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INÍCIO  DIREITOS HUMANOS

UM OUTRO MUNDO

Realizado de forma virtual, Fórum Social


Mundial vai até o próximo dia 31
"Qual mundo queremos? Não é o de Davos!", foi tema de painel global com
participação de lideranças mundiais

Fabiana Reinholz
Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) | 26 de Janeiro de 2021 às 09:41

Fórum teve início neste sábado (23) e vai até o dia 31 - Reprodução

Transformado pela realidade trazida pela pandemia de covid-19, que já vitimou mais
de 2 milhões de pessoas no mundo, o Fórum Social Mundial, no seu 20º aniversário,
é  realizado totalmente de forma virtual. Após o início marcado por uma marcha
virtual pelo mundo, o evento deu seu pontapé o�cial no último sábado (23), com o
painel global de abertura intitulado "Qual o mundo que queremos hoje e amanhã? –

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“Iniciamos este Fórum com uma marcha virtual pelo mundo, da Oceania ao Havaí! E
com um painel de debate político com alguns protagonistas importantes do mundo
atual, um mundo em crise, de saúde, ecológica e social, com con�itos, desigualdades
crescentes, fascismo emergente e cada dia mais repressão e violência. Existem
alternativas.  O Fórum Social Mundial é uma das alternativas, de redes de
movimentos sociais que se organizam, cooperam entre si e promovem a
solidariedade”, a�rma a organização do fórum.

::  Fórum Social Mundial 2021 tem início neste sábado (23) e se estende até dia 31 ::

Convidados

O painel de abertura teve a participação da escritora e ex-ministra do Mali  Aminata


Dramane Traoré;  da indígena hondurenha  Miriam Miranda;  do economista e um dos
criadores da Internacional Progressista  Yanis Varoufakis;  do ambientalista
indiano  Ashish Kothari;  e de Melike Yasar, do movimento das mulheres do Curdistão.
Também teve a participação dos membros do Conselho Internacional do FSM, como
Hamouda Soubhi, Rosy Zuñiga, Oded Grajew, Boaventura de Sousa Santos, Carminda
Mc Lorin e de diversos representantes dos movimentos sociais pelo mundo. 

Os participantes expuseram sobre a luta de seus países, o desrespeito dos direitos


civis, a destruição ambiental no planeta e o agravamento das desigualdades.  A
moderação do debate �cou a cargo de Francine Mestrum e Carlos Tibúrcio,
integrantes do Conselho Internacional do FSM. 

Panel de Apertura FSM 2021

A pandemia veio para lançar luz sobre as desigualdades existentes

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nasceu para contrapor o Fórum Econômico de Davos, espaço que promove a


excelência do neoliberalismo pelo mundo, baseado em uma visão de mundo
competitiva, de eliminação do outro e da maximização do lucro de qualquer maneira.
“Esse modelo  tem causado uma enorme desigualdade no mundo, cada vez mais
crescente, uma enorme devastação ambiental e uma enorme crise política da
democracia, extermínio do que pensa diferente”, destacou. 

Para mostrar que outro mundo é possível, ressaltou  Oded, é preciso mostrar que
existem alternativas, que não se deve conformar com essa situação. "Para reagir
temos que ser diferentes do modelo neoliberal. O que signi�ca que nossa luta não se
fará através de uma liderança, de uma pessoa, mas da nossa força, da nossa
colaboração, da nossa solidariedade. O Fórum veio para oferecer um espaço de
encontro, de articulação, para que todos possam se juntar e crescer juntos e poder
ter uma potência política para realizar a mudança. A nossa diferença é a diferença da
solidariedade, da colaboração, da parceria, da coletividade”, a�rmou. 

