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Assunto: O petróleo do Mar de Timor e as relações Timor Leste-Austrália

Resumo: 
1. O que é o ‘Timor Gap’ ? 
2. Austrália e Indonésia partilham o Timor Gap 
3. Continuação do tratado com outros titulares ou novo acordo? 
4. As fronteiras 
5. Royalties 
6. As companhias petrolíferas 
7. O Governo de Canberra pressionado em casa 
8. O petróleo na economia de Timor Leste 
Conclusões: 
Nota:

Resumo: A principal fonte de rendimentos de Timor Leste para os próximos 20


anos encontra-se no ‘Mar de Timor’. Principal fonte de rendimentos para o país
não é necessariamente sinónimo de principal factor económico para a
sustentação da sua população, que trabalha e depende em 80% da agricultura.
Porém, os rendimentos do petróleo e do gás poderão, a partir de 2005, ser duas
vezes superiores ao actual orçamento, uma ajuda determinante para a
viabilidade económica do novo Estado, que emerge das cinzas de Setembro de
1999.

O Governo australiano, que tentou partilhar os recursos do ‘Timor Gap’ com a


Indonésia, quer partilhá-los agora com Timor Leste. Contudo, as leis
internacionais sobre fronteiras marítimas e as condições políticas mudaram.
Muitos peritos, incluindo alguns australianos, pensam que Timor Leste poderá
recuperar a parte que lhe pertence ao abrigo dessas leis. O Governo australiano
diz querer uma negociação que beneficie as duas partes, mas para tal também
deverão ser contabilizados outros benefícios, e não apenas as royalties, da
exploração do "Timor Gap", como os lucros que a Austrália irá obter do
tratamento do gás em Darwin; a vantagem desta ter um vizinho auto sustentável
e como qual goza de relações honradas. Do lado timorense, o rendimento fácil
do petróleo pode conter riscos a longo prazo caso não seja bem gerido.

1. O que é o ‘Timor Gap’ ?

 Em 1972 a Austrália tentou delimitar as suas fronteiras no chamado Mar


de Timor, com a Indonésia e com Timor Leste, na altura uma colónia
portuguesa. Usando o argumento da plataforma continental, a Austrália
conseguiu estabelecer uma linha divisória mais próxima da Indonésia do
que da sua fronteira, obtendo 85% da área que separa os dois países.
Portugal não aceitou esse argumento e reclamou uma linha mediana
entre as costas da Austrália e de Timor Leste. A zona onde a fronteira não
foi estabelecida passou a ser chamada “Timor Gap”, em que os próprios
limites do ‘gap’ resultam dum acordo entre a Austrália e a Indonésia, por
Timor não ter sido ouvido.
 Quando a Indonésia deu sinais de querer invadir Timor Leste, em 1975, o
embaixador australiano em Jacarta, Richard Woolcott, enviou um
telegrama confidencial ao seu Governo: “fechar o actual ‘gap’ na fronteira
marítima acordada pode ser mais fácil com a Indonésia ... do que com
Portugal ou um Timor Leste independente” e o ministério das Minas e
Energia pode estar interessado nisso, acrescentava Woolcott.

2. Austrália e Indonésia partilham o Timor Gap

 Em 1979, acalmados os protestos provocados pela violente intervenção


da Indonésia em Timor Leste, a Austrália começa as negociações com a
Indonésia. Entretanto, a lógica das 200 milhas de zona marítima exclusiva
ganharam força a nível internacional, e quando o mar que separa dois
países perfaz as 400 milhas é a linha mediana a geralmente adoptada. A
Austrália não aceita essa solução, o ‘gap’ continua.
 Em 1981, Austrália e Indonésia adoptam a linha mediana como linha de
separação para as pescas (PFSEL-Provisional Fisheries Surveillance and
Enforcement Line).
 Em 1982, a linha mediana é consagrada na ‘Convenção das N. U. sobre o
Direito do Mar’ (Montego bay), mas a Convenção só entrou em vigor
depois de ratificada por 60 países, o que só aconteceu em 1994.
 Em 1989, após 11 anos de negociações, Austrália e Indonésia assinam o
Tratado do Timor Gap. A Austrália valorizou o argumento da soberania
Indonésia sobre Timor Leste, algo que nenhum outro país ocidental tinha
reconhecido, ‘de jure’, até à data. O “Gap” é dividido em 3 zonas.
 Nas zonas B e C, as royalties, resultantes da exploração do petróleo e do
gás, revertem a 90% para a Austrália e a Indonésia respectivamente, e
10% para o outro país. A zona A, entre as duas anteriores (500 km de
Darwin, 250 de Timor), chamada Zona de Cooperação (ZOCA), fica sob
controlo dos dois países e as royalties são divididas em parte iguais
quando, pela aplicação da linha mediana, pertenceriam por inteiro à
Indonésia. É o preço do reconhecimento da soberania política.
 Portugal intenta uma acção contra a Austrália perante o Tribunal
Internacional de Justiça de Haia, sobre a ilegalidade do Tratado do Timor
Gap (1991-1995). Aquele acabará por se declarar não competente para
julgar o caso face à ausência da Indonésia, não acusada por Portugal por
não reconhecer a autoridade do Tribunal. A Austrália não foi condenada,
mas foi levada a aceitar formalmente que o Tratado assinado com a
Indonésia não obrigaria um Timor Leste independente.
 Em 1997, adaptando as suas fronteiras marítimas às novas normas
internacionais, a Austrália e a Indonésia decidem que a linha mediana, já
aceite para os direitos de pesca, passa a ser a fronteira marítima, mas
não se aplicando aos recursos do fundo do mar, regulados pelos acordos
anteriores, como o Tratado do Timor Gap.
 Em 1998, na perspectiva das negociações entre Portugal e a Indonésia
sob os auspícios das Nações Unidas, o CNRT (Conselho Nacional da
Resistência Timorense) manifesta a sua vontade duma revisão do
Tratado do Timor Gap. No entanto, tem a precaução de sossegar quer as
companhias petrolíferas, afirmando o respeito pelos contratos celebrados,
quer a própria Austrália, ao referir que quer continuar uma exploração
conjunta.
3. Continuação do tratado com outros titulares ou novo acordo?

