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Pediátricas
e Obstétricas
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
“Quando éramos crianças pensávamos que quando
crescêssemos não seríamos tão vulneráveis.
Mas crescer é aceitar a vulnerabilidade.
Estar vivo é ser vulnerável.”
Madeleine L’Engle
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
ISBN 978-989-8646-10-1
9 789898 646101
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
Nota
de Abertura
Nota de abertura
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem Este Manual destina-se a Enfermeiros e Médicos,
feito esforços consideráveis para melhorar a resposta permitindo-lhes aprofundar conhecimentos previamente
às situações de emergência médica, sobretudo no adquiridos e também adquirir novas competências,
que diz respeito aos tempos de resposta, ao acesso a habilitando-os a uma atuação de teor avançado que
cuidados de emergência e à eficiência da sua atuação. poderá fazer toda a diferença na vida daqueles que
Mas, este esforço para que o Sistema Integrado de diariamente assistimos, em cenários muitas vezes
Emergência Médica trabalhe cada vez melhor não complexos e hostis.
pode ficar apenas por aqui. É também fundamental Nestas páginas pode encontrar o trabalho de uma vasta
melhorar a nossa capacidade de intervenção no equipa, nas áreas técnicas, pedagógicas e, também,
terreno, as nossas competências técnicas e atualizar audiovisuais, que trabalhou afincadamente para lhe
os conhecimentos, de forma permanente e continuada, poder disponibilizar este Manual, que esperamos
habilitando todos os operacionais a intervirem da que se venha a revelar como uma ferramenta útil do
melhor forma possível. seu processo evolutivo de aquisição de novos e/ou
Assim, é com grande satisfação que lhe apresentamos o melhores conhecimentos. A toda esta equipa, cuja
novo Manual de Emergências Obstétricas e Pediátricas, composição encontrará na Ficha Técnica, aqui fica o
onde poderá encontrar aquelas que são as boas agradecimento do INEM pelo bom trabalho realizado.
práticas atuais, consensualizadas a nível nacional Termino, afirmando que o INEM conta com todos e com
e internacional, na assistência a estas vitimas com cada um para garantir uma assistência tecnicamente
particularidades muito próprias. qualificada, sempre com um elevado respeito e
Todos aqueles que desempenham funções consideração pela vida humana, a todos aqueles
operacionais na emergência médica pré-hospitalar, que possam eventualmente necessitar do nosso
são frequentemente confrontados com situações de saber e das nossas competências. Por isso, por essa
emergências obstétricas e/ou pediátricas, situações responsabilidade acrescida, temos a obrigação de
graves, habitualmente complexas, emocionalmente aproveitar cada dia como uma oportunidade única
exigentes e que impõe uma atuação segura, e e irrepetível para aprendermos, para melhorarmos.
tecnicamente adequada. Que este manual seja um dos instrumentos a utilizar
na prossecução desse modo de vida.
Coordenação Técnico-Científica
Miguel Félix,
Centro Hospitalar de Coimbra, Médico (Pediatria)
Design e Paginação
David Rafachinho,
Designer Senior
João Gonçalo,
Designer Senior
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
1. Introdução 12
2. Preparação a caminho do local e avaliação da situação 14
A. Preparação a caminho do local 15
B. Avaliação do local e situação 15
3. O triângulo de avaliação pediátrico (TAP) 16
a. Trabalho respiratório 18
b. Aparência 19
c. Perfusão periférica 20
d. Interpretação do TAP 21
i. Dificuldade respiratória 21
ii. Falência respiratória 21
iii. Choque 21
iv. Alterações metabólicas / Disfunção do SNC 21
v. Possíveis interpretações do Triângulo de avaliação pediátrico 22
4. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA PEDIÁTRICA 24
5. Airway, Permeabilização da via aérea com controlo da coluna cervical 30
A. Adjuvante básico da VA: Tubo orofaríngeo (tubo Guedell) 33
B. Insuflador manual e máscara facial 33
C. Via aérea avançada: Dispositivo laríngeo 34
D. Via aérea avançada: Tubo traqueal (TET) 35
E. Terapêutica para entubação (sequência rápida) 37
F. Via aérea cirúrgica: Cricotiroidotomia 38
6. Breathing, Ventilação e Oxigenação 40
A. Frequência respiratória 42
B. Saturação de oxigénio 43
C. Auscultação pulmonar 43
D. Falência respiratória 44
7. Circulation, assegurar a circulação com controlo de hemorragia 46
A. Frequência cardíaca 48
B. Qualidade do pulso 48
C. Temperatura cutânea e o tempo de preenchimento capilar 49
D. Pressão arterial 49
E. Avaliação da dor 50
F. Falência circulatória 51
G. Perda de volume sanguíneo e a repercussão na criança 51
H. Manutenção das necessidades hídricas diárias em função do peso corporal 52
8. Disability, Disfunção neurológica 54
A. Estado de consciência: escalas AVDS e GCS modificada 56
B. Falência do sistema nervoso central 57
9. Exposure, Exposição com controlo da temperatura 58
10. Avaliação Secundária 60
a. História 61
b. Exame físico sistematizado 62
11. Transporte: Stay and Play vs Scoop and Run? 64
a. Meio SIV 65
B. Meio SAV 65
C. O problema clínico 65
D. Benefícios esperados do tratamento 65
E. Nível de conforto (Scoop and Play?) 65
F. Pediatric Trauma Score 66
1. EMERGÊNCIA RESPIRATÓRIA 72
A. Doenças predominantemente obstrutiva 75
i. Via aérea superior 75
ii. Via aérea inferior 75
B. Doenças predominantemente restritivas 75
C. Situações extrapulmonares com repercussão no aparelho respiratório 76
D. Situações mais comuns 77
i. Laringite, Laringotraqueíte ou Croup 77
1. Laringite: Escala de gravidade 77
2. Laringite, Laringotraqueíte ou Croup 78
3. Laringite terapêutica 78
ii. Bronquiolite 80
1. Escala de gravidade da bronquiolite 80
2. Bronquiolite: Terapêutica 80
iii. Asma 81
1. Avaliação da gravidade da crise 81
2. EMERGÊNCIA CARDIOVASCULAR 84
A. Choque hipovolémico 89
i. Avaliação da perda de volume sanguíneo 90
ii. Resposta ao bólus inicial de fluidoterapia 91
B. Choque Distributivo 92
i. Sépsis 92
1. Doença meningocócica 92
ii. Anafilaxia 95
c. Choque cardiogénico 96
Índice
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA 148
SIGLAS 152
ANEXO: FITA DE BROSELOW 156
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
10
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
PEDIÁTRICA
11
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
12
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
1. introdução
SECÇÃO 1 Introdução
13
A abordagem da criança gravemente doente ou com A equipa de Emergência Pré-Hospitalar (EPH) deve ter notas:
lesão traumática importante é, provavelmente, um como objetivo efetuar o tratamento emergente e eficaz
dos desafios mais stressantes para o profissional de à vítima pediátrica, e simultaneamente, proporcionar
saúde que atua em ambiente pré-hospitalar. conforto à criança e à família.
A colheita de dados e a observação pode ser dificultada A abordagem correta da criança com doença ou
por diversos fatores, tais como: lesão grave implica a existência de conhecimentos
específicos (não aptidões especiais).
• Interação limitada: O processo de avaliação desenvolve-se ao longo de
Criança sem capacidade de expressão verbal; 5 passos distintos:
Criança com medo e incapaz de relembrar os
factos sucedidos (lógica vs ilógica/fantasia); 1) Preparação a caminho do local;
Ansiedade face ao toque e/ou presença de
estranhos durante a avaliação; 2) Avaliação da situação;
• Diferenças anatomo - fisiológicas quando comparada
ao adulto; 3) Avaliação geral usando o triângulo de avaliação
• Sinais vitais difíceis de obter e com padrão que pediátrico (TAP);
varia de acordo com a idade;
• Cuidador com medo e ansioso. 4) Exame Primário;
5) Exame Secundário.
De todas as atividades comunitárias que podem contribuir para o bem-estar da criança e para
a melhoria da sua saúde, a menos dispendiosa é a prevenção de doenças e lesões graves.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
14
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
2. PREPARAÇÃO
A CAMINHO DO LOCAL
E AVALIAÇÃO
DA SITUAÇÃO
SECÇÃO 1 Preparação a caminho do local
e avaliação da situação
15
do local e situação
A abordagem da vítima pediátrica inicia-se no momento No local, é essencial começar por excluir possíveis
da ativação. ameaças à segurança dos profissionais, da criança,
A informação inicial fornecida relativa à idade, dos cuidadores ou de testemunhas no local.
género da criança, localização, e a principal queixa
ou mecanismo de lesão (ou ambas) são a base da A criança pode ela própria representar um risco
preparação. A caminho do local, deve ser mentalmente (ex. se portadora de doença infeciosa) e portanto
preparada a abordagem e tratamento à vítima e a assume particular importância a utilização de
interação com a família/cuidador. equipamento de proteção individual adequado
Isto significa antecipar: (ex. luvas, batas, máscaras, entre outros).
O Triângulo de Avaliação Pediátrico (TAP) deve ser aplicado no momento em que se estabelece
contacto visual com a criança, independentemente da idade ou de qualquer queixa mais visível.
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
3. O Triângulo
de Avaliação
Pediátrico (TAP)
SECÇÃO 1 O Triângulo de Avaliação
Pediátrico (TAP)
17
notas:
Aparência
o
Pe
ri
ató
rf
us
ir
ão
sp
re
pe
o
ri
h
fé
al
r
ab
ica
Tr
O TAP baseia-se exclusivamente na observação Esta avaliação rápida irá determinar a urgência de
(visual). O objetivo é que a equipa de EPH consiga, intervenção, isto é vai definir a rapidez com que é
com base numa impressão geral determinar nos necessário tratar a criança (usando uma abordagem
primeiros segundos (10-15 segundos) após o encontro adequada ao desenvolvimento da criança) e até que
se o estado fisiológico da criança é ou não crítico, ponto será possível efetuar um exame mais detalhado
com base nas 3 componentes que constituem o TAP: (secundário) antes de decidir iniciar o transporte da
vítima.
1) Aparência;
2) Trabalho respiratório; Outro grande objetivo do TAP consiste na identificação
3) Circulação periférica. da categoria da alteração fisiológica (não permite
formular o diagnóstico definitivo). Nesta fase inicial o
objetivo é perceber se a criança apresenta um problema
do foro respiratório, circulatório ou neurológico.
O TAP não substitui a avaliação dos sinais vitais e avaliação ABCDE, que fazem parte do
exame primário.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
18
notas:
O trabalho respiratório
o
ri
a tentativa da criança em compensar problemas de
ató
oxigenação e/ou ventilação.
Este componente do TAP é avaliado sem recurso a
ir
sp
estetoscópio ou oximetria.
re
ho
al
ab
Tr
INDICADORES
ACHADOS
do trabalho respiratório
a que se deve ter atenção
aumentado
Posicionamento anormal
(Qual é a posição mais confortável Posição de “fungador”, posição de “tripé”
para facilitar a entrada do ar)
A criança que apresenta a combinação de vários sinais que indicam trabalho respiratório
aumentado(ex. tiragem supraclavicular, subesternal e sibilância) apresenta um grau de
compromisso respiratório mais grave do que a criança que apresenta apenas tiragem
supraclavicular.
SECÇÃO 1 O Triângulo de Avaliação
Pediátrico (TAP)
19
Aparência notas:
Aparência
A aparência reflete a eficácia da ventilação, da
oxigenação, da perfusão cerebral, e do normal
funcionamento do sistema nervoso central (SNC).
As caraterísticas mais importantes da aparência,
são sumarizadas pela mnemónica “TICLS”: tónus,
interatividade, consolabilidade, olhar/contemplação
(look), e discurso/choro (speech).
T
• Movimenta-se ou resiste vigorosamente à observação?
• Tem tónus muscular adequado à idade?
• Está letárgica, sem reação ou com tónus muscular diminuído?
I
• A presença de uma pessoa, objeto ou som distraem ou atraem a sua atenção?
• Tenta alcançar, agarrar e brincar com um objeto ou instrumento de exame (ex. lanterna
ou espátula)?
• Não está interessada em brincar e interagir com o cuidador ou profissional de saúde?
C
• O choro ou agitação são interrompidos, por momentos, quando consolada?
• Não está consolável?
• Chora ininterruptamente?
S
• Tem um choro forte e espontâneo, ou fraco e tipo choramingar?
• Apresenta gemido?
• O discurso é apropriado à idade ou é confuso e atrapalhado?
• Nunca ignorar o lactente pálido, com olhar vago, ou que não responde de forma adequada
a estímulos;
• A aparência reflete a gravidade da doença/lesão mas por si só não permite definir a causa.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
20
perfusão periférica
notas:
marmoreada ou corada?
ri
ca
Nunca esperar pela instalação/desenvolvimento da cianose para iniciar o tratamento com aporte
de oxigénio e/ou ventilação assistida. A presença de cianose é sempre um sinal crítico que
necessita de intervenção imediata com um suporte ventilatório.
Não confundir com acrocianose (mãos e pés cianosados em recém-nascidos ou lactentes com
menos de 2 meses de idade). Acrocianose é um achado frequente em lactentes e reflete um
controlo ainda pouco eficaz da função vasomotora e não hipóxia ou choque.
SECÇÃO 1 O Triângulo de Avaliação
Pediátrico (TAP)
21
CRIANÇA
COM
TRABALHO MECANISMO POTENCIALMENTE
aparência PERFUSÃO PROBLEMA?
RESPIRATÓRIO DE CRÍTICA?
COMPENSAÇÃO
EFICAZ?
Sem compromisso
Nomal Nomal Boa SIM NÃO
ABC
Dificuldade
Nomal Boa SIM NÃO
respiratória
, Pequeno Falência
Anomal Boa NÃO SIM
esforço respiratória
Vasoconstrição Provavelmente
Normal Nomal Má SIM
periférica NÃO
Normal,
Anomal Má Choque NÃO SIM
ligeiro
Pequeno Falência
Anomal Má NÃO SIM
esforço cardio-pulmonar
Aparência
o
Pe
ri
ató
r fu
ir
sã
sp
o
re
pe
o
ri
h
fé
al
r
ab
ica
Tr
SECÇÃO 1 O Triângulo de Avaliação
Pediátrico (TAP)
23
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
24
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
4. AVALIAÇÃO
PRIMÁRIA PEDIÁTRICA
SECÇÃO 1 Avaliação Primária
Pediátrica
25
fundamentais: o Exame Primário também conhecido (Permeabilização da via aérea com controlo da coluna
por ABCDE e a decisão de transporte / contacto com cervical)
o codu para solicitar ajuda diferenciada. O Exame
Primário, à semelhança do que acontece nos adultos, BREATHING
estabelece uma ordem específica para tratar de (Ventilação e Oxigenação)
problemas que ameaçam a vida à medida que vão
sendo identificados, antes de avançar para o passo CIRCULATION
seguinte. Tendo em conta a imaturidade da estrutura (Assegurar a circulação com controlo de hemorragia)
anatómica e a resposta fisiológica particular, a criança
requer atenções especiais na avaliação inicial, que DISABILITY
envolve os seguintes componentes: (Disfunção neurológica)
EXPOSURE
(Exposição com controlo da temperatura)
Depois da avaliação primária outra decisão crucial é se deve permanecer no local e começar
o tratamento ou transportar de imediato. O tipo de problema clínico, as vantagens esperadas
do transporte precoce, o nível de experiência na abordagem de vítimas pediátricas por parte
da equipa e o tempo de transporte são os elementos principais na decisão de transporte.
