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MAR TERRITORIAL BRASILEIRO

Marcelo Giaretta1

RESUMO – Este trabalho se baseia em levantamento bibliográfico,


eminentemente teórico, resumindo o assunto, consultando doutrinas produzidas
sobre o tema, leis e fontes oficiais. Seu objetivo consiste em apontar a importância de
mensurar o mar territorial brasileiro, a legislação da zona econômica exclusiva, os
aspectos jurídicos do mar territorial e sua potencialidade participativa no PIB
brasileiro.

INTRODUÇÃO

O Brasil é um país de dimensões continentais e tem o mar como importante


patrimônio. Possuindo área de aproximadamente 3,6 milhões de km² e mais de 7 mil
quilômetros de costa litorânea, o mar territorial, a zona econômica exclusiva (ZEE) e a
Plataforma Continental Brasileira formam um espaço que foi denominado como
Amazônia Azul e abrange aspectos econômicos, sociais, ambientais, culturais e
geopolíticos, constituindo-se em extensa área sob jurisdição nacional e de importância
estratégica para o Brasil, com participação muito significativa no PIB nacional,
constituindo, assim, o PIB do mar brasileiro.

ESTRATÉGIA E SOBERANIA

1
Discente: Marcelo Giaretta – disciplina de Direito Internacional – 9º termo do curso de Direito da FIRB –
Faculdades Integradas Rui Barbosa.
Docente: Dr. Angelo Raphael Mattos.

1
A faixa de mar contígua ao território dos Estados possuem designações um
tanto complexas e variadas, tais como: mar territorial, águas jurisdicionais, plataforma
continental, plataforma submarina, plataforma continental submarina, zona contígua,
zona de pesca, zona de segurança, zona de conservação, mar patrimonial, além de
outros usados como sinônimos ou designativos de pequenas diferenças.

De todos os conceitos propostos e utilizados, o mais importante, sem qualquer


dúvida, é o de mar territorial. Com efeito, o que se afirma através dos demais é o
poder limitado do Estado, restrito a determinados objetivos ou a uma faixa geralmente
não muito ampla. Evidentemente, esses conceitos, pelo fato de afirmarem direitos
exclusivos, significam limitações aos direitos dos demais Estados, razão pela qual,
quando fixados pelo Estado interessado e não mediante tratados, caracterizam a
fixação unilateral dos próprios direitos. Entretanto, pela extensão dos direitos incluídos
no conceito de mar territorial, este é o que afeta com mais gravidade os interesses dos
Estados que se dedicam à utilização intensiva do mar, razão pela qual é o que desperta
maiores controvérsias.

A soberania pode ser concebida de duas maneiras distintas: ou como sinônimo


de independência, e assim tem sido invocada pelos dirigentes dos Estados que
desejam afirmar, sobretudo ao seu próprio povo, não serem mais submissos a
qualquer potência estrangeira; ou como expressão de poder jurídico mais alto,
significando que, dentro dos limites de jurisdição do Estado, este é que tem o poder de
decisão em última instância sobre a eficácia de qualquer norma jurídica.

O Brasil, afirmou sua soberania sobre a questão da expansão do Mar Territorial


para 200 milhas, na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, uma
estratégia de consolidação do interesse nacional em relação a esse assunto.

A adoção das 200 milhas marítimas de mar territorial pelo governo do Brasil
decorreu de um conjunto de fatores ou forças que funcionaram como propulsores do
interesse governamental do país no sentido da adoção de um mar territorial brasileiro
mais extenso e que melhor se coadunasse com os interesses de então, ou seja, 200

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milhas marítimas, tentando afirmar, dessa maneira, a autonomia decisória da política
exterior brasileira, no quadro do "Brasil Grande Potência", almejado pelos militares.

Parte-se do pressuposto de que as medidas do governo brasileiro, para ampliar


o seu mar territorial até o limite de 200 milhas, embora tendo encontrado resistências
de grandes potências, foram tomadas em decorrência de circunstâncias propícias
tanto a nível interno, como no contexto internacional.