A renegociação do Timor Gap joga-se à volta do conceito jurídico de Estado


sucessor. Se Timor Leste sucede à Indonésia, herda os direitos da Indonésia e
os termos do tratado mantêm-se válidos. Melhorias? Só as que a Austrália
quiser. Se o tratado é reconhecido como inválido, tudo pode ser renegociado,
mesmo as fronteiras, e daí os direitos em termos de rendimentos.

 De visita a Lisboa, o ministro dos Negócios Estrangeiros australiano,


Alexander Downer, declara que o tratado do Timor Gap continua válido.
Se Timor se tornar independente. os direitos serão transferidos da
Indonésia para Timor Leste. Para dar mais força às suas afirmações,
Downer diz ter discutido o assunto com Xanana Gusmão (na altura preso
em Jacarta). Os timorenses não têm a intenção de introduzir alterações
significativas no tratado, afirma o ministro australiano (Lusa, 1-3-99).
 O gabinete do Procurador Geral australiano adverte no Senado, que
Timor Leste poderá pedir alterações ao tratado. A Austrália deve
rapidamente fixar as suas intenções para proteger os interesses mineiros.
A ‘autonomia’ (de Timor Leste na Indonésia) pode afectar o tratado, tanto
quanto a ‘independência’, diz o gabinete (The Age, 24-5-99).
 Na sequência do voto dos timorenses a favor da independência em 30 de
Agosto de 1999, a Austrália toma o comando da força militar internacional
de intervenção das NU.
 O Governo indonésio renuncia aos seus direitos sobre o Timor Gap (25-
10-99), mas as autoridades de Timor Ocidental não o fazem com tanta
facilidade e reclamam direitos, sem todavia apresentar argumentos
válidos para a sua reivindicação (Jakarta Post, 10-12-99; Asia Pulse, 24-
12-99; Antara, 28-2-00).
 Os resultados do referendo dão nova legitimidade ao CNRT. Mari Alkatiri,
responsável pelo dossier do petróleo, declara: “para nós o tratado é ilegal,
por isso não podemos ser simplesmente o Estado sucessor”. É a decisão
final sobre a fronteira marítima que resolverá a disputa sobre o tratado,
diz Alkatiri (The Weekend Australian, 21-11-99). Xanana Gusmão
transmite a mesma mensagem numa conferência de imprensa em Darwin
(Lusa, 7-12-99).
 O Governo australiano, após ter manifestado a sua recusa a discutir as
fronteiras (6-99), tenta amedrontar os timorenses com o espectro do
desinvestimento: “começar a desfiar todo o tratado do Timor Gap, o que
não penso um só minuto que está a acontecer, pode desfiar todo o
investimento do Timor Gap e isto não estaria no interesse de ninguém,
particularmente dos timorenses”, declara Alexander Downer (AAP, 30-11-
99).
 Em Janeiro 2000, realiza-se em Dili um seminário que reúne todos os
implicados no Timor Gap: o Governo federal australiano, o Governo
regional dos Territórios do Norte, as companhias petrolíferas, as Nações
Unidas e o CNRT. Chega-se a um acordo: o tratado mantém-se até a
independência, para garantir a confiança das companhias petrolíferas e
assegurar os investimentos, ficando anunciado o fim das pretensões
australianas: “Timor Leste não substitui simplesmente a Indonésia no
tratado, do ponto de vista legal não se trata dum caso de sucessão. Não
queremos legitimar retroactivamente o que era ilegal”. Os termos do
tratado poderão ser alterados quando Timor for independente (UNTAET,
Public Information Of., 19-1-00).
 O Governo australiano sabe que tem de negociar: “é necessário
preencher o vazio legal e dar certezas comerciais à indústria do petróleo
que opera no gap” (AAP, 18-9-00), mas, em vez de encarar os factos,
apresenta-se nas primeiras negociações com “um sentimento de boa
vontade, um sentimento de generosidade”, diz Daryl Manzie, ministro dos
Northern Territory. “Não sabemos se as negociações vão dar 60/40% (em
favor de Timor) ou 50/50, mas não recusamos discutir isso ... estaríamos
relutantes em dar-lhes todo o negócio”, declara na reunião da APPEC
(Asia Pacific Petroleum Conference, 26-9-00). Se todavia os timorenses
não se deixarem convencer pela ‘generosidade’, o Governo agita o
espectro do desinvestimento: as reservas de gás do Timor Gap não são
vitais para a Austrália: “3.400.000 milhões de pés cúbicos estão na ZOCA,
mas 40.000.000 milhões estão fora dela” diz Daryl Manzie, para melhor
convencer os timorenses dos riscos em esticar a corda (Dow Jones
Newswires, 26-9-00).
 No início de Outubro é Peter Galbraith, director dos Assuntos Políticos da
UNTAET, que responde ameaçando ir para o Tribunal Internacional se as
negociações falharem (Reuters, 9-11-00)

