá-
Portanto, o significado desta terceira lei ê a biblioteca deve estar preparada para se rios, sem medidas objetivas da atuação
que os livros precisam encontrar seus adaptar a novas condições, inclusive profissional, tornaram-se complacentes a
usuários potenciais, da mesma maneira adaptação a desenvolvimentos sociais e respeito dos seus serviços.
que os usuários precisam encontrar os li- tecnológicos. Do ponto de vista da ava-
vros de que necessitam. Pode-se dizer, liação do serviço de informação, isto impli- McCarthy, bibliotecário inglês radicado há
então, que para cada item adquirido (ou, ca examinar quanto tempo a biblioteca leva anos no Brasil, atualmente no Recife, con-
logicamente, para cada item publicado) para adotar inovação, inclusive de novos forme citado por Sebastião Souza, assim
existem leitores em potencial na comuni- formatos de publicação e novas formas de analisou as leis:
dade. Assim, conclui Lancaster, pode-se distribuição da informação. As modernas
avaliar uma biblioteca do ponto de vista do tecnologias da telecomunicação têm in- No princípio expresso pela primeira lei,
sucesso em informar aos usuários sobre fluência direta neste aspecto, renovando a está implícito "o conceito da universalidade
os materiais novos adquiridos; se for pro- importância do acesso, em contraposição da informação e, conseqüentemente, a
duzindo listas bibliográficas, quão dissemi- à posse da informação. Outros aspectos obrigatoriedade de o bibliotecário levar a
nada é esta lista? É generalizada ou dirigi- salientados por Lancaster no que diz res- informação a todas as camadas sociais",
da a grupos especializados de assuntos, peito esta lei de Ranganathan, são con- do pesquisador ao analfabeto. Outro
ou com interesses particulares? É distri- cernentes à habilidade da biblioteca em princípio aqui inserido é que "a biblioteca
buída a audiências que mais se benefi- capitalizar a tecnologia, para melhorar o deve ser o reduto de cultura e liberdade".
ciarão com as bibliografias? No caso de processo da administração; também, a ha- Assim, deve ter horário de funcionamento
disseminação seletiva da informação, ba- bilidade de explorar tecnologia para prover condizente e evitar normas restritivas e
seia-se a avaliação do sucesso nos se- serviços não anteriormente possíveis etc. burocráticas que possam limitar o acesso
guintes critérios: Finalmente, de acordo com a interpretação à informação.
de Lancaster desta quinta lei, a biblioteca
1. Quanto do que foi levado ao conheci- deve mostrar habilidade para se adaptar Na segunda lei, está o princípio de for-
mento do usuário é realmente relevante às necessidades mutáveis da clientela de necer informação correta e fazer uso da
aos seus interesses? usuários e às necessidades potenciais disseminação seletiva da informação,
dos ainda não usuários. Somente assim, a o requisito de o bibliotecário ter cultura
2. Quanto do que é relevante era previa- biblioteca pode ser caracterizada como um geral sólida para saber dar a cada usuário
mente desconhecido pelos usuários? organismo em crescimento, e esta quinta a informação desejada, atender a todos
lei fornece a justificativa para atividades de com imparcialidade, respeitando a pessoa
3. Qual a proporção de itens levados ao avaliação6. humana.
seu conhecimento que o usuário pede
para consultar? A terceira lei faz restrição ao princípio an-
terior, ressaltando que "nem tudo é para
A quarta lei permeia as outras, pois servi- todos". Ressalvados os direitos do usuário
ços de informação devem se preocupar à vida, à liberdade e à informação, o biblio-
não somente em satisfazer as necessida- tecário deve atuar como um filtro entre a
des dos usuários, mas em satisfazê-los da informação e o usuário7. Deve, assim,
maneira mais eficiente. Essa lei, esclarece respeitar os diferentes tipos de usuário, as
Lancaster, tem ligação direta com o con- diferenças de idades e culturas, psicológi-
ceito de acessibilidade, segundo o qual, a cas, educacionais etc.