O governo brasileiro desenvolveu uma ação unilateral para proteger os seus


interesses econômicos e de segurança que foi facilitada pela congruência, naquela
conjuntura, de fatores político-diplomáticos que justificavam a medida. Vinha
formando-se, na América Latina, a partir da segunda metade da década de 40, clara
tendência, no sentido da ampliação para duzentas milhas das áreas marítimas sob a
soberania ou a jurisdição dos países da região. A sucessão de proclamações latino-
americanas, no curso desses anos, foi criando uma prática regional que adquiria
validade própria e já servia de inspiração para atos análogos da parte de alguns países
de outras regiões.

A extensão do mar territorial brasileiro para duzentas milhas, objetivo


estratégico do país para o Atlântico, foi também incluída no pacote de aproximação
brasileira para a África. A decisão era envolver os países africanos da costa atlântica no
apoio à decisão do governo Médici. A solidariedade africana à decisão unilateral
brasileira era um importante trunfo junto aos organismos multilaterais.

Nos termos da CNUDM (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar),
em seu arts. 2º e 3º, a soberania do Estado costeiro sobre o seu território e suas águas
interiores estende-se a uma faixa de mar adjacente - mar territorial - com dimensão de
até 12 milhas marítimas (1 m.m.= 1.852 metros) a partir das linhas de base 2. Em 4 de
2
As linhas de base são utilizadas como origem do mar territorial de 12 m.m., da zona contígua de 24
m.m., da zona econômica exclusiva de 200 milhas e, em alguns casos, da própria plataforma continental
jurídica. As linhas de base podem ser normais ou retas. Quando normais, elas acompanham a linha de
baixa-mar, conforme indicada nas cartas náuticas produzidas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação
(DHN) do Ministério da Marinha. Nos locais onde a linha de costa apresenta recortes profundos ou uma
franja de ilhas na sua proximidade imediata, é permitido o uso das linhas de base retas, mediante a
união de pontos apropriados, que, no caso do litoral brasileiro, constam do Decreto nº 1.290, de 21 de
outubro de 1994. As linhas de base são utilizadas como origem do mar territorial de 12 m.m., da zona
contígua de 24 m.m., da zona econômica exclusiva de 200 milhas e, em alguns casos, da própria
plataforma continental jurídica. As linhas de base podem ser normais ou retas. Quando normais, elas
acompanham a linha de baixa-mar, conforme indicada nas cartas náuticas produzidas pela Diretoria de
Hidrografia e Navegação (DHN) do Ministério da Marinha. Nos locais onde a linha de costa apresenta

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janeiro de 1993, o Governo brasileiro sancionou a Lei nº 8.617, que tornou os limites
marítimos brasileiros coerentes com os limites preconizados pela CNUDM.

No mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a


massa líquida e o espaço aéreo sobrejacente, bem como sobre leito e o subsolo deste
mar. O mar territorial brasileiro de 200 m.m. - instituído pelo Decreto-lei nº 1.098, de
25 de março de 1970 passou a ser de 12 m.m., com a vigência da Lei nº 8.617.

ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE)

Ao delimitar o novo espaço marítimo, observou-se franca importância dos


fatores econômicos. A significação econômica do mar territorial brasileiro determinou
a necessidade de resguardar o interesse brasileiro na exploração útil e eficiente de
suas possibilidades econômicas.

Outros interesses foram, também, considerados como fatores econômicos de


importância capital para o país, como:

a) controlar as pesquisas nas águas e nos fundos da área de duzentas milhas e a


de preservação do meio ambiente marinho;

b) evitar a poluição das águas e danos aos recursos marinhos;

c) assegurar a jurisdição do Estado costeiro sobre o estabelecimento e a


utilização de instalações e estruturas, na área das duzentas milhas (interesse
econômico e de segurança).

