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Direito Internacional do Mar

2022

Amílcar Mário QUINTA


amilcar.quinta@ucan.edu
PLANO DA APRESENTAÇÃO
❑ Introdução
❑ Linhas de Base
❑ Águas interiores
❑ Baías
❑ Estados sem Litoral
❑ Estados Arquipélagos
❑ Mar Territorial
❑ Zona Contígua
❑ Plataforma Continental
❑ Zona Económica Exclusiva
❑ Alto Mar.
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO (2)
❑ Dados Relevantes:
▪ 71% da superfície da terra é coberta pelos oceanos
▪ 96,6% da quantidade total de água da terra é dos
oceanos
▪ 1 milha marítima (naútica) = 1,852 metros
▪ Representação da milha náutica:
❖ mn ou m.n. (em português e noutras línguas latinas)
❖ nm ou NM (em inglês)
❖ sm (em alemão)
▪ + 60% do PIB angolano advém da exploração do
petróleo.
INTRODUÇÃO (3)
❑ Funções do Mar:
▪ Meio de comunicação
▪ Fonte de recursos
❑ Direito Internacional do Mar: Sistema de normas que
regula o regime jurídico aplicável aos espaços marítimos
❑ Objecto do Direito Internacional do Mar:
▪ Oceanos:
❖ A superfície dos oceanos
❖ O leito e subsolo dos oceanos
❖ As águas e recursos dos oceanos
❖ O espaço aéreo sobrejacente aos oceanos
▪ Acesso aos oceanos
▪ Delimitação de fronteiras.
INTRODUÇÃO (4)
❑ Regulamentação internacional do Direito do
Mar:
▪ I Conferência sobre o Direito do Mar (Genebra,
1958)
❖ Convenção de Genebra sobre o Mar Territorial e a
Zona Contígua
❖ Convenção de Genebra sobre a Pesca e os
Recursos Biológicos do Alto Mar
❖ Convenção de Genebra sobre a Plataforma
Continental
❖ Convenção de Genebra sobre o Alto Mar.
INTRODUÇÃO (5)
❑ Regulamentação internacional do Direito
do Mar:

▪ II Conferência sobre o Direito do Mar


(Genebra, 1960)

▪ III Conferência sobre o Direito do Mar


(1973/1982)
❖ Convenção das Nações Unidas o sobre o
Direito do Mar (10/12/1982)
o Ratificada por Angola (05/12/1990).
INTRODUÇÃO (6)
❑ Regulamentação interna do Direito do
Mar:
▪ Lei sobre os Espaços Marítimos de Angola
(Lei n.º 14/10, de 14 de Julho)
▪ Lei que Define as Linhas de Base para a
Delimitação e Demarcação dos Espaços
Marítimos de Angola (Lei n.º 17/14, de 29 de
Setembro)
▪ Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos (Lei n.°
6-A/04, de 8 de Outubro).
LINHAS DE BASE
❑ Definição: Pontos a partir dos quais se medem as águas
interiores e a largura do mar territorial e demais espaços
marítimos
▪ Linha de base normal: A linha de baixa-mar ao longo da
costa tal como indicado nas cartas marítimas de grande
escala, reconhecidas oficialmente pelo Estado costeiro. (Art.
5.º CNUDM)
▪ Linha de base recta: Conjunto de linhas rectas que unem
os pontos mais distantes das ilhas, deltas e de outros
acidentes naturais ao longo de uma linha da costa que seja
muito instável. (Art. 1.2 CNUDM)
❖ Usada nos locais em que a costa apresenta recortes
profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de
ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata. (Art.
1.1. CNUDM)
ÁGUAS INTERIORES
❑ Definição: Águas situadas no interior das linhas de
base do mar territorial (Art. 8.º CNUDM)