4. As fronteiras

Em Junho 2000, o CNRT declara que uma nova fronteira a igual distância entre
Timor Leste e a Austrália é um ponto de partida para as negociações (The
Australian, 15-6-00). A Austrália aceita discutir a repartição das royalties, mas
não as fronteiras. A razão é clara: muitos peritos prevêem que a revisão das
fronteiras pode, muito simplesmente, colocar todo o Timor Gap, e talvez mais,
sob controlo exclusivo de Timor Leste.

 A linha mediana é um ponto de partida viável para as negociações, diz


Ivan Shearer, professor de leis internacionais na Univ. de Sidney. O
professor Anthony Bergin, do Australian Defence Studies Center, diz que
a lei internacional mudou muito desde os acordos do Timor Gap e a
Austrália poderia ser seriamente contestada no Tribunal Internacional
(The Australian, 15-6-00). A prática internacional recente “coloca todo o
acento a favor duma linha única para a fronteira marítima e a linha de
separação para as pescas”, diz Geoffrey McKee, consultor da indústria
petrolífera, “a fronteira de pescas adoptada em 1981 poderá ser um bom
argumento para a fronteira que decide os direitos sobre o petróleo e o
gás” (Weekend Australian 29-11-99).
 Alguns vão mais longe: a revisão das fronteiras no interior do Timor Gap
pode levar à revisão das fronteiras do próprio Timor Gap em relação às
zonas vizinhas. Um mapa desenhado pela Marinha australiana para a
intervenção militar de 1999, caso fosse adoptado, daria a Timor Leste a
soberania sobre as reservas de Laminaria/Corallina, a oeste da zona de
cooperação (150.000 barris/dia). A leste do Timor Gap, segundo o
professor Prescott, o “tripoint A 16” deveria ser deslocado um pouco mais
para leste. O resultado seria a passagem para Timor Leste de uma
grande parte das reservas de Sunrise/Troubadour, exploradas pela
Shell/Woodside. Estas modificações poderiam multiplicar por 5 as actuais
reservas de Timor Leste (EnergyAsia, www, 24-7-00; The Economist, 2-
12-00).
 “As boas cercas fazem os bons vizinhos”, diz o professor Ivan Shearer
(EnergyAsia, www, 24-7-00).

5. Royalties

 Se a fronteira marítima fosse alterada, Timor Leste teria direito à


totalidade das royalties na ZOCA. José Ramos Horta declarou que o novo
país tem direito a mais de 90% das royalties do Timor Gap, e manifestou
a esperança de que fossem os dirigentes australianos, em particular o
primeiro ministro John Howard, a tomar a iniciativa de rever os modos da
partilha actual (partes iguais, 50/50) (ABC/BB, 7-5-00).
 Em 1998, a Austrália e a Indonésia receberam 1,1 milhão USD de
royalties. Este ano deverá subir para 2,2 milhões diz Kuntoro, ministro das
Minas da Indonésia (SMH, 2-99). Em Outubro 2000, Timor Leste recebe
as primeiras royalties, 3 milhões, mais do que o montante previsto,
provenientes exclusivamente do campo Elang Kakatua explorado pela
BHP, a produzir cerca de 15.000 barris/dia (Dow Jones Newswires, 7-11-
00).
 O grande aumento deverá acontecer a partir de 2004-2005, quando for
explorado gás no campo de Bayu-Undang na ZOCA. As variações nos
preços dos produtos petrolíferos são enormes e tornam as previsões
difíceis. Jonathan Prentice da UNTAET participou nas negociações: “o
barril custava 10 USD há um ano, aparentemente custa agora 28, estes
factores podem fazer variar os lucros ou perdas, mas sim, os números
são muito consideráveis, muitos, muitos milhões” (Dow Jones, 20-1-00).
50 milhões calculados sobre um preço de 18USD/barril, mas a média foi
de 25,5 USD em 1999 (All Columns, 23-6-00) ou o dobro se as fronteiras
forem revistas.
 "Este ano o orçamento de Timor Leste é de 45 milhões, podem imaginar
que enorme diferença isso faz para Timor Leste", diz Galbraith (IPS, 29-
11-00).
6. As companhias petrolíferas