PÁGINA 9
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
26
Segurança
Avaliação do Local
NÃO Triagem:
START modificado
Avaliar TAP ao aproximar:
. Aparência
. Trabalho Respiratório
. Circulação Periférica 80-100 cm
11-18 kg
Mecanismo de
Lesão Significativo?
. Mecanismo com impacto violento na cabeça, pescoço, tronco ou pélvis
. Incidentes de aceleração/desaceleração súbita (colisões, explosões e outros)
. Queda superior a 3 vezes a altura da vítima
. Queda que envolva a cabeça
. Projeção ou queda de qualquer meio de transporte motorizado ou propulsão
. Acidentes de mergulho em águas rasas
Avaliação Primária
Iniciar questionário
dirigido: CHAMU
Identificar e Corrigir situações
que colocam a vida da vítima
em Risco
Criança gravemente
Transporte
DOENTE?
SIM Se vítima crítica limitar tempo
no local até 7-10 minutos
NÃO
Avaliação Secundária
Transporte
Após abordar todas
as lesões/queixas
e disfunções associadas
Controlar Hemorragia:
1º Compressão manual direta Se AVDS=D ou S (ou GCS≤8) vigiar a permeabilidade da VA
2º Garrote Consciente, orientado e colaborante: iniciar questionário dirigido
3º Outras
Permeabilizar a VA: Remover corpos estranhos, Aspirar, Posicionamento confortável; Permeabilizar a VA (subluxação da mandíbula, extensão da
cabeça e elevação do mento), uso de adjuvantes básicos da VA e/ou avançados (Dispositivo laríngeo; TET se equipa treinada), Cricotiroidotomia
de recurso; Aspiração com pressão entre [80,120]mmHg; Ponderar sedação e analgesia;
IDENTIFICAR/CORRIGIR situação potencialmente fatal: OVA
Pesquisar: Movimentos simétricos da parede torácica? Uso de músculos acessórios? (uso excessivo de músculos abdominais, tiragem supraclavicular,
intercostal ou subestrenal, adejo nasal), cianose central?
Inspecionar e Palpar Tórax: Avaliar as caraterísticas da ventilação, Instabilidade da parede torácica? Dor? Deformidades e/ou Crepitações? Percussão
digital torácica (hiper-ressonância ou macicez)
Auscultação (na linha média axilar): Estridor? Pieira? Rouquidão expiratória? Sibilos? Crepitar na inspiração? Ausência de sons?
Monitorizar (se disponível): SpO2, Capnografia
Oxigenoterapia (SpO2≥ 95%); Ventilação assistida (FR>60cr/min; <6Anos: FR<20cr/min; [6,12]Anos: FR< 12cr/min);
IDENTIFICAR/CORRIGIR situação potencialmente fatal:
OVA inferior, Pneumotórax hipertensivo, Hemotórax maciço, Ferida torácica aberta; Retalho costal; Hipóxia
Pesquisar e Inspecionar: identificar Hemorragias Externas; Pele (temperatura, humidade e coloração); pesquisa de hemorragia oculta
(tórax, abdómen, bacia, fémur, úmero); TPC; Palpar Pulsos (Central e Periférico; Avaliar simetria de pulsos radiais e femorais)
Monitorizar (se disponível): Ritmo ECG, FC, PA (critérios para inclusão VVS)
Identificar Choque (tipo e classe de choque)
Controlar hemorragias; Acessos IV/IO; Fluidoterapia (Choque: bólus de Cristalóide: 20ml/Kg); Iniciar estabilização de fraturas; Antecipar necessidade
de intervenção cirúrgica (Bloco operatório): Hemorragia torácica maciça; Hemorragia compartimento abdominal; Disjunção da bacia com hemorragia não controlada;
Lesões vasculares graves;
IDENTIFICAR/CORRIGIR situação potencialmente fatal: Hipovolémia, Alterações metabólicas (Hipo ou Hipercaliémia), Tromboembolismo, Tamponamento cardíaco
Avaliar: Pupilas (tamanho e reatividade), estado de consciência (GCS), Sinais focais bilateralmente (força muscular e deficits sensório motores:
músculos da face, membros inferiores e membros superiores, alterações da linguagem), nível da lesão (se TVM)
Pesquisar sinais de HIC e/ou encravamento
Avaliar Glicemia capilar
Remover roupa, efetuar imobilizações, tratamento de feridas, prevenir hipotermia, preservar membros amputados
AIRWAY
BREATHING
CIRCULATION
DISABILITY
EXPOSURE
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
V- AIRMAY
5. Airway
Permeabilização
da via aérea com
controlo da
coluna cervical
SECÇÃO 1 Airway
31
Particularidades
Anatómicas Condição
e Fisiológicas
• Quanto menor a criança maior a desproporção • O occipital proeminente força o pescoço paraligeira
entre a cabeça e a face (e o corpo); flexão na posição supina quando em decúbito dorsal
em superfície plana;
• Maior probabilidade de lesão cervical (no Trauma);
• Narinas com pouco suporte de cartilagem • Podem apresentar dispneia, pela simples congestão
e respiração predominantemente nasal em nasal. A maior resistência ao fluxo aéreo ocorre ao
lactentes até aos 4-6 meses; nível das narinas;
• Adejo nasal é um indicador fiável de insuficiência
respiratória na criança;
• A VA pediátrica é mais estreita a todos os níveis • Risco de OVA devido a pequena quantidade de
(principalmente ao nível da cartilagem cricóide); muco, sangue ou por presença de corpos estranhos
ou pelos próprios tecidos moles da cavidade oral;
• Cartilagem da cricóide é a parte mais estreita • Providencia um “cuff anatómico” para tubos ET;
da VA e a Traqueia é em forma de funil; • Local frequente de OVA por corpo estranho;
notas:
A: Permeabilização da Via aérea
com controlo da coluna cervical
• Pesquisar sinais de OVA: Desobstrução/permeabilização da VA (guidelines SAV)
• Inspecionar o pescoço :
Enfisema SC?
Distensão das veias?
Desvio da traqueia?
Feridas?
• Se vítima com TET, qualquer movimento da cabeça pode deslocar o tubo, é necessário avaliar
periodicamente se dispositivo permanece em posição adequada;
33
INSUFLADOR MANUAL
E MÁSCARA FACIAL
Tanto a máscara como o insuflador devem ser adequados ao tamanho da criança. A máscara
deve permitir a ventilação sem fugas, incluindo a boca e o nariz, sem causar pressão sobre os
olhos. O insuflador manual possui uma admissão de oxigénio independente e um acumulador,
sem o qual é impossível atingir concentrações de oxigénio superiores a 59-60%.
notas:
VA AVANÇADA:
Dispositivo laríngeo
A colocação ideal da máscara laríngea, em pediatria,
pode ser difícil, sobretudo em crianças pequenas.
Uma técnica de rotação do dispositivo, com o cuff
parcialmente insuflado é relatada como obtendo
mais sucesso: inserir com lúmen ao contrário (virado
para trás) e depois rodar 180º ao chegar à posição
posterior à laringe.
Tamanho
da Máscara Peso Ar
da criança no Cuff
Laríngea
1 <5 Kg 4
1½ 5-10 Kg 7
2 10-20 Kg 10
2½ 20-30 Kg 14
4 Adulto Normal 30
5 Adulto Grande 40
35
VA AVANÇADA: notas:
Ter presente que existe o risco de aspiração, o que implica manobras de proteção da via aérea
na entubação, pressionando a cricóide (manobra de Sellick) durante todo o procedimento (desde
ventilação assistida até entubação).
notas:
Fórmula para cálculo do tamanho do TET (crianças com >2 anos de idade)
Tamanho Tubo Traqueal = (Idade / 4) +4
TET com cuff indicado para crianças com > 8 anos. Poder-se-á usar em crianças com mais de 1 ano
se a pressão de insuflação do cuff não for excessiva (monitorizada com equipamento específico).
37
notas:
notas:
VIA AÉREA Cirúrgica:
CRICOTIROIDOTOMIA
É uma técnica de permeabilização da via aérea
de último recurso, a utilizar apenas se a via aérea
superior permanece totalmente obstruída com
impossibilidade de ventilação. Deve ser utilizado um
Kit de cricotiroidotomia (em alternativa usar um abocath
com calibre entre G14 e G16, ligando este ao insuflador
manual, com o conetor de um TET nº 3 ou nº 3,5).
Insuflar durante 1 segundo e proporcionar 4 segundos
para permitir a saída passiva de ar (minimiza o risco
de barotrauma).
Insuflador manual
Adaptador standard
de tubo traqueal
Seringa 3 mL
Figura 17:
Na ausência de KIT de cricotiroidotomia a técnica pode ser realizada como demonstrado na imagem
SECÇÃO 1 Airway
39
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
40
6. Breathing
Ventilação
e Oxigenação
SECÇÃO 1 Breathing
41
notas:
Nas vítimas PEDIáTRIcas a PCR é, em regra, secundária a falência Respiratória e/ou Hipoxémia.
O restabelecimento da ventilação eficaz é por vezes suficiente para reverter a gravidade da situação.
Particularidades
Anatómicas Condição
e Fisiológicas
• Taxa metabólica mais elevada; • Uso menos eficiente de O2 e glucose. Fatores como a febre,
ansiedade e outros podem aumentar a taxa metabólica;
• O volume corrente é de 7-10 mL/Kg • FR lenta ou irregular na criança gravemente doente é um sinal
e a FR varia com a idade; peri-paragem;
• Nas crianças até à idade pré-escolar, o volume corrente é muito
dependente do diafragma;
• volume residual e reserva de O2;
• Parede torácica mais fina; • Fácil transmissão do murmúrio vesicular através da parede
torácica;
• Alvéolos mais pequenos e em • Menor superfície alveolar disponível para trocas gasosas em
menor número (aumentam até ao lactentes e crianças pequenas;
meio da infância cerca de 9 vezes • Criança necessita de FR para uma função normal;
comparativamente com número Alvéolos mais propensos a colapsar no final da expiração.
presente à nascença).
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
42
notas:
B: Ventilar e Oxigenar
FREQUÊNCIA
RESPIRATÓRIA:
A avaliação da frequência respiratória deve ser efetuada grave e possível falência respiratória.
em 30 segundos, duplicando depois o número obtido. A frequência respiratória anormalmente lenta é sempre
As crianças podem ter uma “ventilação periódica” ou preocupante porque pode ser sinal de uma paragem
seja, uma variabilidade da frequência respiratória com respiratória iminente.
pequenos períodos de apneia (< 20 segundos). Uma Frequência respiratória < 20 cr/min em crianças com
contagem em apenas 10 a 15 segundos pode dar uma menos de 6 anos de idade e < 12 cr/min em crianças
frequência respiratória incorreta. com menos de 15 anos de idade devem levar a equipa
A frequência respiratória muito elevada (>60cr/min em a procurar/identificar sinais de falência respiratória.
qualquer idade), especialmente com aparência anormal
ou tiragem global, indica uma dificuldade respiratória
43
notas:
A frequência respiratória normal por si só não garante uma adequada oxigenação e ventilação.
A frequência respiratória deve ser interpretada em conjunto com a aparência, a perfusão
periférica e a existência ou não de sinais de aumento do trabalho respiratório.
Se for necessária ventilação assistida, a frequência respiratória deve estar de acordo com a idade
da criança. A ventilação assistida com volume, pressão e/ou frequência exagerados é prejudicial.
SATURAÇÃO AUSCULTAÇÃO
DE OXIGÉNIO: PULMONAR:
Depois de determinar a frequência respiratória e A auscultação deve ser efetuada na linha média axilar,
antes da auscultação, deve obter-se a oximetria. durante a inspiração e a expiração. Pretende-se
A oximetria acima de 95% em ar ambiente indica uma verificar se existem alterações no murmúrio vesicular
oxigenação adequada. (ex. crepitações e pieira/broncoespasmo ou ausência
de murmúrio vesicular). O crepitar na inspiração indica
No entanto é necessária cautela para não subestimar a doença nos próprios alvéolos.
dificuldade respiratória na criança com oximetria igual
ou superior a 95%. A criança pode compensar a hipóxia Quanto mais nova for a criança, mais difícil é a avaliação
através do aumento significativo da frequência e da de sons anormais à auscultação.
profundidade da ventilação, e neste caso a oximetria O broncoespasmo durante a expiração indica uma
pode não refletir a verdadeira gravidade ou urgência obstrução da via aérea inferior. A auscultação ajuda
do problema respiratório. também a avaliar o volume de ar movimentado e a
eficácia da ventilação.
Tal como com qualquer procedimento, a oximetria
deve ser interpretada no contexto global do quadro A criança com um aumento da frequência ventilatória e
clínico, incluindo a frequência respiratória, aparência, diminuição de ar mobilizado pode estar numa situação
e perfusão periférica. de paragem ventilatória iminente.
A tabela seguinte sintetiza os sons anormais,
as causas, e os exemplos mais comuns de processos
de doenças associadas.
ETIOLOGIAS
SOM CAUSA
POSSÍVEIS
Laringite, Laringotraqueíte,
Obstrução da via edema da glote, aspiração de
Estridor aérea superior um corpo estranho, abcesso
retrofaríngeo
notas:
FALÊNCIA
RESPIRATÓRIA:
A criança com dificuldade respiratória faz uso
dos mecanismos compensatórios (aumento da
frequência ventilatória quando o volume corrente
está diminuído ou aumento do volume corrente
quando a frequência ventilatória é lenta).
SINAIS DE ALERTA
. Aumento da FC (Taquicardia,
ou em fase terminal Bradicardia)
. Alteração do estado de consciência
. Exaustão
FALÊNCIA RESPIRATÓRIA
Entubação se:
VA insegura;
Necessidade de ventilação prolongada.
45
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
46
7. circulation
assegurar a
circulação
com controlo
de hemorragia
SECÇÃO 1 Circulation
47
Particularidades
Anatómicas Condição
e Fisiológicas
• FC rápida, diminui com a idade; • A taquicardia pode ser resposta a hipovolémia e/ou Choque,
mas também à dor, febre, medo ou stress psicológico ou
emocional;
• Lactentes com função renal imatura; • Desidratação pode ocorrer rapidamente devido a
incapacidade de concentrar urina;
• Cortical óssea mais fina, medula óssea • Facilidade na colocação de via intraóssea.
mais abundante.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
48
notas:
Com FC > 180 bat/min, é necessário um monitor para determinar corretamente a frequência
cardíaca e ritmo ECG.
SECÇÃO 1 Circulation
49
notas:
notas:
AVALIAÇÃO DA DOR:
A dor está presente em quase todo o tipo de lesões e à dor. Podem ser utilizadas escalas visuais para a
grande parte das doenças. O tratamento inadequado autoavaliação da dor, tais como, a das “faces” (Wong-
da dor tem efeitos adversos na criança e na família. Baker FACES Scale).
A dor causa desconforto à criança, aos cuidadores e Permanecer calmo e manter o cuidador com a criança
interfere com a avaliação. são estratégias úteis.
O stress pós-traumático é também muito comum em A via intravenosa (EV) é a mais eficaz, a mais rápida
crianças que experimentaram dor devido a uma doença e a mais controlável, mas envolve estabelecer um
ou lesão grave e não receberam alívio farmacológico. acesso vascular, o que é doloroso.