▪ Composição:
❖ Baías
❖ Portos
❖ Rios
❖ Lagos
❖ Lagoas
❖ Canais
❖ Águas nave-
❖ gáveis.
ÁGUAS INTERIORES (2)
❑ Regime jurídico:
▪ Regra: Soberania plena do Estado costeiro:
❖ Direito de pesca
❖ Liberdade de navegação.
▪ Acesso às águas interiores:
❖ Regra: Estado designa quais estão abertas à
navegação internacional
❖ Prática: Estados permitem acesso à determinados
portos
o Ex. Convenção e Estatuto de Genebra sobre o Regime
Internacional dos Portos (1923).
❖ Acesso aos rios, lagos, lagoas e canais navegáveis
pode ser estabelecido por tratado
o Ex. Tratado sobre o Rio Danúbio (1921).
ÁGUAS INTERIORES (3)
❑ Regime jurídico (Cont.):
▪ Saída das águas interiores:
❖ Regra: Presunção de autorização da saída das
águas interiores
❖ Excepções: Estados podem deter navios
estrangeiros se:
o Não estiverem em condições satisfatórias de
navegabilidade
o Tiverem causado ou venham a causar prejuízos ao
mar territorial ou outro espaço marítimo sob
jurisdição do Estado costeiro
o Sejam objecto de acções cíveis
o Tenham violado normas alfandegárias.
ÁGUAS INTERIORES (4)
❑ Jurisdição nas águas interiores:
❑ Regra: Entrada nas águas interiores implica
sujeição à soberania territorial
▪ Excepção: Navios que gozem de imunidade:
❖ Navios de guerra
❖ Navios do Estado utilizados para fins não
comerciais (Art. 32.º e 236.º da CNUDM)
▪ Prática: Não exercício de jurisdição sobre
questões internas do navio estrangeiro
o Excepção: Segurança e boa ordem.
BAÍAS
BAÍAS
❑ Definição:
Reentrância bem marcada, cuja penetração
em terra, em relação à largura da sua entrada,
é tal que contém aguas cercadas pela costa e
constituí mais do que uma simples inflexão ao
longo da costa.
Contudo, uma reentrância não será considerada
uma baía se a sua superfície não for igual ou
superior à de um semicírculo que tenha por
diâmetro a linha traçada através da entrada da
referida reentrância. (Art. 10. 2 CNUDM)
BAÍAS (2)
❑ Meios de medição da baía:
1. Definição de um semicírculo que tenha como diâmetro a
linha traçada entre os pontos naturais de entrada da
reentrância, sendo calculada a área do semicírculo
▪ Onde, devido a presença de ilhas,
a reentrância tenha mais do que uma
entrada, o diâmetro do semicírculo é a
soma do cumprimento das linhas que fecham as
várias entradas
▪ Onde a linha traçada entre os pontos
naturais de entrada da reentrância ex-
ceda as 24 mm, é traçada, no inte-
rior da baía, uma linha de base recta
com aquela extensão de modo a encerrar a maior superfície de água
possível.
BAÍAS (3)
❑ Meios de medição da
baía (Cont.):
2. Cálculo da superfície da
reentrância que vai desde a
linha de baixa-mar ao longo da
costa da reentrância e a linha
que une os pontos naturais de
entrada da reentrância

▪ Havendo ilhas no interior


daquela superfície, elas farão
parte da superfície total da
água total da reentrância.
BAÍAS (4)
❑ Meios de medição
da baía (Cont.):
3. Definição se a
superfície da reentrância
é igual ou superior
ao semicírculo.
BAÍAS (5)
❑ Excepções:

▪ Baías históricas
▪ Baías cujas costas pertencem a mais do que
um Estado
▪ Aplicação do
sistema de linhas de
base rectas.
ESTADOS SEM LITORAL
ESTADOS SEM LITORAL
❑ Gozam do direito:
▪ À liberdade de alto mar;
▪ Ao património comum da humanidade;
▪ Ao excedente dos recursos vivos da ZEE (Art. 69.1 CNUDM);
▪ Possuir navios arvorando a sua bandeira.
o Estes navios gozam do mesmo tratamento que é
concedido aos demais navios estrangeiros. (Art. 131
CNUDM).
❑ Gozam de liberdade de trânsito , através do território dos
Estados de trânsito, por todos os meios de transporte, cujos
termos são fixados por acordo. (Art. 125.1&2 CNUDM);
❑ Estados africanos sem acesso ao mar: Botswana, Burkina
Faso, Burundi, Etiópia, Lesoto, Malawi, Niger, Rep. Centro
Africana, Ruanda, Sudão do Sul, Swasilândia, Tchad,
Uganda, Zâmbia e Zimbabwe.
ESTADOS – ARQUIPÉLAGOS. ÁGUAS
ARQUIPELÁGICAS
ESTADOS - ARQUIPÉLAGOS. ÁGUAS
ARQUIPELÁGICAS
❑ Definição: Águas situadas no interior das linhas de base rectas
até 100 mn unindo os pontos mais extremos das ilhas mais
exteriores do Estado - Arquipélago. (Art. 47. 1 & 2 CNUDM);

