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Uma reflexão sobre os instrumentos de Monitoria da implementação da Agenda 2025

Chambalson Jorge Chambal1


Eduardo Silvestre Mangueze2

1) Contextualização
Existem várias definições para uma política pública, porém de forma consensual os autores
desaguam no conceito segundo o qual a mesma é um conjunto de programas, projetos ou acções
elaboradas para resolver um problema de interesse da sociedade. O sentido principal da política
pública é, portanto, trazer uma solução, para um problema ou conflito estabelecido no espaço
público.
As políticas públicas podem ser definidas, portanto, como as traduções técnico-racionais das
escolhas políticas de uma sociedade, as quais são operacionalizadas por meio do Estado. Dessa
forma, podemos dizer que qualquer iniciativa promovida no âmbito do Estado se configura
como uma política pública (Reis, 1989).
Políticas públicas podem também ser definidas como o resultado prático da actividade política,
o qual compreende uma série de decisões e acções relativas a solução de problemas e conflitos
identificados na esfera política (Rua, 2000).
São vários os teóricos e estudiosos que discutem sobre o ciclo de vida de uma política pública.
Para a nossa análise iremo usar o ciclo desenvolvido pela OIT (2012) que considera que o ciclo
de vida de uma política pública tem 5 fases a saber:
1) Formulação e desenho
2) Planeamento
3) Implementação
4) Monitoria
5) Avaliação
Durante a formulação, a política pública é concebida de forma conceitual, como um modelo.
Posteriormente, a partir de seu desenho, são estrategicamente definidas suas metas, objetivos,
resultados actividades, o público beneficiário, etc. Neste momento é importante também pensar
conceitualmente em como a monitoria e a avaliação serão levadas a cabo (OIT, 2012).
Segundo a OIT (2012), após a definição conceitual e o desenho estratégico, começa o processo
de planificação da Política, onde serão definidas as características operacionais da política
pública. Em outras palavras, a formulação e o desenho produzidos anteriormente começam a
ser traduzidos em actividades operacionais, incluindo a operacionalização da monitoria e
avaliação.

1
Licenciado em Direito (UEM), Mestre em População e Desenvolvimento (UEM) e mestrando em Pesquisa
aplicada á saúde (University of York -UK), correio electrónico: chachambal@gmail.com
2
Licenciado em Sociologia (UEM), mestrando em População e Desenvolvimento (UEM), correio electrónico
dudumangueze@gmail.com; +258 82 845 2068
A implementação é o processo pelo qual a política pública efectivamente começa a ser
executada. Este passo é orientado tanto pela formulação e desenho, como também pela
planificação da monitoria e avaliação (OIT, 2012).
Durante a implementação começa a monitoria da política pública de forma a ver que possíveis
problemas sejam identificados e sanados no âmbito da implementação e posteriormente possam
ser recolhidos dados e insumos para a sua avaliação. A monitoria, no final, serve para a
prestação de contas, para a accountability3 e também para verificar e controlar em que moldes
a mesma política pública se desvia ou não do âmbito da sua implementação. A monitoria visa
garantir que as actividades sejam mais eficientes, eficazes e efectivas (OIT, 2012). Pelo que, é
importante que os instrumentos/mecanismos de monitoria sejam concebidas de tal forma que
consigam captar o desempenho e os resultados obtidos na implementação da política.
Desta forma a monitoria busca responder às seguintes questões:

• A politica está sendo implementado conforme sua formulação e desenho?


• A política está atingir os objectivos e metas estabelecidas (está bem focado)?
• Qual é o progresso da política?
A última fase do ciclo da política pública é a avaliação, onde perguntas sobre a efectividade,
eficácia e eficiência das mesmas são respondidas e também são identificadas lições aprendidas
e recomendações para a produção de políticas públicas cada vez mais efectivas, eficazes e
eficientes (OIT, 2012).
Fazer a avaliação e monitoria de uma Política Pública é crucial para a melhoria do seu
desempenho e para verificar se de facto responde aos objectivos e/ou propósitos a qual esta foi
criada ou formulada. A monitoria informará quer qualitativa e/ou quantitativamente o
desempenho actual da política e indicará onde pode necessitar de melhorias e as prioridades a
serem tomadas. Dai que nos propomos a desenvolver esta pesquisa para verificar o nível de
eficácia dos instrumentos de monitoria e avaliação estabelecidos para captar os indicadores de
resultados e mudanças esperadas no âmbito da implementação da Agenda 2025. Pela
abordagem macro patente na Agenda, para um maior aprofundamento dos instrumentos de
monitoria, a pesquisa vai apresentar a sua análise de forma abrangente e finalizar-se-á com uma
abordagem mais sectorial a uma das áreas cobertas pela Agenda 2025.
2) Objectivos
2.1) Objectivo geral

• Analisar em que medida os mecanismos de monitoria da Agenda 2025 se mostram


aptas a capturar e informar o progresso e desempenho dos indicadores de resultados
e mudanças.
2.2.) Objectivos específicos

• Identificar os principais indicadores de resultados e mudanças da Agenda 2025;

3
Responsabilização
• Identificar os principais intervenientes e mecanismos de monitoria do progresso e
desempenho dos actividades, resultados e mudanças esperadas no âmbito da
implementação da Agenda 2025;
• Compreender até que ponto as políticas e estratégias nacionais se alinham,
informam e/ou fazem cobertura dos objectivos da Agenda 2025.

