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Lisboa
2016
INTRODUÇÃO
O arquipélago das Selvagens é constituído por três ilhas: Selvagem Grande, Selvagem
Pequena e Ilhéu de Fora, para além de um conjunto de afloramentos rochosos, e está
integrado na Região Autónoma da Madeira, sendo considerado o ponto mais a sul do
território português. Está localizado à distância de 163 milhas náuticas da Ilha da
Madeira e apenas a 82 milhas náuticas do arquipélago espanhol das Canárias. Por esta
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razão, no passado, Espanha levantou algumas dúvidas relativamente à soberania sobre
as Selvagens (Santana, 2016).
As dúvidas relacionadas com a soberania sobre estas ilhas terão ficado esclarecidas, a
favor de Portugal, na sequência do parecer emitido pela Comissão Permanente de
Direito Marítimo Internacional fundamentado em dois argumentos inegáveis de
caraterísticas históricas: o direito de descobrimento e a posse ininterrupta (Santana,
2016).
No entanto, existe uma questão fundamental em torno da disputa, travada entre Portugal
e Espanha, pela posse das Selvagens e que é a sua definição enquanto classificação
jurídica. Portugal afirma serem ilhas enquanto Espanha considera e defende que se
tratam de rochedos.
Em 2013, teve lugar uma disputa, entre Portugal e Espanha, envolvendo as Selvagens e
relacionada com o facto de aquelas serem ilhas ou rochedos. Espanha pretende que se
faça a delimitação da ZEE, das 200 milhas náuticas, ignorando as Selvagens por as
considerar como simples rochedos, invocando o nº 3 do artigo 121 da CNUDM, que
refere «Os rochedos que, por si próprios, não se prestam à habitação humana ou a vida
econômica não devem ter zona econômica exclusiva nem plataforma continental.»
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Por outro lado, Portugal defende que as Selvagens devem ser classificadas como ilhas e,
em consequência disso, conseguir o alargamento a sua superfície marítima.
Esta contestação pela classificação como ilhas ou rochedos, mais não é do que o reflexo
de atos de afirmação da soberania, de cada um dos países, uma vez que ambos
pretendem o controlo efetivo e total da área onde se localiza o arquipélago devido à sua
localização geoestratégica, ao facto de, supostamente, existirem nesta zona diversos
recursos económicos (pesca) e energéticos (petróleo) e ainda por causa da sua extensa
ZEE (Daehnhardt, Ferreira, Coutinho, & Vasconcelos, 2014).
METODOLOGIA DE PESQUISA
CONCEITOS OPERACIONAIS
Soberania
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O direito exclusivo do Estado de exercer todos os seus poderes sobre o território, como
o monopólio de legislação, regulamentação e jurisdição.» (Sousa & (Coord.), 2014, p.
224).
Estratégia
André Beaufre refere que, de acordo com o conceito antigo militar, a estratégia consiste
na arte de utilizara as forças militares de forma a atingir objetivos fixados pela política,
mas acrescenta que na sua opinião «… esta definição é limitada, uma vez que diz
respeito Às forças militares, e eu redigi-la-ia antes da maneira: a arte de utilizar a
força para a concretização dos objectvos da política.» (Beaufre, 2004, p. 35).
Geopolítica
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geral. Atualmente, e ao invés, é muito utilizada a sua “visão do mundo” no debate
internacional …» (Sousa & (Coord.), 2014).
Geopolítica é também entendida como sendo uma ciência que tem como objetivo o
estudo das relações que se estabelecem entre a política e o espaço (Balão, 2014). Esta
autora, citando Baud et al (1999, p. 150), refere que pode ser entendida ainda «a várias
escalas: à escala de um grupo (por exemplo, unido por uma mesma religião), de um
Estado, de um espaço em particular (um oceano, por exemplo) ou à escala mundial.»
(Balão, 2014, p. 137). Acrescenta que esta ciência ajuda a Política a estabelecer
«objetivos e contribui para o método estratégico, nomeadamente na construção de
cenários credíveis e sustentáveis, e a que a prospectiva hoje recorre com frequência.»
(Balão, 2014, p. 137).
