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Periodização da Literatura
Literatura Portuguesa
A literatura portuguesa, que abrange já oito séculos de produção, pode ser dividida em três longos
espaços de tempo, acompanhando as grandes transformações vividas pela Europa: Era Medieval, Era
Clássica, Era Romântica ou Moderna. Essas três grandes eras apresentam-se subdivididas em fases
menores, chamadas escolas literárias ou estilos de época.
Estilos de
Produção literária Panorama mundial Datação
época
Era Medieval
* Feudalismo
Cantigas de amor, de amigo, de
Trovadorismo * Teocentrismo 1189 (?)
maldizer, de escárnio
* Primeiras universidades
* Crise do feudalismo
* Historiografia de Fernão Lopes
Humanismo * Comércio 1434
* Teatro de Gil Vicente
* Antropocentrismo
Era Clássica
Quinhentismo * Renascimento
* Sá de Miranda
ou * Capitalismo mercantil 1527
* Camões
Classicismo * Reforma Protestante
* Almeida Garret
* Liberalismo burguês
Romantismo * Alexandre Herculano 1825
* Guerras napoleônicas
* Camilo Castelo Branco
* Socialismo
* Questão Coimbrã
* Positivismo
Realismo * Antero de Quental 1865
* Evolucionismo
* Eça de Queiroz
* 2ª Revolução Industrial
* Decadentismo
* Pré-Guerra
* Eugênio de Castro
Simbolismo * Freud e a psicanálise 1890
* Antônio Nobre
* Vanguardas artísticas
* Camilo Pessanha
* 1ª Guerra Mundial
* Revista Orpheu * Revolução Russa
Modernismo * Fernando Pessoa * Nazi-fascismo 1915
* Mário de Sá-Carneiro * 2ª Guerra Mundial
* Guerra Fria
Literatura Brasileira
A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução
política e econômica do país, a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que
corresponde à emancipação política do Brasil. Vejamos:
* 2º Império
Romantismo * Burguesia no poder * Guerra do Paraguai 1836
* Lutas abolicionistas
* Socialismo * Abolição
* Positivismo * República
Realismo/
* Evolucionismo * Romance realista 1881
Naturalismo
* 2ª Revolução Industrial * Romance naturalista
* Lutas antiburguesas * Poesia parnasiana
* Pré-Guerra
* Freud e a psicanálise * Governo de Floriano
Simbolismo/
* Vanguardas artísticas * Revolta da Armada 1893
Pré-Modernismo
* 1ª Guerra Mundial * Revolta de Canudos
* Revolução Russa
* Nazismo
* Ditadura de Vargas
* Fascismo
Modernismo * Semana de Arte Moderna 1922
* 2ª Guerra Mundial
* As gerações modernistas
* Guerra Fria
TROVADORISMO
Embora Portugal tivesse conhecido, na primeira época medieval, manifestações literárias na prosa e no teatro,
foi a poesia que alcançou grande popularidade, tanto entre os nobres das cortes quanto entre as pessoas comuns do
povo.
Uma das razões dessa predominância foi o fato de a escrita ser pouco difundida na época, o que favorecia a
difusão da poesia, que era memorizada e transmitida oralmente. Os poemas eram sempre cantados e
acompanhados de instrumentos musicais e de dança e, por esse motivo, foram denominados cantigas. Os autores
dessas cantigas eram trovadores (pessoas que faziam trovas, rimas), originando o nome Trovadorismo. Esses
poetas geralmente pertenciam à nobreza ou ao clero e, além da letra, criavam também a música das composições
que executavam para o seleto público das cortes. Entre as camadas populares, quem cantava e executava as
canções, mas não as criava, eram os jograis.
As cantigas chegaram até nós por meio dos cancioneiros, coletâncas (reuniões) de poemas de vários tipos,
produzidos por muitos autores. Os cancioneiros mais importantes são o Cancioneiro da Ajuda, compilado
provavelmente no século XIII; o Cancioneiro da Vaticana, provavelmente compilado no século XV; e o
Cancioneiro da Biblioteca Nacional ou Cancioneiro Colocci-Brancutti, compilado possivelmente no século
XIV.
Tradicionalmente se tem apontado a Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga da Guarvaia, de Paio Soares de
Taveirós, de 1189 ou 1198, como a cantiga mais antiga de que se tem registro.
As cantigas foram cultivadas tanto no gênero lírico quanto no satírico. Dependendo de algumas características
que apresentam - como o eu lírico, o assunto, a estrutura, a linguagem, etc. -, elas podem ser organizadas em
quatro tipos. No gênero lírico: cantigas de amigo e cantigas de amor; no gênero satírico: cantigas de escárnio e
cantigas de maldizer.
CANTIGAS DO TROVADORISMO
LÍRICAS SATÍRICAS
DE AMOR DE AMIGO DE ESCÁRNIO DE MALDIZER
amor do trovador pela mulher O trovador coloca-se no lugar da referências indiretas; sátira direta;
amada; mulher que sofre pelo amado que ironia; maledicência;
mulher idealizada; partiu; ambigüidade uso de palavras
contemplação platônica; mulher concreta-real; (vocabulário de obscenas ou de
uso de “meu senhor”; conversa com a natureza; duplo sentido); conteúdo erótico;
sofrimento por amor; popular - mulher camponesa; não se revela o nome citação nominal da
vassalagem amorosa; uso do termo “amigo” = da pessoa satirizada. pessoa satirizada.
amor cortês; namorado, amante, marido;
estribrilho ou refrão. paralelismo e refrão.