É essencial avaliar cuidadosamente a dor em todas A resposta da criança à dor e à medicação ansiolítica
as crianças e considerar os métodos eficazes para é por vezes imprevisível, e deve ser cuidadosamente
o seu alívio sempre que apropriado. A avaliação da ponderada para evitar efeitos secundários indesejados.
dor deve ter em consideração a idade e/ou estadio de A medicação utilizada para analgesia pode ter um efeito
desenvolvimento da criança. sedativo com consequente depressão respiratória,
A capacidade para reconhecer a dor na criança bradicardia, hipoxemia, hipotensão, ou mesmo perda
melhora com a idade (ex. o choro e a agitação numa dos reflexos protetores da via aérea. Ocasionalmente,
criança pré-verbal que está inconsolável no colo do terapêutica ansiolítica pode causar agitação paradoxal.
seu cuidador pode ser devido à fome, hipóxia, ou dor).
Em contrapartida, crianças verbais com mais de 3
anos de idade são bastante explícitas em relação
Não-farmacológico Farmacológico
Tabela 12: Alguns métodos para alívio da ansiedade e reduzir a perceção de dor
51
Perda de Sangue
<30% 30-45% >45%
% Volume
Taquicardia
Frequência cardíaca Ligeiro aumento Aumento moderado
Bradicardia
Pressão arterial
Normal ou aumentada Normal ou diminuída Diminuída
sistólica
Tempo preenchimento
Prolongado Muito Prolongado -
capilar
Frequência
Aumento moderado Aumento acentuado Respiração agónica
respiratória
Fórmulas para cálculo da pressão arterial sistólica, em pediatria (crianças com >1 ano de idade):
• PAS normal, expetável para a idade (mmHg) = (Idade x 2) + 80
• PAS mínima (referência para choque descompensado) mmHg = (Idade x 2) + 70
notas:
Manutenção das necessidades
hídricas diárias em função do peso corporal
Necessidades hídricas
PESO
(mL/dia)
3 - 10 Kg 100 mL/Kg/Dia
20 - 30 Kg 1500 + (20mL/Kg/Dia)#
53
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
54
8. Disability
Disfunção
Neurológica
SECÇÃO 1 Disability
55
As crianças são particularmente susceptíveis aos No trauma pediátrico, a perda imediata de consciência notas:
efeitos de lesão cerebral secundária que pode ser é comum na lesão axonal difusa, enquanto uma
produzida por hipóxia, hipo hipercápnia, hipotensão deterioração rápida e progressiva é sugestiva de
com perfusão cerebral diminuída, convulsão e edema cerebral difuso.
hipotermia. As crianças com fontanelas e suturas não fixas são
mais tolerantes às lesões intracranianas expansivas.
A adequação do volume sanguíneo circulante é Os sinais de massa em expansão podem não estar
essencial e a hipóxia deve ser evitada. presentes até ao momento em que ocorre rápida
descompensação.
Particularidades
Anatómicas Condição
e Fisiológicas
• O cérebro aumenta de tamanho (para • O crânio oferece proteção inadequada para o cérebro
o dobro) nos primeiros 6 meses de vida e da criança e o TCE pode produzir lesões cerebrais graves,
atinge 80% do tamanho do cérebro adulto sobretudo no 1º ano de vida;
aos 2 anos de idade. Apresenta maior • Lesões difusas do encéfalo (sobretudo edema e lesão axonal
conteúdo aquoso e a sua mielinização difusa) são mais comuns na criança do que em qualquer outra
ainda não está completa; faixa etária;
• Lesões focais por contusão ou laceração que ocorrem
adjacentes a proeminências ósseas e hemorragia intracranianas
são incomuns;
• Fontanela anterior fecha entre os • O aumento gradual da pressão intracraniana pode ser
12-18 meses; acompanhado pelo aumento da caixa craniana;
• Lactentes têm o sistema nervoso • Controlo limitado da temperatura corporal, por alterações
autónomo imaturo. ambientais.
D: Disfunção neurológica
notas:
ESTADO DE CONSCIÊNCIA:
Escalas AVDS e GCS modificada
GCS AVDS
15 A TCE MINOR
9 V TCE MODERADO
D
3 S TCE GRAVE
Figura 21: Escala de AVDS (escala simplificada para avaliar o estado de consciência)
CUMPRE ORDENS
ORIENTADA
ESPONTÂNEA 4 5 MOVIMENTOS NORMAIS 6
BALBUCIA
ESPONTÂNEOS
ORDEM VERBAL CONFUSA LOCALIZA A DOR
3 4 5
ESTÍMULO VERBAL CHORO IRRITÁVEL FUGA AO TOQUE
INAPROPRIADA
À DOR 2 3 FUGA À DOR 4
CHORO À DOR
INCOMPREENSÍVEL
AUSENTE 1 2 FLEXÃO ANORMAL 3
GEMIDO À DOR
facto
A GCS foi criada em 1974 por dois Neurocirurgiões Escoceses:
Graham Teasdale e Bryan Jennet.
SECÇÃO 1 Disability
57
notas:
FALÊNCIA DO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL (SNC)
O reconhecimento de potencial falência do SNC
(com etiologias diversas) passa por uma avaliação
neurológica rápida e sumária, depois de garantida
a abordagem das componentes ABC do Exame
Primário:
Reflexos pupilares:
• Midríase;
• Não reatividade;
• Anisocória.
Convulsões?
Na presença de convulsões é importante observar
as suas caraterísticas, não esquecendo que se
mantidas podem originar lesões irreversíveis do
SNC.
Sinais de
hipertensão craniana/
encravamento iminente:
São sinais de aumento de pressão intracraniana/
herniação iminente e que implicam uma atitude
emergente os seguintes sinais:
• Midríase bilateral;
• Anisocória;
• Hipertensão arterial;
• Bradicardia;
• Padrão respiratório anormal;
• Postura em descerebração ou descorticação.
9. Exposure
Exposição
com controlo
da temperatura
SECÇÃO 1 Exposure
59
Particularidades Anatómicas
Condição
e Fisiológicas
• Criança deve ser exposta o tempo suficiente para efetuar inspeção visual, mas evitando a instalação da
hipotermia (ex. o lactente despido pode ficar rapidamente hipotérmico, mesmo à temperatura ambiente
amena);
• Pesquisar lesões óbvias na pele (sugestivas de infeções ou outros);
• Providenciar medidas para manter a temperatura corporal normal, ou aquecer a criança:
Aquecer ambiente (célula sanitária e outros);
Mantas térmicas;
Fluidos EV aquecidos;
• Nas crianças com febre promover medidas de arrefecimento (as necessidades metabólicas aumentam
10-13% por cada grau de temperatura acima do normal):
Remover excesso de roupa;
Administrar antipiréticos;
Administrar fluidos EV à temperatura corporal normal.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
60
SECÇÃO 1
10. AVALIAÇÃO
SECUNDÁRIA
X- AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
SECÇÃO 1 Avaliação secundária
61
HISTÓRIA notas:
Se a criança estiver fisiologicamente instável baseado É essencial não deixar passar despercebidas pistas
no exame primário, a decisão pode ser transportar de problemas potencialmente graves que estão
imediatamente sem efetuar a obtenção da história subjacentes (ex. intoxicações, problemas metabólicos,
ou exame físico. e infeções sistémicas podem estar presentes em
achados não específicos em lactentes e crianças).
Se a criança está estável e o local é seguro, é importante
realizar o exame físico e recolha da história. Após a Considerar o abuso infantil quando os achados físicos
realização do exame físico e obtenção da história não correspondem à queixa principal ou se a história
(CHAMU) é importante reavaliar os achados baseados não é plausível.
na informação adicional.
Eventos chave:
• Viagens;
• Trauma;
• História de febre anterior;
• Sintomas em familiares;
• Potencial exposição tóxica.
• Alergias conhecidas;
ALERGIAS • História de anafilaxia.
notas:
EXAME FÍSICO
SISTEMATIZADO:
Deverá ser realizado por segmentos corporais, na
mesma sequência do adulto (cabeça, tórax, abdómen,
bacia, extremidades e dorso) com exceção para
crianças pequenas (lactentes e idade pré-escolar),
nas quais se deve utilizar uma sequência dos pés à
cabeça. Este método permite ao profissional ganhar a
confiança e cooperação da criança. É importante obter
a ajuda do cuidador para efetuar o exame detalhado.
OBSERVAções GERAIS:
Observar o vestuário. Procurar odores, manchas ou
nódoas que possam sugerir intoxicação. Caso exista
suspeita de intoxicação, remover a roupa suja ou
manchada, e lavar a pele da criança com água e sabão
ou, em caso de dúvidas contactar o CIAV.
63
notas:
. Quantificar parâmetros vitais: PA, FR, FC, SpO2 , (Re) Avaliar Dor;
. Concluir recolha de informação: CHAMU;
. Exame físico sistematizado.
Palpar/Pesquisar: Crânio, Face (nariz, boca, região interna e posterior das orelhas, órbitas), região
cervical posterior;
Inspecionar: perda de liquido (LCR ou sangue) pelo nariz/olhos/ouvidos, instabilidade dos ossos da
face, Hematomas retro-auriculares e peri-orbitais, alteração dos sons auscultatórios ou rouquidão da voz.
TRAUMA
TÓRAX
ABDÓMEN
BACIA E PERÍNEO
Inspecionar e palpar: Dor? Crepitações? instabilidade da cintura pélvica? Períneo com Hematomas?
TRAUMA
EXTREMIDADES
Inspecionar e Palpar: evidências de trauma (crepitações, dor, movimentos anormais dos ossos e
articulações), equimose, eritema (não usual), coloração, função sensório-motor e pulso distal de
cada membro (comparando bilateralmente).
TRAUMA
DORSO E SUPERFÍCIES
POSTERIORES
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA PEDIÁTRICA
11. transporte
XI- TRANSPORTE
SECÇÃO 1 Transporte
65
versus DO TRATAMENTO:
Scoop and Run? O tempo até ao hospital pode também afetar
significativamente o prognóstico das crianças que
Depois de completar o Exame Primário e iniciar a necessitam de cuidados cirúrgicos ou crianças com
ressuscitação é necessário tomar uma decisão crucial: determinadas doenças médicas (ex. criança em
transportar imediatamente a criança para a unidade choque cardiogénico beneficiará do transporte para
de saúde, ou continuar com a avaliação e abordagem o tratamento definitivo, já que o hospital é o melhor
adicional no local? local para tratar esta condição rara e complexa).
Por outro lado, algumas crianças gravemente
doentes podem beneficiar da abordagem do SAV
MEIO SIV: no local (ex. na criança a convulsivar o tratamento
inicial com benzodiazepinas é a melhor opção para
As opções de tratamento no local são limitadas.
controlar precocemente as convulsões ou no caso de
A solicitação de SAV ou transporte precoce é indicado
crianças diabéticas inconscientes com hipoglicémia
se a situação for insegura para a criança, cuidador,
a administração precoce de glicose diminui o risco
EPH ou ainda quando a criança apresenta:
de lesão cerebral).
• Um mecanismo de lesão com risco de vida;
• Uma história compatível com uma doença grave;
• Uma anormalidade fisiológica identificada durante NÍVEL DE CONFORTO
o Exame Primário;
• Uma potencial anormalidade anatómica grave;
(SCOOP AND PLAY?):
• Dor significativa.
Sempre que a EPH entenda que a doença ou lesão
requerem um nível de cuidado mais elevado, é
MEIO SAV: recomendado solicitar ajuda diferenciada ou iniciar
o transporte de imediato.
Com equipa SAV com as opções de tratamento
mais alargadas, a decisão de transporte é por vezes Além disso, sempre que a EPH se sentir pouco
complexa. Os fatores principais a considerar incluem: confortável com uma intervenção crítica é preferível
• O tipo de problema clínico (lesão versus doença); transportar e tentar a intervenção a caminho para o
• Os benefícios esperados do tratamento pelo SAV hospital em vez de permanecer no local (ex. despender
no local; tempo no local a tentar canalizar acesso venoso
• O nível de conforto dos profissionais que prestam periférico na criança com choque hipovolémico
SAV; descompensado). O tempo gasto em múltiplas
• Tempo de transporte para a Unidade Hospitalar tentativas de colocação de cateter EV, no local poderia
indicada. ser mais bem empregue no transporte da criança para
a unidade hospitalar onde o choque vai ser tratado em
definitivo. Na verdade, este tempo nunca se justifica
O PROBLEMA CLÍNICO: porque numa criança em choque hipovolémico é
obrigatório colocar acesso IO após 60’’ ou 2 tentativas.
Se a ativação da equipa for para trauma,
e se a criança apresentar:
Para auxiliar a decisão de transporte, e sobretudo das
• Mecanismo de lesão preocupante;
valências da unidade hospitalar de destino podem ser
• Problema fisiológico grave;
utilizadas escalas como o Pediatric Trauma Score
• Potencial lesão anatómica;
(PTS). Na fase pré-hospitalar, crianças com trauma
• Ou o local é inseguro.
multisistémico ou com risco de mortalidade significativo
(PTS≤8) devem ser encaminhadas para hospitais
Nestes casos deve efetuar a estabilização da coluna, a
com urgências polivalentes, com recursos materiais e
abordagem da via aérea e da ventilação, o controlo de
humanos habilitados para abordar o trauma pediátrico.
hemorragias, e depois iniciar o transporte. A obtenção
de acesso venoso no local só deve ser efetuado se
este for imperativo e trouxer benefícios francos ao
tratamento ou se o transporte for prolongado (ex.
criança com uma aparência anormal, com TCE após
uma queda, ou uma criança vítima de atropelamento
que tem dor e deformidade na coxa).
Se a ativação foi para uma situação doença, a decisão
para iniciar transporte depende habitualmente do nível
de conforto da EPH e do tempo de transporte previsto.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
66
notas:
PEDIATRIC TRAUMA
SCORE (PTS)
O PTS reflete a vulnerabilidade da criança face ao
evento traumático. Vários estudos demonstraram a
sua predição da mortalidade da criança no Trauma.
Enfatiza o Peso e a VA da criança. A VA é avaliada
não como função, mas como uma descrição de qual
o cuidado requerido para manter a VA permeável.
O score obtido pela soma dos pontos das diversas
categorias varia de um máximo de +12 ao mínimo de -6.
+2 +1 -1
MAJOR
(perda de tecido):
MINOR:
Queimaduras,
Feridas Ø Contusão/Abrasão/
Penetrantes (Arma Fogo/
Laceração (<7cm)
Branca)
67
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
68
SECÇÃO 2
emergências
médicas
PEDIÁTRICAS
69
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
70
EMERGÊNCIAS
MÉDICAS
PEDIÁTRICAS
SECÇÃO 2 Emergências
Respiratórias
71
notas:
SECÇÃO 2
emergências
médicas PEDIÁTRICA
1. EMERGÊNCIA
RESPIRATÓRIA
SECÇÃO 2 Emergência
Respiratória
73
Falência Respiratória ?
NÃO SIM
Causa provável
Causa provável Causa provável
PRÉ-AFOGAMENTO?
CARDÍACA? RESPIRATÓRIA?
ACIDENTE DE MERGULHO?
GUIDELINES CPR-ERC
CONSULTAR EM
PNEUMOTÓRAX TRAUMA (MANUAL)
CONSULTAR
NESTE MANUAL
SEM TEXTO
DESENVOLVIDO
NESTES MANUAIS
• Laringotraqueomalacia;
ANOMALIAS • Paralisia das cordas vocais;
ESTRUTURAIS • Anel Vascular;
• Estenose Traqueal.
