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Nome: Vinicius dos Santos Lodetti

RA: 11201812380
Ensaio Final de História do Terceiro Mundo
Professor: Mohammed Nadir
Turma: Manhã

Timor Leste: Os impactos da ocupação indonésia

Colonização
A ilha de Timor é uma das mais de 17 mil ilhas que pertencem ao arquipélago
indonésio. Esse arquipélago se localiza ao sul da Ásia, perto da Oceania e foi
“descoberta” pelos europeus no início do século XVI. Enquanto a maior parte do
arquipélago foi colonizado por holandeses e ingleses, (o que hoje representam
a Indonésia e a Malásia respectivamente) a parte oriental da pequena ilha de
Timor foi de domínio português1 e ficou conhecido como Timor português. Por
ser uma colônia distante e pequena não recebeu muita atenção da coroa
portuguesa, tendo recebido poucos investimentos e pouca infraestrutura até o
século XX.

Com a chegada desse século, também chegam as tensões e disputas europeias


que levaram o mundo a duas guerras mundiais, que vão impactar profundamente
a situação política do arquipélago. Em 1942 o Japão invade o arquipélago e no
ano seguinte consolida o domínio na região, apesar da resistência aliada que se
fortificou na ilha de Timor. Em 1945, logo após a rendição do Japão na guerra, a
Indonésia declara sua independência, contrariando os interesses holandeses na
região. Depois de quatro anos de guerra e negociações a agora ex-colônia
garante sua independência.

A independência da Indonésia e da Índia, fizeram com que os movimentos


nacionalistas e anticoloniais ganhassem força através da África e Ásia. Esses
países também começaram a pressionar as potencias europeias a cumprir com

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Essa divisão se estabeleceu oficialmente com o Tratado de Lisboa, assinado em 1869, que
encerrou as disputas entre as duas potencias colonizadoras.
a carta da ONU2 e respeitar a autodeterminação dos povos. Ao longo das
décadas de 50 e 60 esses continentes começaram a ser descolonizados, ao
ponto que na década de 70 poucos território neles ainda pertenciam a países
europeus. Um desses países era Portugal que mantinha a colônia de Angola,
Moçambique e São Tomé e Príncipe na África e o Timor Leste e Macau na Ásia.

Descolonização e a invasão indonésia

Portugal passou boa parte do século XX sob a ditadura fascista de Antônio de


Oliveira Salazar, que governou o país desde de 1932 até a 1968, quando sofreu
um derrame e foi afastado, passando o poder para Marcello Caetano. Com o
desgaste do regime e o afastamento de seu maior líder, as forças armadas se
organizaram e deram um golpe de Estado, em 1974, derrubando o regime
opressor e chamando por eleições. Esse golpe ficou conhecido como revolução
dos Cravos e com ela se iniciaram as negociações para as descolonizações das
colônias.

Nesse contexto, o Timor começa a se organizar politicamente, se dividindo em


três partidos: a UDT (União Democrática Timorense), que defendia uma
progressiva autonomia e a manutenção de vínculos com Portugal; a ASDT
(Associação Social Democrata Timorense) que depois se tornaria a FRETILIN
(Frente Revolucionaria de Timor Leste Independente) que tinha uma base nas
ideias marxistas e defendia a independência total do país e a APODETI
(Associação Popular Democrática Timorense), que propunha uma integração do
país a Indonésia.

A indonésia procurando motivos para invadir o Timor militarmente, começa a


praticar ações para desestabilizar a ilha e colocar seus dois maiores partidos (a
UDN e a FRETILIN) em confronto. A UDN adotando uma retórica anticomunista
lança uma ofensiva contra a FRETILIN, pretendo vários de seus integrantes,
dando início a uma guerra civil. Rapidamente a FRETILIN começa a ganhar
território e os membros da UDN vão para a parte ocidental da ilha, parte da
Indonésia.