Canção da Ribeirinha
Segundo consta, esta cantiga teria sido inspirada em dona Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, mulher
muito cobiçada e que se tornou amante de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. A seguir, transcrevemos a
cantiga da forma como foi escrita. Veja, à direita, uma interpretação verso a verso.
Leia, como exemplo, outra cantiga, escrita por D. Dinis, rei de Portugal que viveu entre 1261 e 1325.
1. Na cantiga, quem fala (o eu lírico) é uma moça que se dirige a uma irmã, fazendo-lhe um convite.
2. Na época, era comum as pessoas irem à beira do lago, nas tardes quentes, para refrescar-se. Nessa cantiga,
entretanto, é possível depreender outro interesse por parte do eu lírico. Interprete: qual é esse interesse?
3. Ao referir-se ao namorado, o eu lírico destaca as qualidades da pessoa amada, especialmente sua bondade.
Explique: em que consiste essa bondade?
4. As cantigas de amigo, em grande parte, apresentam uma estrutura paralelística, isto é, uma construção
formal baseada na repetição parcial ou total de versos. Observe que a 1ª e a 2ª estrofes são quase idênticas,
com a diferença da troca de dormir (1º verso da 1ª estrofe) por folgar (1º verso da 2ª estrofe). Essas
repetições, que se chamam paralelismo de par de estrofes, também ocorrem entre os pares seguintes de
estrofes? Justifique com partes do próprio texto.
5. A repetição constante de versos confere maior ritmo e musicalidade ao texto. Por outro lado, confere
também:
Cantigas de escárnio
A cantiga de escárnio apresenta críticas sutis e bem-humoradas acerca de uma pessoa que é
facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade.
Há também cantigas de escárnio em que o poeta satiriza a obra de outro trovador. Vejamos um
exemplo de cantiga de escárnio.
Cantigas de maldizer
Faz-se na cantiga de maldizer, uma crítica pesada, com intenção de ofender a pessoa ridicularizada.
Há o uso de palavras grosseiras (palavrões, inclusive) e cita-se o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se
faz a crítica. Leia este exemplo:
Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado, Porque fiz lealdade; enganou-m'i o pecado.
Soltade-m’, ai, senhor, e dei-o a seu don', e ei medo da morte.
e jurarei, mandado, que seja traedor. Soltade-m’, ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.
Se traiçon fezesse, nunca vo-la diria;
mais fiz lealdade, vel por Sancta Maria, Vocabulário:
Soltade-m’, ai, senhor, arcebispo: arcebispo de Braga.
e jurarei, mandado, que seja traedor. porque fiz lealdade: porque me mantive fiel ao juramento (fala o
alcaide do castelo).
enganou-m'i o pecado: o demônio tentou-me.
Per mia malaventura tive un castelo en Souza vel: ai!
e dei-o a seu don’, e tenho que fiz gran cousa: soltade-m': libertai-me da excomunhão.
Soltade-m’, ai, senhor, mandado: obediente.
e jurarei, mandado, que seja traedor. Sousa: local do qual derivou o nome de uma família importante.
don: D. Sancho II.
tenho que fiz gran cousa: creio que cometi pecado.
Por meus negros pecados, tive un castelo forte
Nessa cantiga, o eu lírico é um homem que pergunta à mulher amada por que ela não corresponde a
seus sentimentos. Teria ele infringido alguma regra do jogo amoroso? O texto assume, assim, uma nítida
intenção argumentativa, já que o desejo do eu lírico é convencer a mulher amada a aceitar seu amor.
Cantiga, de D. Dinis
Un tal ome* sei eu, ai ben-talhada*, eu, mia dona.
que por vós ten a sa* morte chegada;
vedes quen é seed'en nembrada*; Vocabulário:
eu, mia dona. amo: homem.
ben-talhado: bem-feita, formosa.
Un tal ome sei eu que preto* sente sa: sua.
de si morte chegada certamente; seed'en nembrado: não vos esqueçais; lembrai-vos.
preto: perto.
vedes quen é e venha-vos em mente*: venho-vos em mente: tende em mente; lembrai-vos
eu, mia dona. aquest'oíde: ouvi isto; a expressão tem a função de chamar a
atenção da mulher.
Un tal ome sei eu: aquest'oíde*: morr': morre.
que por vós morr'* e vo-lo en partide*; vo-lo en partide: vós o afustais de vós, no sentido de “deixá-lo
vedes quen é e non xe vos obride*: partir”, “afastar-se”.
nom xe vos obride: não vos esqueçais dele.
* Leia:
* Amor, desamor e ciúme; freqüente inspiração na vida popular, bem como a exploração do eu feminino
indicam cantigas de:
( ) amigo
( ) amor e amigo
( ) amor
( ) escárnio
( ) maldizer
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Explicações
pino: pinheiro
novas: notícias
e u é?: e onde ele está?
do que pôs comigo: sobre aquilo que combinou comigo (isto é, o encontro sob os pinheiros)
preguntades: perguntais
polo: pelo
que é san’e vivo: que está são (com saúde e vivo)
e seera vosc’ant’o prazo saído (passado): e estará convosco antes de terminar o prazo combinado
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De vós, senhor, quer’eu dizer verdade Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei: e não já sobre o amor ue tenho por vós:
senhor, bem [moor] é vossa torpicidade senhora, bem maior é vossa estupidez
de quantas outras eno mundo sei; do que a de quantas outras conheço no mundo
assi de fea come de maldade tanto na feiúra quanto na maldade
nom vos vence oje senom filha dum rei não vos vence hoje senão a filha de um rei
[Eu] nom vos amo nem me perderei, Eu não vos amo nem me perderei
u vos nom vir, por vós de soidade[...] de saudade por vós, quando não vos vir.