• Corpo Estranho;
ASPIRAÇÃO
• Vómito.
• Laringotraqueíte (ou CROUP);
• Abcesso periamigdaliano ou retro faríngeo;
Infeções
• Epiglotite;
• Difteria.
• Hipertrofia das Amígdalas e Adenóides;
• Teratoma;
MASSAS
• Linfangioma;
• Hemangioma.
ANOMALIAS • Broncoestenose;
ESTRUTURAIS • Vasos anómalos.
• Corpo Estranho;
• Vómito;
ASPIRAÇÃO
• Incoordenação motora;
• Submersão.
• Bronquiolite;
• Pneumonia;
INFEÇÕES
• Tuberculose;
• Fibrose Quística.
• Quisto broncogénico;
MASSAS • Teratoma;
• Mixoma.
Tabela 18: Doenças obstrutivas da VA inferior
• Obesidade;
OUTRAS
• Respiração paradoxal.
notas:
• Hipoplasia pulmonar;
ANOMALIAS
• Sequestração pulmonar.
ESQUELÉTICAS
PNEUMOTÓRAX
SITUAÇÕES EXTRAPULMONARES
Com repercussão no aparelho respiratório
• Trauma Craniano;
• Tumor intracraniano.
• Hipercapnia;
ASFIXIA
• Hipoxémia.
• Asfixia de submersão;
OUTROS
• Aspiração de petróleo.
SCORE CLÍNICO
0 1 2 3 4 5
Quando
Estridor Nenhum Em repouso
agitado
Entrada de Ar Normal
Quando
Cianose Não Em repouso
agitado
Nível
Normal Desorientado
de consciência
Score < 3 - laringite ligeira: tosse laríngea sem tiragem e sem cianose ou agitação
Score 3 a 5 - laringite moderada: estridor e tiragem moderados, com diminuição da entrada de ar
Score superior a 5 - laringite grave: estridor grave, com diminuição marcada da entrada de ar e
agitação/alteração do estado de consciência
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
78
notas: Mais uma vez a avaliação é importante para que o tratamento adequado seja eficaz, para isso é necessário
que o diagnóstico diferencial seja efetuado e consideradas as seguintes situações:
ASPIRAÇÃO
DE CORPO ESTRANHO • Obstrução total - cianose, engasgamento, afonia;
(história clínica • Obstrução parcial - sialorreia, estridor, disfonia.
compatível?)
Laringite: Terapêutica
NEBULIZAÇÃO
DE ADRENALINA
• Início de ação rápido - 10/15 min., ação autolimitada - 2 horas;
(1:1000) 0,5mL/Kg de
• Perigo de efeito “rebound” implica vigilância no S.U. durante 2 horas.
peso
máximo de 5mL
• Podem ser utilizados por via oral, parentérica ou inalatória, todas
igualmente eficazes;
• Dexametasona - 0.15 a 0.6 mg/Kg, PO ou EV - diminuição mais rápida dos
sintomas, diminuição da necessidade de aerossóis com adrenalina
e diminuição do regresso ao S.U.:
CORTICÓIDES – 10 mg em nebulização - menos eficaz que a via oral ou EV;
– Nota: as ampolas disponíveis no mercado podem ser utilizadas por
via oral;
• Budesonido - 2 mg em nebulização;
• Contraindicações: Varicela e tuberculose.
Puncionar e fazer chorar uma criança com estridor agrava muitas vezes o SDR,
por isso ponderar bem a utilização de via EV.
SECÇÃO 2 Emergência
Respiratória
79
notas:
OBSTRUÇÃO VA SUPERIOR
Permeabilizar a VA
Não contrariar posição adotada pela criança
Administrar Oxigénio, garantir SpO2 ≥ 95%
Ventilação assistida com pressão positiva se necessário
1-6 ANOS
6 MESES – 3 ANOS
Ar séptico
História recorrente <3 ANOS
Febre alta
Com ou sem febre SDR súbito
Sialorreia
Sem ar tóxico/séptico História de engasgamento
Posição preferencial
Tosse rouca seguido de cianose
Disfagia
Rouquidão
Voz abafada
Nebulização de ADRENALINA
(1:1000) 0,5mL/kg de peso
Máximo de 5mL
Manobras de Desobstrução
da Via Aérea
notas:
Bronquiolite
Normal
<2 meses ≤ 60 cr/min 61 – 69 cr/min ≥ 70 cr/min
30-60
[1, 2] Normal
≤ 40 cr/min 41 – 44 cr/min ≥ 45 cr/min
Anos 24-40
Intercostal, subesternal
Tiragem Nenhuma Intercostal Intercostal e subesternal
e supraclavicular
• Dificuldade • Dificuldade
Alimentação,
na alimentação. na alimentação • Pára a alimentação.
vocalização
Dispneia • Diminuição • Diminuição • Não vocaliza.
e atividade
da vocalização da vocalização • Prostrado.
mantidas
• Irritabilidade • Irritabilidade
Sibilos na inspiração
Sibilos só no fim da Sibilos em toda a
Sibilância Ausente e expiração ou diminuição
expiração expiração
do murmúrio ou ambos
Tabela 23: Escala de gravidade adaptada de Liu et. al. Use of a respiratory Clinical Score Among Different
Providers. Pediatric Pulmonology 2004; 37: 243-248
CORTICÓIDES
• Não há evidência clínica da sua eficácia.
(Inalados ou Sistémicos)
Asma notas:
Geralmente
Agitação Normal/agitado Geralmente agitado
agitado
Frequência
< 40/min
respiratória 40 - 50/min > 50/min
< 30/min
1-6 anos 30 - 40/min > 40/min
> 6 anos
Pulso/Min
< 110 / min 110 - 130 / min > 130 / min
>2 anos
notas:
ASMA
Permeabilizar a VA
Não contrariar posição adotada pela criança
Administrar Oxigénio, garantir SpO2 ≥ 95%
Considerar Corticóide EV se
falência respiratória eminente:
HIDROCORTISONA EV
4 mg/Kg
SALBUTAMOL EV
5mcg/kg
(ampola 0,5mg/5mL)
Administração se:
Vítima sem resposta a nebulização
Sem possibilidade de administrar terapêutica inalatória
(ex. ventilação assistida)
SULFATO de MAGNÉSIO EV
40 mg/Kg (máximo 3g),
em 50 mL NaCl 0,9%, em 30 minutos
SECÇÃO 2
emergências
médicas PEDIÁTRICA
2. EMERGÊNCIA
CARDIOVASCULAR
HIPOPERFUSÃO/CHOQUE
SECÇÃO 2 Emergência
Cardiovascular
85
notas:
HIPERFUSÃO (CHOQUE)
Choque Choque
Anafilaxia Choque
HIPOVOLÉMICO? DISTRIBUTIVO?
Guidelines CPR CARDIOGÉNICO?
desidratação CAUSAS
Vómitos, Diarreia, Anafilaxia EXTRÍNSECAS CAUSAS
Gastroenterite, etc Obstrutivo ao INTRÍNSECAS
fluxo sanguíneo
Choque Séptico
Cetoacidose Diabética PNEUMOTÓRAX
HIPERTENSIVO ARRITMIA
TVM
Queimaduras
OUTRAS:
TAMPONAMENTO Miocardite
CARDÍACO Doença congénita
Overdose (droga
Hemorragias cardiotónica)
Externas e Internas
TRAUMATISMOS:
ABDOMINAL
PÉLVICO
EXTREMIDADES
AMPUTAÇÃO
LESÃO OCULTA
Anafilaxia
GUIDELINES
GuidelinesCPR-ERC
CPR
CONSULTAR EM
TRAUMA (MANUAL)
CONSULTAR
NESTE MANUAL
SEM TEXTO
DESENVOLVIDO
NESTES MANUAIS
notas:
ABORDAGEM AO CHOQUE
CRIANÇA
DOENTE / COM LESÃO?
Garantir ABC
Repor fluidos
Choque grau 1-2: Administração cautelosa de Repor fluidos
Cristalóide, 20mL/Kg, EV/IO fluidos cristalóides 10mL/Kg Cristalóide 10-20mL/Kg
Bólus rápido
Repetir se necessário até 3x Tratar disrritmias Adrenalina/Epinefrina
Considerar vasodilatadores
Considerar Diuréticos
(furosemida)
Drenar Pneumotórax
hipertensivo
Apoio de Cardiologia
notas:
Choque que não responde a 2 bólus de volume e necessita de suporte ventilatório, implica
pensar em hemorragia persistente, choque séptico ou compromisso cardíaco primário, este
último raro na criança.
Não deverá ser administrado Lactato de Ringer no lactente pela dificuldade deste em metaboliza-lo
em bicarbonato, com consequente agravamento da acidose.
notas:
CHOQUE HIPOVOLÉMICO
Hipovolémia (perda de fludo) é a causa mais comum No choque hipovolémico compensado, a aparência
de choque nas crianças em ambiente pré-hospitalar. pode ser normal ou a criança pode parecer ligeiramente
Hemorragia por trauma é a causa mais frequente de irrequieta ou menos interativa.
choque hipovolémico. Vómitos e diarreia devido a
gastroenterite é a segunda causa mais comum. Na criança com gastroenterite, a aparência pode
Os sinais e sintomas do choque hipovolémico variam parecer anormal por causa da febre, o que pode alterar
com a quantidade e duração (desde à quanto tempo a aparência independentemente do estado circulatório.
decorre a perda de fluidos). À medida que o volume
intravascular é comprometido pela perda contínua de Choque hipovolémico descompensado:
fluido (ex.: diarreia profusa), a criança pode progredir No choque descompensado, a per fusão é
de choque compensado para descompensado. profundamente afetada. O aumento da frequência
cardíaca e a vasoconstrição periférica não foram
Choque hipovolémico compensado: suficientes para manter a circulação adequada nos
Crianças que perdem fluidos corporais através da órgãos nobres. Apesar da criança com choque
hemorragia minor (ex. escoriação) ou desidratação descompensado poder ainda estar alerta no AVDS,
(ex. gastroenterite), normalmente não mostram efeitos a avaliação da aparência irá ser anormal por causa
significativos no estado circulatório. No entanto, se as da perfusão inadequada do cérebro. A criança pode
perdas de fluido ultrapassarem 5% do peso corporal, estar irrequieta e agitada ou pouco reativa e combativa.
o organismo compensa-a pela diminuição do fluxo Hipotensão desenvolve-se quando ocorreu uma perda
sanguíneo através de ajustamentos previsíveis na de volume entre 30% a 45% do volume intravascular.
fisiologia cardiovascular: Taquicardia e vasoconstrição Outros sinais tardios são a taquipneia sem esforço e
periférica. a taquicardia extrema. Se não revertido, o choque
A vasoconstrição causa atraso do tempo de descompensado pode levar à falência cardíaca, com
preenchimento capilar, diminuição da pressão do bradicardia e falência respiratória e por fim à paragem
pulso, cor da pele (pálida ou marmoreada), pele seca cardíaca.
e fria. Um ambiente frio ou hipotermia podem causar
vasoconstrição, o que imita uma fraca perfusão.
A pressão arterial sistólica é normal no choque
compensado.
notas:
Avaliação da perda de volume sanguíneo
Perda de Sangue
<30% 30-45% >45%
% Volume
Taquicardia
Frequência cardíaca Ligeiro aumento Aumento moderado
Bradicardia
Pressão arterial
Normal ou aumentada Normal ou diminuída Diminuída
sistólica
Tempo preenchimento
Prolongado Muito Prolongado -
capilar
Frequência
Aumento moderado Aumento acentuado Respiração agónica
respiratória
Perda estimada
de volume < 30% 30-45% 45%
Sanguíneo
Alterados
Em raras ocasiões
Discreta melhoria,
a falha de resposta
Retorno ao normal mantendo PA e FC
à administração de
fluidos deve-se a
As vítimas deste grupo As vítimas deste grupo
falência cardíaca por
respondem ao bólus inicial embora respondam à
Sinais contusão do miocárdio,
de fluidos e mantêm-se administração inicial
Vitais tamponamento
hemodinamicamente de fluidos, apresentam
cardíaco ou
estáveis, necessitando sinais de deterioração da
pneumotórax
apenas de fluidoterapia de perfusão quando se reduz
hipertensivo.
manutenção. o aporte para doses de
As causas de choque
manutenção.
não hemorrágico
devem ser
descartadas.
Necessidade
de mais fluidos Baixa Elevada Elevada
(cristalóide)
Necessidade
Baixa Moderada a elevada Imediata
de sangue
Necessidade
de intervenção Possível Provável Muito provável
cirúrgica
Choque
Choque compensado Peri-PCR
descompensado
notas:
CHOQUE DISTRIBUTIVO
No choque distributivo puro, a criança tem uma DOENÇA MENINGOCÓCICA
diminuição do tónus vascular (vasodilatação periférica)
com um volume normal de sangue em circulação. A doença meningocócica é causada pela Neisseria
Esta mudança na capacidade do sistema vascular meningitidis, um diplococo Gram-negativo que para
e a hipovolémia relativa levam à hipoperfusão dos além de ser uma bactéria comensal da nasofaringe
órgãos vitais. pode causar septicemia, meningite ou ambas.
A causa mais comum para o choque distributivo é a A epidemiologia da meningite bacteriana alterou-se
sépsis, especialmente em crianças com menos de 2 a 3 de forma significativa nas duas últimas décadas
anos de idade. Outras causas para o choque distributivo na sequência da introdução de vacinas contra o
são choque anafilático, intoxicação química por drogas Haemophilus influenzae tipo b, meningococo do
que diminuem o tónus vascular (ex. beta bloqueantes, serogrupo C e a S. pneumoniae. A partir de 2012
barbitúricos), ou lesão da medula espinhal (acima de será comercializada em Portugal a vacina contra o
C6) com interrupção dos nervos simpáticos da medula meningococo do serogrupo B, que é a causa mais
até às paredes musculares das artérias periféricas. frequente de meningite bacteriana (e septicemia) em
crianças e lactentes com 3 ou mais meses de vida.
Aspetos especiais na avaliação A doença meningocócica é a causa infeciosa de morte
do choque distributivo: mais comum na infância, em países desenvolvidos.
Os sinais do choque distributivo refletem a diminuição Atualmente a mortalidade varia entre 2 a 11%, sendo
das resistências vasculares periféricas (pele morna, que é mais elevada (10%) em recém-nascidos.
diminuição da qualidade do pulso, taquicardia,
hipotensão) e diminuição da perfusão dos órgãos Apresentação da doença
nobres (aparência anormal). meningocócica
notas:
SINAIS DE CHOQUE ?
