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BRAZIL

(em 1908, apenas dois anos após


o voo do 14 Bis) a ideia da cria-
ção de um serviço aeronáutico na
força naval. CadavaJ mudou-se
para a Europa onde escreveu e
lançou, três anos depois, o livro
Tratado de Aeronáutica - Navega-
ção Aérea.
Em paralelo, o Exército brasi-
leiro tentava desenvolver o uso de
balões para fins de reconhecimen-
to. Em maio de 1908, um primeiro
voo de balão militar realizado
x~ Po•·u- Nüo se impressione. seu Edú Chnvcs: o Brnzil nunca terá .u~ns para \'ORr, cmquanto tivermos ,u,e.t cslrangc1ras. · · no Brasil terminou em tragédia,
com a morte do tenente Juventino
da Fonseca. Dois anos depois,
entretanto, já eram realizados os
A revista O
esde as primeiras "Para mim, nunca fiz mistério de primeiros voos experimentais de

D
Malho ironiza
as autoridades experiências de voo que na minha opinião a aeronave aviõe militares no país. Como não
brasileiras na tripulado, ainda no encontrará na guerra sua primeira havia escolas de aviação, os brasilei-
ocasião do voo do tempo dos balões utilização práticà' (Meus Balões, ros tinham de aprender a pilotar no
no rte-americano e aeróstatos, a pos- 1904). Visionário, Santos Dumont exterior - usualmente na França,
David McCullogh sibilidade de emprego de meios antevia na aviação um contraponto e por conta própria. Em abril de
com presidente
aéreos em combates chamou a a um novo flagelo que punha em 1911, brevetou -se na Escola de Pi-
Marechal Hermes
da Fonseca atenção dos militare . A oportuni- risco as imponentes esquadras de lotagem de Farman, nas cercanias
dade de controlar do alto o campo superfície: "Quero referir-me à de Paris, o primeiro piloto militar
de batalha -ganhando consciên- faculdade que possuí o navegador brasileiro: o tenente Jorge Henrique
cia da situação, vendo além do ho- aéreo de perceber os corpos em MoUer, da Marinha de Guerra. Foi
rizonte dos observadores no solo movimento sob a superfície das seguido pelo tenente Ricardo João
e orientando com mais precisão águas. (... ) a aeronave passeia em Kirk, do Exército, em outubro de
os tiros de artilharia - significava todos os sentidos o navegador, 1912. Mas o alto custo dos treina-
enorme vantagem tática para tro- permitindo a este descobrir na sua mentos limitava a possibilidade de
pas terrestres. O mesmo acontecia corrida furtiva o submarino que, formação de pilotos.
no mar, afinal, enxergar as esqua- não obstante, é absolutan1ente A tentativa pioneira de montar
dras inimigas antes de ser visto - e invisível do passadiço do navio de uma escola de aviação militar no
sem necessidade de lançar mão de guerra.( .. . ) a aeronave do século Brasil ocorreu em terras paulistas, e
missões de reconhecimento - era XX pode tornar-se, na sua estreia, o por iniciativa de um civil. Eduardo
igualmente tentadora. grande inimigo dessa outra mara- Pacheco Chaves era fiU1o de uma
Por isso, não surpreende que o vilha do século XX, o submarino!': família de ricos cafeicultores e es-
desenvolvimento dos primeiros ba- tudava em Paris. Tornou-se amigo
lões dirigíveis e das aeronaves mais PIONEIRISMO E de Santos Dumont e um entusiasta
pesadas que o ar tenha sido acom- DIFICULDADES da aviação. Em 1911, obteve na
panhado de perto pelos militares. Também no Brasil, desde o final França seu brevê de piloto e retor-
Os irmão Wright tinham claro do sécuJo XIX, as possibilidades nou ao Brasil. Em pouco tempo,
que o cliente preferencial dos seus do voo tripulado despertavam transformou- e em uma celebrida-
primeiros projetas de avião seria o atenção das forças armadas. de nacional graças a seus ousados
exército norte-an1ericano. Do outro Curiosamente, coube a um raids e exibições de acrobacias.
lado do Atlântico, Alberto Santos médico da Marinha - José Ribas Em 1913, Edu Chaves tentou
Dumont tan1bém reconhecia: Cadaval - a primazia de defender organizar uma escola de aviação

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A .RUA - Quart..rtlra, 11 dt ..&,...to do 1111

Anossa marinha já dispoe de avioes


A fundação de uma eseola
e e s ex pel"ien ei as p t:elim ir ·a rres
~·t.:uno a o espaç o!