❑ Regime jurídico das águas arquipelágicas: Soberania do


Estado – Arquipélago, independentemente da profundidade
das águas arquipelágicas ou da distância da costa.
▪ Isto é extensivo ao espaço sobrejacente e ao leito e
subsolo das águas arquipelágicas. (Art. 49.1 & 2 CNUDM);

❑ Excepção: Direito de passagem inofensiva (Art. 52.º


CNUDM);
▪ O Estado – Arquipélago deve designar rotas marítimas e rotas
áreas sobrejacentes às aguas arquipelágicas. (Art. 53.º
CNUDM);
▪ A passagem de navios e aeronaves estrangeiras deve ser
rápida e contínua. (Art. 53.º CNUDM).
MAR TERRITORIAL
MAR TERRITORIAL
❑ Definição: Zona do mar adjacente a costa do Estado costeiro e com
uma largura não superior a 12 mn medidas a partir das linhas de
base.
❑ Regime jurídico: Mar territorial é assimilado ao território terrestre do
Estado costeiro, vigorando nele a sua soberania (com algumas
excepções).
▪ O Estado costeiro detem direitos exclusivos no mar territorial, no que
toca à :
o Pesca;
o Leito e subsolo do mar;
o Espaço aéreo sobrejacente.
▪ No mar territorial, o Estado costeiro regula:
o A cabotagem;
o A navegação;
o Leis e regulamentos sanitários;
o Leis e regulamentos regulamentos alfandegários;
o Leis e regulamentos regulamentos migratórios.
MAR TERRITORIAL
❑ Regime jurídico (Cont):
▪ O Estado costeiro detem jurisdição concorrente para julgar
crimes cometidos a bordo de navios estrangeiros que não
gozem de imunidade e que se encontrem no seu mar territorial;
▪ O Estado costeiro detem jurisdição sobre assuntos de natureza
civil por obrigações contraídas pelo navio, sua tripulação ou
passageiros aquando da sua estadia nas suas águas interiores.
❑ Excepção: Passagem inofensiva
▪ Definição: navegação no mar territorial visando atravessá-lo sem
entrar nas águas interiores, sair destas águas e entrar para as
águas interiores;
▪ A navegação deve ser rápida e contínua;
▪ A navegação é inofensiva se não for prejudicial à segurança e
boa ordem do Estado costeiro;
▪ Por razões de segurança, o Estado costeiro pode suspender o
direito de passagem inofensiva.
MAR TERRITORIAL
❑ Violação do Direito de Passagem Inofensiva - A passagem de um navio estrangeiro será
considerada prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Estado costeiro, se esse
navio realizar, no mar territorial, alguma das seguintes actividades:
▪ Qualquer ameaça ou uso da força contra a soberania, a integridade territorial ou a
independência política do Estado costeiro ou qualquer outra acção em violação dos
princípios de direito internacional enunciados na Carta das Nações Unidas;
▪ Qualquer exercício ou manobra com armas de qualquer tipo;
▪ Qualquer acto destinado a obter informações em prejuízo da defesa ou da segurança do
Estado costeiro;
▪ Qualquer acto de propaganda destinado a atentar contra a defesa ou a segurança do Estado
costeiro;
▪ O lançamento, pouso ou recebimento a bordo de qualquer aeronave;
▪ O lançamento, pouso ou recebimento a bordo de qualquer dispositivo militar;
▪ O embarque ou desembarque de qualquer produto, moeda ou pessoa com violação das leis
e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários do Estado costeiro;
▪ Qualquer acto intencional e grave de poluição contrário à presente Convenção;
▪ Qualquer actividade de pesca;
▪ A realização de actividades de investigação ou de levantamentos hidrográficos;
▪ Qualquer acto destinado a perturbar quaisquer sistemas de comunicação ou quaisquer
outros serviços ou instalações do Estado costeiro;
Qualquer outra actividade que não esteja directamente relacionada com a passagem.
ZONA CONTÍGUA
ZONA CONTÍGUA
• Definição: Zona do mar contígua ao mar territorial do
Estado costeiro e com uma largura não superior a 24 mn
medidas a partir das linhas de base;
• Regime jurídico: O Estado costeiro pode tomar medidas
de fiscalização destinadas à:
➢ Evitar as infracções às suas leis e regulamentos de
natureza:
❑ Aduaneira;
❑ Fiscal;
❑ Migratória ou
❑ Sanitária.
➢ Reprimir as infracções à essas leis e regulamentos no
seu território ou no seu mar territorial.
Ver Art. 33.º
PLATAFORMA CONTINENTAL
PLATAFORMA CONTINENTAL
Geologia v. Direito:
• A PC representa 7,5% dos oceanos;
• O prolongamento submerso da massa continental do
Estado costeiro é feito gradualmente através da margem
continental;
• A Margem Continental é
constituída por três regiões:
➢ A Plataforma Continental –
Situa-se entre os 150 e 200
metros de profundidade. Esta é a
PC em sentido geológico;
➢ O Talude Continental;
➢ A Elevação Continental - Situa-se entre os 1500 e 5000 metros de
profundidade. Para além dela se encontram os Fundos Marinhos;
A largura da PC não é uniforme, situação que se reflecte no seu

