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Índice

Introdução........................................................................................................................................2

1. A Idade Antiga e a felicidade como prazer e cultivo da razão....................................................3

2. A Idade Média e a felicidade como perfeito conhecimento de Deus..........................................4

3. Idade Moderna e Contemporânea e os diversos conceitos de felicidade.....................................4

Conclusão........................................................................................................................................6

Bibliografia......................................................................................................................................7

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A Felicidade na História da Filosofia

Introdução

Debater a questão da felicidade nunca se revelou tão urgente e importante como hoje, era da
Globalização. Além dos problemas sociais tais como a fome, a desigualdade, o crime, a
violência, a guerra, vivemos, hoje, numa sociedade cada vez mais marcada por infelicidade,
casos de depressão, insatisfação, angústia e suicídio.

Com isso, não pretendemos afirmar que esses problemas sejam especificamente
contemporâneos, pois eles fazem parte da condição do homem no mundo, pelo que todos os
homens, independentemente da sua condição social, são sujeitos a eles. O que pretendemos dizer
é: A infelicidade, a depressão, a angústia e a insatisfação estão a atingir, hoje, níveis gritantes e
alarmantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, por exemplo, a depressão afecta
cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. Esses dados comprovam a veracidade da frase acima
dita: Debater a questão da felicidade nunca se revelou tão urgente e importante como hoje, era da
Globalização.

Neste contexto, o presente trabalho procura responder às seguintes questões: o que é felicidade?
O que é um homem feliz? É, a riqueza, uma garantia de uma vida feliz? O que é necessário para
que se seja feliz?

O trabalho tem como objectivo geral analisar a felicidade na história do pensamento ético. Tem
como objectivos específicos: i) definir o conceito de felicidade na Idade Antiga; ii) explicar a
concepção de felicidade na Idade Média e iii) apresentar as perspectivas de felicidade na Idade
Moderna e Contemporânea. O trabalho é de natureza qualitativa e é suportado pelo método de
pesquisa bibliográfica e apoiado pela técnica de hermenêutica. Por meio dessa técnica, fez-se
uma leitura, análise e interpretação do material bibliográfico referente ao tema em análise.

As obras que nortearam a elaboração do presente trabalho são: Ética a Nicómaco de Aristóteles,
Vida Feliz de Santo Agostinho, Suma Teológica de São Tomás de Aquino, A Conquista da
Felicidade de Bertrand Russell, entre outras. Quanto à estrutura, o trabalho é constituído por três
secções, obedecendo à lógica dos objetivos específicos acima apresentados.

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1. A Idade Antiga e a felicidade como prazer e cultivo da razão

Os homens e sobretudo os filósofos sempre se preocuparam em idealizar modelos de felicidade


para as suas respectivas sociedades. Na Idade Antiga, concretamente na Grécia, encontramos
Aristóteles, filósofo que entende que “[...] todo conhecimento e todo trabalho visa a algum
bem[...]. Verbalmente, quase todos estão de acordo, pois tanto o vulgo como os homens de
cultura superior dizem ser esse fim a felicidade. ” (Aristóteles, 1991, p.5). Porém, os homens
diferem, segundo Aristóteles, quanto ao que seja felicidade.

O autor da Ética a Nicómaco afirma que existem três tipos de vida: a vulgar, a política e a
contemplativa. Os homens vulgares julgam que a felicidade consiste em ter prazer. Diz
Aristóteles (Ibid., p.6): “A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os
homens de tipo mais vulgar, parecem (não sem certo fundamento) identificar o bem ou a
felicidade com o prazer, por isso amam a vida dos gozos. ”

Os segundos, os que levam uma vida política, “identificam a felicidade com a honra; pois a
honra é, em suma, a finalidade da vida política” (Aristóteles, 1991, p.5). ” Os terceiros, que
levam uma vida contemplativa, uma vida dedicada à busca da verdade, identificam a felicidade
com o cultivo e o exercício da razão.

O autor afirma que a razão é a melhor coisa que existe em nós e o seu exercício é a actividade
mais contínua, durável e autosuficiente. Por isso, “ [...] quem exerce e cultiva a sua razão parece
desfrutar ao mesmo tempo a melhor disposição do espírito[...]”(Ibid., p.193). Contudo,
Aristóteles sublinha que o homem também precisa de bens exteriores para a sua felicidade, ainda
que estes não sejam a essência da própria felicidade.