E' o nnru ~rllo 11arUdo do"'· .\luruul rl· aa b:~.hl2, pilotado 4H!Io m~a_afco eontr&·
no do A lenr«r, ~"'l'•.'llhlldo fi"" ~!ll!. L ~"· tado, l lr. nrtoD li. Hoovt:r. 11\lt: I&YOU t:lll
em :i"l:.r " no·n ,\l:u·!uh,, de uml\ ..ltiiiP· an:~ comp11nbb. noa dnla \"llOtl rc:a1lu.d011
1lrlth, C~ hyllf0\II•1Ul1, r OIIIO C'Onllllt!.lllr.OIO entro :HJII~IIca llh:~ «" :t l'nnll\ da Rlbelra,na.
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\ontem, ~~~ osportond::a. no fundo da noa· C:ORif:Ca'C' ll 115 do f'OI'TCtllO.

para a Força Pública Paulista - Afonsos, um terreno público na Primeira Guerra - terminaram Revistas anunciam
antecessora da Polícia Militar - zona oeste da então capital federal, por comprometer definitivamente a compra de aviões
pela Marinha do
num campo de voo situado numa onde já funcionava o ''Aero-Club as atividades da EBA, que encer-
Brasil
propriedade de sua família em Brasileiro" desde 1911. rou suas atividades em setembro
Guapira, zona norte da capital. A Mais de 30 oficiais do Exército do mesmo ano, antes mesmo
iniciativa fracassou: o inicio da matricularam-se no curso de de formar uma única turma de
Primeira Guerra Mundial impediu pilotagem, aos quais se juntaram, aviadores. Caragiola faleceria logo
a aquisição de equipamentos e no mês de abril, 25 tenentes da depois, em 1915: acidentou-se
Edu Chaves acabou alistando-se Marinha. A EBA era razoavel- num voo de demonstração no
na Legião Estrangeira francesa. mente bem equipada: contava antigo Derby Club, onde hoje está
Em fevereiro do ano seguinte, com três biplanos Farman, um o Estádio do Maracanã.
uma nova tentativa, desta vez Aerotorpedo e cinco pequenos
no Rio de Janeiro. Foi fundada monoplanos Bleriot No entanto, a OS AEROBOTES CURTISS
a Escola Brasileira de Aviação fragilidade dos aviões, a ausência Com a escalada da guerra
(EBA) - um convênio firmado de mão de obra especializada e o na Europa, a alternativa para
entre o governo federal e a firma fato de só contar com dois pilotos aquisição de aeronaves voltou-
Gino Bucelli & Cia, sob a d.ireção instrutores limitou drasticamente -se para os Estados Unidos, onde
do piloto italiano Gian Felice Gino as atividades de formação. florescia a indústria aeronáutica
e tendo como instrutor o aviador Alegados atrasos de paga- em meio à guerra de patentes
argentino Ambrósio Caragiola. A mento por parte do governo - e travada entre os irmãos Wright e
escola foi instalada no Campo dos o envolvimento dos italianos na Glenn Curtiss. Desde o final de •