PLATAFORMA CONTINENTAL
Antecedentes à Convenção de Montego Bay:
• Descoberta da possibilidade de exploração de
hidrocarbonetos na PC, na 2ª metade da década de 40;
• A Proclamação de Truman sobre a Plataforma
Continental (1945):
“O Governo dos Estados Unidos considera os recursos
naturais do leito e subsolo da PC do alto mar, mas
contíguos à costa dos Estados Unidos, como sendo
parte integrante dos Estados Unidos e sujeitos à sua
jurisdição e controlo.”
• Similares reclamações de outros Estados, o que cimentou
a prática dos Estados sobre a PC.
• Codificação do regime jurídico da PC: Convenção
sobre a Plataforma Continental (CPC ), de 1958.
PLATAFORMA CONTINENTAL (Cont.)
Convenção sobre a Plataforma Continental

• Definição: O leito e o subsolo das regiões


submarinas adjacentes às costas mas
situadas fora do mar territorial;
• Largura da PC:
➢ Até uma profundidade de 200 m;
➢ Para além dessa profundidade, até ao ponto
onde a profundidade das águas
superjacentes permita a exploração dos
recursos naturais.
Ver. Art. 1.º da CPC
PLATAFORMA CONTINENTAL (Cont.)
Convenção de Montego Bay
• Definição: O leito e o subsolo das áreas submarinas que
se extendem além do mar territorial em toda a extensão
do prolongamento natural do território terrestre até ao
bordo exterior da margem continental;
• Largura da PC:
➢ 200 mn nos casos em que o bordo exterior da margem
continental não atinja essa distância;

➢ 350 mn nos casos em que o bordo exterior da margem


continental vai para além dessa distância;
Os recursos não vivos explorados para além das 350
➢ mm, estão sujeitos à um regime especial (Ver Art.
82.º).
PLATAFORMA CONTINENTAL (Cont.)
Convenção de Montego Bay
• Regime jurídico: O Estado costeiro exerce direitos de
soberania sobre a PC para efeitos de exploração e
aproveitamento dos seus recursos naturais;
• Direitos de soberania exclusivos;
• Direitos de soberania cuja existência não depende de
qualquer declaração expressa;
• Direitos de soberania que não afectam o regime das
águas e do espaço aéreo sobrejacentes a PC.

• Tipologia dos recursos naturais da PC:


➢ Recursos minerais e não vivos;
➢ Recursos ou organismos vivos pertencentes à espécies
sedentárias (N. 4 do Art. 77º).
PLATAFORMA CONTINENTAL (Fim)
• Tipologia de espécies aleóticas:

• Pelágicas: Habitam na superficie das águas do mar.