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A modernidade das cinco leis de Ranganathan

A quarta lei, segundo McCarthy, é típica de serviços e sistemas de informação, em gramas regulares de treinamento de usuá-
um pesquisador como o foi Ranganathan, que haja revocação e precisão na provisão rios para que a informação seja utilizada
pois ninguém gosta de esperar. Quantos de informação, e em que os usuários se- de maneira competente e na ocasião cer-
leitores as bibliotecas já perderam por jam considerados como o foco do plane- ta4.
causa de atitudes burocráticas e incompe- jamento e da operação dos serviços/sis-
tentes de funcionários? É necessário des- temas de informação. Os estudos de A quinta lei prescreve uma abordagem
burocratizar a biblioteca, tornando-a efi- usuários têm atraído grande atenção dos sistêmica para o desenvolvimento de insti-
ciente, eficaz e democrática. cientistas da informação de especialistas tuições de informação, com um mecanis-
em administração de psicólogos e outros e mo auto-adaptador para a natureza dinâ-
A quinta lei, finalmente, confere à Bibliote- trouxeram luz sobre necessidades de in- mica do universo da informação. Estudos
conomia o seu caráter científico, "pois, se formação de usuários, e de quais serviços futurísticos apontam para uma nova socie-
a ciência é a soma de tudo, a acumulação são requeridos para atendê-los. Muitos re- dade da informação, em que instituições
do conhecimento e se a biblioteca, no seu sultados úteis foram extraídos desses es- que manejam informação determinarão o
sentido mais geral, é algo que cresce, pro- tudos e estão sendo aplicados nos proje- padrão de pesquisa e do progresso da
gride, algo dinâmico, então temos aqui a tos de serviços/sistemas de informação. humanidade4. Os autores declaram que a
primeira lei da Biblioteconomia"5. Mas, concluem os autores indianos, ainda dinâmica da informação está totalmente re-
são necessárias investigações numerosas fletida nesta quinta lei. O sempre crescen-
Rajagopalan e Rajan fizeram uma interpre- sobre uso da informação e o comporta- te e mutante universo do conhecimento é o
tação, em 1984, das leis de Ranganathan mento de pessoas que atuam em contex- fator maior no planejamento e desenvolvi-
para a Biblioteconomia, deduzindo, a partir tos variados, pois a maioria dos estudos mento de sistemas de informação. Assim,
delas, o que chamam de "cinco leis da realizados até agora foi no meio ambiente são visualizados nesta lei crescimento e
Ciência da Informação", atualizando, alar- acadêmico e de pesquisa4. desenvolvimento do universo do conheci-
gando e aprofundando os conceitos ante- mento, impacto do volume e variedade das
riores. Mas o ponto de maior importância e A terceira lei conduz à idéia de que infor- fontes de informação, implicações para
relevância desta reinterpretação é que as mação criada/gerada deve ser dirigida pa- os sistemas de recuperação, diversida-
cinco leis são centralizadas no uso e no ra os usuários, ou a recapitulação da frase de crescente das necessidades de infor-
usuário da informação. Observam os auto- familiar: informação certa para o usuário mação e nos tipos de instituições de in-
res que esta reestruturação das leis se certo. Cada elo, na cadeia de transferência formação que surgem. Nos países avan-
enquadra perfeitamente no pensamento da informação, do nível de geração ao de çados, concluem, a indústria da infor-
atual do desenvolvimento de modernos utilização deve ser envolvido; a implicação mação começa a dar mais atenção aos
serviços e sistemas de informação, e para é que marketing e promoção do uso da in- serviços de informação especializada, di-
isto reescreveram as leis como segue: formação são atividades afinadas com me- recionados especificamente aos requisitos
tas e ética profissional4. Segundo os auto- dos usuários4.
1. a informação é para o uso; res, o dinamismo da informação colocará
desafios para que sejam inventados novos
2. a cada usuário sua informação; produtos e serviços. A organização de
CONSIDERAÇÕES
serviços de informação para fazer frente E OBSERVAÇÕES FINAIS
3. cada informação a seu usuário; a requisitos específicos é, na verdade,
o ponto crucial do manejo da informação, Observou-se, no desenvolvimento deste
4. economize o tempo do usuário – e o e é da responsabilidade básica dos espe- trabalho, a afirmação feita no artigo dos au-
seu corolário: economize o tempo dos cialistas da informação constantemente tores indianos de que as cinco leis de Ran-
cientistas da informação; inovar produtos e serviços, concluem os ganathan "têm modernidade e são bastan-
autores4. te flexíveis para envolver diretrizes de no-
5. um sistema de informação é um orga- vos padrões de crescimento e desenvol-
nismo em crescimento. A quarta lei traz o imperativo de desenvol- vimento da informação"4. Foi, portanto,
ver mecanismos para que o fluxo da infor- exatamente o que se pôde registrar nos
Os autores analisam detalhadamente cada mação assegure a maior rapidez e eficá- demais textos da revisão realizada.
uma das leis; assim a primeira lei compre- cia. Neste contexto, a moderna tecnologia
ende toda uma série de processos de da informação, que ajuda a eliminar a de- Verifica-se, a partir do artigo de Palmer, de
transferência de informação, partindo do mora e aumenta a eficácia, assume im- 1969, que a interpretação feita por ele das
reconhecimento de que informação é um portância4. Esta lei insiste na rapidez, cinco leis é ainda bastante modesta e limi-
recurso básico e que transforma outros acuidade, atualidade e qualidade no forne- tada, mas corresponde à situação das bi-
recursos naturais em produtos úteis. Sen- cimento da informação. Informação não bliotecas como eram em geral, há mais de
do um recurso de tal importância, deve ser fornecida a tempo perde o valor; serviços 20 anos. Embora afirmando que as "cinco
acoplado, explorado e utilizado a fim de dar em linha, interativos, ligados através de leis levam às mais variadas atitudes e pro-
origem a benefícios plenos. O papel da in- uma variedade de redes de comunicação e vidências por parte das bibliotecas, a fim
formação no desenvolvimento nacional é estações de distribuição de documentos de se modernizarem", propõe como medi-
percebido nesta lei4. Envolve toda uma sé- atendem os usuários instantaneamente, das mais avançadas: disseminação da in-
rie de atividade? dos padrões físicos dos onde quer que eles estejam. Em todos es- formação, utilização de máquina para ar-
materiais às mais complexas e sofistica- tes desenvolvimentos, o esforço tem sido mazenamento e recuperação e esquemas
das operações e serviços, cobrindo a apli- assegurar rápida transmissão de infor- cooperativos, que representavam, sem
cação de comunicação por satélites e re- mação. Segundo os autores, esta lei tem dúvida, os avanços possíveis naquele
des de computador4. implicação visivelmente direta com a quali- período.
dade da mão-de-obra para o serviço de in-
A segunda lei sugere que as necessidades formação, que deve ser capacitada para li- Já o texto de Garfield, publicado em 1985
de informação dos usuários devem ser sa- dar com situações desafiadoras suscita- na Herald of Library Science, mas ori-
tisfeitas em seus requisitos específicos. das pelo avanço da tecnologia. Também ginalmente publicado no Current Contents,
Para isso, é necessária a organização de importante, finalizam, é desenvolver pro- n- 6, de 1984, como resultado de via-