Houve, no Decreto-lei n.º 1.098, intenção em dar proteção jurídica a interesses


que eram vinculados a objetivos de segurança nacional e de defesa. No passado,
segurança tinha sido definida em termos de reações a ameaças ao Estado e aos
interesses nacionais; e a definição convencional militar cristaliza-se em termos
geopolíticos como "a exclusão espacial de ameaças.” Em tais condições, "segurança
estatal" ou "segurança nacional" tornaram-se palavras-chave para salvaguardar um

recortes profundos ou uma franja de ilhas na sua proximidade imediata, é permitido o uso das linhas de
base retas, mediante a união de pontos apropriados, que, no caso do litoral brasileiro, constam do
Decreto nº 1.290, de 21 de outubro de 1994.

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regime político e sua elite social. Tradicionalmente, portanto, segurança tem quase,
exclusivamente, envolvido questões militares e ameaças ao Estado.

Mesmo que distante a possibilidade de uma agressão naval de tipo clássico


contra as costas brasileiras, havia interesse em impedir que as águas próximas ao
litoral fossem singradas, livremente, por embarcações estrangeiras para atividades de
espionagem ou de pesquisa marinha para fins militares. Entendia-se, também, que
seria desejável poder evitar a colocação por outros Estados de artefatos militares, nas
áreas do fundo do mar adjacentes às costas do país, tema que adquiria relevância à luz
das negociações que, então, se realizavam no Comitê de Desarmamento de Genebra e
que resultaram na aprovação de um Tratado sobre a proibição da colocação de armas
nucleares e outras armas de destruição em massa no leito do mar e em seu subsolo.

Havia, ainda, preocupação em razão da conturbada situação política interna


vivenciada pela nação brasileira naqueles anos, de que potências estrangeiras
pudessem tentar levar, clandestinamente, pelo mar, meios de apoio às atividades de
guerrilha que se desenvolviam no território nacional.

Dito isto, a zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar
territorial e a este adjacente" (CNUDM, art. 55) e, não se estenderá além de 200
milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar
territorial (CNUDM, art. 57).

A Convenção garante ao Estado costeiro direitos de soberania para fins de


exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou
não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo
(CNUDM, art. 56, par. 1, alínea a).

Com o objetivo de promover a utilização ótima dos recursos vivos da ZEE, o


Estado costeiro fixará as capturas permissíveis desses recursos. Quando o Estado
costeiro não tiver capacidade para efetuar a totalidade da captura permissível deve
dar a outros Estados acesso ao excedente desta captura, mediante acordos ou outros
ajustes entre as partes (CNUDM, art. 62, par. 2).

O programa do Governo brasileiro denominado Avaliação do Potencial


Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), coordenado

5
pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tem por objetivo
identificar os recursos vivos e estabelecer o potencial de sua captura na ZEE brasileira.
O Estado costeiro, tendo em conta os melhores dados científicos de que disponha,
assegurará, por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão, que a
preservação dos recursos vivos de sua zona econômica exclusiva não seja ameaçada
por um excesso de captura. (CNUDM, art. 61, par. 2).

Na ZEE, o Estado costeiro tem jurisdição para regulamentar a investigação


científica marinha e tem o direito exclusivo de construir e de autorizar e regulamentar
a construção, operação e utilização de: a) ilhas artificiais; b) instalações e estruturas,
(CNUDM, art. 60, par. 1). Estas, com finalidades econômicas e/ou para fins de
investigação científica. Qualquer investigação científica na ZEE brasileira por
instituições nacionais e/ou internacionais somente poderá ser realizada com o
consentimento do Governo brasileiro.

Reconhecia-se ao Estado costeiro o direito à manutenção de um mar territorial


clássico, até o limite de doze milhas e de estabelecer, entre esse limite e o das
duzentas milhas, uma zona na qual se exerceriam direitos de soberania e jurisdição
exclusiva sobre os recursos vivos e não-vivos do mar, sem prejuízo da liberdade de
navegação de que continuariam a gozar, nessa área, os outros Estados.

