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1. Segundo o Pires, chamo as pessoas de “medalhões”.

A palavra “medalhão” só aparece duas vezes no


meu livro: na citação do título “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, e na explicação do uso que
dela faz Lima Barreto. Não qualifiquei uma única pessoa com esse adjetivo.
2. “A seus olhos – diz o Pires – , a presença de autores estrangeiros nos papersuniversitários, ensaios e
suplementos culturais é sinal de subserviência intelectual.” Não afirmei nem afirmaria jamais uma
asneira dessas, que o Pires mesmo inventou com a finalidade mal disfarçada de fazer-me parecer um
asno.
3. Segundo o Pires, meu livro acusa sistematicamente de “macaqueação” quem quer que cite um autor
que não me agrade. Onde ele viu isso? Ao longo de todas as páginas, não acuso ninguém de
macaquear qualquer autor que seja, quer me agrade ou não.
4. Ainda segundo o Pires, insinuo que sou perseguido pela massa ignara. Nunca insinuei nem afirmei
isso, muito menos no livro. O único ignaro que me persegue é o Pires.
5. Informa o mesmo Pires que acuso os intelectuais de “conservadores”. Não encontro nada disto no meu
livro, mesmo porque, no meu entender, nem “conservador” é xingamento, nem “progressista” é elogio,
embora possam sê-lo para o Pires, sujeito progressista a mais não poder.
6. Na contagem do Pires, meu livro tem 289 páginas. Nem nisto o infeliz diz a verdade: tem 383.

Por que o Pires não pode, como os críticos normais, se ater fielmente ao texto que pretende criticar? Por que
tem de inventar um texto fictício para fazê-lo posar em lugar de um livro do qual não sabe sequer o número
de páginas, e que provavelmente só conhece por referências de terceiros ou por uma lambida muito rapidinha
no índice e no prólogo? A resposta é simples: é que ele não pretende criticar, nem mesmo impiedosamente,
um texto. Quer difamar um homem, destruir-lhe o crédito e a auto-estima, feri-lo psicologicamente e criar
em torno dele uma atmosfera de hostilidade maliciosa e suspicaz — propósito que só não se cumpre em
razão da fraqueza do agressor e do bom estado de saúde da vítima. Prova suplementar dessa intenção, caso
fosse preciso, é que o Pires não se contenta com falsificar o conteúdo da obra, mas se aventura a colar um
rótulo depreciativo e falso diretamente na pessoa do autor: segundo ele, sou filósofo apenas por
autodenominação. Mas não me autodenomino coisa nenhuma, nem poderá o Pires assinalar uma única
página d’O Imbecil Coletivo onde eu o tenha feito. Sou assim denominado pela Academia Brasileira de
Filosofia — onde acabo de ser publicamente homenageado nessa condição —, pelo Instituto Brasileiro de
Filosofia, pela Faculdade da Cidade, pela Universidade Católica do Salvador, por muitos intelectuais de
primeira ordem e pelo mesmo jornal onde o Pires escreve mal que dói. Não podendo ignorar esse fato
notório, o Pires mentiu deliberadamente, com intuito de difamação, nisto como em tudo o mais que falseou.
E após ter assim procurado ferir de maneira intencional a dignidade de um sujeito que ele nunca viu e que
nunca lhe fez mal algum, o Pires ainda o acusa de “grosseiro”. Certo, certo. O Pires é que é fino. Fino e de
porcelana como um urinol do Império.

No seu dedicado empenho de tudo distorcer, o Pires chega a trocar o sujeito das minhas frases. Segundo ele,
afirmo que meu trabalho “é mais que uma alusão satírica”. Digo isso do título, não do livro. Mas como o
Pires leu do livro pouco mais que o título, compreende-se a troca.

E tal é sua ânsia de destruir, que ele não recua diante das maiores temeridades no uso de uma lógica
extravagante. Ele diz que meu livro está cheinho de contradições. Mas, com inexplicável comedimento, cita
uma só: é que o autor “não prescinde da mesma mídia que condena”. Conclui-se que, para o Pires, toda
crítica à mídia, para ter coerência, deve abster-se de ser divulgada. O Pires, além de não saber ler,
definitivamente não raciocina. Ademais, não condenei mídia nenhuma, apenas o uso que os Pires fazem dela.

O Pires, em resumo, não gostou nem leu: inventou. Sua crítica é pura fraude, que não vai enganar a ninguém.
Nem sequer a ele mesmo, que já revela, no fundo, a sujidade da sua consciência. Querem ver? Segundo ele,
o “formulário-padrão”, em que vacino meu livro contra os chavões da maledicência, “anula qualquer
possibilidade de diálogo”. Deduz-se daí, inescapavelmente, que o Pires não concebe nenhuma outra forma de
diálogo possível senão as rotulações padronizadas que o “formulário” satiriza. E ele se sente muito
constrangido porque, não sabendo fazer outra coisa, já não pode mais exercer esse tipo de “diálogo” sem se
autodenunciar no ato. Nunca vi tanta pressa em vestir uma carapuça.

Tão malevolente é o Pires, que, num paroxismo de raiva insana, condena no meu livro até o fato de só trazer
na contracapa as críticas favoráveis. Que eu saiba, todos os livros são assim. Desejaria o Pires que o meu
editor, ao contrário de todos os outros, fizesse propaganda contra o próprio produto? Ademais, não existia,
até o advento do Pires, nenhuma crítica desfavorável a O Imbecil Coletivo ou a qualquer outro livro meu.

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