 Poucos meses após os acordos de Nova Iorque (Agosto de 1998), a


Indonésia ainda não tinha aceite a “consulta popular”, já o representante
da empresa petrolífera Broken Hill Proprietary Co (BHP) na Indonésia,
Peter Cockcroft, visitava Xanana Gusmão na prisão de Cipinang. Foi o
primeiro sinal de que as empresas petrolíferas começavam a admitir
possíveis alterações no Timor Gap. Os protestos da Indonésia obrigaram
a Austrália e a BHP a reafirmar a manutenção do Tratado. Peter Cockcroft
foi enviado para a Índia
 Já antes desta visita, o CNRT tinha elaborado um documento no qual
afirmava a vontade de rever o Tratado do Timor Gap, mas respeitar os
investimentos das petrolíferas. Afirmação muitas vezes repetida desde
então: “queremos assegurar a todos os empresários envolvidos que
podem continuar a exploração", diz Xanana Gusmão (Lusa, 7-12-99);
“Não queremos fazer nada que perturbe os projectos de petróleo e gás na
zona do Timor Gap, porque é do nosso interesse que sigam para a
frente”, diz Alkatiri, “queremos criar uma estrutura provisória que dê aos
investidores segurança de que a renegociação do tratado não irá
prejudicar a sua posição” (International Herald Tribune, 14-12-99). A
revisão do tratado não afectará as companhias, “não tem importância
para estas se pagam à Austrália ou a Timor Leste” (The Weekend
Australian, 21-11-99).
 As petrolíferas correm por conta própria, e isso retira credibilidade às
ameaças australianas de desinvestimento: “queremos estar seguros de
que os nossos direitos legais, e os acordos fiscais e administrativos ficam
sem mudanças enquanto dura o projecto”, diz Jim Godlove, presidente da
Phillips em Darwin, e acrescenta, “as negociações sobre a fronteira entre
Timor Leste e a Austrália são deles” (International Herald Tribune, 14-12-
99).
 No dia 25 de Outubro de 1999, a Indonésia reconhece que já não tem
nada a ver com o Timor Gap e no dia seguinte (ver Dow Jones
Newswires, 6-12-99), a Phillips Petroleum Co anuncia que quer investir
1400 milhões USD no campo de Bayu-Undan na ZOCA. Este
investimento sobe a 2700 milhões, em Novembro, e a 5900 ao considerar
os campos vizinhos - alguns dos quais podem ser parcialmente atribuídos
a Timor Leste numa revisão das fronteiras; sem contar 1500 milhões para
a unidade de transformação do gás a estabelecer em Darwin (Australian
Financial Review, 30-11-00). Um projecto à escala mundial, diz o ministro
da Indústria.

7. O Governo de Canberra pressionado em casa

 Peritos legais em diversos ramos exprimiram publicamente as suas


dúvidas sobre os direitos do seu país, ou convicções de que as
reivindicações de Timor Leste tinham cabimento legal. Não é de estranhar
que Bill Campbell, director do International Law Office do Australia's
Attorney-General's Department, afirme ser a favor dum acordo negociado
e contra uma possível solução judicial na qual “os Estados perdem o
controlo” (EnergyAsia, www, 24-7-00).
 A posição oficial do Governo de Canberra é também contestada na
opinião pública: “segundo os cálculos do orçamento do Governo
australiano, este prepara-se para atribuir ajudas a Timor Leste no valor de
150 milhões de dólares australianos em 4 anos. Isto é menos de 6% dos
rendimentos [2600 milhões] que espera do campo petrolífero de Bayu-
Undan, cujos direitos pertencem por inteiro a Timor Leste. O Governo
Howard tenta enganar os povos australiano e timorense” (Green Left
Weekly, 17-5-00).
 O Partido Trabalhista e os Democratas Australianos apelam ao Governo
para que mude as suas fronteiras com Timor Leste para ajudar o novo
país a conquistar a sua independência financeira. Vicki Bourne, porta-voz
dos Democratas para os assuntos externos, pronuncia-se a favor da
proposta [feita pelos dirigentes timorenses] que daria 90% de todos os
rendimentos do ‘gap’ a Timor Leste (AAP, 9-10-00).
 Downer adverte os timorenses que modificações no Timor Gap que
afectam as royalties, ou na partilha das royalties, “terão efeito sobre todo
o programa de ajuda australiana a Timor Leste” (Reuters, 9-10-00).
 “Actuando de maneira honrosa e tomando em conta a lei internacional
actual, o Governo australiano pode não só ganhar a benevolência de
Timor Leste, mas também de outras partes e fornecer a Timor Leste uma
base económica com a qual poderá reduzir a sua dependência da ajuda
externa”, diz um relatório bi-partidário da Comissão dos Assuntos
Exteriores, Defesa e Comércio do Senado australiano (8-12-00).

8. O petróleo na economia de Timor Leste

 Sarah Cliffe, chefe da Missão do Banco Mundial, advertiu contra alguns


perigos: “o excesso de dependência de um ou dois produtos de
exportação - como o café e o petróleo - pode tornar o país demasiado
vulnerável à queda dos preços”. Falou também da utilização dos
rendimentos do petróleo e do gás, das opções a fazer com este “bónus”,
que traz consigo muitos riscos. As economias que têm altos rendimentos
do petróleo, e gastam esses rendimentos imediatamente, têm muitas
vezes fomentado salários altos que outras indústrias não conseguem
equiparar, e provocando a sua falência. Depois, quando o petróleo se
esgota, a economia não tem alternativas sustentáveis (intervenção no
Congresso do CNRT, Agosto 2000).