PLATAFORMA CONTINENTAL

Nos termos do art. 76, §1º, a Convenção do Mar, define a plataforma


continental:

A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o


subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial,
em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre,
até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200
milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do
mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental
não atinja essa distância." (CNUDM, art. 76, § 1º).

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Esta definição de plataforma continental, tem um enfoque jurídico (PCJ) e
pouco tem a ver com o conceito fisiográfico ou geomorfológico de plataforma
continental (PCG). A PCG é uma área plana, com relevo muito suave e gradiente
sempre inferior a 1:1000. Mundialmente, está limitada a profundidades menores que -
460m, com predominância de profundidades inferiores a -185m, razão pela qual
comumente se utiliza a isóbata de 200 m como o limite da PCG. A sua largura varia de
poucas milhas a mais de 200 milhas marítimas 3. Sua borda externa ou "quebra da
plataforma" é marcada quando o gradiente passa, bruscamente, de menos de 1:1000
para maior do que 1:40.

Pela definição jurídica de plataforma continental, vemos que a PCJ de um


Estado costeiro pode englobar as feições fisiográficas conhecidas como plataforma,
talude4 e elevação5 continentais, e, em algumas circunstâncias, inclusive regiões da
planície abissal. O conceito de PCJ não se aplica à massa líquida sobrejacente ao leito
do mar, mas apenas ao leito e ao subsolo desse mar.

Nos casos em que a PCJ de um Estado costeiro assumir uma extensão de até
200 m.m., o conceito de ZEE é mais abrangente e, implicitamente, engloba o conceito
de PCJ. Da definição de PCJ, deduz-se que a extensão mínima da PCJ brasileira será de
200 m.m., e, neste caso, coincidirá com a ZEE brasileira.

Na PCJ, segundo a CNUDM, o Estado costeiro exerce direitos de soberania para


fins de exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais e esses direitos são
exclusivos, ou seja, nos termos normatizados, se o Estado costeiro não explora a
plataforma continental ou não aproveita os recursos naturais da mesma, ninguém
pode empreender estas atividades sem o expresso consentimento desse Estado.
(CNUDM, art. 77, par. 2).

Os recursos naturais da PCJ compreendem:

os recursos minerais e outros recursos não vivos do leito do mar e subsolo


bem como os organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é,
3
Na Margem Nordeste Brasileira, a PCG tem largura, em geral, inferior a 30 m.m., o que não ocorre no
caso argentino da plataforma das Malvinas/Falklands, onde a PCG ultrapassa as 350 m.m.
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Talude continental é a escarpa do relevo submarino que mergulha do limite (quebra) da PCG para os
fundos ou abismos oceânicos (planície abissal)
5
Elevação continental é a região do relevo submarino relativamente plana e de pequena declividade
que une o talude continental à planície abissal, que une o talude continental à planície abissal, que
corresponde aos chamados fundos ou abismos oceânicos.

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aquelas que no período de captura estão imóveis no leito do mar ou no seu
subsolo ou só podem mover-se em constante contato físico com esse leito
ou subsolo." (CNUDM, art. 77, par. 4).

Critérios para a determinação da plataforma continental nos termos da


CNUDM, a plataforma continental:

A margem continental compreende o prolongamento submerso da massa


terrestre do Estado costeiro e é constituída pelo leito e subsolo da
plataforma continental, pelo talude e pela elevação continental. Não
compreende nem os grandes fundos oceânicos, com as suas cristas
oceânicas, nem o seu subsolo. (art 76. §3º, CNUDM).

A definição jurídica de plataforma continental (PCJ) é um tanto complexa e


possibilita distintas interpretações do seu enunciado. Nessa definição (CNUDM, art.76,
§1º), o termo margem continental é empregado no sentido fisiográfico ou
geomorfológico (MCG).

A determinação do limite exterior da PCJ de um Estado costeiro é obtida pela


utilização integrada dos critérios de delimitação da margem continental jurídica (MCJ)
conceito implicitamente embutido no parágrafo 4º do artigo 76 da CNUDM com os
critérios de restrição da máxima extensão da PCJ (CNUDM, art. 76, par.5).

