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O tema felicidade foi escolhido pois é impossível negar sua relevância nos tempos
atuais. A felicidade pode ser considerada um assunto que transcende a passagem de
tempo, sendo foco de estudos em muitos momentos da nossa história, seja
atualmente, seja no passado. As próprias dos autores citados e que serão trabalhos
nesse trabalho podem ser usadas como exemplo para demonstrar essa importância.
No entanto, resolvi anexar nessa introdução, dois artigos de filósofos contemporâneos
que estudam a felicidade.
O primeiro seria o doutor em psicologia Tal Ben-Shahar, que foi trabalhado em sala
de aula, afirmando que o estresse, uma vez que impede a vida boa, pode ser
considerado como a nova pandemia global, caracterizando-o como um inimigo
silencioso. O texto traduzido do autor pode ser encontrado numa matéria do jornal El
País, cujo o título séria “A obsessão por ser feliz o tempo todo faz as pessoas se
sentirem péssimas”, em que o link estará na referência bibliográfica. Outro pensador
contemporâneo que também trabalhará a felicidade será o Mario Sergio Cortella, mais
precisamente em seu livro “Vida e Carreira — Um Equilíbrio Possível?”, onde o autor
tenta responder algumas perguntas sobre vida e trabalho, em uma tentativa de
conciliar a felicidade no meio de trabalho.
Em sua obra de título “Ética a Nicômaco”, Aristóteles, um filosofo da antiguidade,
dedica seus escritos e estudos para indicar que o homem é um ser moldável e
aspirante ao bem por natureza e assim desenvolve seu conceito de felicidade ou
eudaimonia. Na teoria aristotélica, a felicidade só é possível para o homem que saiba
deliberar as possíveis naturezas do bem, sendo, portanto, um homem virtuoso, em
que a sabedoria e a contemplação, seriam as atividades mais perfeitas do homem,
visto que a razão pertence propriamente a humanidade. A finalidade natural do
homem então seria a felicidade, além de ter uma vida boa e justa, e essa felicidade
seria diferente da inteligência, da honra e da riqueza pois ela é autossuficiente
(autárkeia), ou seja, apesar dela poder ser alcançada por bens exteriores, não existe
apenas esse meio de conquista-la.
Sendo assim, Aristóteles traça um contraponto, dizendo que a eudaimonia não deve
ser associada ao prazer, honraria ou riquezas, pois esses geralmente levam às
vicissitudes, porém, a riqueza e o poder são bens que podem ser usados como
instrumentos para alcançar a felicidade proposta por ele, “(...) a felicidade necessita
igualmente dos bens exteriores, pois é impossível, ou pelo menos não é fácil, praticar
ações nobres sem os devidos meios” (ARISTÓTELES, Livro I, 8, 1099 a, 2010).
Desse modo, Aristóteles irá alertar sobre alguns equívocos cometidos pelo homem
para alcançar a felicidade, que em alguns casos, tratava-a como advinda dos deuses,
como obra do acaso ou como resultado da aprendizagem:
Contudo, mesmo que a felicidade não seja uma graça concebida pelos
deuses, mas nos venha como resultado da virtude e de alguma espécie
de aprendizagem ou exercício, ela parece incluir-se entre as coisas
mais divinas, pois aquilo que constitui o prêmio e a finalidade da virtude
parece ser o que de melhor existe no mundo, algo de divino e
abençoado (ARISTÓTELES, Livro I, 9, 1099 b, 2010).
A ética tem como objetivo mostrar o caminho que o homem deve fazer para buscar a
felicidade na pólis, investigando não somente o que seria o bem, e sim como o homem
se torna bom. O bem é diferente da felicidade, pois essa seria o resultado de uma
conquista de uma vida inteira. É o que a filósofa Marilena Chauí diz em seu livro
Introdução à História da Filosofia no seguinte trecho:
Ele irá se constituir em três formas, sendo elas a substância (atividade pura; intelecto);
a qualidade (excelência ou virtude); e a quantidade (justo meio). A partir daqui é
possível traçar uma linha entra à obra “Ética a Nicômaco” de Aristóteles, e o conceito
de eudemonismo proposto por Schopenhauer, uma vez que para ele, a finalidade da
vida seria a eudaimonia. O eudemonismo aristotélico ensina ao homem a maneira
mais fácil de se viver feliz, sem precisar usar objetos ou pessoas para alcançar a
felicidade. Porém, apesar de apresentar possíveis semelhanças, as obras de ambos
os autores apresentam diferentes aspectos, pois, no caso de Aristóteles, “Ética a
Nicômaco” recebe uma forte influência das doutrinas orientais como o Budismo e do
Hinduísmo, e também em relação as premissas dele sobre a felicidade e ao esforço
de se evitar o sofrimento.