Considerar choque se combinação de
quaisquer 3 critérios ou se 1 assinalado com*,
isolado ou em combinação
. Alteração da coloração da pele (palidez/cianose)
. Mãos e pés frios A: PERMEABILIZAR A VIA AÉREA
. Tempo de preenchimento capilar >2 segundos* SIM
. Taquicardia* e/ou bradicardia*
. Hipotensão (sinal tardio)*
(PAS= 70 + 2 x idade em anos) B: VENTILAÇÃO E OXIGENAÇÃO
. Dificuldade respiratória / SpO2 < 95%
. Diminuição da diurese
. Alteração aguda do estado de consciência (sinal tardio)
O2 ≥ 10L/min com máscara alto débito
Manter SpO2 ≥ 95%
FC FR
Bradicardia Taquipneia
Taquicardia C: ASSEGURAR A CIRCULAÇÃO
<100
< 1 Mês > 60
>190 . 2 vias periféricas ou 1 via intraóssea
. Colher sangue para Hemograma,
2 Meses < 80
> 50 Bioquímica, Gasometria e Hemocultura
Até 1 Ano > 180
< 60
1-5 Anos > 40
> 140 CORRIGIR CHOQUE:
. 1ºBólus: 20mL/Kg de NaCl 0,9%;
< 60 . Administrar em 5-10min; Reavaliar;
6-10 Anos > 430
> 130 . 2ºBólus: 20 mL/Kg de NaCl 0,9%;
. Reavaliar
< 60
>10 Anos > 20 . Se necessário mais de 60ml/Kg no
> 100 total é indicado entubar e ventilar
Autoria:
Miguel Félix
Fernanda Rodrigues
Lia Gata
Gustavo Januário
Anaflaxia notas:
É uma reação alérgica major que envolve uma resposta A adrenalina é uma excelente droga para o tratamento
generalizada, multissistémica a um antigénio (proteína da anafilaxia. Estimula tanto os receptores adrenérgicos
estranha). As vias aéreas e o sistema cardiovascular alfa e beta, levando a dois efeitos importantes:
são locais importantes desta reação que normalmente
coloca em risco a vida. A causa mais comum é o ferrão • Constrição dos vasos sanguíneos para contrariar a
de um inseto como a abelha. Uma criança em choque vasodilatação da anafilaxia (efeito alfa);
anafilático irá ter hipoperfusão e sinais adicionais tais • Abertura da vias aéreas ajuda a reverter
como estridor e/ou sibilos, com aumento do trabalho o broncospasmo provocado pelo choque anafilático
respiratório. A criança também terá uma aparência (efeito beta).
alterada. Pode apresentar-se irrequieta e agitada. O Deve administrar-se Adrenalina às crianças com
exantema urticariforme está frequentemente presente reações alérgicas associadas com pieira.
nestas situações.
ANAFILAXIA
ADRENALINA IM (1:1000)
Terço médio da coxa, face antero-lateral
Criança >12 Anos: 500 mcg (0,5mL)
Crianças [6,12] Anos: 300 mcg (0,3mL)
Crianças < 6 Anos: 150 mcg (0,15mL)
ADRENALINA IM
Se necessário repetir após 5min
Fluidoterapia: 10 a 20 mL
• Ponderar ET ou Cricotiroidotomia;
• Adrenalina EV apenas por equipas experientes;
• Fluidoterapia com cristalóides, pois os colóides podem induzir alergia/anafilaxia.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
96
notas:
CHOQUE CARDIOGÉNICO
O choque cardiogénico é pouco comum em crianças • O aumento das pressões cardíacas no lado direito
e raramente é diagnosticado no pré-hospitalar a do coração também está presente no choque
menos que a criança tenha uma conhecida história cardiogénico e resulta em hepatomegalia;
cardíaca. De facto, a condição da criança pode ser mal • A hepatomegalia é um achado especialmente útil
diagnosticada como choque hipovolémico ou séptico, nos lactentes e crianças na 1ª infância;
resultando na administração agressiva de fluidos e • Edema das extremidades e distensão jugular venosa
agentes adrenérgicos. A causa mais provável é doença são raros nas crianças.
cardíaca congénita ou miocardiopatia secundária a
miocardite. Uma disritmia primária como a taquicardia
supraventricular (TSV), pode também causar choque
Choque cardiogénico:
cardiogénico. Por fim, a overdose de uma droga Causas extrínsecas
cardiotónica, tais como bloqueadores dos canais de
cálcio ou beta bloqueantes, é outra etiologia possível.
(Obstrutivo)
Várias circunstâncias patológicas podem obstruir o
Aspetos especiais da avaliação
fluxo sanguíneo proveniente do coração e causar
do choque cardiogénico:
choque. O tamponamento cardíaco e pneumotórax
A história dada pelo cuidador irá revelar que a criança
hipertensivo são 2 estados agudos que podem causar
tem tido sintomas não específicos como perda de
o desenvolvimento dramático do choque após lesões
apetite, anorexia, letargia, irritabilidade e sudorese
penetrantes no tórax.
desde há vários dias. Existe frequentemente história
O hemopericárdio desenvolve-se rapidamente após
de doença cardíaca congénita ou a presença de
um tiro ou um objeto aguçado que penetra na câmara
uma cicatriz na linha média do peito devido a cirurgia
cardíaca cheia de sangue, normalmente o ventrículo
cardíaca. O choque cardiogénico desenvolve-se
direito. O orifício criado na parede do coração fornece
por falência cardíaca esquerda. Na avaliação física:
um caminho para o sangue escapar para dentro do
espaço entre as 2 membranas pericárdicas. Porque as
• A aparência é: letárgica, irritável ou agitado;
membranas não esticam assim tão facilmente, o sangue
• A cor da pele está marmoreada ou cianótica;
coagula e colapsa o ventrículo direito (tamponamento).
• Presença de cianose que não melhora com a
Isto interrompe o retorno venoso para o lado direito
administração de O2;
do coração e produz uma queda acentuada no débito
• A frequência cardíaca é rápida;
cardíaco.
• A pressão arterial pode ser alta (inicial), normal ou
Raramente, o tamponamento cardíaco tem como causa
baixa (tardio);
um processo infecioso ou inflamatório (ex. tumor ou
• A pele está fria e a criança pode estar diaforética;
insuficiência renal crónica).
• O edema pulmonar causa o aumento da frequência
respiratória, crepitação e/ou sibilos inspiratórios;
Monitorizar
Caso ainda não esteja
CHOQUE
descompensado?
NÃO
SIM
BRADICARDIA? TAQUICARDIA
Corrigir Adenosina?
Cardioversão
causa sincronizada?
notas:
BRADICARDIA
FC <60 bat/min Criança
FC <80 bat/min Lactente
PERMEABILIZAR A VA
Administrar Oxigénio SpO2 ≥ 95%
Não contrariar posição adotada pela criança
Ventilação positiva se necessário
CHOQUE
descompensado?
ATROPINA EV/IO
0,02mcg/Kg
ATROPINA:
Atropina na bradicardia só se
Até ao máximo de 3mg não responder a oxigenação e
ventilação correta e se houver
suspeita de ter sido causada
por estimulação vagal;
Dose mínima de Atropina:
100mcg, (para evitar
efeito paradoxal).
COMPRESSÕES TORÁCICAS
ADRENALINA EV/IO (10 mcg/Kg)
1:10.000 : 0,01 ml/Kg
Diluída 1f (1:1.000)/10 ml de SF: 0,1ml/Kg
Normalmente a bradicardia é causada por hipóxia, Se a bradicardia tiver origem na estimulação vagal,
acidose e hipotensão severa e pode levar à PCR. inicie ventilação com oxigénio a 100% e administrar
Administrar oxigénio a 100% e ventilação com pressão Atropina antes da adrenalina.
positiva se necessário, perante qualquer criança que Um pacemaker cardíaco apenas tem indicação nos
apresente uma bradiarritmia e falência circulatória. casos de BAV ou disfunção do nódulo sinusal que não
Perante a criança mal perfundida e que tenha uma respondam ao oxigénio, à ventilação, às compressões
frequência cardíaca <60 bat/min, e que não responda cardíacas e à medicação; o pacemaker não é eficaz
rapidamente à ventilação com oxigénio, deve iniciar-se na assistolia nem noutras arritmias causadas por
as compressões cardíacas e administrar adrenalina. hipóxia ou isquémia.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
98
notas:
TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR
FC >220 bat/min (<1 Ano)
FC >180 bat/min (>1 Ano)
Garantir ABC
PERMEABILIZAR A VA
Não contrariar posição adotada pela criança
Administrar Oxigénio SpO2 ≥ 95%
Ventilação com pressão positiva se necessário
Considerar
Considerar: antiarritmicos:
Cardioversão Amiodarona EV
sincronizada 5mg/Kg em 20 minutos
Se o ritmo parece uma TSV, as manobras vagais A cardioversão elétrica (sincronizada com a onda R),
podem ser utilizadas numa criança estável está indicada na criança com compromisso
hemodinâmicamente. Estas manobras podem ainda hemodinâmico, quando o acesso vascular não está
ser utilizadas nas crianças instáveis desde que não disponível ou quando a Adenosina foi ineficaz na
atrasem a cardioversão elétrica ou química. Se a conversão do ritmo. A primeira dose de energia para
criança está instável hemodinâmicamente, devem ser uma cardioversão elétrica numa TSV é 0.5-1 J/kg e
omitidas as manobras vagais e de imediato tentar a a segunda dose é de 2 J/kg. Se não obtiver sucesso,
cardioversão. A adenosina é habitualmente eficaz na administrar Amiodarona.
conversão de TSV em ritmo sinusal. A adenosina é
administrada por via EV em bólus rápido tão próximo
do coração quanto possível e imediatamente seguida
de um bólus de Soro Fisiológico.
SECÇÃO 2 Emergência
Cardiovascular
99
notas:
TAQUICARDIA VENTRICULAR
FC >120 bat/min
QRS largo > 0,08 segundos
PULSO ? NÃO
Tratar como:
FIBRILHAÇÃO VENTRICULAR
SIM
PERMEABILIZAR A VA
Não contrariar posição adotada pela criança
Administrar Oxigénio SpO2 ≥ 95%
Ventilação com pressão positiva se necessário
Manobras vagais
Adenosina
CARDIOVERSÃO
Sincronizada 2 J/Kg
. Pouco comum, mais provável ser
Amiodarona
supraventricular na origem do que
ventricular;
. Ocorre em crianças com patologia Considerar
associada (ex. pós cirurgia cardíaca, Amiodarona
miocardiopatia, miocardite, desequilíbrio
eletrolítico).
Nas crianças as taquicardias de complexos largos têm A cardioversão sincronizada é o tratamento de eleição
mais frequentemente uma origem supraventricular nas TV com pulso instáveis.
do que ventricular. Contudo, as taquicardias de Os antiarritmicos devem ser considerados se uma
complexos largos, mesmo pouco comuns, devem segunda cardioversão não teve sucesso ou se a TV
ser consideradas como ventriculares nas crianças recorrer. Tem sido demonstrado que a Amiodarona
hemodinâmcamente instáveis, até prova em contrário. é segura e eficaz no tratamento das arritmias em
As taquicardias ventriculares são mais frequentes em pediatria.
crianças com doença cardíaca (após cirurgia cardíaca,
miocardiopatia, miocardite, distúrbios eletrolíticos,
intervalo QT prolongado, cateterismo cardíaco).
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
100
SECÇÃO 2
emergências
médicas PEDIÁTRICAS
3. EMERGÊNCIA:
ALTERAÇÃO DO ESTADO
DE CONSCIÊNCIA
SECÇÃO 2 Emergência:
Alteração do estado de consciência
101
notas:
AEC
HIPERTERMIA
Temperatura Causas
Psicológicas
HIPERTERMIA
Anafilaxia
. Suspeitar de outras causas
GUIDELINES CPR-ERC
Guidelines CPR . Medidas de suporte gerais
CONSULTAR EM
TRAUMA (MANUAL)
Figura 37: Algoritmo de abordagem à vítima pediátrica com Alteração do Estado de Consciência (AEC)
Encefalopatia Metabólica:
Alcoolismo, Fármacos/Drogas, Hipoglicémia, Cetoacidose Diabética, Coma Hiperosmolar,
Hipotiroidismo, Coma Hepático, Coma Urémico, Alterações Hidoreletroliticas
Encefalopatia Vascular Cerebral:
HSA, HIC, Encefalopatia Hipertensiva, Isquémia Cerebro-Vascular
notas:
CONVULSÃO Avaliação da criança
A convulsão é causada por descargas elétricas em estado pós-crítico
contínuas, anormais a partir de um conjunto de
neurónios. As convulsões têm uma variedade de Normalmente o episódio de convulsão já terminou à
manifestações físicas, dependendo da localização chegada das equipas de EPH. Este estado pós-crítico
da atividade elétrica anormal no cérebro e da idade é caraterizado pela aparência anormal com sonolência,
da criança. As convulsões em lactentes, cujo sistema confusão, irritabilidade e diminuição da interatividade
nervoso central (SNC) é imaturo, podem ser muito que pode durar entre minutos a horas.
subtis, consistindo apenas num olhar fixo fora do Se a criança estiver hemodinamicamente estável,
normal, movimentos de sucção, ou “ciclismo”. Em efetuar o exame primário no local, incluindo a história
crianças mais velhas, com um SNC mais maduro, detalhada, o exame físico sistematizado (vítimas de
as convulsões são normalmente mais óbvias e trauma). A maioria das crianças que tiveram uma
manifestam-se tipicamente com contrações musculares convulsão breve irão melhorar o seu estado de
repetitivas (atividade tónico-clónica) e ausência de consciência, tónus muscular e interatividade até 15 a 30
resposta a estímulos. minutos. Se houver dificuldade em recuperar o estado
Enquanto os cuidadores de crianças epilépticas podem de consciência após um período de 30 a 60 minutos
estar muito calmos no local após o contacto com o a criança pode ter um problema grave associado ao
112, aqueles que estão a testemunhar pela primeira episódio de convulsão. Efetuar o transporte para a
vez um episódio de convulsão normalmente ficam unidade hospitalar é a medida mais acertada.
assustados, podem ter medo que a criança morra e
podem ter iniciado esforços de RCP. Se a criança tiver um diagnóstico prévio de epilepsia:
• Incluir o nome e a dosagem dos medicamentos
anticonvulsivantes, quando foi dada a última dose;
Convulsão febril vs Convulsão • Perguntar quando foram obtidos os últimos
não febril: doseamentos nas análises ao sangue e se estes
eram adequados;
A convulsão febril é um diagnóstico de exclusão. • Determinar a duração do episódio e pedir uma
Significa que só deverá ser assumido após confirmar descrição da qualidade da atividade motora,
a ausência de outras causas para a convulsão. incluindo onde começou, como progrediu e quando
Por definição, uma convulsão febril simples é um tempo esteve a criança inconsciente. A partir desta
episódio com movimentos tónico-clónico generalizados informação, determinar o tipo de convulsão (ex.
que dura menos de 15 minutos e ocorre em crianças generalizado ou parcial, ou parcial com uma segunda
febris entre os 6 meses e os 5-6 anos de idade generalização);
sem doença neurológica subjacente. Convulsões • Perguntar acerca de traumatismo craniano
febris “simples” não causam lesões cerebrais, mesmo associado;
nas crianças que repetem várias vezes o episódio. • Considerar a possibilidade de intoxicação ou
A grande maioria das convulsões febris simples terá overdose.
parado espontaneamente antes da chegada da equipa
de EPH. As convulsões febris complexas irão durar Tentar aliviar os medos do cuidador. Se for um episódio
mais do que 15 minutos, podem ser focais em vez inaugural o cuidador pode estar extremamente
de generalizadas, podem estar associados ao início assustado.
do desenvolvimento de anormalidades neurológicas
e podem ocorrer antes dos 6 meses. Este tipo de Circunstâncias preocupantes numa criança em estado
convulsão pode estar associada a situações graves pós-crítico:
e requer avaliação no hospital. • Convulsão pós-traumática;
Existem muitas outras causas possíveis para os • Convulsão pós-ingestão;
episódios de convulsão não relacionados com a febre. • Convulsão e hipóxia mantidas;
Estes incluem trauma (incluindo maus tratos), hipóxia, • Convulsão num recém-nascido (<4 semanas de
hipoglicémia (a pesquisa de glicemia é obrigatória numa idade);
criança com alterações do estado de consciência e/ • Primeira convulsão em crianças >6 anos de idade;
ou com uma convulsão), infeção, intoxicações, AVC, • Mais do que uma convulsão;
desordens metabólicas e problemas neurológicos • Tempo de convulsão >5 minutos;
congénitos. Um grupo comum de crianças com • Hipoglicemia.
convulsão sem febre são os portadores de epilepsia
já diagnosticada onde o ajuste terapêutico da dose de
anticonvulsivante ainda não está adequado.