Nos termos do parágrafo 4º do artigo 76, o Estado costeiro deve estabelecer o


bordo exterior da MCJ, quando a MCG se estender além das 200 m.m., por intermédio
de:

a) uma linha unindo pontos nos quais a espessura das rochas sedimentares
seja pelo menos 1% da distância mais curta entre esse ponto e o pé do talude
continental;
b) uma linha unindo pontos fixos situados a não mais de 60 milhas
marítimas do pé do talude continental.

Verifica-se que o pé do talude continental é a feição de referência dos dois


critérios de determinação da MCJ. Ainda de acordo com o parágrafo 4º, esta feição é
definida como: Salvo prova em contrário, o pé do talude continental deve ser
determinado como o ponto de variação máxima do gradiente na sua base.

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Uma vez determinado o bordo exterior da MCJ por qualquer dos critérios
retromencionados, o parágrafo 5º do artigo 76 estabelece que: Os pontos fixos que
constituem a linha dos limites exteriores da plataforma continental no leito do mar,
devem estar situados a uma distância que não exceda 350 milhas marítimas da linha
de base a partir da qual se mede a largura do mar territorial ou a uma distância que
não exceda 100 milhas marítimas da isóbata de 2500 metros, que é uma linha que une
profundidades de 2500 metros.

O limite da PCJ além das 200 m.m. será traçado unindo, mediante linhas retas,
que não excedam 60 milhas marítimas, pontos fixos definidos por coordenadas de
latitude e longitude. (CNUDM, art. 76, § 7º).

Os limites da plataforma continental estabelecidos pelo Estado costeiro com


base nessas recomendações serão definitivos e obrigatórios. (CNUDM, art. 76, § 8),
devendo o Estado costeiro depositar junto ao Secretário Geral das Nações Unidas
mapas e informações pertinentes, incluindo dados geodésicos, que descrevam
permanentemente os limites exteriores da sua plataforma continental. O Secretário
Geral deve dar a esses documentos a devida publicidade. (CNUDM, art. 76, § 9).

O Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) é o


programa do Governo brasileiro que tem por objetivo determinar o limite da
plataforma continental além das 200 m.m., nos termos em que a mesma é definida no
artigo 76 da CNUDM.

ECONOMIA AZUL NA FORMAÇÃO DO PIB BRASILEIRO

De acordo com a Marinha do Brasil (MB), a Amazônia Azul é entendida como


“um conceito político-estratégico que abrange a região que compreende a superfície
do mar, águas sobrejacentes ao leito do mar, solo e subsolo marinhos contidos na
extensão atlântica que se projeta a partir do litoral até o limite exterior da Plataforma
Continental brasileira. Ela deve ser interpretada sobre quatro vertentes: econômica,
científica, ambiental e da soberania”, remetendo, ainda, “à importância do Poder
Marítimo ao Brasil”. Nesse contexto, apresentam-se diferentes possibilidades de

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exploração dos recursos não apenas no espaço marítimo, mas também em terra, por
intermédio de diferentes atividades econômicas relacionadas ao mar. Embora não seja
objeto, cabe mencionar a importância do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(Lei n o 7.661, de 16 de maio de 1988).

Ressalta-se que a faixa de litoral do Brasil abriga treze capitais e mais de 30


milhões de habitantes (IBGE, 2019). Entre as 26 unidades federativas (UFs) do país,
apenas nove não possuem acesso ao mar, o que reforça a grande necessidade de
coordenação adequada e suficiente entre os entes federativos, no que concerne à
construção de políticas públicas e ao tratamento dessa agenda. Pelas águas
jurisdicionais brasileiras (AJB), transitam mais de 90% de todo o comércio exterior
brasileiro, de acordo com a Marinha do Brasil.