Por sua vez o sociólogo, jurista e professor português Boaventura de Souza


Santos  disse que o Fórum hoje é um sinal de esperança do mundo e que a marcha há
comprovado muito bem isso. Contudo, ressalvou que para se manter a esperança é
preciso fazer algumas mudanças e análises. “Sabemos que o Fórum tem todo esse
potencial, mas não há realizado de fato. O FSM, hoje, não tem mais a força que tinha
em 2001, há que reconstruir e para isso é preciso com que se lute contra o
capitalismo e que o Fórum tem que ser anti-capitalista, feminista, antirracista,
antissexista e impulsionado por uma vontade de cuidar da gente e da mãe terra. Ele
também precisa se renovar e adaptar as condições de 2021. Dessa maneira
poderemos nos liberar e ter um papel importante.” 

O jornalista Carlos Tibúrcio, co-fundador do FSM, explicou a ausência do ex-


presidente Luís Inácio Lula da Silva que estaria presente no painel de abertura. Lula
deixou um recado. “O mundo pós pandemia está em disputa política. O Fórum Social
Mundial é uma voz de esperança para a humanidade para que tenha um mundo
melhor".

“Se deixarmos esse vazio, o sistema capitalista irá preenchê-lo”

Aminata Traoré iniciou sua fala recordando que o FSM de 2001 foi um grande
momento de reencontro entre os povos que têm vivido a maior parte das situações
que caracterizam a ordem atual do mundo. “Juntos temos lutado por um mundo
mais justo, mais plural. Denunciar a gravidade da situação, ligada não só a
pandemia, que veio para jogar uma dura luz sobre as disfunções, as desigualdades e

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Conforme destacou a escritora, em Mali, desde 2013, tem havido enfrentamento civil,
que tem por obrigação fazer frente às consequências dramáticas de décadas de
liberalismo ma�oso e de programas de ajuste estrutural em nome do crescimento.
“Somos um país isolado que já foi vítima da seca, que temos passado pela crise
sanitária, econômica e política”, frisou, a�rmando que não estamos preparados para
fazer frente às consequências catastró�cas das políticas neoliberais que são
impostas. 

“Quando, atualmente, alguns países dizem que a África é o futuro, sabemos o que
isso quer dizer, aproveitar-se dos africanos. Fica a África como laboratório, e pátio
dos fundos da Europa, com todas as consequências catastró�cas ecológicas, sociais,
políticas e culturais. Temos consciência disso.”  Para ela é preciso proceder a
desconstrução do discurso dominante sobre a África. “Reeducar nossos olhares sobre
nós mesmos, reeducar o olhar”, �nalizou. 

A indígena hondurenha Miriam Miranda recordou que há alguns anos ao participar


de uma edição do FSM, no Brasil, se deu conta da importância de criar redes entre
os movimentos sociais, organizações e pessoas que querem mudança. Para ela é
importante destacar o cenário que estamos vivendo e analisá-lo, o que, na sua
avaliação, não tem sido feito. “Essas crises que estamos vivendo nesse momento são
crises que vêm se repetindo por um lado, e se aperfeiçoando de alguma outra forma.
Falo de um país que foi destruída  totalmente a institucionalidade, um país com
sucessivos golpes de Estado e golpes bem planejados para destruir a
institucionalidade, o Estado de direito”, expôs. 

De acordo com ela, Honduras é atualmente um narcoestado, pais onde mais se


assassina defensores e defensoras de direitos humanos, e o país com o maior índice
de vulnerabilidade social na América Central. “Os hondurenhos estão abandonando o
país em caravanas. Há um plano de esvaziamento do território”, reforçou Miriam. 

A indígena frisou que Honduras se converteu em um laboratório político. Para ela, os


movimentos sociais não dimensionaram sobre o golpe de Estado em Honduras e o
que signi�ca a instrução da institucionalidade pelos sucessivos golpes de Estado.
Miriam pontuou que após o golpe  de Honduras vieram os golpes de Estado no
Paraguai e no  Brasil. 

