Aula Teórica 08/12/2023 Sumário ELEMENTOS CONSTITUVOS DOS ESTADOS O Domínio marítimo O Domínio aéreo Domínio Marítimo O Domínio Marítimo do Estado abrange as Águas Interiores, o Mar Territorial, a Zona Contígua, a Plataforma Continental, a Zona Económica Exclusiva e o Alto Mar. Águas Interiores - São as águas situadas entre a linha da maré baixa e o território terrestre, ou seja as águas dos portos, dos golfos, das baías, dos estuários, dos estreitos e dos canais. As águas interiores constituem território estadual. O Estado exerce a sua total soberania nessas águas, com excepção dos navios de guerra que gozam de imunidade de jurisdição. As autoridades locais não podem entrar em tais navios ou praticar qualquer acto sem autorização do respectivo capitão, bem como não pode julgar os membros da tripulação por actos praticados a bordo ou em terra. Os navios de guerra só podem entrar em águas interiores mediante autorização das autoridades dos Estados. Mar Territorial - Zona marítima adjacente às costas do Estado, que vai desde a linha da maré baixa, até às 12 milhas marítimas. No Mar Territorial, o Estado exerce a sua soberania quase completa, na medida em que goza dos direitos exclusivos de pesca, de navegação e de regulamentação alfandegária. No entanto, no Mar Territorial, a soberania dos Estados sofre algumas limitações no que se refere ao direito de passagem inofensiva. A Convenção de Genebra, de 1958, admite que todos os navios, mercantes e de guerra, têm direito de passagem inofensivo. O Estado de Cabo Verde no Mar Territorial, goza de direito exclusivo de pesca, exploração e extracção do leito e subsolo, de cabotagem, de regulamentação, de exercício da jurisdição penal. Zona Contígua - Convenção de Genebra de 1958. O direito dos Estados costeiros a uma zona contígua foi consagrado nesta Convenção que não reconheceu aos Estados um direito de pesca, segurança e neutralidade mas uma zona contígua em matéria aduaneira, sanitária e de emigração. A Convenção de Montego Bay, de 1982, fixa a largura da zona contígua em 24 milhas marítimas. Plataforma Continental - A Convenção de 1958, define Plataforma Continental, no art.º 1.º, como o leito do mar e o subsolo das regiões submarinas adjacentes às costas mas situadas fora do mar territorial, até à profundidade de 200 metros ou até ao ponto onde a profundidade das águas suprajacentes permita a exploração dos recursos naturais das ditas regiões. Nesta área o Estado pode explorar os recursos minerais e outros, do leito do mar e subsolo, bem como os organismos vivos. Também nesta área, os Estados podem colocar oleodutos e cabos submarinos. A Convenção de Montego Bay, de 1982, estabelece a largura da Plataforma Continental em 200 milhas marítimas. Se o prolongamento natural do território não chega às 200 milhas, o Estado ribeirinho pode, no entanto, exercer os seus direitos até às 200 milhas e se este prolongamento ultrapassar as 200 milhas, o Estado ribeirinho passa a ser titular desses direitos em toda essa zona, prevalecendo o critério geológico. Zona Económica Exclusiva - É uma zona situada para além do mar territorial, com uma largura de 200 milhas, fixadas a partir das linhas de base que servem igualmente para mudar a largura do mar territorial. Nesta zona, o Estado exerce os seus direitos de exploração e extracção de recursos biológicos e não biológicos do fundo marinho, subsolo e águas supra adjacentes, bem como pode exercer outras actividades tendentes à exploração da Zona Económica para fins económicos, como a produção de energia a partir da água e dos ventos. A enumeração de todos estes direitos acaba por tornar inútil o conceito de Plataforma Continental, pelo menos quanto aos Estados que possuam estas duas zonas marítimas. Nesta zona, o Estado ribeirinho pode determinar o volume das capturas autorizadas, impondo a obrigação de não sobre explorar a zona económica. A Convenção de Montego Bay, regula a recolha de tais recursos, preconizando que o Estado ribeirinho determine a sua capacidade de pesca, concedendo por meio de Acordo, a outros Estados o direito de pesca dos excedentes, até ao limite das capturas autorizadas. Alto Mar - É formado por todas as partes do mar que não pertençam ao mar territorial e à ZEE. O alto mar está aberto a todas as nações e nenhum Estado pode legitimamente pretender qualquer parte dele para a sua soberania, o que significa que neste domínio vigora o principio da liberdade de pesca, exploração e extracção de recursos marinhos. O Estado sem litoral pode usufruir de direitos em alto mar. Quanto ao regime jurídico dos navios em alto mar, cada navio está sujeito à jurisdição do Estado do pavilhão que ele arvora. Esta regra sofre, no entanto, algumas excepções, conforme o art.º 212.º da Convenção de Genebra. Um navio mercante pode ser objecto de busca no caso de haver fortes suspeitas de tráfico de escravos e pirataria para contrabando. Quando a incidentes de navegação com navios de diferentes nacionalidades, o Tribunal Penal Internacional de Justiça, no caso Lotus, de 1926, considerou que não havia qualquer impedimento em que o Estado pudesse prosseguir um acto cometido no alto mar, desde que o navio ou a pessoa se encontre no seu território. O Alto Mar é património comum da humanidade. Domínio Aéreo Cada Estado exerce a sua soberania sobre o espaço aéreo supra adjacente ao seu domínio terrestre e ao mar territorial. A soberania do Estado é completa e exclusiva. Daí que um avião só pode sobrevoar um outro Estado com autorização. A Convenção mais importante sobre direito aéreo é a Convenção sobre aviação civil internacional, de Chicago, 1944. Além desta Convenção, existem vários Acordos bilaterais e multilaterais que determinam as regras. O limite vertical é até à atmosfera, regra geral, conforme Resolução da ONU, de 1962. CASO PRÁTICO Cabo Verde, celebrou um tratado com a Espanha tendo como objecto a aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade cabo-verdiana, por parte dos emigrantes cabo-verdianos residentes neste país (Espanha). O tratado é aprovado pelo Governo através de um decreto- legislativo, pois, considerava o Primeiro-ministro, que qualquer norma de DIP, para poder vigorar no nosso ordenamento jurídico, e assim ser invocado nos nossos tribunais, teria de ser transformado num decreto legislativo ou numa lei. Veio-se a descobrir que, o representante de C. Verde nas negociações só assinou o tratado porque foi ameaçado com a publicação de fotos suas com o amante. Tempos depois, Cabo Verde não autorizou um navio cruzeiro de bandeira espanhola, rumo ao Brasil, a atravessar as nossas águas territoriais pelo facto de cinco das suas tripulantes serem lésbicas, determinando que, caso atravessase, o cruzeiro seria bombardeado com armas químicas. – Comente a afirmação do Primeiro-ministro de C. Verde: “qualquer norma de DIP, para poder vigorar no nosso ordenamento jurídico e assim ser invocado nos nossos tribunais teria de ser transformado num decreto-legislativo ou numa lei”? Justifique. – Cabo Verde poderia desvincular-se do mesmo tratado? Se sim, em que termos? – Analise convenientemente a atitude de C.Verde para com o navio cruzeiro espanhol. – Perante a atitude de C. Verde, a Espanha recorre diretamente ao Tribunal Penal Internacional. Poderia faze-lo? Justifique. UM