Giram em torno do mar brasileiro a exploração de petróleo e gás natural (P&G),


incluindo-se as reservas minerais na camada do pré-sal; a indústria naval; as atividades
portuárias; a navegação; a pesca e a aquicultura; a biotecnologia; a mineração
marinha; os esportes aquáticos; as comunicações com outros continentes por
intermédio de cabos submarinos; a energia renovável; e o turismo, o que abrange
navios de cruzeiro, hotelaria, restaurantes, bares e lazer náutico entre outros exemplos,
impactando a economia, a sociedade, o meio ambiente, a infraestrutura e os
empregos.

A relação entre o mar e a economia consolida-se nesse ambiente, reforçando


sua importância estratégica para o país. Mostra-se, portanto, como altamente
promissora uma visão para o mar como fonte de crescimento econômico, com base no
uso sustentável dos recursos vivos e não vivos nestes presentes e também nos diversos
benefícios para o país e, em particular, para as regiões litorâneas. A partir de novas
tecnologias, identifica-se no oceano uma nova fronteira econômica, no contexto da
chamada “economia azul”. Sendo assim, a exploração sustentável das potencialidades
do mar, especialmente no contexto das ações antrópicas nos oceanos e do crescente
fenômeno da Revolução Industrial – ou industrialização – dos oceanos, demanda o
desenvolvimento de políticas públicas específicas e, também, investimentos mais
robustos em ciência, tecnologia e inovação.

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A economia do mar no Brasil contempla atividades econômicas que apresentam
influência direta do mar, incluindo-se as atividades econômicas que não têm o mar
como matéria-prima, mas que são realizadas nas suas adjacências. A abordagem
envolve aspectos das atividades econômicas marítimas (diretamente relacionadas ao
mar), enquanto considera o conjunto das atividades econômicas desenvolvidas
(indiretamente relacionadas ao mar) nas cidades brasileiras. Ao longo dessa definição,
obtém-se uma abordagem geral da economia do mar, acordando as características
geográficas e econômicas, que tem entre os estados litorâneos os maiores
contribuintes em termos de PIB para a economia nacional – grande parte da atividade
industrial desenvolve-se nas cidades à beira-mar.

Esse tamanho, misturado com uma grande Zona Econômica Exclusiva do país
para atividades no mar, representam um potencial significativo para o setor no
Brasil, por mais que ele não necessariamente seja concretizado.

Estimativas, indicam que a economia marítima equivaleu a cerca de 19% do


PIB brasileiro em 2019, ou cerca de R$ 1,3 trilhão. Contudo, a dificuldade em estimar
o tamanho do PIB do mar no Brasil está em definir exatamente quais atividades
entram ou não nele. Em cidades costeiras, por exemplo, a localização próxima ao
mar valoriza imóveis ou redes hoteleiras, e esse benefício pode ser considerado um
elemento da economia marítima.

Por isso, o PIB do mar englobando atividades mais indiretas sempre será
maior que as diretas. O Brasil tem uma zona costeira com forte concentração
industrial, no litoral ou perto, e muitas regiões metropolitanas também em zonas
litorâneas, isso faz com que a economia do mar considerando tudo isso seja mais
alta.

A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

Aproximadamente dez anos após as primeiras descobertas nas regiões da


plataforma continental, a Petrobras descobriu o seu primeiro campo gigante na região

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do talude continental, em lâmina d’água maior de 700 metros, abrindo desta forma
uma nova fronteira exploratória e um novo patamar tecnológico de produção de
hidrocarbonetos. A produção destes campos é um processo dispendioso e que requer
uma tecnologia específica e precisa devido aos riscos ambientais envolvidos.
Entretanto, os volumes de óleo encontrados nos campos de água profunda justificam o
desenvolvimento desta nova tecnologia de produção e hoje a Petrobras tem
completado rotineiramente poços em lâminas d’água profundas, com poços
produtores situados em lâminas d’água maiores que 1.870 m e poços exploratórios
situados em profundidades próximas de 2.800 metros.