Conclusões:

1. A revisão das fronteiras do Timor Gap deve incluir a Indonésia. As


reivindicações das autoridades de Timor Ocidental devem ser
esclarecidas para evitar pretextos para uma instabilidade futura.
2. A História recente da atitude do Governo australiano revela que o petróleo
do Mar de Timor foi colocado acima de qualquer outra consideração nas
relações com os países vizinhos. A Austrália poderia beneficiar mais dum
desenvolvimento harmonioso da região, tentando chamar a si os
investimentos pelos quais está melhor preparada que os seus vizinhos.
3. Os dirigentes timorenses têm quatro anos para preparar um uso das
royalties que sirva o país e à sua população.
A CONSPIRAÇÃO DE TIMOR-LESTE

Nos 17 anos desde que Timor-Leste ganhou a independência, o governo


australiano apropriou-se de cerca de 5 mil milhões de dólares em petróleo e gás,
dinheiro que pertence ao seu pobre vizinho.

John Pilger*

Documentos secretos encontrados nos Arquivos Nacionais Australianos


fornecem um relance sobre como foi executado e encoberto um dos maiores
crimes do séc. XX. Ajuda-nos também a compreender como e a favor de quem o
mundo funciona.

Os documentos referem-se a Timor oriental, agora conhecido como Timor-Leste,


e foram escritos por diplomatas da embaixada da Austrália em Jakarta. A data é
novembro de 1976, menos de um ano após o ditador indonésio general Suharto
tomar a então colónia portuguesa na ilha de Timor.

O terror que se seguiu tem poucos paralelos: nem mesmo Pol Pot conseguiu
matar proporcionalmente tantos cambodjanos como Suharto e os seus amigos
generais mataram em Timor oriental. De uma população de quase um milhão,
um terço desapareceu.

Foi o segundo holocausto do qual Suharto foi responsável. Uma década antes,
em 1965, Suharto tomou o poder na Indonésia com um banho de sangue que
eliminou mais de um milhão de vidas. A CIA referiu: «Em termos de número de
mortos, os massacres estão entre os piores assassínios em massa do séc. XX.»

Este acontecimento foi saudado na imprensa ocidental como “um raio de luz na
Ásia” (Time). O correspondente da BBC no sueste asiático, Roland Challis,
descreveu mais tarde o encobrimento dos massacres como um triunfo da
cumplicidade e silêncio dos media, A “linha oficial” era que Suharto tinha “salvo”
a Indonésia de um assalto comunista.

«Evidentemente que as minhas fontes britânicas sabiam qual o plano


americano,” disse-me. “Havia corpos retirados dos relvados do consulado
britânico em Surabaya e navios de guerra britânicos escoltaram um barco cheio
de tropas indonésias para tomarem parte neste holocausto terrível. Só muito
mais tarde soubemos que a embaixada americana estava a fornecer nomes [a
Suharto] e a abatê-los na lista à medida que eram eliminados. Houve um acordo.
Do estabelecimento do regime de Suharto fazia parte o envolvimento do Fundo
Monetário Internacional e do Banco Mundial [dominados pelos EUA]. Foi esse o
acordo.»

Entrevistei muitos dos sobreviventes de 1965, incluindo o aclamado escritor


indonésio Pramoedya Ananta Toer, que testemunhou um sofrimento épico
«esquecido» no ocidente só porque Suharto era «o nosso homem». Era quase
inevitável um segundo holocausto em Timor oriental, rico em recursos e colónia
indefesa.

Em 1994, filmei clandestinamente em Timor oriental. Encontrei uma terra de


cruzes e inesquecível sofrimento. No meu filme, «Morte de um Povo», há uma
sequência filmada a bordo de um avião australiano voando sobre o mar de
Timor. Decorre uma reunião. Dois homens de fato fazem saúdes com
champanhe. «É um momento verdadeiramente histórico,» balbucia um deles,
«verdadeira e unicamente histórico.»

É o ministro dos Estrangeiros da Austrália, Gareth Evans. O outro é Ali Alatas, o


principal porta-voz de Suharto. Estamos em 1989 e estão fazendo um voo
simbólico para celebrar um acordo de pirataria a que chamam «tratado». Foi isto
que permitiu à Austrália, à ditadura de Suharto e às companhias petrolíferas
internacionais dividirem os despojos dos recursos em petróleo e gás de Timor
Leste.

Graças a Evans, ao então primeiro-ministro da Austrália, Paul Keating – que


encarava Suharto como uma figura paternal – e a um gang que conduzia a
política externa da Austrália, este país distinguiu-se como o único país ocidental
a reconhecer formalmente a conquista genocida de Suharto. O preço, disse
Evans, foram «montanhas» de dólares.
Membros deste gang voltaram a aparecer há dias em documentos encontrados
nos Arquivos Nacionais por dois investigadores da Universidade de Monash em
Melbourne, Sara Niner e Kim McGrath. Funcionários superiores do
Departamento de Negócios Estrangeiros relatam pela sua própria mão
violações, tortura e execuções de timorenses de leste por tropas indonésias. Em
anotações rabiscadas num apontamento que refere atrocidades num campo de
concentração, um diplomata escreveu: «parece divertido». Outro escreveu: «a
população parece extasiada.»