SECÇÃO 2 Emergência:
Alteração do estado de consciência
103
B: Ventilação e Oxigenação
Todas as crises estão associadas a hipoventilação.
Iniciar ventilação assistida se a criança estiver cianótica
Verificar SEMPRE a glicemia capilar
ou a oximetria seja inferior a 90% com O2 suplementar.
no episódio de convulsão.
Ter em atenção que é difícil obter uma leitura correta
da oximetria de pulso numa criança que esteja a
convulsivar. Parar a convulsão é a solução para uma
ventilação eficaz.
• Fornecer 100% de oxigénio através de uma máscara
ou por “blow-by”.
C: Assegurar a Circulação
A menos que a convulsão esteja associada com sépsis
ou trauma, não é necessária a reanimação com fluidos
no local ou no transporte. Sinais de fraca perfusão estão
provavelmente mais associados com uma convulsão
prolongada, hipóxia e acidose metabólica. Mais uma
vez, tratar a convulsão irá minimizar estes problemas.
• Sedação;
• Depressão respiratória;
• Rápido desencadeamento;
Diazepam 0,2 mg/kg EV, IO • Curta duração de ação para
• Barato.
o controlo de convulsões
(15 minutos).
notas:
CONVULSÕES
Focais Tónico-Clónicas
generalizadas
Estado Pós-Crítico
Administrar O2
Exame primário: ABCD
DIAZEPAM
CHAMU + EV/IO: 0,2 mg/Kg
Exame sistematizado Retal: 0,5 mg/Kg
Se necessário
repetir após 5
minutos
Medidas de Suporte gerais:
. Permeabilizar VA
. Administrar O2 (garantir SpO2 ≥95%)
Identificar
etiologia e corrigir
se possível
Ponderar VA
definitiva se
persistir convulsão
HIPOGLICEMIA notas:
Corrigir Hipoglicemia
Hipoglicemia em pediatria:
• Lactente e Criança: Glicemia <60mg/dL;
• Recém-Nascido (desde o nascimento até ao 28º dia): Glicemia <40 mg/dL.
SECÇÃO 3
REANIMAÇÃO
PEDIÁTRICA
E NEONATAL
107
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
108
SECÇÃO 3
REANIMAÇÃO
PEDIÁTRICA E
NEONATAL
1. REANIMAÇÃO
pediátricA
SECÇÃO 3 Reanimação pediátrica
109
notas:
notas:
SBV PEDIÁTRICO
SEGURANÇA
ESTIMULAR
2 Permeabilizar a VA
NÃO
3 5 INSUFLAÇÕES
NÃO
COMPRESSÕES TORÁCICAS
4 SBV 15:2
1 minuto
(3 ciclos)
5 LIGAR 112
SBV 15:2
111
notas:
SAV PEDIÁTRICO
SINAIS DE VIDA?
com pesquisa de pulso central
1
Iniciar SBV (15:2)
Oxigenar e Ventilar
Monitorizar / Desfibrilhador
2 FV
TVSP
Assistolia
AESP 9
3 SBV 2 minutos
10
Acesso IV/IO
4
Adrenalina 10 mcg/Kg,
SBV 2 minutos cada 3-5minutos
Acesso IV/IO Considerar VA avançada
SIM SIM
NÃO
5 Ir para 2
6 SBV 2 minutos
Considerar VA avançada
SBV 2 minutos
Corrigir causas reversíveis 11
Ritmo Desfibrilhável ? NÃO NÃO Ritmo Desfibrilhável ?
SIM SIM
ASSISTOLIA / AESP: ir para 10 ou 11
7
RITMO ORGANIZADO: Pesquisa de VOSP*
ROSC**: Cuidados pós-RCP (ir para 12) Ir para 2
*VOSP: Ver, Ouvir, Sentir, Palpar pulso
8
SBV 2 minutos
12
**ROSC: Return of spontaneus circulation
Adrenalina 10 mcg/Kg
cada 3-5minutos Cuidados pós-RCP:
Amiodarona 5mg/Kg . Abordagem ABCDE
. Controlar oxigenação e Ventilação
. Corrigir causa reversível
. Controlo da temperatura
(Hipotermia terapêutica)
notas:
RITMOS NÃO
DESFIBRILHÁVEIS:
assistolia e atividade
elétrica sem pulso
(aesp)
A maioria das PCR nas crianças e adolescentes têm organizada, com complexos QRS, normalmente com
origem respiratória. Um período imediato de manobras uma frequência baixa e, sem pulso. A atividade elétrica
de reanimação é mandatório nestas idades, antes sem pulso normalmente segue-se a um período de
mesmo de procurar um DAE ou um desfibrilhador hipóxia ou isquémia do miocárdio, mas ocasionalmente
manual, porque a sua disponibilidade imediata não pode ter uma causa reversível.
melhora a sobrevida numa paragem respiratória. • Administrar adrenalina logo que possível, 10 mcg
Iniciar a reanimação de imediato está associado a kg EV/IO, e repetir cada 3-5 min;
um menor défice neurológico após a paragem tanto • Se não houver acesso vascular e a EOT estiver
em adultos como em crianças. O ritmo mais frequente estabelecida, administrar 100 mcg/kg, por esta via
na PCR em crianças e adolescentes é a assistolia e até o acesso venoso estar estabelecido;
a atividade elétrica sem pulso. A atividade elétrica • A via IO é a via de escolha na paragem em pediatria,
sem pulso carateriza-se por uma atividade elétrica melhor que a traqueal;
• Identificar e corrigir as Causas Reversíveis (4 Hs e
4 Ts).
PCR ROSC
Ventilar/Oxigenar
Acesso EV/IO
Preparar fármacos
Entubação Traqueal
Figura 41
SECÇÃO 3 Reanimação pediátrica
113
RITMOS notas:
DESFIBRILHÁVEIS:
Fibrilhação
Ventricular e
Taquicardia
Ventricular Sem Pulso
A FV ocorre em [4,19]% de todas as paragens de reanimação), a sobrevivência diminui 7-10%.
cardiorrespiratórias das crianças; a incidência de A sobrevivência após 12 minutos de fibrilhação
FV/TV sem pulso aumenta com a idade. O fator ventricular numa vítima adulta é inferior a 5%. O início
determinante para a sobrevivência numa FV/TV sem das manobras de SBV antes da desfibrilhação, por mais
pulso é o tempo até à desfibrilhação. de 5 minutos, melhora a sobrevida segundo alguns
A desfibrilhação pré-hospitalar num espaço de 3 estudos, no entanto noutros não parece tão evidente.
minutos após uma PCR presenciada nos adultos A Adrenalina é administrada após o 3º choque e
resulta numa sobrevivência superior a 50%. Contudo, depois repetida a cada 3-5 min, preferencialmente
o sucesso da desfibrilhação diminui dramaticamente por via EV/IO relativamente à via traqueal.
à medida que o tempo aumenta, por cada minuto A Amiodarona está indicada nas FV/TV sem pulso
até à desfibrilhação (sem quaisquer manobras refratarias à desfibrilhação (após o 3º choque, 5mg/Kg).
As experiências e a prática clínica com Amiodarona
nas crianças são escassas; a evidência demonstrada
nos estudos para adultos mostram que a Amiodarona
aumenta a sobrevivência para admissão hospitalar
mas não para a alta. Um estudo de caso pediátrico
demonstra a eficácia da Amiodarona no tratamento
de arritmias ventriculares. Por isso a Amiodarona
tem um papel no tratamento das FV/TV sem pulso
refratárias ao choque.
RITMOS DESFIBRILHÁVEIS
GRÁFICO
4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG 4 J/KG
2min 2min 2min 2min 2min 2min 2min
PCR ROSC
Amiodarona Amiodarona
5 mg/Kg 5 mg/Kg
Ventilar/Oxigenar
Acesso EV/IO
Preparar fármacos
Entubação Traqueal
Figura 42
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
114
notas:
ASPETOS PRÁTICOS NA
REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA
1. Manter o SBV com o mínimo de interrupções até 7. Posicionar os elétrodos de monitorização ou as
à tentativa de desfibrilhação; pás de desfibrilhação tão rapidamente quanto for
possível para identificar o ritmo: desfibrilhável e
2. Evitar a exaustão do reanimador que está nas não desfibrilhável;
compressões pela sua substituição frequente (a
cada 2 minutos); 8. Verificar o ritmo e sinais de circulação (pesquisar
o pulso central durante não mais de 10 segundos);
3. Quando a criança fica sem resposta, sem sinais
de vida (não respira, não tosse e não se deteta 9. Os ritmos desfibrilháveis são a FV e a TV sem
movimentos), iniciar SBV de imediato; pulso. Estes ritmos são mais comuns na criança
que sofreu um colapso súbito. Os ritmos não
4. Providenciar ventilação/oxigenação com máscara defibrilháveis, compreendem a atividade elétrica
e insuflador com oxigénio a 100%; sem pulso, a bradicárdia (no lactente FC <60
bat/min) e a assistolia. A atividade elétrica sem
5. Providenciar ventilação com pressão positiva com pulso e a bradicárdia apresentam frequentemente
elevadas concentrações de oxigénio; complexos QRS alargados;
6. Administrar cinco ventilações eficazes (em cinco 10. Procurar identificar e corrigir as causas
tentativas) seguidas de compressões torácicas e potencialmente reversíveis de PCR:
ventilações numa relação de 15:2 (a um reanimador
pode ser utilizada uma relação de 30:2);
4Hs 4Ts
• Hipóxia; • Pneumotórax hipertensivo;
• Hipovolémia; • Tamponamento cardíaco;
• Hipo/Hipercaliémia; • Tóxicos/Iatrogenia medicamentosa;
• Hipotermia. • Tromboembolismo (ex. pulmonar).
SECÇÃO 3 Reanimação pediátrica
115
e ventilação
O acesso venoso periférico ou intraósseo são melhores
Avaliação da capnografia (EtCO2): que a via traqueal para a administração de fármacos.
A monitorização da EtCO2 confirma a posição do Os medicamentos lipo-solúveis, como a Atropina,
tubo em crianças que pesem mais de 2 kg, e pode Lidocaína, Adrenalina ou Naloxona são passíveis de
ser utilizada no pré ou intra-hospitalar, bem como ser melhor absorvidos na via aérea inferior. A dose
durante o transporte da criança (atenção que não ideal de fármacos a administrar pela via traqueal
exclui a entubação seletiva do brônquio direito). é desconhecida devido à grande variabilidade
Permite igualmente avaliar a eficácia das compressões (imprevisibilidade) de padrões de absorção alveolar,
torácicas, e a presença de um ritmo de perfusão mas, as doses seguintes são recomendadas como
durante as manobras de RCP. orientação:
notas:
117
notas:
5 mL/Kg Dx10% e adultos, embora não haja certeza se estas causas são diretamente
(5 mL=0,5 g responsáveis ou se estão associadas a outras causas.
Glucose)
Devem ser verificados e monitorizados os níveis de glucose no sangue
ou plasma de todas as crianças vítimas de doença ou trauma, incluindo
após a reanimação cardíaca. Não devem ser administrados fluidos com
glicose durante a reanimação a não ser que exista hipoglicemia.
Sulfato de Magnésio
notas:
Desfibrilhadores
Os desfibrilhadores podem operar de forma automática Posição das Pás:
ou manual, podendo ser capazes de administrar Aplicar as pás firmemente contra o tórax na posição
o choque com energia monofásica ou bifásica. Os antero-lateral, com uma pá colocada abaixo da clavícula
desfibrilhadores manuais são capazes de administrar direita e outra abaixo da axila esquerda. Se as pás
qualquer energia pretendida. forem demasiado largas, e se existir o risco de provocar
Os desfibrilhadores automáticos estão programados um arco voltaico entre as pás, uma deve ser colocada
para todas as variáveis, incluindo a dose de energia nas costas abaixo da omoplata esquerda e outra na
a administrar em cada choque. frente, à esquerda do esterno, com a criança em
decúbito lateral.
Tamanho das Pás: Esta posição é conhecida com antero-posterior.
Devem ser utilizadas pás tão largas quanto
possível para promover um bom contacto entre Força exercida sobre as Pás:
estas e a parede torácica. O tamanho ideal é Para diminuir a impedância transtorácica durante a
desconhecido, mas deve haver uma boa separação aplicação do choque, deve ser aplicada sobre as pás
entre as pás. Os tamanhos recomendados são: uma força de 3 kg nas crianças com menos de 10 kg
de peso e uma força de 5 kg nas crianças maiores.
• 4.5 cm de diâmetro nas crianças com menos de 10 kg;
Dose de Energia nas Crianças:
• 8 a 12 cm nas crianças com mais de 10 kg A dose ideal de energia para uma defibrilhação segura
(com mais de um ano de idade). e eficaz é desconhecida.
As ondas bifásicas são consideradas mais eficazes
Para diminuir a impedância transtorácica deve ser produzindo menos disfunção no miocárdio após
utilizado um condutor elétrico entre as pás e a pele. o choque que as ondas monofásicas. Modelos
Tanto o gel próprio como os elétrodos de desfibrilhação animais demonstram melhores resultados com
adesivos são eficazes. Não deve ser utilizado gel doses pediátricas 3-4 J/kg do que utilizando doses
de ecografia, compressas embebidas em soluções mais baixas ou doses de adulto. Doses maiores que
salinas ou alcoólicas. 4 J/kg (como 9 J/kg) desfibrilharam eficazmente
crianças mas com efeitos secundários significativos.
Devem ser utilizadas os 4 J/kg (mono ou bifásicos)
para o primeiro choque e seguintes.
Não existe evidência científica que recomende ou
contrarie a utilização de desfibrilhadores automáticos
em crianças com menos de um ano.
119
CUIDADOS notas:
PÓS-REANIMAÇÃO
1. Reavaliar ABCDE
4. Controlo da temperatura
• A hipotermia é frequente na criança após as
manobras de reanimação. A hipotermia central
(32-34 ºC) pode ser benéfica, enquanto a febre
pode ser prejudicial nos sobreviventes com
lesões cerebrais. Até agora não existem estudos
pediátricos, a hipotermia moderada tem sido aceite
como segura nos adultos e recém-nascidos;
podendo aumentar o número de sobreviventes
sem lesões neurológicas;
SECÇÃO 3
REANIMAÇÃO
PEDIÁTRICA E
NEONATAL
2. REANIMAÇÃO
NEONATAL
SECÇÃO 3 Reanimação neonatal
121
Mnemónica:
1, 2, 3 – 7, 8, 9
1 kg, 7 cm
2 Kg, 8 cm
3 Kg, 9 cm
Figura 44
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
122
notas:
ABORDAGEM INICIAL
A escala de APGAR não foi inicialmente concebida Tónus:
para identificar recém-nascidos (RN) que venham a O RN apresenta movimentos de flexão dos membros
precisar de reanimação. Contudo, alguns parâmetros com bom tónus muscular? Ou está flácido/hipotónico?
desta escala, nomeadamente a frequência respiratória,
a frequência cardíaca e a coloração, se avaliadas Cor:
rapidamente, podem identificar os recém-nascidos Um RN saudável nasce com um tom azul e começa a
a necessitar de cuidados de reanimação. Para além tornar-se rosado a partir dos 30 segundos assim que
disso, a avaliação seriada destes parâmetros pode estabelece uma ventilação eficaz. Observar se o RN
indicar se os esforços que estão a ser feitos estão a ser está rosado, cianosado ou pálido. A cianose periférica
bem sucedidos ou se mais manobras de reanimação é comum e, por si só, não é indicador de hipóxia.
são necessárias.