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A modernidade das cinco leis de Ranganathan

gem do presidente do ISI pela índia, expli- E interessante observar que, enquanto para saber dar a cada usuário a infor-
ca o porquê das recomendações aparen- Lancaster adotou as cinco leis como crité- mação desejada". Foram os únicos a
temente obsoletas, pois que as cinco leis rios básicos para a avaliação de serviços apontar o requisito de treinamento de
foram dirigidas à situação das bibliotecas de informação, desde o seu texto clássico usuários, tendência modernamente aceita
naquele país e, por extensão, aos demais de 1977: Measurement and evaluation of como necessária para o uso competente
países em desenvolvimento. Assim sendo, library services, e seguiu nesta linha em da informação disponível.
Garfield não aprofundou também a sua in- publicações mais recentes6, 8, os indianos
terpretação das cinco leis embora a tenha as utilizaram como arcabouço de estudos Resta comentar a versão de Line às cinco
6
feito 15 anos após Palmer. Garfield regis- conceituais sobre uso e usuários da infor- leis como citadas por Lancaster e que diz
tra somente as recomendações diferen- mação. Esses estudos, por sua vez, e de respeito aos resultados de um estudo de
ciadas das de Palmer, quais sejam, a que acordo com Rajagopalan e Rajan, servem uso realizado na Biblioteca da Universida-
salienta como sendo importante um corpo como elemento essencial para o processo de de Pittsburgh, em 1979, o qual revelou
de pessoal orientado à prestação de servi- de planejamento de sistemas e serviços um alto nível de falhas. É um estudo con-
ço, bem treinado, e a existência de um de informação de qualquer nível. Já o pro- trovertido, cujos resultados foram poste-
serviço de referência. É o primeiro, por sua fessor Mangla interpretou as cinco leis riormente rebatidos pelos órgãos res-
vez, a se referir a um corolário para a como uma contribuição ao ensino e pes- ponsáveis da universidade, contudo resul-
quarta lei – Economize o tempo do corpo quisa na área da Biblioteconomia e Ciência tados semelhantes apareceram e conti-
do pessoal – e, para isto, recomenda a da Informação. nuam surgindo na literatura. O que se sabe
adoção de "técnicas e tecnologias que hoje em dia é que, ha verdade, existe uma
permitam atuação eficiente": uma interpre- Lancaster, então, inspirou-se nas leis para enorme subutilização das bibliotecas em
tação mais atualizada. a colocação dos conceitos modernos de geral, particularmente nos países em de-
disponibilidade, acessibilidade e exposição senvolvimento.
A interpretação da quinta lei, conforme dos recursos informacionais, entrelaçan-
Garfield, ao reconhecer que "o crescimen- do-os com as quatro primeiras leis, de ma- Embora irônicas, como ditadas por Line,
to inevitável deve ser planejado sistemati- neira adequada e brilhante. Já a interpre- as leis têm muito da realidade atual, princi-
camente", abre margem à discussão, já tação de Rajagopalan e Rajan tem o as- palmente nos países em desenvolvimento.
que modernamente existem os princípios pecto peculiar e oposto à de Lancaster, Mas há que se dizer que, mesmo nos paí-
de crescimento zero, e de coleções está- que manteve a enunciação original como ses desenvolvidos, como revelam investi-
veis, podendo chocar-se, de certa manei- proposta por Ranganathan, enquanto os gações sérias e avaliações rotineiras de
ra, com esta interpretação. Contudo, como autores indianos, além de terem reescrito serviços e coleções, as falhas ainda exis-
não houve maior explicação por parte de as cinco leis, fizeram adaptação à linha tem, contradizendo as cinco leis de Ran-
Garfield, pode-se também supor que "este moderna da Ciência da Informação, dizen- ganathan: desde talvez a mais antiga que
crescimento planejado sistematicamente" do que "estas cinco leis se adequam admi- se pôde registrar e lamentada ainda pelo