3) Sobre a Agenda 2025


A Agenda 2025 tem como principal objectivo o estabelecimento de novos caminhos para
impulsionar o desenvolvimento de Moçambique. A Agenda 2025 deve potenciar esta tendência
global de desenvolvimento humano nas estratégias de desenvolvimento
A Agenda 2025 não se limita apenas ao facto de ser um guião nacional na abordagem da
problemática de desenvolvimento, constituindo-se como uma iniciativa pioneira em que um
grupo de cidadãos, representando os mais variados sectores da sociedade, elaboraram, de forma
independente, apartidária e profissional, um documento de tamanho significado que se pretende
se torne uma referência para governados, governantes, profissionais, diversas organizações da
sociedade civil e, em suma, de toda a Nação e dos parceiros de cooperação (Agenda 2025, p
vii).
Tendo como base as definições de Dye,1984; Reis, 1989; Peters, 1996; Rua, 2000 política
pública, é a soma das actividades dos governos, que agem directamente ou através de
delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos; de uma forma ainda mais abrangente, pode-
se considerar as políticas públicas como o que o governo escolhe fazer ou não fazer. Neste
âmbito, se tomou a Agenda 2025 como uma política pública, pois ela ilustra um conjunto de
acções que o governo se predispõe a alcançar durante um determinado período em prol das
necessidades colectivas do seu povo.
A Agenda 2025 é um exercício estratégico de reflexão sobre o futuro de Moçambique, tendo
como objectivos:

• Criar, através de um processo participativo, uma Visão Nacional de longo prazo


• Preparar, através de um processo participativo, uma Estratégia Nacional de
Desenvolvimento que defina as políticas e os programas necessários para dar
respostas aos objectivos identificados na visão nacional de desenvolvimento.
Os resultados esperados são

• Aumentar a capacidade do governo, das instituições e da sociedade civil de definir


e implementar políticas, programas e projectos económicos nacionais
• Garantir a consistência entre as políticas económicas e sociais de curto, médio e
longo prazos
• Aumentar a capacidade do governo para assumir um papel determinante na
coordenação e gestão da cooperação para o desenvolvimento
É sobre este conjunto de objectivos e resultados esperados acima apresentados que a nossa
pesquisa irá incidir de forma a analisar se os instrumentos de monitoria conseguem captar os
resultados alcançados e informar de forma sistemática o estágio de realização até ao ano de
2025 – definidos como meta para avaliação do alcance dos objectivos pré-definidos na agenda.
4) Metodologia
O estudo será de natureza qualititativa. As técnicas que serão usadas para a recolha de dados
residem na análise exploratória ou bibliográficas de documentos relevantes sobre Agenda
2025. Igualamente serão realizadas entrevistas-chaves de uma amostra constituída por cinco
(5) informantesque participaram da elaboração da Agenda 2025.

5) Referências bibliográficas
AGENDA 2025: visão e Estratégias da Nação. Maputo. 2003
CFEMEA. Gênero e Raça no Ciclo Orçamentário e Controle Social das Políticas Públicas :
Indicadores de Gênero e Raça no PPA 2008-2011. CAVENAGHI, S (org.). Brasilia: CFEMEA,
s/d.
DYE, T.R. Policy Analysis: what governments do, why they do it, and what difference it
makes. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 1984.
Fischer, Frank; J. Miller, Gerald; S. Sidney, Mara (2007). Handbook of Public Policy Analysis.
CRC Press Taylor & Francis Group. ISBN 978-1-57444-561-9
Manual de Capacitação e Informação sobre Gênero, Raça, Pobreza e Emprego: Módulo 11 :
monitoramento e avaliação de políticas públicas / Organização Internacional do Trabalho. -
Brasília: OIT, 2012. ISBN 9789228265194; 9789228265200 (web pdf)
PETERS, B. G. American Public Policy. Chatham, EUA: Chatham House, 1996.
REIS, E, P.. Políticas Públicas na transição democrática. In: Revista Brasileira de Ciências
Sociais nº 9, vol. 3, fevereiro de 1989.

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