Relativamente a um relatório da resistência indonésia Fretilin que descreve a


Indonésia como um invasor «impotente», outro diplomata zombava: «Se o
inimigo era ”impotente”, conforme lá está dito, como é que conseguem violar
todos os dias a população capturada? Ou será que se deve a isto?»

Os documentos, diz Sarah Niner, são «prova evidente da falta de empatia e de


preocupação pelos abusos de direitos humanos em Timor-Leste» no
Departamento de Negócios Estrangeiros. «Os arquivos mostram que esta
cultura de encobrimento está intimamente ligada à necessidade de o DNE
reconhecer a soberania indonésia, para iniciar as negociações sobre o petróleo
no mar de Timor-Leste.»

Tratou-se de uma conspiração para roubar o petróleo e o gás de Timor-Leste.


Em telegramas diplomáticos divulgados de agosto de 1975, o embaixador
australiano em Jakarta, Richard Woolcott, escreveu para Canberra: «Parece-me
que o Departamento [de Minerais e Energia] poderia ter interesse em resolver a
atual diferença na fronteira marítima acordada e isso poderia ser muito melhor
negociado com a Indonésia… do que com Portugal ou com o Timor português
independente.» Wolcott revelou que tinha sido informado sobre os planos
secretos da Indonésia para uma invasão. Telegrafou para Canberra que o
governo devia “ajudar à aceitação pública na Austrália” e contrariar «o criticismo
contra a Indonésia».

Em 1993, entrevistei C. Philip Liechty, um antigo funcionário de operações senior


da CIA na embaixada de Jakarta durante a invasão de Timor-Leste. Disse-me
ele: «Foi dada luz verde a Suharto [pelos EUA] para fazer o que fez.
Fornecemos-lhe tudo o que precisava [desde] espingardas M16 [até] apoio
logístico militar dos EUA… talvez 200 mil pessoas morreram, a maior parte não-
combatentes. Quando as atrocidades começaram a surgir nos relatórios da CIA,
a maneira que arranjaram de tratar do assunto foi encobri-las o máximo tempo
possível e quando já não podiam mais ser encobertas foram apresentadas de
forma atenuada e em termos gerais, de modo que as nossas próprias fontes
foram sabotadas.»

Perguntei a Liechty o que teria acontecido se alguém tivesse denunciado. «A


sua carreira teria terminado,» respondeu. Disse-me que esta entrevista comigo
era uma forma de reparação pelo «mal que senti».

O gang da embaixada australiana em Jakarta parece não sentir tal angústia. Um


dos escribas dos documentos, Cavan Hogue, declarou ao Sydney Morning
Herald: «Parece a minha caligrafia. Se fiz tal comentário, sendo eu o cínico filho-
da-mãe que sou, teria certamente sido com espírito de ironia e sarcasmo. Isso
referia-se ao comunicado de imprensa [da Fretilin] e não aos timorenses.»
Hogue declarou que houve «atrocidades de todos os lados».

Como pessoa que relatou e filmou as provas do genocídio, acho esta última
observação especialmente profana. A «propaganda» da Fretilin que ele
ridiculariza era rigorosa. O relatório subsequente das Nações Unidas sobre
Timor Leste descreve milhares de casos de execução sumária e violência contra
mulheres pelas forças especiais Kopassus de Suharto, muitas delas treinadas na
Austrália. «Violação, escravatura sexual e violência sexual foram instrumentos
usados como parte da campanha programada para infligir uma profunda
experiência de terror, impotência e desespero nos apoiantes pró-
independência,» diz a ONU.

Cavan Hogue, o brincalhão e «cínico filho-da-mãe» foi promovido a embaixador


senior e mais tarde reformado com generosa pensão. Richard Woolcott foi
promovido a chefe do Departamento dos Negócios Estrangeiros em Canberra e,
na reforma, ensinou como um «respeitado intelectual diplomata».

Foram despejados jornalistas na embaixada australiana em Jakarta,


especialmente empregados de Rupert Murdoch, que controla quase 70% da
imprensa da capital. O correspondente de Murdoch na Indonésia era Patrick
Walters, que noticiou como «impressionantes» os «êxitos económicos» de
Jakarta em Timor-Leste e «generoso» o desenvolvimento daquele território
empapado de sangue. Quanto à resistência timorense oriental, estava «sem
líder» e derrotada. De qualquer modo, «ninguém é agora preso sem os
procedimentos legais apropriados».

Em dezembro de 1993, um dos empregados mais antigos de Murdoch, Paul


Kelly, na altura editor-chefe do The Australian, foi nomeado pelo ministro dos
Estrangeiros Evans para o Instituto Austrália-Indonésia, uma instituição fundada
pelo governo australiano para a promoção dos «interesses comuns» de
Canberra e da ditadura de Suharto. Kelly levou um grupo de editores de
imprensa a Jakarta para uma audiência com o assassino de massas. Há uma
fotografia de um deles que se está curvando.