se refira a estes preceitos modernos de ravelmente ao pensamento atual do de- próprio Ranganathan: a dos bibliotecários
administração de coleções. senvolvimento de modernos sistemas e que agem mais como curadores do que
serviços de informação"4. Com esta abor- "como alguém treinado na exploração dos
A interpretação de McCarthy é uma visão dagem também concorda Mangla, quando recursos bibliográficos". Investigações
sintética, bem colocada das cinco leis, diz que "uma moldura mais generalizada atuais mostram resultados de avaliação de
apresentando para cada uma delas reco- da Ciência da Informação pode ser facil- serviços de referência que apontam para
mendações adequadas. mente derivada das cinco leis com a mu- uma "norma da metade certa" (half rignt
dança de dois parâmetros básicos: "livros" rule), isto é, 50% de probabilidade de os
Na verdade, somente quando nos defron- por informação e "leitor" por usuário"1. usuários obterem respostas completas e
tamos com os textos de Lancaster e de corretas às questões propostas. É baixa a
Rajagopalan e Rajan é que encontramos O artigo dos autores indianos também probabilidade, também apontada em inú-
interpretação atualizada e de acordo com apoia a abordagem filosófica das cinco leis meras pesquisas, de o usuário conseguir
os padrões modernos da organização da como pretendida por Souza na sua disser- da biblioteca a obra que deseja, no mo-
informação. Assim, os autores indianos tação de mestrado e expressa no artigo ci- mento em que dela necessita.
prescrevem uma abordagem sistêmica pa- tado, discutindo os "fundamentos filosófi-
ra esta quinta lei, prevendo o "sempre cos da Biblioteconomia", conforme foi de- Se tais resultados reportam-se ao uso de
crescente e mutante universo do conheci- monstrado na parte inicial deste trabalho. bibliotecas em países desenvolvidos, o
mento", para o que é necessário o estabe- Assim também Garfield, quando diz que que se dizer dos resultados de estudos
lecimento de "serviços de informação es- "estas leis fornecem ps princípios gerais que fossem feitos neste país? Não se tem
pecializada para atender requisitos especí- dos quais toda a prática bibliotecária pode a pretensão de responder aqui a esta
ficos dos usuários"; introduzem, assim, ser deduzida", e Palmer, quando assinalou questão, mas é sabida a precariedade na
uma diretriz corrente para interpretar "or- que "foi o primeiro livro a tratar das razões qual ainda funciona a maioria de biblio-
ganismo em crescimento" como enunciado fundamentais para a Biblioteconomia". tecas brasileiras – semelhante talvez em
por Ranganathan.
muito àquelas bibliotecas indianas às quais
Finalmente, os autores indianos salientam Ranganathan tencionou dirigir as suas cin-
Quanto a Lancaster, paralelamente com os a importância da qualidade dos recursos co leis. É o alto nível de subutilização des-
indianos, apresentou também uma inter- humanos necessários para os serviços de tas bibliotecas em geral, no país, devido à
pretação ampla e atual desta quinta lei, li- informação "com capacidade para lidar sua precariedade? Ou a precariedade é
gando-a a "necessidades mutáveis de com situações desafiadoras trazidas pelo devida à falta de demanda, que não as le-
clientela de usuários" cujo estudo e con- avanço da tecnologia". De certa maneira, vam a uma melhor atuação? Novamente,
seqüente adaptação aos resultados obti- atualizaram a visão de Garfield, que falou não vai se tentar responder aqui a estas
dos caracteriza a biblioteca-sistema de in- de "corpo de pessoal bem treinado, orien- questões fundamentais, que exigiriam
formação como o organismo em cresci- tado à prestação de serviço". Pode-se anos de pesquisas.
mento preconizado por Ranganathan. mencionar também o dito por McCarthy
quanto ao bibliotecário "ter cultura sólida