Em suma, a felicidade é, para Aristóteles, o fim último das acções humanas. Na perspectiva
desse filósofo grego, a felicidade consiste no exercício da virtude (da moderação, da justiça,
coragem, etc.), em ser cidadão livre e responsável e, sobretudo, em viver segundo a razão, o
exercício da razão é, segundo o autor, a melhor forma de se ser feliz. Portanto, a Filosofia,
actividade que consiste no exercício constante da razão e na busca da verdade, é, de acordo com
a Aristóteles, a melhor forma de se ser feliz.

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2. A Idade Média e a felicidade como perfeito conhecimento de Deus

A Idade Média é um período extremamente marcado pela sobreposição da religião cristã sobre
todas as instâncias da sociedade. Assim, neste período, a felicidade significava, de acordo com
autores tais como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, entre outros, viver de acordo com os
princípios de Deus.

Se na Idade Antiga a felicidade consistia na posse e no gozo de si mesmo, na posse do saber


filosófico e no exercício da razão, tal como vimos no ponto anterior, na Idade Média, com Santo
Agostinho, “a vida feliz consiste no perfeito conhecimento de Deus” (Santo Agostinho, 1998,
p.115). Dito de outro modo, a vida feliz não consiste na posse ou no gozo de qualquer bem
criado, mas sim na posse ou gozo do bem absoluto e perfeito, que é Deus. Diz Santo Agostinho:
“ Feliz quem possui Deus” (Idem.).

Na mesma linha de pensamento, São Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, afirma que “a
beatitude [felicidade] é o fim último do homem”(São Tomás de Aquino, 2016, p.931). Contudo,
observa, tal como Santo Agostinho, que é impossível a beatitude[felicidade] do homem consistir
nas riquezas.

O autor vai mais longe ao afirmar, conf. São Tomás de Aquino, 2016, p. 932-936, que a
felicidade do homem também não pode consistir na honra, na glória, no poder, nos bens do
corpo, no prazer, tampouco em algum bem criado. Na perspectiva do autor, “ o fim último do
homem é o bem incriado, é Deus, que, só pela sua bondade infinita pode satisfazer perfeitamente
à vontade do homem”(São Tomás de Aquino, 2016, p.942). Em suma, na Idade Média um
homem feliz seria aquele que se dirige a Deus, aquele que mergulha nas verdades da fé.

3. Idade Moderna e Contemporânea e os diversos conceitos de felicidade

A Idade Moderna é um período marcado pela exaltação da razão humana em detrimento de


Deus, centro das reflexões dos pensadores da Idade Média, tal como vimos no ponto anterior. De
acordo com Kant (1990, p.1), por exemplo, a felicidade traduz-se na capacidade de fazer o bom
uso da razão para o alcance da verdade e do conhecimento. Kant citado por Abbagnano (2007,
p.435) afirma que “A felicidade é a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da
vida, tudo acontece de acordo com seu desejo e vontade. ”

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Contudo, Kant observa que essa noção de felicidade ou a felicidade em si é empiricamente
impossível e plenamente irrealizável, pois não é possível que sejam satisfeitas todas as
tendências, inclinações e vontades do homem, “porque de um lado a natureza não se preocupa
em vir ao encontro do homem, com vistas a essa satisfação total, e de outro porque as próprias
necessidades e inclinações nunca se aquietam no repouso da satisfação” (Abbagnano ,2007,
p.435).

Bertrand Russell (2017, p.168) afirma que “a felicidade depende em parte de circunstâncias
externas e, em parte, da própria pessoa. ” O autor afirma que existem coisas que são
indispensáveis para a felicidade da maioria das pessoas: “comida e casa para morar, saúde, amor,
um trabalho satisfatório e o respeito dos outros” (Idem.). Para algumas pessoas, acrescenta
Russell, é também indispensável ter filhos. Quando nada disso existe, afirma o autor, “somente
as pessoas excepcionais podem alcançar a felicidade” (Idem.).