Ex. carapau e sardinha;
• Demersais: Habitam perto do fundo das águas do mar.
Ex. linguado egaroupa;
• Bénticas: Habitam no fundo das águas do mar.
Ex. caranguejo, raia e peixe espada;
• Anádromas: Habitam no mar mas desovam nos rios.
Ex. salmão. (Ver Art. 66.º da CNUDM)
• Catádromas: Habitam nos rios mas desovam nos mares.
Ex. enguia. (Ver Art. 67.º CNUDM)
➢ NB: Os recursos aleóticos da PC dizem respeito apenas às
espécies bênticas.
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA (ZEE)
• Antecedentes:
➢ Final da década de 40: Emergência do conceito de Plataforma
Continental e de Zona Exclusiva de Pesca (zona adjacente ao
mar territorial em que o Estado costeiro detinha jurisdição em
matéria de pesca);
➢ Reivindicações extravagantes dos Estados da Ámerica Latina,
sobre uma Zona Exclusiva de Pesca de 200 mn;
➢ Fracasso da I e II Conferência das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar, no que toca à definição da largura do mar
territorial;
➢ Reivindicações unilaterais da Islândia e demais Estados, de
uma zona Exclusiva de Pesca (ZEP) superior a 12 mn;
▪ Ver Caso sobre as Pescas (1974);
➢ Interesse dos Estados em desenvolvimento em prevenir a
sobrepesca. Por ex. antes da aprovação da Lei nº 21/92,
Angola tinha uma ZEP de 200 mm.
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA
• Definição: A zona situada para além do mar territorial e a
este adjacente com um limite exterior máximo de 200
mn. Angola tem uma ZEE de 518 433 km²;
• Regime jurídico: O Estado costeiro tem DIREITOS DE
SOBERANIA para a exploração, aproveitamento,
conservação e gestão dos seguintes recursos:
➢ Recursos não vivos, incluindo os do leito e subsolo do
mar;
➢ Recursos vivos, incluindo peixes, crustáceos e plantas;
➢ Outros recursos económicos, tais como a produção de
energia a partir das àguas, das correntes e dos ventos.
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA - Regime Jurídico (I)
• O Estado costeiro tem JURISDIÇÃO em relação as seguintes
actividades:
➢ Colocação e utilização de ilhas artificiais (não têm o estatuto
jurídico de ilhas), instalações e estruturas;
➢ Investigação científica marinha;
➢ Protecção e conservação do ambiente marinho (controlo da
poluição).
• A referência à jurisdição e direitos de soberania do Estado
costeiro na ZEE significa que:
➢ Os direitos do Estado são EXCLUSIVOS e que só ele pode
autorizar e regulamentar as actividades supra mencionadas;
➢ O Estado costeiro pode tomar medidas que sejam
necessárias para garantir o cumprimento da suas leis e
regulamentos vigentes na ZEE, incluindo visita, inspecção,
apresamento e medidas judiciais.
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA - Regime Jurídico (II)
• O exercício dos direitos do Estado costeiro na ZEE,
devem ter em DEVIDA CONTA os direitos dos
demais Estados, costeiros e sem litoral, em relação
às seguintes actividades:
➢ Liberdade de navegação;
➢ Liberdade de sobrevoo nas águas sobrejacentes à
ZEE;
➢ Liberdade de colocação de ductos e cabos
submarinos;
➢ Outros usos internacionalemente lícitos do mar
relacionados as liberdades supra mencionadas;
• Os demais Estado devem ter em DEVIDA CONTA
os direitos do Estado costeiro na ZEE.
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA - Angola

• Ver a Lei 6-A/04, de 8 de Outubro, sobre os


Recursos Biológicos Aquáticos. Publicada no
Diário da República Nº 81, I Série,
Suplemento.
ALTO MAR
Alto Mar
• Definição

➢ Convenção de Genebra sobre o Alto Mar: Todas as


partes do mar que não pertençam ao mar territorial
ou às águas interiores (Ver Art. 1.º).