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19 LU, Curtiss havia e dedicado si dente da República a alçar voo VS OX.X.-3 de 100 hp posicionado
Marinha brasileira ao desenvolvimento de aviõe em terra brasileira~, sobrevoando entre as asas, logo atrás da tripula-
saúda chegada de anfíbio , em colaboração com a a Guanabara num aerobote pilota- ção, com a hélice em configuração
Santos Dumont ao
Marinha norte-americana. ' eus do pelo norte-americano - o que pusher. Atingia uma velocidade
Brasil Na ocasião.
um dos aviões "aerobotes" faziam ucesso, não provo ou indignação na impren a máxima em torno de 110 km/ h e
se ac1dentou. apenas na US avy, mas também nacionalista, que defendia que a tinha autonomia para mais de 5
vitimando todos nas torças navab de Rússia, Japão, primazia deveria ter sido concedi- horas de voo.
seus ocupantes Inglaterra e Alemanha. da ao bra. ileiro Edu Chave . Nes e meio tempo, reacen-
Os hidroaviõe. de Curtiss não Em 1916, a 'urtiss Aeroplane dera-se a can1panha para que a
t:ram desconheudos nu Bra ii. o and Motor Company já tinha uma Marinha de uerra brasileira
mício de 1913, o piloto norte-ame- fábrica na cidade de Buffalo (NY) monta e um serviço de aviação.
ricano David McCullough trou- e dispunha de um novo mode- O próprio mini tro da Marinha,
:o.era um deles ao Rio de janeiro, lo de aerobote, aperfeiçoado e o almirante Alexandrino Faria de
para uma aprest:ntação comercial testado por diversas marinha do Alencar, era um entusiasta, mas
à~ autoridades loca i~ . McCullough mundo. Seu Curti s Model fera a iniciativa esbarrava em limita-
olec1onou algun~ fracas ·os e ao um biplano cmn fuselagem central ções orçamentárias. No segundo
meno d is acidente~. e nenhum em tormato de barco, pequenos semestre de 1914, após o fraca so
neg CIO vingou. Mas. no dia I 5 flutuadores na ponta da asa e da EBA, o governo chegou a anun-
de abnl, o Marechal Herme~ da assentos para dois tripulante - ciar a criação de uma "Escola de
1-on~eca tornou se o pnme1ro pre- tracionado por um úni o motor Submersívei e Aviação" e o início

76 I AERO · 266
cmmmo nA !UANTT.t - Trl'(a-t•lra, 3 d~ Abril •lc 1017

1\ CmtUIONIA m: 11 ON'l'IDI

EOSR•.WENCESLAO VOOU!
~· EM COMPANII!A
-·-
0 PASSF.I() AF.RF.O nn I'RE· ~~ A ENTREOA DOS DIPLOMAS
'i AOS PRIMEIIIOS PILOTOS
DO MINISTRO DA MARINHA DO EXERCITO E DA ARMADA

-----------· -----------

das negociações para a compra de


aviões franceses. Mas a intenção
nunca saiu do papel.
Foi somente no inicio de 1916
- quando a escalada da Primeira
Guerra na Europa ameaçava en-
golfar o resto do mundo e já estava
evidente a importância da aviação
no conflito - que surgiu uma
oportunidade de efetivar a escola.
Nos livros, há versões controversas
sobre o episódio: uma afirma que
o ministro Alexandrino desviou
parte dos recursos destinados à
compra de gêneros alimentícios nistro autorizou que tivessem iní- descoberto por Glenn Curtiss, Em abril de 1917,
para as refeições dos praças - a cio nos EUA as negociações para que o trouxe para sua fábrica. Em os primeiros
pilotos brasileiros
chamada "verba do feijão" - para a aquisição de aerobotes Model F. sua primeira experiência fora dos
da marinha e do
essa finalidade. No dia 10 de maio, o jornal cario- EUA, foi enviado ao Brasil - sem exército recebem
Outra versão afirma que uma ca A Notícia informava a compra falar uma palavra em português suas licenças de
subscrição patriótica havia sido dos aparelhos e "a contratação - recebendo um salario semanal voo
aberta para arrecadar fundos de um mecânico habilitado que de 100 dólares e com a promessa
para a construção de um novo auxilie eficazmente o trabalho do de bonificações em caso de bons
couraçado para a Marinha, mas futuro aviador que virá instruir os resultados.
fracassara em obter o montante de oficiais': No dia 29 do mesmo mês, Embarcado com os aviões no
recursos necessários. O dinheiro os três primeiros aviões foram vagaroso navio da Marinha, Orton
já arrecadado teria, então, sido embarcados em Nova York no só chegou ao Rio de Janeiro na
redirecionado à compra de aviões. cargueiro "Sargento Albuquerque': madrugada do dia 5 de julho - e
Consultando os jornais da época, da Marinha brasileira. Acompa- por pouco a viagem não termina
descobre-se, no entanto, que a nhando os aerobotes, a Curtiss em tragédia. Avançando no escuro
subscrição só foi liberada meses Aeroplane enviou para o Rio pela baia da Guanabara, em meio
mais tarde, e provavelmente usada de Janeiro um jovem mecânico: à densa cerração, o comandan-
na compra de um segundo lote de Orton William Hoover. te só conseguiu ver o pequeno
aviões para a Marinha. cargueiro "Willelmina': ancorado
Outra história dá conta de que NA IlHA DAS ENXADAS com as luzes apagadas, quando era
Alexandrino teria tentado conven- Aos 25 anos de idade, Orton tarde demais para evitar o choque.
cer o famoso aviador paraguaio Hoover já era considerado um A proa do "Sargento Albuquer-
Sílvio Petirossi a se tornar instru- dos melhores técnicos da Curtiss. que" abriu um rombo no vapor
tor da Marinha, e que desistira por Nascido em Fairmount, pequena norte-americano, que afundou em
conta das exigências financeiras cidade no interior de Indiana, minutos. Felizmente, um acidente
feitas pelo piloto. Petirossi vivia Hoover mudou-se ainda ado- sem fatalidades, e que não causou
na Argentina e, de passagem lescente para Long Island com o maiores danos ao navio brasileiro
pelo Rio, fez no Jockey Club uma sonho de tornar-se aviador. Tra- ou à sua preciosa carga.
demonstração de acrobacias que balhou como vigia e mecânico de Os caixotes com os aviões
impressionou as autoridades. Mas aviões no Nassau Boulevar Air- desmontados foram desembar-
esses eventos, aconteceram em field até obter seu brevê, em 1912. cados na Carreira Tamandaré,
meados de 1914 - quando a Mari- No final desse ano, já estava na um cais de reparos de barcos no
nha ainda apostava no sucesso da Filadélfia, envolvido na constru- Arsenal da Marinha. Alguns dias
Escola Brasileira de Aviação. ção, pilotagem e aperfeiçoamento depois, acabaram transferidos
O fato é que, em 1916, o mi- de hidroaviões. Não tardou a ser para hangares construidos na •