Timor-Leste ganhou a independência em 1999 com o sangue e a coragem da


sua gente vulgar. A pequena e frágil democracia foi imediatamente sujeita a uma
implacável campanha de assédio pelo governo australiano, que procurou
manobrar para lhe retirar o direito legal de propriedade sobre a exploração das
reservas submarinas de petróleo e gás. Para o atingir, a Austrália recusou
reconhecer a jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça e a Lei do Mar e
alterou unilateralmente a fronteira marítima a seu favor.

Em 2006, foi finalmente assinado um acordo do tipo mafioso, em grande parte


segundo os termos da Austrália. Pouco depois, o primeiro-ministro Mari Alkitiri,
um nacionalista que tinha feito frente a Canberra, foi efetivamente deposto
naquilo que ele chamou uma «tentativa de golpe» por «estrangeiros». Os
militares australianos, que tinham tropas de «manutenção de paz» em Timor
Leste, tinham treinado os oposicionistas.

Nos 17 anos desde que Timor-Leste ganhou a independência, o governo


australiano apropriou-se de cerca de 5 mil milhões de dólares em petróleo e gás,
dinheiro que pertence ao seu pobre vizinho.

A Austrália tem sido chamada o «vice-xerife» da América no Pacífico Sul. Um


dos homens com crachá é Gareth Evans, o ministro dos Estrangeiros filmado a
erguer a taça de champanhe para saudar o roubo dos recursos naturais de
Timor-Leste. Hoje, Evans é um frequentador de púlpitos fanático que promove
uma marca belicista conhecida por «RTP» ou «Responsabilidade para
Proteger». Como co-presidente de um tal «Global Centre» sediado em Nova
Iorque, dirige um grupo de influência apoiado pelos EUA que pressiona a
«comunidade internacional» para atacar países onde «o Conselho de Segurança
rejeita ou não aceita propostas de solução em tempo razoável». O homem
indicado, conforme os timorenses podem confirmar.
Timor-Leste e fronteiras marítimas

A independência de Timor-Leste foi restaurada em maio de 2002, depois de uma


luta de 24 anos contra a ocupação estrangeira. A independência trouxe novos
desafios já que a nação teve que estabelecer, a partir das cinzas do seu
passado traumático, um sistema de democracia parlamentar, uma administração
pública, um sistema de justiça e os serviços sociais.

Em julho de 2002, o Parlamento Nacional de Timor-Leste aprovou uma lei que


fixa e define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica
exclusiva e outros direitos marítimos de Timor-Leste sob o direito internacional.
No entanto, o país naquela altura não dispunha de recursos técnicos e legais
para finalizar as suas fronteiras marítimas. Desde então, Timor-Leste tem vindo
a construir as fundações de um Estado democrático e pacífico e está agora
melhor preparado para negociar uma delimitação justa das fronteiras marítimas
e pôr fim à sua longa luta pela soberania territorial e marítima.

Direitos marítimos de acordo com o direito internacional

Timor-Leste ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar


(CNUDM). A Indonésia e a Austrália também ratificaram esta Convenção. Todos
os signatários da CNUDM têm obrigações para alcançar acordos finais sobre as
fronteiras marítimas. Nos termos da CNUDM, os Estados são autorizados a
chegar a “ajustes provisórios”, mas tais ajustes não podem “comprometer ou
entravar a conclusão do acordo definitivo.” A CNUDM prevê que os Estados
costeiros podem reivindicar direitos sobre uma Zona Económica Exclusiva que
se estende até 200 milhas náuticas (aproximadamente 370 quilómetros) e uma
plataforma continental de, pelo menos, 200 milhas náuticas, nas quais têm
direitos exclusivos para fins de exploração e aproveitamento dos recursos, nas
águas sobrejacentes ao fundo do mar (por exemplo, peixe) e no fundo marinho.
(por exemplo, petróleo e gás). A CNUDM prevê que, onde os Estados têm
costas adjacentes ou situadas frente a frente e têm reivindicações sobrepostas,
como Timor-Leste, Austrália e a Indonésia, eles devem delimitar as fronteiras
marítimas por acordo, de conformidade com o direito internacional, a fim de se
chegar a uma solução equitativa. Nesses casos, os tribunais internacionais
geralmente seguem a equidistância/abordagem de circunstâncias relevantes
para alcançar uma solução equitativa. Timor-Leste está a tentar negociar
fronteiras marítimas equitativas com a Indonésia e com a Austrália no Mar de
Timor, em conformidade com o direito internacional.

Negociações com a Indonésia

Desde a independência que o Governo de Timor-Leste tem vindo a negociar


com o Governo indonésio a finalização de fronteiras terrestres. Cerca de 98%
das fronteiras terrestres já foram acordadas. Numa reunião que teve lugar em
agosto de 2015, o Primeiro-Ministro de Timor-Leste, Rui Maria de Araújo, e o
Presidente da República da Indonésia, Joko Widodo, concordaram em resolver
as restantes áreas de fronteiras terrestres até o final do ano. Também
acordaram, num espírito de amizade e confiança, iniciar negociações sobre as
fronteiras marítimas.