➢ Convenção de Montego Bay: Alargou este conceito


à ZEE e às águas arquipelágicas, o que resultou na
redução das zonas sujeitas ao regime de Alto Mar
(Ver Art. 86.º).
Alto Mar (2)
• Princípios do Alto Mar
➢ Princípio da liberdade dos mares: O mar,
enquanto via de comunicação, é um “bem
comum”.
➢ Princípio da igualdade de uso: O mar deve estar
aberto à todos os Estados, quer costeiros quer
sem litoral.
➢ Princípio da não interferência: O mar não pode ser
objecto de apropriação exclusiva ou de
reivindicações de soberania por parte de qualquer
Estado. (Ver Art. 89.º CNUDM)
➢ Princípio do respeito pelo Direito Internacional:
O uso comum do mar deve ser objecto de
regulamentação jurídica internacional.
Alto Mar (3)
• Liberdades do Alto Mar
❑ Convenção de Genebra sobre o Alto Mar:
1. Liberdade de navegação;
2. Liberdade de pesca;
3. Liberdade de colocar cabos e oleodutos submarinos;
4. Liberdade de sobrevoo.
Ver Art. 2.º
❑ Convenção de Montego Bay: Acrescenta 2 novas
liberdades:
5. Liberdade de construir ilhas artificiais e outras
instalações;
6. Liberdade de investigação científica marinha.
Ver Art. 87.º
• Liberdade de Navegação
➢ Todos os Estados, quer costeiros quer sem litoral, têm o direito de
fazer navegar no alto mar navios que arvorem a sua bandeira. (Ver
Art. 90.º CNUDM)
➢ A bandeira é, externamente, o vínculo que liga o navio à um
Estado, sendo o fundamento da sua nacionalidade. (Ver Art. 91.º
CNUDM)
➢ O Estado tem o direito de outorgar a sua nacionalidade à navios,
bem como estabelecer os requisitos necessários para a sua
atribuição e registo. (Idem)
➢ Ao atribuir-se a nacionalidade deve existir um vínculo substancial
entre o Estado e o navio. (Idem)
➢ No alto mar os navios estão submetidos à jurisdição exclusiva do
Estado de bandeira.
➢ No alto mar os navios de guerra e navios de Estado destinados a
fins não comerciais, gozam de completa imunidade de jurisdição
em relação à qualquer outro Estado que não seja o da sua bandeira
(Ver Art. 95.º e 96.º CNUDM)
• Liberdade de Navegação: limitações (1)
❑ Pirataria: Todo Estado pode apresar, no alto mar ou em qualquer
outro lugar que não se encontre sob à jurisdição de qualquer
Estado, um navio ou aeronave pirata (ou que esteja em poder de
piratas). (Ver Art. 105.º CNUDM)
➢ POR PIRATARIA ENTENDE-SE:
o um acto ilícito de violência ou de detenção ou todo o acto de
depredação;
o cometido para fins privados, pela tripulação ou passageiros de um
navio ou aeronave privada;
o realizada no alto mar ou em qualquer lugar que não se encontre
sob à jurisdição de qualquer Estado contra um navio ou pessoas
que se encontrem a bordo desse navio (Ver Art. 101.º CNUDM)

➢ O apresamento por motivos de pirataria só pode ser efectuado por


navios de guerra ou aeronaves militares, ou outros navios ou
aeronaves em serviço público e devidamente autorizados para o
efeito (Ver Art. 107.º CNUDM).
• Liberdade de Navegação: limitações (2)

❑ Repressão de práticas hediondas: A necessidade


de repressão destas práticas constituí uma
limitação ao princípio da não interferência e
permite que os navios de guerra, sempre que haja
motivo bastante, possam efectuar o chamado
direito de visita (Ver Art. 110.º CNUDM)
para averiguar se um dado navio se dedica ao:

➢ Tráfico de escravos (Ver Art. 99.º CNUDM);

➢ Tráfico ilícito de estupefacientes e substâncias


psicotrópicas (Ver Art. 108.º CNUDM).
• Liberdade de Navegação: limitações (3)

❑ Violação das leis do Estado costeiro: Caso haja


motivo bastante para crer que um navio tenha
violado as “leis e regulamentos” do Estado
costeiro, a Conv. Montego Bay autoriza que este
possa exercer o chamado direito de perseguição.
(Ver Art. 111.º)