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-.~ ... . ... .

Brasil chegou
Ilha das Enxadas, sede provisória Submersíveis (dessa vez, indepen- Hoover já tinha razoável experi-
a adquirir três
para a nova escola de aviação dentes). A nova Escola de Aviação ência como piloto, a olução foi Curtiss Boat
até a conclusão do que seriam as Naval (EAvN) seria oficialmente promover o mecânico da Curtiss a para a ma ri nha
prometidas instalações definitivas, inaugurada no dia 7 de setembro, instrutor da Aviação aval. Anos
na Ilha do Rijo. sob a direção do capitão de corveta mais tarde, o norte-americano
Com apoio do pessoal da Protógenes Guimarães, ex-oficial de comentaria sobre as dificuldade :
Marinha, o mecânico norte-ame- gabinete do ministro Alexandrino. "Ensinando pilotagem, ainda sem
ricano deu início à montagem dos Os três aerobotes Curtiss foram saber falar portuguê , para alunos
aerobotes. Um mês depois, no dia incorporados à Armada com as que tampouco dominavam o in-
9 de agosto, o jornal A Rua do Rio matrículas Cl, C2 e C3. gJês': Ma a boa vontade de todo
de Janeiro anunciava: ''A nossa prevaleceu e, no fina] de agosto, os
marinha já dispõe de aviões': Na O PILOTO EO MINISTRO voos diários dos aerobotes Curtiss
véspera, Orton Hoover havia feito O formalismo do decreto presi- sobre a Guanabara já eram uma
dois primeiros voos com os Model dencial esconde a precariedade rotina para a população da capital,
F entre a Ilha das Enxadas e a Ilha não só da criação, como dos pri- encantada com a novidade.
do Governador, levando consigo meiros meses de funcionamento Algumas semanas mais tarde,
os tenentes Antônio Augusto da EAvN. Fruto do voluntarismo Hoover e seus alunos da Marinha
Schorsth e Victor de Carvalho. e da dedicação de meia dúzia já se arriscavan1 em voos mais
Também designados para a escola, de idealistas, e contando apenas longos, entre a Guanabara e a
os tenentes Virginius Delamare, com três aviões, um mecânico sede da Escola aval, em Bati ta
Raul Bandeira e Belisário de Mou- estrangeiro e pouco mais de das Neves, próximo à cidade de
ra acompanharam os voos numa uma dezena de militares - entre Angra dos Reis. No dia 13 de
lancha de apoio. Destes, só Carva- aspirantes a aviador, mecânicos outubro, un1a sexta-feira, Hoover
lho, Delamare e Bandeira tinham em treinamento e auxiliares - e Protógenes voltavam voando de
alguma experiência de voo: eram qualquer imprevisto poderia ter Angra quando foram surpreen-
ex-alunos da finada EBA. colocado tudo a perder. didos por uma súbita mudança
Duas semanas depois, o presi- O principal problema era a nas condições do tempo. Com as
dente Wenceslau Braz e o ministro falta de um instrutor de voo. A rajadas de vento ameaçando des-
Alexandrino Alencar assinavam o Marinha não dispunha de pilotos truir a aeronave, a alternativa foi
decreto no 12.167, de 23 de agosto e, tampouco, havia instrutores descer em emergência numa praia
de 1916, criando "sem aumento de disponíveis para contratação mais abrigada de Itaguassu onde,
despesas" as Escolas de Aviação e de no Rio de Janeiro. Como Orton com a água pela cintura, os dois •
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DESClUPTION OF APPLJCANT.