Geoestratégia
• Relações Internacionais
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Gounelle para definir relações internacionais como sendo «as relações e os fluxos
sociais de toda a natureza que atravessam as fronteiras, escapando deste modo ao
domínio de um poder estatal. Segundo o autor, é um critério de localização política que
permite determinar se, em presença de uma dada relação social, ela pertence ou não ao
campo das Relações Internacionais.» (Sousa & (Coord.), 2014, p. 207)
O Professor Adriano Moreira refere que alguns autores definem, do ponto de vista dos
conceitos, a disciplina de relações internacionais como sendo a que se dedica às relações
internacionais. Esta explicação é contrariada por outros autores que consideram não
estarem incluídas as «relações por cima das fronteiras dos Estados, entre grupos
ideológicos ou de interesses que condicionam as relações interestaduais» (Moreira,
2002, p. 38). De forma a reforçar a definição anterior, este autor cita Hoffman, referindo
que «Há quem a defina como a disciplina que estuda os factores e actividades que
afectam a política exterior e o poder das unidades básicas, por exemplo, Estados e
grandes espaços.» (Moreira, 2002, p. 38).
RESUMO HISTÓRICO
O grupo das ilhas Selvagens enquadra-se no mundo insular atlântico, não se verificando
qualquer protagonismo, devido ao facto de não oferecer condições à fixação humana. A
costa é quase inacessível e a água doce potável é escassa ou mesmo inexistente.
As Selvagens terão sido descobertas, oficialmente, por Diogo Gomes em 1438, tendo
sido propriedade privada de diversas famílias portuguesas ao longo dos séculos até
serem adquiridas pelo Estado português em 1971 devido ao interesse que estavam a
suscitar a nível internacional (Graça & (Coord.), 2014, p. 270).
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«Ao contrário do que é por vezes referido, o grupo das Selvagens não foi
reconhecido por João Gonçalves Zarco, mas sim por outros navegadores
ao serviço do Infante D. Henrique, empenhados nas viagens de
exploração da costa africana. Valentim Fernandes, em 1508, refere que
“E he uma ilha pequena e despouada. Ha nesta ilha alguas cabras e
muytas aues do mar. E no te agoa nenhua. Anno de 1438 acharao as
carauellas do Iffate Do Anrique esta ilha (...)”. Diogo Gomes relata o
encontro que fez:
“Em certo dia, vindo eu, Diogo Gomes, pela última vez da Guiné
a Maio das ilhas Canárias e a da Madeira, vi uma ilha e estive
nela, chamada Selvagem...as caravelas do senhor infante
descobriram esta ilha.” (Vieira, 2014, p. 3)
CENÁRIO ATUAL
Não será a dimensão das Ilhas Selvagens o fator mais importante, mas sim o seu
potencial estratégico que resulta da possibilidade de prospeção, exploração, conservação
e gestão de todos os recursos naturais vivos e não vivos, que se encontram no fundo do
mar, no seu subsolo ou nas águas subjacentes (Carvalho & Leitão, 2005, p. 269).
Estas ilhas foram a primeira Reserva Natural portuguesas a ser classificada, em 1971 e
em 2007 passaram a fazer parte da Rede ecológica Europeia “Nature 2000”.
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Presentemente, a questão da nacionalidade das Selvagens não parece estar em disputa,
uma vez que o parecer emitido pela Comissão Permanente de Direito Marítimo
Internacional em 1938, que assentava em dois argumentos históricos, o direito de
descobrimento e a posse ininterrupta, não mereceu contestação por parte de Espanha
(Santana, 2016, p. 7).
Uma das condições considerada necessária para que estes espaço seja habitados ou
habitáveis é a existência de água potável. No entanto, são referidas outras ilhas que só
são habitáveis porque foram criadas condições para tal pelo homem, como é o exemplo
da Gran Canária onde a água doce que abastece a população existente resulta de um
processo de dessalinização da água do mar (Graça, n.d., p. 193).
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Espanha argumenta, referindo que, tanto a ZEE como a plataforma continental deveriam
ser demarcadas segundo critérios de imparcialidade, não reconhecendo às Selvagens o
estatuto de ilhas, mas considerando-as apenas rochedos e, deste modo, impossibilitar a
atribuição de uma ZEE e de uma plataforma continental. De acordo com as autoridades
espanholas, a delimitação daquela zona deveria ser estabelecida tendo em conta a linha
mediana entre a Ilha da Madeira e as Ilhas Canárias (Santana, 2016, p. 9).