➢ Ver requisitos para o exercício do direito de


perseguição.
• Requisitos para o exercício do direito de perseguição:
1. Que a perseguição inicie quando o navio ou uma das suas
embarcações se encontre nas águas interiores, no mar
territorial, na ZEE ou na plataforma continental do Estado
perseguidor.
2. Que seja efectuada por navios de guerra, aeronaves
militares ou navios e aeronaves afectos ao serviço de um
governo e que estejam para tanto autorizados.
3. Que seja iniciada depois de ter sido emitido sinal de
parar, visual ou auditivo, a uma distância que permita o
navio estrangeiro vê-lo ou ouvi-lo.
4. Que seja contínua e não tenha sido interrompida desde o
seu início nos espaços marítimos supra mencionados e
seguida no alto mar.
5. Que cesse quando o navio estrangeiro entre no mar
territorial do seu próprio Estado ou no de um terceiro
• Liberdade de Pesca
➢ Todos os Estados têm direito a que os seus nacionais
exerçam a pesca no alto mar, sob reserva:
o das suas obrigações convencionais;
o dos direitos (deveres) e interesses dos Estados costeiros
o das disposições relativas à conservação dos recursos
biológicos do alto mar.
(Ver Art. 1.º Conv. sobre a Pesca e Recursos Biológicos do
Alto Mar e Art. 116.º CNUDM)
➢ O estabelecimento da ZEE reduziu significativamente a
importância da liberdade de pesca no alto mar, ao reduzir
o âmbito de aplicação espacial desta liberdade.
➢ A Conv. Montego Bay dispõe sobre o dever de
cooperação dos Estados na conservação e gestão dos
recursos vivos do alto mar . (Ver Art. 118.º)
• Liberdade de Colocar Cabos e Ductos Submarinos

➢ Todos os Estados têm direito de colocar cabos e ductos


submarinos no leito do mar além da plataforma
continental (Art. 112.º.2 CNUDM);
➢ Os Estados não podem impedir a colocação de cabos e
ductos submarinos e que se proceda à sua conservação.
(Art. 79.º.5 CNUDM);
➢ Os Estados devem adoptar legislação que penalize os
seus navios e nacionais que sejam responsáveis pela
ruptura ou danificação de cabos ou ductos submarinos.
(Art. 113.º CNUDM);
➢ Os Estados devem adoptar legislação relativa à
indemnização por perdas ocorridas para evitar
danificações a um cabo ou ductos submarinos (Art. 115º
CNUDM).
• Liberdade de Sobrevoo do Alto Mar

➢ As aeronaves de todos os Estados têm direito de


sobrevoar o alto mar;

➢ A Convenção de Montego Bay não desenvolve a


liberdade de sobrevoo, com excepção do direito de
apresamento em caso de pirataria aérea.(Art. 105.º
CNUDM).
Bibliografia
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GERALDO/CASELLA, PAULO BORBA.- Manual de Direito Internacional Público, 23ª
edição, Editora Saraiva, S. Paulo, 2017.
▪ BACELAR GOUVEIA, JORGE.- Manual de Direito Internacional Público – Uma
Perspectiva de Língua Portuguesa, 5ª edição, Almedina, Coimbra, 2020.
▪ BROWNLIE, IAN.- Princípios de Direito Internacional Público, Gulbenkian,
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▪ FRANÇA VAN-DÚNEM, F. J. D.- Apontamentos de Direito Internacional Público,
(Textos policopiados), Luanda.
▪ GONÇALVES PEREIRA, ANDRÉ/QUADROS, FAUSTO.- Manual de Direito
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2015.
▪ LUKAMBA, PAULINO.- Direito Internacional Público, Escolar Editora, 4ª edição,
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▪ MACHADO, JÓNATAS E. M.- Direito Internacional. Do Paradigma Clássico ao
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▪ MIRANDA, JORGE.- Direito Internacional Público, Principia, S. João do Estoril, 6.ª
edição revista e actualizada, 2016.
▪ NGUYEN QUOC DINH/ DAILLIER, PATRICK/ PELLET, ALAIN.- Direito
Internacional Público, Gulbenkian, Lisboa, 1999.
▪ REZEK, FRANCISCO J.- Direito Internacional Público - Curso Elementar, 17.ª
edição, Editora Saraiva, 2018.
Direito Internacional do Mar

2022

Amílcar Mário QUINTA


amilcar.quinta@ucan.edu

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