2O artigo 1 seção 2 da carta das Nações Unida diz “Desenvolver relações amistosas entre as
nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos
povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal”
Nesse contexto a Indonésia começa a infiltrar agentes especiais em território
timorense, proporcionando casos de violência. Diante dessa situação a
FRETILIN declara a independência unilateral do Timor Leste, esperando ter
apoio internacional, o que não aconteceu. Um dia depois, os membros da UDN
refugiados na parte ocidental da ilha, sob a pressão da Indonésia, assinam um
“pedido” de anexação da parte leste da ilha pela Indonésia, em nome da
estabilidade. Em 7 de dezembro de 1975 forças indonésias invadem o Timor
Leste e rapidamente conquistam toda a ilha, fazendo com que o número de
timorenses mortos chegasse a sessenta mil, em três meses. Para a Indonésia
era interessante invadir a ilha, pois ela tinha reservas de petróleo que poderiam
ser exploradas, além do governo indonésio ter medo de que um Timor
independente levaria as variadas etnias que compõe o país a se rebelar e pedir
por independência e atodeterminação.

Resistencia e domínio

Diante dessa ocupação, a FRETILIN começou a apoiar a FALINTIL (Forças


Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste), que organizou a Frente
Clandestina para lutar contra dominação estrangeira e a Frente Diplomática para
alertar o mundo das violações dos direitos humanos que estavam ocorrendo na
parte oriental da ilha. Xanana Gusmão3 foi o responsável por unificar as
resistências implementando a política de Unidade Nacional, despartidarizando
as estruturas de resistência e criando Conselho Nacional de Resistencia
Timorense).

O Timor foi anexado à Indonésia e promulgado como a vigésima sétima província


do país. Foi estabelecido a Assembleia Popular, como um governo fantoche para
dar a impressão de autonomia à região. A ocupação foi marcada por
perseguições a dissonâncias políticas, fome e massacres, sendo o mais famoso
deles o Massacre de Santa Cruz4, que gerou grande repercussão internacional.

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Xanana Gusmão fazia parte da FRETILIN e organizou a resistência timorense, indo de vila em vila e
recrutando soldados. Foi pego pelo exército indonésio em 1992, foi torturado e julgado à prisão
perpétua, mas só passaria 7 anos preso. Recebeu visitas de figuras políticas importantes, como Nelson
Mandela.
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O massacre ocorreu quando as pessoas que foram ao enterro de um jovem que fazia parte do
movimento de resistência chamado Sebastião Gomes, se revoltaram e mostraram seu apoio à
independência do país. Os militares indonésios abriram fogo e mais de 270 pessoas foram mortas.
Em 1998 o presidente Suharto da Indonésia renunciou à presidência devido uma
série de protestos, gerados tanto pela sua conduta no Timor, quanto pela crise
asiática de 1997, que acertou em cheio o país. Esse cenário abriu espaço para
negociações sobre o Timor que resultaria na realização de um referendo pela
independência em 1999.

Repercussão e interesses internacionais

Durante a ocupação, as Nações Unidas reiteradamente repudiavam as ações da


Indonésia, mas nunca tomaram nenhuma medida concreta contra o país. Já os
Estados Unidos e seus aliados apoiaram o governo indonésio, dando sinal verde
para a operação de invasão5. Os Estados Unidos junto com seus aliados na
região não queriam criar problemas com a Indonésia por fatores econômicos e
políticos. Não era economicamente viável ter atrito na relação com a Indonésia
porque havia muito investimento estrangeiro estava sendo feito no país e parte
da matéria prima consumida pelos países ocidentais vinha da Indonésia. Além
disso, é preciso entender a questão política da época, onde os Estado Unidos
tinham medo de que o comunismo se espalhasse para além da Indochina e
tomasse o sudeste asiático; e por isso viam no governo anticomunista indonésio
um “escudo” contra essa suposta expansão comunista. Outro ponto para o
ocidente tolerar os abusos cometido no Timor era o medo de que o FRETILIN,
transformasse a ilha numa “Cuba asiática”.

Outro país favorável à anexação do Timor Leste à Indonésia foi a Austrália. Além
de ser a favor da “contenção” do comunismo e ter relações comercias com a
Indonésia, o pais tinha interesses econômicos no mar do Timor, que continha
depósitos de petróleo a serem explorados. Nos cálculos australianos seria mais
fácil apoiar a invasão e negociar em melhores termos essas reservas de petróleo
com a Indonésia, (país que já tinha diversas fontes de matéria prima, incluindo
petróleo) do que negociar com um novo país pequeno, cuja a maior fonte de
renda seria esse petróleo. Além da necessidade, o Timor teria o direito de

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Isso foi comprovado por documentos tornados públicos em 2001 que revelaram que o presidente
indonésio Suharto e o secretário de Estado Henry Kissinger, se encontraram em 1975.
explorar esse petróleo, porque ele estaria na sua ZEE6 (Zona Econômica
Exclusiva)