Sobre os recursos existentes no solo e subsolos martinhos desta zona, pouco se sabe, no
entanto, existem informações que levam a supor existirem hidrocarbonetos tendo em
conta vestígios encontrados nas ilhas próximas e que têm a mesma origem (Graça, n.d.).
Portugal propõe a extensão da sua plataforma continental para além das 200 milhas
marítimas, o que, caso seja aprovado, irá permitir o alargamento da jurisdição marítima
de Portugal para cerca de 4.000.000 Km2. Isto constitui uma oportunidade de conquistar
novos territórios marítimos, de forma pacífica, sobre os quais Portugal irá fazer uso dos
seus direitos de soberania, «transformando o o potencial estratégico da plataforma
continental portuguesa em poder nacional.» (Santana, 2016, p. 14).
Esta extensão da plataforma continental não inclui as Selvagens. A proposta que foi
apresentada por Portugal, nas zonas a sul e a oeste da Ilha da Madeira não incorpora o
prolongamento do território das Selvagens em resultado da sua localização geográfica e
tal resulta simplesmente do prolongamento natural da Ilha da Madeira e do território
continental. Espanha contestou sempre este argumento e apenas em 2015 retirou as
objeções que tinham colocado à proposta de extensão da plataforma continental
portuguesa. (Santana, 2016, p. 14).
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Em dezembro de 2014, a Espanha tinha apresentado na ONU uma proposta de
alargamento da sua Plataforma Continental, que colide com a de Portugal, reclamando a
jurisdição sobre uma área marítima e respetivo subsolo ao largo das Selvagens. Em
2015 recua na sua posição e permite a expansão do mar português.
Esta é uma matéria relativamente à qual não foi encontrada, até ao momento, uma
solução uma vez que, por causa das Selvagens, persistem problemas de harmonização
de Direito Internacional relativamente à ZEE de Portugal e à ZEE de Espanha.
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TEIA MÓRFICA
CNUDM
SELVAGENS
PORTUGAL ESPANHA
ROCHEDOS
AUMENTO PLAT. MAR. CONT.
PORTUGUESA
ILHAS
SEM ZEE
ALARGAMENTO ZEE EXPLORAÇÃO DE PRÓPRIA
ZEE DE 200 MILHAS
PORTUGAL A SUL RECURSOS
ALARGAMENTO DA ZEE
DAS CANÁRIAS
ENGLOBA ESTA ZONA
ANÁLISE SISTÉMICA
Contextualização
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Portugal poderá passar a ter uma área de jurisdição marítima com cerca de 4.000.000
Km2. Este alargamento irá possibilitar a exploração de eventuais recursos marinhos
vivos e não vivos no solo e subsolo marítimos que ainda permanecem por conhecer,
pelo menos no domínio público.
Apesar das tensões existentes em torno deste diferendo, nunca esteve iminente um
conflito sério entre ambos que implique a necessidade de Portugal recorrer às armas
para fazer prevalecer a sua soberania sobre esta parte do seu território. Ambos os países
são membros da União Europeia e da NATO e verifica-se a existência de boas relações
a nível político, económico, militar, social, cultural e diplomático. Apesar disto,
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verifica-se um desequilíbrio crescente ao nível do poder militar existente nestes países,
favorável a Espanha.
Espanha nunca disputou a propriedade ou soberania das Selvagens pois o que considera
estar em causa são interesses de ordem jurisdicional marítima e de ordem
geoeconómica. Assim, tem vindo a adotar diversas atitudes, entre as quais algumas
manobras com características ofensivas com o, provável, objetivo de testar as
capacidades de reação das autoridades portuguesas e, ao mesmo tempo, demonstrar as
suas próprias capacidades de vigilância e avaliação da situação existente nas Selvagens
(Reis, 2016, p. n.d.).
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
Isto serve para reforçar o facto de que a disputa luso-espanhola pelas Selvagens já tem
um extenso caminho percorrido. Ao longo deste trabalho, foi referido que Espanha não
pretende tomar posse ou exercer qualquer tipo de autoridade ou de soberania sobre as
Selvagens pois pretende, simplesmente, que sejam classificadas juridicamente como
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rochedos ou ilhéus para, deste modo, recolher benefícios resultantes da extensão da sua
ZEE gerada pelas Ilhas Canárias. Uma das justificações para esta tomada de posição
espanhola prende-se com o facto de se presumir a existência, no solo e subsolo
marinhos desta zona, de recursos energéticos importantes.
