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Doze mil Pataxó estão sob 'guerra de baixa


intensidade' na Bahia, denunciam entidades indígenas

Gabriela Moncau
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 31 de Março de 2023 às 07:20

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03:41

Em setembro do ano passado, o povo Pataxó enterrou o jovem Gustavo Conceição, morto em ataque de
pistoleiros - Povo Pataxó

Em um relatório enviado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), nove


entidades – entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – a�rmam que 12 mil
pessoas do povo Pataxó  estão vivendo sob uma "guerra de baixa intensidade"  no sul da Bahia.  

O documento a�rma que os indígenas estão sob ataque constante de fazendeiros, paramilitares e
policiais, em um contexto de campanha difamatória anti-indígena por veículos de imprensa
como Band e Jovem Pan. Segundo as entidades, os esforços do governo federal "para conter as
investidas dos fazendeiros e milicianos"  se mostraram ine�cazes. 

"Os ataques das milícias", a�rmam as organizações, incluem "impedimentos no direito de ir e


vir, lançamento de bombas de gás lacrimogêneo, tiros de metralhadoras e pistolas automáticas
contra imóveis, realização de despejos sem ordem judicial e outros".

Apontam, ainda, que as ações são promovidas "de forma orquestrada", com "uma cadeia de
comando que conta com apoiadores, vigilantes, executores, mandantes e possíveis
�nanciadores". Os principais alvos são os Pataxó das Terras Indígenas (TI) Comexatibá e Barra
Velha.  

::  Pistoleiros matam adolescente e povo Pataxó denuncia atuação de milícia anti-indígena na
BA ::

Considerando o con�ito de "enorme magnitude", as entidades demandam um


"comprometimento de todas as esferas de governo, tanto federal quanto estadual"  e a�rmam
que até o momento "não houve esse pacto consensual das esferas de poder em prol dos povos
indígenas".

"Íntima relação de policiais com fazendeiros"

Na última terça (28), a Secretaria de Segurança Pública da Bahia aprovou um "Plano de Atuação
Integrada de Enfrentamento à Violência contra Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais",
com vigência até 2026. Os municípios identi�cados como "sensíveis"  para a atuação policial são
Eunápolis, Itabela, Itamaraju, Porto Seguro, Prado e Santa Cruz Cabrália.  

No entanto, o relatório ao CIDH destaca, justamente, que a "íntima relação de policiais da Bahia
com os fazendeiros têm tornado as instituições de segurança inacessíveis e ameaçadoras para os
indígenas". Assinado também pela Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste,
Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), o documento pede o envio da Força Nacional de
Segurança Pública à região. 

O Ministério dos Povos Indígenas prorrogou por 45 dias as atividades de um gabinete de crise
que foi criado em 20 de janeiro para acompanhar a situação dos Pataxó no extremo sul baiano. A
pasta anunciou que planeja enviar uma comitiva à Bahia, com a presença da ministra Sonia
Guajajara.  

As medidas do gabinete de crise, na avaliação das nove entidades, "não tiveram grandes efeitos
como esperado". Como exemplo, citam a falta de retorno positivo diante de pedidos de diálogo
com o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).  
Retaliação 

Diante da demora na demarcação de seus territórios, o povo Pataxó do extremo sul da Bahia se
organiza para retomar e autodemarcar as suas terras desde o início dos anos 2000. Esse processo
se intensi�cou no segundo semestre de 2022, quando num período de três meses, cinco áreas
foram retomadas. Desde então, episódios de violência contra os indígenas se acentuaram.   

Em 17 de janeiro deste ano, Samuel Braz e Inauí Brito,  dois jovens da TI Barra Velha, foram
assassinados às margens da BR-101, perto de uma área retomada no município de Itabela (BA). O
Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) caracterizou que eles
foram "mais duas vítimas dos interesses dos latifundiários"  e "da não demarcação de um
território já reconhecido como tradicional e indígena".      

Em 4 de setembro do ano passado, Gustavo Silva da Conceição, um adolescente Pataxó de 14


anos foi morto com um tiro de fuzil na nuca durante o ataque de pistoleiros contra indígenas
que haviam retomado uma fazendo dentro da TI Comexatibá Cahy Pequi, na cidade de Prado
(BA).  

Edição: Thalita Pires

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