Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
aquilo que chama de felicidade (eudaimonia), entendida como o sumo bem do homem.
Anteriormente a essa conclusão, o filósofo elucida como toda ação humana é motivada com
vistas a alcançar um bem qualquer, e todos esses bens são buscados tendo em vista outro
maior, portanto, servindo de meio para outra coisa. Porém, a consideração não pode ser
infinitamente levada a termo, visto que, agiríamos tendo em vista sempre outro meio para
alcançar um fim, que redunda em outro fim, e assim consecutivamente. Desse modo, é
necessário chegarmos a um ponto onde o fim de nossa ação não se limite a ser um meio para
outra coisa, e portanto, alcançar o sumo bem que é o fim da ação e não pode ser buscado ou
alcançado com vistas a outro elemento posterior.
Portanto, para Aristóteles o fim da qual toda ação humana visa é o sumo bem, ou seja,
a felicidade. Mas recai a pergunta, no que consiste a felicidade? Como pode ser alcançada? O
filósofo a define como uma certa atividade da alma conforme a virtude, em sua argumentação
recusa formas de vida que não podem identificar-se com a felicidade, sendo elas, o sumo bem
entendido como honra, ou riqueza, ou prazeres. A honra não pode ser um bem completo e
depende de terceiros para ser dada; a riqueza sempre será buscada como um meio para outra
coisa, e não um fim em si; por último, a vida dos prazeres também não pode ser completo e
assemelha o homem à vida dos animais. Seguindo a linha argumentativa, Aristóteles irá
dividir a alma em três aspectos de acordo com sua função e ação própria, a saber: a alma
vegetativa, responsável pela nutrição, pelo crescimento; a alma sensitiva, própria dos animais
como ser dotado de sensação e movimento, e a alma intelectiva, situada no âmbito da razão e
concernente somente aos homens. Desse modo, a função do homem excelente é completar
bem aquilo que é próprio de sua natureza, sendo esta, a atividade da alma e das ações segundo
sua razão.
Ao analisar minha vida, que é permitida uma investigação por conta do objeto ser o
mais íntimo possível e estar completamente indissociável da própria especulação filosófica,
penso que a visão da felicidade como algo inconstante e que não pode ser durável, ou que até
mesmo, é uma ilusão de que a alcançaremos em algum momento, é uma ideia que faz mais
sentido nesses termos do que a concepção aristotélica. Ao decorrer da vida a felicidade
sempre se mostra ali, basta dois ou três passos para pegá-la, mas quando finalmente
alcançamos esta coisa, outra surge no lugar a dois passos de distância, e quando levamos a
termo toda a busca que dura uma vida, ao fim olhamos em retrospecto e surge a pergunta, em
algum momento fui feliz? Posto que tudo que alcancei se torna cotidiano, tedioso, vazio, de
forma que sempre abre espaço para novos desejos, o reconhecimento da morte e o eterno
desaparecimento do meu ser fenomênico torna a pergunta ainda mais latente.
Por outro lado, contraditoriamente, também aprecio a visão aristotélica em toda a sua
argumentação acerca da felicidade, entendida como uma atividade que é possível mediante as
virtudes que são próprias do homem, segundo a melhor e mais perfeita, distinguindo-se entre
as virtudes morais e intelectuais que são caras àqueles que encontram na filosofia, na arte, um
sentido maior para a existência, que não necessariamente será plena de felicidade e satisfação,
por conta da própria natureza humana como animal que deseja incessantemente, mas que
permitem uma brecha e um desprendimento do querer mundano.