Estimulação Táctil:
Frequência cardíaca: Secar o RN geralmente produz a estimulação
É melhor avaliada com um estetoscópio auscultando táctil suficiente para induzir uma ventilação eficaz.
os batimentos junto ao apéx (pulso apical). Evite outros métodos mais vigorosos de estimular
A palpação de pulso na base do cordão umbilical é a ventilação. Se o RN não conseguir estabelecer
muitas vezes um método eficaz mas nem sempre uma ventilação espontânea e eficaz após um breve
é facilmente palpável; a pulsação do cordão só é período de estimulação, outros cuidados de suporte
realmente simples para frequências acima das 100 serão necessários.
pulsações por minuto.
Atividade Respiratória:
Verifique se o recém-nascido está a ventilar.
Se estiver avalie a frequência, profundidade e
simetria da ventilação, avalie também a existência
de movimentos anormais como tiragem ou ruído.
0 1 2
FC 0 <100 >100
123
notas:
REANIMAÇÃO NEONATAL
Gestação de Termo?
Líquido amniótico? Mecónio?
0 seg NASCIMENTO
Promover aquecimento
Respira ou chora? Secar e estimular
FC>100 bat/min? SIM Avaliar APGAR ao 1º
Bom tónus muscular?
e 5º minutos de vida
30 seg NÃO
Pretende-se obter
expansão pulmonar,
5 INSUFLAÇÕES
cada insuflação deve
durar 2 - 3 seg
. Fundamental usar
insuflador neonatal;
Compressões torácicas (SBV 3:1) . Para insuflar usar
(garantir FC = 120bat/min) apenas dois dedos para
apertar o insuflador;
. Apertar insuflador
apenas até que ocorra
Reavaliar FC cada 30 segundos
elevação do tórax.
notas:
SUPORTE DE VIDA
NO RECÉM-NASCIDO (RN)
• Se o RN não responder, a razão mais provável é
Via Aérea não haver um adequado controlo da via aérea ou
da ventilação. Verificar a existência de movimentos
• O RN deve ter a cabeça alinhada em posição neutra. torácicos durante as ventilações, se existem, a
Um cobertor ou toalha com 2 cm colocado debaixo ventilação pulmonar está a ser conseguida. Se não
dos ombros do recém-nascido pode ser uma ajuda existirem, o controlo da via aérea e da ventilação
muito útil para manter a cabeça em posição neutra; não está a ser conseguido;
• No RN mais prostrado, a aplicação da manobra • Pode-se obter uma ventilação adequada com a
de subluxação da mandíbula ou a utilização de entubação traqueal, mas isso requer treino e
um tubo orofaríngeo de tamanho adequado pode experiência para ser conseguido eficazmente;
ser útil na manutenção da permeabilização da via
aérea; • Manter o suporte ventilatório até o RN estabelecer
uma ventilação normal e regular.
• A aspiração só é necessária se existir algo a obstruir
a via aérea. A aspiração agressiva da orofaringe
pode retardar o início da ventilação espontânea,
Suporte Circulatório
causar espasmo da laringe e induzir bradicárdia (Compressões
por estimulação vagal. A presença de mecónio
num RN prostrado é a única indicação para
torácicas)
considerar de imediato a aspiração da orofaringe.
• O suporte circulatório pelas compressões cardíacas
Caso seja necessário a aspiração deve ser feita
só é eficaz se a ventilação pulmonar for conseguida
sob visualização direta (aspirar apenas onde
com sucesso. Administrar compressões cardíacas
se visualiza). Utilizar sondas de 12-14 Fr, ou de
se a frequência cardíaca for inferior a 60 bat/min.
yankauer num aspirador que não exceda uma
A técnica ideal consiste em colocar os dois
pressão negativa de 100 mmHg.
polegares o terço inferior do esterno, com os
dedos a envolver o tronco e a suportar as costas.
Ventilação O terço inferior do esterno deve ser comprimido
numa profundidade equivalente a um terço do
• Atualmente não existe evidência que especifique diâmetro antero-posterior do peito. Um rácio de
qual a concentração de oxigénio a utilizar quando compressão/descompressão com um tempo
se inicia a reanimação. É comummente aceite a ligeiramente mais curto para a compressão do
utilização de 5 L/min. Após os cuidados iniciais ao que para a descompressão oferece, teoricamente,
RN, se a ventilação não existe ou é inadequada, a vantagens na circulação sanguínea nas crianças
ventilação pulmonar é a prioridade. O resultado que muito jovens. Não levantar os polegares do contacto
valida uma ventilação eficaz é um incremento na com o esterno durante a fase de descompressão,
frequência cardíaca; verificar a expansão torácica mas permitir que a parede torácica volte à sua
se a frequência cardíaca não aumentar; posição normal durante esta fase. Utilize um rácio
de 3:1 para as compressões e ventilações, de modo
• Para as primeiras ventilações manter a pressão a que ocorram 120 eventos por minuto, ou seja,
inicial de insuflação por 2 a 3 segundos. Isto irá aproximadamente 90 compressões e 30 ventilações;
ajudar a expansão pulmonar;
• Verificar a frequência cardíaca a cada 30 segundos
• A maioria dos recém-nascidos a necessitar de de reanimação;
reanimação, aumentam rapidamente a frequência
cardíaca com 30 segundos de ventilação. • Suspender as compressões torácicas quando a
Se a frequência cardíaca aumentar mas o RN frequência cardíaca for superior a 60 bat/min.
continuar com uma ventilação ineficaz, manter
uma frequência de 40 ventilações por minuto, com
insuflações de um segundo até obter uma ventilação
espontânea adequada;
SECÇÃO 3 Reanimação neonatal
125
Fármacos notas:
Suspensão da Reanimação
Dados recolhidos relativos a RN sem atividade cardíaca desde o nascimento até aos 10 minutos ou
mais, estão associados a uma mortalidade mais elevada ou a défice neurológico mais severo. Após 10
minutos contínuos e adequados de esforços de reanimação, a suspensão das manobras podem ser
justificadas se não existirem sinais de vida.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
126
SECÇÃO 4
EMERGÊNCIAS
OBSTÉTRICAS
E GINECOLÓGICAS
127
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
128
SECÇÃO 4
1. GINECOLOGIA
e GRAVIDEZ
SECÇÃO 4 Ginecologia
e gravidez
129
DISTÚRBIOS notas:
GINECOLÓGICOS
Os distúrbios ginecológicos associados O ter mo Menorragia d efine a
a emergências são sobretudo: hemorragia com duração superior a 7
dias, menstruação superior a 60 mL ou
• Hemorragia com compromisso hemodinâmico: com menos de 21 dias de recorrência.
hemorragia disfuncional; pólipos ou miomas uterinos;
alterações da coagulação (normalmente em jovens O termo Metrorragia define a
ou em mulheres anticoaguladas); situações tumorais; hemorragia vaginal fora do ciclo
• Dor intensa: dismenorreia; ovulação; rotura de quisto menstrual.
hemorrágico; torsão de anexo.
Considerar sempre a possibilidade de gravidez em toda a mulher em idade fértil, mesmo naquelas
que fazem contraceção.
A possibilidade de aborto deve ser considerado em qualquer mulher em idade fértil com
hemorragia vaginal. Considerar sempre gravidez ectópica na presença de dor abdominal e sinais
de instabilidade hemodinâmica, ainda que a perda hemática seja escassa.
facto
A OMS define aborto espontâneo como a interrupção da gravidez antes da viabilidade fetal,
que ocorre nos países desenvolvidos por volta das 24 semanas.
Cerca de 75% dos abortos espontâneos acontecem antes das 8 semanas de gestação.
O aborto é a principal causa de hemorragia vaginal no primeiro trimestre da gravidez.
DISTÚRBIOS NA GRAVIDEZ
Na mulher grávida as emergências específicas No 2º e 3º trimestres:
dependem da idade gestacional. • Hemorragia (ameaça de Parto pré-termo, início
do trabalho de parto prematuro, descolamento de
No 1º Trimestre: placenta, placenta prévia);
• Hemorragia (ameaça de aborto, aborto voluntário • Dor (ameaça de Parto pré-termo, início do trabalho
ou não e gravidez ectópica); de parto prematuro, descolamento de placenta,
• Dor (rotura de gravidez ectópica); torsão de quisto);
• Torsão de quisto. • Cefaleias ou convulsões (pré-eclâmpsia, eclâmpsia
ou síndrome de HELLP sobretudo se associados
a TA aumentada ainda que o aumento possa ser
muito ligeiro).
Uterina da Gravidez
Esta situação está associada à fraqueza da parede São uma das causas mais comuns de morte
uterina e a contrações demasiado fortes. Tem incidência materna após as 20 semanas de gravidez.
maior em multíparas sobretudo nos casos de cesariana Diz-se que estamos na presença de hipertensão
anterior (pois o músculo uterino encontra-se fragilizado), (durante a gravidez), quando os valores de pressão
gestações gemelares ou com polihidrâmnios. arterial são iguais ou superiores a 140/90 mmHg ou
Pode surgir no parto, devido ao aumento das contrações quando se verifica uma subida de 20 mmHg na pressão
uterinas (hipertonia uterina). sistólica ou 10 mmHg na diastólica comparativamente
Pode ser provocada por situação de Trauma. aos valores habituais.
A pré-eclampsia é uma doença multissistémica
vaso-espástica arteriolar que se desenvolve após 20
semanas de gestação, e carateriza-se pela combinação
de hipertensão e proteinúria e ocorre em cerca de 5
a 10% das mulheres grávidas. Outras manifestações
clínicas podem ser:
• Cefaleias;
• Epigastralgias (por micorupturas vasculares
subcapsulares, a nível hepático);
• Alterações visuais - aparecem escotomas ou pontos
brilhantes;
• Oligúria e/ou anúria.
INTERVENÇÃO (Eclampsia)
Se persistir convulsão:
• Sulfato Magnésio, bolus, 2 g;
• Diazepam, EV, 10 mg (ou Midazolam).
SECÇÃO 4
EMERGÊNCIAS
OBSTÉTRICAS
E GINECOLÓGICAS
2. ALTERAÇÕES
ANATOMO-FISIOLÓGICAS
NA GRAVIDEZ
SECÇÃO 4 Alterações Anatomo-fisiológicas
na gravidez
133
SECÇÃO 4
EMERGÊNCIAS
OBSTÉTRICAS
E GINECOLÓGICAS
3. PARTO
EMINENTE
SECÇÃO 4 Parto
Eminente
135
notas:
A gravidez tem a duração aproximada de 9 meses de • A placenta está ligada ao feto pelo cordão umbilical
calendário ou 40 semanas e culmina no parto de termo e fixa-se à parede interior do útero;
entre as 37 e as 42 semanas. No entanto, fatores fetais,
maternos, ambientais ou outros podem desencadear • O feto desenvolve-se dentro de um saco
o terminus da gravidez antes das 37 semanas. membranoso, o saco amniótico ou bolsa de águas,
Se o parto for entre as 24 e as 37 semanas é considerado que o contém mergulhado no líquido amniótico.
um parto pré termo e se for depois das 42 semanas é Quando as membranas se rompem, o líquido vai
um parto pós termo. Antes das 23 semanas a expulsão lubrificar o canal vaginal para facilitar a expulsão
do produto de conceção é considerado um aborto. do feto.
A morbilidade fetal é habitualmente maior, quanto
menor for a idade gestacional. Por parto entende-se o conjunto de fenómenos que
se observam numa grávida de termo ou perto do
DESENVOLVIMENTO DA GRAVIDEZ: termo e que têm por finalidade a expulsão do ovo
• O útero, estrutura formada por fibras musculares (entendendo-se por ovo o conjunto formado pelo feto,
involuntárias, tem a capacidade de se ir distendendo placenta, membranas e líquido amniótico).
à medida que o feto se vai desenvolvendo; O feto não tem papel ativo no parto, estando durante
todo o processo dependente das contrações uterinas.
• É devido às contrações musculares do útero que, Por apresentação entende-se a parte do feto que se
no fim da gravidez, o feto é expelido; apresenta primeiro no estreito superior da bacia e
lidera toda a passagem através do canal de parto.
• Durante a gravidez, na parede interior do útero fixa-se Esta pode ser:
a placenta, constituída por vasos sanguíneos que
permitem a ligação entre a mãe e a criança, de modo • Apresentação cefálica;
a que a última receba os nutrientes necessários • Apresentação pélvica;
para viver e se desenvolver; • Apresentação de espádua (Ombros);
Placenta
Útero
Cordão umbilical
Membranas
Colo do útero
notas:
Apresentação
Pélvica vs Cefálica
Na apresentação cefálica a cabeça do feto encontra-se A apresentação pélvica é frequente na grávida até por
no polo inferior do útero (imagem a cores na figura: volta das 30/32 semanas. Normalmente produz-se
apresentação fetal). então um movimento do feto que orienta a cabeça
Na apresentação pélvica, a extremidade pélvica do para baixo. Em alguns casos, este movimento não se
feto situa-se no pólo inferior do útero, mantendo-se a produz e a apresentação mantém-se pélvica. Apesar
cabeça no fundo uterino, que por sua vez pode ser: de não ser incompatível com o parto por via baixa,
implica riscos acrescidos. A mortalidade fetal nestas
• Completa (se o feto está sentado no canal de condições é mais elevada que nas apresentações
parto) parto por cesariana ou por via vaginal; cefálicas, sobretudo pelo risco da cabeça, que é o
pólo mais volumoso do feto, não conseguir passar
• Incompleta (se o feto está de pé, ou seja possui as pelo canal de parto.
pernas esticadas) parto sempre feito por cesariana.
Tipo de parto
Dados importantes a recolher:
Parto Eutócico: • Consultar Boletim de Saúde
É o parto de um feto com apresentação cefálica da Grávida;
ou pélvica, que acontece espontaneamente sem • Idade Gestacional;
intervenção instrumental. • Número de Gestações e Partos
(Gesta e Para);
Parto Distócico: • Rotura da bolsa de águas? Cor
É o parto que não acontece espontaneamente e que do líquido amniótico?
tem intervenção cirúrgica ou instrumental em qualquer • Antecedentes pessoais:
período do trabalho de parto. Diabetes? HTA?
• Sinais de gravidade:
Cefaleias? Convulsões?