De acordo com ela, está se aperfeiçoando o golpe de Estado dentro da


institucionalidade. "É o poder que o golpe dá a outro poder. Temos que fazer uma
análise, como movimento social, do que signi�ca o laboratório que se converteu

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discutir o que signi�ca a instrução da institucionalidade, os golpes de Estado, o que


signi�ca a destruição do tecido social.” 

Em sua fala Melike Yasar, do Movimento de Mulheres Curdas, ressaltou que as


mulheres são as primeiras a sofrerem com as opressões. Ela também destacou que
em meio a pandemia as potências capitalistas tentam aproveitar o momento para
reformar ou formar  novos mecanismos de controle sobre os povos. 

“Os povos estão em uma busca, tentando através da vanguarda das mulheres,
construir um sistema, uma alternativa. Porque lamentavelmente estamos vendo que
muitos estados, nações, governos  estão tentando praticar os projetos do sistema
capitalista.” 

Para Melike é preciso uma nova de�nição dos objetivos e utopias. “O Fórum deu
uma nova esperança para os povos, vimos nos últimos anos como ele apoiava a
todas as lutas de todo mundo. O FSM tem que tomar uma decisão de construir uma
forma organizativa, de construir uma luta em comum para esse sistema capitalista e
o seu subproduto, o patriarcado. Porque o patriarcado e o sistema está nos atacando
com suas distintas organizações e suas formas em comum”, explicou. Ainda segundo
ela, é necessário construir alternativas ao sexismo, o militarismo, o
fundamentalismo e o cienti�cismo.

“Se deixarmos esse vazio, o sistema capitalista vai preenchê-lo, vai tomar conta do
debate. Como nós mulheres curdas dizemos, para recuperar a liberação da sociedade,
a liberação da mulher, é fundamental que as mulheres sejam fator principal de todas
as lutas. Porque as mulheres foram as primeiras a serem oprimidas, através das
mulheres se iniciou todas as colonizações. A colonização das mulheres signi�ca a
colonização da terra, sobre nossos territórios e sobre os povos”, reforçou.
Lembrou  que na Turquia, na área política, muitas deputadas, prefeitas estão presas
porque estão levando a ideologia, a construção de uma nova sociedade com o olhar
feminino, e que há um ataque todos os dias contra as mulheres. 

Alternativa

O economista Yanis Varoufakis  reforçou que a pandemia não criou, mas acelerou a
crise que começou em 2008. “O nosso 2008 foi o 1929 da nossa geração, ninguém se
recuperou totalmente. Não temos mais um capitalismo, temos agora um tecno-
feudalismo. Pela primeira vez na história do capitalismo vimos uma desconexão do
dinheiro, não tem mais lucro ao redor do mundo, nunca houve uma queda tão
grande de lucro”, pontuou, ressalvando que apesar disso o modelo mantém o

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Segundo ele, apesar de prever o que ia acontecer, os movimentos sociais falharam


por não conseguir criar o poder político para poder fazer a mudança. “O mesmo
grupo de pessoas continuam retornando ao poder. Por que falhamos? Porque não
temos um plano comum. Precisamos fazer um plano em comum, de ação,
precisamos acordar, criar uma coligação.” 

De acordo com o ambientalista indiano Ashish Kothari a pandemia expôs questões


profundas entre a humanidade e a natureza. “Vimos que a crise ecológica continua,
que as formas de fascismo estão crescendo no mundo e a desigualdade se
aprofundando. Uma crise da vida no planeta como um todo”, pontuou. Também
destacou  que ao mesmo tempo tem surgido diferentes tipos de respostas. Uma delas
é a resposta vinda da resistência, de forças que lutam contra a injustiça e a não
sustentabilidade. 

O outro tipo de resposta, completou, é o da construção de alternativas nas áreas de


agroecologia, soberania sobre a água, uma democracia radical e a governança local.
Para ele é preciso que essa luta esteja baseada na defesa da ética, de valores como
solidariedade, diversidade, respeito, coletividade e  igualdade.

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Fonte: BdF Rio Grande do Sul

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