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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

CELSO SUCKOW DA FONSECA – CEFET CAMPUS


PETRÓPOLIS/RJ
Docente: Nara Maria Carlos de Santana

Disciplina: Cultura Brasileira

Discentes: Aline Alves, Daniele Rocha, Gabriela Vereza, Gabriele Imbelloni, Luiz
Cláudio Abreu, Marina Rocha e Thaynara Gall

Resumo: CHAUÍ, Marilena. O mito fundador: Brasil – Mito fundador e sociedade


autoritária, 2000.

“O mito fundador”, objeto desse resumo, é um importante capítulo do livro


“Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária”, escrito pela filósofa brasileira Marilena
Chauí que teve sua primeira edição lançada no ano de 2000, ano em que se
comemoravam os 500 anos de descobrimento do Brasil. Além desse, o livro possuí
outros quatro capítulos, que passam por questões profundas a respeito de nossa
formação sociopolítica enquanto brasileiros.

O capítulo é iniciado com uma reflexão sobre um engano na fala do filósofo


francês Merleau-Ponty, que compara o aparecimento de novas ideias filosóficas e a
descoberta da América e com essa comparação é levado a dizer que uma nova ideia
não pode ser descoberta porque não estava esperando que alguém a achasse como
a América estava à espera de colombo, uma nova ideia é inventada ou construída.
Como a autora aponta, a América não estava à espera de Colombo, sem dúvida havia
uma terra desconhecida, mas a América, ou mesmo o Brasil, são criações dos
conquistadores europeus, construções culturais e são essas construções que ela
designa como mito fundador.

Logo após essa introdução do capítulo, a autora apresenta três elementos que
surgiram para a construção de um mito fundador no período de colonização da
América e do Brasil e apareceram na forma de três operações divinas para
responderem pelo Brasil no mito fundador, sendo eles: a obra de Deus, isto é a
Natureza, a palavra de Deus, isto é, a história e a vontade de Deus, isto é, o estado,
formando um conceito de poder que o filósofo Baruch Espinosa designou como
teológico-político. Esses três pilares são utilizados pela autora para dividir o capítulo
em três partes, “A sagração da natureza”, “A sagração da história” e a “A sagração do
governante”.

Em “A sagração da natureza”, Chauí explica sobre como os escritos da época


das grandes navegações e viagens de descoberta, descrevem as terras encontradas
como um paraíso, uma terra afortunada, um lugar abençoado, criando mitos não só a
respeito do local encontrado, como também das pessoas que já o habitavam.

Esses escritos, presentes em correspondência e diário de bordo dos


navegantes, trazem a palavra Oriente como um símbolo que significa impérios com
os quais se pretende uma relação diplomática e uma possível dominação militar e
também é o símbolo do Jardim do Éden e um símbolo para terras descritas na bíblia
como paraíso terrestre. Nesse ponto a autora apresenta as características principais
de uma terra perfeita descrita nos diários de bordo das navegações de descobrimento
do Brasil e o como essas características ajudaram a construir as figuras míticas
presentes em obras de Rocha Pita e Afonso Conde, em poesias como de Olavo Bilac,
no Hino Nacional, na explicação sobre a bandeira brasileira, dentre outros.

Em terras descritas como um paraíso, como justificar a escravidão? Essa é


uma questão que a autora também levanta no capítulo e que foi justificada na época
com teorias desenvolvidas por teólogos que partem da ideia de Deus como legislador
supremo e afirma que há uma ordem jurídica natural criada por Ele que ordena
hierarquicamente os seres segundo sua perfeição e grau de poder, determinando
suas obrigações, quem manda e quem deve obediência. E assim índios e negros
foram considerados inferiores e sujeitos a subordinação a seres que se consideravam
superiores, seja por sua etnia ou por acreditarem ter mais discernimento do que os
outros.

Na segunda parte, “A sagração da história”, a autora discorre sobre o segundo


elemento do mito fundador, o responsável por lançar-nos na história, tratando-se da
história teológica (como realização do plano de Deus) ou providencialista (vontade
divina). Nesse tópico estão descritas as concepções de tempo segundo a Antiguidade
e concepções bíblicas e filosóficas a respeito do assunto. Nele também estão
relacionados os pensamentos judaico-cristão a respeito da história providencial,
teofania, epifania, profética, salvívica, apocalíptica, universal e completa. Para a
compreensão deste elemento, a autora traz livros de profetas e obras de outros
filósofos e pensadores.