190 Ci. Inf., Brasília, 21(3): 186-191, set./dez. 1992.


A modernidade das cinco leis de Ranganathan

O que importa é que muita desta precarie- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5. SOUZA, S. de. Fundamentos filosóficos da
dade e subutilização são devidas a fatores Biblioteconomia Revista de Biblioteconomia
que envolvem o próprio comportamento e 1. MANGLA, P.B., Research in library and de Brasília; v.9, n.2, p. 189-196, jul./dez.
information science and the contribution of 1986.
atuação dos bibliotecários, além, é lógico, Ranganathan. Education for information,
dos sempre mencionados problemas/bar- n.2, p.267-82, 1984. 6. LANCASTER, F,W. If you want to evaluate your
reiras de ordem sócio-político-econômico- library..., London, Library Association
cultural... Como educadores, formadores 2. PALMER, B.I., Ranganathan, the man and his (c1988). p.8-12.
works: view through a bibliography. Library
de bibliotecários – ou como querem os Science, v.3, n.3, p.273-288, Sept 1969. 7. ORTEGA y GASSET. Obras completas. Ma-
nossos colegas internacionais – profissio- drid: Espasa – Calpe, 1943, v.2,
nais da informação –, cabe-nos alertar pa- 3. GARFIELD, E., Father of Library Science in p.1.297-1.322.
ra a inadiável necessidade de mudança de India: a tribute to S.R. Ranganathan. Herald
postura e atuação perante a profissão e of Library Science, v.24, n.3, p.151-64, July 8. LANCASTER, F.W., MEHROTRA, R. The five
1985.p.153-154. laws of library science as a guide to the
a sociedade que os bibliotecários têm de evaluation of libraiy services. In: Perspective
realizar. 4. RAJAGOPALAN. J.S., RAJAN, T.N. Use of in- in Library and Information Sciences, v.1,
formation in science and research with em- p.26-39, Lucknow, Print House, 1982.
E nada mais adequado, como base para phasis on national development some In-
dian experiences. International Forum on In- Artigo aceito para publicação em 20 de novembro
esta mudança, ainda e após 60 anos, a
formation and Documentation, v.9, n.3, de 1992.
filosofia e a visão prática preconizadas p.3-9,1984.
nas cinco leis de Ranganathan. Moderni-
zadas, como indicado pela revisão da lite-
ratura, elas demonstram como atingir uma
atuação profissional eficiente e oferecem
os meios para se fazer frente às novas
situações criadas petas mudanças sociais
e tecnológicas que a profissão terá de
enfrentar, mais cedo ou mais tarde, nes-
te país.

Nice Menezes de Figueiredo

Bibliotecária, doutora em Biblioteconomia pela


State University, Flórida, Estados Unidos, pesqui-
sadora titular do CNPq/IBICT, professora do Curso
de Mestrado em Ciência da Informação da Escola
de Comunicação da Universidade Federal do Rio
de Janeira.

The contemporaneousness of
Ranganathan's five laws

Abstract
Conheça os
Development of the philosophical and practical
concepts of Ranganathan's "five laws" is
described, in a comparative study ot these laws as
produtos do
interpreted by international authors in the literature.
It is praved the contemporaneousness of these
"five laws" that can still be used for the
establishment of a philosophy for library science as
a basis for an efficiet performance of librarians
and as the essential element for the processes of
planning and evaluation of services and
information systems at any level. Endereço:
Setor de Comercialização do IBICT
Key words SAS, Quadra 5, Lote 6, Bloco H
70070-000 Brasília, DF
Ranganathan; Five laws of Library Tel. (061) 217-6161 – Telex: 2481 CICT BR
Science/Ranganathan. Fax: 226-2677

Ci. Inf., Brasília, 21(3): 186-191, set/dez. 1992. 191

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