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Gregory Bateson – Form, Substance and Difference (1970)

Bateson inicia o artigo buscando o problema da mente. Para isso, começa em Lamarck e sua
reviravolta nos estudos da mente, até chegar à cibernética, teoria dos sistemas e teoria da
informação.

A partir da cibernética acreditamos saber dizer o que é a mente, vai dizer.

Bateson parte para o que ele acredita ser um erro cometido pela teoria evolutiva de Darwin,
qual seja: que há uma unidade de sobrevivência na ação evolutiva natural. Hoje, segundo eles,
podemos comprovar que esta teoria estava equivocada. Ou seja, a homogeneização não
constitui a sobrevivência, muito pelo contrário. Devemos, para evoluir e sobreviver, viver na
e da diferença. A unidade de sobrevivência deve ser o “organismo-no-ambiente”.

Para ilustrar isso, ele parte para a diferença entre mapa e território. O mapa, para se constituir,
deve pautar-se na diferença. Onde estará a diferença?, ele pergunta. Um diferença é algo
abstrato, mas é algo que produz os “efeitos”. Ideia, para Bateson, é sinônimo de diferença.

Seguindo com Kant, Bateson vai dizer que há um número infinito de diferenças. Em um
pedaço de giz, há diferenças dentro e fora dele – há diferenças entre o giz e o universo, entre o
giz e o sol e a lua. E dentro do pedaço de giz, cada molécula existe em um número infinito de
diferenças, e assim vai... Desta infinitude, elegemos um número muito limitado que se
converte em informação. A informação é, assim, uma diferença que faz diferença.

Há diferenças importantes entre a maioria das vias de informação que estão dentro e fora do
corpo. Assim, utilizando o exemplo de um golpeamento de um prego com um martelo, ele vai
dizer:

“When I strike the head of a nail with a hammer, an impulse is transmitted to its point. But it
is a semantic error, a misleading metaphor, to say that what travels in an axon is an “impulse.”
It could correctly be called “news of a difference.” (:321)

Entretanto, vale lembrar, este contraste entre vias internas e externas não é absoluto. Sobre a
divisão entre mente e mundo, vai dizer: “We commonly think of the external “physical
world” as somehow separatefrom an internal “mental world.” I believe that this division is
based on the contrast in coding and transmission inside and outside the body.” (:322)

O mundo mental – o mundo do processamento da informação – não está limitado pela pele!

Assim, Bateson busca em Jung a definição da divisão entre dois mundos, pleroma e criatura.
O pleroma é um mundo onde não há diferenças. A crea-tura é o mundo da diferença. Trata-se
da mesma velha dicotomia entre mente e substância. Ele relaciona estes dois mundos com as
ciências exatas e as ciências da mente, mas diz que há muito mais coisa por aí. Para
aprofundar isso, vai dar o exemplo da relação entre energia e entropia negativa, trazendo o
termomotor clássico.

Cada diferença efetiva denota uma demarcação, uma linha de classificação, e toda
classificação é hierárquica. Assim, há diferenças de diferenças.

Se a mente é diferença, o que ele entende por “sua” mente? A delimitação de uma mente
individual depende sempre de quais são os fenômenos que queremos compreender ou
explicar. Ou seja, essa diferença é, em si, relacional.
E é aqui que ele parte para os exemplos que me interessam mais de perto, que são o do
homem, da árvore e do machado, e a do homem com sua bengala.

Observamos que o machado voa pelo ar e faz certos tipos de incisões em um corte pré-
existente no lado da árvore. Se quisermos explicar esse fenômeno, teremos que nos ocupar
das diferenças entre a superfície cortada na árvore, as diferenças na retina do homem, as
diferenças no seu sistema nervoso central, as diferenças em seus sistemas neurais, as
diferenças nos comportamentos de seus músculos, diferenças em como o machado voa, até
chegar às diferenças que o machado produz, finalmente, na superfície da árvore. U seja, será
sermpre um circuito complexo total, cibernético.

Outro exemplo que ele trás é o do cego com um bastão. Ao caminhar, quando começa o cego
e quando termina o bastão? E o ambiente? O sistema mental está limitado ao punho do
bastão? Estará limitado pela pele? O bastão é uma via pela qual se transmitem transformações
de diferença. Isso tudo vai depender da própria linha fronteiriça que você traça – a diferença
que você produz. Por exemplo, quando o cego se senta para almoçar e o que quero
compreender é a ingestão de comida, o bastão deixa de ser pertinente para a situação.

Ao definir a imagem da mente enquanto sinônima do sistema cibernético, Bateson vai falar
que ela é “the relevant total information-processing, trial-and-error completing unit”. E, como
tal, possui hierarquias e sub-sistemas.

Bateson transplanta este conceito de mente, ao final, para a própria unidade evolutiva. Cada
organismo não deve ser pensado somente enquanto “parte”, mas formando um sistema em si,
carregado de outros sistemas. A Mente é algo imanente ao sistema biológico mais amplo, ao
ecossistema.

Aqui, ele faz uma distinção entre mente (individual) e Mente (ecossistema): “The individual
mind is immanent but not only in the body. It is immanent also in pathways and messages
outside the body; and there is a larger Mind of which the individual mind is only a sub-
system. This larger Mind is comparable to God and is perhaps what some people mean by
“God,” but it is still immanent in the total interconnected social system and planetary
ecology.” (:326).

A mente aqui, diferente da psicologia freudiana, é expandida ao exterior – não se limita ao


“interno”.

Aí surge uma proposta política de Bateson (ou melhor, cosmopolítica), de repensar todo nosso
modo de pensar sobre nós mesmos. Um modo cibernético de pensar a diferença enquanto
positividade. Se isso não acontecer, estaremos fadados a destruição. “The most important task
today is, perhaps, to learn to think in the new way.”(:327).

Ele então vai falar de sua experiência sob efeito de LSD, da desaparição entre o eu e a música
que escutava. Ele remonta aos poetas, aos músicos, para tratar dessa nova maneira de pensar,
onde a Mente vazaria por todos os lados. Não se trata, entretanto, de um “retorno às
emoções”. Ora, é antes romper essas barreiras!

E termina falando da morte, numa espécie de avatar, para deixarmos de pensar no “eu”.

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