louth : --~-~----···

.. AI..CS Dt:~AJtTN IINT

C H URCHILL S TREET BUFFALO, N. Y

lda,y ll, 1916.

Stlllte Departma nt ,
Bureau of Citizenahip,

Washing t on, D.C.


Dear Sira,
Thi e i a to oertify thAt Mr. Orton Hoover
ia an employee ot The Curtia s Aeroplane Co., and deeiree .
wom lo l'<'foro mo tl1i.l .U..'!:_... drtl' a paasport f or travel through Brazil . He will be trav-

( RAT.,) or. __ ·1~.-~r~.~ elling in the intereete of thia Company.


Youre very truly ,
\&.L~~ {'/"k oj t!' -<!.•.!' ~'-'b,.,) l'o•'' nl t!J,.;'/ ~-~ !'l!h~.lfn.lr
' Ó Wsotcrn Di.strict o! Ncw Yorl< r/ TIIE CURTI SS AEROPWE CO. ,
't'.L /:--) Y-;;/
Applieant. may ba commumelltNI wilh at. thn Cull n"in~; atltlr.-.:

~""' · ~-fW.M<I...Il-<tf o " <L,. I


./.("":\ . /j'/
Vice- Pr eaident .
I • -L-t../1/\.J
(
HCG-C

(1,1~~~-~1~: (\!)
A durllles~tn ef tha J>hot~ph 111 lHI
mu-t 1.,. _, ''' 11,., l)f-Jwtment woth
ta l lf' .niJ;I"'I !1> lhu .....,,fKW1 Wl lh ""
llt-J••rttt~1'1ii'• IIC'I

homens lutaram por meia hora até antos Dumont e, no mês de abril, participou do levante da Armada
con eguir encalhar o aerobote na do própno presidente Wence lau de 1924. Preso, foi processado e
praia. Acolhido pelos moradores Brá ·- que participou da cerimó- transferido para a re. erva. Retor·
do local, pa saram a noite na ca a nia de entrega do diploma ao. na ria, em triu nfo, após a vitóna da
de um pescador - para o dese pe- formandos e aproveitou a ocasião Revolução de 1930.
ro de seus colegas, inquieto com a para fazer um breve voo no F- A trajetória desse doL
falta de notícia . -Boat . Em junho de 191 7, com homen voltaria a se encontrar:
No dia eguinte, Hoover a entrada do EUA na Primeira em outubro de 1932, Hoover
consertou as pequenas avaria Guerra, Orton Hoover foi convo- foi pre o após lutar na aviação
no aeroplano e ambo seguiram cado pela US Army. Retornaria ao constitucionalista de São Paulo.
viagem em egurança. Refeito dq Brasil em 1919, para eguir longa acusad o de atacar com bomba
susto, o norte-americano co•lti- carreira como instrutor na aviação um navio da Marinha de ,uerra
nuaria como in trutor na Aviação da Força Pública paul i ta. no Rio Paraguai. Protógene ,
aval até a formação das primei- O comandante Protógenes fez após algu ns meses no cargo de
ras turmas de pilotos brasileiros, ainda algun voos no F-Boats, diretor geral d a Aeronáutica Na·
incluindo algun oficiai envia- ma. acabou retúmando ua carrei- vai, era então o novo m in istro da
do pelo Exército. o início do ra admini trativa na Marinha de Marinha do governo provtsorio
ano seguinte, a e cola pioneira Guerra. Ano depois, envolveu- de Getúlio Vargas. Ma essa já é
receberia a visita ilustre de Alberto -se no movimento tenentista e uma outra históna.

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