Sinais de Trabalho Hemorragia?
de Parto
Diz-se que estão presentes os sinais clínicos de
trabalho de parto quando existem contrações uterinas Sempre que possível, o boletim de
dolorosas e regulares, associadas a encurtamento do vigilância da gravidez deve acompanhar
colo uterino e a dilatação do mesmo. a mulher no transporte à unidade de
saúde.
de parto
Apagamento e dilatação do colo uterino: Período expulsivo:
Período que vai desde o início do TP (contrações Período que vais desde a dilatação completa (10 cm)
regulares) até à dilatação completa (10 cm). até à expulsão completa do feto. O aparecimento
Têm por objetivo permitir o acesso do feto ao canal do reflexo espontâneo de contração da musculatura
vaginal, sendo este determinado pelas contrações abdominal em resposta às contrações uterinas, marca
uterinas. Este período carateriza-se pela existência o início do período expulsivo. Nesta fase, em condições
de cólicas no andar inferior do abdómen provocadas normais, a cabeça do feto começará a aparecer na
pelas referidas contrações. A fase de dilatação tem vulva (coroa cefálica) distendendo-a gradualmente.
início com o começo das dores que, sendo espaçadas
a princípio, se intensificam com a evolução do trabalho Dequitadura:
de parto até atingir uma média de 3 a 4 contrações a Período imediatamente após o nascimento da criança,
cada 10 minutos. até completa expulsão da placenta e membranas para
o exterior (dequitadura).
Puerpério imediato:
Período que decorre nas 2 horas seguintes após o final
do 3º estádio, ou seja, período de recuperação imediata
(restabelecimento da hemóstase e homeostase).
dilatação
até 20 h fase lactente até 14 h
(<4 cm)
dilatação
fase ativa
4-5 h 2,5 h
(>4 cm)
desacelaração descida
2h puerpério imediato 2h
Tabela 33: Tempos médios das fases do trabalho de parto (nulípara versus multípara)
notas:
Prolapso do cordão
umbilical
O prolapso do cordão umbilical constitui uma
emergência obstétrica, e o parto não poderá ter
Atuação perante a evidência
lugar fora do hospital. Neste caso, o cordão precede de um prolapso do cordão
o feto no canal vaginal dando origem à interrupção
da circulação fetal. Pode ser detetado quer porque a
umbilical:
mulher refere sentir o cordão ou porque ele é visível
• Informar imediatamente o CODU da situação;
ou palpado na vagina.
• Posicionar a Grávida:
Poder-se-á considerar três tipos de prolapso do
Manter a anca direita elevada e posicionar a
cordão umbilical:
maca em Trendelemburg;
• Impedir a compressão do cordão:
• No primeiro caso, as membranas uterinas estão
Usando luvas estéreis inserir dois dedos
intactas e o cordão é comprimido pelo feto;
(indicador e médio) na vagina até ao colo.
• Numa segunda situação, o cordão não está visível
Com um dedo de cada lado do cordão ou com
mas pode ser sentido na vagina ou no colo do útero;
os dois dedos do mesmo lado, com gentileza
• A terceira hipótese corresponde à situação mais
“empurrar” a apresentação (pressão apenas
grave e corresponde à projeção do cordão para
sobre a superfície óssea da cabeça do feto)
fora da vagina.
para aliviar a compressão do cordão;
• Se se verificar a protusão do cordão, envolvê-lo
em compressa estéril embebida em soro fisiológico
(se possível morno);
• Administrar oxigénio por máscara na maior
concentração possível;
• Obter acesso venoso periférico;
• Explicar à mulher a razão do procedimento e a
forma como deverá colaborar;
• Manter o procedimento durante o transporte até à
unidade de saúde.
Em relação ao transporte:
• Manter a posição de Trendelemburg e a elevação
da anca direita durante todo o transporte;
Exteriorização notas:
de um membro do feto
A exteriorização de um dos membros pode ocorrer em Atuação perante a exteriorização
caso de apresentação transversa ou apresentação
pélvica, verificando-se apenas se tiver ocorrido ruptura de um membro do feto:
de membranas.
notas:
atuação no parto palma da mão na cabeça exposta do feto, evitando
a sua saída abrupta. Este procedimento visa evitar
eutócico variações bruscas da pressão intracraniana e
evitar lacerações vaginais e/ou perineais;
1) Preparar o KIT de Parto e o local onde se vai dar 12) Após a restituição e a pesquisa de circular cervical,
o parto; com uma mão em cada lado da cabeça do feto
exercer pressão suave para baixo de forma a
2) Colocar a mulher em decúbito dorsal com as libertar o ombro anterior (superior) que aparece
pernas fletidas sobre o tronco, puxando os joelhos assim sob a sínfise púbica. Repetir a manobra
para si e para fora (criar altura por baixo do rabo em sentido contrário de forma a libertar o ombro
da grávida); posterior (inferior);
3) Colocar resguardo sob as nádegas da mulher, 13) Nesta fase é provável que o resto do corpo
deixando a descoberto a região da abertura seja exteriorizado rapidamente pelo que são
vaginal; necessários cuidados adicionais no sentido de
o segurar devidamente. Nesta altura cessam as
4) Se prolapso do cordão, mãe em choque, presença contrações;
de mecónio ou qualquer outro sinal que possa
fazer suspeitar de sofrimento fetal, administrar 14) Se necessário, mantendo a cabeça a um nível
Oxigénio (manter SpO2>97%); inferior ao do resto do corpo de forma a facilitar
a drenagem de secreções, aspirar a cavidade
5) Equipar-se com o material disponível no kit de oral e as narinas com a pera existente no kit de
partos, nomeadamente bata, máscara e luvas partos;
esterilizadas;
15) Manter o recém-nascido ao nível do útero da mãe;
6) Encorajar a parturiente a só fazer força (“puxar”)
durante as contrações; 16) Laquear e cortar o cordão umbilical:
a. Colocar o clamp proximal a cerca de 5 cm do
7) Incentivar a mulher a respirar lenta e profundamente umbigo;
no intervalo das contrações; b. Colocar o clamp distal a cerca de 10 cm do
primeiro;
8) Coloque-se à frente do canal vaginal: Colocar a c. Cortar o cordão entre os dois clamps utilizando
o bisturi do kit de partos;
SECÇÃO 4 Parto
Eminente
141
partos agasalhando-o o mais possível incluindo É necessário ter o cuidado para procurar a
a cabeça. Secar rapidamente de forma a evitar presença de circulares cervicais após a saída
perdas de calor; da cabeça do feto e se necessário a sua
resolução calma e rápida prevenindo a
18) Permitir à mãe ver o recém-nascido e pegar-lhe asfixia do recém-nascido.
se adequado e oportuno;
22) Caso se verifique a dequitadura, colocar o material Se decidido o transporte, este deverá ser
expulso num dos sacos existentes no kit de partos interrompido se grávida entrar em período
de forma a poder ser entregue juntamente com expulsivo: COROA CEFÁLICA.
a mãe.
Veia
umbilical
Artérias
umbilicais
Figura 56: O corte do cordão umbilical a 5 cm de distância do umbigo permitirá, sendo necessário,
a colocação de cateter umbilical numa unidade de saúde.
notas:
CUIDADOS COM
A DEQUITADURA
Esta fase envolve a expulsão da placenta e
denomina-se de Dequitadura. Desde o momento
Em relação ao Transporte,
do nascimento da criança até que a placenta é após o parto:
expelida, podem decorrer até cerca de 30 minutos.
Se não ocorrer até aos 30 minutos pode estar 1. Não é necessário aguardar pela dequitadura;
relacionado com patologia (acretismo placentar). 2. Em transportes longos (mais de 15 minutos) vigiar
sinais de dequitadura, caso já tenha dequitado é
1) São sinais de descolamento da placenta: fundamental vigiar se mantem globo de segurança
de Pinard formado (útero bem contraído);
a. O útero contrai-se, formando o globo de 3. Posicionar a mãe confortavelmente;
segurança de Pinard (fica como uma bola dura), 4. Garantir o aquecimento da célula sanitária
(e do RN);
b. Sai um fluxo sanguíneo mais abundante; 5. Transportar o RN ao colo com cinto de segurança
colocado.
2) Se, por qualquer razão, a expulsão da placenta se
prolongar, não espere por ela e inicie o transporte
da mãe e da criança para o hospital, envolva a
extremidade do cordão numa gaze esterilizada
e proceda ao transporte. Não retirar a pinça
colocada quando cortou o cordão;
3) Não se deve em caso algum tracionar o cordão,
apenas deve suportar e amparar a placenta;
uma situação de
parto iminente com
apresentação pélvica
1. Instruir a parturiente para que se deite bem à beira 10. Deslizar os dedos (2º e 3º) até encontrar o queixo
da maca/cama, de tal forma que o feto, à medida e o nariz do feto e afastá-los depois de modo a
que vai saindo através do canal vaginal, vá ficando que o ar possa passar e a criança não sufoque.
pendente; Esta manobra deve fazer-se até que a cabeça saia
completamente ou se chegue à unidade de saúde;
2. Independentemente do tipo de apresentação
pélvica, deixar que o feto desça espontaneamente 11. O feto deve ser mantido paralelo ao solo de forma
até ao nível do umbigo; a evitar a hiperextensão do pescoço;
3. Uma vez o umbigo visualizado, puxar suavemente 12. Com a outra mão apoiada nos ombros exercer
uma grande extensão do cordão umbilical; ligeira tração, ao mesmo tempo que um 2º elemento
exerce pressão supra-púbica até à exteriorização
4. Deixar o feto para alinhar os ombros em posição da cabeça.
Antero-posterior;
notas:
ao recém-nascido
A assistência ao recém-nascido inicia-se imediatamente
Determinação do Índice
após o parto. Depois do feto ter saído completamente, de APGAR
deve começar a respirar por si, chorando muitas vezes.
O índice de APGAR constitui uma ferramenta
O recém-nascido precisa de ser rapidamente importante na avaliação inicial do recém-nascido.
estimulado e assistido de forma a estabelecer e Deve ser avaliado ao 1º, 5º e 10º minutos de vida.
manter respiração autónoma, ao mesmo tempo que
é aquecido e protegido da perda de calor. Avalia 5 aspetos: atividade (tónus muscular), pulso,
choro, coloração da pele e ventilação (do inglês:
De uma forma geral, o recém-nascido de termo, nascido Activity, Pulse, Grimace, Appearance, Respiration).
por via vaginal tem pouca dificuldade em desobstruir
as vias aéreas. Se apresentar excesso de secreções Cada uma das cinco caraterísticas é avaliada e
nas vias respiratórias, a boca e as narinas devem ser pontuada de 0 a 2 pontos de acordo com a tabela
aspiradas recorrendo à pera de aspiração do kit de abaixo.
partos. A boca deve ser aspirada em primeiro lugar,
após o que se aspira uma narina de cada vez. O score final corresponde à soma da pontuação das
cinco caraterísticas avaliadas.
Aspiração apenas se necessário, em pressão negativa
nunca >100 mmHg. O aspirar agressivamente pode Recém-nascidos com um índice de APGAR >7
atrasar o início da ventilação espontânea e causar requerem apenas cuidados gerais de permeabilização
laringoespasmo e bradicardia vagal. A presença de das vias aéreas, limpeza e aquecimento.
mecónio espesso num RN com hipotonia é a única
indicação para considerar aspiração imediata. Deve-se reavaliar frequentemente o RN até chegar à
unidade de saúde.
Deve ser feita uma avaliação rápida da aparência e
do comportamento geral do RN ao mesmo tempo que
se procuram anomalias grosseiras.
0 1 2
FC 0 <100 >100
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA
147
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
148
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA
SECÇÃO 5 BIBLOGRAFIA
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EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
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SIGLAS
ANEXO
153
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
154
ABC FV
Mnemónica: Airway, Breathing, Circulation Fibrilhação ventricular
ABCDE GCS
Mnemónica: Airway, Breathing, Circulation, Disability, Exposure Escala de coma de Glasgow
AEC HTA
Alteração do estado de consciência Hipertensão arterial
AESP IM
Atividade elétrica sem pulso Intramuscular
AIT INEM
Acidente isquémico transitório Instituto Nacional de Emergência Médica
AVC IO
Acidente vascular cerebral Intraósseo
AVDS Kg
Mnemónica: Alerta, Verbal, Dor e Sem resposta Kilograma
BAV LCR
Bloqueio auriculoventricular Líquido céfalo raquidiano
CHAMU NaCl
Mnemónica: Circunstância, História, Antecedentes, Medicação, Última ingestão Cloreto de sódio
CIAV O2
Centro de informação antiveneno Oxigénio
CO2 OVA
Dióxido de carbono Obstrução da via aérea
CODU PA
Centro de orientação de doentes urgentes Pressão arterial
DAE PaCO2
Desfibrilhação automática externa Pressão parcial de dióxido de carbono
DC PAD
Débito cardíaco Pressão arterial diastólica
ECG PAS
Eletrocardiograma Pressão arterial sistólica
ET PIC
Entubação traqueal Pressão intracraniana
EtCO2 PO
Fração expirada de dióxido de carbono Per Ós
EV PTS
Endovenoso Pediatric Trauma Score
FC RCP
Frequência cardíaca Reanimação cardiopulmonar
FR RN
Frequência respiratória Recém-nascido
SECÇÃO 5 BIBLOGRAFIA
155
ROSC
Return of spontaneus circulation (recuperação espontânea de sinais de circulação)
SAV
Suporte Avançado de Vida
SBV
Suporte Básico de Vida
SC
Subcutâneo
SDR
Síndrome de dificuldade respiratória
SF
Soro fisiológico
SIV
Suporte imediato de vida
SNC
Sistema nervoso central
SpO2
Saturação periférica de oxigénio
START
Simple triage and rapid treatment
TAP
Triângulo de avaliação pediátrico
TCE
Trauma cranioencefálico
TET
Tubo endotraqueal
TICLS
Mnemónica: Tónus, Interatividade, Consolabilidade, Contemplação/Olhar, Speech (Discurso/Choro)
TPC
Tempo de preenchimento capilar
TSV
Taquicardia supraventricular
TSVSP
Taquicardia supraventricular sem pulso
TV
Taquicardia ventricular
TVM
Trauma vertebro-medular
VA
Via aérea
VVS
Via verde sépsis
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
156
ANEXO
ANEXO
157
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
e OBSTÉTRICAS
158
notas:
FITA DE BROSELOW
A fita de Broselow (fig.1) constitui uma ferramenta que A fita de Broselow pode ser extremamente útil para
permite determinar não só a dose correta de fármacos simplificar algumas das decisões a tomar na abordagem
mas também o tamanho adequado dos equipamentos da vítima pediátrica (em situações de emergência) já
a utilizar (tudo traqueal, cateter de aspiração, entre que elimina a necessidade de estimar o peso da
outros) em crianças, baseando-se no seu comprimento criança, fator habitualmente utilizado para calcular a
(distância da cabeça ao calcâneo). É recomendada dose correta de fármacos a administrar.
a utilização da fita de Broselow em qualquer criança
com idade inferior a 12 anos.
Perante qualquer criança cujo comprimento é superior à fita de Broselow o operacional deverá
utilizar doses de fármacos e equipamentos de adulto.
ANEXO Fita de broselow
159
Como utilizar
notas:
a fita de Broselow ?
1. A fita possui 9 zonas de cor, correspondentes a
pesos estimados:
a. Cinza (3-5Kg);
b. Rosa (6-7 Kg);
c. Vermelho (8-9 Kg);
d. Roxo (10-11 Kg);
e. Amarelo (12-14 Kg);
f. Branco (15-18 Kg);
g. Azul (19-23 Kg);
h. Laranja (24-29 Kg); Figura 2: Medição da fita de Broselow
i. Verde (30-36 Kg);
Sempre que está disponível informação sobre o peso efetivo da criança não há necessidade
de efetuar a sua medição. Nestas situações consulta-se de imediato na fita a informação
necessária.
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
9 789898 646101