O Brasil, segundo a autora, entra na história pela porta providencial, versão na


qual nossa história já está escrita, estando essa versão presente na abertura do nosso
Hino Nacional quando, instantaneamente, surge um povo heroico, figurado pelo
herdeiro da Coroa portuguesa, que num ato soberano funda a pátria e completa a
história. Além disso, o Brasil também entra pela porta milenarista, versão em que
nossa história está prometida, mas por fazer, devendo ser construída pela
comunidade dos santos e dos justos. A autora finaliza esse tópico dizendo que tanto
em uma, quanto em outra porta, somos agentes da vontade de Deus e o nosso tempo
é o tempo da sagração do tempo, sendo a história parte da teologia.

Na ultima parte do capítulo, intitulada “A sagração do governante” é


apresentado um cenário em que o poder está representado como transcendente,
reproduz os dois princípios da sagração do poder, sendo eles a vontade de Deus como
lei acima de todas as outras e o direito natural ao poder segundo a hierarquia do direito
natural objetivo. Para chegar a esse cenário são apresentados elementos históricos e
teológicos que embasam essas concepções a respeito de poder e que deixam rastros
em nossa sociedade até os dias de hoje.

Apresentados os elementos históricos e teológicos a respeito das relações de


poder em nosso país desde o momento do descobrimento, ou achamento, do Brasil,
a autora diz que uma vez que não acompanhamos a formação histórica da política
brasileira, não saberíamos seguir as transformações que ocorreram na passassem da
Colônia ao Império e depois a República, nem a chegada das ideias liberais,
positivistas, socialistas, dentre outras, e então aponta alguns exemplos nos quais se
podem notar os efeitos deixados pela sagração do poder sendo eles: Tiradentes, uma
figura crítica, como o símbolo escolhido pela República para representa-la, sem que
fosse contestada a adequação dessa imagem à realidade histórica da Inconfidência;
O modo socialmente diferenciado que o mito fundador opera do lado dos dominantes
e dos dominados, gerando uma visão messiânica da politica que possui como
parâmetro o núcleo milenarista como embate entre luz e treva, bem e mal, em que o
governante ou é sacralizado ou satanizado; A maneira como se realiza a
representação política no Brasil, em que o rei representa Deus e quem recebe os
favores são os governados, colocando os governantes eleitos como representantes
do Estado e não do povo, que se dirige até hoje aos seus representantes para solicitar
favores, ou privilégios, mostrando que a representação democrática não acontece na
realidade e a relação entre o representante eleito e o representado é de favor e não
de obrigação do representante eleito com quem o elegeu, sendo isso que se manifesta
na força do populismo na política brasileira.

O capítulo é finalizado com a explicação resumida abaixo, dividida em 5


tópicos, sobre o que é de fato o populismo:

1. Um poder que busca uma relação direta entre governantes e governados, sem
recorrer a mediações políticas institucionais;
2. Um poder articulado e realizado na forma de favor e tutela, que coloca o
governado como desprovido de saber social e a respeito da lei e o governante
como detentor desse saber, capaz de exercer tutela, gerando uma relação de
clientela como governado;
3. Um poder que opera com a transcendência e a imanência simultaneamente,
isto é, em que o governante se apresenta como se estivesse fora e acima da
sociedade, transcendendo-a a medida que detém o poder e o saber da lei, mas
só consegue realizar sua ação se fizer parte do todo social já que não opera
através de mediações institucionais;
4. O lugar do poder ocupado total e plenamente pelo governante, que o preenche
com sua pessoa, encarnando e incorporando poder, sem que possa ser
separado ou distinguido dele, já que esse poder não se funda em instituições
públicas e nem se realiza por meio de mediação sociopolítica, mas sim pelo
saber e favores do governante;
5. Um poder autocrata, que dependerá da força de cada governante o ser, mas
se mantem no exercício do poder e na forma do governo. Nos dias de hoje esse
aspecto é favorecido pela ideologia neoliberal, que opera com o marketing
político e a indústria para enfatizar o narcisismo, personalismo e intimismo
oferecendo a pessoa privada de um político como pessoa pública.

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