Apesar da maioria do ocidente fechar os olhos para a questão do Timor, sua


antiga metrópole Portugal, foi o país que mais trabalhou internacionalmente para
achar uma solução para o conflito. A diplomacia portuguesa abraçou a causa
timorense e trabalhou para sua solução, constantemente trazendo essa
discussão para às Nações Unidas e para a Comunidade Europeia, uma vez que
começou a fazer parte dela. Portugal conseguiu bloquear a assinatura de um
tratado de cooperação entre a ASEAN e a Comunidade Europeia. Com o fim da
guerra-fria a relevância geopolítica da indonésia para o ocidente diminui o que
permite com que paulatinamente, esses países comecem a condenar as ações
da Indonésia na ilha.

Na década de 90 a questão timorense ganha mais relevância na mídia


internacional, sendo um dos momentos de maior destaque a entrega do prêmio
Nobel de 1996, a um dos líderes da resistência José Ramos Horta e ao cardial
Padre Filipe Ximenes Belo. Com o aumento da pressão internacional e o fim do
governo ditatorial de Suharto, a resistência consegue o direito de realizar um
referendo popular sobre a independência ou não do país. Em 1999 o referendo
é realizado e mais de 90% dos eleitores votam, com o ‘sim’ vencendo por 78,5%.

Independência e a missão da ONU

O referendo foi marcado por tentativas de sabotagem por parte de militares


indonésios e milícias treinadas por eles. Tentaram impedir que parte da
população tivesse o direito de votar e ameaçaram as pessoas que pretendiam
votar a favor da independência. Como essas ações não obtiveram sucesso, os
militares e milicianos indonésios começaram a praticar uma onda de violência
generalizada, destruindo comércios, a infraestrutura, matando e sequestrando
pessoas e fazendo com que milhares de timorenses procurassem refúgio nas
montanhas, onde sofriam de falta de alimento.

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As ZEEs ou Zonas Econômicas Exclusivas constituem uma faixa de água de 200 milhas náuticas, onde
aquele país tem o direito exclusivo de explorar aqueles recursos marítimos. Esse direito foi concedido
pela CNUDM (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinado em dezembro de 1982
Esses episódios de violência fazem com que a ONU criasse uma força tarefa
para controlar a situação e pacificar a região. Então em 18 de setembro de 1999
2000 homens foram enviados ao Timor Leste para desarmar os milicianos e
reconstruir o país; sob o comando do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
A missão de paz ajudou a criar mão de obra personalizada, um sistema jurídico
e as forças de segurança. Ocorreu um processo em que as funções atribuídas a
ONU eram gradualmente substituídas por mão de obra timorense, algo que foi
denominado pela ONU de “dual desk” ou timorização, segundo o diplomata
Sérgio Vieira. A missão de paz da ONU para o Timor Leste pode ser considerada
a mais bem-sucedida dentre as missões de paz e com certeza ajudou a
recuperar a imagem da ONU, que tinha sido abalada com os fracassos das
missões na Somália e nas repúblicas da ex-Iugoslávia.

Conclusão

Os 24 anos de ocupação indonésia da parte oriental da ilha geraram danos


enormes ao pequeno país lusófono. Estima-se que 80% da infraestrutura tenha
sido destruída durante o período; 200 mil pessoas tenham sido mortas por
perseguição tortura ou na guerra; outras 200 mil tenham fugido do país,
deixando-o com pouca mão de obra qualificada. Outro legado negativo foi o
acordo entre a Indonésia e a Austrália que garantia o acesso de boa parte do
petróleo da região do Timor ao segundo país. Essa situação só foi resolvida em
2018, com a assinatura do Tratado sobre Fronteiras Marítimas, onde foram
restabelecidas as áreas de exploração do mar ao Timor. Estimasse que a
demora de se firmar esse acordo tenha custado 5 bilhões de dólares ao Timor
Leste.

Hoje o Timor se recupera dos danos físicos e econômicos causados aos anos
de repressão e destruição da Indonésia, que tiveram a complacência da maior
parte do ocidente e de certa forma incentivos de Estados Unidos e Austrália.
Apesar de índices como educação, expectativa de vida e participação política
estarem melhorando, o Timor Leste continua sendo um dos países mais pobres
do mundo, com o PIB de 2,95 bilhões de dólares (2017) e indicies sociais baixos.
Referencias

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back-on-track/

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