Negociações com a Austrália

Entre a votação histórica para a independência em 1999 e a restauração da


independência em Maio de 2002, a Organização das Nações Unidas foi
responsável pela administração do território. Durante este período transitório, em
Julho de 2001, a administração das Nações Unidas assinou um acordo de
partilha de recursos com a Austrália no Mar de Timor. O acordo teve como base
o Tratado do Timor Gap de 1989, entre a Austrália e a Indonésia, e que foi
negociado somente depois da Austrália reconhecer formalmente a anexação
indonésia de TimorLeste. O acordo concedeu direitos à Austrália sobre os
recursos que se estendem até ao Timor Trough, cerca de 50 milhas náuticas da
costa de Timor-Leste - muito além da linha mediana que seria a mais provável
de ser desenhada por um tribunal internacional, aplicando a
equidistância/abordagem de circunstâncias relevantes ao abrigo do direito
internacional. Em março de 2002, pouco antes de Timor-Leste se tornar uma
nação independente, a Austrália retirou-se da jurisdição marítima do Tribunal
Internacional de Justiça e do Tribunal Internacional do Direito do Mar. Isto
significou que a nova nação de Timor-Leste não poderia pedir a um tribunal
internacional para decidir sobre onde fica a fronteira equitativa em conformidade
com o direito internacional no Mar de Timor, caso não seja possível chegar a um
acordo com a Austrália. A Austrália, em seguida, insistiu para Timor-Leste
aprovar as disposições de partilha de recursos temporárias no Mar de Timor,
acordados entre a Austrália e as Nações Unidas durante o período de
administração das Nações Unidas. O Tratado do Mar de Timor, entre os
governos da Austrália e de Timor-Leste, foi assinado a 20 de Maio de 2002 - o
dia em Timor-Leste se tornou independente. Um segundo tratado, que emenda o
Tratado do Mar de Timor, intitulado “Determinados Ajustes Marítimos no Mar de
Timor”, foi assinado em 12 de Janeiro de 2006. Embora este tratado fosse sem
prejuízo da delimitação definitiva das fronteiras marítimas, incluiu uma cláusula
que dispõe que nenhuns dos países afirmarão, perseguirão ou promoverão por
qualquer meio em relação à outra parte a sua reivindicação de direitos
soberanos, jurisdição e fronteiras marítimas durante os próximos 50 anos. Foi
durante as negociações sobre este tratado que a Austrália terá alegadamente
espionado a equipa de negociações de Timor-Leste.

A arbitragem sobre espionagem

A 23 de abril de 2013, Timor-Leste iniciou os procedimentos de arbitragem no


âmbito do Tratado do Mar de Timor 2002 no Tribunal Permanente de Arbitragem
em Haia, na sequência das alegações de espionagem durante as negociações
do tratado de 2006. Timor-Leste submete, com base nessas alegações de
conduta de espionagem e de acordo com princípios reconhecidos de direito
internacional, que o tribunal deve considerar o tratado de 2006 ineficaz e deve,
por conseguinte, declarar que o Tratado do Mar de Timor de 2002 permanece
válido e operativo nos seus termos originais.

O Tribunal Internacional de Justiça caso da apreensão de documentos

Em dezembro de 2013, durante o processo de arbitragem a decorrer, a Austrália


apreendeu ilegalmente dados e documentos legais, incluindo documentos
relativos à arbitragem, de um dos advogados de Timor-Leste em Camberra.
Timor-Leste tomou imediatamente medidas perante o Tribunal Internacional de
Justiça para recuperar os documentos. O Tribunal Internacional de Justiça, a 3
de Março de 2014, proferiu medidas provisórias sobre o saque de Camberra,
com a imposição à Austrália para selar os documentos e dados apreendidos e
para mantê-los selados até à decisão final do Tribunal. O Tribunal também
tomou uma decisão significativa, com 15 votos a favor e 1 contra, que “a
Austrália não deve interferir de forma alguma na comunicação entre Timor-Leste
e os seus consultores legais em relação com a arbitragem pendente”. Um ano
depois, a Austrália concordou em devolver os documentos e dados apreendidos
ilegalmente e, portanto, Timor-Leste deu por encerrado o caso.

Tentativas de negociação

Em setembro de 2014, a Austrália pediu a Timor-Leste para suspender a


arbitragem sobre os casos de espionagem e apreensão de documentos durante
seis meses, de forma a permitir discussões bilaterais. Em boafé Timor-Leste
concordou com a suspensão. No entanto, apesar de várias reuniões em
Camberra, Singapura e Díli, a Austrália recusou-se a avançar nas discussões
sobre as fronteiras marítimas. Como não houve acordo, Timor-Leste está a
reabrir o caso de espionagem no Tribunal Permanente de Arbitragem e está a
explorar todas as possibilidades para ter a Austrália à mesa de negociações, a
fim de chegar a um acordo bilateral. Austrália tornou claro que as fronteiras
marítimas com Timor-Leste não estão em discussão. No entanto, a Austrália
estabeleceu fonteiras marítimas com todos os seus outros vizinhos marítimos,
incluindo a Indonésia, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão, França (Nova
Caledónia e Kerguelen) e Nova Zelândia através de conversações bilaterais.
Timor-Leste procura a mesma oportunidade.

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