Russell acrescenta que para se ser feliz é necessário evitar paixões egoístas e adquirir afectos e
interesses que impeçam que nossos pensamentos girem perpetuamente em torno de nós próprios.
Dito de outro modo, é necessário que tenhamos consciência do facto de que não somos o centro
do mundo. “A rigor, ninguém pode ser feliz atrás das grades, e as paixões que nos encerram
dentro de nós mesmos constituem um dos piores tipos de cárcere. ” As mais comuns entre essas
as paixões são o medo, a inveja, o sentimento de culpa, a autocompaixão e a autoadmiração. ”.
Portanto, combater o egoísmo é um dos requisitos para que sejamos felizes.

Na actualidade, o pensador moçambicano Brazão Mazula (2005, p.83) afirma que a felicidade
baseia-se no trabalho duro, na criatividade, na honestidade e na não acumulação ilícita de bens
materiais. Este conceito de felicidade é muito sugestivo para um país como nosso, país que tem
sido marcado pela corrupção e pelo enriquecimento ilícito. Portanto, o autor aconselha-nos a
cultivar a honestidade, o trabalho digno, a transparência, etc., para que sejamos felizes.

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Conclusão

Em virtude dos aspectos referidos ao longo do trabalho, podemos afirmar que em todas as épocas
históricas, os filósofos e os homens em geral sempre se preocuparam com a questão da
felicidade. Na Idade Antiga, a felicidade era entendida de dois modos: i) como prazer, gozo e
posse de si; ii) como cultivo e exercício da razão. Destacámos, nesse período, as ideias de
Aristóteles, filósofo que entende que todas as acções humanas têm em vista a felicidade, esta que
consiste no prazer, em ser cidadão livre e responsável, viver segundo a razão e praticar a virtude.

Vimos que na Idade Média, um período extremamente marcado pela sobreposição da religião
cristã sobre todas as instâncias da sociedade, a felicidade significava, de acordo com autores tais
como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, entre outros, viver de acordo com os princípios
de Deus. Para Santo Agostinho, por exemplo, a felicidade não consiste na busca incessante de
bens materiais, mas sim na busca de um bem permanente: Deus.

Na Idade Moderna e Contemporânea, a felicidade tem a ser analisada e concebida por meio de
critérios humanos, tal como acontecia na Idade Antiga. Kant, por exemplo, afirma que a
felicidade é a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de
acordo com seu desejo e vontade. Contudo, o autor observa que essa noção de felicidade ou a
felicidade em si é empiricamente impossível e plenamente irrealizável, pois não é possível que
sejam satisfeitas todas as tendências, inclinações e vontades do homem. O pensador
moçambicano Brazão Mazula afirma que a felicidade baseia-se no trabalho duro, na criatividade,
na honestidade e na não acumulação ilícita de bens materiais.

Julgamos, por fim, que a felicidade depende da satisfação de necessidades primárias:


alimentação, saúde, habitação, educação, etc. Contudo, ele não se limita a isso. Para que sejamos
felizes, é necessário que tenhamos uma causa e objectivos claros na vida. A falta de uma causa
clara leva-nos a uma vida mais concentrada nos outros do que em nós mesmos, o que dá espaço à
inveja, ao ódio, etc. Além disso, é necessário, para que sejamos felizes, cultivar a solidariedade, a
empatia, a justiça e as boas obras. Nenhum homem de mau carácter pode ser realmente feliz.

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Bibliografia

Abbagnano, Nicolas. (2007). Dicionário de filosofia. 5ᵃ Edição. São Paulo: Martins.

Agostinho, Santo. (1998). A Vida Feliz. Nair de Assis Oliveira (Trad.), São Paulo: Paulus.

Aquino, São Tomás. (2016). Suma Teológica. Alexandre Correia (Trad.), São Paulo: Livros
Católicos.

Aristóteles. (1991). Ética a Nicómaco. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim (Trad.), 4.ed., São
Paulo: Nova Cultural.

Kant, Immanuel. (1990). Resposta à Pergunta: o que é iluminismo. Lisboa, 70.

Mazula, Brazão. (2005). Ética, Educação e Criação da riqueza: uma reflexão epistemológica,
Imprensa Universitária, Maputo.

Russell, Bertrand. (2017). A Conquista da Felicidade. Luiz Guerra (Trad.), 5.ed., Rio de Janeiro:
Nova Fronteira.

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