Arthur Schopenhauer será um filósofo que ficará conhecido como pessimista por conta
de suas ideias sobre vida, sofrimento e felicidade. A compreensão de vida para
Schopenhauer é que sua essência é o sofrimento, ou seja, todo ser humano, sendo
rico ou pobre, importante ou não importante, se encontra num estado
inconscientemente doente. Sendo assim, o diferencial do sofrimento de cada indivíduo
é o grau do quanto esse sofrimento é sentido, pois apesar do todo ser humano sofrer,
alguns seres vivos encontram um grau maior e outros encontraram um grau menor de
sofrimento, sendo que, o grau de sofrimento pode oscilar, dessa forma, ele seria maior
ou menor em algum momento. Schopenhauer então definirá essência da nossa
existência como a Vontade, sendo ela a essência mais intima de todo ser humano,
dizendo que ela é o em si de cada coisa que percebemos, fazendo-se a essência
metafísica de tudo o que existe (todos os animais, vegetais e minerais) não
significando que a Vontade por si própria é uma força e sim que toda a força tem por
essência uma Vontade. O sofrimento será uma expressão da Vontade. Portando,
Schopenhauer vai definir a noção de felicidade como “a satisfação sucessiva de todo
o nosso querer”.
Portanto, Schopenhauer em sua obra “A Arte de ser Feliz”, que surge no século XIX,
é evidente uma mudança da ênfase de um otimismo bastante hegemônico no século
XVIII, irá colocar sua percepção da doutrina da felicidade entre o estoicismo – que
acredita na inexorabilidade do destino e o sofrimento serve como fortalecedor de
caráter, ou seja, o indivíduo não deve evitar a dor e sim suporta-los com coragem,
pois seria dali que viria nossa a força - e o maquiavelismo. Ao dizer isso,
Schopenhauer não cultiva a dor como algo que nos faça crescer, e também não quer
que o indivíduo siga um caminho individualista, que obtém a felicidade às custas de
outros indivíduos, descartando “os fins justificam os meios”, proposto por Maquiavel
em O Príncipe.
O termo criado pelo pensador para se referir a essa doutrina foi a eudemonologia ou
eudemonismo:
Essa seria a primeira máxima proposta por Schopenhauer, que funciona como uma
síntese de alguns elementos trabalhos nas máximas posteriores. Segundo ele, todo o
ser nasce na Arcádia, dito como um lugar imaginário de prazer e felicidade eterna,
onde o homem acalenta por uma vida de felicidade eterna, o que para Schopenhauer
não é possível.
Dessa forma, Schopenhauer dirá que duas coisas atrapalham a vida, que seriam o
divertimento e o tédio. O divertimento é a lógica da saciedade infinita e ocorre quando
o homem deseja muito algo e quando a conquista, ele passa a desejar outras coisas,
e assim o indivíduo passa a vida desejando aquilo que não tem. O segundo problema
da vida seria o tédio (enfado) que é caracterizado por uma rede de utilidades. Sendo
assim, o filósofo Clóvis de Barros Filho faz uma análise da felicidade como sendo algo
perfeitamente inútil, em que as coisas úteis e inúteis da vida recebem a noção de bom
e ruim, respectivamente, das pessoas na sociedade. Quando o valor de útil é atribuído
a algo, esse valor será exterior ao objeto, ou seja, toda utilidade faz com que o valor
das coisas esteja fora delas. Portanto, ao atribui o conceito de inútil a algo ou alguém,
você estará dizendo que o valor dessa pessoa está nela mesmo, assim como a
felicidade, que também seria inútil.
Assim sendo, é através da experiência que o ser humano pode aprender o que quer
aprender, e enquanto isso não ocorrer, ele irá se dispor do caráter e levar duros golpes
externos da vida, de modo que aí o homem deve adentrar ao mundo do caráter que
ele adquiriu em sua vida, caráter que, em síntese, é o conhecimento de sua própria
individualidade e qualidades de seu caráter empírico, tal como a medida de sua força,
permitindo o desenvolvimento de sua reflexão e método, impedindo que o indivíduo
se deixe levar pelas pressões externas ou um algum estado de espírito. É o que o
filósofo explica em sua obra O mundo como vontade e representação:
Aristóteles em seus pensamentos sobre escolha, desejo e opinião, afirma que prazer
e dor não devem ser critérios de deliberação, visto que é o homem que tem o poder
de escolher pode atualizar o vício, sustentado na escolha ou rejeição, em função do
prazer ou dor que essa escolha possa vir a oferecer para ele. Para Schopenhauer, a
dor não é uma escolha consciente, e nem um vício, e sim é a realidade do homem, e
a busca pela eudaimonia, é na verdade uma ilusão de interrupção, ou uma possível
redução do que de fato é intrínseco ao homem: o sofrimento humano.
Conclusão
Aristóteles, por sua vez, conclui que o bem é a forma harmoniosa de convivência entre
os cidadãos que vivem na pólis, e que ele se difere da felicidade, por ser o resultado
da busca de uma vida inteira. A ética, portanto, deve demonstrar o caminho que o
homem deve seguir para conquistar a felicidade.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. E. Bini. 2ª ed. São Paulo: Edipro, 2007.
https://exame.com/carreira/felicidade-carreira-e-maratona/
Matéria sobre Tal Ben-Shahar:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/estilo/1570124407_210391.html