A produção destes campos requer também um bom conhecimento das


condições ambientais e de estabilidade do subsolo marinho, onde se assentarão todos
os equipamentos de extração de petróleo. Condições de mar, força e direção das ondas
e correntes também devem ser precisamente conhecidas, bem como a circulação
submarina, para que operações seguras de produção possam ser executadas. A
extensão ou continuidade do território brasileiro em direção ao Oceano Atlântico foi
delimitada com acurácia através de um grande projeto conduzido pela Marinha do
Brasil e pela Petrobras, segundo os critérios estabelecidos pela Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar.

O Plano de Levantamento de Plataforma Continental Brasileira (Projeto LEPLAC)


objetiva estabelecer a área oceânica além do limite marítimo das 200 milhas da Zona
Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira, na qual, segundo os termos da convenção, o Brasil
exercerá direitos exclusivos de soberania para a exploração e o aproveitamento de
recursos naturais do leito marinho e do subsolo desta área. Por ser o petróleo um
recurso estratégico, o conhecimento do potencial petrolífero do território brasileiro
deve ser buscado em seu maior grau de precisão possível.

As margens continentais correspondem à transição entre a crosta continental e


a oceânica. São regiões onde espessos pacotes sedimentares podem ser encontrados,
e como o petróleo é gerado e acumulado nestas rochas, as margens possuem grande
potencial petrolífero. A soberania nesta região é importante para o Brasil e o critério
estabelecido pelas Nações Unidas leva em consideração a espessura sedimentar
existente na sua extremidade mais afastada do território emerso. A espessura

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sedimentar é obtida através de levantamentos sísmicos. A exploração e a produção de
petróleo são atividades que requerem extremo cuidado em relação à preservação
ambiental. A Petrobras, através de seus diversos órgãos operacionais e de seu centro
de pesquisas, desenvolveu procedimentos e tecnologias para evitar, detectar e
minimizar danos ao meio ambiente causados por acidentes em suas operações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de mar territorial é o de maior amplitude, dos que se referem à


utilização do mar pelos Estados costeiros. Por ele, se afirma, que uma faixa de mar
contígua ao território do Estado, é parte integrante do território e, como tal, sujeita à
soberania do Estado.

O mar territorial é a parte do território do Estado que avança pelo mar. Por tal
motivo, todas as normas relativas ao território têm aplicação ao mar territorial, não
havendo qualquer distinção, do ponto de vista jurídico, entre a parte terrestre e a
parte marítima do território de um Estado. Dessa maneira, quando ocorre a ampliação
do mar territorial de um Estado isso quer dizer que o próprio território desse Estado é
que foi aumentado.

Registre-se que a Convenção assegurou ao Estado litorâneo direitos soberanos,


no fundo do mar, além das 200 milhas e até o limite exterior da margem continental.

O limite de 200 milhas decorrem de um conjunto de fatores político-


diplomáticos, econômicos, de segurança e internos que se constituíram em forças
profundas que, fatalmente, contribuíram para a expansão da fronteira marítima,
possibilitando investimentos e desenvolvimento ao país, como os realizados pela
Petrobras e Marinha do Brasil que executaram um extenso trabalho, com o Projeto
LEPLAC, visando ao Brasil exercer sua hegemonia na exploração e aproveitamento dos
recursos naturais do leito marítimo e do subsolo ao longo de seu extenso território
submerso, gerando acréscimo econômico significativo ao PIB brasileiro, afirmando,
dessa maneira, a autonomia decisória do governo, acima de tudo, soberana.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, G. L. C. Revista Brasileira de política internacional, jun/1999. Disponível


em: https://doi.org/10.1590/S0034-73291999000100005. Acesso em 16/04/2023.

DALLARI, D. de A. (1974). O mar territorial do Estado brasileiro. Revista Da Faculdade


De Direito, Universidade De São Paulo, 85-123. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/66716. Acesso em 17/04/2023.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília: Rio de Janeiro. Ipea, 2022.
Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11092/1/td_2740.pdf.
Acesso em 17/04/2023.

SOUZA, J. M. Revista Brasileira de Geofísica, mar/ 1999. Disponível em:


https://doi.org/10.1590/S0102-261X1999000100007. Acesso em 16/04/2023.

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