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Imaginativa
Lucia Gouvêa Pimentel RESUMO
ABSTRACT
como tal, faz-se necessário torná-la uma obra de arte, num movimento de
conquista de liberdade.
A interligação da cartografia cultural elaborada cultura. Segundo Bosi (1991, p. 27), essa operação
nas práticas sociais com a subjetividade é re- é possível acontecer por meio de um “ato de per-
cíproca, uma vez que, se a cartografia cultural cepção ou memória de um momento vital para a
serve de guia à subjetividade, o perfil do modo consciência”. O autor reafirma que, para a forma-
de subjetivação determina a configuração da lização imagética desse ato, as sensações e ima-
cultura. Construir a subjetividade, contempo- gens, afetos e ideias se correlacionam, formando
raneamente, significa resistir à sujeição de uma sentido. Esse sentido é o que se constrói como
individualização ditada e imposta e recusar-se a conhecimento, ou seja, é um fator cognitivo.
ligar cada indivíduo a uma identidade sabida e
A vivência em arte está relacionada ao fazer, fruir,
reconhecida.
relacionar, pensar e contextualizar. Entende-se
Nessa confluência de corpo/sujeito e mundo, como fazer a ação que fatalmente tem imbrica-
a imaginação tem papel importante, uma vez ção com fruir, relacionar, pensar e contextualizar,
que possibilita o pensamento livre e ampliado não sendo deslocado ou isolado em relação aos
do devir ligado a uma subjetividade que deixa demais elementos, assim como todos os outros
de depositar a garantia de sua consistência no elementos são fazeres.
absoluto para sustentar-se na própria processu-
A arte é também expressão, é relação tensionada
alidade do ser, cujo único parâmetro é o retorno
entre força e forma. É a materialização das estrutu-
da diferença, a garantia de que algo vai advir.
ras corpóreas internas (percepções, valores, sen-
Assim, a metáfora não é um aparato cognitivo, sações etc.) com a ambiência. A tensão entre as
mas é um espaço para o cognitivo. Surge das ex- percepções e a materialização dessas percepções
periências corporais com o meio em que o sujeito resulta em expressão. O tensionamento entre
vive. Nesse sentido, a arte deixa de ser a sublime imaginação e imagem é uma operação cognos-
inspiração de pouc@s eleit@s para se tornar a cível, estando relacionada à imaginação cogni-
possível realização de nov@s agenciador@s de tiva, no sentido da construção, conhecimento
subjetividades mais harmônicas em sua proces- e expressão.
sualidade, mais interagentes em suas constru-
Contextualizar, pensar, relacionar, fruir e fazer arte
ções individuais e coletivas, menos disponíveis ao
a partir da experiência é uma prática contem-
controle ditatorial do sistema identitário rígido.
porânea para o ensino de arte, pois esse ensino
Arte passa a ser vida em cada um@ e em tod@s,
exige que os sujeitos sejam protagonistas de seu
respeitando, mas reformulando o patamar histo-
conhecimento, de seu processo de criação. Para
ricamente identitário. Arte passa a ser a resposta
essa criação, é necessário que sejam acionados
à interrogação do presente, suas possibilidades
e contradições.
os conhecimentos já vivenciados e construídos PIMENTEL, Lucia Gouvêa. Cognição Imaginativa.
a partir das tensões subjetivas e corpóreas, bem
Arte é uma ação cognitiva imaginativa que in- como, para realizar e fruir produções artísticas,
tegra conhecimento, construção e expressão. É articular a percepção, a imaginação, a emoção, a
uma atividade humana que consiste em transfor- investigação, a sensibilidade e a reflexão.
101
mar a natureza ou matéria oferecida por ela em
Para se chegar à elaboração de formas originais de produção de obras
artísticas é preciso haver conhecimento suficiente de possibilidades de
feitura, repertório imagético de referência e disponibilidade à criação. O
processo de construção do conhecimento em arte precisa ser significativo
para o sujeito. Segundo Pimentel, essa “significação é tanto para @ autor@
quanto para quem vai vê-la (2002, p 114).
NOTAS
1
Já se utiliza a expressão corpos celestes para nos referirmos genericamente aos astros,
estrelas e satélites, por exemplo.
102
2
O termo produções abarca não somente o ato de fazer, mas o conjunto de ações im-
bricadas ao pensamento.
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