Para além deste, um outro objetivo de Espanha, para ganhar vantagem estratégica, é «a
elevação do país a potência predominante no sector Sul do Atlântico Norte.» para o
qual deverá ser importante a opção adicional de compra de três submarinos pela
Marinha espanhola ou o desenvolvimento de um sistema de monitorização por satélite
que permitirá efetuar vigilância numa zona compreendida entre Portugal e a Guiné-
Bissau (Reis, 2016, p. n.d.).
Assim, a tomada de decisão por parte de Espanha deverá ser no sentido de adotar um
ataque à capacidade de Portugal exercer plenamente a soberania nas suas águas
territoriais sem recorrer à capacidade militar (Reis, 2016, p. n.d.).
Do lado oposto encontra-se Portugal que continua a defender que as Selvagens devem
ser classificadas como Ilhas. No caso de a decisão ser favorável a Portugal, isto
implicaria a criação de uma ZEE de 200 milhas marítimas gerada por estas ilhas.
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CONCLUSÕES
O fator determinante desta disputa é a classificação jurídica que venha a ser atribuída às
Selvagens, ilhas ou rochedos/ilhéus. O resultado final poderá implicar grandes
alterações na estabilidade luso-espanhola a vários níveis: políticos, económicos,
diplomáticos, etc.
No entanto, a resolução concertada desta disputa não deverá estar para breve, prevendo-
se que este problema tenha de ser submetido à apreciação do Tribunal Internacional do
Direito do Mar, do Tribunal Internacional de Justiça ou dos Tribunais arbitrais, de
acordo com os termos da ratificação da CNUDM, por parte de Portugal. Isto poderá
acontecer em resultado do parecer da Comissão de Limites da Plataforma Continental
(CLPC), das Nações Unidas, sobre a proposta portuguesa de alargamento da Plataforma
continental, estimando-se que possa ocorrer ainda este ano ou apenas em 2017 (Santana,
2016, p. 15).
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BIBLIOGRAFIA
Recomendada:
Sun Tzu’s Art of War (孫子兵法), In: The Seven Military Classics of Ancient
China,
Sawyer, Ralph D., 1993, Basic Books (145-186).
T’ai Kung’s Six Secret Teachings (太公六韜), In: The Seven Military Classics
of Ancient China, Sawyer, Ralph D., 1993, Basic Books (19-105).
A Arte da Guerra, Maquiavel (Dell'arte della guerra), N., 2010, Edições Sílabo.
A Systems Theoretical Formal Logic for Category Theory, Gonçalves, C.P. and
Madeira, M.O., 2009, SSRN WPS
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1396841.
Contributos para os fundamentos categoriais da matemática do risco, Gonçalves,
C.P., 2010, Tese de Doutoramento, ISCTE-IUL. https://repositorio.iscte-
iul.pt/bitstream/10071/2842/1/TeseCPG.pdf.
Risk Governance - A Framework for Risk Science-Based Decision Support
Systems, Gonçalves, C.P., 2012, SSRN WPS
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2085482.
As Quatro Fases da Cibernética e a Ciência da Tomada de Decisão, Gonçalves,
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http://www.academia.edu/4820997/As_Quatro_Fases_da_Cibernetica_e_a_Cien
cia_da_Tomada_de_Decisao
Ciência Geral do Risco e Ciência dos Sistemas – Risco, Sistema e
Sustentabilidade, Gonçalves, C.P., 2013, Working Paper
http://www.academia.edu/5011205/Ciencia_Geral_do_Risco_e_Ciencia
_dos_Sistemas_-_Risco_Sistema_e_Sustentabilidade
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Outras obras consultadas:
Carvalho, L., & Leitão, N. (2005). A noção "estratégica" das Ilhas Selvagens.
Lisboa: n. d.
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Moreira, A. (2002). Teoria das Relações Internacionais - 4ª Edição. Livraria
Almedina: Coimbra.
Santana, J. (Março de 2016). A importância das Ilhas Selvagens. IDN Brief, pp.
1-18.
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